Antropologia e cultura

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Daisy Libório e
Ana Paula Henrique Salvan
Antropologia e cultura
Sumário
CAPÍTULO 2 – Sociedade do conhecimento e o mercado de trabalho...................................05
Introdução.....................................................................................................................05
2.1 Sociedade do conhecimento e cultura.........................................................................05
2.1.1 Pós-modernidade.............................................................................................05
2.1.2 Sociedade do conhecimento..............................................................................09
2.1.3 Cultura e Sociedade do Conhecimento...............................................................11
2.2 Trocas culturais e mercado de trabalho........................................................................12
2.2.1 Trocas culturais................................................................................................12
2.2.2 Culturas híbridas e mercado de trabalho.............................................................12
2.3 Tecnologia, globalização e inovação...........................................................................15
2.3.1 Globalização e cultura......................................................................................15
2.3.2 Tecnologia e inovação......................................................................................16
2.4 Relações entre distintas gerações no mercado de trabalho.............................................17
2.4.1 Gerações e trabalho.........................................................................................17
Síntese...........................................................................................................................19
Referências Bibliográficas.................................................................................................20
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Capítulo 2
Sociedade do conhecimento
e o mercado de trabalho
Introdução
Você já ouviu falar em pós-modernidade? E em sociedade da informação? Ou quem sabe em sociedade do conhecimento? Esses termos esporadicamente aparecem nos telejornais e em outros
meios de comunicação, e mesmo que a maioria da população ainda desconheça os seus significados, referem-se a um universo de valores e situações com os quais lidamos cotidianamente.
O homem contemporâneo vive numa aceleração tecnológica sem precedentes, o que impactou
o modo como vive e percebe o seu entorno. E se cultura, como você já sabe, é o conjunto de
expressões que situam e caracterizam no tempo uma sociedade determinada, não seria diferente
nos tempos de hoje. A cultura é um conjunto de formas e identidades – isso inclui costumes,
práticas comuns, normas, códigos, vestimentas, línguas, religiões, rituais, valores e maneiras
de ser e perceber o mundo – que tem influência sobre os indivíduos, sendo, ao mesmo tempo,
moldadas por eles.
Na era da informação, como o período contemporâneo ficou conhecido nos dias de hoje, o homem passou a perceber o mundo e criar formas culturais a partir da configuração da sua época,
gerando infinitos fenômenos e nuances de interesse das ciências, inclusive da Antropologia.
Vamos discutir as relações entre a sociedade do conhecimento e a cultura, enfatizando os híbridos culturais, as trocas culturais, a tecnologia e a globalização, bem como as diferentes gerações
e suas relações com o homem no mercado de trabalho.
Tenha um bom estudo!
2.1 Sociedade do conhecimento e cultura
Nos debates sobre a pós-modernidade, são inerentes as discussões sobre a sociedade do conhecimento – aquela na qual o conhecimento é o principal fator estratégico de riqueza e poder. Ela
se caracteriza pela inovação tecnológica ou pelo novo conhecimento, um grande elemento de
produtividade e desenvolvimento econômico.
O termo sociedade de conhecimento se refere também a um período posterior à sociedade
industrial moderna. Se antes a sociedade era impulsionada pela aquisição de matérias-primas e
produção, atualmente vemos que as frequentes mudanças, as inovações tecnológicas, o acesso
ao conhecimento e a globalização são como molas propulsoras. Neste tópico, veremos o que é
sociedade do conhecimento, compreendendo a sua relação com o conceito de cultura.
2.1.1 Pós-modernidade
Existem diversas correntes teóricas sobre a pós-modernidade. Saiba que definir esse conceito e
aquilo que o caracteriza é um desafio, pois ele não é estático, ou seja, as mudanças são frequentes e os fenômenos se modificam mesmo antes de os compreendermos.
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Antropologia e cultura
Para uma análise integral do conceito de pós-modernidade, recorreremos a Hobsbawm (1977, p.
222), o qual afirma que na Europa da segunda metade do século XIX foi observado um grande
avanço tecnológico, desencadeando os novos moldes do capitalismo. A vida urbana, o trabalho
industrial, a aquisição de bens e outros fatores modificaram a vida do homem ocidental.
Se antes da Revolução Industrial vivia-se em um universo de repetições e o homem via pouca
mobilidade social, em que o modo de vida dos filhos era muito semelhante a dos seus bisavôs,
agora um mundo de possibilidades se abria – e com ele novos conflitos e adaptações. As tecnologias ficaram ainda mais evidentes a partir da década de 1970, quando a informática se
estabeleceu no cotidiano comum, expandindo as relações para outros tipos de vivências e sociabilidades. Cabe aqui ressaltar o conceito de globalização como sendo o processo de integração
econômica, cultural, social e política, que atende às demandas do capitalismo contemporâneo
de conquistar novos mercados, principalmente se o mercado atual estiver saturado. Veremos os
seus desdobramentos adiante.
Figura 1 – Grandes aglomerados urbanos surgiram com a Revolução Industrial.
Fonte: Shutterstock, 2015.
A industrialização modificou nosso cotidiano de tal modo que ainda se tenta mensurar seus efeitos na vida de uma grande parcela da população nos dias atuais. A preservação dos costumes,
as relações pessoalizadas, os valores e tudo mais que se conhecia entrou rapidamente em uma
espiral de contradições e mudanças. O trabalho tinha uma nova configuração, assim como o
consumo, a tecnologia, os modos de produção e sustento, os meios de comunicação etc., redesenhando as cidades em grandes conglomerados urbanos de gente de todo o tipo. O progresso
foi a palavra de ordem.
O homem passou a estudar esses fenômenos por meio de diversas ciências: a Sociologia, por
exemplo, se inquietou diante das perplexidades provocadas pelas mudanças da industrialização
emergente. Émile Durkheim, Max Weber e Karl Marx lançaram um olhar crítico para o processo.
De um lado, havia o progresso, as transformações econômicas, sociais, políticas, culturais e
subjetivas; de outro, o temor, a incompreensão e a automação da vida – algo tão grandioso que
muitas ciências fixaram os seus olhares nestes fenômenos.
Émile Durkheim (1858-1917) é considerado o fundador da escola francesa de Sociologia e tinha uma visão positivista da sociedade. Buscou integrar o método empírico com a Sociologia,
refletindo também nas demais ciências humanas. Para ele, a sociedade era um organismo que
funcionava como um corpo, e cada órgão tinha uma função de interdependência com os demais.
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Anomalias sociais poderiam deteriorar o tecido social caso o indivíduo não tivesse integrado com
a sociedade – o que ele observava na condição do homem após a industrialização instaurada.
Cada sociedade teria as suas próprias formas de resolver essas anomalias. O teórico via os fatos
sociais a partir de três aspectos: coerção social, exterioridade e poder de generalização. Os fatos
sociais são alheios aos indivíduos e impostos até virarem hábitos.
Já Karl Marx (1818-1883), um economista alemão que contribuiu significativamente para o desenvolvimento da Sociologia e das demais Ciências Sociais, foi fundador da doutrina comunista
moderna e tinha uma visão revolucionária. Para ele, a sociedade estava dividida em duas
classes: a dos capitalistas, ou seja, daqueles que detêm os meios de produção; e o proletariado, cuja única posse é a sua força de trabalho. Logo, as diferenças entre o capital e o trabalho
geram uma sociedade dividida em classes. Os meios de produção se originam das relações de
produção, o modo como os indivíduos se organizam para executar a atividade produtiva, o que
impactam em desigualdades, dando origem à luta de classes.
A diferença entre Marx e Durkheim está em que este último acreditava que a sociedade era um
organismo funcionando em partes integradas, enquanto Marx afirmava que havia uma ordem
constituída apenas por existir uma classe de trabalhadores dominada pela classe dos capitalistas.
Ele também defendia a ideia de que a classe proletária (trabalhadores) deveria se organizar para
transpor a sua exploração e as desigualdades sociais.
Max Weber (1864-1920), que possuía uma visão compreensiva da sociedade, foi um economista
alemão e também é considerado um dos fundadores da Sociologia. Compreendia a sociedade
pela perspectiva histórica, diferentemente dos positivistas. Em seu pensamento, Weber apresentou o conceito de ação social, ou seja, a ação é um comportamento humano e por ela os
indivíduos se relacionam de modo subjetivo e determinado pelo comportamento do outro. O
comportamento, nesse caso, precisa ter um significado ou sentido próprio, e esse sentido também se relaciona com o comportamento das demais pessoas com quem interage. Para estudar
os fenômenos sociais, lançou alguns métodos que focam nas peculiaridades do objeto de estudo
mais fielmente, o que ele chamou de tipo ideal – este possibilitaria a seleção da dimensão do
objeto de análise e apresentaria essa dimensão de modo mais puro.
A Antropologia, que vivia uma quebra de paradigma nesse período – o selvagem (como era
concebido o indivíduo das culturas distantes e diferentes do europeu) deu lugar ao homem do
campo, logo substituído pelo operário urbano-industrial – ainda tinha os moldes do evolucionismo do século XIX, mas o questionava e se encaminhava para a Antropologia Cultural, na
Inglaterra, e Social, nos Estados Unidos, e para a Etnologia, na França (vistas a partir no início
do século XX). Nas décadas de 1920 e 1930, surgiu o Funcionalismo, cujos teóricos que mais se
destacaram foram Malinowski, Radcliffe-Brown, entre outros, e que viam que os valores sociais e
culturais transcendiam a biologização das relações sociais.
Já na década de 1930 predominou o Culturalismo Norte-Americano, com foco na identificação
de padrões culturais, ou seja, estilos de cultura. Nos anos 1940, teve origem o Estruturalismo – o
mesmo de Lévi-Strauss – que dissociava a natureza e a cultura. O Estruturalismo busca compreender as inter-relações que dão origem ao significado, que é produzido dentro de uma cultura.
Uma cultura não pode ser explicada pela condição genética de seus membros nem pode ser vista
de forma isolada: há elementos que se relacionam entre si e com um universo maior, ou seja, há
indivíduos que possuem aspectos diferentes dos demais membros, mas pertencem a uma mesma
cultura, bem como há indivíduos de outros grupos que compartilham elementos de uma cultura
que não é a sua de origem.
Na década de 1960, predominou a Antropologia Interpretativa, com abordagem hermenêutica, ou seja, em que se busca a interpretação, origem e a hierarquização dos sentidos e dos
significados – com inspirações oriundas de Nietzsche e seu perspectivismo (quando o ponto de
vista é alterável), a semiótica de Pierce (com a análise dos signos e de suas relações) e a Escola
de Frankfurt (que propunha uma crítica do fazer científico e influenciou os interpretativistas a
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Antropologia e cultura
fazerem uma autocrítica), por exemplo. No fim da década de 1980 e início de 1990, se fixou a
chamada Antropologia Pós-Moderna, com a preocupação de explicar a politização da relação
observador-observado, ou seja, faz-se uma crítica dos paradigmas teóricos e da “autoridade
etnográfica” do antropólogo.
Como diria Deleuze (1976, p. 3) “[...] não existe sequer um acontecimento, um fenômeno, uma
palavra, nem um pensamento cujo sentido não seja múltiplo”. E o início na pós-modernidade, tal
como ainda é nos nossos dias, foi plural e continua sendo de uma fluidez ainda a ser entendida,
baseada no consumo, na propaganda e na aparente superficialidade: uma vida cada vez mais
líquida, como diria Bauman (2001).
No que tange o mundo do trabalho, conforme a concepção de “vida líquida” de Bauman, as
fronteiras entre as esferas individuais e públicas, subjetivas e profissionais do indivíduo estão
cada vez mais tênues: há uma dedicação desmedida e contínua ao mundo do trabalho, que
transcende o ambiente profissional e invade o espaço domiciliar. A liquidez, mencionada pelo
autor, refere-se ao fato de o homem, nesse modelo pós-moderno, cada vez mais se despersonalizar e virar uma “coisa” a ser consumida e descartada se necessário. Para desfrutar a vida, o
indivíduo precisa ser produtivo e “fazer a sua parte”. É preciso manter um padrão de vida, mas
paga-se com o esgotamento individual, sob o discurso de “sucesso” que sustenta a organização
civilizatória do mundo ocidental e mesmo globalizado, cada vez menos sólido e mais líquido em
sua estrutura, já que coloca em segundo plano a subjetividade.
NÓS QUEREMOS SABER!
As mudanças decorrentes da industrialização massiva trouxeram consequências, principalmente para o século posterior, que não foram apenas as novas tecnologias e um
novo modo de viver. Quais são os principais problemas modernos enfrentados pelas
populações? Quanto ao mercado de trabalho: quais as mudanças que vemos hoje,
que eram inexistentes há um século e meio? Os modos de produção que motivaram a
expansão das cidades e o desenvolvimento da indústria na segunda metade do século
XIX reconfiguraram as relações em amplo sentido, como veremos.
Para alguns teóricos, a pós-modernidade é um paradigma que abrange o período após o século
XIX e a Revolução Industrial, e que não prevê a próxima etapa, o próximo momento histórico.
Outros acreditam que a pós-modernidade se iniciou na década de 1970, com a expansão das
tecnologias de informação e comunicação e com o grande impacto da mídia. Lyotard (2004) e
Baudrillard (1995) afirmam que a pós-modernidade é o período que inicia no fim da Modernidade (XVIII-XIX) e que dominou a estética e a cultura até final do século XX. Já Benjamin (2014),
afirma que a Pós-Modernidade se refere apenas à uma extensão da Modernidade.
Para Jameson (2002) e Harvey (1994), a Pós-Modernidade foi um período conhecido como “capitalismo
tardio” ou “acumulação flexível” – estágios do capitalismo. Bauman, um dos defensores do termo
“pós-modernidade”, refere-se a ele como modernidade póstuma ou modernidade líquida – uma
realidade ambígua, multiforme, em que toda estrutura sólida vem a desfazer. Lipovetsky (2007)
prefere o termo “hipermodernidade” e acredita não ter havido uma ruptura com os tempos
modernos – ainda assim são exaltados os conceitos de individualismo, o consumismo, a ética
hedonista, a fragmentação do tempo e do espaço, de modo agora mais intenso. Para Habermas,
a pós-modernidade é o ressurgimento de ideias anti-iluministas há muito existentes, um neoconservadorismo. Logo, há uma continuidade do projeto.
Você já mensurou tudo o que cabe neste recorte de tempo? A cultura pop, o consumo em larga
escala, os modernos meios de comunicação, a automação industrial, as descobertas científicas significativas como o DNA, a ciência da computação, a internet, a poluição, as ações
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ecológicas, o uso ordenado de eletricidade, as novas mídias e muito mais – um verdadeiro salto
tecnológico e social.
Mas há quem não goste de se referir a este período por este termo (pós-modernidade) – veja que
não é unanimidade entre os teóricos usar esse termo. Não há concordância também com a delimitação deste período pelos teóricos. Ao analisar a Modernidade (até o século XIX) e aquele período
que vem depois, diferenças metodológicas foram propostas. É certo que foi um período conturbado e cheio de fenômenos que transcendem aquilo que tentava se explicar pelas teorias clássicas.
NÃO DEIXE DE VER...
Confira a apresentação da antropóloga portuguesa Marta Rosales, Pessoas, coisas
e produção de relações sociais, para a TED. Nessa apresentação, ela aborda temas
comuns da sociedade contemporânea, como Migrações Contemporâneas, Culturas
Materiais e Consumos e Antropologia nas Mídias. Disponível no canal do TED Talks:
<https://www.youtube.com/watch?v=-DRCKCrq3Nc>.
2.1.2 Sociedade do conhecimento
Para Fridman (1999, p. 2), a “[...] caracterização da pós-modernidade teve início em um debate
em torno da cultura (arquitetura, pintura, romance, cinema, música etc.) e estendeu-se aos campos da filosofia, economia, política, família ou mesmo da intimidade”. Nessa discussão, surgem
dois aspectos importantes para o entendimento desse período: os conceitos de sociedade da
imagem e da sociedade do conhecimento.
A sociedade da imagem refere-se à criação de novas narrativas, da disposição de novas realidades sobre o real e da mídia incessante. Já a sociedade do conhecimento tem a ver com o grande
fluxo de conhecimento que envolve a vida social e o processo de seleção da informação para as
rotinas e no cotidiano.
Figura 2 – A sociedade atual faz uso constante de novos meios de comunicação.
Fonte: Shutterstock, 2015.
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Antropologia e cultura
NÃO DEIXE DE VER...
No filme clássico Tempos Modernos (1933), de Charles Chaplin, você consegue perceber as mudanças trazidas ao indivíduo pela industrialização massiva no mundo moderno, no caso, vivenciadas ao personagem Vagabundo.
A comunicação em massa trouxe consigo a coisificação (a transformação de ideias, pessoas e
conceitos a objetos concretos) e a reificação – conforme Lukács (2003), que afirma ser a transformação experimentada pela atividade produtiva, pelas relações sociais e pela própria subjetividade humana, vista, então, por seu caráter inanimado, quantitativo e automático (FRIDMAN,
1999). Para Baudrillard (1995), a realidade é criada como se fosse para tomar o lugar da experiência vivida, uma colonização da própria vida pela razão e pelos seus instrumentos, conforme
Habermas (1980).
A sociedade do conhecimento, e suas incertezas artificiais criadas pela utilização da razão,
constitui uma nova ordem que não se reduz à fragmentação e à “ausência de centro”. Ela
inclui fragmentação e ausência de centro, mas se distingue fundamentalmente por relações
de desencaixe das quais se deve observar as consequências históricas e políticas. Um enorme
campo de oportunidades e mesmo de ativismos aí se oferecem à investigação, o que não condiz
com o cultivo do lamento da perda de uma razão unificadora e dos objetivos sociais totais que
lhe vinham de par. (FRIDMAN, 1999, p. 11).
No mundo do trabalho, a pós-modernidade trouxe uma nova configuração quanto às funções e
aumentou consideravelmente a empregabilidade, sendo o trabalho parte essencial da vida em
sociedade (muito mais do que em outros períodos históricos anteriores). Para Baudrillard (1995),
a lógica do consumo se encerra na impossibilidade de que todos consumam, mas todos devem
trabalhar. A felicidade e o bem-estar mensuráveis por objetos e sinais de conforto são ideais da
sociedade do consumo. De Masi (2000) ainda caracteriza a Pós-Modernidade, quanto ao mundo
de trabalho e produção, pela passagem da produção de bens para uma economia de serviços,
o crescimento da classe dos profissionais e dos técnicos, o saber teórico supervalorizado e gerador de inovação, a gestão do desenvolvimento técnico, do conhecimento e da tecnologia e pela
tecnologia intelectual.
Em suma, a sociedade do conhecimento se refere ao tipo de organização social, cultural, econômica e científica, cujo termo advém das discussões sobre a Pós-Modernidade. Muitas pessoas
ainda confundem o termo Sociedade do Conhecimento – que tem um aspecto mais amplo, sendo
o propulsor econômico de uma sociedade – com Sociedade da Informação – que se refere a uma
sociedade integrada por complexas redes de comunicação e de trocas de informação; é ela que
otimizaria o compartilhamento das informações.
NÃO DEIXE DE VER...
O filme Educação na Sociedade do Conhecimento (Una TV, 2013) mostra a filósofa Viviane Mosé falando sobre as perspectivas da Educação na Sociedade do Conhecimento. Disponível no canal de Viviane Mosé: <https://www.youtube.com/watch?v=vqkUWJINT_k>.
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2.1.3 Cultura e Sociedade do Conhecimento
A Pós-Modernidade e, consequentemente, a Sociedade do Conhecimento podem ser vistas como
um fenômeno cultural, ou seja, é parte efetiva da experiência cultural, filosófica e política. Vê-se
uma suposta estagnação ideológica e motivacional por parte do indivíduo, cada vez mais absorvido pelo cotidiano, pelo consumo, pela quantificação da vida – algo diferente da modernidade,
período que o antecedeu.
A sociedade pós-moderna é a sociedade em que reina a indiferença de massa, em que domina o
sentimento de saciedade e de estagnação, em que a autonomia privada é óbvia, em que o novo
é acolhido do mesmo modo que o antigo, em que a inovação se banalizou, em que o futuro
deixou de ser assimilado a um progresso inelutável. A sociedade moderna era conquistadora,
crente no futuro, na ciência e na técnica: institui-se em ruptura com as hierarquias de sangue
e a soberania sacralizada, com as tradições e os particularismos, em nome do universal, da
razão e da revolução. Esse tempo torna-se frágil diante de nossos olhos [...]. A confiança e fé
no futuro dissolvem-se, no amanhã radioso da revolução e do progresso já ninguém acredita,
doravante o que se quer é viver já, aqui e agora, ser-se jovem em vez de forjar o homem novo
[...] já nenhuma ideologia política é capaz de inflamar multidões, a sociedade pós-moderna
já não tem ídolos nem tabus, já não possui qualquer imagem gloriosa de si própria ou projeto
histórico mobilizador. (LIPOVETSKY, 1989, p. 11).
Cultura refere-se à herança social e total da Humanidade, incluindo os fenômenos ocorridos no
último século. Dessa forma, a cultura é composta de um grande número de culturas, que caracterizam certo grupo de indivíduos. Refere-se a ideias, comportamentos ou simbolização de comportamento, incluindo a cultura material. Esta conceptualização de cultura aplica-se a qualquer
agrupamento humano, mesmo na sociedade tão massiva e acelerada quanto a nossa – dinâmica
e complexa, que possui nuances tão ricas e detalhes.
Por simbolização, entende-se o processo de atribuir a uma coisa um valor ou significado. Por
exemplo, em algumas sociedades asiáticas, o branco é uma cor apropriada para o luto – dessa
forma, atribuiu-se à cor este valor. Já na sociedade ocidental, a cor que representa o luto é o
preto. A cultura material refere-se à finalidade ou ao sentido que os objetos têm para um grupo
social. Ela pode ser aprendida, reproduzida, preservada etc. Já a cultura imaterial refere-se ao
conhecimento transmitido na prática, muitas vezes de modo oral, e não se refere propriamente a
um objeto. A capoeira, por exemplo, faz parte da cultura imaterial do Brasil.
Se antigamente, nos primórdios da Antropologia, o antropólogo ia para um rincão afastado de
sua terra natal para pesquisar sociedades e agrupamentos isolados, por mais complexos que
fossem, hoje, com as escolas antropológicas contemporâneas, os aspectos estudados se envolvem em um emaranhado de fenômenos, uma rede de possibilidades e significados. No início da
Antropologia, por exemplo, se estudava a sociedade como um grupo único, com suas próprias
problemáticas e dentro daquilo que delimitaria esse grupo. Atualmente, os antropólogos buscam
categorias similares em contextos diferentes, mostrando que, por mais que uma cultura seja distante da outra, há a possibilidade de fazer comparações, definir similaridades e contrapontos.
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NÓS QUEREMOS SABER!
Que fenômenos da sociedade atual poderiam ser parte de uma pesquisa antropológica?
Que situações do seu dia a dia dariam uma boa pesquisa? A sociedade contemporânea
é repleta de enlaces culturais e simbólicos que podem ser estudados a partir dos métodos
e pela perspectiva da Antropologia. O mundo do trabalho é palco de muitos fenômenos
culturais e daria uma boa pesquisa. Por exemplo, a apropriação de espaços públicos
por trabalhadores informais itinerantes poderia ser uma proposta de pesquisa. Outro
possível assunto interessante seria a migração de profissionais para o contexto dos home
office (por que tantos profissionais recorrem a este modelo? Quem são eles? Quais as
profissões mais comuns? Quais as vantagens e problemáticas? E assim por diante.).
2.2 Trocas culturais e mercado de trabalho
As trocas culturais e o hibridismo cultural são uma constante nas ditas sociedades pós-modernas.
E o mercado de trabalho é palco frequente de análise por parte dos teóricos no assunto. Neste
tópico, observaremos como ocorrem as trocas culturais e os híbridos culturais, enfatizando a sua
existência no mercado de trabalho.
2.2.1 Trocas culturais
As tradições, os costumes e qualquer elemento cultural não é algo estagnado. Há um dinamismo
entre os padrões culturais que permitem que haja a troca entre diferentes grupos – que pode
ocorrer de muitos modos. O tema das trocas culturais nunca saiu do foco do olhar antropológico, mas ressurgiu a partir das discussões sobre a sociedade pós-moderna, assim como o hibridismo, que mesmo após as abordagens evolucionistas que lhe deram origem retornou às pesquisas
recentes por conta do intenso contato ocorrido com a globalização.
NÃO DEIXE DE LER...
O livro Um antropólogo na cidade (Zahar, 2013) é um ensaio de antropologia urbana
publicado por Gilberto Velho, antropólogo brasileiro empenhado na análise dos contextos urbanos que elucida como a Antropologia pode atender a questões da atualidade nas metrópoles. Muitos dos temas tratados neste material são ilustrados nesta obra.
2.2.2 Culturas híbridas e mercado de trabalho
O termo culturas híbridas refere-se ao limite entre o tradicional e o moderno, entre o elitista, o
popular e o massivo. Trata-se de uma espécie de miscigenação entre diferentes culturas, ou seja,
uma heterogeneidade cultural presente no cotidiano do mundo moderno. São originárias das
trocas culturais neste contexto.
É possível unir traços distintos de diferentes visões de mundo, formando uma nova cultura, novos
signos, novos significados e identidades. Pode-se dizer que a Pós-Modernidade é constituída
de culturas híbridas, e isso pode ser visto em diferentes momentos da globalização. Mas o que
desencadeou o processo de hibridação moderna? Os meios de comunicação em massa, que
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transmitem influências entre os diferentes grupos. É imprescindível dizer que as culturas híbridas
dependeram do desenvolvimento tecnológico e dos conhecimentos científicos atuais.
Figura 3 – O hibridismo acontece de modo massivo e a todo o momento devido à globalização.
Fonte: Shutterstock, 2015.
Como é possível perceber pontualmente esse hibridismo? Quando um grupo de mulheres ocidentais em um centro urbano decidem fazer dança do ventre sem mesmo ter origem cultural
entre essas etnias tradicionais, isso é exemplo de hibridismo cultural. Os alimentos tipicamente
brasileiros estão se popularizando nos Estados Unidos, principalmente entre a população jovem,
como o açaí e a tapioca, seja pelo contato com brasileiros, que levam os seus alimentos àquele
país, ou como uma forma de experimentação por esses jovens ao que lhes parece exótico.
No ambiente de trabalho, estamos sempre adaptando técnicas e boas práticas oriundas de
outros países para melhorar a produtividade – é o caso do 5S, uma prática de organização e
qualidade de origem japonesa e muito conhecida entre os gestores brasileiros. Os métodos de
organização do sistema 5S não se referem às práticas tradicionais daqui, mas foram adotadas,
pois com a globalização e necessidade de produção sem erros, o sistema se popularizou e os
gestores brasileiros tiveram contato com o conhecido sistema. As técnicas implícitas no sistema
5S impactam na vida do trabalhador e no seu cotidiano, já que ajusta o ambiente de trabalho e
implica que todos possuem a responsabilidade de organização e o asseio de seu espaço funcional – técnicas estas que devem ser transmitidas quando o colaborador entra na empresa.
A hibridização refere-se ao modo pelo qual modos culturais ou partes desses modos se separam
de seus contextos de origem e se recombinam com outros modos ou partes de modos de outra
origem, configurando, no processo, novas práticas. [...] A hibridização não é mero fenômeno
de superfície que consiste na mesclagem, por mútua exposição, de modos culturais distintos ou
antagônicos. Produz-se de fato, primordialmente, em sua expressão radical, graças à mediação
de elementos híbridos (orientados ao mesmo tempo para o racional e o afetivo, o lógico e o
alógico, o eidético e o biótipo, o latente e o patente) que, por transdução, constituem os novos
sentidos num processo dinâmico e continuado. (COELHO, 1997, p. 125-126).
O historiador Peter Burke (2003) resgatou na década de 1980 o termo que já era conhecido entre os antropólogos evolucionistas. Hoje se fala em globalização, e o processo de hibridação da
cultura é inevitável. O hibridismo pode implicar em um processo de ressimbolização, ou seja, de
elaboração de uma nova denotação por associação de ideias produzidas por uma convenção,
por um grupo.
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Mas, se por híbrido queremos nos referir a um processo de ressimbolização em que a memória
dos objetos se conserva e em que a tensão entre elementos díspares gera novos objetos culturais
que correspondem a tentativas de tradução ou de inscrição subversiva da cultura de origem
em uma outra cultura, então estamos diante de um processo fertilizador. (BERND, 2004, p.
100-101).
Por fim, a hibridação cultural está sempre presente na rotina de cada indivíduo e formando
sempre novas identidades. Sendo um marco da sociedade globalizada, dotada de misturas, de
variadas cores e estilos, formando o aspecto do homem moderno e pós-moderno, marcando
uma quebra com o modelo das culturas tradicionais.
O conceito de hibridismo, em termos dessas articulações do capitalismo planetário, favorece
a disseminação das mais variadas possibilidades de consumo. Essa noção teórica dá base à
produção, no caldeirão das formas da cultura, inclusive cultura material, de possibilidades
abertas de criação de produtos e a uma adequada criação de expectativas de consumo. Nesse
sentido, a concepção interessa à “cultura do dinheiro”, que é supranacional, embora baseada
na hegemonia e no território norte-americanos. (ABDALA JR., 2004, p. 18)
É importante ressaltar que Canclini (2011) é inovador, pois aponta o conceito de hibridismo
cultural sob um viés político em primeira mão. Para ele, o hibridismo é uma prática multicultural,
quando há o contato de diferentes culturas, processo analisado pelo autor, nos movimentos artísticos verificados na América Latina. Para ele, o hibridismo cultural poderia ser benéfico, já que
nesses países o processo de modernização é tardio e lento.
Canclini (2011) afirma que as culturas pós-modernas são limítrofes, ou seja, de fronteira, provenientes do contato com o “outro” e relativas aos deslocamentos de bens simbólicos. Trata-se de
um processo multicultural, da relação com diferentes culturas. A cultura é vista como algo não
mais genuíno, mas algo representado (uma representação), ou seja, trata-se de um simulacro
como marca cultural.
Figura 4 – Canclini estudou o hibridismo a partir das relações entre mexicanos e americanos e entre as populações da América-Latina.
Fonte: Shutterstock 2015.
Já Hutcheon (1991) acredita que essas culturas híbridas pós-modernas possibilitam a resistência
e o confrontamento do discurso dominante. Por outro lado, elas estão arraigadas à globalização
e sustentam o consumo massivo. Ou seja, elas ainda resistem à massificação da globalização
por meio da representação, mas muitas vezes são um produto do consumo. Para outros teóricos,
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a hibridação cultural não ocorre apenas pelo processo de ressignificação da cultura, mas pelo
embate, pelo choque entre as culturas.
NÃO DEIXE DE LER...
O livro Hibridação cultural (Unisinos, 2003) de Peter Burke é uma pequena obra que
explica de maneira muito didática e em detalhes esse processo tão comum na sociedade global. Vale a pena conferir!
2.3 Tecnologia, globalização e inovação
O desenvolvimento das tecnologias, a imposição da globalização e os processos de aceleração da inovação trouxeram novas possibilidades para os estudos antropológicos. Essas são três
esferas inseridas na cultura pós-moderna e que caracterizam a sociedade do conhecimento. Veremos agora como a tecnologia, a globalização e a busca por inovação impactam nas diferentes
culturas, verificando esses conceitos também como fenômenos socioculturais.
2.3.1 Globalização e cultura
A globalização tem impactos sem precedentes em quase todas as culturas atuais. Mesmos os povos mais distantes possuem expressividade e podem ser observados de muitas formas, ainda mais
pelos novos meios de comunicação. A globalização promove as trocas culturais e as culturas
híbridas, que podem ocorrer por assimilação simbólica ou pelo choque, pelas resistências entre
culturas distintas. No caso das culturas tradicionais, a globalização pode oferecer ameaças, já
que propõe a uniformização da cultura (monocultura global).
É importante ressaltar que a globalização é um fenômeno arraigado ao modelo capitalista e
que há uma hierarquização do espaço global, que se faz muitas vezes pelo modo como a mão
de obra é disposta, pelo uso das tecnologias e demandas dos próprios segmentos etc., gerando
infinitos problemas sociais.
Essa hierarquização do espaço global é hoje, por sua vez, fortemente determinada pela
capacidade dos lugares de absorver novas tecnologias, bem como pela sua maior ou menor
disponibilidade de infraestrutura e de mão-de-obra adequadas à localização dos segmentos
econômicos intensivos em conhecimento. Do ponto de vista econômico, o que hoje, portanto,
diferencia fundamentalmente os territórios não são seus atributos físicos ou inanimados, mas
o seu conteúdo imaterial, particularmente a sua base de informações e de conhecimentos,
refletindo em grande medida desiguais disponibilidades espaciais de recursos humanos e de
mão-de-obra qualificada. (ALBAGLI, 1998, p.192)
A Antropologia tem como objeto de estudo o conhecimento do homem e os elementos que
influenciam na construção do pensamento humano, desde sua origem como sujeito atuante
e transformador até o surgimento das noções de indivíduo e estrutura social. Mesmo que em
sua origem tenha usado um discurso tradicional e dominante, hoje se mostra crítica às análises
socioculturais. Vale dizer que esta disciplina busca entender a condição humana no contexto
da globalização, no qual surgem novos elementos sociais que influenciam e alteram a vida do
homem pós-moderno. Mas aborda também os impactos do processo capitalista para as culturas
como um todo. Cultura local são os costumes e as crenças e outros elementos culturais de determinada região, e cultura global é a cultura massiva e generalizada proveniente dos processos
de globalização.
15
Antropologia e cultura
NÓS QUEREMOS SABER!
De que forma a globalização é prejudicial à cultura local e às identidades de grupos e
povos? Mesmo que a globalização seja um fenômeno que não se pode parar, a cultura
local deve ser valorizada, já que a globalização se apresenta como um obstáculo para
a diversidade cultural.
2.3.2 Tecnologia e inovação
Na sociedade do conhecimento, com o seu aparato tecnológico, a busca pela inovação dá o tom
para a contínua evolução dos processos técnicos que caracterizam o capitalismo e a globalização.
A Antropologia, nos últimos anos, se preocupa em compreender os temas mais atuais, relativos
às novas configurações atuais do mundo globalizado e tecnológico. A ciência e a tecnologia
possuem importância central na vida pós-moderna e a disciplina busca se inteirar de seus impactos na vida do homem. A ciência, por exemplo, é tida como a forma mais ocidental de pensar o
mundo, isso impacta em culturas locais no que tange aos conhecimentos identitários.
Figura 5 – A sociedade do conhecimento é caracterizada pelo amplo acesso à informação e à tecnologia.
Fonte: Shutterstock, 2015.
A tecnologia, que contribui para disseminar a cultura globalizada e unilateral, é também um
meio de garantir acesso a conhecimentos de todos os tipos. Mas ela também é percebida como
a legitimadora da globalização: a inovação é frequente, otimiza e permite os processos em favor
do homem. Todos os problemas comuns da humanidade se encerram na ciência e na tecnologia
– nela se pode tudo, desde a eliminação e o tratamento de doenças à geração de novos aparelhos e técnicas capazes de garantir uma vida plena.
16 Laureate- International Universities
NÓS QUEREMOS SABER!
Você sabe definir tecnologia? Trata-se de técnicas, processos, métodos, meios e instrumentos de uma ou mais funções da atividade humana. Um computador possui uma tecnologia, empregada no processamento de dados; uma enxada possui uma tecnologia que
permite mover de modo eficiente o solo. Ambos são tecnologias com funções distintas.
2.4 Relações entre distintas
mercado de trabalho
gerações
no
Com maior acesso à informação, pessoas de diferentes gerações compartilham os mesmos espaços de trabalho. Há trocas culturais entre grupos de pessoas de faixas etárias diferentes. Mas
esta é uma questão recorrente quando se fala em carreira no mundo globalizado – o choque de
gerações. Neste tópico, vamos compreender as diversas nuances das relações de indivíduos de
diferentes gerações no mercado de trabalho e problematizar os desafios e conflitos existentes no
mundo contemporâneo.
2.4.1 Gerações e trabalho
Verificando novamente o conceito de cultura como a forma de vida de um grupo de pessoas,
conforme os comportamentos adquiridos e transmitidos de geração em geração por meio da
língua falada e da simples imitação, percebemos que nos ambientes de trabalho atuais o espaço é dividido por pessoas de diferentes gerações. Isso porque a globalização fez com que uma
margem etária mais abrangente disputasse as mesmas oportunidades no mercado de trabalho.
Interesses distintos, valores, formas diferentes de perceber o mundo, linguagem, competências,
relações diferentes com os novos meios de comunicação: estes e muitos elementos servem para
gerar conflitos e aprendizagens no ambiente de trabalho.
As teorias antropológicas sempre buscaram compreender as diferenças entre as gerações. Este
também é um dos desafios mais frequentes nas empresas atuais. A chamada Geração Y (pessoas
nascidas entre os anos de 1980 e 2000), que hoje busca estabilidade no mercado de trabalho,
se depara com pessoas de outras gerações.
VOCÊ O CONHECE?
Cliffort Geertz (1926-2006) foi, depois de Lévi-Strauss, o nome mais importante da Antropologia no século XX. Seu trabalho está situado dentro da Antropologia Interpretativa e Simbólica, com mais de 20 livros publicados nesta área. Dizia que a Antropologia
Interpretativa é a da leitura das sociedades assim como interpretamos os textos. Sua
obra mais notável foi o livro A interpretação das Culturas (Editora Zahar, 1989).
17
Antropologia e cultura
Figura 5 – Diferentes gerações no mercado de trabalho.
Fonte: Shutterstock, 2015.
Se de um lado essa geração possui facilidade de incorporar tecnologia em seu dia a dia, a capacidade de realizar diversas tarefas ao mesmo tempo, aversão à rotina, a preocupação com a
qualidade de vida e rotatividade da carreira, se depara também com profissionais mais estáveis
junto à organização, com pensamento mais tradicional, em que as relações são baseadas por
valores e menos por ascensão e dinheiro – estes são mais resistentes às mudanças, mas mostram
interesse em se adaptar sem maiores estranhamentos. Muitas lideranças são de gerações anteriores e sentem dificuldade de diálogo com profissionais mais novos.
Esta é mais uma das nuances da questão da globalização e da sociedade do conhecimento:
o conflito de gerações entre profissionais sempre existiu e sempre existirá. E a coexistência é
evidenciada pela Antropologia, por exemplo, pelas trocas rituais, resistências e pelos fenômenos
que muitas vezes envolvem outros elementos – como questões de gênero, etnicidade e raça,
classes sociais distintas, cultura organizacional etc.
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Síntese
Síntese
Neste capítulo, você pôde:
• compreender o que é o paradigma pós-contemporâneo – um termo usado para designar
a sociedade da segunda metade do século XIX até o momento. Há teóricos que divergem
da sua datação e outros que nem concordam que haja uma “pós-modernidade”;
• constatar que a Sociedade do Conhecimento e a Sociedade da Informação são termos
oriundos da Pós-Modernidade;
• concluir
que o mundo passou por grandes transformações em todas as esferas da vida
do indivíduo ocidental e isso permitiu que ele tivesse contato com outros tipos de cultura,
assimilando-as intencionalmente ou não;
• entender
que a troca de culturas e o hibridismo cultural já eram estudados entre os
antropólogos evolucionista, mas esses conceitos ressurgiram na década de 1980 com as
análises sobre os impactos da globalização nas diferentes culturas – eles podem ocorrer
de modo interativo ou por meios de oposições e resistências;
• saber que o mundo globalizado possibilitou e foi possibilitado pelo desenvolvimento das
novas tecnologias e pela busca por inovação;
• a
globalização fez com que diferentes gerações compartilhassem o mesmo ambiente
de trabalho, o que trouxe aprendizados e conflitos – compreender essas relações é de
interesse da Antropologia e um desafio para as práticas corporativas.
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Referências
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