Filosofia

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Filosofia
Material Teórico
Introdução à Reflexão Filosófica
Responsável pelo Conteúdo:
Profa. Dra. Andrea Borelli
Revisão Técnica:
Prof. Ms. Edson Alencar Silva
Revisão Textual:
Profa. Dra. Selma Aparecida Cesarin
Introdução à Reflexão Filosófica
• O que é Filosofia?
• Para que Filosofia?
OBJETIVO DE APRENDIZADO
· Discutir a definição de Filosofia, de conhecimento, Ciência e senso
comum. Além disso, discutiremos também os principais períodos
da Filosofia.
Orientações de estudo
Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem
aproveitado e haja uma maior aplicabilidade na sua
formação acadêmica e atuação profissional, siga
algumas recomendações básicas:
Determine um
horário fixo
para estudar.
Procure manter
contato com seus
colegas e tutores
para trocar ideias!
Isso amplia a
aprendizagem.
Conserve seu
material e local de
estudos sempre
organizados.
Aproveite as
indicações
de Material
Complementar.
Mantenha o foco!
Evite se distrair com
as redes sociais.
Seja original!
Nunca plagie
trabalhos.
Assim:
Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte
da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e
horário fixos como o seu “momento do estudo”.
Não se esqueça
de se alimentar
e se manter
hidratado.
Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar, lembre-se de que uma
alimentação saudável pode proporcionar melhor aproveitamento do estudo.
No material de cada Unidade, há leituras indicadas. Entre elas: artigos científicos, livros, vídeos e
sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você também
encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão sua
interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados.
Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discussão,
pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o contato
com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e aprendizagem.
UNIDADE
Introdução à Reflexão Filosófica
Contextualização
Vamos iniciar nosso trabalho contextualizando a importância da Filosofia por
meio de um texto de Karl Jaspers.
Leia com atenção!
O texto vale a pena!
Quando se fala em estudar Filosofia, não é raro nos depararmos com
perguntas como: Há uma utilidade para a Filosofia? Por que ela é tão
complexa? Karl Jaspers, um importante pensador alemão, responde
essa questão dizendo que estas são falsas perguntas, pois trabalham a
favor de uma “antifilosofia”, ou seja, um tipo de pensamento que impede que a reflexão se contraponha à lógica que reduz tudo a fórmulas
prontas e acabadas questões cruciais para a nossa vida. Para ele “a
Filosofia aspira à verdade total, que o mundo não quer. A filosofia é,
portanto, perturbadora da paz”.
Ao se voltar para questões “que o mundo não quer” o pensamento filosófico se transforma em algo que ora é evitado, ora é temido.
Evitado porque o conhecimento é enganadoramente associado a uma
atividade sem sentido, mas na realidade é algo que pode nos levar a
uma relação com o mundo muito mais profunda. E temido apenas por
aqueles que não querem que se pense livremente, pois é mais fácil manipular quem não questiona. Convidamos a utilizarem um antigo lema
latino que diz Sapere Audi! (Ouse saber!), ou seja, atreva-se a utilizar
o seu próprio conhecimento!
Karl Jasper
8
O que é Filosofia?
Essa pergunta permite muitas respostas...
Alguns podem apontar que a Filosofia é o “estudo de tudo” ou “o nada que
pretende abarcar tudo”.
Diante de tantas possibilidades, podemos iniciar nosso trabalho procurando o
significado da palavra, que é de origem grega.
Trata-se da junção de dois termos: philos que significa amizade, e sophia que
significa sabedoria; portanto, Filosofia é o amor pela sabedoria.
Philo =
amizade
filosofia
Sophia =
sabedoria
Figura 1
Considerando essa ideia, podemos dizer que a Filosofia indica um estado de
espírito, um desejo de procurar o conhecimento, cultivá-lo e respeitá-lo.
Segundo a tradição, foi o grego Pitágoras de Samos
que criou esse conceito. Pitágoras considerava que a
sabedoria absoluta era um privilégio divino, mas os
homens poderiam desejá-la e ao se dedicarem a obtê-la
tornavam-se Filósofos.
Figura 2 - Pitáoras de Samos
Fonte: Wikimedia Commons
A Filosofia é uma criação grega. Foram os gregos que,
encantados com o mundo que os cercava e insatisfeitos com
as explicações de caráter tradicional, procuraram entender
os fenômenos com base na inteligência humana. Em suma,
eles perceberam que o mundo poderia ser conhecido pelo
homem e, por isso, ensinado.
9
9
UNIDADE
Introdução à Reflexão Filosófica
Para que Filosofia?
Explor
Marilena Chauí conta que quando você pergunta a um filósofo para que serve a
Filosofia, a primeira resposta será “Para não darmos nossa aceitação imediata às
coisas, sem maiores considerações”.
CHAUI, Marilena. Convite à Filosofia. São Paulo: Ática, 2000, p.9.
O que ela quer dizer com isso?
Sua afirmação permite considerar que a Filosofia demanda uma atitude
diferenciada perante o conhecimento e as suas formas.
Explor
Trata-se da Atitude Filosófica.
•
•
Atitude Filosófica
Atitude crítica e pensamento crítico.
A atitude Filosófica é marcada por dois movimentos: a atitude crítica perante as
informações recebidas e o pensamento crítico, marcado por indagações rigorosas
sobre o mundo.
Esse tipo de atitude aponta a necessidade de observar o conhecimento como
algo em construção e que pode ser alterado, ampliado e, acima de tudo, criticado.
O filósofo grego Sócrates dizia que a atitude filosófica fundamental era aceitar
que: “Sei que nada sei”.
A atitude filosófica, portanto, é uma atitude de indagação constante e as
perguntas que marcam essas indagações são as mesmas, independente dos objetos
que a Filosofia pretenda conhecer.
Observe a imagem a seguir:
O quê?
Siginificação de algo.
Como?
Atitude Filosófica
Estruturas e Relações que
Por quê?
Origem ou Causa das coisas
Figura 3
Por que pensamos?
10
Motivos
Aos poucos, a Filosofia volta as suas questões para o próprio pensamento, ou
seja, o pensamento passa a interrogar a si mesmo e esse movimento é chamado
de Reflexão.
Explor
O quê?
•
Siginificação de algo.
Reflexão Filosófica = pensar o pensamento
Como?
Atitude
Filosófica
A reflexão
filosófica
é considerada radical,
pois coloca
em
Estruturas
e Relações
quediscussão como é
possível a existência do próprio pensar e como isso realmente acontece.
quê? que estabelecemos
A reflexão filosófica também procura observar Por
as relações
Origem
ou
Causa
das coisas
com o mundo e como essas se efetivam.
Observe a imagem:
Por que pensamos?
Motivos
O que pensamos?
Reflexão Filosófica
Conteúdo
Para que pensamos?
Finalidade
Figura 4
Essas questões, contudo, não podem ser respondidas ao acaso ou com base em
opiniões pessoais. A Filosofia é uma Ciência que trabalha com raciocínios lógicos
e enunciados precisos.
No campo da Filosofia, o processo de pensar algo é acompanhado por um rigor
sistemático que garante organicidade, lógica e sentido a tudo que é postulado.
As respostas obtidas a essas questões, portanto, precisam formar um conjunto
coerente e sistemático de ideias que possa ser comprovado e demonstrado logicamente.
Filosofia: Conhecimento Sistemático
Coerência
Relação entre ideias
Figura 5
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11
UNIDADE
Introdução à Reflexão Filosófica
Considerando o que já foi dito, voltamos à questão: Para que Filosofia?
Ora, a Filosofia nos ensina a pensar de forma crítica, a criticar o pensamento.
A filósofa Marilena Chauí aponta:
Se abandonar a ingenuidade e os preconceitos do senso comum, for útil;
se não se deixar guiar pela submissão às ideias dominantes e aos poderes
estabelecidos, for útil; se buscar compreender a significação do mundo, da
cultura, da história, for útil; se conhecer o sentido das criações humanas
nas artes, nas ciências e na política, for útil; se dar a cada um de nós e à
nossa sociedade os meios para serem conscientes de si e de suas ações
numa prática que deseja a liberdade e a felicidade para todos, for útil;
então, podemos dizer que a Filosofia é o mais útil de todos os saberes de
que os seres humanos são capazes.
A Filosofia Ocidental tem seu estudo dividido em grandes momentos, que
algumas vezes estão próximos à periodização utilizada na História, e algumas vezes
ficam bem distantes.
Os principais períodos são:
Filosofia Antiga – Século VI a.C. ao século VI d.C.
Esse período compreende os quatro grandes períodos da Filosofia greco-romana.
São eles:
Filosofia Antiga
Explor
Nome
12
Período
Característica
Pré-Socrático ou Cosmológico
Séc. VI a.C. Séc. V a.C.
• Mapear a origem do mundo.
• Mapear as causas das transformações da natureza.
Período Socrático ou Antropológico
Séc. V a.C. Séc. IV a.C.
• Mapear questões voltadas à questão humana como: ética, política.
Período Sistemático
Séc. IV a.C. Séc. III a.C.
• Sistematizar os conhecimentos sobre Cosmologia e Antropologia.
• Tudo pode ser objeto da Filosofia
Período Helenístico ou Greco-romano
Séc. III a.C. Séc. VI d.C.
• Ocupa-se de questões sobre ética, do conhecimento humano e das
relações homem/natureza e natureza/Deus.
Os filósofos pré-socráticos são aqueles que vieram antes de Sócrates e tinham como
preocupação buscar entender a origem das coisas. O foco de reflexão era, portanto, o
mundo exterior, ou cosmológico. Entre os nomes de maior relevo estão Tales de Mileto
e Heráclito de Éfeso.
Filosofia Patrística – Século I ao século VII
Trata-se de um esforço sistemático de conciliação da Filosofia Greco-romana,
com o pensamento cristão e pode ser dividida em duas: a Patrística grega (ligada à
Igreja de Bizâncio) e a Patrística Romana (ligada à Igreja de Roma).
Explor
A Patrística terá como questão principal a conciliação entre a fé e razão e seus
autores vão introduzir no campo do pensamento a noção de que algumas verdades
foram reveladas por Deus; trata-se dos dogmas.
O termo remete à Filosofia cristã desenvolvida por padres ou pais da Igreja, nos primeiros
três séculos depois de Cristo. Daí o nome Filosofia Patrística.
Com isso, surge uma distinção desconhecida aos pensadores antigos, entre as
verdades reveladas por Deus (os dogmas) e as verdades da razão humana.
As verdades divinas são tidas, para esses autores, como mais importantes e
superiores ao pensamento racional humano.
Explor
Filosofia Medieval – Século XIII ao século XIV
Método da Disputa = Uma ideia seria considerada verdadeira ou falsa, dependendo da
força e da qualidade dos argumentos.
Trata-se do surgimento de uma Filosofia que pode ser considerada realmente
cristã. Suas questões centrais são: as relações entre Deus e o homem, a relação
entre fé e razão, a diferença entre o corpo e alma, o Universo como uma hierarquia
de seres e a subordinação do poder temporal ao poder espiritual.
A Filosofia medieval sofreu grande influência do pensamento neoplatônico e das
leituras árabes do pensamento de Aristóteles.
Outra característica importante era o método desenvolvido, conhecido por
disputa. Uma ideia seria considerada verdadeira ou falsa, dependendo da força e
da qualidade dos argumentos apresentados pelo autor.
O pensamento está subordinado ao princípio da autoridade, isto é, uma ideia
era considerada verdadeira, dependendo se estava baseada na opinião de alguma
autoridade reconhecida.
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13
UNIDADE
Introdução à Reflexão Filosófica
Você Sabia?
Importante!
O termo Filosofia Medieval tem início no período conhecido por Idade Média. Esteve
concentrada e desenvolvida em centros universitários e escolares. Daí também ser
conhecida por Filosofia Escolástica.
Filosofia da Renascença – Século XV ao Século XVI
Trata-se de um período marcado pela descoberta de novas obras de Platão e
Aristóteles, bem como a recuperação do trabalho de outros autores do mundo
greco-romano.
São três as linhas de pensamento no período:
Filosofia da Renascença
• A Natureza é um grande ser vivo.
• O homem é parte da natureza e pode
agir sobre ela.
• Valorização da “vida ativa”, ou seja, a
participação política.
• O homem pode conhecer os vínculos
estabelecidos pelos elementos da
natureza e criar outros.
• Renascimento da liberdade política.
• Homem como artífice de seu destino.
• Destino determinado pelo
conhecimento da política, das
técnicas e da arte.
Filosofia Moderna – Século XVII a Século XVIII
Explor
Esse período é conhecido como Grande Racionalismo Clássico. Nenhum outro
período da história da Filosofia foi tão marcado pela crença na Razão. Considerava-se que a razão seria capaz não só de conhecer a origem, as causas/efeitos
das paixões humanas e controlá-las, como também determinar o melhor regime
político para as sociedades e de mantê-lo racionalmente.
•
Filosofia Moderna - Primado da RAZÃO
É um período marcado por três grandes mudanças de atitude intelectual.
Filosofia Moderna
• A Filosofia deve começar pela reflexão.
• Indagar a capacidade humana de
conhecer e demonstrar a verdade dos
conhecimentos.
• Tudo que pode ser conhecido é
passível de ser transformado em
conceito claro, distinto, demonstrável
e necessário.
• Natureza, Sociedade e Política
podem ser conhecidas totalmente,
pois são inteligíveis.
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• A realidade é um sistema de
causalidades racionais, rigorosas
que podem ser conhecidas e
transformadas pelo homem.
Filosofia da Ilustração ou Iluminismo – Século XVIII ao Século XIX
Esse período também crê no poder absoluto da razão e seus pensadores
consideram que ela “ilumina” o caminho humano.
O Iluminismo afirma que:
Filosofia da Ilustração ou Iluminismo
• A Razão permite
conquistar liberdade,
felicidade social e política.
• A Razão é capaz de progresso.
• O homem pode atingir
a perfeição por meio do
conhecimento, das artes,
da Moral e da Ciência.
• O Aperfeiçoamento da
Razão se realiza pelo
progresso das civilizações.
• Natureza é o reino das
relações necessárias e
imutáveis.
• As civilizações evoluem
das mais primitivas para as
mais desenvolvidas
• Civilização é o reino da
liberdade e da finalidade
produzida pelo homem.
Filosofia Contemporânea – Século XIX até os nossos dias
O pensamento filosófico atual é marcado pelas questões sobre a relatividade do
pensamento, a crítica à razão instrumental e a necessidade de perceber a pluralidade
das sociedades humanas.
Seus principais problemas são:
Coerência
História e progresso – A História é descontínua e não progressista.
Razão – Deve alertar para o perigo do pensamento instrumental. Trazer liberdade ao ser humano.
Filosofia – Afirmar sua posição de compreensão e crítica às Ciências.
Crítica às Utopias Revolucionárias – Somos capazes de criar uma sociedade mais justa?
Cultura – Pluralidade cultural.
Crítica à Razão. O que podemos realmente conhecer?
Interesse pela multiplicidade e pela diferença.
Figura 6
Os campos próprios de estudo da Filosofia.
15
15
UNIDADE
Introdução à Reflexão Filosófica
História da
Filosofia Estudo
dos períodos
Filosóficos
Ontologia
Fundamento
últimos de todos
os seres
Lógica
Formas e regras
do pensamento
verdadeiro
Filosofia da
Linguagem
A linguagem
como manifestação
da humanidade
Epistemologia
Análise crítica
das ciências
FILOSOFIA
Teoria do
Conhecimento
Estudo das
modalidades de
conhecimento
humano
Estética
Estudo das
formas a arte
e do trabalho
artístico
Filosofia da
História - Estudo
da dimensão
temporal da
experiência
humana
Filosofia Política
Estudo da
natureza do
poder
Ética
Estudos dos
valores morais
Figura 7
A Filosofia realizou seus estudos em diversas áreas e ao longo de sua existência,
como uma Disciplina do pensamento, foi capaz de desenvolver alguns campos de
estudo que lhe são próprios.
São eles:
O Conhecimento
As noções, que discutimos até agora, apontam que a questão central da Filosofia,
que envolve a crítica ao ato de pensar e, conectado a ele, ao ato de conhecer.
O conhecimento permeia todo o nosso cotidiano; por meio dele, sabemos como
nos portar, o que evitar, o que é adequado. Enfim, o conhecimento do mundo nos
garante um grande repertório de ações e pode ser percebido de duas maneiras:
Na primeira, o conhecimento é a relação estabelecida pela consciência do
observador e o mundo que o cerca e na segunda possibilidade, o conhecimento é o
conteúdo dessa relação. Trata-se, portanto, do saber adquirido e transmitido.
Quando interagimos com o mundo, criando o conhecimento, nunca o fazemos
despidos de conceitos anteriores, pois, ao longo da nossa relação com o mundo,
somos educados e absorvemos conceitos que nos permitem ampliar o saber que
temos. Trata-se de construir um edifício, em que cada um contribui com sua vivência.
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Existem muitas formas de conhecer e, entre elas, destacam-se o Senso Comum
e a Ciência.
O Senso Comum
O senso comum é uma forma de conhecimento espontâneo que resulta das
experiências cotidianas dos indivíduos para resolver problemas. Nesse processo,
ele troca informações com seus contemporâneos e recebe informações de
gerações anteriores. Trata-se de um conhecimento empírico e fragmentário que
não estabelece relações com outros fenômenos.
Suas características centrais são:
Senso Comum
Saber Imediato
Saber Subjetivo
Observação
Observação
Confunde a
aparência com
o real
Centrado nas
opiniões do
indivíduo
Saber Heterogêneo
Saber Não Crítico
Acúmulo não
sistemático de
informações
Não analisa
criticamente o
conhecimento
Figura 8
Explor
É importante perceber que o Senso Comum pode ser considerado uma etapa
na construção do saber. Ele precisa ser substituído por uma abordagem crítica e
coerente, ou seja, o senso comum deve ser transformado em BOM SENSO. O
Bom Senso, segundo Gramsci é “o núcleo sadio do senso comum”.
ARANHA, Maria Lucia. Filosofando, Introdução à Filosofia. São Paulo: Moderna, 1993, p 37.
Qualquer pessoa, se não privada de sua liberdade de pensamento, e se teve
condição de desenvolver sua atitude crítica, será capaz de autoconsciência, de
perceber criticamente o próprio pensamento e de analisar o mundo que a cerca.
Portanto, todos somos capazes de atingir o bom senso proposto por Gramsci e, a
partir dele, construir um conhecimento, fruto da crítica sistemática.
Como fazer isso?
É necessário assumir a postura de dúvida perante o mundo que nos cerca e
considerar que as informações, as quais recebemos, precisam ser alvo de crítica.
Dessa forma, entramos no mundo das Ciências.
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17
UNIDADE
Introdução à Reflexão Filosófica
A Ciência
Ao longo do tempo, podemos observar a existência de três formas de conceber
as Ciências ou noções do que é cientificidade. A primeira, chamada concepção
racionalista, tem sua origem no pensamento dos gregos e pode ser percebida até
o final do século XVII.
As características centrais dessa abordagem são:
Conhecimento racional,
dedutivo e
demonstrativo – tido
como real
Ciência – unidade
sistemática de
postulados – natureza
do objeto natureza e
as propriedades de
seu objeto
Objeto científico é
matemático = realidade
possui uma estrutura
matemática
CONCEPÇÃO
RACIONALISTA
Ciência – unidade
sistemática de
postulados – relações
de causalidade sobre o
objeto
Objeto científico =
representação intelectual,
necessária, verdadeira e real
verdadeira das coisas –
corresponde à própria
realidade
As experiências
científicas = verificar e
confirmar as
demonstrações teóricas
Figura 9
Deve-se observar que, para essa perspectiva, a Ciência faz uma radiografia da
realidade. Ela definia um objeto e dele procurava deduzir os efeitos e propriedades
do fenômeno estudado, trata-se de uma abordagem hipotético-dedutiva.
Já a abordagem empirista era hipotético-indutiva, ou seja, criava suposições ao
objeto e, depois de realizar um conjunto de experiências, definia suas características
e propriedades.
A concepção empírica pode ser relacionada ao pensamento de Aristóteles e
pode ser rastreada até o século XIX.
18
Suas características centrais são:
A ciência é uma
interpretação dos
fatos, baseada
em observações
experimentos
A ciência é uma
interpretação dos
fatos, baseada em
experimentos
A CONCEPÇÃO
EMPIRISTA
Métodos
experimenta
is rigorosos
A experiência tem a
função de produzir
conhecimento
Figura 10
A concepção construtivista combina elementos vindos do empirismo e do
racionalismo e indica uma nova perspectiva para a noção de Ciência. Procura-se
explicar a realidade e não construir um raio X do mundo que nos cercam; trata-se
de um conhecimento que pode ser ampliado e corrigido. Trata-se da concepção de
Ciência que domina o conhecimento atual.
As características dessa concepção são:
O objeto uma
construção
lógico-intelectual
Coerência entre os
princípios que
orientam a teoria
CONCEPÇÃO
CONSTRUTIVISTA
Modelos
explicativos
construidos –
observação e
experimentação
Os resultados
obtidos possam ser
alterados e alterem a
proópria teoria
Figura 10
19
19
UNIDADE
Introdução à Reflexão Filosófica
Deve-se observar que, apesar de a concepção racionalista e a empirista terem
sua origem no pensamento grego, a concepção dos gregos do que era Ciências é
radicalmente diferente da nossa. Existem muitas diferenças; contudo, a que merece
destaque é a relação entre a Ciência e a Técnica.
Explor
No mundo grego, que era escravista, a técnica era considerada um saber inferior.
Ela estava ligada a práticas necessárias à vida e nada tinha a oferecer à Ciência nem
a receber dela.
Tecnologia é um saber teórico que pode ser aplicado praticamente.
Já a Ciência moderna está intimamente ligada à intervenção no mundo natural
e, nesse sentido, a Ciência moderna não se separa da questão técnica, pois no
mundo, o controle da natureza é considerado fundamental para a Ciência.
Na verdade, a Ciência moderna coloca em evidência a questão da Tecnologia, que
pode ser definida como um saber teórico, o qual é passível de ser aplicado praticamente.
A Filosofia, com sua atitude crítica, é a alma mater da ciência e permite ao
ser humano interferir no seu meio, procurando um mundo melhor, como aponta
Marilena Chauí:
Explor
Penso que quem busca a filosofia como forma de expressão de seu
pensamento, de seus sentimentos, de seus desejos e de suas ações,
decidiu-se por um modo de vida, um certo modo de interrogação e uma
certa relação com a verdade, a liberdade, a justiça e a felicidade. É uma
decisão existencial, como nos aparece com tanta clareza nas primeiras
linhas do Tratado da emenda do intelecto, de Espinosa. Essa decisão
intelectual, penso, não é possível a menos que aceitemos aquilo que
Merleau-Ponty chamou de “nossa vida meditante” em busca de uma razão
alargada, capaz de acolher o que a excede, o que está abaixo e acima dela
própria. Essa decisão, penso também, não é possível se não admitirmos
com Espinosa que pensar é a virtude própria da alma, sua excelência. O
desejo de viver uma existência filosófica significa admitir que as questões
são interiores à nossa vida e à nossa história e que elas tecem nosso
pensamento e nossa ação. Significa também uma relação com o outro
na forma do diálogo e, portanto, como encontro generoso, mas também
como combate sem trégua.
20
CHAUI, Marilena. A Filosofia como vocação para a liberdade. Estudos Avançados 17
(49), São Paulo: 2003, p.11.
Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:
Sites
Bons e Maus Ensaios Filosóficos
HEPBURN, Ronald W. Bons e maus ensaios filosóficos.
https://goo.gl/Dz4qZr
Leitura
Como se lê um Ensaio de Filosofia
PRYOR, James. Como se lê um ensaio de filosofia.
https://goo.gl/Glt8tW
O que é Filosofia e por que Vale a Pena Estudá-la
EWING. A. C. O que é Filosofia e por que vale a pena estudá-la
https://goo.gl/ELgz7t
21
21
UNIDADE
Introdução à Reflexão Filosófica
Referências
ARANHA, Maria Lucia. Filosofando, Introdução à Filosofia. São Paulo:
Moderna, 1993.
CHAUI, Marilena. A Filosofia como vocação para a liberdade. Estudos
Avançados 17 (49), São Paulo, 2003.
________. Convite à Filosofia. São Paulo, Ática, 2000.
22
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