O MARKETING DE TROCAS *Fernando Schuler O marketing só existe porque a vida em sociedade é impossível sem a realização de trocas. A troca consiste no ato de obtermos qualquer coisa que desejamos, oferecendo algo desejado pela outra parte, em compensação. A necessidade de trocar bens ou serviços advém do fato de nenhum ser humano ser auto-suficiente e, portanto, capaz de, por si só, satisfazer as suas necessidades e desejos. Segundo Philip Kotler, um dos mais prestigiados professores americanos de marketing, para que se concretize uma troca, cinco condições devem ser satisfeitas: existirem, no mínimo, duas partes; cada parte ter qualquer coisa à qual a outra parte atribui valor; cada parte estar em condições de se comunicar com a outra e de proceder à entrega; cada parte ser livre de aceitar ou recusar a oferta da outra; cada parte acreditar que é apropriado ou desejável negociar com a outra parte. Quando estão reunidas todas as condições necessárias à realização de uma troca e esta se concretiza, estamos perante uma transação. Em princípio, ambas as partes devem sair de uma transação mais satisfeitas do que estavam antes. É esta razão que justifica a afirmação segundo a qual o processo de troca cria valor. Se este é o caso, é natural que as transações entre as partes se repitam e levem à construção de relações de caráter duradouro (fidelização). Valor é a capacidade que, algo que foi trocado tem para satisfazer as necessidades das partes envolvidas na transação. O valor é percebido por cada uma das partes através dos benefícios proporcionados pela posse do bem ou serviço trocado. Daqui resulta que o conceito de utilidade está, por um lado, diretamente relacionado com o conjunto dos benefícios percebidos e, portanto, com o grau de satisfação sentido pelo adquirente e por outro, com o custo dispendido na transação (relação custo/benefício). Os conceitos centrais de marketing (necessidades, desejos, demandas, produtos, troca, transações e mercados) estão interligados numa relação causal direta. Quando se fala em marketing no terceiro setor, as pessoas, principalmente as ligadas às organizações sociais, questionam sua utilização nas organizações sem fins lucrativos alegando que “uma causa não se vende”. No entanto, esta frase demonstra certa miopia destas pessoas, que, primeiro, enxergam apenas uma pequena parte do marketing, que é a venda, e segundo, porque, no momento que estas pessoas saem à procura de recursos para as suas organizações, elas já estão vendendo a idéia ou causa. Pensando na utilização das ferramentas de marketing, vamos aprofundar um pouco mais, partindo primeiro da definição dada pela associação americana de marketing: “Marketing é o processo de planejar e executar a concepção, preço, comunicação e distribuição de idéias, bens e serviços a fim de criar trocas que satisfaçam indivíduos ou organizações”. Prestando atenção nesta definição, podemos concluir que a ideia central é a troca: marketing não existe sem uma relação de troca. Maximizar as relações de troca é a principal função de marketing. Parece, a princípio, simples, quando partimos de uma relação comercial de compra e venda, onde entregamos bens e recebemos dinheiro. Mas, se analisarmos as relações de troca principalmente no Terceiro Setor ou governo, a coisa complica. Por exemplo: o que é trocado nas relações entre polícia e cidadão? Segurança por imposto. Entre músico e seus ouvintes? Prazer e satisfação por venda de CDs e de ingressos, reconhecimento. Entre uma organização social e seus públicos? Se forem doadores, reconhecimento e satisfação, em troca de doações; se forem clientes: serviços prestados por satisfação e reconhecimento novamente; e se forem voluntários: satisfação e reconhecimento em troca da força de trabalho. Um segundo aspecto é procurar entender e utilizar as ferramentas de marketing para a melhoria da gestão das organizações. As primeiras ferramentas são a segmentação e posicionamento. A segmentação é utilizada na identificação do público cliente da organização. Ao definirmos que queremos atender os portadores de necessidades especiais que moram na zona sul do Recife, estamos segmentando o mercado. Ao estabelecermos a nossa unidade de atendimento e prestação de serviço de apoio psicológico a mulheres que sofrem de violência no Jardim São Paulo, estamos posicionando nossa organização para atender a este público. Uma segunda ferramenta interessante é o mix de marketing ou 4 p’s.: produto, preço, praça (distribuição) e promoção. Precisamos apenas traduzir esta ferramenta para as organizações. Esta ferramenta pode ser utilizada basicamente em dois públicos da organização: clientes e doadores. Para o público cliente: o produto é o serviço que prestamos a ele, o preço é o quanto este serviço custa, a distribuição (ou praça) é o sistema que usamos para que este serviço seja disponível a este cliente e a comunicação (ou promoção) é o meio utilizado para informar este cliente da existência deste serviço. Para o público doador, o produto é a causa na qual o doador precisa acreditar, o preço é o nível de doação possível para este doador, à distribuição é a forma de arrecadar esta doação e, finalmente, a comunicação é o meio utilizado para informar este doador, que nossa causa é importante e que precisamos de recursos para a continuidade do nosso projeto. *Diretor sócio da Proactive Consulting e Consultor do Sebrae.