Treinando o cérebro para lembrar Ler e dormir bem ajudam a preservar a memória Jornal O Globo - 26/08/07 Antônio Marinho Esquecer de pagar uma conta ou não se lembrar onde deixou as chaves são situações normais. O problema é quando esses brancos começam a acontecer com freqüência. E nesse caso o motivo pode ser ansiedade, estresse, depressão, e até mesmo doenças degenerativas, como mal de Alzheimer. Para prevenir as falhas de memória, neurocientistas e neurologistas recomendam manter o cérebro sempre ativo. Ele é como um músculo e tem que estar sempre trabalhando, para não enfraquecer. Levar vida saudável e dormir bem são outras medidas importantes. O sono pode ser um santo remédio para a memória. Na XXII Reunião Anual da Federação de Sociedades de Biologia Experimental (Fesbe), em Águas de Lindóia, o cientista Sidarta Ribeiro, do Instituto Internacional de Neurociências de Natal Edmond e Lily Safra (IINNELS), apresentou um estudo sobre os mecanismos relacionados à propagação de memórias durante o sono. Segundo o pesquisador, a fase REM (sigla em inglês para movimento rápido dos olhos), que se caracteriza por intensa atividade no eletroencefalograma, é essencial para consolidar as memórias, guardadas em vários arquivos no cérebro. Falta de sono compromete Há diferentes memórias, como, por exemplo, a de curto prazo ou imediata, que está associada a atividades diárias; e a semântica, que guarda o conhecimento adquirido. Para essa rede funcionar, o hipocampo é essencial. Sem ele, a transferência de fatos de memória de curto prazo para a de longo prazo, no córtex seria muito prejudicada. Danos nessa área levam à perda da capacidade de lembrar informações novas. Uma dos estudos de Sidarta é sobre as bases moleculares da memória e como ela se instala: — No sono, a memória é mais bem consolidada. Por exemplo, quem vira a noite estudando terá maior dificuldade de aprender algo novo. É a mesma coisa que comer algo e não digerir. Quem sofre de apnéia, problema que afeta a fase REM, pode ter dificuldade de memorizar. A alimentação rica em gordura também é ruim para uma boa noite de sono e, portanto, para a memória — diz. Ivan Izquierdo, do Instituto de Ciências Biomédicas da UFRGS, uma das maiores autoridades no assunto, explica que as memórias se armazenam em muitos lugares do cérebro. Ele acha que o melhor “remédio” para a memória é ler. — A função faz o órgão. Isso é verdade para qualquer doença nervosa e/ou neuromuscular. Daí a importância de se praticar a memória através da leitura. Esse hábito é um exercício simultâneo e intenso de muitas formas de memória, como a visual, a auditiva, a verbal e a de imagens. Nada se compara à varredura, que o cérebro faz quando lê uma letra — diz Izquierdo. O *TTT Av. Vereador José Diniz, 308 São Paulo SP CEP 04604-000 Fone/Fax (11) 5546-0777 / 5546-0700 www.connectclipping.com.br neurocientista acrescenta que nas pessoas que lêem muito a amnésia benigna em idosos passa despercebida ou não ocorre. E o mal de Alzheimer aparece tardiamente, de forma leve e lenta. O neurologista Oscar Bacelar concorda. Ele diz é preciso estimular a memória através da leitura, música, matemática e do estudo de outras línguas. — As ligações entre os neurônios são infinitas. Portanto, não há nada melhor para o cérebro do que estudar. Manter vida social e atividade intelectual após os 60 anos, fazer exercícios físicos regulares e dieta saudável é fundamental — diz Bacelar, diretor do Clube da Memória, um centro de treinamento de habilidades cognitivas, como atenção, memória, funções executivas e linguagem. — A atenção é fundamental na aquisição da informação para posterior consolidação da memória. Declínio natural pode ser menor Depois dos 60 anos, a velocidade de processamento de informações diminui. Adquirir e reter novas informações, lembrar nomes e evitar distrações ao iniciar uma atividade, fica mais difícil. Nessa fase da vida, segundo Bacelar, é comum haver o que ele chama de “síndrome da ponta da língua”, em que a recordação de uma experiência vivida está preservada, mas aspectos como o nome do lugar ou da pessoa envolvida subitamente desaparecem. Esses esquecimentos ocorrem devido a perda gradual do estoque de neurônios, que ocorre com o envelhecimento. No entanto, neurônios normais no cérebro envelhecido são capazes de formar novas conexões numa tentativa de compensar as áreas afetadas. O estudo da memória tem mobilizado neurocientistas. Eles já conhecem melhor os principais mecanismos cerebrais envolvidos nesse sistema, inclusive em nível molecular. E sabem mais sobre formação, processamento, regulação, evocação e persistência das memórias. — Já produzimos modelos de doenças degenerativas, que agora podem ser mais bem analisadas. Há vários medicamentos em fase de desenvolvimento para tratar a amnésia. Dentro de cinco a dez anos haverá mais de um deles. Mas o melhor para prevenir as doenças degenerativas do cérebro é investir em medidas como boa alimentação, prática de exercícios e, principalmente, leitura. Os remédios atuais são apenas paliativos — destaca Izquierdo. Ele explica que inteligência e capacidade de memória são diferentes. A primeira é um conceito psicológico, que pode ou não incluir memória, percepção, rapidez mental e outras habilidades.A memória é uma função fisiológica. — Há pessoas com grande memória e pouca inteligência. Um bom exemplo é o personagem interpretado pelo ator Dustin Hoffman no filme “Rain man”. E existem indivíduos inteligentes que não têm grande memória, mas suprem o problema com bons computadores, consultas e agendas — diz. O que funciona para o cérebro ALIMENTOS: O uso de gingko biloba, vitaminas B e E, dieta do Mediterrâneo, hormônios (estrogênio) e vinho tinto têm sido testado na prevenção de problemas de memória, mas nenhum benefício foi comprovado para justificar qualquer recomendação. MEDICAMENTOS: A droga mais moderna para tratar Alzheimer é a memantina. Diferentemente dos anticolinesterásicos (tacrina, rivastigmina, galantamina e donepezil), drogas *TTT Av. Vereador José Diniz, 308 São Paulo SP CEP 04604-000 Fone/Fax (11) 5546-0777 / 5546-0700 www.connectclipping.com.br que aumentam a disponibilidade do neurotransmissor acetilcolina, favorecendo a comunicação entre os neurônios, a memantina é um modulador do neurotransmissor glutamato, que em excesso causa danos ao cérebro. http://www.experimenteoglobo.com.br/flip/?idEdicao=3155b4731c9d046f464a4a9 1c4bf97f8&idCaderno=&page2go=1&idMateria=4&origem=&ran=sVCnimI0kuUvmn AAQtyfYvqJzhR2VHb5xNGVlzUufJoUannJtg *TTT Av. Vereador José Diniz, 308 São Paulo SP CEP 04604-000 Fone/Fax (11) 5546-0777 / 5546-0700 www.connectclipping.com.br