IMPORTÂNCIA DOS COSTÕES ROCHOSOS NOS ECOSSISTEMAS COSTEIROS Vivian Fernandes de ALMEIDA End: Mogi das Cruzes, SP E-mail: [email protected] RESUMO - Os costões rochosos destacam-se, entre os hábitats entremarés, pela diversidade e ocorrência de várias espécies de plantas e animais com grande relevância ecológica e socioeconômica. A importância destes ambientes motivou buscar e adequar informações bibliográficas, direcionando-as para estudantes do ensino médio, sobre aspectos ecológicos, econômicos, turísticos e educativos relacionados aos costões rochosos. Observa-se que uma das feições mais evidentes nos costões, em maré baixa, são as zonas ou faixas horizontais (zonação) de organismos. Cada zona é separada das adjacentes por diferenças na cor, morfologia dos organismos principais, ou pela combinação de ambas. No seu limite superior, o supralitoral, os fatores abióticos exercem uma grande influência na zonação dos organismos, os quais devem estar adaptados à perda de água e as variações de temperatura. No mesolitoral, macroalgas, cracas, mexilhões e ostras, entre outros, estão sujeitos às flutuações de maré, submersos durante a maré alta, e expostos na maré baixa. O infralitoral apresenta uma maior diversidade de espécies e é maior o papel regulador das interações de predação, herbivoria e competição na determinação da zonação, uma vez que os fatores ambientais são mais estáveis pelo tamponamento proporcionado pela imersão. A facilidade de acesso, o predomínio de organismos de pouca ou nenhuma mobilidade, a diversidade de plantas e animais, permite que os costões tenham muitos usos, nas atividades didáticas, na educação ambiental, no lazer e também pelo extrativismo praticado pelo homem. Palavras-chave: ecossistemas, bentos, praias, fundos consolidados, costões; INTRODUÇÃO Os hábitats costeiros bentônicos estão entre os ambientes marinhos mais produtivos do planeta. Dentre os ecossistemas presentes nas regiões entremarés e hábitats da zona costeira, os costões rochosos são considerados um dos mais importantes, por abrigarem um grande número de espécies de grande importância ecológica e econômica, tais como mexilhões, ostras, crustáceos e peixes (Nybakken, 1997). A grande diversidade de espécies presentes em costões faz com que, nestes ambientes, ocorram fortes interações biológicas como conseqüência da limitação de substrato, ao longo do gradiente existente entre os hábitats terrestre e marinho. No Brasil, pode-se encontrar costões rochosos por quase toda a costa. Seu limite de ocorrência ao Sul se dá em Torres (RS) e ao Norte, na Baía de São Marcos (MA), sendo que a maior concentração deste tipo de ambiente está na região Sudeste, onde a costa é bastante recortada e tem como principal característica a proximidade da Serra do Mar que, em muitos pontos, chega diretamente ao mar (Coutinho, 2002). Uma das feições mais evidentes em qualquer costão rochoso são as proeminentes zonas ou faixas horizontais (zonação) de organismos. Cada zona é separada das adjacentes por diferenças na cor, morfologia dos organismos dominantes, ou alguma combinação de cor e morfologia. Esta zonação apresenta uma distribuição vertical bem definida, sendo que as faixas se dispõem paralelamente à linha d’água, diretamente influenciadas por fatores físicos e biológicos (Nybakken, 1997). Com relação aos fatores físicos, destacam-se a ação de ondas, variações de maré e temperatura influenciando os organismos na capacidade de resistir à dessecação e, também, suportar gradientes de temperatura. Tratando-se dos fatores biológicos, os mais Cadernos de Ecologia Aquática 3 (2) : 19-32, ago – dez 2008 20 V.F.Almeida importantes são competição, predação, herbivoria e o recrutamento de novos indivíduos (Little & Kitching, 2000). Dada à importância deste ambiente, foram obtidas informações baseadas na bibliografia, em uma linguagem acessível para estudantes do ensino médio, sobre aspectos ecológicos, econômicos, turísticos e educativos relacionados ao costão rochoso. Desta forma, pode servir como base para um guia de estudos, acreditando que a partir do conhecimento, pode-se desenvolver um senso de responsabilidade. METODOLOGIA O trabalho foi desenvolvido através de uma pesquisa bibliográfica a partir da literatura, de textos da internet e de material fotográfico, sobre costões rochosos, considerando seus aspectos ecológicos, econômicos, turísticos e educacionais. Foram levantados os aspectos mais relevantes, traduzidos em uma linguagem acessível aos estudantes do ensino médio. Cada aspecto mencionado foi tratado separadamente para facilitar o entendimento. Neste material foram incluídas algumas fotografias de costões rochosos obtidas em trabalhos publicados e outras feitas pela autora para ilustração. 1- CARACTERÍSTICAS GERAIS Costão rochoso é o nome dado ao ambiente costeiro formado por rochas situado na transição entre os meios terrestre e aquático. É considerado muito mais uma extensão do ambiente marinho que do terrestre, uma vez que a maioria dos organismos que o habitam, estão relacionados ao mar (Litlle & Kitching,2000). No Brasil, as rochas são estruturadas de diversas maneiras. É um ambiente extremamente heterogêneo: pode ser formado por paredões verticais bastante uniformes, que se estendem muitos metros acima e abaixo da superfície da água (ex. a Ilha de Trindade) ou por matacões de rocha fragmentada de pequena inclinação (ex. a costa de Ubatuba/SP). Os costões rochosos podem ser encontrados por quase toda a costa brasileira. Seu limite de ocorrência ao Sul se dá em Torres (RS) e ao Norte, na Baía de São Marcos (MA), sendo que a maior concentração deste ambiente está na região Sudeste, onde a costa é bastante recortada (Coutinho, 2002). A partir da observação da fisiografia da costa do Brasil, pode-se estabelecer uma relação entre a ocorrência de costões rochosos e a proximidade das serras em relação ao Oceano Atlântico.Tomando como exemplo o Estado de São Paulo, observa-se que em locais onde a Serra do Mar está próxima ao oceano, ocorre um predomínio de costões rochosos na interface da terra com o mar (ex. Ubatuba). Já em locais onde a Serra do Mar está mais distante da costa, ocorre o predomínio de ambientes de mangue e restinga (ex. Cananéia/SP) (CETESB,1998). Os costões são na maioria das vezes, extensões das serras rochosas que adentram no mar. O costão rochoso pode ser modelado por aspectos físicos, químicos e biológicos. Em relação aos aspectos físicos, a erosão por batimento de ondas, ventos e chuvas é o principal deles, mas num longo prazo a temperatura também possui papel importante na decomposição das rochas, através da expansão e contração dos minerais. Os fatores químicos envolvidos dependem do tipo de rocha que forma o costão, uma vez que minerais reagem quimicamente com a água do mar (ex. ferro), sendo que estas relações são reguladas principalmente pelos fatores climáticos. Além destes, há o desgaste das rochas que pode ser causado por organismos habitantes ou visitantes do costão, como ouriços, esponjas e moluscos (CETESB, 1998). O ecossistema de costão rochoso pode ser muito complexo e, normalmente, quanto maior a complexidade, maior a diversidade de organismos em um determinado ambiente. Para entender tal relação, podem-se tomar como exemplos dois tipos de costões, um costão exposto e um costão protegido. 1.1- COSTÃO EXPOSTO Costões mais expostos (batidos) são aqueles que recebem maior impacto de ondas, são pouco fragmentados, freqüentemente apresentando-se na forma de paredões lisos (Fig. 1). Por isso, muitas vezes apresentam uma diversidade de hábitats muito menor que os costões menos expostos às ondas (Brehaut,1982). Possuem taxa de produtividade primária bastante elevada, Cadernos de Ecologia Aquática 3 (2) : 19-32, ago – dez 2008 Importância dos costões rochosos nos ecossistemas costeiros 21 porque existe um grande fluxo de nutrientes entre as algas, que utilizam esta energia para seu desenvolvimento. Figura 1- Costão Exposto praia formada por rochas vulcânicas (Saco Grande); observa-se a intensidade da movimentação das ondas e seu impacto sobre as rochas (Fonte: foto de Fabiana Carvalhal) As algas de talos ramificados são favorecidas pela movimentação das águas que impede a superposição, que causaria sombreamento dos talos inferiores. Esta movimentação impede ainda o intenso pastoreio pelos herbívoros, possibilitando o desenvolvimento dos vegetais. A desvantagem da elevada hidrodinâmica é que o embate das ondas é um dos principais responsáveis pela mortalidade de organismos mais frágeis nos costões, daí a necessidade de desenvolver estruturas eficientes de proteção e fixação, seletividade que, muitas vezes, resulta em um ambiente com menor diversidade de espécies presentes (Paula & Oliveira, 1983). Muitos dos habitantes apresentam formato hidrodinâmico e tamanho reduzido se comparados aos grupos de organismos dos costões protegidos. 1.2- COSTÃO PROTEGIDO Um costão protegido está localizado em regiões de baixo hidrodinamismo, ou seja, locais onde o batimento de ondas é suave. É bastante fragmentado, dificultando a formação de zonas muito definidas (Fig. 2). Apresenta alto nível de complexidade, resultando numa grande riqueza de espécies associadas (Brehaut,1982). Organismos maiores que os do costão exposto, como algas com talos bem desenvolvidos e com abundante biota epífita, algas, briozoários (Fig. 3), esponjas (Fig.4), vermes, etc, conseguem viver aqui. Se a baixa hidrodinâmica colabora com a fixação e estabelecimento de organismos, principalmente, esporos e propágulos, a desvantagem está no baixo fluxo de nutrientes, que limita principalmente o crescimento dos vegetais (Paula & Oliveira,1983). Figura 2- Costão Protegido sujeito ao baixo hidrodinamismo durante a maior parte do tempo; observa-se a fragmentação das rochas proporcionando maior diversidade de hábitats (Fonte: foto de Fabiana Carvalhal) Cadernos de Ecologia Aquática 3 (2) : 19-32, ago – dez 2008 22 Figura 3Representação do Briozoário Schizoporella unicornis (Fonte: foto de Natália P. Ghilardi; Biota/FAPESP) V.F.Almeida Figura 4- Representação de uma esponja-domar (Fonte: foto de Marly C. Simões) 2 - ZONAÇÃO Os costões rochosos comportam uma rica e complexa comunidade biológica. O substrato duro favorece a fixação de larvas de diversas espécies de invertebrados, sendo comum a ocupação do espaço por faixas densas de espécies fixas, os organismos sésseis (Nybakken, 1997). Nos costões rochosos, a variação das condições ambientais ocorre numa escala espacial menor que nos sistemas terrestres, determinando os limites bem definidos das populações que produzem a zonação das comunidades aí instaladas. Além disso, a grande diversidade de micro-hábitats certamente contribui para a determinação da diversidade biológica. O costão rochoso é um importante substrato de fixação e locomoção para diversos organismos, entretanto, a sua ocupação não ocorre aleatoriamente, ou seja, os organismos se estabelecem ou se locomovem em faixas paralelas à superfície do mar. Estas zonas são formadas a partir das habilidades adaptativas dos organismos relacionados aos fatores abióticos (ambientais), e aos fatores bióticos (diversos níveis de interações biológicas e processos de recrutamento de larvas e propágulos). A esta distribuição dá-se o nome de zonação (Fig. 5). Figura 5- Zonação dos organismos no costão do Parque Estadual da Ilha Anchieta - Ubatuba, SP; (Fonte: foto de Fabiana Carvalhal) Cadernos de Ecologia Aquática 3 (2) : 19-32, ago – dez 2008 Importância dos costões rochosos nos ecossistemas costeiros 23 Os padrões de zonação são estudados desde o século XIX por inúmeros pesquisadores. Stephenson & Stephenson (1949) definiram um padrão de zonação universal baseado principalmente na distribuição dos organismos. Lewis (1964), considerando os níveis de maré e a distribuição dos organismos, incluiu o efeito das ondas na sua classificação. Independentemente da metodologia adotada, definiu-se, de modo geral, três principais zonas de distribuição: supralitoral, mesolitoral e infralitoral. 2.1. NÍVEL SUPRALITORAL É a região superior do costão rochoso, permanentemente exposta ao ar, onde somente chegam borrifos de água do mar (Fig. 6). Esta área está compreendida entre o limite inferior de distribuição da vegetação terrestre, que é representada por liquens ou plantas vasculares (bromeliáceas, cactáceas, entre outras) e o limite superior de ocorrência de cirripédios do gênero Chthamalus (Fig. 7). São característicos neste nível os gastrópodos do gênero Littorina (Fig. 8) e também os isópodos do gênero Ligia (Fig. 9). Nesta faixa, os fatores abióticos como temperatura e radiação solar possuem grande importância na distribuição dos organismos, os quais são muito adaptados à perda de água e à variação da temperatura (Nybakken,1997). Figura 6- Perfil do fundo indicando a zona em que ocorre a influência das marés Fig. 7. População de cracas do gen. Chthamallus (Fonte: foto de Suzana S. Rodrigues - Biota/FAPESP) Fig. 8. Exemplares do gastrópodo. Littorina flava que habita o nível superior da zona entremarés em costões (Fonte: foto de Álvaro Migotto) Cadernos de Ecologia Aquática 3 (2) : 19-32, ago – dez 2008 24 V.F.Almeida Figura 9- Isópodo do gen. Ligia que habita o nível supralitoral em costões rochosos. 2.2. NÍVEL MESOLITORAL É, provavelmente, a região mais conhecida e estudada. Região sujeita às flutuações da maré, submersa durante a maré alta e exposta durante a maré baixa (Fig. 10). Figura 10- Praia de Fernando de Noronha; nesta praia é possível observar a transparência da água, indicando que a penetração de luz na coluna d´água atinge grandes profundidades; (Fonte: foto de Fabiana Carvalhal) O limite superior do mesolitoral é caracterizado, geralmente, pela ocorrência de cirripédios do gênero Chthamalus (cracas) e o inferior pela alga parda Sargassum sp. (Fig. 11). São comuns neste nível os gastrópodes patelliformes “chapéu chinês” dos gêneros Acmaea, Patella, Fissurela. Nos níveis médios do mesolitoral são comuns “cinturas” de cirripédios do gênero Balanus (Fig. 7). Na parte mais baixa do mesolitoral observam-se povoamentos densos de mexilhões dos gêneros Mytillus e Perna (Fig. 12), entre outros. Figura 11- Alga parda Sargassum vulgare que é comum na zona entremarés de costões rochosos (Fonte: foto de Natália P. Ghilardi -Biota/FAPESP) Cadernos de Ecologia Aquática 3 (2) : 19-32, ago – dez 2008 Importância dos costões rochosos nos ecossistemas costeiros a 25 b Figura 12- Exemplares de mexilhões que ocorrem em abundância na zona de entremarés dos costões rochosos; (a) Mytilus (Fonte: foto de Juniors Bildarchiv ) e (b) Perna perna (Fonte: foto obtida de USGS / Florida Integrated Science Center) Em costões sob ação de marés, o limite inferior dessa zona estende-se até um pouco acima da baixamar das marés de sizígia, porém, os limites do mesolitoral, assim como os do supralitoral, são ampliados com o aumento da ação de ondas, levando também a um aumento na biodiversidade (Coutinho, 2002) Os organismos sésseis desta região estão adaptados à esta variação diária e conseqüentemente à todas as mudanças físicas que isto implica. Também pela variação da maré, se restringem a um período reduzido de alimentação e liberação de larvas, eventos dependentes da maré cheia. Já os organismos errantes, podem migrar para regiões inferiores na maré baixa, permanecendo assim, sempre submersos (Nybakken,1997). No mesolitoral podem ocorrer as poças de maré (Fig. 13), depressões onde a água do mar fica represada durante a maré baixa e que apesar de sujeitas a grandes alterações das variáveis ambientais, podem vir a apresentar um aumento da diversidade da flora e fauna que irá apresentar integrantes típicos do infralitoral. Figura 13- Costão rochoso com uma poça de maré, onde a inundação propicia a presença de uma maior variedade de espécies marinhas; Praia de Boracéia, litoral norte de SP (Fonte: foto da autora). As poças de maré parecem a princípio locais ideais para organismos aquáticos, que procuram escapar das adversidades da zona intermareal durante a exposição ao ar. Na realidade, escapar de tais fatores físicos como a dessecação pode significar exposição a outros que operam mais severamente em poças de maré, tais como a temperatura, salinidade e mesmo os teores de oxigênio dissolvido. As poças de maré variam grandemente no seu tamanho e volume de água. Sendo a água um ótimo moderador de condições físicas adversas, as maiores poças com os Cadernos de Ecologia Aquática 3 (2) : 19-32, ago – dez 2008 26 V.F.Almeida maiores volumes de água, possuem menores flutuações dos fatores físicos. Pode até haver zonação dentro das poças de maré em resposta a estes fatores principais (Nybakken, 1997). 2.3. NÍVEL INFRALITORAL Região permanentemente submersa, apresentando seu limite superior caracterizado pela zona de Sargassum sp (Fig. 11) e por mexilhões da família Mytillidae (Fig.12). O limite inferior pode ser determinado pelo encontro das rochas com o substrato arenoso, perpendicular ao costão. Nesta região começam a ter mais importância as relações bióticas (predação, herbivoria, competição) na determinação da distribuição dos organismos, uma vez que os fatores ambientais são mais estáveis (Nybakken,1997). 3. PAPEL DOS FATORES ABIÓTICOS NA ZONAÇÃO As influências físico-químicas são mais seletivas nas regiões superiores dos costões. Apesar do padrão de zonação geral em costões rochosos, cada região possui a sua própria fisiografia, o que nos faz concluir, que cada fragmento de um costão responderá diferentemente a cada fator ambiental. Entre os vários fatores abióticos que atuam sobre os costões rochosos, podem ser considerados mais importantes para a zonação dos organismos os relacionados com a hidrodinâmica (ondas e marés), a irradiância, a temperatura, e a dessecação (Levinton, 2001). 3.1. ONDAS A ação das ondas é percebida como um rigoroso fator de seleção no mesolitoral. A intensidade com que as ondas vão de encontro às rochas passa a ser fundamental para a ocorrência e distribuição das algas e dos animais sésseis, os quais desenvolveram estruturas de fixação e de proteção resistentes ao embate de ondas. Também ocorre a modificação de sua morfologia conforme o aumento da hidrodinâmica reduzindo o arrasto. A ação das ondas pode ainda influenciar na fisiografia dos costões, uma vez que este é responsável por carregar rochas pequenas e médias e, num longo prazo, esculpir as rochas fixas (Levinton, 2001) Dentre as diversas adaptações presentes em organismos de costões rochosos, destacamse aquelas relacionadas ao estresse causado pela ação de ondas. Como conseqüência, a principal dificuldade que os organismos possuem, nesses ambientes, refere-se à fixação. Alguns organismos sésseis possuem estruturas de fixação permanente, como os cimentos nas cracas, ou de fixação temporária, como os bissos nos mexilhões e os apressórios nas macroalgas. Entretanto, os organismos sedentários e os vágeis, não possuem nenhuma estrutura específica de fixação, mas adaptações morfológicas como, por exemplo, conchas mais achatadas nas lepas ou pés mais largos e com grande força de adesão em alguns gastrópodes carnívoros. Outros organismos, como ouriços-do-mar (Fig. 14) e peixes da família Bleniidae e Gobiidae (marias-datoca), refugiam-se em fendas ou reentrâncias para se protegerem de ondas (Coutinho,2002). Figura 14- Ouriço regular Lytechinus variegatus (ouriço-roxo) (Fonte: foto de Marly C. Simões) Cadernos de Ecologia Aquática 3 (2) : 19-32, ago – dez 2008 Importância dos costões rochosos nos ecossistemas costeiros 27 3.2. MARÉS Durante períodos de maré baixa, com a exposição ao ar, os organismos do mesolitoral encontram-se sujeitos a uma maior variação dos fatores físicos (temperatura, insolação, salinidade, concentração de oxigênio, etc.) e muitas vezes encontram-se privados de realizar funções vitais. Por exemplo, animais que se alimentam através da filtração, captando partículas de alimento ou nutrientes disponíveis na água, passam por um longo período de jejum. Outro fator resultante da baixa maré é a dessecação, que pode ser agravada dependendo do grau de insolação, dos ventos e da umidade relativa do ar, resultando no aumento da concentração de sais dentro e fora dos organismos. Por outro lado, em um dia de chuva, a exposição ao ar resultará na diluição dos sais uma vez que os organismos ficam encharcados pela água doce, diminuindo, assim, a salinidade (Levinton, 2001). 3.3. IRRADIÂNCIA Nas zonas mais profundas, a irradiância, pode tornar-se o principal fator limitante (Figs. 6 e 10). A ocorrência de produtores (organismos fotossintetizantes) está diretamente relacionada à penetração de luz pois, acredita-se que a disponibilidade de luz na coluna d'água define a distribuição vertical das plantas marinhas, as quais podem viver em locais que recebam, no mínimo, 1% da irradiância incidente na superfície (zona fótica) (Levinton, 2001). A profundidade de penetração de luz irá depender, principalmente, da turbidez da água, pois a luz é atenuada pelas partículas de sedimento ou microorganismos em suspensão. Em águas bastante claras, principalmente as oceânicas, a penetração máxima de luz ocorre para a banda azul (400-500 nm), sendo este o comprimento de onda encontrado a mais de 100 m de profundidade (Levinton, 2001) Para as águas costeiras, sujeitas ao maior grau de turbidez, o azul e o violeta são rapidamente absorvidos, daí a ocorrência das macroalgas vermelhas nos locais mais profundos. Em regiões de extrema transparência, a zona fótica, pode alcançar até 200 metros de profundidade. Atualmente tem-se descoberto a extrema importância dos raios ultravioleta, os quais parecem influenciar tanto quanto os outros comprimentos de onda (ou até mais) nesta distribuição e no desenvolvimento dos organismos (Levinton, 2001). 3.4. DESSECAÇÃO No período de exposição ao ar, os organismos do mesolitoral encontram-se sujeitos a influência dos fatores físicos ambientais e muitas vezes encontram-se privados de realizar funções vitais. A existência de oscilação de maré na região de costões rochosos promove várias adaptações à perda de água por dessecação, principalmente em organismos que habitam a região superior do costão (Fig. 15). Estas adaptações dizem respeito à forma (fechamento hermético de valvas), textura e cor (produção de conchas não-porosas e mais claras para refletir calor), fisiologia (tolerância a níveis de desidratação de até 90% em algas ou produção de muco em anêmonas), e comportamento (migração vertical dos organismos vágeis em função de maré e refúgio em fendas) de organismos (Coutinho, 2002). As situações acima descritas definem um padrão de seleção muito importante para os organismos que vivem na faixa entremarés dos costões rochosos. Figura 15- Rocha exposta durante a maré baixa na Praia de São Sebastião, SP; anêmona exposta durante o período de maré baixa; (Fonte: foto de Fabiana Carvalhal) Cadernos de Ecologia Aquática 3 (2) : 19-32, ago – dez 2008 28 V.F.Almeida 3.5. TEMPERATURA A temperatura da água influencia no metabolismo dos organismos aquáticos. Para as algas, por exemplo, a fotossíntese e a respiração são eventos dependentes da temperatura da água e ainda, cada espécie de alga possui um limite de síntese de biomassa (crescimento) decorrente desta relação (Fig. 16). Acima das temperaturas “ótimas”, a taxa de fotossíntese cai por causa dos danos causados nos cloroplastos. Para alguns animais a temperatura regula os processos metabólicos relacionados à maturação, reprodução, taxa de crescimento, entre outros, sendo que, pequenas variações na temperatura durante longos períodos podem levar espécies à extinção (Levinton, 2001). Figura 16- Associação de algas numa poça de maré durante a maré baixa no Parque Estadual da Ilha Anchieta, Ubatuba, SP (Fonte: foto de Fabiana Carvalhal) 4. PAPEL DOS FATORES BIÓTICOS NA ZONAÇÃO As relações entre os organismos que vivem ou visitam o costão, se faz mais importante na distribuição destes à partir do mesolitoral, passando a fator determinante do padrão de zonação no infralitoral. Entre as relações que existem entre os organismos de um costão, sem dúvida, a competição e a predação são as mais importantes. As interações simbióticas (do grego sym = juntos, bios=vida) ocorrem entre espécies que apresentam uma relação ecológica próxima (Friedel, 1987). As relações simbióticas são classificadas em três categorias: - o comensalismo ocorre quando uma das espécies é beneficiada na relação e a outra, aparentemente, não é prejudicada e nem se beneficia. Neste caso, encontramos algumas espécies de algas epífitas que se fixam sobre a carapaça de animais,como caranguejos (Fig. 17), cracas (Fig. 7), mas não interferem na atividade da espécie "hospedeira". Figura 17- Caranguejo comum em costões rochosos (Fonte: foto de Marly C. Simões) Cadernos de Ecologia Aquática 3 (2) : 19-32, ago – dez 2008 Importância dos costões rochosos nos ecossistemas costeiros 29 - o mutualismo é um tipo de simbiose em que ambas espécies se beneficiam na relação, mas de forma permanente e indispensável à sobrevivência dos indivíduos associados. No supralitoral um exemplo é o dos líquens, organismos formados pela associação de algas azuis e fungos. As algas, através da fotossíntese, produzem matéria orgânica utilizada pelo fungo que, por sua vez, facilita a absorção de água e nutrientes, que é aproveitado pelas algas. - o parasitismo ocorre quando a relação entre as espécies favorece uma delas e prejudica a outra, pois, a espécie "parasita" vive e se alimenta às custas da espécie "hospedeira". Entretanto, esta relação não deve causar grandes prejuízos, pois, caso o hospedeiro morra, significará a morte do parasita também (Levinton, 2001). 4.1. COMPETIÇÃO A competição é o uso ou disputa de um recurso por mais de um consumidor, num determinado momento, quando este recurso não é disponível para ambos. Quando os indivíduos pertencem à mesma espécie, sua interação é chamada competição intra-específica; quando eles pertencem a espécies diferentes, ela é chamada competição interespecífica. A competição intraespecífica se expressa demograficamente como dependência de densidade e pode levar à regulação do tamanho populacional. A competição interespecífica é expressada como uma redução nas capacidades de suporte das populações em competição e, no extremo, pode levar à exclusão de espécies (Ricklefs, 1996). Ao observar um costão facilmente se percebe que quase não há espaço disponível e muitas vezes há organismos vivendo uns sobre os outros. Em costões rochosos, geralmente, há escassez de espaço para fixação ou locomoção, uma vez que a maioria dos organismos é séssil ou semi-séssil e necessita de espaço para sobreviver e para o assentamento de larvas e propágulos (Levinton, 2001). Dentre as cracas (ordem Cirripedia) que crescem nas rochas no mesolitoral, os indivíduos exigem espaço para crescer, e as larvas exigem espaço para se estabelecerem e chegarem à vida adulta, por isso o amontoamento aumenta a mortalidade adulta e reduz a fecundidade através da limitação do crescimento dos adultos e do abastecimento de larvas (Ricklefs, 1996). Outro recurso que pode tornar-se limitante são os nutrientes, dependendo do seu grau de dinamismo e renovação no ambiente, principalmente para organismos filtradores (ex. bivalvos) e as algas. A radiação solar é um dos principais fatores determinantes para a presença de algas e, neste caso, a competição atua na “disputa” por um local menos sombreado. A regulação da taxa de competição impedindo que a diversidade seja reduzida à uma única espécie favorecida por este mecanismo é atribuída à predação (Levinton, 2001). 4.2. PREDAÇÃO A estabilidade nas interações predador-presa é promovida pela dependência das densidades do predador ou da presa, pelos refúgios ou esconderijos nos quais as presas podem escapar da predação, por uma reduzida eficiência predatória, e, sob certas circunstâncias, pela disponibilidade de presas alternativas. Os ciclos populacionais estáveis na natureza aparentemente expressam o equilíbrio destes fatores de estabilização e a influência desestabilizadora dos retardos de tempo nas respostas populacionais (Ricklefs, 1996). A predação pode amenizar a dominância que a competição poderia originar, afetando fortemente a composição específica de um local. Em muitos casos, a predação previne a monopolização de um habitat por uma espécie competidora potencialmente mais apta. Estas espécies predadoras, que mantém a abundância destas espécies competidoras dominantes sob controle são denominadas espécies-chave (Nybakken, 1997). Podem ser consideradas formas de predação, tanto a herbivoria quando a carnivoria, ou seja, a ingestão de vegetais ou de animais, respectivamente. Os predadores podem ser classificados em diversos “tipos”, pois existem aqueles que consomem apenas parte da presa e os que consomem a presa inteira. Existem ainda algumas “estratégias” de predação, como a preparação de armadilhas ou a busca mais ou menos intensa pela presa (Nybakken, 1997). Da mesma forma que os predadores desenvolveram evolutivamente atitudes comportamentais e estruturas destinadas à predação, presas também desenvolveram mecanismos para evitar a predação. Os organismos que possuem capacidade de locomoção (errantes ou vágeis) procuram permanecer em locais de difícil acesso aos predadores, como Cadernos de Ecologia Aquática 3 (2) : 19-32, ago – dez 2008 30 V.F.Almeida tocas, tubos e frondes de algas. Outra estratégia, mas esta metabólica, é apresentar um rápido crescimento (refúgio pelo tamanho) (Nybakken,1997). Já os organismos sésseis desenvolveram outras formas de evitar a predação como viver em locais de maior estresse nas partes superiores do costão (onde apenas alguns organismos alcançam), hábito críptico (camuflagem), formar grandes bancos (aglomeramento) ou produzir substâncias que os tornem inadequados à ingestão. A predação pode ser considerada o principal evento que envolve não só os organismos habitantes do costão, mas também aqueles que “visitam” este ambiente, esporádica ou freqüentemente, na maioria das vezes para se alimentar (Nybakken, 1997). 5. INFLUÊNCIA ANTRÓPICA NOS COSTÕES ROCHOSOS 5.1. EXTRATIVISMO A pesca e o extrativismo são atividades relacionadas com os costões rochosos. A pesca, porque muitos dos peixes de interesse vivem associados ao costão (ex. garoupa, robalo). O extrativismo é realizado, principalmente, sobre os organismos que vivem fixos no costão (Berchez, 2007). O extrativismo de algas marinhas é realizado a muitos anos nos países asiáticos e em menor escala, também no Brasil. As algas são fontes de sais minerais e proteínas, tendo seu lugar na base da alimentação japonesa. Além do uso direto, as algas possuem substâncias que, ao serem isoladas, podem ser utilizadas em diversos ramos da indústria moderna. Os ficolóides (ágar, carragena e alginato) são utilizados em produtos derivados do leite, shampoos, cosméticos, pastas de dente, gelatina e muitos outros. Em relação à fauna, o extrativismo de ostras e mexilhões é bastante comum no Brasil (Berchez, 2007). Em outros países, inúmeros outros organismos, como, por exemplo, ouriços e moluscos gastrópodes também são de interesse para consumo (CETESB, 1998). 5.2. CULTIVOS Espécies de interesse comercial estão sendo cultivadas em grande escala em diversos países do planeta. O Japão é um dos maiores maricultores, cultivando inúmeras espécies de algas, como a Porphyra sp. (Nori), muito utilizada na culinária oriental. Os sistemas de cultivo de algas são desenvolvidos de acordo com a região a ser utilizada (Belúcio et al, 1989). No Brasil, ainda não existem sistemas de cultivo em larga escala, mas alguns pesquisadores se dedicam ao desenvolvimento de uma técnica adequada às nossas águas, que possuem características bastante diferentes das águas do Pacífico, onde os cultivos já são comuns. O cultivo de animais (camarões e mexilhões, por exemplo) também é bastante comum, mas deve ser realizado com muita cautela, principalmente em relação à introdução de espécies exóticas e ao local de implantação do cultivo (Belúcio et al., 1989). Atualmente, existem no Brasil algumas cooperativas organizadas por antigos extrativistas (caiçaras), que implantaram métodos de cultivo desenvolvidos nas Universidades, como alternativa comercial. Ilha Grande (RJ), Bertioga (SP) e Florianópolis (SC), são alguns exemplos de locais onde estão sendo cultivados mexilhões e ostras com sucesso. O cultivo possibilita a manutenção da comunidade no costão e gera uma fonte de renda para as pessoas que extraem artesanalmente o recurso (Belúcio et al., 1989). 5.3. EDUCAÇÃO AMBIENTAL Entende-se por Educação Ambiental os processos por meio dos quais o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação do meio ambiente, bem de uso comum do povo, essencial à sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade. A educação ambiental é alçada a componente essencial e permanente da educação nacional, impondo que esteja presente em todos os níveis e modalidades do processo educativo, seja em caráter formal ou não formal. Irá prescrever incumbências, não somente ao Poder Público e às instituições educativas, mas também aos meios de comunicação, entidades de classe, instituições públicas e privadas e à sociedade com um todo. Cadernos de Ecologia Aquática 3 (2) : 19-32, ago – dez 2008 Importância dos costões rochosos nos ecossistemas costeiros 31 As relações humanas com o ambiente marinho estendem-se ao campo afetivo e ao universo lúdico, a partir de um contato que não se estabelece pelo uso comercial ou científico. O dizer "conhecer para preservar" sugere a extensão do conhecimento gerado (ou sintetizado) nos núcleos de pesquisa à comunidade e a valorização do conhecimento popular (Berchez, 2007). Atividades de educação ambiental que envolvem o ambiente marinho são muito mais relacionadas aos museus e aquários do que à atividade experiencial no ambiente. Isto se dá pela dificuldade de acesso e necessidade de diversas condições favoráveis à esta prática. Hoje em dia existe disponibilidade de material didático, que serve de apoio ao trabalho do professor em sala de aula, possibilitando relacionar aspectos marinhos a diversas disciplinas escolares. Algumas instituições de visitação, como museus e aquários também possuem um programa de educação ambiental, onde recebem crianças para cursos de férias e monitoram a visita de grupos organizados dentro do estabelecimento. Estas instituições devem, no entanto, criar parâmetros de auto-avaliação (Berchez, 2007). Existem alguns projetos que desenvolvem trabalhos de pesquisa e educação ambiental com animais marinhos mantendo-os em cativeiro por diversos motivos (nascimento, deficiência física, posterior soltura, etc.). Já um local onde existem animais de grande e médio porte aprisionados em tanques que não satisfazem suas necessidades fisiológicas, somente para a visitação, nunca deverão servir como instrumento de educação ambiental. Inicialmente deve-se refletir sobre quais são os objetivos da instituição e quais as formas de atingi-los, pois, mais valem um vídeo, boas informações gráficas e escritas sobre uma espécie migratória, do que mantê-la acondicionada em um aquário sem poder realizar suas funções vitais, o que a levaria à morte (Berchez, 2007). Para a preservação dos organismos bentônicos que habitam costões rochosos é importante a conscientização da população através de programas de educação ambiental e, principalmente, o cumprimento da legislação de proteção aos costões rochosos e seus organismos, por parte dos órgãos governamentais (municipais, estaduais e federais), em consonância com a sociedade, alocando recursos materiais e humanos necessários à efetivação das ações de sua competência (Coutinho, 2002). A educação ambiental está intimamente ligada ao turismo sustentável, que tem como um dos seus objetivos principais a conservação do meio ambiente através da conscientização aliada ao lazer. Os visitantes desenvolvem atividades de preservação e, que ao mesmo tempo, geram recursos à região visitada. 5.4. LAZER O contato com a região costeira também se estabelece através do lazer. A indústria turística é um bom indicador de que cada vez mais as pessoas procuram viajar para regiões litorâneas. Nos costões rochosos percebe-se que, graças à sua característica de alta diversidade de ambientes e de formas vivas, tem-se a possibilidade de praticar uma atividade muito prazerosa: o mergulho. Em locais de boa visibilidade, as pessoas podem maravilhar-se com a variedade de formas e cores apresentadas nos costões. O contato com os animais das rochas, com as algas e peixes que permeiam a costa, deve ser uma das primeiras formas de sensibilização do ser humano para a preservação do ambiente marinho costeiro e oceânico (Berchez, 2007). 5.5. IMPACTO AMBIENTAL O ambiente marinho, desde muito tempo atrás, sofre influência das atividades humanas. Benéficas ou não, elas acabam alterando as características de determinadas regiões. Um tipo de impacto muito comum nos ambientes costeiros marinhos tem sido o derramamento de petróleo. Este óleo, que se espalha pela superfície das águas e deriva à mercê das correntes e ondas, acaba por sufocar milhares de organismos através da impermeabilização da sua superfície corpórea Um exemplo são os animais filtradores (mexilhões) ou as algas, que ficam impossibilitados de realizar a troca gasosa ou de absorver nutrientes. Os desastres por derramamento de petróleo sempre causam grandes impactos. Entretanto, mesmo na ausência de derrames, o óleo existe em abundância nos mares, liberado por embarcações à motor e por indústrias (Berchez, 2007). Em costões rochosos atingidos por petróleo, processos como as ondas e as marés são fatores importantes para a dispersão destes poluentes. Assim como em praias arenosas, o grau de contaminação da zona entremarés está ligado à maré atuante durante o evento (maior exposição em marés de sizígia). Em relação à hidrodinâmica, os costões expostos à ação das ondas são menos sensíveis a derrames já que o óleo é retirado com maior rapidez do ambiente. Cadernos de Ecologia Aquática 3 (2) : 19-32, ago – dez 2008 32 V.F.Almeida Os costões rochosos abrigados da ação das ondas, entretanto, constituem ambientes mais sensíveis aos impactos, já que o tempo de residência do óleo pode ser muito alto (CETESB, 2007). Processos de interações biológicas são importantes no sentido de promover a estrutura da comunidade de costão rochoso. Impactos por óleo sobre certos componentes da comunidade, podem, indiretamente, influenciar outros componentes. A constante emissão de pequena quantidade de óleo ao ambiente marinho (poluição crônica), pode apresentar efeitos a longo prazo nas comunidades biológicas. A incorporação de baixos níveis de óleo pode ocasionar efeitos subletais, caracterizado pela interrupção de processos fisiológicos vitais dos organismos, ou então resultar na diminuição da resistência dos organismos a perturbações naturais (CETESB,2007). Outra forma de poluição bastante intensa é a por esgotos domésticos, que despejados em rios ou diretamente nos mares, podem levar à eutrofização de uma região, ocasionando os "blooms" de algas tóxicas ou contribuir para a diminuição da diversidade biológica. A ocupação humana do nosso litoral estimulada pela indústria do turismo e mal assessorada pelo segmento imobiliário, representa mais uma forma de impacto para o ambiente marinho, principalmente costeiro. Deve-se fazer valer a legislação que proíbe construções em locais determinados como de "alto risco ambiental", além de controlar os sistemas de tratamento de esgoto de casas e condomínios, procurando saber a qualidade do resíduo final que, certamente, será despejado no rio. Caso contrário, não se sabe mais por quanto tempo haverá condições de nos relacionarmos com o ambiente marinho, seja como recurso, seja como lazer. Outras das formas, tão graves quanto as anteriores, são a extração de material para a construção civil (areia, granito) e a introdução de espécies exóticas, que podem desequilibrar uma comunidade sobrepondo-se na competição com as espécies nativas (Berchez, 2007). REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BELÚCIO, L.F; MORGADO, E.H; AMARAL, A.C.Z. 1989. Distribuição da macro fauna bêntica do litoral do Estado de São Paulo – moluscos da enseada de Caraguatatuba – SP. In: Mini-simpósio de Biologia Marinha, São Sebastião, Cebimar – USP. BERCHEZ, F.A. 2007. Projeto Ecossistemas Costeiros, IB-USP - disponível em: <http://www.ib.usp.br/ecossteiros> acesso em 16/10/07. BREHAUT, R.N. 1982. Ecology of rocky shores. The Institute of Biology Studies London : Edward Arnold (Publishers) Ltd., n.139, 58p. CETESB 2007. Ecossistemas Costeiros – Impactos disponível em: <http://www.cetesb.sp.gov.br/emergencia/acidentes/vazamento/impactos/eco_costoes.asp> acesso em 22/10/2007. CETESB 1998. Mapeamento dos ecossistemas costeiros do Estado de São Paulo. São Paulo, Secretaria do Meio Ambiente, 108p. COUTINHO, R. 2002. Bentos de Costões Rochosos. In: PEREIRA, R.C. Biologia Marinha. Rio de Janeiro : Interciências, 382p. FRIEDEL, H. 1987. Dicionário de Ecologia e do Meio Ambiente. LOCAL : Ed. Lello & Irmãos, Ed. Porto, 273p. LEVINTON, J.S. 2001. Marine biology - function, biodiversity and ecology. Oxford : University Press Inc., 420p. LEWIS, J.R. 1964. The ecology of rocky shore. London : English Universities Press, 323p. LITTLE, C. & KITCHING, J.A. 2000. The Biology of Rocky Shores. Oxford : University Press Inc., 240p. NYBAKKEN, J.W. 1997, Marine Biology: an ecological approach, 4. ed., Califórnia : Addison Wesley, Longman, 481p. PAULA, E.J. & OLIVEIRA, E.C. 1983. 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