O que é a Filosofia?

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O que é a Filosofia?
Que é isto – a filosofia? É assim que Heidegger1 inicia uma de suas conferências onde investiga o
que é a filosofia, sua natureza, o conceito e possibilidades de entendimento. Segundo o próprio Heidegger
ao nos fazermos essa pergunta, tocamos e adentramos num tema vasto, indeterminado e aberto. E por ser
indeterminado, podemos responder a essa questão sob os mais diferenciados pontos de vista, ou, das mais
variadas perspectivas fornecidas pela própria filosofia e suas correntes de pensamento. E é claro que ao
fazermos isso, não estamos respondendo a pergunta na sua totalidade (o próprio conceito de filosofia é
nesse caso um problema filosófico), mas efetivamente, vamos atingir uma possibilidade de entendê-la e
de conceituá-la.
Assim, ao pensarmos a filosofia, em vista de sua complexidade e vastidão, como acima nos aponta
Heidegger, estamos pensando uma das mais profundas e grandiosas criações do espírito humano. Própria
da natureza humana e da condição humana, a filosofia nasceu da busca por interpretar o mundo e a
realidade que nos cerca e que estamos vivendo. Ávido de saber, o homem nunca se demonstrou satisfeito
em aceitar de maneira passiva o mundo e a realidade que o cerca, ou de aceitar as explicações mais
cômodas que a simples experiência e observação lhe permitem.
Foi e é característica do homem - diante da infinitude de possibilidades de interpretar o mundo e a
realidade – admirar-se com o mundo a sua frente. Espantar-se com o real que se abria sempre mais
complexo diante dos olhos. Foi sempre característica do homem, buscar um sentido e explicação para as
causas últimas do mundo2, do real e da sua própria existência. Assim, a filosofia caracteriza-se por esse
esforço, essa possibilidade interpretativa diante do mundo. Por ser dessa natureza ela própria é objeto de
questionamento sobre seu sentido último, ou seja, o próprio entendimento do que viria a ser filosofia é
também um problema filosófico.
Então, se ela é complexa, ampla, busca causas últimas, ela própria é objeto de questionamento:
Como definir a filosofia? Voltamos a questão inicial: o que viria a ser então filosofia? Em sentido
etimológico e também como uma definição tradicional, a filosofia é o amor ao saber, ou, a amizade pelo
saber. O filósofo pode ser (é) definido como amigo da sabedoria (filos: amigo, amante; sofos: sabedoria).
E, se o filósofo é amigo da sabedoria, cabe aqui considerar que amigo é quem deseja o bem do outro,
mesmo que para isso seja necessário dizer-lhe o quanto esta equivocado em determinados aspectos.
Portanto, a amizade é uma relação que permite, pressupõem que o outro possa ter liberdade de
pensamento, de questionamento, de reflexão.
Bom, obviamente (também o filósofo é aquele que mais do qualquer um questiona o óbvio)
podemos nos colocar outra questão que derivaria de um entendimento reduzido dessa afirmação: se o
homem sempre foi impulsionado a se questionar sobre a natureza do mundo e de sua própria existência, e
se tomarmos por base a noção de que cada uma “tem sua filosofia de vida”, então a filosofia nada mais
seria do que o modo como cada um vê o mundo? Então, todo o que ama o saber e todo o que pensa é
naturalmente um filósofo, com sua própria noção de filosofia?
Nesse caso não. O homem comum, ligado ao mundo da prática e da cotidianidade, formula suas
interrogações, busca respostas também como fazem os filósofos por excelência, mas o empreende de
maneira descontínua, sem método e de forma desordenada O filósofo, pelo contrário, dedica suas
pesquisas, energias, tempo e vida as grandes questões que busca compreender. Desnudam o real e suas
possibilidades nas mais profundas instâncias de análise e com uma reflexão rigorosa, criteriosa e
sistemática.
Em última instância a filosofia fundamenta todas as outras formas de conhecimento, na medida em
que questiona as condições de possibilidade do conhecimento humano, se o que afirmamos ser real é
racional e sendo racional tenha correspondência com o real. Ou, dito de outra forma, a filosofia questiona,
investiga, se nossas capacidades de conhecimento são inatas, ou, empíricas, ou ainda a soma destas duas
possibilidades e suas conseqüências na forma de ser e estar do homem no mundo. E se diz respeito a
nossa forma de ser e estar no mundo, a filosofia é um esforço reflexivo ontológico, político, ético e
1
Martin Heidegger (1889-1976). Pensador alemão, considerado por muitos filósofos, o maior pensador do século XX. É
autor de vasta e complexa obra filosófica, autor da célebre obra (entre tantas outras) intitulada “Ser e Tempo”.
2
Essa é a clássica definição trazido por Aristóteles de Estagira (384 a.C. a 322 a.C.). Para o discípulo de Platão, a filosofia
era a arte de buscar e compreender as causas últimas do mundo.
estético em torno de uma natureza humana e de uma condição humana na busca do bem viver, da
felicidade.
Professor Sandro Luiz Bazzanella - Formado em Filosofia – doutorando em Ciências Humanas UFSC Vice-Coordenador do Curso de Ciências Sociais da UnC-Canoinhas - e-mail: [email protected]
Professor André Bazzanella, Mestre em Educação e Cultura (UDESC), docente da FURB – Blumenau e
Diretor Geral INSTITUTO VERITAS. E-mail: [email protected].
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