ALFABETIZAÇAO DO EDUCANDO CEGO: UM ESTUDO DE CASO KRIK,Lucicléia – UNICENTRO [email protected] ZYCH, Anizia Costa - UNICENTRO [email protected] Eixo Temático: Diversidade e inclusão Agência Financiadora: Não contou com financiamento Resumo O processo de educação para crianças cegas ocorre da mesma maneira como para a criança vidente. Suas principais diferenças estão na forma de percepção que possuem em relação às letras e números. A criança vidente pode ter contato com o mundo das letras através de fatores visuais enquanto que o aluno cego “vê”ou percebe as letras através do tato como no uso do sistema Braille. Os objetivos são os mesmos no entanto, os caminhos utilizados são diferentes. Diante deste contexto o presente artigo tem como objetivo discutir o processo de alfabetização do educando cego, suas especificidades e as metodologias utilizadas para a obtenção de melhores resultados. Foi abordado através do estudo de caso e utilizou questionários e observações como fonte de coleta de dados. Ao final pode-se perceber que o processo de alfabetização exige maior dedicação do educador pois, as práticas de alfabetização dependem de recursos pedagógicos diferentes. Cabe ao professor compreender as necessidades dos alunos e identificar as melhores práticas para sua alfabetização. Palavras-chave: Cegueira. Alfabetização. Inclusão 1. Introdução Os indivíduos que possuem qualquer deficiência trazem consigo um histórico de exclusão, preconceito perante a sociedade constituindo um grave problema social. Os indivíduos cegos, durante muito tempo foram esquecidos da sociedade por sua característica peculiar: não enxergar. No Brasil, somente a partir de iniciativas privadas de grupos e instituições preocupadas com o desenvolvimento social e principalmente após a Lei 9394/96, que houve uma preocupação com a escola para as pessoas com necessidade de educação especial e começou o movimento da 3545 inclusão com o intuito de oferecer melhores oportunidades para crianças até então consideradas diferentes. As escolas de ensino regular, atualmente devem receber os alunos cegos e favorecer sua acessibilidade. Observa-se que as mesmas têm se estruturado quanto aos aspectos arquitetônico Dessa maneira, vem ocorrendo um avanço no processo de inclusão destes alunos. No entanto, somente reestruturação física não garante inclusão. Além disso, a equipe pedagógica, enfim, desde o porteiro ao gestor precisam estar preparados e ser conscientizados do atendimento e suporte que devem ser oferecidos aos alunos cegos. Percebemos a necessidade de obter informações para subsidiar a formação de professores para atuar no sistema regular de ensino, proporcionando uma educação eficiente e, que favoreça este alunado em suas especificidades. Pois, muitas vezes quando um professor recebe um aluno com necessidade especial, fica sem saber quais são as ações corretas e como deve proceder no processo de alfabetização do mesmo. Não raro, alguns acabam estendendo o conceito de uma deficiência para todos os outros sentidos. Por exemplo, assimilam que o deficiente visual não é apenas cego, mas não aprende porque é deficiente em todos os sentidos. No entanto outros incorrem em erro contrário pensando equivocadamente que por não ter visão, a inteligência desses alunos é bem mais apurada. Bem sabemos que o processo de educação assim como a inteligência dos seres humanos não são determinados por uma característica apenas. A maneira que se conduz o processo de ensino- aprendizagem concretiza os resultados para o crescimento do aluno. O papel do educador é proporcionar atividades variadas, reconhecimentos de relevos, palavras ou símbolos que possam expressar a situação buscando que o aluno tome consciência de seus outros sentidos, tornando o aprendizado prazeroso e adaptando a possibilidade de comunicação, compreensão e ação da criança. O cego também tem seu espaço na sociedade. Na sociedade, a criança está frequentemente em contato com o mundo letrado. revistas, outdoors, rótulos, placas etc. Desse modo ela conhece e desperta a curiosidade para a leitura, e dessa maneira acontece à alfabetização com maior facilidade, ela acaba tendo noção da escrita através desta leitura cotidiana. O cego de uma forma acaba sendo prejudicado neste aspecto, principalmente se for um educando qual apresente a cegueira congênita que caracteriza desde o seu nascer, devido alguma anomalia. 3546 A criança que tem a deficiência congênita apresenta mais dificuldade em razão de não ter memória visual. Talvez o desenvolvimento dela possa ser um pouco mais lento, pois as mesmas precisam fazer uso de meios específicos para relacionar com os outros e objetos que a cercam. Neste sentido a pesquisa buscou identificar fatores que pudessem subsidiar o planejamento de ações interativas, referente à inclusão efetiva dos alunos cegos em escola comum, ou seja, como o professor deve proceder no processo de educação do aluno cego mesmo estando em uma classe que possui outros alunos que possuem visão. Este trabalho constitui-se numa oportunidade para um melhor entendimento do processo da alfabetização e as necessidades de uma educação com qualidade para o cego. Sabemos que eles têm condições igualitárias de aprendizagem e podem ser alfabetizados na mesma idade e série que as crianças videntes. Para que isso aconteça é preciso que professores e sociedade em geral preocupem- se em buscar formas adequadas de interação para que possam compreender os mesmos enquanto cidadãos e dessa maneira invistam em estudos e recursos para este propósito. 2. Metodologia O objetivo da pesquisa foi analisar o processo de alfabetização para compreender as necessidades do educando cego. A revisão bibliográfica foi realizado mediante leitura sistemática, com fichamento de cada obra, ressaltando os pontos abordados pelos autores sobre o processo de alfabetização de alunos cegos. A pesquisa buscou identificar as especificidades no processo de inclusão de alunos cegos e sua interação na sala de aula. Foi desenvolvida através de um estudo de caso que segundo Lüdke e André (1986) refere-se a uma investigação profunda de uma pessoa, grupo, instituição ou outra unidade social. O caso estudado refere-se a uma aluna cega que freqüenta uma classe regular de 2ª série do ensino fundamental em uma escola pública do município de Prudentópolis. Classifica-se como qualitativa esta pesquisa, pois segundo Trivinos (1987), é um avanço para entender melhor a realidade, e fazer com que tenha propósito de alternativas para mudanças. Mas, para isso é necessário compreender e analisar a realidade. Os instrumentos utilizados para a coleta de dados foram questionários e observações . Os questionários aplicados aos professores que trabalharam com a aluna. Buscou-se portanto, 3547 compreender as dificuldades apontadas pelos mesmos quanto à prática da docência, a percepção do mesmo em relação ao comportamento do alfabetizando cego e do comportamento dos colegas de turma. O questionário aplicado a três professores sendo dois professores do ensino regular que trabalharam ou trabalham com a aluna e uma professora de um programa de educação complementar, período contrário de aula Centro de atendimento educacional do deficiente visual (CAEDV) O questionário contém onze questões. Os professores participantes, sujeitos da presente pesquisa serão caracterizados como P1, P2 e P3 As observações para a coleta de dados foram desenvolvidas na sala de aula com a intenção de compreender o processo de interação do alfabetizando estudado com os colegas de turma. Segundo Marconi e Lakatos (2007) a observação foi individual e é sistemática ou informal uma vez que não contará com meios técnicos especiais para registro das informações. Ainda seguindo os conceitos de Marconi e Lakatos (2007) as observações foram divididas em dois momentos: o primeiro em que o pesquisador fez apenas observações da turma e o seu comportamento para com o sujeito da pesquisa, sendo classificada como não-participante e; o segundo momento em que o pesquisador auxiliou o educador no processo de alfabetização da aluna cega com a intenção de aproximar-se do mesmo e perceber suas particularidades. Utilizouse conversas informais como forma complementar de coleta de dados de observações. A análise foi de abordagem fenomenológica. Com base do autor Trivinos (1987) a fenomenologia é o estudo das essências, uma filosofia que se preocupa em interpretar a subjetividade. Questões inerentes detalhadas de um determinado problema. 3. Referencial teórico O desenvolvimento da criança cega é afetado pela ausência de um dos sentidos. Garcia et al (2001) afirmam que a criança vidente incorpora hábitos de leitura e escrita desde muito cedo. No entanto a criança cega tem um atraso a entrar no universo do ler e escrever, uma vez que o Sistema Braille não faz parte do cotidiano como um objeto estabelecido socialmente. Pois somente os cegos se utilizam deste meio de alfabetização. 3548 Percebemos que as crianças cegas só têm contato com a leitura e escrita a partir do período escolar. Dessa maneira pode ocorrer o atraso no processo de alfabetização. Ainda, Garcia et al (2001, p.28 e 29) destacam que: [...] deve ficar claro, no caso a educação de crianças cegas, independentemente da concepção pedagógica ou linha metodológica adotada pela escola, não se pode negligenciar o desenvolvimento integral, a utilização de técnicas específicas fundamentais ao êxito e eficácia do processo de aprendizagem da leitura-escrita pelo sistema braille. É preciso proporcionar o aluno cego oportunidades de se tornar participativo e autônomo. A partir do momento que ele se vê capaz de interagir, ajudar os outros ou entender que tem possibilidades acreditará em si próprio. Contudo, como refere Nunes e Lomônaco (2008) na vida cotidiana acredita-se que a visão é o sentido mais importante e mais usado. E uma vez que o cego é um indivíduo privado deste sentido supomos que ele terá algumas restrições em sua vida. Sabemos que outros sentidos são de grandes importância ao cego. A falta de visão impõe caminhos diferenciados para obtenção de conhecimentos. No que diz respeito a educação do aluno cego, as baixas expectativas quanto ao seu desenvolvimento no desempenho escolar podem causar desestímulo e dessa forma pode ocorrer evasão escolar. Segundo Nunes e Lomônaco (2008 p. 120) importante referir que A audição, por meio da linguagem, é um sentido fundamental para o cego, pois muito do que ele não vê pode ser entendido pela linguagem. Para tal, ele precisa que pessoas videntes descrevam o que é visual. Entretanto, como os videntes estão menos acostumados a perceber o mundo pelos outros sentidos, isto exige do cego constantes "ajustes" daquilo que ele conhece por meio de suas percepções e daquilo que ele conhece pela fala dos que o rodeiam. Vale ressaltar, que os colegas não serão muleta, mas podem ser contribuintes e assistentes, e dessa maneira, ocorrerá uma conexão efetiva dentro da sala de aula de vidente com cego. A criança com deficiência visual deve ser compreendida como um ser integral, com a compreensão de que dispõe de outros meios que não sendo o visual para interagir se com o 3549 contexto. Portanto, possui uma maneira de perceber e se relacionar com os demais que lhe são próprias. Quando uma criança vidente se encontra diante de uma folha de papel ao ter rabiscado a mesma conseqüentemente, precisa adquirir uma significação para este rabisco. Com a criança cega o mesmo acontece quando entra em contato com o conjunto de pontos que formam os caracteres do sistema Braille1 necessita de um valor simbólico. A idéia de símbolo é complexa. Câmara (1970 p. 350) afirma que: “símbolo em sentido lato, é aquilo que substitui convencionalmente qualquer coisa para funcionar em seu lugar, ao contexto do sinal que carreia em si a idéia de substituição.” Para o alfabetizador a noção de símbolo é um dos pontos fundamentais. Quando vê uma criança brincando com uma tampa de panela fazendo de conta que esta dirigindo, representa um fato simbólico. 3. Alfabetização Os alunos cegos precisam desde pequenos ter ambientes ricos em estimulação. Garcia et al (2001, p. 52) apresenta algumas habilidades que crianças cegas teriam que estar desenvolvendo: • • • Perceber, reconhecer, identificar, discriminar e localizar a gama variada de sons existentes; Reconhecer, por meio de jogos; palavras começadas e terminadas pelo mesmo som; Discriminar a identidade de sons em palavras que contenham rimas; De forma prática Garcia et al (2001) ainda reforçam que a forma como o professor precisa desenvolver a estimulação da criança cega durante as aulas deve atender os seguintes aspectos: • Explorar o maior volume possível de objetos • Identificação de tais objetos • Classificação quanto a forma, tamanho, textura; Estabelecer diferenças entre: 1 BRAILLE significa sistema de comunicação de símbolos baseado em diagrama de seis pontos em relevo utilizado o método usado para a leitura e escrita do cego. 3550 • Semelhança, diferença equivalência • Largura ( largo- estreito) • Posição (em cima – embaixo- entre linhas vertical/ horizontal; • Textura ( áspero/liso) • Distância longe/perto • Comprimento( longo- médio- curto) • Noção de conteúdo (cheio/ vazio) Compreendendo a organização da página escrita: • Leitura da esquerda para a direita, deslizando a ponta dos dedos sobre a linha; • Linhas dispostas no papel de cima para baixo • Linhas com começo e fim; • Linhas completas • Linhas com espaços vazios • Linhas de tamanhos variados, pontilhados, • Oferecer um modelo e pedir que a criança identifique na linha traçada ou pontilhada. Trabalhar os movimentos corretos das mãos no ato da leitura; • Conduzir a criança a estar com o dedo em permanente movimento; • Ler por meio de movimentos, contínuos, portanto as pausas minímas; • Ler letra por letra • Evitar movimentos desnecessários; de cima para baixo, de baixo para cima, regressivos; • Alertar a criança para que tenha o cuidado de perceber todas asa unidades contidas na linha, de modo a procurar-se para o processo da alfabetização, lendo as palavras. A leitura tátil se faz letra por letra e a palavra só é percebida quando termina. Trata-se, portanto de fazer com que essas atividades incluam e discriminam a seqüência, ritmos, identificações e sirvam de apoio para a leitura e escrita. Tais processos levam a criança cega um reconhecimento simples e uma interpretação melhor no ambiente escolar. A leitura, sendo um processo necessário no campo educacional o professor precisa escolher um método de aprendizado. Pode ser o sintético ou analítico. 3551 Conforme Borges (2004, p. 29), “o aprendizado ocorre da parte para o todo, isto é trabalha – se a letra, a sílaba e a palavra até chegar ao texto, enquanto que no segundo o aluno aprende, primeiro uma série de palavras, depois parte para a associação entre o som e as partes das palavras”. Já o método sintético fonético que é considerado o mais fácil e rápido para o processo de alfabetização para cego. Borges (2004, p 29 ) ressalta que o método sintético subdivide em: a) b) c) alfabético: ao aluno aprende as letras isoladamente, liga as consoantes às vogais, formando sílabas, reúne as sílabas para formar as palavras e chega ao todo (texto); fonético ou fônico: o aluno parte do som das letras, unindo o som da consoante ao da vogal, pronunciando a sílaba formada; silábico: o aluno parte das sílabas para formar palavras. O método analítico subdivide-se em: a) palavração: nesse método o ponto de partida é a palavra. Os vocábulos são apresentados em seqüência e as dificuldades são sistematizadas. Somente depois de apresentados um determinado número de palavras, é que são formadas as frases. b) Setenciação: esse método inicia-se pela frase, depois a divide em palavras, em seguidas são separadas as sílabas. c) Conto e histórias (global): esse método é composto por várias unidades de leituras que apresentam começo meio e fim. Em cada unidade, as frases são ligadas pelo sentido de formar um enredo, havendo uma preocupação quanto ao conteúdo que deverá ser do interesse da criança. Sabemos que o sucesso da alfabetização compete-se a criatividade e os métodos utilizados pela professora. Ela precisa enriquecer e atrair o aluno de forma que a alfabetização se torne prazeroso. Desde muito cedo a criança cega se depara com sérios obstáculos nas etapas evolutivas do seu desenvolvimento. Para que uma pessoa realize um movimento com estabilidade e proporção será necessário que haja uma orientação apropriada para o relacionamento com o espaço de sua ação. Somente quando isto for alcançado, a mobilidade poderá acontecer de forma segura e eficiente. Conclui-se que, no movimento de uma pessoa através do espaço, a orientação vem em primeiro lugar e a mobilidade em seguida. GARCIA, et al (2001,p. 61) 3552 Não havendo um trabalho de estimulação dos demais sentidos e, um adequado programa de orientação à motricidade dirigida às dificuldades trazidas pela cegueira, ela certamente sofrerá perdas no armazenamento de conhecimentos e na aquisição de novas habilidades. Por esta razão tais dificuldades deverão ser trabalhadas o mais rápido possível. Infelizmente a grande maioria das crianças cegas só toma contato com a escrita e com a leitura, no período que ingressa à escola. Sabe-se que esse impedimento pode trazer sérios prejuízos e atrasos no processo da alfabetização. 4. Análise de dados A análise dos dados procurou identificar as dificuldades percebidas pelos educadores no processo de aprendizado do educando cego. Foram investigados o processo de aprendizado da leitura e escrita, metodologia utilizada, recursos didáticos e o sistema Braille. Além disso foi também analisado a influência da inserção social no processo educacional. Constatou-se através dos questionários aplicados aos professores que realmente há dificuldade na aprendizagem da leitura e escrita pelo aluno cego. Os professores questionam o desafio de educar um aluno diferente dos demais, sem terem o preparo necessário. As aulas precisam ser preparadas de maneira diferenciada e o processo de aprendizado é mais lento, pois a criança precisa ainda aprender a fixar cada letra. Uma das professoras entrevistada percebeu grande diferença entre o processo de leitura e escrita de um aluno vidente do processo de leitura e escrita do aluno cego. Mas temos na teoria que o processo de aprendizado é o mesmo, o que muda são os recursos didáticos e a forma de escrever e ler as letras representadas, Para o aluno vidente é realizado através de imagens e para o aluno cego é representada em relevo com formatos diferentes. Fernandes (1999, p.5) salienta que “um dos princípios fundamentais das escolas inclusivas é de que todos os alunos possam aprender juntos, devendo se adaptar aos diferentes estilos de aprendizagem, necessitando então de currículos adequados estratégias pedagógicas de cooperação entre comunidades”. A partir destas constatações e das observações realizadas pode-se perceber que os educadores tratam o processo de alfabetização do aluno cego com uma abordagem totalmente diferente da abordagem do aluno vidente. Esta diferenciação não se restringe aos meios 3553 empregados para este processo como o uso do método Braille ao invés da escrita convencional, mas estende-se a forma de estruturação da sequencia de conteúdos trabalhados com este aluno. A metodologia utilizada inclui os questionários, onde foi possível comprovar que a P1 destaca que o “amor” à profissão leva a querer aprender e a enfrentar os desafios. Portanto, não teve elementos necessários para responder a tal pergunta de nível cientifico pautado na tendência pedagógica existente. A mesma respondeu o questionamento de maneira vazia de conhecimento e provido no âmbito do senso comum. Constata-se a importância da formação, pois, analisando a resposta verifica a dificuldade para caracterizar tendência que utiliza para alfabetizar a criança cega. Pois só o amor não alfabetiza. Isso não quer dizer que a afetividade não seja importante no processo da alfabetização, porém somente isso não basta para que a criança aprenda. P2 e P3 comentam que o material para trabalhar precisa ser concreto, em auto-relevo, músicas, histórias. Percebe-se a necessidade de utilização de estímulos diferenciados o que gera maior atividade extra classe para os professores para a preparação de aulas. O quadro de giz se torna objeto dispensável para a educação deste aluno exigindo do professor melhor preparação para trabalhar com outros instrumentos pedagógicos no processo de alfabetização. Questionando os professores sobre o processo de inserção de alunos deficientes na sociedade, foram expressadas concepções que bem denotam a estigmatização social dos cegos. O processo é visto como dificultoso, pois o cego, segundo as entrevistadas, carrega consigo o medo do preconceito que a sociedade possa praticar contra ele. P1 acredita que é preciso trabalhar melhor a integração social na sala de aula para quando a aluna estiver fora deste ambiente possa superar com maior facilidade os obstáculos referente a preconceito e integração. A criança cega, segundo P2 é mais sensível e a aprendizagem e conceitos precisar ser minuciosas. Este conceito pode ser explicado pela dependência maior deste aluno para locomoção por exemplo, fato este constatado nas observações. Nos intervalos ou mesmo para ir a escola a aluna é assistida por uma funcionária da escola. A entrevistada. P3 afirma que “a teoria é muito linda, mas na prática pouca coisa acontece, poderia estar melhor”.Esta afirmação retrata o despreparo do educador diante de uma situação em que o mesmo deveria ser o transformador da situação e não apenas o crítico daquilo que não fora feito anteriormente. As entrevistadas, em consonância com a teoria afirmam que antes de trabalhar com o sistema Braille se faz necessário preparar a percepção tátil do aluno. A assimilação acontece 3554 igualmente as demais crianças. De acordo com o desenvolvimento social, afetivo, mental. Neste sentido, os entrevistados reconhecem que o processo de aprendizado é similar ao de um aluno vidente, no entanto com a utilização de caminhos distintos. No entanto, diante da soma das dificuldades este aprendizado acaba sendo comprometido em razão da necessidade do educador de dividir a atenção com as demais crianças da classe. Ainda as entrevistadas contam que muitas crianças cegas entram para a educação infantil sem ter requentado o CAEDV dificultando os trabalho dos educadores do ensino regular. Com a freqüência neste programa específico para o deficiente visual os alunos teriam melhores condições para assimilar o aprendizado pois a percepção tátil por exemplo já teria sido desenvolvida. Quanto às profissões, neste município os alunos que trabalham são adultos que participam do CAEDV são massagistas. Não foram relatadas outras profissões O preparo das aulas é como do ensino regular tem como única diferença que a atividades são feitas trabalhando-se com objetos concretos. Observa-se como principal dificuldade a falta de material adaptado para os alunos deficientes visuais, compromisso que acaba sendo atribuído à professora para identificar as formas de fazer esta articulação. O planejamento do ensino feito é específico para este aluno, partindo dos seus conhecimentos e de seu desenvolvimento são elaboradas e planejadas cada aula. Para preparar uma aula boa exige tempo, interesse, curiosidade, habilidade e muita paciência, ou seja, pode-se perceber que os professores que trabalham com o aluno deficiente visual tem mais atividades extra classe. As entrevistadas comentam ainda sobre a carência de material de apoio para cego o que se caracteriza como um problema mais de planejamento e estrutura do que pedagógico ou somente de responsabilidade do professor. O aluno vidente recebe livro didático e o aluno cego tem maior carência de material de apoio. Analisando as respostas e confrontando com as observações realizadas pode-se concluir que há interesse dos professores pela educação de qualidade dos alunos cegos no entanto, as dificuldades em relação a material de apoio e principalmente em relação ao treinamento destes profissionais para esta nova realidade uma vez que é recente o processo de inclusão destes alunos no ensino regular geram maiores dificuldades na evolução adequada do processo de alfabetização destes alunos. 3555 5. Conclusão O educando cego se percebe inserido no contexto, através dos contatos com o ambiente e os vínculos pessoais que estabelece na escola. È preciso criar ambiente que o aluno se sinta a vontade na sala, para que possa questionar, comentar, movimentar-se e tatear. Algumas ações como a explicação verbal dos conteúdos e a proximidade do aluno cego daqueles colegas com quem mais se identificam, além disso, o uso de métodos específicos na operacionalização dos trabalhos sem prejuízos no seu desenvolvimento. A introdução de conteúdos e critérios de atividades acrescentando elementos a ação educativa contribui com a criança cega, pois ela conhecerá o mundo através do tato, da audição, do olfato, do paladar, sendo assim, estes órgãos são mais desenvolvidos, pois recorrem a esses sentidos com mais freqüência para decodificar as informações. A falta da visão dificulta na orientação espacial, razão pela qual é fundamental que se considere a importância da sonoridade para situá-la no contexto. Portanto, ela precisa ser estimulada por meio de objetos específicos, que contemplem movimento, ação, brinquedos móveis, bengala raquete, materiais que possam conduzir numa organização sobre o espaço. Ao serem efetuadas na organização dos espaços, é preciso informar a pessoa cega levando a identificar o novo contexto para que possa transitar com segurança. È imprescindível que seja trabalhado a estimulação, a utilização do toque para poder conhecer o mundo por meio da manipulação de objetos, brinquedos variados para identificar texturas, formas, tamanho, espessuras e conseqüentemente o desenvolvimento do tato, necessário a leitura braille. E acima de tudo a criança deve estar em contato com outras crianças, com adultos, com professores, pois a colaboração com toda esta equipe, principalmente do vidente trará informações importantes para que ela consiga se familiarizar no contexto social. Cada criança é única, a maneira como vai trabalhar com cada uma é que se difere. Apesar da limitações visuais é preciso lembrar que o aluno cego compreenderá o que o professor disser. A deficiência é só visual, o potencial cognitivo deve ser valorizado. 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