alfabetizaçao do educando cego: um estudo de caso

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ALFABETIZAÇAO DO EDUCANDO CEGO: UM ESTUDO DE CASO
KRIK,Lucicléia – UNICENTRO
[email protected]
ZYCH, Anizia Costa - UNICENTRO
[email protected]
Eixo Temático: Diversidade e inclusão
Agência Financiadora: Não contou com financiamento
Resumo
O processo de educação para crianças cegas ocorre da mesma maneira como para a criança
vidente. Suas principais diferenças estão na forma de percepção que possuem em relação às letras
e números. A criança vidente pode ter contato com o mundo das letras através de fatores visuais
enquanto que o aluno cego “vê”ou percebe as letras através do tato como no uso do sistema
Braille. Os objetivos são os mesmos no entanto, os caminhos utilizados são diferentes. Diante
deste contexto o presente artigo tem como objetivo discutir o processo de alfabetização do
educando cego, suas especificidades e as metodologias utilizadas para a obtenção de melhores
resultados. Foi abordado através do estudo de caso e utilizou questionários e observações como
fonte de coleta de dados. Ao final pode-se perceber que o processo de alfabetização exige maior
dedicação do educador pois, as práticas de alfabetização dependem de recursos pedagógicos
diferentes. Cabe ao professor compreender as necessidades dos alunos e identificar as melhores
práticas para sua alfabetização.
Palavras-chave: Cegueira. Alfabetização. Inclusão
1. Introdução
Os indivíduos que possuem qualquer deficiência trazem consigo um histórico de exclusão,
preconceito perante a sociedade constituindo um grave problema social. Os indivíduos cegos,
durante muito tempo foram esquecidos da sociedade por sua característica peculiar: não enxergar.
No Brasil, somente a partir de iniciativas privadas de grupos e instituições preocupadas com o
desenvolvimento social e principalmente após a Lei 9394/96, que houve uma preocupação com a
escola para as pessoas com necessidade de educação especial e começou o movimento da
3545
inclusão com o intuito de oferecer melhores oportunidades para crianças até então consideradas
diferentes.
As escolas de ensino regular, atualmente devem receber os alunos cegos e favorecer sua
acessibilidade. Observa-se que as mesmas têm se estruturado quanto aos aspectos arquitetônico
Dessa maneira, vem ocorrendo um avanço no processo de inclusão destes alunos. No entanto,
somente reestruturação física não garante inclusão. Além disso, a equipe pedagógica, enfim,
desde o porteiro ao gestor precisam estar preparados e ser conscientizados do atendimento e
suporte que devem ser oferecidos aos alunos cegos.
Percebemos a necessidade de obter informações para subsidiar a formação de professores
para atuar no sistema regular de ensino, proporcionando uma educação eficiente e, que favoreça
este alunado em suas especificidades. Pois, muitas vezes quando um professor recebe um aluno
com necessidade especial, fica sem saber quais são as ações corretas e como deve proceder no
processo de alfabetização do mesmo. Não raro, alguns acabam estendendo o conceito de uma
deficiência para todos os outros sentidos. Por exemplo, assimilam que o deficiente visual não é
apenas cego, mas não aprende porque é deficiente em todos os sentidos. No entanto outros
incorrem em erro contrário pensando equivocadamente que por não ter visão, a inteligência
desses alunos é bem mais apurada. Bem sabemos que o processo de educação assim como a
inteligência dos seres humanos não são determinados por uma característica apenas.
A maneira que se conduz o processo de ensino- aprendizagem concretiza os resultados
para o crescimento do aluno. O papel do educador é proporcionar atividades variadas,
reconhecimentos de relevos, palavras ou símbolos que possam expressar a situação buscando que
o aluno tome consciência de seus outros sentidos, tornando o aprendizado prazeroso e adaptando
a possibilidade de comunicação, compreensão e ação da criança. O cego também tem seu espaço
na sociedade.
Na sociedade, a criança está frequentemente em contato com o mundo letrado. revistas,
outdoors, rótulos, placas etc. Desse modo ela conhece e desperta a curiosidade para a leitura, e
dessa maneira acontece à alfabetização com maior facilidade, ela acaba tendo noção da escrita
através desta leitura cotidiana. O cego de uma forma acaba sendo prejudicado neste aspecto,
principalmente se for um educando qual apresente a cegueira congênita que caracteriza desde o
seu nascer, devido alguma anomalia.
3546
A criança que tem a deficiência congênita apresenta mais dificuldade em razão de não ter
memória visual. Talvez o desenvolvimento dela possa ser um pouco mais lento, pois as mesmas
precisam fazer uso de meios específicos para relacionar com os outros e objetos que a cercam.
Neste sentido a pesquisa buscou identificar fatores que pudessem subsidiar o
planejamento de ações interativas, referente à inclusão efetiva dos alunos cegos em escola
comum, ou seja, como o professor deve proceder no processo de educação do aluno cego mesmo
estando em uma classe que possui outros alunos que possuem visão.
Este trabalho constitui-se numa oportunidade para um melhor entendimento do processo
da alfabetização e as necessidades de uma educação com qualidade para o cego. Sabemos que
eles têm condições igualitárias de aprendizagem e podem ser alfabetizados na mesma idade e
série que as crianças videntes. Para que isso aconteça é preciso que professores e sociedade em
geral preocupem- se em buscar formas adequadas de interação para que possam compreender os
mesmos enquanto cidadãos e dessa maneira invistam em estudos e recursos para este propósito.
2. Metodologia
O objetivo da pesquisa foi analisar o processo de alfabetização para compreender as
necessidades do educando cego. A revisão bibliográfica foi realizado mediante leitura
sistemática, com fichamento de cada obra, ressaltando os pontos abordados pelos autores sobre o
processo de alfabetização de alunos cegos.
A pesquisa buscou identificar as especificidades no processo de inclusão de alunos cegos
e sua interação na sala de aula. Foi desenvolvida através de um estudo de caso que segundo
Lüdke e André (1986) refere-se a uma investigação profunda de uma pessoa, grupo, instituição
ou outra unidade social. O caso estudado refere-se a uma aluna cega que freqüenta uma classe
regular de 2ª série do ensino fundamental em uma escola pública do município de Prudentópolis.
Classifica-se como qualitativa esta pesquisa, pois segundo Trivinos (1987), é um avanço
para entender melhor a realidade, e fazer com que tenha propósito de alternativas para mudanças.
Mas, para isso é necessário compreender e analisar a realidade.
Os instrumentos utilizados para a coleta de dados foram questionários e observações . Os
questionários aplicados aos professores que trabalharam com a aluna. Buscou-se portanto,
3547
compreender as dificuldades apontadas pelos mesmos quanto à prática da docência, a percepção
do mesmo em relação ao comportamento do alfabetizando cego e do comportamento dos colegas
de turma. O questionário aplicado a três professores sendo dois professores do ensino regular que
trabalharam ou trabalham com a aluna e uma professora de um programa de educação
complementar, período contrário de aula Centro de atendimento educacional do deficiente visual
(CAEDV) O questionário contém onze questões. Os professores participantes, sujeitos da
presente pesquisa serão caracterizados como P1, P2 e P3
As observações para a coleta de dados foram desenvolvidas na sala de aula com a
intenção de compreender o processo de interação do alfabetizando estudado com os colegas de
turma. Segundo Marconi e Lakatos (2007) a observação foi individual e é sistemática ou informal
uma vez que não contará com meios técnicos especiais para registro das informações. Ainda
seguindo os conceitos de Marconi e Lakatos (2007) as observações foram divididas em dois
momentos: o primeiro em que o pesquisador fez apenas observações da turma e o seu
comportamento para com o sujeito da pesquisa, sendo classificada como não-participante e; o
segundo momento em que o pesquisador auxiliou o educador no processo de alfabetização da
aluna cega com a intenção de aproximar-se do mesmo e perceber suas particularidades. Utilizouse conversas informais como forma complementar de coleta de dados de observações.
A análise foi de abordagem fenomenológica. Com base do autor Trivinos (1987) a
fenomenologia é o estudo das essências, uma filosofia que se preocupa em interpretar a
subjetividade. Questões inerentes detalhadas de um determinado problema.
3. Referencial teórico
O desenvolvimento da criança cega é afetado pela ausência de um dos sentidos. Garcia et
al (2001) afirmam que a criança vidente incorpora hábitos de leitura e escrita desde muito cedo.
No entanto a criança cega tem um atraso a entrar no universo do ler e escrever, uma vez que o
Sistema Braille não faz parte do cotidiano como um objeto estabelecido socialmente. Pois
somente os cegos se utilizam deste meio de alfabetização.
3548
Percebemos que as crianças cegas só têm contato com a leitura e escrita a partir do
período escolar. Dessa maneira pode ocorrer o atraso no processo de alfabetização. Ainda, Garcia
et al (2001, p.28 e 29) destacam que:
[...] deve ficar claro, no caso a educação de crianças cegas, independentemente da
concepção pedagógica ou linha metodológica adotada pela escola, não se pode
negligenciar o desenvolvimento integral, a utilização de técnicas específicas
fundamentais ao êxito e eficácia do processo de aprendizagem da leitura-escrita pelo
sistema braille.
É preciso proporcionar o aluno cego oportunidades de se tornar participativo e autônomo.
A partir do momento que ele se vê capaz de interagir, ajudar os outros ou entender que tem
possibilidades acreditará em si próprio. Contudo, como refere Nunes e Lomônaco (2008) na vida
cotidiana acredita-se que a visão é o sentido mais importante e mais usado. E uma vez que o cego
é um indivíduo privado deste sentido supomos que ele terá algumas restrições em sua vida.
Sabemos que outros sentidos são de grandes importância ao cego. A falta de visão impõe
caminhos diferenciados para obtenção de conhecimentos. No que diz respeito a educação do
aluno cego, as baixas expectativas quanto ao seu desenvolvimento no desempenho escolar podem
causar desestímulo e dessa forma pode ocorrer evasão escolar.
Segundo Nunes e Lomônaco (2008 p. 120) importante referir que
A audição, por meio da linguagem, é um sentido fundamental para o cego, pois muito
do que ele não vê pode ser entendido pela linguagem. Para tal, ele precisa que pessoas
videntes descrevam o que é visual. Entretanto, como os videntes estão menos
acostumados a perceber o mundo pelos outros sentidos, isto exige do cego constantes
"ajustes" daquilo que ele conhece por meio de suas percepções e daquilo que ele
conhece pela fala dos que o rodeiam.
Vale ressaltar, que os colegas não serão muleta, mas podem ser contribuintes e assistentes,
e dessa maneira, ocorrerá uma conexão efetiva dentro da sala de aula de vidente com cego.
A criança com deficiência visual deve ser compreendida como um ser integral, com a
compreensão de que dispõe de outros meios que não sendo o visual para interagir se com o
3549
contexto. Portanto, possui uma maneira de perceber e se relacionar com os demais que lhe são
próprias.
Quando uma criança vidente se encontra diante de uma folha de papel ao ter rabiscado a
mesma conseqüentemente, precisa adquirir uma significação para este rabisco. Com a criança
cega o mesmo acontece quando entra em contato com o conjunto de pontos que formam os
caracteres do sistema Braille1 necessita de um valor simbólico.
A idéia de símbolo é complexa. Câmara (1970 p. 350) afirma que: “símbolo em sentido
lato, é aquilo que substitui convencionalmente qualquer coisa para funcionar em seu lugar, ao
contexto do sinal que carreia em si a idéia de substituição.” Para o alfabetizador a noção de
símbolo é um dos pontos fundamentais. Quando vê uma criança brincando com uma tampa de
panela fazendo de conta que esta dirigindo, representa um fato simbólico.
3. Alfabetização
Os alunos cegos precisam desde pequenos ter ambientes ricos em estimulação. Garcia et
al (2001, p. 52) apresenta algumas habilidades que crianças cegas teriam que estar
desenvolvendo:
•
•
•
Perceber, reconhecer, identificar, discriminar e localizar a gama variada de sons
existentes;
Reconhecer, por meio de jogos; palavras começadas e terminadas pelo mesmo som;
Discriminar a identidade de sons em palavras que contenham rimas;
De forma prática Garcia et al (2001) ainda reforçam que a forma como o professor precisa
desenvolver a estimulação da criança cega durante as aulas deve atender os seguintes aspectos:
•
Explorar o maior volume possível de objetos
•
Identificação de tais objetos
•
Classificação quanto a forma, tamanho, textura;
Estabelecer diferenças entre:
1
BRAILLE significa sistema de comunicação de símbolos baseado em diagrama de seis pontos em relevo
utilizado o método usado para a leitura e escrita do cego.
3550
•
Semelhança, diferença equivalência
•
Largura ( largo- estreito)
•
Posição (em cima – embaixo- entre linhas vertical/ horizontal;
•
Textura ( áspero/liso)
•
Distância longe/perto
•
Comprimento( longo- médio- curto)
•
Noção de conteúdo (cheio/ vazio)
Compreendendo a organização da página escrita:
•
Leitura da esquerda para a direita, deslizando a ponta dos dedos sobre a linha;
•
Linhas dispostas no papel de cima para baixo
•
Linhas com começo e fim;
•
Linhas completas
•
Linhas com espaços vazios
•
Linhas de tamanhos variados, pontilhados,
•
Oferecer um modelo e pedir que a criança identifique na linha traçada ou pontilhada.
Trabalhar os movimentos corretos das mãos no ato da leitura;
•
Conduzir a criança a estar com o dedo em permanente movimento;
•
Ler por meio de movimentos, contínuos, portanto as pausas minímas;
•
Ler letra por letra
•
Evitar movimentos desnecessários; de cima para baixo, de baixo para cima, regressivos;
•
Alertar a criança para que tenha o cuidado de perceber todas asa unidades contidas na
linha, de modo a procurar-se para o processo da alfabetização, lendo as palavras. A leitura
tátil se faz letra por letra e a palavra só é percebida quando termina.
Trata-se, portanto de fazer com que essas atividades incluam e discriminam a seqüência,
ritmos, identificações e sirvam de apoio para a leitura e escrita. Tais processos levam a criança
cega um reconhecimento simples e uma interpretação melhor no ambiente escolar. A leitura,
sendo um processo necessário no campo educacional o professor precisa escolher um método de
aprendizado. Pode ser o sintético ou analítico.
3551
Conforme Borges (2004, p. 29), “o aprendizado ocorre da parte para o todo, isto é
trabalha – se a letra, a sílaba e a palavra até chegar ao texto, enquanto que no segundo o aluno
aprende, primeiro uma série de palavras, depois parte para a associação entre o som e as partes
das palavras”. Já o método sintético fonético que é considerado o mais fácil e rápido para o
processo de alfabetização para cego.
Borges (2004, p 29 ) ressalta que o método sintético subdivide em:
a)
b)
c)
alfabético: ao aluno aprende as letras isoladamente, liga as consoantes às
vogais, formando sílabas, reúne as sílabas para formar as palavras e chega
ao todo (texto);
fonético ou fônico: o aluno parte do som das letras, unindo o som da
consoante ao da vogal, pronunciando a sílaba formada;
silábico: o aluno parte das sílabas para formar palavras.
O método analítico subdivide-se em:
a)
palavração: nesse método o ponto de partida é a palavra. Os vocábulos são
apresentados em seqüência e as dificuldades são sistematizadas. Somente depois
de apresentados um determinado número de palavras, é que são formadas as
frases.
b) Setenciação: esse método inicia-se pela frase, depois a divide em palavras, em
seguidas são separadas as sílabas.
c) Conto e histórias (global): esse método é composto por várias unidades de
leituras que apresentam começo meio e fim. Em cada unidade, as frases são
ligadas pelo sentido de formar um enredo, havendo uma preocupação quanto ao
conteúdo que deverá ser do interesse da criança.
Sabemos que o sucesso da alfabetização compete-se a criatividade e os métodos utilizados
pela professora. Ela precisa enriquecer e atrair o aluno de forma que a alfabetização se torne
prazeroso.
Desde muito cedo a criança cega se depara com sérios obstáculos nas etapas evolutivas do
seu desenvolvimento.
Para que uma pessoa realize um movimento com estabilidade e proporção será
necessário que haja uma orientação apropriada para o relacionamento com o espaço de
sua ação. Somente quando isto for alcançado, a mobilidade poderá acontecer de forma
segura e eficiente. Conclui-se que, no movimento de uma pessoa através do espaço, a
orientação vem em primeiro lugar e a mobilidade em seguida. GARCIA, et al (2001,p.
61)
3552
Não havendo um trabalho de estimulação dos demais sentidos e, um adequado programa
de orientação à motricidade dirigida às dificuldades trazidas pela cegueira, ela certamente sofrerá
perdas no armazenamento de conhecimentos e na aquisição de novas habilidades. Por esta razão
tais dificuldades deverão ser trabalhadas o mais rápido possível. Infelizmente a grande maioria
das crianças cegas só toma contato com a escrita e com a leitura, no período que ingressa à
escola. Sabe-se que esse impedimento pode trazer sérios prejuízos e atrasos no processo da
alfabetização.
4. Análise de dados
A análise dos dados procurou identificar as dificuldades percebidas pelos educadores no
processo de aprendizado do educando cego. Foram investigados o processo de aprendizado da
leitura e escrita, metodologia utilizada, recursos didáticos e o sistema Braille. Além disso foi
também analisado a influência da inserção social no processo educacional. Constatou-se através
dos questionários aplicados aos professores que realmente há dificuldade na aprendizagem da
leitura e escrita pelo aluno cego. Os professores questionam o desafio de educar um aluno
diferente dos demais, sem terem o preparo necessário. As aulas precisam ser preparadas de
maneira diferenciada e o processo de aprendizado é mais lento, pois a criança precisa ainda
aprender a fixar cada letra. Uma das professoras entrevistada percebeu grande diferença entre o
processo de leitura e escrita de um aluno vidente do processo de leitura e escrita do aluno cego.
Mas temos na teoria que o processo de aprendizado é o mesmo, o que muda são os recursos
didáticos e a forma de escrever e ler as letras representadas, Para o aluno vidente é realizado
através de imagens e para o aluno cego é representada em relevo com formatos diferentes.
Fernandes (1999, p.5) salienta que “um dos princípios fundamentais das escolas
inclusivas é de que todos os alunos possam aprender juntos, devendo se adaptar aos diferentes
estilos de aprendizagem, necessitando então de currículos adequados estratégias pedagógicas de
cooperação entre comunidades”.
A partir destas constatações e das observações realizadas pode-se perceber que os
educadores tratam o processo de alfabetização do aluno cego com uma abordagem totalmente
diferente da abordagem do aluno vidente. Esta diferenciação não se restringe aos meios
3553
empregados para este processo como o uso do método Braille ao invés da escrita convencional,
mas estende-se a forma de estruturação da sequencia de conteúdos trabalhados com este aluno.
A metodologia utilizada inclui os questionários, onde foi possível comprovar que a P1
destaca que o “amor” à profissão leva a querer aprender e a enfrentar os desafios. Portanto, não
teve elementos necessários para responder a tal pergunta de nível cientifico pautado na tendência
pedagógica existente. A mesma respondeu o questionamento de maneira vazia de conhecimento e
provido no âmbito do senso comum. Constata-se a importância da formação, pois, analisando a
resposta verifica a dificuldade para caracterizar tendência que utiliza para alfabetizar a criança
cega. Pois só o amor não alfabetiza. Isso não quer dizer que a afetividade não seja importante no
processo da alfabetização, porém somente isso não basta para que a criança aprenda.
P2 e P3 comentam que o material para trabalhar precisa ser concreto, em auto-relevo,
músicas, histórias. Percebe-se a necessidade de utilização de estímulos diferenciados o que gera
maior atividade extra classe para os professores para a preparação de aulas. O quadro de giz se
torna objeto dispensável para a educação deste aluno exigindo do professor melhor preparação
para trabalhar com outros instrumentos pedagógicos no processo de alfabetização.
Questionando os professores sobre o processo de inserção de alunos deficientes na
sociedade, foram expressadas concepções que bem denotam a estigmatização social dos cegos. O
processo é visto como dificultoso, pois o cego, segundo as entrevistadas, carrega consigo o medo
do preconceito que a sociedade possa praticar contra ele. P1 acredita que é preciso trabalhar
melhor a integração social na sala de aula para quando a aluna estiver fora deste ambiente possa
superar com maior facilidade os obstáculos referente a preconceito e integração. A criança cega,
segundo P2 é mais sensível e a aprendizagem e conceitos precisar ser minuciosas. Este conceito
pode ser explicado pela dependência maior deste aluno para locomoção por exemplo, fato este
constatado nas observações. Nos intervalos ou mesmo para ir a escola a aluna é assistida por uma
funcionária da escola. A entrevistada. P3 afirma que “a teoria é muito linda, mas na prática pouca
coisa acontece, poderia estar melhor”.Esta afirmação retrata o despreparo do educador diante de
uma situação em que o mesmo deveria ser o transformador da situação e não apenas o crítico
daquilo que não fora feito anteriormente.
As entrevistadas, em consonância com a teoria afirmam que antes de trabalhar com o
sistema Braille se faz necessário preparar a percepção tátil do aluno. A assimilação acontece
3554
igualmente as demais crianças. De acordo com o desenvolvimento social, afetivo, mental. Neste
sentido, os entrevistados reconhecem que o processo de aprendizado é similar ao de um aluno
vidente, no entanto com a utilização de caminhos distintos. No entanto, diante da soma das
dificuldades este aprendizado acaba sendo comprometido em razão da necessidade do educador
de dividir a atenção com as demais crianças da classe.
Ainda as entrevistadas contam que muitas crianças cegas entram para a educação infantil
sem ter requentado o CAEDV dificultando os trabalho dos educadores do ensino regular. Com a
freqüência neste programa específico para o deficiente visual os alunos teriam melhores
condições para assimilar o aprendizado pois a percepção tátil por exemplo já teria sido
desenvolvida. Quanto às profissões, neste município os alunos que trabalham são adultos que
participam do CAEDV são massagistas. Não foram relatadas outras profissões
O preparo das aulas é como do ensino regular tem como única diferença que a atividades
são feitas trabalhando-se com objetos concretos. Observa-se como principal dificuldade a falta de
material adaptado para os alunos deficientes visuais, compromisso que acaba sendo atribuído à
professora para identificar as formas de fazer esta articulação. O planejamento do ensino feito é
específico para este aluno, partindo dos seus conhecimentos e de seu desenvolvimento são
elaboradas e planejadas cada aula. Para preparar uma aula boa exige tempo, interesse,
curiosidade, habilidade e muita paciência, ou seja, pode-se perceber que os professores que
trabalham com o aluno deficiente visual tem mais atividades extra classe. As entrevistadas
comentam ainda sobre a carência de material de apoio para cego o que se caracteriza como um
problema mais de planejamento e estrutura do que pedagógico ou somente de responsabilidade
do professor. O aluno vidente recebe livro didático e o aluno cego tem maior carência de material
de apoio.
Analisando as respostas e confrontando com as observações realizadas pode-se concluir
que há interesse dos professores pela educação de qualidade dos alunos cegos no entanto, as
dificuldades em relação a material de apoio e principalmente em relação ao treinamento destes
profissionais para esta nova realidade uma vez que é recente o processo de inclusão destes alunos
no ensino regular geram maiores dificuldades na evolução adequada do processo de alfabetização
destes alunos.
3555
5. Conclusão
O educando cego se percebe inserido no contexto, através dos contatos com o ambiente e
os vínculos pessoais que estabelece na escola. È preciso criar ambiente que o aluno se sinta a
vontade na sala, para que possa questionar, comentar, movimentar-se e tatear. Algumas ações
como a explicação verbal dos conteúdos e a proximidade do aluno cego daqueles colegas com
quem mais se identificam, além disso, o uso de métodos específicos na operacionalização dos
trabalhos sem prejuízos no seu desenvolvimento.
A introdução de conteúdos e critérios de atividades acrescentando elementos a ação
educativa contribui com a criança cega, pois ela conhecerá o mundo através do tato, da audição,
do olfato, do paladar, sendo assim, estes órgãos são mais desenvolvidos, pois recorrem a esses
sentidos com mais freqüência para decodificar as informações.
A falta da visão dificulta na orientação espacial, razão pela qual é fundamental que se
considere a importância da sonoridade para situá-la no contexto. Portanto, ela precisa ser
estimulada por meio de objetos específicos, que contemplem movimento, ação, brinquedos
móveis, bengala raquete, materiais que possam conduzir numa organização sobre o espaço.
Ao serem efetuadas na organização dos espaços, é preciso informar a pessoa cega levando
a identificar o novo contexto para que possa transitar com segurança. È imprescindível que seja
trabalhado a estimulação, a utilização do toque para poder conhecer o mundo por meio da
manipulação de objetos, brinquedos variados para identificar texturas, formas, tamanho,
espessuras e conseqüentemente o desenvolvimento do tato, necessário a leitura braille. E acima
de tudo a criança deve estar em contato com outras crianças, com adultos, com professores, pois a
colaboração com toda esta equipe, principalmente do vidente trará informações importantes para
que ela consiga se familiarizar no contexto social.
Cada criança é única, a maneira como vai trabalhar com cada uma é que se difere. Apesar
da limitações visuais é preciso lembrar que o aluno cego compreenderá o que o professor disser.
A deficiência é só visual, o potencial cognitivo deve ser valorizado.
REFERÊNCIA
3556
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