www.conhecer.org.br CURSO: USO DE ANIMAIS NA EDUCAÇÃO INFANTIL Carga Horária: 40 h. Equipe responsável: Prof. Estevão Keglevich e Profª Ivonete Parreira Proibido o uso deste material sem autorização expressa do Centro Cientifico Conhecer MÓDULO 1 CAPÍTULO 1 A DOMESTICAÇÃO DOS ANIMAIS Os primeiros indícios da domesticação dos lobos e conseqüente surgimento dos cães, no centro e sul da Espanha, foram encontradas em cavernas, pinturas retratando homens acompanhados de cães em cenas de caça, produção artística que pertence à denominada arte do Levante espanhol (figura 1). Outros indícios importantíssimos, que também possibilitaram a aproximação de datas, através da técnica de análise do carbono 14, são sepulturas da mesma época – datando de doze mil anos atrás -- encontradas em Israel, onde, em uma delas, foram enterrados juntos um homem idoso em decúbito lateral com os membros fletidos, com sua mão sobre o tórax de um cão filhote (figura 2); e na outra, um humano com dois cães adultos. Ainda em Israel, encontraram-se diversos crânios de cachorros e, no Iraque, uma pequena mandíbula, todos do mesmo período que as sepulturas. O achado mais antigo porém, encontrado em um sítio arqueológico glacial na Alemanha, é também uma mandíbula de cão, de quatorze mil anos (SERPELL, 1995). www.conhecer.org.br FIGURA 1 www.conhecer.org.br FIGURA 2 Estes achados fósseis suscitam uma questão muito importante, qual seja a transformação da espécie Canis lupus em Canis domesticus.. A sobrevivência humana dependia quase que exclusivamente da caça, cujas técnicas começaram a ser aperfeiçoadas no início do período mesolítico. Ao invés do arremesso de pedras pesadas, o homem passou a utilizar flechas com pedras afiadas nas pontas (microlitos). Como já dito anteriormente, o Homo sapiens e o Canis lupus tinham uma convivência muito próxima, e apesar de www.conhecer.org.br serem competidores entre si, possuíam um objetivo em comum: caçar, sobreviver. A parceria com os cães aumentou significativamente a eficiência da caça, pois seu faro e audição mais desenvolvidos que o do homem ajudavam a encontrar as presas, e os animais machucados pelas flechas eram seguidos, abatidos e trazidos por eles (figura 4). Os cães também vigiavam o território, devido à sua percepção mais aguçada e um forte e instintivo senso de territorialidade. No período neolítico, eles passaram a ser usados no pastoreio, e foram diversificando cada vez mais suas funções em nossa sociedade. A domesticação dos gatos, a partir do gato do mato, um felino de porte pequeno denominado Felis silvestris, é mais recente, datando de aproximadamente seis mil anos, no antigo Egito. Teve também um componente afetivo e outro utilitário: livravam os depósitos de alimentos, principalmente grãos, dos roedores (SOARES, 1985). De acordo com outros pesquisadores, é mais prudente afirmar que a domesticação dos felinos ocorreu há três mil anos, já que o indício que possuímos – um desenho de um gato com coleira – não nos permite afirmar se era um animal selvagem mantido em cativeiro, ou um gato já domesticado. Os egípcios tinham como costume capturar animais como babuínos, hienas, leões, mangustos e até crocodilos, e mantê-los em suas casas, na tentativa de domesticá-los. A difusão dos gatos domésticos a partir do Egito, se deu através dos mercadores fenícios e de suas viagens marítimas. Os felinos logo substituíram os mangustos, doninhas ou cobras, que os humanos levavam para suas casas para caçarem os roedores, pois eram muito mais eficazes que estes animais nesta tarefa. Chegaram à Grécia em 500 A.C., de onde foram levados à Itália e norte da Europa, e na India em 200 A.C., de onde se espalharam pelo extremo oriente e China. A dependência do homem em relação aos gatos como predadores de ratos, chegou a tal ponto que não se admitia um navio que não levasse um felino a bordo, e se ele porventura caísse no mar, era sinal de mau presságio para a viagem. À medida que os gatos domésticos proliferaram pelo mundo, outras subespécies de gatos selvagens contribuíram provavelmente para sua herança genética (HOFMANN, 1997). www.conhecer.org.br Na civilização egípcia, os gatos eram animais sagrados. Somente aos sacerdotes era permitido matá-los, em rituais de oferenda à deusa Bastet, que era representada como uma mulher com cabeça de gata. Em alguns locais da Ásia, principalmente na India, os cães de rua são intocáveis, respeitados como parte de um tabu religioso. Acredita-se que este fato se deve a uma lenda hindu, escrita no livro sagrado Mahabharata. Durante uma longa jornada pelas montanhas, em direção ao céu, na qual morrera sua rainha e seus quatro irmãos, Yudhisthira, já exausto, estava acompanhado apenas por um cão, que o seguira desde o início da caminhada. De repente, em um facho luminoso aparece Indira, o rei dos céus, convidando-o a finalizar sua jornada em uma carruagem celeste. Ele não poderia levar o cachorro, pois a presença de um animal sujo seria uma ofensa ao céu. Prontamente recusou-se a deixar para trás quem lhe foi tão leal, devotado e amável. Aconteceu então a grande revelação e Yudhisthira passou em seu teste final ao renunciar o paraíso pelo amor a um cão, o qual transformou-se repentinamente em Dharma, o deus da justiça. O devoto foi então carregado ao paraíso aclamado por uma multidão radiante (SERPELL, 1995). CAPÍTULO 2 A IMPORTANCIA DOS ANIMAIS Em um grande trabalho de revisão, (Hart,1990) divide os benefícios dos pets em relação às crianças e idosos. Relata que desde os seis meses de idade, os bebês respondem mais intensamente aos pets que aos brinquedos, rindo, abraçando-os, seguindo-os e verbalizando. Crianças maiores consideram seus pets e os da vizinhança como amigos especiais, tendo conversas íntimas com eles, e sendo extremamente atentas a suas características próprias e detalhes. Os pets fornecem a oportunidade de criar, alimentar, cuidar, desenvolver comportamento altruísta e ajudam no desenvolvimento tátil e cinestésico, e na formação da tolerância e controle do self, através de uma relação especular. Enfim, promovem a afirmação social da criança, funcionando como objeto www.conhecer.org.br transicional. Adolescentes que possuem pets são mais efetivos em interpretar expressões faciais de adultos em fotografias. Diversos benefícios que as crianças obtém com os pets, os quais proporcionam uma preparação para a paternidade, estimulam a responsabilidade, promovem estímulo sensorial e cinestésico, e despertam a consciência da sexualidade, da doença e da morte. Atualmente, as crianças vivem muito mais situações de estresse do que antigamente, e que os pets podem então suprir necessidades que os pais, profissionais de saúde e educação não conseguem. Novamente MESSENT (1982), em seu resumo sobre o simpósio internacional, afirma que as crianças sofrem muito pela perda de seus animais, muito em função dos pais não darem a devida importância ao fato. Relata ainda que 60% dos sonhos infantis na faixa dos quatro anos de idade inclui um animal em alguma parte. Na idade de quinze anos, o índice cai para 9%. Em ordem decrescente, os animais que mais aparecem nos sonhos são os cães, cavalos, pássaros e gatos. Salienta também que crianças delinqüentes tendem a se vincular mais aos pets que crianças normais, sugerindo que estes teriam um papel de substituto das relações humanas. Em relação aos idosos, igualmente há uma série de benefícios (HART, 1990). A simples presença de um pássaro, comparado à presença de uma planta ou com nenhum animal ou objeto, aumenta as atitudes interativas com a equipe de saúde e familiares, e conseqüentemente os níveis de saúde física e mental. Os índices de depressão e mortalidade, em idosos separados ou viúvos, é menor nos que possuem pets, quando comparados aos que não possuem. E quanto maior o vínculo com pet, menor o índice. Outro trabalho mostrou que ao serem analisadas as fitas gravadas durante caminhadas, que o grupo que possuía pets se expressava, de forma significativa, mais no tempo presente, e que a maior parte das conversas era sobre seus cães, mesmo na ausência destes. A presença de cães, com pessoas severamente doentes, aumentam os contatos sociais amigáveis com os transeuntes. Há alguns séculos, o homem começou a dar-se conta do potencial terapêutico dos animais de companhia, pois já tinha milênios de convivência com www.conhecer.org.br eles, sentindo em seu quotidiano os benefícios deste relacionamento. BECK (1985) escreve que existem relatos datados do século dezoito, onde usavam-se animais domésticos em escolas de crianças perturbadas e que grupos de cuidados domésticos para pessoas doentes, usavam animais como mascotes. O primeiro relato documentado data de 1792, do York Retreat, um hospital psiquiátrico moderno para a época, na Inglaterra, onde havia coelhos e aves no pátio, cuidados pelos próprios pacientes. Florence Nightingale, a fundadora da enfermagem moderna, já em 1860 observou: “um pequeno pet é geralmente uma excelente companhia para os doentes, especialmente para os casos crônicos”. Em 1867, em Bethel, na Alemanha, havia uma casa de epilépticos, cujos moradores cuidavam de pássaros, cavalos, cães e gatos. Um estudo sobre a introdução de gatos em um abrigo geriátrico (BRICKEL, 1979) demonstrou aumento do senso de realidade e responsabilidade, melhora da afetividade, do relacionamento entre os internos e entre estes e a equipe, a qual teve sua carga de estresse diminuída. Os gatos eram muito usados para fazer contato com os pacientes isolados, além de serem fonte de distração, prazer, objeto de cuidados, tornando o ambiente caseiro e mais tranqüilo. CAPÍTULO 3 OS ANIMAIS DE COMPANHIA Segundo SNOWDON (1999) muitos são os benefícios relatados tanto por proprietários de animais de companhia quanto por médicos e pesquisadores do assunto. Muitos problemas da sociedade humana estão freqüentemente relacionados a interações entre ambiente e comportamento ou entre genética e comportamento. As áreas da Socioecologia e do Comportamento Animal lidam com a questão das interações comportamentais e do ambiente, tanto do ponto de vista imediato, quanto do evolutivo. Um número crescente de cientistas sociais tem recorrido ao Comportamento Animal como uma base teórica para interpretar a sociedade humana e para entender possíveis causas de problemas das sociedades. www.conhecer.org.br As crianças, em fase pré-escolar, estão em pleno desenvolvimento de suas capacidades de simbolização, através da linguagem, da imaginação, da imitação e da brincadeira em situações cada vez mais diversas. Esta simbolização possibilita à criança o estabelecimento, cada vez maior, da relação entre a realidade e o mundo social (BRASIL, 1998). A utilização de materiais concretos, trabalhos em grupo e brincadeiras possibilita o exercício das capacidades de simbolização da criança e permite sua aprendizagem, pois através do uso dos materiais concretos, a criança se aproxima de uma representação imitativa da realidade, assimilando esta realidade cognitivamente (MACEDO, 1988). O fato dos animais de todos os tamanhos e condições fascinarem muitas crianças que desejam muito observá-los, tocá-los e cuidar deles (HARLAN et al, 2002) contribui para a compreensão do estudo do comportamento animal na préescola como relevante, pois esta temática pode suprir necessidades e dúvidas das crianças. A Terapia Facilitada com cães (TFC ou Cinoterapia), mediante a utilização do contato com o cão para fins terapêuticos, onde todo o processo da terapia será intermediado pela relação homem-animal (KAUFMANN, 1997). A TFC teve origem em 1792 no Retiro York, na Inglaterra, em uma instituição mental, onde os pacientes participavam de um programa alternativo de comportamento que consistia na permissão de cuidar de animais de fazenda como reforço positivo. Em 1867 a mesma técnica foi utilizada na Alemanha com pacientes psiquiátricos. Mas somente na década de 60 do século seguinte surgem as primeiras publicações cientificas sobre os benefícios da TFC. A partir dos anos 80, relevantes pesquisas cientificas emergem, provando o benefício à saúde humana a partir da interação com animais, espalhando-se rapidamente no Reino Unido, Estados Unidos e na Europa. No Brasil surge nessa mesma época, mas somente a partir dos anos 90 são implantados os primeiros Centros de Atendimento de Terapia Assistida por animais (GEORGE, 1988). As principais organizações que envolvem estudos de Terapia Assistida por animais acham-se localizadas no Delta Society nos Estados Unidos, na Inglaterra www.conhecer.org.br no SCAS – Sociedade para Estudos de Animais de Companhia (PET PARTNERS, 2003). Os cães vem sendo usados como facilitadores para profissionais das áreas de: Terapia Ocupacional; Fisioterapia; Psicologia; Fonoaudiologia; Pedagogia e Psiquiatria (MALLON, 1992). Atualmente, podemos encontrar grupos de atendimento ao idoso na cidade de São Paulo, mediante o Projeto Cão do Idoso, e também o Projeto Petsmile (que são visitas hospitalares). A Terapia Facilitada com Cães consiste num método de abordagem pelo qual o foco para o desdobramento do processo terapêutico está centrado na relação estabelecida entre o paciente e o animal. A partir dessa relação é que o profissional da saúde direciona o tratamento terapêutico, após avaliação física e mental (KAUFMANN, 1997). CAPÍTULO 4 OS ANIMAIS NA RESIDÊNCIA A meninada gosta muito de brincar. Nessa hora, a companhia de animais de estimação pode ser essencial. Isso porque cães, gatos, pássaros, peixes e tantos outros bichos estimulam o desenvolvimento das crianças e podem ajudar na interação de toda a família. A presença de um cão dentro de casa pode reforçar os valores de responsabilidade, respeito e sociabilidade nas crianças. As crianças devem ser levadas para visitar um pet shop, o zoológico ou ainda parques da cidade onde possam ser vistos animais. As crianças que possuem animais de estimação afirmam que a principal dica para se divertir com o animal de estimação é dar atenção, carinho, comida e passear com o bicho. A maioria dos pais acredita que os animais são bons companheiros para seus filhos. www.conhecer.org.br Para aquelas pessoas que moram em apartamento uma observação importante é a de escolher um animal que seja compatível com o ambiente. Para isso, é muito importante o diálogo e as observações com relação ao ponto de vista da criança, dos pais, dos vizinhos e do próprio animal. Sim, pois muitas vezes o animal pode ser infeliz caso permanecer em uma gaiola ou em um espaço que não é compatível com o seu tamanho e necessidade. Segundo BEAVER ( 2005) os animais de estimação têm muitas funções na sociedade, as quais se modificam à medida que mudam as necessidades de uma civilização. Crianças em desenvolvimento que possuem animal de estimação obtêm benefícios significativos e, nesse aspecto, o gato tem sido importante há muito tempo. O animal pode assumir diferentes funções durante o desenvolvimento da criança. A criança pode se relacionar melhor com animais de estimação do que com os adultos e, com esse amigo, pode estar mais apta a resolver muitos dos vários problemas comuns da infância. Cuidar de um gato propicia a noção de responsabilidade à criança e a observação das funções corporais normais do gato resulta em auto-entendimento e respeito à vida. O gato também propicia companhia. Motivação para aprender e criatividade também são estimuladas pela presença do gato. Até o processo doloroso da morte de um animal querido pode preparar a criança para a perda futura de alguém que ela ame. Demonstrou-se que, principalmente meninos e em menor grau em meninas, o interesse por animais de estimação tende a diminuir nitidamente na adolescência. Gatos e outros animais de estimação estão assumindo importância cada vez maior na manutenção da saúde mental de nossa sociedade. O desenvolvimento rápido da civilização moderna tende a isolar os seres humanos uns dos outros e o animal pode ser o único fator constante no ambiente das pessoas, ajudando a manter o equilíbrio emocional. Os Animais Promovem a Comunicação: Vários estudos mostraram que a presença de animais de estimação leva a uma interpretação menos ameaçadora www.conhecer.org.br da “aproximação” social e melhora o caráter social das pessoas associadas a animais. Os animais, especialmente os cães, têm sido designados de “lubrificantes sociais” uma vez que facilitam a interação social. Eles são um tema de conversa seguro entre pessoas. Os Animais ajudam a relaxar e a diminuir a ansiedade : Acarinhar um cão ou gato é uma atividade rítmica e repetitiva que pode atuar como foco inconsciente de meditação. Interagir com um animal de estimação demonstrou reduzir os indicadores de stress ao nível cardiovascular, comportamental e psicológico. Por exemplo, descobriu-se que, observar um peixe num aquário é tão eficaz em diminuir a ansiedade em pacientes aguardando uma cirurgia dental como a hipnose. (KATCHER et al, 1984). Os Animais Ajudam-nos a baixar a tensão arterial : Houveram vários estudos científicos que usaram adultos saudáveis, crianças saudáveis, e adultos com elevada tensão arterial, que mostraram que simplesmente estar na presença de um cão ou acarinhar um gato pode ter efeitos bastante positivos no controle da tensão arterial. (FRIEDMANN et al, 1983) . Os animais podem ser terapeutas silenciosos: Os animais têm sido usados por psiquiatras e psicólogos em sessões de psicoterapia durante muitos anos. Inconscientemente, os donos frequentemente falam para os seus animais como se estes fossem humanos. Podemos descarregar os nossos problemas, medos e preocupações com eles sem recear ser julgado. Os animais de estimação são sempre bons ouvintes, nunca dão maus conselhos e proporcionam sempre todo o seu suporte. Este efeito benéfico dos animais de companhia tem sido usado em muitas variantes diferentes. O Projeto Shiloh em Fairfax na Verginia, Estados Unidos, junta uma criança “em risco” com um cão sem dono. Estas crianças têm um passado de violência e abuso para com animais e pessoas, ou são vítimas de abuso e violência. Na escola, três vezes por semana, a criança faz equipa com www.conhecer.org.br outra criança e um cão. Tentam juntos aprender como ensinar o cão a submeterse à educação humana e fazem exercícios de comunicação. Este fantástico programa tem ajudado as crianças a quebrar o seu ciclo de violência enquanto transformam um cão não desejado num companheiro pronto para ser adotado e fazer parte de uma família. Os animais nos proporcionam tempo de diversão: Os animais de estimação são incomparáveis companheiros de brincadeira. Estão sempre prontos para correr atrás da bola, dar um passeio ou interagir conosco. Brincar é um processo essencial no crescimento social, intelectual e físico das crianças. Os animais de companhia melhoram o nosso estado de saúde geral. As pessoas que tem cães ou gatos geralmente apresentam melhor saúde do que aqueles que não têm e foi provado que os que têm animais de estimação visitam menos vezes o médico do que aqueles que não têm. (SIEGEL, 1990) CAPÍTULO 5 UM FATOR DE RESPONSABILIDADE Tudo depende da forma como o animal é apresentado. Para que o bichinho se torne um parceiro na educação infantil, a profissional orienta que sejam designadas funções para cada membro da casa, definindo quem dará a alimentação, levará para o banho, o passeio, entre outras atividades. A realização destas tarefas é sinônimo de responsabilidade. Caso a criança seja estimulada, mais tarde ela não terá problemas com a realização de tarefas. No caso das brincadeiras e da convivência com o animal, são introduzidos valores de respeito ao próximo e sociabilidade. A atividade recreativa envolve respeito com o animal, caso contrário, ele não vai mais aceitar o chamado da criança. Seja de um adulto, criança ou idoso, os animais de companhia promovem um sentimento de bem-estar geral e diminuem os sentimentos de isolamento e solidão. Ajudam ainda a dar sentido à vida dos mais velhos. Tratar regularmente www.conhecer.org.br de um cão proporciona um sentimento de preenchimento interior. Crianças que tem cães são, em geral, menos egocêntricas. Pessoas com problemas psicológicos sentem-se mais felizes se tiverem um animal de estimação para tratar. Casais com animais têm tendência a serem mais próximos um do outro, sentem-se mais realizados no casamento e interagem mais vezes entre eles e com outras pessoas. Contrariamente ao que se acreditava há muitos anos, a exposição precoce de crianças a animais diminui a probabilidade de esta vir a sofrer de alergias. Inclusivamente acredita-se que a exposição da mãe à companhia de animais de estimação durante a gravidez pode ser relacionada a uma maior resistência imunológica do bebe. Na verdade pouco compreendemos sobre como os nossos amigos peludos enriquecem as nossas vidas. O mínimo que podemos fazer para lhes retribuir o seu amor, companhia, afeto e lealdade assegurando-nos que os mantemos na melhor condição de higiene e saúde. Para se ter um animal de estimação é necessário compreender que ele necessita de cuidados, pois toda a vida dele depende do alimento que lhe damos, do abrigo que oferecemos, do carinho e atenção, etc. Assim, é necessário obedecer os seguintes princípios: 1. Seguir um programa preventivo de saúde que inclui: - Uma alimentação adequada; - Exercício regular; - Protegê-lo do frio; - Vacinação sempre em dia; - Check-ups anuais junto ao seu veterinário. 2. Garantir que o seu animal de estimação tenha a sua própria cama e que os recipientes de comida sejam mantidos limpos e afastados do local onde ocorrem as refeições familiares; 3. Lavar sempre as mãos depois de acariciar o seu cão ou gato; 4. Ao passear com o cão, trazer sempre um saquinho para os dejetos. www.conhecer.org.br CAPÍTULO 6 PESQUISA CIENTÍFICA A doutoranda em Psicologia Ceres Faraco desenvolve uma pesquisa sobre as repercussões do uso de animais em salas de aula do Ensino Fundamental. Entre os benefícios está a diminuição da agressividade nas crianças, o estímulo à socialização e o enriquecimento das atividades regulares de ensino. O trabalho: “Animais em sala de aula: um estudo das repercussões psicossociais das atividades mediadas por animais” é orientado pelo professor Nedio Seminotti, coordenador do grupo de pesquisa Relações grupais: emergentes e organizações, no Programa de Pós-Graduação em Psicologia. Das atividades de classe participam cães, gatos, coelhos, pássaros e tartarugas. Cada animal, segundo Ceres, visa a atingir objetivos diferentes. Os pássaros, por exemplo, contribuem ao desenvolvimento do autocontrole e da capacidade de focar a atenção nas tarefas e os coelhos estimulam o toque e a aproximação. Durante o 6º Congresso Internacional Animales de Compañía: fuentes de salud, realizado em abril, em Barcelona, professor e aluna apresentaram um estudo piloto, da pesquisa de mestrado, sobre o tema. A iniciativa surgiu quando Ceres, graduada em Veterinária, percebeu os benefícios dos animais de companhia para a vida das pessoas. Os bichinhos, quando adoeciam, expressavam a enfermidade de toda a família. O estudo também destaca que, quando eles integram um grupo humano, são co-autores de seu processo, isto é, de sua vida e, portanto, o revitalizam. Ao mesmo tempo, estimulam a reorganização do grupo dando sentido novo para as relações humanas e inter-espécies. Em tratamentos de saúde das pessoas, destaca-se que a simples presença de cães, peixes ornamentais ou de pássaros foi capaz de reduzir a pressão sanguínea em crianças e adultos, diminuindo o “stress” durante longos períodos de internação ou mesmo durante um procedimento médico doloroso (BARKER, 1999). www.conhecer.org.br A TERAPIA ASSISTIDA POR ANIMAIS - TAA A equoterapia utiliza a similaridade entre o ritmo do movimento do animal e do ser humano de forma que permite, durante a cavalgada, o fortalecimento da musculatura de pacientes com habilidade limitada de funções motoras comuns em casos de paralisia cerebral, esclerose múltipla, espinha bífida e traumatismos cerebrais. Entretanto uma avaliação criteriosa deve ser feita com a finalidade de adequar os exercícios e providenciar medidas que evitem a exposição dos pacientes a riscos desnecessários (BAKER, 1999; BAKER, 1997; BAKER, 1996; BAKER, 1995) Esse método de TAA exige uma relação de simbiose entre paciente, terapeuta, treinador e cavalo, para obter resultados satisfatórios em relação ao tratamento dos distúrbios físicos, mentais e emocionais, pois a interação com a equipe e com o animal proporciona ao paciente, estímulos sensoriais e autoconfiança, refletindo na socialização do indivíduo com o grupo. Outro exemplo de TAA inclui as atividades da ONG AGE, que leva uma vez por mês, crianças e adolescentes com deficiência visual, ex-portadores de câncer e portadores de síndrome de Down para interagir com lagartos, serpentes, ratos, jacarés e tartarugas no Criadouro Conservacionista Pró-Répteis, em São Paulo, legalizado pelo Ibama desde 2001. Pesquisadores da Faculdade de Medicina Veterinária, em parceira com a Faculdade de Odontologia, da Universidade Estadual de São Paulo de Araçatuba, iniciaram, em 2003, o projeto “Cão-Cidadão-Unesp”, que investiga as reações que os animais provocam em crianças com necessidades especiais, como as que sofreram paralisia cerebral, as portadoras da síndrome de Down e de outros tipos de comprometimento mental. O projeto conta com a participação de médicos veterinários, adestradores, cirurgiões dentistas, psicólogos, fisioterapeutas e acadêmicos voluntários. Os resultados têm sido satisfatórios, pois os pacientes apresentam melhor comportamento e colaboram no atendimento dentário. Este trabalho tem despertado o interesse da comunidade e de outras instituições, além de ser uma unanimidade em satisfação por parte de toda a equipe envolvida (OLIVA, 2004). www.conhecer.org.br Na FMVZ-USP-Pirassununga, vem sendo conduzido o projeto “Dr. Escargot”, que tem o objetivo de provar que os animais podem ser integrados ao meio escolar e hospitalar para proporcionar aprimoramento ético, moral, cidadania e qualidade de vida às crianças e idosos (MARTINS, 2004). Envolvendo a equoterapia, já mencionada anteriormente, a Fundação Selma, em São Paulo, conta com esta alternativa para pacientes em terapia de reabilitação física. Na área da educação cães, ratos, coelhos, porquinhos-da-índia e até algumas aves têm auxiliado o trabalho com crianças e adolescentes, tornando-o mais atrativo e auxiliando o tratamento de problemas de linguagem, de percepção corporal e de controle da ansiedade. A experiência mostrou-se promissora no tratamento de crianças com hiperatividade e com quadros depressivos (KLINGER, 2007). CUIDADOS NA IMPLANTAÇÃO DE PROGRAMAS DE TAA Os principais riscos da aplicação da TAA implicam conseqüentemente na observação rigorosa de medidas preventivas para evitar transtornos que inviabilizem a sua execução. Os animais devem ter o acompanhamento do médico veterinário, garantindo assim o bom estado sanitário do animal e minimizando o potencial zoonótico, especialmente para pacientes imunossuprimidos. Zoonoses, mordeduras e alergias são os itens mais preocupantes em um programa de TAA, porém podem ser controlados, reduzindo os riscos a níveis mínimos para os pacientes e profissionais envolvidos (BRODIE, 2002). As agressões por parte dos animais podem ser evitadas realizando uma avaliação criteriosa do temperamento individual e comportamento inerente à espécie animal escolhida, sendo essencial reconhecer se há uma empatia deste com o paciente. Obviamente, os pacientes com fobias e aversão a animais não devem ser incluídos em programas de TAA, bem como pessoas com problemas alérgicos (SAN JOAQUÍN, 2002). A continuidade do programa de TAA é um aspecto que não pode ser negligenciado, pois o impacto negativo da interrupção do tratamento pode resultar em problemas emocionais preocupantes, principalmente em crianças e idosos. É www.conhecer.org.br preciso considerar situações como a manutenção de recursos financeiros para o programa e evitar que a relação homem-animal tenha caráter de exclusividade, posse ou dependência. É importante lembrar que a perda do animal remete a sentimentos dolorosos, difíceis de serem resolvidos pelos pacientes (McGUIRK, 2007). Em hipótese alguma devemos desconsiderar o bem-estar do animal; o respeito, carinho e cuidados com a qualidade de vida desses co-terapêutas é fundamental para o sucesso da TAA e reflete positivamente nas relações interpessoais do grupo (DELTA SOCIETY, 1996) LEITURA: Manual do educador: “Criando um amigo” Manual de Prevenção contra agressões por cães e gatos. Autor: Dr. Albino J. Belotto