Infecções Hospitalares causados por Staphylococcus aureus

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Pró-Reitoria de Graduação
Curso de Enfermagem
Trabalho de Conclusão de Curso
Infecção Hospitalar causada por Staphylococcus aureus
resistente à oxacilina no Hospital Regional da Ceilândia – Distrito
Federal
Autoras: Ana Cissa Santana de Queiroz
Ludmila Ayres Costa
Orientadora: Maria do Socorro Nantua Evangelista
Brasília - DF
20101
ANA CISSA SANTANA DE QUEIROZ
LUDMILA AYRES COSTA
Infecção Hospitalar causada por Staphylococcus aureus resistente à
oxacilina no Hospital Regional da Ceilândia - DF
Monografia apresentada ao curso de graduação
em Enfermagem da Universidade Católica de
Brasília, como requisito parcial para obtenção
do Título de Licenciado em Enfermagem.
Orientadora: Drª. Maria do Socorro Nantua Evangelista
Brasília
2010
2
Monografia de autoria de: Ana Cissa Santana de Queiroz e Ludmila Ayres Costa,
intitulada “INFECÇÃO HOSPITALAR CAUSADA POR STAPHYLOCOCCUS AUREUS
RESISTENTE À OXACILINA NO HOSPITAL REGIONAL DA CEILÂNDIA, 2010”,
apresentada como requisito parcial para obtenção do grau de Licenciatura em Enfermagem da
Universidade Católica de Brasília, em 15 de setembro de 2010, defendida e aprovada pela
banca examinadora abaixo assinada:
______________________________________________
Prof. Drª. Maria do Socorro Nantua Evangelista
Enfermagem – UCB
_____________________________________________
Prof. MSc Maria Beatriz de Sousa Miranda
Enfermagem - UCB
_____________________________________________
Prof. Mestrando Leandro Tavares de Oliveira
Enfermagem - UCB
Brasília
2010
3
Dedicamos este trabalho primeiramente a Deus,
pois sem Ele, nada seria possível. Às nossas
famílias pela confiança. Aos nossos amigos
pelo apoio. Aos professores por nos
proporcionar a oportunidade de compartilhar
seus conhecimentos.
À nossa querida orientadora pela paciência
demonstrada no decorrer do trabalho. Enfim, a
todos que de alguma forma contribuíram para
o sucesso deste trabalho.
4
RESUMO
QUEIROZ, S.C. Ana; COSTA, A. Ludmila. Infecção Hospitalar causada por
Staphylococcus aureus resistente à oxacilina no Hospital Regional da Ceilândia – DF,
2010. 35f. Monografia (Enfermagem) – Universidade Católica de Brasília, Brasilia, 2010.
O objetivo deste trabalho foi realizar um levantamento dos portadores de infecção
hospitalar por Staphylococcus aureus resistente à oxacilina e a incidência em pacientes
internados na Unidade de Terapia Intensiva. A pesquisa foi realizada no Hospital Regional da
Ceilândia (HRC) em Brasília-DF, na UTI (Unidade de Terapia Intensiva). Compreende
aspectos de um estudo de caso, com três pacientes onde foram descritos características de
sexo, tempo de internação, estado geral do paciente, fatores de risco no momento da
internação, doença de origem à infecção, além do perfil do teste de sensibilidade dos
Staphylococcus aos antibióticos. Os resultados mostraram dos 45 pacientes internados na
Unidade de Terapia Intensiva, 11,11% obtiveram a infecção hospitalar por Staphylococcus
aureus resistente à oxacilina, no período que compreende de janeiro a junho de 2009.
Palavras-chave: Staphylococcus aureus, infecção hospitalar, resistente.
5
ABSTRACT
QUEIROZ, S. C. Ana; COSTA, A. Ludmila. Nosocomial Infection caused by
Staphylococcus aureus multiresistant to oxacillin in Regional Hospital of Ceilândia – DF,
2010. 35f. Monograph (Nursing) – Catholic University of Brasília, Brasília, 2010.
The objective of this work was to carry out a survey of patients with nosocomial
infection by Staphylococcus aureus resistant to oxacillin and the incidence in patients
hospitalized in the intensive care unit. The survey was held in the Regional Hospital of
Ceilândia (HRC) in Brasília-DF, in the intensive care unit. It covers aspects of a case study
with three patients where were described characters of sex, length of hospitalization, general
condition of the patient, risk factors at the hospitalization moment, original disease of the
infection, beyond the profile of the sensitivity test of Staphylococcus to antibiotics. The
results showed that 11,11% of patients hospitalized in the intensive care got the hospital
infection by Staphylococcus aureus resistant to oxacillin in the period from January to June,
2009.
Keywords: Staphylococcus aureus, nosocomial infection, resistance.
6
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO.............................................................................................................9
2. JUSTIFICATIVA........................................................................................................10
3. OBJETIVOS................................................................................................................11
3.1 Objetivo Geral ..............................................................................................................11
3.2 Objetivo Específico.......................................................................................................11
4. REFERENCIAL TEÓRICO ....................................................................................12
4.1 Histórico da infecção hospitalar....................................................................................12
4.2 Características dos Staphylococcus aureus...................................................................13
4.3 Fatores de virulência.....................................................................................................14
4.4 Epidemiologia...............................................................................................................16
4.5 Diagnóstico e tratamento...............................................................................................18
4.6 Patogenicidade causada pelo MRSA............................................................................18
4.7 Toxinas..........................................................................................................................19
4.8 Microorganismos multiresistente..................................................................................19
4.9 Staphylococcus aureus multiresistente..........................................................................19
4.10 Prevenção....................................................................................................................20
4.11 Resistência aos ß – Lactâmicos...................................................................................21
4.12 Terapêutica medicamentosa do MRSA......................................................................23
4.12.1 Penicilina..................................................................................................................23
4.12.2 Oxacilina..................................................................................................................23
5. METODOLOGIA ........................................................................................................25
5.1 Local da pesquisa..........................................................................................................25
5.2 Tipo de pesquisa............................................................................................................25
5.3 Desenvolvimento do Estudo.........................................................................................25
5.3.1 População a ser estudada............................................................................................25
5.3.2 Seleção da unidade a ser pesquisada..........................................................................26
5.4 Critério de Inclusão.......................................................................................................26
5.5 Critério de Exclusão......................................................................................................26
5.6 Instrumento de pesquisa................................................................................................26
5.7 Aspectos éticos da pesquisa..........................................................................................26
6. RESULTADOS.............................................................................................................27
7
7. DISCUSSÃO...............................................................................................................30
CONCLUSÃO................................................................................................................32
CONSIDERAÇÕES FINAIS........................................................................................33
BIBLIOGRAFIA............................................................................................................34
8
1- INTRODUÇÃO
Atualmente, o desafio do sistema de saúde é o atendimento a um grande volume de
pacientes, paralelamente ao aumento da complexidade das situações clínicas em que os
pacientes possam se encontrar, evitando assim o contágio de doenças no meio hospitalar.
Define-se como infecção hospitalar a infecção que o indivíduo adquire após a sua
hospitalização ou realização de procedimento ambulatorial. Entre os exemplos de
procedimentos ambulatoriais mais comuns estão: cateterismo cardíaco, exames radiológicos
com utilização de contraste, retirados de pequenas lesões de pele etc. A manifestação da
infecção hospitalar pode ocorrer após a alta, desde que esteja relacionada com algum
procedimento realizado durante a internação. Somente um profissional treinado (médico ou
enfermeiro com qualificação especial em Infecção Hospitalar) pode relacionar sinais e
sintomas de infecção com procedimentos realizados em unidades de saúde e realizar o
diagnóstico de infecção hospitalar (VEIGA, 2009).
Historicamente, no Brasil, o controle das infecções hospitalares teve seu marco
referencial com a Portaria MS nº 196, de 24 de junho de 1993, que instituiu a implantação de
Comissões de Controle de Infecções Hospitalares em todos os hospitais do país, independente
de sua natureza jurídica (ANVISA, 2000).
A resistência de alguns microrganismos, como a bactéria Staphylococcus aureus que
causa infecções tais como furúnculo e pneumonia, ao antibiótico oxacilina, será o tema
abordado no presente estudo.
Dentro dessa preocupação relacionada à resistência de microorganismos, a Agência
Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), trabalha para que o diagnóstico da resistência de
microrganismos a tratamentos médicos tenha critérios laboratoriais e epidemiológicos
estabelecidos e o uso racional de antimicrobianos seja desestimulado (Ministério da Saúde,
2009).
O presente estudo demonstrará com evidencia infecções hospitalares causadas por
Staphylococcus aureus resistente à oxacilina, os fatores de virulência associados, os grupos de
risco incluídos, entre outros assuntos, o diagnóstico e tratamento recomendado.
2- JUSTIFICATIVA
9
Tendo a clareza de que infecção é um problema de saúde pública e abrange pessoas de
todas as faixas etárias, procurou-se associar à resistência do S. aureus resistentes à oxacilina,
com o objetivo de buscar melhor tratamento às pessoas acometidas por infecção do
microrganismo em questão e, quem sabe, descobrir novas técnicas de prevenção e controle
contra as patologias associadas.
10
3- OBJETIVOS
3.1 Objetivo Geral
Analisar a infecção hospitalar por Staphylococcus aureus resistente à oxacilina
(meticilina) no Hospital Regional da Ceilândia – DF.
3.2 Objetivo Específico
1. Caracterizar o perfil dos portadores da infecção por S. aureus na UTI de
Ceilândia.
2. Descrever os procedimentos a que os pacientes foram submetidos durante a
internação hospitalar.
3. Conhecer a incidência da infecção por S. aureus na UTI.
11
4- REFERENCIAL TEÓRICO
4.1 Histórico da infecção hospitalar
A infecção hospitalar acomete o indivíduo após a hospitalização ou durante a
realização de procedimentos médicos. As infecções surgiram com a criação dos primeiros
hospitais, sendo que inicialmente se desconhecia os meios de transmissão, inclusive, o fato
estava relacionado a algo divino ou até mesmo sobrenatural (BALDUINO, 2008).
Na metade do século XIX, Oliver Holmes associava que a febre em puérperas se dava
pela contaminação das mãos e aventais dos médicos. Em 1847, Ignaz Semmelweis realizou
uma investigação, onde comparou as enfermarias que eram atendidas por parteiras e a outra
por residentes de medicina e, chegou à conclusão de que as mulheres atendidas pelos
residentes tinham uma alta taxa de mortalidade em relação às parteiras. Assim, Ignaz associou
a baixa infecção à lavagem das mãos com água clorada pelas parteiras (BALDUINO, 2008).
Ressalta-se que os hospitais do século XIX, não dispunham de água tratada. De modo
que os cirurgiões limpavam as mãos nos seus aventais, o lixo era jogado no fundo do terreno,
as roupas de cama não eram trocadas com frequência, o que facilitava a disseminação das
infecções (FONTANA, 2006).
Florence Nightingale, em 1854, acompanhada de 38 enfermeiras foi designada para o
hospital de base de Scutari, na Guerra da Criméia, para cuidar de 1.500 feridos. Durante a
guerra, os hospitais chegavam a receber de 3.000 a 4.000 pacientes feridos e não tinham
condições de atender a demanda. A taxa de mortalidade alcançava 42%. Florence,
vivenciando esta situação, decidiu fazer cozinha, lavanderia, melhorou as condições sanitárias
e as rondas noturnas levando conforto e assistência aos debilitados, o que reduziu a taxa de
mortalidade de 42% para 2,2 %. Ela também organizou treinamentos para as enfermeiras
sobre desinfecção e limpeza, bem como, orientou a construção dos hospitais com leitos
individualizados (FONTANA, 2006).
Em 1863, Florence descreveu procedimentos e os cuidados que deveriam ser
realizados para diminuir a infecção hospitalar e solicitava das enfermeiras anotações dos
óbitos, para o controle e avaliação do serviço (FONTANA, 2006).
Em 1878, Robert Koch foi o primeiro a pesquisar os S. aureus em pus humano, logo
após, Pasteur cultivou esses microrganismos em meio líquido. Posteriormente, Ogston
12
realizou experimentos com camundongos e cobaias e mostrou que os S. aureus eram
patogênicos (DAVIS, 1979).
Estudos apontam que os Staphylococcus aureus desde 1991, vem ganhando resistência
aos antimicrobianos, o que dificulta o tratamento e aumenta a taxa de mortalidade de infecção
hospitalar (BALDUINO, 2008).
De acordo com Balduino (2008), a transmissão de Staphylococcus aureus se dá pelo
ar e pelo contato direto com funcionários e roupas contaminadas, além disso, funcionários
também podem ser portadores assintomáticos dessas bactérias, colaborando assim para sua
disseminação no âmbito do hospital. Os portadores assintomáticos disseminam esses
microrganismos pelo nariz e pele. Os fatores relacionados à transmissão de bactérias
resistentes são principalmente, o risco de infecção entre os pacientes e o uso excessivo de
antimicrobianos (ANVISA, 2007).
Hoje a infecção hospitalar é de séria preocupação, tanto para a assistência como para a
qualidade do atendimento a ser prestado, devido à alta letalidade são considerados como os
principais causadores de infecções intra-hospitalares. Pois, os Staphylococcus aureus são
bactérias que colonizam e infectam o paciente, principalmente os que permanecem internados
por longo período (DAVIS, 1979).
As infecções causadas pelos Staphylococcus aureus causam várias doenças, tais como:
furúnculos, antraz, osteomielite, abscessos de tecidos profundos, infecções de traumatismo,
pneumonia, empiema, pericardite, endocardite, meningite e artrite purulenta. Outras cepas
liberam enterotoxinas causadoras de infecção alimentar (DAVIS, 1979). As manifestações
clínicas do Staphylococcus aureus podem ser cutâneas ou sistêmicas. As cutâneas incluem:
foliculite, impetigo, furúnculos, carbúnculos e a síndrome estafilocócica da pele escaldada.
Tendo causado uma bacteremia, esta bactéria pode produzir endocardite, osteomelite,
piocardite e meningite. A síndrome do choque tóxico, que está relacionada com a produção da
toxina de mesmo nome e é caracterizada por febre, hipotensão, vertigem, descamação,
vômitos, cefaléia, calafrios e faringite. Dentre os agentes de infecções hospitalares, o
Staphylococcus aureus resistente encontra-se como o microrganismo com maior índice de
morbidade e mortalidade. (KLEIN, GOULART, 2008)
4.2 Características dos Staphylococcus aureus
Os Staphylococcus aureus são bactérias gram-positivas, esféricas, isto é, se dispõem
como cacho de uva. Quando cultivado em meio sólido se apresenta sob a forma de cacho, é
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visualizado aos pares ou em cadeias de no máximo quatro S. aureus. Este formato
característico se dá pelo fato de corresponder ao resultado de divisões irregulares em dois
planos perpendiculares entre si (DAVIS, 1979).
“As linhagens de Staphylococcus aureus apresentam como característica a capacidade
de desenvolver rapidamente resistência a agentes antimicrobianos” (BALDUINO, 2008).
Quanto à morfologia, os Staphylococcus aureus são microorganismos imóveis, não
produtores de esporos e tem diâmetro que varia de 0,7 a 1,2µm. Os germes resistentes tendem
a ser ligeiramente menores do que os considerados não- patogênicos. Apesar de serem grampositivas, as células individuais podem se tornar gram-negativas. Colora-se na cor amareloouro. Podem ser muitas vezes confundido com os Streptococcus, sendo diferenciado pelo
número de cadeias que possui, geralmente quatro membros enquanto, as cadeias de
Streptococcus são mais longas (DAVIS 1979).
A espécie de Staphylococcus está entre as mais resistentes de todas as bactérias nãoformadoras de esporos, podendo suportar temperaturas de até 60º C. A maioria das linhagens
patogênicas fermenta o manitol, além de produzir um pigmento amarelo, hemolisina e
coagulase. Possuem enzimas lipolíticas que o tornam resistentes aos lipídeos bactericidas da
pele. A maioria dos estafilococos é suscetível a desinfetante e a anti-sépticos, mas podem
sobreviver em superfícies secas (DAVIS, 1979).
4.3 Fatores de virulência
Para contribuir com a própria virulência, os Staphylococcus aureus, tem em sua
superfície alguns componentes que produzem substâncias extracelulares (TRABULSI, 1999).
 Cápsula: contém uma camada frouxa de polissacarídeos. Sua função é inibir a
quimiotaxia e fagocitose das bactérias, além de facilitar sua aderência em cateteres,
próteses valvulares, enxertos, bem como em outros materiais sintéticos (PATRICK,
1998).
 Peptideoglicano: é o principal componente estrutural da parede celular dos
Staphylococcus aureus (PATRICK, 1998). É composta de cadeias de glicano com
várias ligações cruzadas de peptídeos (FELIX, 2007). Essas ligações conferem às
bactérias Gram-positivas uma parede mais rígida, diferentemente das Gram-negativas.
As camadas de peptídeo glicano ativam a produção de interleucina-1 pelos monócitos,
atrai leucócitos polimorfonucleares, gerando assim o abscesso, e pode ativar o
complemento (PATRICK, 1998).
14
 Proteína A: é a proteína que reveste a superfície dos S. aureus e é totalmente aderida à
camada de peptideoglicano (PATRICK, 1998). Os resíduos de tirosina presentes na
superfície da proteína A são responsáveis pelas atividades biológicas, que consiste na
capacidade da proteína A de se ligar à porção Fc da molécula de IgG. Essa proteína é
mitogênica, isto é, provoca mitose e potencializa a atividade NK dos linfócitos
(TRABULSI, 1999).
 Ácidos teicóicos: são polímeros de peptídeos glicano que contém fosfato e também se
liga à camada de peptideoglicano. Os ácidos teicóicos ajudam na fixação dos S. aureus
na superfície da mucosa (PATRICK, 1998).
 Fator de aglutinação: o fator de aglutinação ou coagulase ligada está presente na
maioria das superfícies das cepas de Staphylococcus aureus (PATRICK, 1998). Esse
fator provoca a aglutinação ou agregação dos estafilococos (FELIX, 2007).
Utiliza-se o termo MRSA para se referir a resistência do microorganismo a oxacilina.
(SOUZA; REIS; PIMENTA, 2005).
Figura 1: A parede celular de uma bactéria Gram-positiva.
www.educa.madrid.org/.../grampositiva.gif
15
4.4 Epidemiologia
Aproximadamente 15% dos indivíduos adultos e sadios possuem S. aureus
nasofaríngeos, sendo que ocorre em maior prevalência em pacientes hospitalizados, equipe
médica, indivíduos com eczema e pessoas que utilizam agulhas diariamente, sendo de modo
ilícito como os usuários de droga ou por necessidade como os diabéticos; bem como os que
recebem injeções antialérgicas ou os que são submetidos à hemodiálise (PATRICK, 1998).
Cerca de 10% dos pacientes hospitalizados são infectados em consequência de
procedimentos invasivos ou terapia imunossupressora (ANVISA, 2007).
Figura 2- Bactérias multiresistentes: origem do problema.
Fonte: www.anvisa.gov.br/servicosaude/controle/rede
Como mostra a figura 2, as Unidades de Terapia Intensivas (UTI) são os reservatórios
de bactérias multiresistentes (ANVISA, 2007).
Os Staphylococcus aureus são responsáveis por 30% dos casos de infecções
hospitalares. (MUNDIN, DEZENA et al, 2002). Em média, 50% dos pacientes internados em
UTI, possuem os S. aureus resistente à meticilina (MRSA) e no Brasil, entre 40% a 80%
possuem cepas de MRSA (CRUZI LEMOS 2002). As bactérias Gram-positivas são os
patógenos mais freqüentemente relatados, sendo o estafilococo o mais predominante.
Também, relata-se o aumento de bactérias resistentes a antimicrobianos; o Staphylococcus
16
aureus meticilino-resistente é responsável por 60% das infecções hospitalares em Unidades de
Terapia Intensiva. (MARTINS, 2006).
Quadro 1: Dados de pacientes portadores de MRSA e não portadores. (2001 a 2004)
Características
Pacientes com
MRSA
Pacientes pareados sem
MRSA
n
Percentagem
n
Percentagem
Masculino
604
42,0
5.988
42,5
Feminino
835
58,0
8.102
57,5
162
11,3
877
6,2
Doença cardiovascular
98
6,8
467
3,3
Acidente vascular encefálico
74
5,1
140
1,0
Doença arterial periférica
34
2,4
72
0,5
Doença pulmonar obstrutiva crônica
76
5,3
364
2,6
Insuficiência renal
45
3,1
138
1,0
Câncer
27
1,9
127
0,9
Doença autoimune
12
0,8
66
0,5
155
10,8
858
6,1
1.019
70,8
5.369
38,1
Comorbidades nos dois anos antes da
entrada na coorte
Diabetes
Exposição a drogas em um ano antes
da entrada na coorte
Uso de prednisona
Antibióticos
Delaney e cols. BMC Medicine 2008 6:2 doi:10.1186/1741-7015-6-2.
Os fatores de risco para infecção incluem o risco intrínseco e extrínseco. Os
intrínsecos incluem a predisposição para a infecção, determinada pelo tipo de infecção da
doença de base do paciente, que varia de intensidade e se modifica pelos mecanismos naturais
de defesa. Os extrínsecos incluem a estrutura, tais como os materiais para que o profissional
possa prestar assistência, as agressões ao hospedeiro como os procedimentos invasivos e a
qualidade do processo de trabalho ou cuidado dispensado ao paciente pela equipe de
assistência. O tempo de permanência do paciente na unidade também se relaciona com a
incidência de infecção hospitalar. Isso ocorre por ser o tempo de internação um indicador da
gravidade, logo, do risco intrínseco, além de determinar mais exposição aos diversos fatores
de risco extrínseco (MARTINS, 2006).
Pacientes diagnosticados com infecção por MRSA eram, freqüentemente, do sexo
masculino e tinham maior freqüência de comorbidades (DELANEY 2008). A faixa etária de
17
60 anos, juntamente com o processo infeccioso, aumenta a morbidade e mortalidade desses
pacientes, quando comparado com indivíduos mais jovens (BÔAS, RUIZ, 2004).
Observa-se uma média de 16,6 dias de internação para o aparecimento da infecção.
Sendo que 63,38% dos pacientes apresentam a infecção após 11 dias de internação. Pacientes
com diagnóstico de MRSA apresentam maior probabilidade de óbito do que aqueles sem
MRSA. As infecções são as mais freqüentes causas de disfunção orgânica múltipla e morte
em pacientes internados em UTI. Os microrganismos mais comumente isolados foram
Staphylococcus aureus meticilino-resistente cuja incidência varia entre 35,1%. (MARTINS,
2006).
4.5 Diagnóstico
Para Trabulsi (1999), o diagnóstico das infecções estafilocócicas é feito pelo
isolamento e identificação do germe, que por sua vez é realizado nos meios de cultura
comuns, como ágar sangue. A antibioticoterapia das infecções estafilocócicas deve ser
precedida da escolha da droga por meio do antibiograma.
O diagnóstico é feito mediante biopsia, onde é retirada uma parte da pele (região
infeccionada) que irá ser levada para análise laboratorial. Outro método conhecido é o
CharoMagar que consiste na mesma técnica, porém com equipamentos mais sensíveis para a
detecção do MRSA (TRABULSI,1999).
4.6 Patogenicidade causada pelo MRSA
As intoxicações causadas pelo microorganismo causam a síndrome da pele escaldada
ou doença de Ritter, é o deslocamento de extensas áreas da epiderme determinado por uma
toxina chamada esfoliatina ou epidermolisina, quando a pele geralmente é banhada por água
fervente. Isso acontece pelo fato de a esfoliatina ser produzida no sítio de infecção e ser
levada para áreas distantes da pele através da corrente sanguínea (TRABULSI, 1999).
Segundo TRABULSI (1999) na ausência de processos infecciosos, as intoxicações
podem ocorrer por meio de alimentos, e provocados pela ingestão de toxinas formadas por
alimentos contaminados pelo Staphylococcus chamadas de enterotoxinas. Esta síndrome
causa o choque tóxico, que acometem mulheres no período menstrual, caracterizado por febre
alta, diminuição da pressão sistólica, diarréia e outras manifestações.
18
4.7 Toxinas
PATRICK (1998), afirma que quando são cultivados em meios artificiais, os
estafilococos patogênicos liberam um número de diferentes exotoxinas, cuja produção é
estimulada em atmosfera de 30% de CO2. As toxinas são nomeadas como fatores de
virulência, sendo que cinco delas são citolíticas ou produtoras de lesões da membrana, entre
elas destacam-se as toxinas alfa, beta, delta, gama e leucocidina, e toxina-1 responsável pela
síndrome do choque tóxico conhecida ainda como ²TSST-1, e cinco enterotoxinas, incluídas
nas infecções por alimentos contaminados por Staphylococcus aureus.
4.8 Microorganismos multiresistentes
Definem-se como bactérias multiresistentes, aquelas que não são susceptíveis aos
antibióticos de primeira escolha. O desenvolvimento de cepas resistentes a antibióticos se dá
por mutação genética natural ou induzida ou ainda por meio de cepas mutantes que criam
diversos mecanismos de inibição da atividade antimicrobiana. Existe o potencial de
transferência de genes de resistência de uma cepa para outra através do deslocamento de
fragmentos de DNA. O uso de antibióticos induz à uma pressão seletiva sobre as cepas
bacterianas, o que favorece a preservação dessas cepas que sofreram mutação genética para a
resistência em relação às cepas sensíveis (PADOVEZE,1997).
4.9 Staphylococcus aureus multiresistentes
Os Staphylococcus aureus na década de 40 tinham somente sensibilidade à penicilina,
entretanto no final da década de 50 já haviam adquirido resistência à maioria dos antibióticos
existentes (SOUZA; REIS; PIMENTA, 2005).
Na década de 60, foram criados as penicilinas semi-sintéticas, e o germe apresentou
resistência também a outros antibióticos beta-lactâmicos e à vancomicina desde 1997
(SOUZA; REIS; PIMENTA, 2005).
A resistência aos antimicrobianos que os Staphylococcus aureus possuem, se dá por
meio de três mecanismos distintos:
A hiperprodução de beta-lactamase;
A presença de uma proteína ligadora de penicilina;
A modificações na capacidade de ligação das PBPs.
19
Os S. aureus possuem cincos tipos de PBPs, que são enzimas catalisadoras que atuam
na etapa final da síntese da parede bacteriana e é encontrada na membrana celular da bactéria.
As enzimas PBPs 1, 2 e 3 são essenciais e têm alta afinidade aos antibióticos beta-lactâmicos.
A resistência dos S. aureus a esses antibióticos se dá pela produção de uma enzima PBP
anormal, a PBP 2a com baixa afinidade aos antibióticos beta-lactâmico. O gene
cromossômico MecA, codifica a proteína alterada e é responsável pela resistência intrínseca
dos Staphylococcus a meticilina e a todos os antibióticos beta-lactâmicos (SOUZA; REIS;
PIMENTA, 2005).
4.10 Prevenção
As medidas profiláticas devem ser tomadas, em pessoas e profissionais portadores de
Staphylococcus aureus, e em pacientes com ferimentos abertos infectados pela bactéria
(VEIGA, 2009).
Deve-se cuidar bem da ferida e da pele, mantendo a área limpa e seca, obter a
higienização das mãos lavando com sabão, água morna ou desinfetante, descartar com
cuidados os curativos usados, deixar o ferimento cicatrizar. É necessário evitar contato com
feridas de pessoas contaminadas. Não ter contato com objetos pessoais de pessoas infectadas
como toalhas, esponjas, escovas de dente, lâminas de barbear entre outros cuidados
profiláticos (VEIGA, 2009).
O controle é possível e depende principalmente da conscientização da equipe de saúde,
haja visto que o principal meio de transmissão se dá por meio das mãos dos profissionais de. As
infecções por MRSA causam considerável morbidade e mortalidade (CCIH, 2002).
Entre as medidas de controle destacam-se a Vigilância por Identificação que tem como
objetivo identificar os pacientes e é realizada nos prontuários (com tarja vermelha) ou no
prontuário eletrônico. Divide-se em Vigilância Microbiológica dos Materiais Clínicos Cultivados,
Vigilância dos pacientes na admissão hospitalar não sendo considerado exame de hemodinâmica
(CCIH, 2002).
Dando continuidade às medidas de controle, vale ressaltar sobre outro fator de extrema
importância que é a precaução de contato que tem o objetivo de controlar a disseminação do
agente. É indicada para pacientes colonizados, adoecidos pelo MRSA e pacientes com história
anterior de infecção, por este agente sem descolonização e controles negativos, os pacientes que
aguardam o resultado de rastreamento de admissão ou transferência interna poderá aguardar em
precauções de contato, dependendo da rotina estabelecida pela CCIH/setor. (CCIH, 2002).
20
Neste caso, faz-se necessário atentar para a questão de visitas e a presença de familiares.
Recomenda-se o uso de luvas para os acompanhantes, e é de suma importância que os mesmos
não façam visitas a outros leitos, para evitar o risco maior de reinfecção ou de contaminação para
outros pacientes (CCIH, 2002).
4.11 Resistências aos ß - Lactâmicos
A ß-lactamase é a enzima responsável pela resistência da cepa de S. aureus, também
chamada de penicilinase, ela hidrolisa o anel ß-lactâmico2 existente no antibiótico, no caso a
penicilina. Age ligando, a transpeptidase (proteína de ligação a penicilina-PBPs4) que regula
os estágios finais da biossíntese de peptideoglicano que se encontra na parede celular da
bactéria (SCRIBEL, 2009).
Contudo, foi possível restabelecer sucesso terapêutico contra cepas produtoras de
penicilinase mediante a combinação de ß-lactâmicos com inibidores de ß-lactamase como
clavulanato ou sulbactam; sabendo que MSSA (Methicillin-Sensitive Staphylococcus aureus)
e MRSA1 (methicillin-resistant S. aureus) têm como característica a susceptibilidade a
hidrólise pela ß-lactamase (SCRIBEL, 2009).
PADOVESE (1997) descreve que os agentes ß-lactâmicos atuam na inibição da
síntese da parede bacteriana por meio da ligação com proteínas específicas associadas com a
construção do peptideoglicano; sua ligação aos ß-Lactâmicos forma um complexo estável,
porém inerte. Os estafilococos resistentes a oxacilina produzem uma PBP2 alterada, sendo
assim chamada de PBP2a, a qual se liga fracamente com os ß-lactâmicos. Esse tipo de
resistência é codificada por um gene cromossômico (mec A) e é chamada de resistência
intrínseca.
O gene mecA3 que codifica a proteína PBP, é carreado por um elemento genético
móvel chamado de SCCmec (Cassete Cromossomal mec de Staphylococcus). O gene mecA se
localiza no cromossomo, em uma ilha genômica denominada SCCmec, que se diferencia em 7
tipos (PADOVESE, 1997).
Os cassetes SCCmec5 são carreadores de algumas sequências de inserção, como os
genes responsáveis pela transcrição do mecA, como Λmec R1(SCC mec tipo I, IV e V, VI e
¹MSRA: S. aureus resistentes a meticilina
2
B-lactamicos : enzima responsável pela resistência da cepa de S. aureus
3
Gene MecA: codificador da proteína
4
PBP: Proteína ligadora de penicilina
5
SCCMEC: carreador de seqüência de inserção de genes
21
VII) ou mecR1 e mec1. É importante ressaltar, que a patogenicidade e virulência está
associada com a capacidade desse microorganismo de produzir alguns fatores de virulência,
incluindo enterotoxinas sorotipo A e Q (SEA-SEQ), toxina 1 da síndrome do choque tóxico
(TSST-1), toxinas citolíticas, toxinas esfoliativas, a leucocidina PVL, proteína A, e diversas
enzimas (SCRIBEL, 2009).
As penicilinas pertencem à família dos antibióticos ß-lactâmicos. Dois mecanismos de
resistência foram descritos em S. aureus. O primeiro corresponde à inativação da droga pela
clivagem do anel ß-lactâmicos. A enzima responsável, ß-lactamase, é codificada pelo gene
blaZ, presente em um plasmídeo. A produção dessa enzima pode ser regulada pela presença
do antibiótico, por intermédio de dois genes adjacentes, blaI e blaR1. O primeiro é um
repressor da transcrição de blaZ, e o segundo, um anti-repressor. Quando não existe penicilina
no meio, BlaI se liga ao promotor de blaZ, inibindo a transcrição. Quando a penicilina está
presente, a proteína se liga à enzima BlaR1, presente na membrana celular, que por sua vez
cliva a enzima BlaI, ativando o promotor de blaZ e, consequentemente, iniciando a produção
de ß-lactamase. (Figura 3)
Figura 3 - Esquema do processo de sinalização para produção de ß-lactamase,
uma enzima que inativa a penicilina
Fonte: http://repositorio.bce.unb.br/bitstream/10482/1485/1/2008_GustavoBalduinoLeite_reduzida
22
4.12 Terapêutica medicamentosa do MRSA
4.12.1 Penicilina
As penicilinas são os antibióticos mais importantes, porém apesar da produção de
outros grupos de antibióticos, as penicilinas ainda ocupam o primeiro lugar na importância e
utilização (GOODMAN, 2003).
Sua estrutura é básica e é composta de um anel tiazolidina, conectado a um anel betalactâmico, que se liga a uma cadeia lateral. O próprio núcleo da penicilina é a principal
exigência estrutural para atividade biológica, pois se houver mudança há perda significativa
da atividade bacteriana. A cadeia lateral determina as características antibacterianas e
farmacológicas de um tipo específico de penicilina. A figura abaixo mostra a estrutura geral
da penicilina (GOODMAN, 2003).
Figura 4 – Estrutura da Penicilina
Fonte: www.infoescola.com/.../estrutura-penicilina.jpg
4.12.2 Oxacilina
A oxacilina é uma penicilina semi-sintética do grupo das isoxazolil penicilina. É
estável em meio ácido e absorvida de maneira adequada quando administrada por via oral. A
mesma também confere alta resistência à clivagem das penicinilases. As isoxazolil penicilina
impedem o crescimento da maioria dos estafilococos produtores de penicinilase. Os valores
comparáveis para a oxacilina variam de 0,4 a 6 ug/ml e não têm eficácia contra bactérias
Gram-negativas (GOODMAN, 2003).
23
A oxacilina exerce sua função bactericida ligando-se às proteínas localizadas na
membrana citoplasmática bacteriana, inibe a síntese da parede celular por acetilação das
enzimas transpeptidases da mesma, impedindo a ligação cruzada das cadeias lineares
peptidioglicâmicas necessária para a resistência e a rigidez da parede, ocorrendo assim o seu
alongamento e, portanto, a lise da bactéria (ARISTON, 2008).
A absorção da oxacilina se dá rapidamente por via intramuscular. Os picos séricos
podem chegar a até 30 minutos após a administração, podendo chegar aos valores de 10,9
ug/ml, se for administrado os 500mg de oxacilina, em adultos saudáveis. A oxacilina se liga
às proteínas séricas a uma taxa de 89% a 94%, principalmente à albumina. A oxacilina é
distribuída nos líquidos sinovial, pleural e pericárdio, bile, escarro, pulmões e ossos. A meiavida deste medicamento pode chegar de 0,3 a 0,8 horas em adultos com função renal normal,
sendo excretado na bile e urina rapidamente, por excreção tubular e filtração glomerular, e
não é dialisável (ARISTON, 2008).
Trata-se de um potente inibidor do crescimento da maioria dos estafilococos
produtores de penicinilase (ARISTON, 2008).
A oxacilina está indicada para casos de infecção por Staphylococcus produtores de
penicinilase, podendo ser utilizada antes dos resultados dos testes laboratoriais. Um dos mais
importantes efeitos adversos é a hipersensibilidade ao medicamento. As reações adversas
ocorrem no prazo máximo de 20 minutos após a administração da droga e vão desde a
urticária e prurido até angioedema, o laringoespasmo, o broncoespasmo, a hipotensão, o
colapso vascular e até o óbito. As reações anafiláticas imediatas são raras, mas podem ocorrer
após administração por via parenteral. Outras reações como febre, urticária e prurido ocorrem
entre 20 minutos a 48 horas após a administração. Em relação às reações tardias ocorrem após
as 48 horas e se prolonga por até quatro semanas depois de iniciado o tratamento, os sintomas
são febre, mialgia, artralgia, urticária, dor abdominal e mal-estar (ARISTON, 2008).
Para um adulto, a dose diária de oxacilina é de 2 a 4 g, divididas em quatro tomadas;
para crianças são dadas doses de 50 a 100 mg/Kg/dia, da mesma forma. Existe também a
forma injetável, onde se pode administrar, por via intramuscular. A dosagem de oxacilina em
adulto é de 2 a 12 g/dia e para a criança 100 a 300 mg/Kg/dia, tendo um intervalo de 4 a 6
horas entre cada dose. Se administrado por via oral, deve ser administrado antes ou após as
refeições, em função da absorção. Sua concentração plasmática chega, em uma hora após a
administração de um 1g de oxacilina, com valores de 5 a 10 ug/ml (GOODMAN, 2003).
24
5- METODOLOGIA
5.1 Local da Pesquisa
A pesquisa foi realizada no Hospital Regional da Ceilândia (HRC) em Brasília-DF,
inaugurado em 27 de agosto de 1981. Em relação ao serviço de saúde, o HRC conta
atualmente, com um atendimento de emergência (Pronto-Socorro), com 12 (doze) Centros de
Saúde, 01 (um) Laboratório regional e 01 (um) Posto de Saúde Rural. O hospital conta
também com clínicas de várias especialidades (Clínica Médica, Clínica Cirúrgica, Centro
Cirúrgico, Centro Obstétrico, e UTI adulto e neonatal). A Ceilândia é uma cidade satélite de
Brasília, localizada a 24 quilômetros do Plano Piloto e ocupa uma área de 232 Km2.
5.2 Tipo de Pesquisa
Trata-se de um estudo de caso. É uma categoria de pesquisa cujo objeto é uma unidade
que se analisa profundamente. Pode ser caracterizado como um estudo de uma entidade bem
definida, como um programa, uma instituição, um sistema educativo, uma pessoa ou uma
unidade social. É uma investigação que se assume como particularística, debruçando-se sobre
uma situação específica, procurando descobrir o que há nela de mais essencial e característico.
5.3 Desenvolvimento do Estudo
Foi realizado o contato com o Diretor do Núcleo de Controle de Infecção Hospitalar
no HRC, onde foi solicitado o quantitativo de pessoas com infecção hospitalar por
Staphylococcus aureus resistente a oxacilina no ano de 2009. Foram repassados os dados da
totalidade das Unidades de serviço do hospital, sendo que a maioria dos casos foram oriundos
da UTI; por isso a opção de realizar o estudo naquela unidade.
5.3.1 População a ser Estudada
No período de janeiro a junho de 2009 foram relatados 05 de casos de infecção
hospitalar por Staphylococcus aureus resistente à oxacilina, na Unidade de Terapia Intensiva
(UTI).
25
5.3.2 Seleção da Unidade a ser Pesquisada
Após os números coletados de pessoas infectadas por Staphylococcus aureus
resistente a oxacilina, foi optado por fazer a pesquisa na Unidade de Terapia Intensiva (UTI)
do Hospital Regional da Ceilândia, onde dos quarenta e cinco pacientes internados nesta
unidade, cinco estavam com infecção resistente à bactéria em questão.
5.4 Critérios de Inclusão
Foram incluídos os pacientes internados na UTI que apresentaram confirmação da
infecção pelo Staphylococcus aureus resistente, no ano de 2009.
5.5 Critérios de Exclusão
Estão excluídos os pacientes confirmados com infecção por Staphylococcus aureus
resistente na UTI, cujo prontuário tenha desaparecido e aqueles sem confirmação da infecção.
5.6 Instrumentos de Pesquisa
As variáveis analisadas neste estudo incluiram a idade, o sexo, o tempo de internação,
o estado geral do paciente, os fatores de risco no momento da internação e a doença de base
que originou a infecção, além do perfil do teste de sensibilidade dos Staphylococcus aos
antibióticos.
5.7 Aspectos Éticos
O estudo foi submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa da SES-DF e aprovado pelo
processo Nº 289/10 no dia 15/09/2010.
26
6 - RESULTADOS
Foram analisados três casos, sendo que os demais prontuários não foram identificados
na Unidade de Saúde.
Relato de Caso 1
Paciente do sexo masculino, 82 anos de idade, casado, natural de Unaí-MG, com
ensino fundamental incompleto. A internação foi motivada por foi uma crise convulsiva, com
diagnóstico de insuficiência respiratória aguda, insuficiência renal crônica, pneumonia e
sepse. Em relação à história clínica do paciente, o mesmo era cardiopata, portador de doença
de chagas e hipertenso. Estava em uso de anti-hipertensivo.
A história da doença teve início no dia 03/01/2009, com perda total do nível de
consciência onde foi encaminhado ao hospital de Planaltina e transferido para a UTI do HRC,
intubado, sob uso de ventilação mecânica (VM) modo assistido controlado (A/C), fração de
oxigênio inspirada (FiO2) de 70,0%, sedado com fentanil e dormonid 20ml/h.
Hemodinamicamente instável, em uso de noradrenalina, apresentava também um
pneumotórax E. Foi instalado dreno de tórax e pressão arterial invasiva (PAI). O paciente
permaneceu internado durante 16 dias, onde evoluiu para uma parada cardiorrespiratória
(PCR) seguido de óbito.
No período de internação na UTI paciente apresentava-se ao exame físico com um
estado geral comprometido, sedado, pulmões com ruídos adventícios, febril e anasarca.
Utilizava sonda nasogástrica e sonda vesical de demora, dreno de tórax e traqueostomia.
Paciente em hemodiálise. No dia do óbito, evoluiu para uma parada cardiorrespiratória sendo
feita as manobras de ressuscitação sem êxito.
Quanto aos exames solicitados foram realizadas culturas tendo resultado positivo da
hemocultura para Staphylococcus aureus, como mostra a tabela 2 abaixo.
Tabela 2: Relato de caso 1 – Mostrando a sensibilidade e a resistência dos antibióticos.
Antibióticos
Material
Sensível *
SIM
NAO
Resistente *
SIM
NAO
Penicilina
Sangue
_______
_______
X
_______
Cefalosporina
Sangue
_______
_______
X
_______
Quinolona
Sangue
_______
_______
X
_______
Aminoglicosídeos
Sangue
_______
_______
X
_______
27
Glicopeptídeos
Sangue
X
_______
_______
_______
Tetraciclinas
Sangue
_______
_______
X
_______
Macrolídeos, azalídeos e Cetolídeos
Sangue
_______
_______
X
_______
Lincosamidas
Sangue
_______
_______
X
_______
Rifamicinas
Sangue
_______
_______
X
_______

Hemocultura positiva para Staphylococcus aureus, com crescimento superior a 1.000.000 UFC
Quanto ao uso de antibióticos, durante a internação, o paciente fazia uso de tienan
(carbepenemas - imipenem) 500mg IV de 12/12h, e tazocin (penicilina - piperacilina +
tazobactam) 500mg 8/8h.
Relato de Caso 2
Paciente do sexo feminino, 56 anos de idade, casada, natural da Ceilândia, com nível
de escolaridade de segundo grau incompleto. A paciente internou com uma crise asmática, e
diagnóstico de insuficiência renal aguda associada à pneumonia.
A história da doença teve início no dia 08/01/2009, onde a paciente chegou ao HRC
trazida pelo SAMU e deu entrada na UTI sendo sedada, intubada, em ventilação mecânica
(VM), fração de oxigênio inspirada (FiO2) 40,0%, persistência de uma pressão alveolar
positiva (PEEP) de 12,5. Durante a admissão, foi submetida a uma sondagem nasogástrica,
nasoenteral e vesical de demora. Foi traqueostomizada. Permaneceu internada na UTI durante
15 dias, e posteriormente transferida para clínica médica do HRC, com alta hospitalar.
Após oito dias da alta, paciente retornou ao hospital com febre de 38,6ºC, com
possível diagnóstico de AVCI. Frente à possibilidade de infecção por bactéria multiresistente,
pela recente internação na UTI, foi solicitado hemocultura e prescrito meropenem. Na cultura
foi constatada a infecção por Staphylococcus aureus. No dia 28/04/2009 paciente recebeu alta
melhorada. Após a alta, foi encaminhada para tratamento ambulatorial.
Quanto aos exames solicitados foram realizados cultura de secreção traqueal e para
hemocultura, tendo resultado positivo para Staphylococcus aureus, como mostra a tabela 3
abaixo.
Tabela 3: Relato de caso 2 – Mostrando a sensibilidade e a resistência dos antibióticos
Antibióticos
Penicilina
Material
Sangue/
Hemocultura
28
Sensível *
SIM
NAO
_______
_______
Resistente *
SIM
X
NAO
_______
Cefalosporina
Sangue/
_______
_______
X
_______
Hemocultura
Quinolona
Sangue
_______
_______
X
_______
Aminoglicosídeos
Sangue/
_______
_______
X
_______
Hemocultura
Glicopeptídeos
Sangue
X
_______
_______
_______
Tetraciclinas
Sangue/
X
_______
_______
_______
Hemocultura
Propanodiol
Hemocultura
_______
_______
_______
_______
Macrolídeos, azalídeos e Cetolídeos
Sangue
_______
_______
X
_______
Lincosamidas
Sangue
_______
_______
X
_______
Rifamicinas
Sangue
X
_______
_______
_______
Sulfamidas
Hemocultura
_______
_______
_______
_______

Secreção traqueal e hemocultura positiva para Staphylococcus aureus, com crescimento superior a
1.000.000 UFC
Quanto ao uso de antibióticos, durante o período de internação, o paciente fazia uso de
meronem (carbapenemas – meropenem) 2g IV de 12/12h, vancomicina (glicopeptídeo) 1g IV
6/6h, zyvox (oxazolidinonas - linezolida), tienam (carbapenemas - imipenem) 500mg IV 6/6h
e amicacina (aminoglicosídeos) 1g 1xdia.
Relato de Caso 3
Paciente do sexo feminino, 27 anos de idade, branca, casada, do lar, residente e
procedente do DF. O motivo da internação foi febre de 39,0°C, calafrios, náuseas, vômitos e
sudorese. Em relação à história clínica a paciente era portadora de SIDA e alérgica a
sulfametoxazol e trimetoprima.
A história da doença teve início em 30/04/2009, onde a paciente fez exames de RX de
tórax, e obteve resultado de infiltrado intersticial na base do pulmão E, diagnosticada
pneumonia e infecção do trato urinário. Posteriormente, paciente encontrava-se com anemia,
tosse e falta de ar, recebeu transfusão sanguínea. Instalado sonda vesical de demora e
nasogástrica. Puncionado cateter em região femoral E. No dia 30 de maio de 2009 paciente
encontrava-se grave, sedada em ventilação mecânica (VM), modo assistido controlado (A/C),
traqueostomizada (TOT), apresentando epistaxe, hematemese e melena com presença de
coágulos, anasarca e com escoriações pelos membros, com óbito no dia 17 de Junho de 2009.
Quanto aos exames solicitados foram realizados culturas de secreção traqueal onde se
obteve resultado positivo para Staphylococcus aureus, como mostra a tabela 4 abaixo.
29
Tabela 4: Relato de caso 3 – Mostrando a sensibilidade e a resistência dos antibióticos
Antibióticos
Material
Sensível *
SIM
Resistente *
NAO
SIM
NAO
Penicilina
Sec. traqueal
_______
_______
X
_______
Cefalosporina
Sec. traqueal
_______
_______
X
_______
_______
_______
_______
_______
_______
_______
X
_______
_______
_______
_______
_______
Carbapenemas
Quinolona
Sec. traqueal
Monobactâmicos
Aminoglicosídeos
Sec. traqueal
X
_______
_______
_______
Glicopeptídeos
Sec. traqueal
X
_______
_______
_______
Tetraciclinas
Sec. traqueal
X
_______
_______
_______
_______
_______
_______
_______
Sec. traqueal
_______
_______
X
_______
Lincosamidas
Sec. traqueal
_______
_______
X
_______
Rifamicinas
Sec. traqueal
X
_______
_______
_______
Sulfamidas
_______
_______
_______
_______
Oxazolidinonas
_______
_______
_______
_______
Propanodiol
Macrolídeos, azalídeos e
Cetolídeos

Secreção traqueal positiva para Staphylococcus aureus, com crescimento superior a 1.000.000 UFC
Quanto ao uso de antibióticos, durante o período de internação, o paciente fazia uso de
clindamicina (lincosamidas) 600mg IV 8/8h, azitromicina (macrolídeos, azalídeos e
cetolídeos) 500mg IV 8/8h, maxcef (cefepina – cefalosporina de 4º geração) 1g IV 12/12.
7 - DISCUSSÃO
Os três casos relatados foram relativos à pacientes com imunodeficiência ocasionada
por infecção hospitalar por Staphylococcus aureus resistente, com doença crônica e relatos de
vários procedimentos invasivos. Os pacientes estavam internados na Unidade de Terapia
Intensiva e foram submetidos a vários procedimentos invasivos tais como sondagens
nasoenteral, nasogástrica e vesical (30,0%), dreno de tórax (40,0%), cirurgias (12,0%),
pressão arterial invasiva e traqueostomia (15,0%), ventilação mecânica (20,0 a 35,0%),
hemodiálise (25,0%), entre outros. A Agência de Vigilância Sanitária, (2007), assinala que
cerca de 10,0% das infecções que ocorrem nos pacientes hospitalizados são uma consequência
dos procedimentos invasivos ou terapia imunossupressora. Também destaca que as Unidades
de Terapia Intensiva são os reservatórios das bactérias multiresistentes. MUNDIN, DEZENA,
et al, (2002), relatou que os Staphylococcus aureus são os responsáveis por 30,0% das
infecções por Staphylococcus aureus resistente que ocorrem dentro dos hospitais. O
30
Staphylococcus aureus meticilina-resistente é responsável por 60,0% das infecções
hospitalares em UTI. (MARTINS, 2006). Enfim, podemos constatar que as infecções por
Staphylococcus aureus resistentes são responsáveis pela maioria dos casos de infecção por
microrganismo multiresitente conforme literatura.
Neste trabalho, as manifestações clínicas relatadas e apresentadas pelos pacientes
foram febre e sepse, sem manifestação de outros sinais e sintomas. As manifestações clínicas
do Staphylococcus aureus podem ser cutâneas ou sistêmicas. As cutâneas incluem: foliculite,
impetigo, furúnculos, carbúnculos e a síndrome estafilocócica da pele escaldada. Tendo
causado uma bacteremia, esta bactéria pode produzir endocardite, osteomelite, piocardite e
meningite. A síndrome do choque tóxico, que está relacionada com a produção da toxina de
mesmo nome é caracterizada por febre, hipotensão, vertigem, descamação, vômitos, cefaléia,
calafrios e faringite. Dentre os agentes de infecções hospitalares, o Staphylococcus aureus
resistente encontra-se como o microrganismo com maior índice de morbidade e mortalidade.
(GABRIEL, 2009). Entretanto, os pacientes apresentaram febre e sepse, isso se deve pelo fato
do tamanho da amostra.
Neste estudo, quanto à idade e sexo, os pacientes estavam entre 20 a 85 anos de idade,
eram dois do sexo feminino e um masculino. DELANEY (2008) descreveu que pacientes
infectados por MRSA, eram frequentemente, do sexo masculino e tinham maior freqüência de
comorbidades. A faixa etária de 60 a 80 anos juntamente com o processo infeccioso por
Staphylococcus aureus, aumentam a morbimortalidade desses pacientes quando comparados
aos mais jovens. (BÔAS, RUIZ, 2004). Nesta casuística, houve maior frequência de casos de
Staphylococcus aureus resistente em mulheres, esse viez, entretanto, se deu em função do
tamanho da amostra.
Quanto ao tempo de hospitalização e óbito, os pacientes tinham uma média de
internação de 17 dias ou mais e posteriormente vinham a óbito. As infecções por
microrganismos resistentes, como o Staphylococcus aureus, são a causa mais comum de
disfunção orgânica e morte em pacientes internados em UTI. A mortalidade entre infectados
por Staphylococcus aureus meticilina-resistente é de 35,1%. (MARTINS, 2006). Enfim, as
análises mostraram óbito em dois dos três pacientes, isso de deve pelo fato do tamanho da
amostra.
31
CONCLUSÕES
Conclui-se que as três pessoas infectadas, apresentavam idade que variavam de 20 a
85 anos, sendo duas do sexo feminino e o outro masculino. As internações foram motivadas
por crise asmática e convulsão, além de febre. Todas as pessoas foram submetidas a
procedimentos invasivos tais como: sondagens nasoenteral, nasogástrica e vesical, drenagem
de tórax, pressão arterial invasiva, traqueostomia, ventilação mecânica e hemodiálise. O
resultado das amostras de cultura da secreção traqueal e hemocultura apresentaram resistência
a oxacilina. Dos três pacientes descritos no estudo, dois foram a óbito, e um caso recebeu alta.
A incidência de infecção dos Staphylococcus aureus resistente foi de 11,11%, sendo 45
pacientes internados na UTI no período equivalente a janeiro a junho de 2009.
32
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A CCIH (Comissão de Controle de Infecção Hospitalar) possui atribuições como:
detectar casos de infecção hospitalar, seguindo critérios de diagnósticos previamente
estabelecidos, conhecer as principais infecções hospitalares detectadas no serviço e definir se
a ocorrência destes episódios de infecção está dentro de parâmetros aceitáveis, elaborar
normas de padronização para que os procedimentos realizados na instituição sigam uma
técnica asséptica, diminuindo o risco do paciente adquirir infecção. Além de colaborar no
treinamento de todos os profissionais da saúde no que se refere à prevenção e controle das
infecções hospitalares, realizar controle da prescrição de antibióticos, evitando que os mesmos
sejam utilizados de maneira descontrolada no hospital, recomendar as medidas de isolamento
de doenças transmissíveis, quando se trata de pacientes hospitalizados, oferecer apoio técnico
à administração hospitalar para a aquisição correta de materiais e equipamentos e para o
planejamento adequado da área física das unidades de saúde.
De acordo com a portaria do Ministério da Saúde Nº 1626, de 1998, todos os hospitais
devem possuir uma Comissão de Controle de Infecção hospitalar. Daí a necessidade dessa
Comissão trabalhar em conjunto com os setores para diminuir os casos de infecção,
principalmente as infecções causadas pelos Staphylococcus aureus.
33
BIBLIOGRAFIA
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aureus no Hospital Universitário de Brasília, 2008, 100f. Dissertação de Mestrado
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