ESCOLA DE SAÚDE PÚBLICA DO CEARÁ CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM ASSISTÊNCIA FARMACÊUTICA FITOTERAPIA APLICADA EM FARMÁCIAS COMUNITÁRIAS: ESTUDO DOS FITOTERÁPICOS ANSIOLÍTICOS, SEDATIVOS E ANTIDEPRESSIVOS. LUSIVÂNIA CARLOS MOURA FORTALEZA 2006 LUSIVÂNIA CARLOS MOURA FITOTERAPIA APLICADA EM FARMÁCIAS: ESTUDO DOS FITOTERÁPICOS ANSIOLÍTICOS, SEDATIVOS E ANTIDEPRESSIVOS. Monografia submetida à Escola de Saúde Pública do Ceará, como parte dos requisitos para a obtenção do Título de Especialista em Assistência Farmacêutica. Orientadora: Profa. Dra. Mary Anne Medeiros Bandeira Fortaleza 2006 DEDICATÓRIA Aos meus sobrinhos Ana Júlia, Ana Carolina, Eduardo, Helena, Natasha e Vanaldo Junior, que o grande amor que sinto por vocês e o exemplo da importância do estudo na construção do futuro seja demonstrado através da dedicação desse trabalho. AGRADECIMENTOS A Deus, por tudo que tem sido na minha vida. A Mary Anne, orientadora deste trabalho, pelo incansável incentivo e disponibilidade e mais ainda por ser uma amiga fiel das horas mais incertas da minha vida. A Marjorie, amiga presente, pelo inestimável incentivo e auxílio na análise dessa monografia. “Um amigo... Pode até ser útil eventualmente, mas não é isso que o torna um amigo. Sua inútil e fiel presença torna nossa solidão uma experiência de comunhão. Diante de um amigo sabemos que não estamos sós.” Rubem Alves. FITOTERAPIA APLICADA EM FARMÁCIAS: ESTUDO DOS FITOTERÁPICOS ANSIOLÍTICOS, SEDATIVOS E ANTIDEPRESSIVOS. Monografia submetida à Escola de Saúde Pública do Ceará, como parte dos requisitos para a obtenção do Título de Especialista em Assistência Farmacêutica. Data da Aprovação: ______/______/______ BANCA EXAMINADORA Profa. Dra. Mary Anne Medeiros Bandeira (Orientadora) Profa. MS. Marjorie Moreira Guedes Prof. MS. Ricardo Carvalho de Azevedo e Sá SUMÁRIO INTRODUÇÃO 13 1. OBJETIVOS 16 2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 17 2.1. Generalidades: Ansiedade e Depressão 17 2.2. Tipos de Antidepressivos Sintéticos Disponíveis no Mercado 27 2.2.1. Inibidores de monoáminaoxidase (IMAO) 27 2.2.2. Antidepressivos tricíclicos (ADT) 27 2.2.3. Inibidores seletivos de recaptação de serotonina (ISRS) 27 2.3. Fitoterápicos em Psiquiatria 29 2.4. Plantas Medicinais Antidepressivas, Ansiolíticas e Sedativas 32 2.4.1. Hipérico (Hypericum perforatum L.) 32 2.4.2. Kava-kava (Piper methysticum Forst) 34 2.4.3. Maracujá (Passiflora incarnata L.) 35 2.4.4. Valeriana (Valeriana officinalis L) 36 2.4.5. Melissa (Melissa oficinalis L) 41 3. METODOLOGIA 42 4. RESULTADOS E DISCUSSÃO 43 5. CONCLUSÃO 55 6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 56 ANEXOS 59 LISTA DE TABELAS Tabela 1 – Fitoterápicos usados como ansiolíticos. 43 Tabela 2 – Fitoterápicos usados como sedativos. 45 Tabela 3 – Fitoterápicos usados como antidepressivos. 48 LISTA DE ANEXOS Anexo 1- Ficha Técnica Anexo 2 - RDC n° 48, de 16 de março de 2004 (ANVISA). Anexo 3 - RDC n°89, de 16 de março de 2004 (ANVISA) Anexo4 - RDC n°17, de 24 de fevereiro de 2000 (ANVISA) LISTA DE ABREVIATURAS ADT - Antidepressivos Tricíclicos ANVISA – Agência Nacional de Vigilância Sanitária EMT - Estimulação Magnética Transcraniana GABA – Ácido Gama Aminobutírico. IMAO - Inibidores de Monoáminaoxidase ISRS - Inibidores Seletivos de Recaptação de Serotonina OMS – Organização Mundial da Saúde RDC - Resolução da Diretoria Colegiada REM- Movimento Rápido dos Olhos SER- Secretaria Executiva Regional LISTA DE GRÁFICOS Gráfico 1 – Fitoterápicos que Apresentam Frases ou Ilustrações que Induzam a 50 Automedicação Gráfico 2 - Fitoterápicos que Apresentam Indicação Terapêutica na Embalagem Externa 51 Gráfico 3 - Fitoterápicos que Apresentam Restrição de Uso 52 Gráfico 4 - Fitoterápicos que Informam a Parte da Planta Utilizada na Embalagem Externa 53 Gráfico 5- Fitoterápicos que obedecem a legislação em vigor 54 RESUMO Nos últimos anos tem aumentado a venda dos fitoterápicos que atuam no Sistema Nervoso Central, principalmente os antidepressivos, ansiolíticos e os sedativos. Verificar a adequação à legislação vigente dos fitoterápicos utilizados com atividade antidepressiva, ansiolítica e sedativa comercializados em farmácias comunitárias no Município de Fortaleza.. Caracteriza-se como estudo observacional e transversal da adequação desses fitoterápicos através do preenchimento de uma ficha técnica. As plantas medicinais constantes no presente estudo foram selecionadas tomando-se como base a Lista Simplificada de Fitoterápicos, RDC 89, na qual encontra-se listadas as seguintes plantas: Valeriana officinalis L., Melissa officinalis L., Passiflora incarnata L., Hypericum perforatum L., Pipper methysticum Forst. Foram analisadas as embalagens de cada fitoterápico atentando-se para os seguintes itens: nome comercial, composição, indicação terapêutica, presença de bula, se existem frases ou ilustrações que induzem à automedicação, restrição de uso e registro no Ministério da Saúde. Foram observados os tipos de fitoterápicos ansiolíticos, sedativos e antidepressivos dispensados em Farmácias de Fortaleza, no período de janeiro a setembro de 2006. Os resultados demonstraram que 43,48% dos fitoterápicos analisados apresentaram frases ou ilustrações que induzem à automedicação; 60,87% apresentaram indicação terapêutica na embalagem externa; 52,18% apresentaram restrição de uso; 34,79% informaram a parte da planta utilizada na embalagem externa. Observou-se que 90,9% dos fitoterápicos antidepressivos, ansiolíticos e os sedativos estavam de acordo com a legislação em vigor. 13 INTRODUÇÃO A fitoterapia tem se tornado cada vez mais popular entre os povos de todo o mundo. É reconhecida a importância dos produtos naturais, incluindo aqueles derivados de plantas, no desenvolvimento de modernas drogas terapêuticas (CALIXTO, 2001). As plantas medicinais são importantes para a pesquisa farmacológica e o desenvolvimento de drogas, não somente quando os seus constituintes são usados diretamente como agentes terapêuticos, mas também como matériasprimas para a síntese, ou modelos para compostos farmacologicamente ativos (WHO, 2002). Estima-se que aproximadamente 40% dos medicamentos atualmente disponíveis foram desenvolvidos direta ou indiretamente a partir de fontes naturais, assim subdivididos: 25% de plantas, 12% de microorganismos e 3% de animais (CALIXTO, 2001). Das 252 drogas consideradas básicas e essenciais pela OMS, 11% são originárias de plantas e um número significativo são drogas sintéticas obtidas de precursores naturais. Além disso, nas últimas décadas, o interesse populacional pelas terapias naturais tem aumentado significativamente nos países industrializados e acha-se em expansão o uso de plantas medicinais e fitoterápicos (WHO, 2002). No Brasil, estima-se que 25% dos US$ 8 bilhões do faturamento da indústria farmacêutica, no ano de 1996, foram originados de medicamentos derivados de plantas. Considerase também que as vendas neste setor crescem 10% ao ano, com estimativa de terem alcançado a cifra de US$ 550 milhões no ano de 2001. Estados Unidos e Alemanha estão entre os maiores consumidores dos produtos naturais brasileiros. Entre 1994 e 1998, importaram, respectivamente, 1521 e 1466 toneladas de plantas, que seguem para esses países sob o rótulo genérico de "material vegetal do Brasil", de acordo com IBAMA (SILVA et al., 2001). Embora o nosso País possua a maior diversidade vegetal do mundo, com cerca de 60.000 espécies vegetais superiores catalogadas, apenas 8% foram estudadas para pesquisas de compostos bioativos e 1.100 espécies foram avaliadas em suas propriedades medicinais (RODRIGUES, 2004). 14 Tem crescido significativamente a comercialização desses fitoterápicos e são descobertas novas utilizações para esses. Praticamente, todos os grupos terapêuticos possuem um substituto fitoterápico que exerça atividade farmacológica semelhante (WHO, 2002). Paralelo a esse crescimento, as agências regulamentadoras e fiscalizadoras também têm aumentado sua preocupação quanto à manipulação e venda desses medicamentos, principalmente, com relação aos que atuam no Sistema Nervoso Central: os antidepressivos, ansiolíticos e os sedativos. Hoje no mercado, os principais medicamentos que se enquadram nessa fiscalização mais cautelosa, que devem ser dispensados com prescrição médica, são os que possuem as espécies vegetais: Hipérico (Hypericum perforatum), Valeriana (Valeriana officinalis), Kava Kava (Piper methisticum). Os que contêm o maracujá (Passiflora incarnata) e a Cidreira Carmelitana (Melissa oficinallis L) a venda é sem prescrição médica. Existe um vasto leque de nomes comerciais contendo essas drogas. Como o quadro depressivo clinicamente verificável pode ser confundido com manifestações isoladas que podem ser apenas reações comuns diante de situações adversas, sintomas de pessoas infelizes e ansiosas, incluiu-se no presente trabalho, conjuntamente, os fitoterápicos antidepressivos, ansiolíticos e sedativos, que visa contribuir para a orientação farmacêutica quanto ao uso desses tipos de fitoterápicos , bem como alertar para o controle de prescrição e de venda desses últimos, os riscos da automedicação, tratamento inadequado e intoxicações. Esse trabalho consta de uma revisão bibliográfica na qual estão incluídas noções gerais sobre depressão. Para que se possa fazer uma análise comparativa de dados sobre os tipos de medicamentos disponíveis no mercado farmacêutico, foram incluídas informações sobre os tipos de antidepressivos sintéticos e os fitoterápicos e plantas medicinais antidepressivas, ansiolíticas e sedativas. 15 A metodologia utilizada foi aplicada em farmácias no município de Fortaleza, a qual conduziu a dados importantes sobre a adequação dos fitoterápicos utilizados para depressão, ansiedade e como sedativo à legislação vigente regulamentada pela ANVISA. As leis que regulamentam os fitoterápicos são RDC Nº 48, de 16 de março de 2004 e a RDC Nº 89 de 16 de março de 2004, que determina a Lista de Registro Simplificado de Fitoterápicos, na qual consta as espécies vegetais acima citadas, encontram-se anexas para uma melhor compreensão dos resultados alcançados. Na sua parte final estão as conclusões dos resultados alcançados e as referências bibliográficas. 16 1. OBJETIVOS Objetivo Geral Verificar a adequação à legislação vigente dos fitoterápicos utilizados com atividade antidepressiva, ansiolítica e sedativa comercializados em farmácias comunitárias no Município de Fortaleza. Objetivos específicos 1. Verificar a localização dos fitoterápicos dentro das farmácias, se em frente de loja, se em armários ou em prateleiras. 2. Conferir a presença de bula para este tipo de medicamentos. 3. Investigar se há informação sobre a parte da planta utilizada nos fitomedicamentos. 4. Verificar os fitoterápicos comercializados nas farmácias em relação a nome comercial, princípios ativos e indicação terapêutica. 5. Investigar se há ilustrações ou frases que induzem à automedicação desses medicamentos. 6. Averiguar se os fitoterápicos estudados possuíam restrição de uso e registro no órgão competente. 7. O presente trabalho visa contribuir para a orientação farmacêutica quanto ao uso desses tipos de fitoterápicos, bem como alertar para o controle de prescrição, venda, riscos da automedicação, tratamento inadequado e intoxicações. 17 2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 2.1. GENERALIDADES: ANSIEDADE E DEPRESSÃO Segundo estimativas internacionais e do Ministério da Saúde, 3% da população necessita de cuidados contínuos nos transtornos mentais severos e persistentes e mais 9% precisam de atendimento eventual nos transtornos menos graves (LIMA, 2004). A partir da segunda metade do século XX a terapêutica psicofarmacológica revolucionou a prática da psiquiatria e da clínica médica, responsável pelo tratamento da grande maioria dos casos de ansiedade e depressão (LIMA, 2004). A ansiedade é a queixa mais comum em psiquiatria e uma das mais freqüentes na clínica médica. O estado de ansiedade pode acometer até 15% da população adulta de forma quase permanente (LIMA, 2004). Ela tanto pode ser um estímulo à ação como um obstáculo a uma boa performance. Geralmente as pessoas apresentam combinação de manifestações somáticas e psíquicas (HETEM & GRAEFF, 2004). Na década de 80, levantamentos realizados com médicos que atuam nos serviços de saúde primária mostraram que a ansiedade é o problema psiquiátrico mais freqüente encontrado na sua prática (ORLEANS, 1985 & SCHURMAN, 1985). Os transtornos de ansiedade começaram a ser considerados entidade clínica quando G.M. Beard, em 1869, cunhou o termo “neurastenia” para descrever pacientes com graus menores de ansiedade e transtornos depressivos leves (HETEM & GRAEFF, 2004). Em 1871 Da Costa entrou com conceito mais restrito que Beard quando relatou uma síndrome entre os militares da Guerra Civil americana, que chamou de “coração irritável”. Este autor notou que havia relatos de casos semelhantes descritos pelos serviços médicos militares ingleses e alemães cerca de um século antes (ANDRADE, 1994 & GOODWIN, 1996). 18 Em 1895 Freud usou pela primeira vez o termo neurose da ansiedade. Os sintomas seriam as manifestações da ansiedade propriamente dita ou modificadas pelos mecanismos de defesa. Em estudo multicêntrico de morbidade psiquiátrica obteve estimativa de prevalência em três grandes centros urbanos brasileiros. Os transtornos de ansiedade apresentaram as seguintes estimativas de prevalência: 12,1% para Brasília, 6,9% para São Paulo e 5,4% para Porto Alegre (ALMEIDA-FILHO, 1992). O termo depressão assume significados diferentes se utilizado na linguagem comum ou na psiquiatria. Se na linguagem corriqueira indica o estado de tristeza e desânimo da pessoa diante de acontecimento desagradável, decepção ou luto, em âmbito psiquiátrico designa um quadro clínico preciso (distúrbio depressivo), caracterizado por sintomas biológicos e psíquicos espontâneos, aparentemente desproporcionais em intensidade e duração aos acontecimentos que o provocaram. Essa condição se distingue por sintomas como perda de interesse, astenia, incapacidade de sentir prazer, insônia, falta de apetite, diminuição da libido, facilidade de fatigar-se e alterações cognitivas, psicomotoras e neurovegetativas. Esse estado de ânimo invade por inteiro a personalidade acometida. Um indivíduo deprimido experimenta, às vezes com angustia, outras com gélido desespero, a irremediável negatividade da vida. Se em algumas pessoas atinge a existência pessoal (e neste caso podem prevalecer idéias persecutórias, sentimentos de exclusão, inferioridade, indignidade, culpabilidade), outras sentem a própria vida como intolerável. Tudo parece negativo, terrível, irremediável (MALDONATO, 2005). O distúrbio depressivo é conhecido desde a Antigüidade. Nas ultimas décadas, os conhecimentos sobre etiologia, nosografia, diagnóstico e terapia das diversas formas de depressão progrediram notavelmente. As ciências de base, da bioquímica à biologia molecular, da neurofisiologia a psicofarmacologia, forneceram novos elementos, úteis para a compreensão dos mecanismos patogenéticos, para a elaboração de modelos sobre a transmissão genética, a 19 identificação das áreas e dos circuitos nervosos responsáveis pelas diversas manifestações da depressão. Além disso, o renovado interesse pela observação do paciente e pela descrição dos sintomas levou a uma atenção maior para o diagnóstico levando a uma atenção maior para muitos deles, afinadas modalidades de intervenções personalizadas. Algumas formas atenuadas, outrora definidas como neuróticas e tidas como traços estáveis da personalidade, são hoje consideradas manifestações depressivas leves e persistentes, que respondem às terapias. A avaliação da incidência da história familiar, do caráter, da personalidade e da adaptação pré-doença permitiu incluir em seu espectro clínico algumas formas bipolares mistas crônicas, cujo quadro é amiúde dominado por delírios, alucinações e distúrbios do pensamento (MALDONATO, 2005). A introdução de novas substâncias para o tratamento agudo e preventivo permitiu alcançar, na terapia dos distúrbios do humor, resultados nada inferiores aos de outros setores da medicina. Especialmente, a síntese de antidepressivos com ação seletiva sobre os diversos sistemas de neurotransmissores permitiu que fossem dadas respostas às formas antes não tratáveis (MALDONATO, 2005). Do ponto de vista epidemiológico, os dados que concernem à depressão se mostram preocupantes (MALDONATO, 2005). A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que a depressão é atualmente a doença psiquiátrica mais diagnosticada: ocupa o quarto lugar entre os maiores problemas de saúde do Ocidente e é a segunda causa de invalidez, precedida apenas pelas doenças cardiovasculares. O risco de sofrer de um distúrbio depressivo no decurso da vida é de 7% a 12% para os homens e 20% a 25% no caso de mulheres. Os fatores de risco aumentam para o sexo feminino (tornando-se ainda mais elevados nos períodos pós-parto), quando parentes de primeiro grau já sofreram da doença ou ocorreram episódios anteriores de depressão maior. Mulheres são duas vezes mais vulneráveis a distimia do que os homens, ao passo que a depressão maior as atinge três vezes mais (MALDONATO, 2005). 20 Hoje em dia, quase tudo é depressão. A síndrome foi convertida em uma maneira de explicar o homem moderno. Confunde-se, porém, o quadro depressivo clinicamente verificável com manifestações isoladas que podem ser apenas reações comuns de qualquer sujeito diante de situações adversas. Essa indiscriminação acaba por encobrir sintomas de pessoas infelizes, incapazes de se beneficiar da “felicidade total”. Os avanços da sociedade industrial e o desenvolvimento científico coexistem em uma espécie de aliança, na qual o homem se vê enredado. Desde o século XIX, com os avanços alcançados pela medicina científica, a elaboração das classificações nosográficas da psiquiatria e o surgimento da psicanálise, busca-se a compreensão dos estados mentais do homem (BULGUESE, 2004; BULGUESE, 2005). Depois de pesquisar o efeito do uso de drogas, mais especificamente a cocaína em suas ações anestésicas, Freud chegou a profetizar que, no futuro, substâncias químicas substituiriam o tratamento psicanalítico. Ele acreditava que os fármacos poderiam provocar alterações significativas nos estados psíquicos, o que certamente levaria ao abandono das terapias pela palavra (BULGUESE, 2004; BULGUESE, 2005). Hoje é possível interferir na transmissão e na circulação dos conteúdos mentais e neurológicos com substâncias específicas. Existem variadas maneiras de modificar a bioquímica cerebral e, por conseguinte, a expressão biológica dos fenômenos psíquicos. De fato, desde o início dos anos 50, os psicotrópicos constituem, de forma gradual e progressiva a principal opção de tratamento psiquiátrico. Embora os medicamentos representem avanços e progressos inegáveis, eles passaram a ser utilizados muitas vezes de maneira indiscriminada. E, em muitas ocasiões, de forma tão violenta que se pode pensar na “instalação de uma era camisa-de-força medicamentosa” (BULGUESE, 2004; BULGUESE, 2005). Os sistemas sociais têm se valido da psiquiatria, da psicologia e da psicanálise, no desenvolvimento de técnicas que resolvam entraves individuais de forma imediata. A consolidação da depressão como categoria da nosografia psiquiátrica é um fenômeno também originado pela 21 ideologia do sistema dominante, que oferece explicações e mecanismos de controle de reações individuais que fujam e/ou questionem padrões da coletividade. O ponto central reside em encobrir que a depressão é também uma reação da subjetividade perante as dificuldades existenciais contemporâneas (BULGUESE, 2004; BULGUESE, 2005). Atualmente o medicamento tornou-se símbolo da alegria o que promete restituí-la aos seus usuários, que passarão a se reconhecer nos produtos que podem adquirir. Afinal, o que é depressão? A palavra que substitui o uso comum que se fazia das expressões “doença dos nervos” e “sistema nervoso” tornou-se um jargão, cuja finalidade é descrever qualquer tipo de sensação ou mal-estar do indivíduo. Se for possível verificar clinicamente se o sujeito está deprimido pelo mapeamento dos prejuízos físicos e psíquicos que o estado depressivo ocasiona, também o é (com grande freqüência) pela classificação de reações e padrões de comportamentos corriqueiros. O diagnóstico positivo da síndrome pode significar apenas que o indivíduo está ocasionalmente triste ou que nele se instalou um quadro passível de ser verificado clinicamente, no qual indícios denotam que o sujeito está sem condições de superar seu mal-estar. Há diferenças significativas entre classificar o sujeito como depressivo (quase um jeito de ser) e/ou como deprimido (uma espécie de estado superável), Em relação a esses dois extremos surgem questões que conduzem a um mesmo eixo de investigação: como, por que e para que o conceito de depressão se dissemina de forma tão ampla e ambígua? As tentativas de elucidação desses estados, empiricamente verificáveis, resultam em generalização que influencia escolhas e medidas de tratamento. (BULGUESE, 2004; BULGUESE, 2005). Atualmente, sofremos de depressão e não mais do sistema nervoso. Essas expressões têm sido incorporadas pelas classes menos cultas e, embora os médicos aparentemente as rejeitem, sua utilização refere-se à tentativa de explicar as reações do sujeito à organização de um sistema que lhe é transcendente. Há uma referência direta ao suporte biológico, considerado predominante no modo de funcionamento psíquico (BULGUESE, 2004; BULGUESE, 2005). 22 A utilização ampliada do termo “depressão” se sustenta, portanto, na ideologia. Há mais de três décadas, com o aparecimento dos medicamentos antidepressivos, neurolépticos e tranqüilizantes no mercado, a psiquiatria viu-se obrigada a ajustar a terminologia e a conceituação da síndrome. Em conseqüência, deu-se o acirramento da discussão e da investigação acerca da base neurobiológica das doenças mentais. Houve também a disseminação indiscriminada de explicações sobre as mais variadas reações humanas como se tudo fosse depressão (BULGUESE, 2004; BULGUESE, 2005). Evidencia-se assim uma questão que não pode ser ingenuamente descartada, relacionada à submissão dos avanços e das produções científicas à lógica do capital. Horkheimer e Adorno em Indústria cultural (1944) expõem de maneira inequívoca que os interesses econômicos prevalecem na determinação de fatores gerais – desde que valorizado culturalmente pela sociedade, até quais serão os dilemas a fomentar com o objetivo de vender soluções que sempre levem ao lucro. A banalização da depressão, explicada periodicamente nas revistas de circulação semanal, nos jornais diários e na televisão. Demonstra a apropriação do discurso (pseudo) científico para sustentar, sobretudo, as teses que transformam reações psíquicas em sintomas, já oferecendo a solução mágica das pílulas antidepressivas (BULGUESE, 2004; BULGUESE, 2005). É importante ressaltar que, em princípio, o desenvolvimento dos medicamentos pareceu colocar ao homem a possibilidade de recuperar sua liberdade, seja do encarceramento em manicômios, seja do enclausuramento que a doença psíquica provocava. Em relação aos ansiolíticos e antidepressivos, pessoas que sofriam de distúrbios neuróticos limitantes tiveram a oportunidade de se sentir melhor. Porém, com a utilização indiscriminada dessas drogas, as pessoas foram gradualmente condenadas a uma nova forma de alienação com a promessa do fim do sofrimento psíquico por meio de pílulas que apenas suspendem sintomas para reorganizá-los de outro modo. É como se o sujeito precisasse ser curado da condição humana. Pacientes, psicanalistas, psicoterapêutas, psiquiatras e médicos em geral passaram a 23 recorrer às terapêuticas medicamentosas, supostamente eficazes, já que solucionaram em grande parte os problemas dos sujeitos deprimidos. A psicofarmacologia colocou-se imperiosamente baseados em substância químicas oferecidas no mercado. Tornou-se assim o símbolo da ciência triunfante, capaz de explicar o irracional e curar o incurável. Segundo a psicanalista francesa Elizabeth Roudinesco, “o psicotrópico simboliza a vitória do pragmatismo e do materialismo sobre as enevoadas elucubrações psicológicas e filosóficas que tentavam definir o homem”. A ciência converte-se assim em pura mitologia (BULGUESE, 2004; BULGUESE, 2005). O medicamento antidepressivo se transformou ruidosamente na pílula mágica, na alternativa de cura para os mais diversos males. A mesma medicação antidepressiva é ministrada a sujeitos que apresentam distúrbios graves (melancolia ou transtornos psicóticos de humor) e as pessoas que sofrem de distúrbios psíquicos significativos, apenas enfrentam imprevistos, tragédias ou infortúnios. Entretanto, não se pode afirmar que a incidência de estados depressivos tenha aumentado. Quadros psíquicos diversos, a maioria com características histéricas clara, são rapidamente diagnosticados como depressão ou traços depressivos (BULGUESE, 2004; BULGUESE, 2005). Para Bulguese (2005), embora seja evidente que os tratamentos com drogas não se oponham às terapias pela palavra, a aplicação dos antidepressivos aos mais diversos distúrbios em variadas especialidades (até mesmo na clínica geral) circunscreve o remédio como solução eficaz, rápida e asséptica: promete ao sujeito um afastamento pleno no mal-estar. Embora a psicanálise não descarte, necessariamente, as terapêuticas medicamentosas, o manejo clínico pode se tornar bastante difícil, em alguns casos, na medida em que a intervenção psicanalítica não visa a mera eliminação dos sintomas, mas se utiliza deles para encontrar as brechas para aceder ao sujeito. Até a década de 70 a psiquiatria se pautava de modo significativo pelas noções psicanalíticas. Hoje, no entanto, a psicanálise perdeu sua posição hegemônica, deixando de ser eixo prioritário para a explicação e o tratamento das afecções mentais, sobretudo nos Estados Unidos. 24 Neste país, a medicina voltou-se para a neurociência e incorporou o discurso médico e psiquiátrico. O objetivo não é mais curar os males e sim encontrar a melhor e mais econômica maneira de administrar o mal-estar. O espantoso é que, assim, o sintoma deixa de funcionar como elementos e se converte no substrato, no alimento desta subvida em sociedade (BULGUESE, 2004; BULGUESE, 2005). Pesquisadores ressaltam que a indústria cultural se fundiu com a publicidade. Comparavam a propaganda ao “elixir da vida”, já que muitas vezes reduz o produto a uma simples promessa. Em relação às indústrias farmacêuticas, intensificou-se de modo a transformar a saúde e os remédios em bens de consumo. Com a estruturação dessa indústria e o aumento significativo da concorrência, a pressão do Sistema levou à utilização das técnicas de publicidade. Nesse sentido, a indústria farmacêutica visa a transformação dos remédios – que deveriam, em tese, ser considerados essenciais ao tratamento das doenças – em produtos divulgados e vendidos dentro da lógica do capital (BULGUESE, 2004; BULGUESE, 2005). O discurso da ciência obviamente não se coloca como sustentáculo dos interesses da indústria. No entanto, avanços científicos e tecnológicos são distorcidos e parcialmente utilizados, de modo a oferecer, mesmo que inadvertidamente, argumentos sobre os quais se assenta a lógica do capital (BULGUESE, 2004; BULGUESE, 2005). A relação entre produção e discurso científico – bens inquestionáveis da sociedade moderna – e as estruturas econômicas configura um tipo de aliança perversa: a ciência pode sustentar interesses econômicos que, por seu turno, tendem a distorcer e anular o que é investigado e comprovado. Na sociedade do espetáculo , a ideologia da depressão fundamenta-se essencialmente na idéia de que os sujeitos devem parecer alegres, felizes, bem-sucedidos e adaptados à vida social. Nessa perspectiva, qualquer reação subjetiva que denote reconhecimento, isolamento e reflexão costuma ser considerada inapropriada, sobretudo se forem consideradas as ofertas das pílulas e das drogas que, finalmente, garantiriam o bem-estar e a felicidade prometidos, 25 pela civilização moderna (BULGUESE, 2004; BULGUESE, 2005). Nesse entrecruzamento, difundiram-se todas as estratégias de venda e marketing, sendo impossível avaliar corretamente a produção industrial e a difusão comercial das drogas nos anos recentes, sem pensar no lugar estratégico ocupado pelos avanços científicos da bioquímica e da psicofarmacologia. Especificamente a depressão, e não qualquer outra doença ou patologia da contemporaneidade, adquire importância à medida que passa a representar a resposta evidente aos impasses de natureza social. A cristalização das estruturas sociais e a tentativa de adaptação do homem a uma existência alienada e alienante são características da evolução da sociedade capitalista, que alcança hegemonia, abrangendo tensões e angústias que o sujeito vive como próprias. Assim, as drogas e os remédios se convertem em saídas particulares, caminhos que o indivíduo vai buscar na tentativa de solucionar questões que lhe são transcendentes (BULGUESE, 2004; BULGUESE, 2005). A lógica da depressão é fundada na irracionalidade. Não é possível explicar com profundidade as patologias psíquicas por meio da depressão. Mesmo em casos considerados graves, a óptica simplista não permite elucidar a questão e muito menos tratar os pacientes. De todo modo, é preciso destacar os ganhos objetivos nas mais diversas áreas para as quais o progresso científico foi fundamental. A medicina científica avançou significativamente em relação a sua capacidade de controlar e extinguir doenças graves, o que aumentou a longevidade do homem. Diante do agravamento das patologias psíquicas, que podem provocar intenso sofrimento e desgaste, limitando consideravelmente as possibilidades de vida, os avanços científicos obtidos pelas neurociências e pela farmacologia são notáveis e trouxeram auxílio efetivo. Entretanto, as promessas da ciência foram cumpridas apenas em parte, pois o progresso não propiciou a estruturação de um modelo social que conduzisse à anunciada felicidade (BULGUESE, 2004; BULGUESE, 2005). 26 Os números são assustadores: 10 milhões de brasileiros sofrem de depressão. Estima-se que a síndrome se manifeste em 15% a 20% da população mundial pelo menos uma vez durante a vida. Quem sofre a primeira crise tem 50% de chance de reincidência. Após o segundo episódio, a probabilidade sobe para 70% e a partir, do terceiro pula para 90%. Apesar das estatísticas pouco animadoras existem diversos recursos disponíveis para controlar a doença que, dependendo da intensidade, além da tristeza profunda e inexplicável, pode incluir entre seus sintomas distúrbios de sono e do apetite, irritabilidade, cansaço, perda da memória, dores de cabeça e no corpo, problemas digestivos e até mesmo pensamentos suicidas (VANCOCELLOS, 2005). Até a década de 70, quando surgiram os primeiros antidepressivos, o único tratamento disponível contra o distúrbio era a psicoterapia. Atualmente, existem mais de 60 medicamentos no mercado. Eles estão na linha de frente no combate ao problema, já que a depressão envolve alterações neuroquímicas - embora também tenha fortes implicações psíquicas, emocionais e sociais. Do ponto de vista neurológico, o cérebro do depressivo sofre uma queda nos níveis de serotonina, dopamina e noradrenalina (neurotransmissores relacionados ao equilíbrio emocional). Os antidepressivos restabelecem esses níveis (VANCOCELLOS, 2006). Além das quatro classes de antidepressivos comercializados desde as décadas de 80 e 90, o arsenal de combate à doença ganhou novas armas, quando foram lançados no Brasil os inibidores de noradrenalina e serotonina venlafaxina e Duloxetina (pertencentes à categoria de antidepressivos atípicos). O fato de agirem em dois neurotransmissores faz com que esses medicamentos funcionem melhor. A remissão do quadro e o início da ação são mais rápidos que os verificados com as outras classes de antidepressivos. Além disso, também diminui o número de recaídas. Essa classe de fármaco é especialmente eficiente para pacientes com depressões moderadas e graves, associadas a sintomas somáticos, como dores no corpo (VANCOCELLOS, 2005). Além da terapia com medicamentos, atividades como ioga, meditação e acupuntura são 27 cada vez mais bem vistas pelos especialistas como complemento para os modernos antidepressivos no combate à depressão. “Medicamento é indispensável e ao mesmo tempo insuficiente”, reconhece o psiquiatra Geraldo José Ballone, coordenador do site psiqweb. A ciência vem descobrindo que, assim como o exercício físico, exercitar a mente pode estimular a gênese de novas células cerebrais e ajudar no tratamento da depressão, ansiedade e estresse. Somente nos casos de depressão leve é possível melhorar sem medicamentos (VANCOCELLOS, 2005). 2.2. TIPOS DE ANTIDEPRESSIVOS SINTÉTICOS DISPONÍVEIS NO MERCADO 2.2.1. Inibidores de monoáminaoxidase (IMAO) Foram os primeiros antidepressivos largamente usados. Eles inibem a ação de uma enzima responsável pela degradação dos neurotransmissores. Raramente são prescritos como tratamento de primeira linha porque exigem uma dieta especial para evitar interações potencialmente perigosas, embora esporádicas, com certos alimentos. Contudo, ainda são indicados como último recurso (VANCOCELLOS, 2005). 2.2.2. Antidepressivos tricíclicos (ADT) Inibem a recaptação dos neurotransmissores norepinefrina e serotonina. Os ADT têm efeitos colaterais desagradáveis como sonolência, boca seca e visão embaçada; cerca de 30% do pacientes param de tomar o medicamento por causas desses problemas. Eles são potencialmente letais em altas doses. No entanto, ainda podem ser o medicamento preferido para certos tipos de depressão (VANCOCELLOS, 2005). 2.2.3. Inibidores seletivos de recaptação de serotonina (ISRS) Inibidores como Prozac (fluoxetina) e Paxil bloqueiam a recaptação da serotonina dos neurônios pré-sinápticos. Eles substituíram os ADT como medicamento primário porque provocam menos efeitos colaterais e apresentam menor probabilidade de morte em casos de overdose. Mesmo 28 assim, efeitos colaterais como problemas gastrointestinais e sexuais podem ser observados. Indicações de que os ISRS possam aumentar pensamentos e ações suicidas em crianças e adolescentes levaram a uma advertência obrigatória no uso do medicamento para essas faixas etárias nos Estados Unidos e à proibição para menores na Inglaterra (VANCOCELLOS, 2005). Casos extremos Além da depressão leve e moderada, existem os casos mais graves, com grande risco de suicídio ou que não respondiam nem mesmo aos medicamentos mais modernos (cerca 30% da população não é suscetível aos antidepressivos). Para esses casos, a novidade é a estimulação magnética transcraniana (EMT). A técnica consiste na aplicação de pulsações magnéticas na região do cérebro relacionada à ocorrência da depressão. O objetivo é que as correntes elétricas ativem os circuitos neurais, restaurando a atividade da região. A EMT ainda está em fase de testes, tanto no Brasil como no exterior, aguardando a aprovação da FDA (agência americana que controla alimentos e remédios). A técnica pode ser usada também em casos mais leves de depressão, para diminuir o tempo de tratamento. Os efeitos colaterais são mínimos, mas há relatos de dor de cabeça nas primeiras sessões. O tratamento requer de dez a 15 sessões de cerca de 45 minutos. É o suficiente para 70% dos casos. (VANCOCELLOS, 2005). Mais antigo e polêmico, mas também eficiente para depressão grave, é a eletroconvulsoterapia, o famoso eletro-choque. A eficácia no tratamento do transtorno é muito alta (em tomo de 90%), comparada com as medicações (em tomo de 70%), segundo Ballone. O psiquiatra explica que o tratamento consiste na aplicação de uma carga elétrica no cérebro, com o paciente anestesiado (é utilizada anestesia geral com duração em torno de 5 minutos). A carga elétrica produz uma descarga do cérebro, originando uma convulsão, que é bastante diferente da que ocorre nas pessoas com epilepsia, pois é administrada ao paciente junto com a medicação anestésica, que promove relaxamento muscular. A técnica é usada como primeira alternativa para depressão grave em países nórdicos, e nos Estados Unidos é bastante aplicada. Já no Brasil, existe 29 muito preconceito, por isso é utilizada somente em universidades. Trata-se de um tratamento muito seguro, com complicações mínimas, especialmente em casos em que os medicamentos são contraindicados, como na gravidez e em pacientes idosos (VANCOCELLOS, 2005). Apesar de os médicos preferirem não usar a palavra cura quando o assunto é tratamento da doença (assim como acontece em outras enfermidades crônicas, como diabetes e pressão alta), o termo chave é controle. Os diversos recursos da ciência e as terapias disponíveis permitem que o paciente mantenha o controle dos sintomas e leve vida normal (VANCOCELLOS, 2005). 2.3. FITOTERÁPICOS EM PSIQUIATRIA Nos últimos anos houve um aumento na comercialização de fitoterápicos com indicação para os transtornos mentais. Esses medicamentos despertam reações variadas nos profissionais da equipe de saúde mental, que vão de uma resistência absoluta a um entusiasmo extremado, passando por uma indiferença. Mais ainda, geralmente essas posturas abordam os fitoterápicos como um todo, não distinguindo entre os diferentes medicamentos desse grupo. Entretanto, é mais adequado avaliar cada fitoterápico com uma abordagem semelhante aos dos medicamentos sintéticos, ou seja, baseada em evidências científicas sólidas, particularmente em estudos clínicos controlados. Por esse ângulo, os fitoterápicos apresentam diferenças importantes entre si, pois, se de um lado encontramos medicamentos cuja eficácia tem sido comprovada em estudos clínicos controlados (comparativo com placebo, duplo-cego, randomizado) e metanálises, como por exemplo, o Hypericum perforatum (erva de São João) e o Piper methyrsticum (kava-kava), de outro, temos fitoterápicos como a Passiflora edulis e a P. incarnata, das quais não encontramos nenhum estudo controlado na literatura. 30 Em relação às posturas pré-concebidas, todas elas apresentam prejuízos potenciais para os pacientes. A resistência absoluta a um fitoterápico com ação comprovada pode privar determinado paciente de uma medicação eficaz. Por outro lado, uma postura de entusiasmo não fundamentado em estudos clínicos controlados pode privar o paciente de um tratamento realmente eficaz em detrimento de um fitoterápico ineficaz e com efeitos adversos. Mesmo uma atitude mais neutra, de descrença com certa benevolência ("não tem efeito, mas não faz mal" ou "é um placebo sem riscos") também pode acarretar prejuízos para o paciente, pois muitos fitoterápicos apresentam importantes efeitos adversos, assim como a possibilidade de interações medicamentosas. Em relação aos efeitos colaterais, os fitofármacos são freqüentemente considerados de baixa toxicidade. Embora essas alegações, em alguns casos, tenham sido confirmadas em estudos clínicos controlados, existe a detecção de vários efeitos adversos, que podem se tornar relevantes para o tratamento. Por exemplo, o extrato de Hypericum perforatum pode acarretar virada maníaca (SCHNECK C. ST., 1998) e fotossensibilidade (BOVE, G.M, 1998), enquanto que o kava-kava já foi associado a sintomas extrapiramidais (SCHELOSKY ,L. et al 1995). Mais ainda: mesmo fitoterápicos sem ação terapêutica comprovada, como a Passiflora edulis, pode apresentar efeitos adversos importantes (MALUF, E. et al, 1991). Outro problema potencialmente sério, mas também freqüentemente negligenciado, é a possibilidade de interações medicamentosas com os fitoterápicos (p.ex., benzodiazepínicos e kava-kava) (MILLER L.G. 1998). Fonte adicional de preocupação reside no fato de que essas medicações, apesar de apresentarem muitas semelhanças com os medicamentos sintéticos (p.ex., extrato de Hypericum perforatum e antidepressivos), não possuem os mesmos controles de prescrição e de venda desses últimos, o que pode aumentar a freqüência e os riscos da automedicação: tratamento inadequado, intoxicações, emprego de tratamento de eficácia não comprovada no lugar de uma terapêutica eficaz, não procura de profissional de saúde mental etc. (WINSLOW LC, 1998). 31 De qualquer modo, mesmo que não utilize fitoterápicos em seu arsenal terapêutico, o médico deve conhecer os principais fitoterápicos de sua área de atuação e perguntar sistematicamente ao paciente sobre seu uso, pois há grande probabilidade de que uma parte considerável de seus pacientes faça uso desse tipo de medicação sem, entretanto, informá-lo. (WINSLOW LC, 1998). Uma limitação em relação aos fitoterápicos é o número reduzido de estudos controlados em comparação com os medicamentos sintéticos. Mais ainda: esses poucos estudos nem sempre empregam metodologias adequadas. Essa escassez de estudos, associada à falta de sistematização do levantamento e de farmacovigilância, pode, pelo menos em parte, contribuir para o reduzido número de relatos de efeitos adversos pelos fitoterápicos. Esse quadro é agravado pela falta de controle de qualidade dos fitoterápicos nos EUA, onde não são enquadrados como medicamentos, mas como “suplementos dietéticos”. No Brasil, por outro lado, vários fitoterápicos já são comercializados por meio de extratos padronizados, que geralmente são feitos baseando-se em um dos princípios ativos supostamente relacionados com a atividade clínica (p.ex., a quantidade de hipericina empregada na padronização do extrato de Hypericum perforatum), (WINSLOW LC, 1998). Um ponto importante do estudo dos fitoterápicos é que o seu emprego inicial geralmente decorre do uso popular, não pressupondo nenhum mecanismo de ação e, conseqüentemente, não propõe nenhuma intervenção em uma suposta fisiopatologia do quadro. Isso possibilita o desenvolvimento de grupos de drogas inteiramente novos, com mecanismos de ação diferentes das drogas já disponíveis para determinado transtorno. Nessa linha, estima-se que cerca de 30% dos medicamentos atualmente disponíveis derivem diretamente de plantas medicinais. Portanto, podemos concluir que a atitude mais adequada em relação aos fitoterápicos é considerá-los com o mesmo rigor com que lidamos com os medicamentos sintéticos, baseando nossa conduta clínica em evidências científicas consistentes (estudos controlados), reconhecendo, 32 quando for o caso, sua eficácia, mas também seus efeitos adversos e a possibilidade de interações medicamentosas. 2.4. PLANTAS MEDICINAIS ANTIDEPRESSIVAS, ANSIOLÍTICAS E SEDATIVAS. Na Lista de Registro Simplificado de Fitoterápicos (RDC Nº 89, de 16 de março de 2004) da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), ANEXO 3, consta as seguintes plantas medicinais indicadas como ansiolíticas, sedativas e antidepressivas: Hipérico (Hypericum perforatum L). - Estados depressivos leves a moderados, não endógenos; Melissa (Melissa officinalis L) - distúrbios do sono, Maracujá/ Passiflora (Passiflora incarnata L.) – Sedativo; Valeriana (Valeriana officinalis) - Insônia leve, sedativo, ansiolítico e Kava-kava (Piper methysticum Forst) - ansiedade, insônia, tensão nervosa e agitação. Entre estes estão com restrição de uso, ou seja, venda sob prescrição médica, Hipérico, Valeriana e Kava - kava. 2.4.1 Hipérico (Hypericum perforatum L.) Hypericum perforatum L. é uma das plantas de maior tradição de uso na medicina popular européia. Sua utilização remonta ao início da era cristã, o que é refletido pela denominação erva-de-são-joão utilizada em diversos países devido a coincidência do período de floração com as festividades daquele santo. O uso preconizado tem variado amplamente ao longo do tempo, desde laxante, diurético, antipirético, cicatrizante, em gastrite, em hemorróidas, em insônia e mesmo em algumas formas de câncer. Nas últimas décadas preparações farmacêuticas contendo extrato seco das partes aéreas têm sido preconizadas para o tratamento de depressão suave a moderadamente grave, principalmente na Alemanha, onde a monografia correspondente recebeu avaliação favorável da Comissão encarregada da revisão de produtos fitoterápicos; nesse país o consumo de produtos a base de hipérico é significativo, sendo citados dados correspondentes ao uso de 66 milhões de doses diárias para o ano de 1994 e, em 1997, os produtos a base de hipérico compreendiam 25 % de todas 33 prescrições de antidepressivos (MULLER, 1998). Em ensaios farmacológicos em animais foram obtidos resultados sugestivos de ação antidepressiva, em modelos como comportamento exploratório em ambiente estranho, antagonismo da ação da reserpina e da depressão provocada pela clonidina. Essa atividade foi inicialmente correlacionada com a presença da hipericina, uma naftodiantrona para a qual havia sido descrita atividade inibidora da MAO, não reproduzida em experimentos posteriores; posteriormente foi descrita ação inibidora da recaptação da serotonina. Não obstante o desconhecimento do mecanismo de ação, na década de 90 foram desenvolvidos mais de 30 ensaios clínicos, geralmente em pacientes com depressão suave a moderadamente grave, envolvendo preparações contendo extrato seco padronizado quanto ao teor de hipericina, de modo geral correspondendo à administração de 500 a 900 mg extrato/dia, com significativas variações quanto ao teor de hipericina, desde 0,4 até 2,7 mg/dia (SIMÕES, 2002). Uma meta-análise avaliando um conjunto desses ensaios clínicos, incluídos a partir de critérios como a existência de controle através de grupo placebo ou tratado com outro antidepressivo, indicou atividade significativamente superior a do placebo em desordens depressivas suaves até moderadamente severas e baixa incidência de efeitos indesejados, comparativamente aos antidepressivos padrões utilizados como referência em alguns desses ensaios. Embora esses resultados possam ser considerados como promissores, os autores da metaanálise, bem como especialistas que a comentam, consideram necessários estudos clínicos mais amplos, com delineamento mais rigoroso para a inclusão de maior número de participantes e período mais prolongado de utilização, já que aqueles realizados apresentaram duração entre 4 e 8 semanas, com apenas um ensaio clínico por 12 semanas. Além disso, considerando resultados indicadores de atividade com extratos livres de hipericina, a padronização em termos dessa substância já não é mais considerada adequada, por não assegurar a relação dose-resposta, indispensável quando do tratamento de distúrbio tão sério em suas conseqüências como a depressão 34 maior (SIMÕES, 2002). Mais recentemente, uma série de trabalhos publicados em um número especial da revista Pharmacophsychiatry indicou o acilfloroglucinol hiperforina como componente determinante da atividade antidepressiva. A contribuição de outros componentes foi também apontada porque demonstraram que a fração contendo procianidinas, através do aumento da solubilidade, potenciavam a ação da hipericina em preparações aquosas (MÜLLER , 1998). Para a hiperforina foi demonstrada ação inibidora da recaptação dos neurotransmissores serotonina, noradrenalina, dopamina e GABA, com similar potência e ausência de ação inibidora da MAO (MÜLLER, 1998). Experimentos em modelos animais confirmaram a importância da hiperforina para atividade antidepressiva, já que extratos desprovidos de hipericina, mas enriquecidos com a hiperforina, bem como a própria substância isolada, mostraram atividade significativa. Ainda, ensaios clínicos controlados indicaram atividade antidepressiva similar ao grupo placebo para o grupo tratado com produto contendo 0,5% de hiperforina, mas significativamente superior ao placebo para o produto contendo 5% dessa substância (LAAKMANN, 1998). É de se destacar que a hiperforina apresenta problemas de estabilidade, sofrendo maior ou menor decomposição por ação da luz e do ar, de acordo com o processamento utilizado; ainda, a hiperforina está presente apenas em flores (ca. 2%) e frutos (até 5%), portanto o seu teor nas preparações será variável, de acordo com época de coleta e proporção de material florido na matériaprima vegetal (SIMÕES, 2002). 2.4.2. Kava-Kava (Piper methysticum Forst.) As raízes e rizomas de Piper methysticum Forst são de uso tradicional em algumas ilhas do Pacífico Sul, na preparação de bebida não fermentada e no tratamento da dor, neuralgia, convulsões, inquietude, insônia. Produtos contendo extratos, ou mesmo o pó de raízes e rizomas 35 tem sido comercializados na Europa, com indicação em ansiedade e insônia. Estudos farmacológicos em animais indicaram ação sedativa, relacionada com a ativação da transmissão dopaminérgica e serotoninérgica na região mesolímbica, o que estaria associado com a redução da excitabilidade emocional e alterações comportamentais. Como substâncias responsáveis pela atividade no sistema nervoso central, foram isoladas lactonas denominadas kavalactonas. Posteriormente, foram desenvolvidas preparações enriquecidas com essas substâncias (teor no extrato bruto de 5 a 8% e, no extrato enriquecido, em torno de 70%). Estudos de biodisponibilidade foram realizados em animais, demonstrando a absorção e eliminação rápida das lactonas kavaína e di-hidrokavaína. Produtos contendo racemato de kavaína sintético não podem ser vistos como análogos aos extratos do vegetal, já que a biodisponibilidade é altamente influenciada pelos demais componentes do extrato (DINGERMANN, 1995). O mecanismo de ação não é ainda claro, existindo na literatura relatos contraditórios sobre a interação das lactonas com o receptor GABA, com um trabalho indicando aumento dos sítios de ligação (modulação de receptores), enquanto outro trabalho relata ausência de atividade significativa nos sítios de ligação GABA-A e GABA-B e no sítio de ligação de benzodiazepínicos (SIMÕES, 2002) Ensaios clínicos controlados com resultados positivos em ansiedade são descritos, com a preparação contendo 70 ou 100 mg de extrato enriquecido, administrado três vezes ao dia, pelo período de quatro semanas. Embora esses resultados sejam promissores, estudos mais amplos, envolvendo maior número de pacientes são considerados necessários para estabelecer a efetividade nas indicações propostas; como medicamento sedativo e ansiolítico (ABELL, 1997). 2.4.3. Maracujá (Passiflora incarnata L.) As folhas secas de maracujá são empregadas como sedativo, embora os responsáveis por essa atividade não sejam conhecidos com clareza. Dessa forma, emprega-se o total dos constituintes das folhas do vegetal. Diversas espécies são conhecidas em todo o Brasil, sendo P. edulis Sims e P. alata Dryander as mais cultivadas. Nas farmacopéias da Europa encontra-se ainda 36 inscrita a P. incarnata L. Os constituintes químicos identificados são: ácidos fenólicos, cumarinas, fitosteróis e heterosídeos cianogênicos, cerca de 0,05 % de maltol (2-metil-3-hidróxi-pirona), menos de 0,03 % de alcalóides indólicos (harmana, e em alguns lotes, harmol, harmina e seus derivados dihidrogenados) e numerosos flavonóides. Os flavonóides majoritários são di-C-heterosídeos de flavonas. A tradição atribui ao maracujá propriedades sedativas, antiespasmódicas e ansiolíticas, parcialmente confirmadas por experiência em animais (COSTA, 1982). O maracujá (Passiflora incarnata), uma videira trepadeira nativa do sul da América do Norte, consiste em partes aéreas foliformes secas, que podem incluir as flores e os frutos jovens. Os constituintes principais da passiflora são flavonóides (até 2,5%) cumarina e umbeliferona. A ocorrência de alcalóides de harmana, antes considerados como responsáveis pelos efeitos da planta, tem sido contestada (SCHULTZ, 2002). Descobriu-se que extratos de maracujá reduzem a atividade espontânea de locomoção em camundongos e prolongam seu sono quando administrados pelas via oral e intraperitonial. Em um estudo, um extrato aquoso de Passiflora edulis produziu um effeito sedativo hipnótico em indivíduos humanos, mas também mostrou hepatotoxicidade e pancreatoxicidade. Não há estudos terapêuticos controlados com preparações baseadas em extratos só de Passiflora incarnata. Foi revisada a qualidade farmacêutica, os constituintes e os exames farmacológicos dessa droga vegetal (SCHULTZ, 2002). 2.4.4. Valeriana (Valeriana officinalis L.) A Valeriana é conhecida também por amantila, bardo selvagem, erva gata, valaricana e badarina. Seu habitat natural é a Europa e norte da Ásia, estando presente nos bosques e na encostas dos Alpes e dos Apeninos, mais freqüentemente a mais de 2.000 metros de altitude. 37 A planta é elegante, com mais de 1 m de altura, caule reto, robusto e escalonado, com folhas compostas por 10, 15, 20 folhinhas e de um verde intenso. Suas flores brancas e rosas se abrem de maio a junho e se tornam muito evidentes sobre a vegetação circundante, é de odor penetrante e não muito agradável. Gosta de lugares frescos, pouco úmidos e é comum na Europa, na Ásia, Sibéria e Japão, entretanto, sempre em grandes altitudes. Em latim Valeriana quer dizer valer, que significa "ter força", provavelmente devido à eficácia dessa planta na cura de pessoas no passado. Uma lenda medieval recomendava que no 7º dia da lua, assim que o Sol se pusesse, colhia-se uma flor de valeriana e repetia-se uns dizeres mágicos com a flor nas mãos, e a planta curava qualquer doença (SCHULTZ, 2002). O médico italiano Andrea Mattiolo observou, desde o século XVI, que esta planta causava estranhos efeitos sobre ao comportamento de seres humanos e dos animais. Pouco depois, no século XVII a partir da cura de Fabio Collona, descobriu-se o poder antiepiléptico, não por muito tempo, na verdade, até que este morresse "louco". Mais recentemente, o médico Monpellier Lazàre Rivière, depois de experimentar a planta em seus pacientes, concluiu que ela diminuía a sensibilidade nervosa e era dotada de um perceptível efeito sobre o sistema nervoso central e que, portanto, poderia controlar a epilepsia. Acredita-se que as virtudes medicinais da Valeriana tenham sido comentadas pela primeira vez por um médico egípcio do século IX. Em torno do ano 1.000, falava-se da Valeriana como um medicamento capaz de curar uma série de doenças, sobretudo, o nervosismo, a epilepsia, e superestimava-se a planta atribuindo-lhe até poderes divinos. Fabio Collona, príncipe romano do século XVI e portador de graves ataques de epilepsia, conforme a história, livrou-se dos ataques depois do uso da Valeriana. De fato essa planta sempre teve uma grande aceitação terapêutica, tanto devido sua ação sedativa, como pelo fato de servir também contra a febre. 38 A raiz seca contém em média, 0,5 a 2% de óleo volátil. O odor característico causado por pequenas quantidades de ácido isovalérico, que é formado pela decomposição dos valepotriatos. As concentrações desses constituintes estão sujeitas a variações sazonais. Mais de 100 constituintes foram identificados até o momento, mas não se sabe qual deles é responsável pelas ações medicinais características da raiz. A valeriana medicinal contém 0,3 – 0,8% de dois sesquiterpenos, o ácido valerênico e o ácido acetoxivalerênico. Esses constituintes característicos não ocorrem em espécies que crescem fora da Europa. Dessa forma, ambos os compostos são marcadores adequados para a verificação da qualidade farmacêutica dos extratos de valeriana (SCHULTZ, 2002). A raiz cuidadosamente seca também contém até 1% de valepotriatos ( até 8% na valeriana mexicana). Quimicamente, esses compostos são ésteres de ácidos graxos inferiores, isto é, de ácido acético, ácido isovalérico e ácido β-acetoxiisovalérico, com um álcool trivalente. O componente álcool revela o esqueleto carbônico C10 de monoterpenos e contém um anel epóxi, que é responsável principalmente pela instabilidade e pelo potencial mutagênico dos extratos de valeriana. Como os valepotriatos são instáveis em ambiente ácido ou alcalino e em altas temperaturas, eles podem ser administrados somente em formas sólidas de dosagem (preferivelmente comprimidos de revestimento entérico) e não em preparações líquidas (tinturas). Três estudos foram publicados sobre a absorção, distribuição e eliminação dos componentes de extratos de valeriana em humanos. Dois desses estudos relatam resultados com isovaltrato marcados com isovaltrato e dihidrovaltrato marcados com 14 C. Mas o isovaltrato e o dihidrovaltrato são compostos da classe dos valepotriatos, e os extratos de raiz de valeriana européia contêm apenas traços deles. Outro estudo em camundongos foi realizado com baldrianal/ homobaldrianal marcados com 14C, que aparentemente é bem absorvido, mas está sujeito a um forte efeito de primeira passagem no fígado. O extrato de Valeriana tem demonstrado um efeito sedativo comparado, segundo alguns autores, aos efeitos de pequenas doses do diazepam e clorpromazina . Há também 39 observações significativas quanto à melhora da qualidade do sono na dose de 120 mg, com aumento da atividade REM e um despertar agradável. Esse efeito indutor do sono aparece de 2 a 3 horas depois de ingerido. Os efeitos anticonvulsivantes e miorelaxantes da Valeriana são descritos como muito discretos e fracos. Atualmente a medicina alopática tem indicado a Valeriana principalmente para ansiedade, e como indutor do sono. Alguns preparados podem ser úteis para úlcera péptica, gastrite, dispepsia, doenças inflamatórias intestinais crônicas, colo irritável, como antiespasmódico e miorelaxante. Com a descoberta dos princípios ativos contidos na Valeriana, notou-se que ela não apenas tinha uma ação efetivamente específica sobre o Sistema Nervoso Central, mas também, que poderia produzir ofuscamento da vista e convulsões quando usada em dosagem muito elevada. Esse seria um dos motivos pelo qual se aconselha utilizar a Valeriana em doses menores, mais como um sedativo brando (SCHULTZ, 2002). O fato de tratar-se de um produto "natural" não significa que a droga é completamente inócua e destituída de qualquer perigo. Altas doses podem causar problemas e ela pode, mesmo em doses recomendadas, potencializar outras substâncias com ação no Sistema Nervoso Central. Mal utilizada a Valeriana pode causar vômito, estupor, tremores, dor de cabeça, palpitação e depressão emocional, quando em altas doses e por muito tempo. Também não se recomenda utilizar a Valeriana conjuntamente com barbitúricos, devido ao excesso de sedação que pode ocorrer por potencialização. Estudo duplo-cego com 27 pessoas portadoras de dificuldades do sono. O teste utilizou a extrato da raiz de Valeriana contendo sesquiterpenos ativas comparado com placebo. O estudo mostrou que a Valeriana pode ser uma boa alternativa como indutor do sono, destituída de efeitos colaterais. 40 Estudo constatando a eficácia da Valeriana como sedativo e promovendo melhora na qualidade do sono através de questionários respondidos por pacientes. As alterações clínicas puderam ser constatadas por eletroencefalograma (EEG) durante o sono. Outro estudo randomizado com oito voluntários portadores de insônia, divididos em 3 grupos que receberam respectivamente, placebo, 450 e 900 mg de extrato aquoso de Valeriana. Doses maiores de 450 mg não produziram melhora proporcional à qualidade do sono mas, nessa dose, os resultados foram muito superiores ao placebo. Estudos clínicos sugerem que as preparações de valeriana provalvelmente não produzem efeitos imediatos como àqueles de um auxiliar típico do sono, e que são necessárias de 2 – 4 semanas de terapia para alcançar melhoras significativas, especialmente no humor diário. A falta de uma resposta imediata, entretanto, não precisa ser uma desvantagem em pacientes com distúrbios de sono, porque os efeitos agudos podem promover a dependência e interferir com medidas psicoterapêuticas necessárias. O início tardio de ação distingue claramente a valeriana dos hipnóticos sintéticos. Médicos e pacientes geralmente associam auxiliares do sono e sedativos a efeitos imediatos, que a valeriana aparentemente não tem. Os pacientes devem ser informados sobre isso no início da terapia para que não descontinuem a medicação prematuramente. Além dos estudos feitos apenas com terapia de valeriana, há diversos estudos que lidam com o uso combinado de extrato de valeriana e outos calmantes vegetais. Os resultados obtidos com produtos de erva única de valeriana se apóiam em resultados com dois produtos de combinação fixa nos quais a valeriana é combinada com extratos de melissa e com lúpulo. Em um estudo duplocego controlado por placebo, a eficácia terapêutica da combinação de valeriana com melissa foi testada em 68 pacientes com insônia que tomaram uma dose diária de 630 mg de extrato de valeriana mais 320 mg de extrato de melissa por 14 dias. Uma escala de medição de múltiplos parâmetros mostrou que o produto de combinação foi significtivamente mais eficaz do que o placebo. O mesmo produto foi testado em um estudo controlado por placebo em 54 indivíduos 41 quanto ao seu efeito na capacidade de dirigir em comparação com flunitrazepam e um placebo. Descobriu-se que a diminuição do desempenho objetivamente mensurável nos testes de vigilância e reação prejudicada ocorreu apenas no grupo que recebeu flunitrazepam (SCHULTZ, 2002). 2.4.5. Melissa (Melissa officinalis L.) As folhas de melissa (Melissa officinalis L.) emitem um odor agradável de limão quando machucadas. Elas contêm pelo menos 0,05% de óleo volátil, cujos principais componentes são citronelal, o geranial e o neral. As folhas de melissa também contêm ácidos fenol carboxílicos, inclusive cerca de 4% de ácido rosmarínico. O óleo de melissa é produzido a partir de destilação por vaporização de ervas frescas ou secas colhidas no início ou durante o período de floração. O citronelal, o geranial e o neral, juntos, constituem aproximadamente 50-75% do óleo de ervacidreira. Em estudo experimental sobre possíveis efeitos sedativos, o óleo de erva-cidreira foi administrado em doses de 3 - 100 mg /Kg. Alguns efeitos foram demonstrados, mas a ausência de respostas dependentes da dose sugere que os efeitos não foram específicos (SCHULTZ, 2002). A monografia da Comissão E de 05 de dezembro de 1984 cita “insônia nervosa e problemas gastrintestinais funcionais” como as indicações para folhas de melissa e preparações feitas para as mesmas. A dose única recomendada é de 1,5 – 4,5 g da droga seca (SCHULTZ, 2002). 42 3. METODOLOGIA Caracteriza-se como estudo observacional e transversal da adequação dos fitoterápicos ansiolíticos, sedativos e antidepressivos à legislação vigente, através do preenchimento de uma ficha técnica (Anexo 1). As plantas medicinais ansiolíticas, sedativas e antidepressivas constantes no presente estudo foram selecionadas tomando-se como base a Lista Simplificada de Fitoterápicos, RDC 89 (Anexo 3) na qual encontram-se listadas as seguintes plantas: Valeriana officinalis L., Melissa officinalis L., Passiflora incarnata L., Hypericum perforatum L., Pipper methysticum Forst. Foram analisadas as embalagens de cada fitoterápico atentando-se para os seguintes itens: nome comercial, composição, indicação terapêutica, presença de bula, se existem frases ou ilustrações que induzam a automedicação, restrição de uso e registro no Ministério da Saúde. Foram observados os tipos de fitoterápicos ansiolíticos, sedativos e antidepressivos dispensados em 12 Farmácias comunitárias de Fortaleza, duas em cada Secretaria Executiva Regional (SER) no período de janeiro a setembro de 2006. A comparação dos dados da apresentação desses produtos aos exigidos pela legislação vigente foi baseada no decreto 79.094 e nas seguintes resoluções: Resolução-RDC Nº. 48, de 16 de março de 2004, que dispõe sobre o registro de medicamentos fitoterápicos (Anexo2) e RDC 89 (Anexo 3), da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA). 43 4. RESULTADOS e DISCUSSÕES Foram analisadas no presente estudo as embalagens de 24 fitomedicamentos com indicação ansiolítica, sedativa e antidepressiva. Esses fitomedicamentos encontram-se listados, respectivamente, nas tabelas 1, 2 e 3, com seus nomes comerciais, composição e restrição de uso. Após cada tabela encontram-se os dados e discussões que levaram aos resultados alcançados. TABELA 1- Fitoterápicos indicados como ansiolíticos. FITOMEDICAMENTO COMPOSIÇÃO (FARMACÓGENOS) RESTRIÇÃO DE USO ANSIOPAX Pipper methysticum Forst SIM KAVA KAVA Piper methysticum Forst SIM RECALM Valeriana officinalis L SIM Passiflora incarnata L. Crataegus oxyacantha L. Valeriana officinalis L NÃO Valeriana officinalis L Melissa officinalis L. SIM SOMINEX® SONHARE® VALMED VALMANE® VALERIX Valeriana officinalis L Valeriana officinalis L Valeriana officinalis L SIM SIM SIM O Ansiopax tem como farmacógeno a Piper methysticum Forst, na sua embalem externa não tem indicação terapêutica e não informa qual à parte da planta utilizada, possui bula interna, não contêm ilustrações que induzem à automedicação e possui tarja vermelha, encontra-se localizada nas prateleiras internas da farmácia, portanto está de acordo com a legislação em vigor. O Kava - Kava traz como farmacógeno a Piper methysticum Forst. Apresenta indicação terapêutica na sua embalem externa (tratamento da ansiedade, agitação e insônia). Informa a parte da planta utilizada (rizoma). O bulário é externo, contém ilustrações que induzem à automedicação 44 (folhas) e possui tarja vermelha. Encontra-se localizada nas prateleiras interna da farmácia. Está desacordo com a legislação em vigor. O Recalm® tem como farmacógeno a Valeriana officinalis L., em sua embalem externa tem indicação terapêutica (estado de tensão nervosa, estresse, irritabilidade, sedativo suave). Contém informações sobre a parte da planta utilizada (extrato seco da raiz), possui bula interna, não contém ilustrações que induzem à automedicação e possui tarja vermelha. Encontra-se localizada nas prateleiras internas da farmácia. Está de acordo com a legislação em vigor. O Sominex® tem como farmacógenos Passiflora incarnata L., Crataegus oxyacantha L., Valeriana officinalis L. A sua embalagem externa apresenta indicação terapêutica (indicado para insônia e depressão nervosa). Não informa qual à parte da planta utilizada, possui bula interna, contém ilustrações que induzem à automedicação e não é tarjado, ou seja, é de venda livre, no entanto encontra-se localizado nas prateleiras internas da farmácia. Não está de acordo com a legislação em vigor, visto que na sua composição tem a Valeriana que tem restrição de uso. O Sonhare® tem como farmacógenos a Valeriana officinalis L., Mellisa officinalis L., na sua embalem externa tem indicação terapêutica (dificuldade de dormir, tensão, agitação e irritabilidade) e não informa qual à parte da planta utilizada. Possui bula interna, não traz ilustrações que induzem à automedicação e possui tarja vermelha. Encontra-se localizada nas prateleiras interna da farmácia. Está de acordo com a legislação em vigor. O Valmane® tem como farmacógeno a Valeriana officinalis L. Em sua embalagem externa não tem indicação terapêutica e não informa qual à parte da planta utilizada, possui bula interna, não contêm ilustrações que induzem à automedicação e possui tarja vermelha. Encontra-se localizado nas prateleiras internas da farmácia. Está de acordo com a legislação em vigor. O Valmed traz como farmacógeno a Valeriana officinalis L., na sua embalem externa tem indicação terapêutica (tratamento dos sintomas da tensão, estresse e distúrbio do sono). Não informa qual à parte da planta utilizada, possui bula interna, contém ilustrações que induzem à 45 automedicação e possui tarja vermelha. Encontra-se localizada nas prateleiras interna da farmácia. Está em desacordo com a legislação em vigor. O Valerix tem como farmacógeno a Valeriana officinalis L., na sua embalem externa não tem indicação terapêutica e não informa qual à parte da planta utilizada, possui bula interna, não contém ilustrações que induzem à automedicação e possui tarja vermelha. Encontra-se localizada nas prateleiras internas da farmácia. Está de acordo com a legislação em vigor. TABELA 2- Fitoterápicos indicados como sedativos. FITOTERÁPICO CALMAN CALMAPAX® FLORINY MARACUGINA® MARACUJA CONCENTRIX® PASALIX® PASSANEURO PASSIFLORINE SOMINEX® COMPOSIÇÃO (FARMACÓGENOS) RESTRIÇÃO DE USO Passiflora incarnata L. Crataegus oxyacantha L. Salix Alba L. SIM Matricaria camomila L. Passiflora incarnata L. Erytrina mulungu Melissa officinalis NÃO Passiflora incarnata L. Salix Alba L. Crataegus oxyacantha L. NÃO Passiflora alata L. Erythrina mulungu Crataegus oxyacantha L. NÃO Passiflora incarnata L. Salix Alba L. Crataegus oxyacantha L NÃO Passiflora incarnata L. Crataegus oxyacantha L. Salix Alba L. NÃO Passiflora alata L. Erytrina mulungu Melissa officinalis L. NÃO Passiflora incarnata L. Crataegus oxyacantha L. Salix Alba L. NÃO Passiflora incarnata L. Crataegus oxyacantha L. Valeriana officinalis L NÃO 46 SONOTABS® RITMONEURAN® Passiflora incarnata L. Crataegus oxyacantha L. Salix Alba L. NÃO Passiflora alata L. Erytrina mulungu Leptolobium elegans Adonis vemalis NÃO O Calman tem como composição a associação das seguintes drogas: Passiflora incarnata L.; Crategogus oxyacantha L. e Salix alba L.. Observou-se que na embalagem externa não existe indicação terapêutica e não informa qual à parte da planta utilizada, mas possui bulário interno. Não contém ilustrações que induzem à automedicação e não possui tarja vermelha. Localiza-se nas prateleiras internas da farmácia. Está de acordo com a legislação em vigor. O Calmapax® tem a mesma composição do Calman, ou seja, Passiflora incarnata L., Crategogus Oxyacantha L. e Salix alba L., na sua embalem externa não tem indicação terapêutica e não informa qual à parte da planta utilizada, possui bula interna. Não contém ilustrações que induzem à automedicação e não possui tarja vermelha. Localiza-se nas prateleiras internas da farmácia. Está de acordo com a legislação em vigor. O Floriny tem a mesma composição do Calman, ou seja, Passiflora incarnata L., Crategogus Oxyacantha L. e Salix alba L.t, na sua embalem externa não tem indicação terapêutica e não informa qual à parte da planta utilizada, possui bula interna. Não contém ilustrações que induzem à automedicação e não possui tarja vermelha. Localiza-se nas prateleiras internas da farmácia. Está de acordo com a legislação em vigor. A Maracugina traz como farmacógenos a Passiflora alata L.; Crategogus Oxyacantha L. e Erythrina mulungu, na sua embalem externa traz a indicação terapêutica (como sedativo no tratamento dos estados de excitação nervosa). Informa a parte da planta utilizada (folha, casca) e possui bulário externo. Contém ilustrações que induzem à automedicação (folhas e flores) e não possui tarja vermelha. Localiza-se nas prateleiras externas da farmácia. Está em desacordo com a legislação em vigor. 47 O Maracujá Concentrix tem como farmacógenos a Passiflora incarnata L., Crategogus Oxyacantha L. e Salix alba L.. Não é tarjado e na sua embalem externa traz a indicação terapêutica (calmante e sedativo natural). Não existe informação de qual parte da planta utilizada, não possui bulário interno, traz ilustrações que induzem à automedicação. Está em desacordo com a legislação em vigor. O Passalix tem como farmacógenos a Passiflora incarnata L., Crategogus Oxyacantha L. e Salix alba L.. Na sua embalem externa não traz a indicação terapêutica e informa qual à parte da planta utilizada, possui bulário interno, não contém ilustrações que induzem à automedicação e não possui tarja vermelha. Localiza-se nas prateleiras internas da farmácia. Está de acordo com a legislação em vigor. O Passaneuro traz como farmacógenos a Passiflora alata L., Melissa officinalis L., Erythrina mulungu. Na sua embalem externa traz a indicação terapêutica (sedativo do Sistema Nervoso Central), não informa qual à parte da planta utilizada, tem bulário interno, contém ilustrações que induzem à automedicação (figura do maracujá) e não possui tarja vermelha. Localiza-se nas prateleiras internas da farmácia. Está em desacordo com a legislação em vigor. O Passiflorine® tem como farmacógenos Passiflora incarnata L., Crategogus Oxyacantha L. e Salix alba L, é um produto de venda livre, não é tarjado, está exposto na frente da loja juntamente com a seção de produtos naturais. Na sua embalagem externa traz a indicação terapêutica (ansiedade e insônia). Informa a parte da planta utilizada, possui bula interna, não contém ilustrações que induzem à automedicação. Está de acordo com a legislação em vigor. O Ritmoneuran® traz como farmacógenos Passiflora alata L., Crategogus Oxyacantha L. e Erythrina mulungu, não é tarjado, é um produto de venda livre. Está exposto na frente da farmácia, na seção de produtos naturais. Na sua embalem externa traz a indicação terapêutica (tranqüilizante). Não informa qual à parte da planta utilizada, possui bulário interno, contém ilustrações que induzem à automedicação. Está em desacordo com a legislação em vigor. 48 O Sonotabs® tem como farmacógenos Passiflora incarnata L., Crategogus oxyacantha L. e Salix alba L, é um produto de venda livre, não é tarjado, está exposto na frente da loja juntamente com a seção de produtos naturais. Na sua embalagem externa traz a indicação terapêutica (contra insônia, e os distúrbios do sono). Não informa qual à parte da planta utilizada, possui bula interna, contém ilustrações que induzem à automedicação. Não está de acordo com a legislação em vigor. TABELA 3- Fitoterápicos usados como antidepressivos. FITOTERÁPICO COMPOSIÇÃO (FARMACÓGENOS) RESTRIÇÃO DE USO GAMALINE - V Borogo officinalis L. SIM HIPERICO Hipericum perforatum L. SIM HIPERICIN® Hipericum perforatum L. SIM REMOTIV Hypericum perforatum L. SIM TRIATIV® Hypericum perforatum L. SIM O Gamaline - V tem como farmacógeno a Borogo officinalis L, na sua embalem externa tem indicação terapêutica (usado como auxiliar dos sintomas da tensão pré-menstrual), informa qual à parte da planta utilizada, tem bula interna, não apresenta ilustrações que induzem à automedicação e está localizada nas prateleiras internas da farmácia. Embora a Borogo officinalis seja uma planta medicinal que não está inclusa na Lista Simplificada de Fitoterápicos da RDC 89 de março de 2004, optou-se por incluí-la no presente estudo por está à disposição no mercado e se enquadrar nas características do fitoterápicos aqui citados, como por exemplo, a restrição de uso. O Hipérico tem como farmacógeno Hypericum perforatum L., na sua embalem externa traz a indicação terapêutica (Auxiliar no tratamento de estados depressivos leves e moderados, agitação nervosa), informa a parte da planta utilizada (partes aéreas), possui bula externa, contém 49 ilustrações que induzem à automedicação (folhas) e possui tarja vermelha. Encontra-se localizada nas prateleiras internas da farmácia. Está em desacordo com a legislação em vigor. O Hipericin tem como farmacógeno Hypericum perforatum L., na sua embalagem externa traz a indicação terapêutica (auxiliar no tratamento de estados depressivos leves e moderados, agitação nervosa), informa a parte da planta utilizada (partes aéreas), possui bula externa, contém ilustrações que induzem à automedicação (folhas). Possui tarja vermelha e encontra-se localizada nas prateleiras interna da farmácia. Está em desacordo com a legislação em vigor. O Remotiv traz como farmacógeno a Hypericum perforatum L, na sua embalem externa não tem indicação terapêutica e não informa qual à parte da planta utilizada, possui bula interna, não contém ilustrações que induzem à automedicação e possui tarja vermelha. Encontra-se localizada nas prateleiras interna da farmácia. Está de acordo com a legislação em vigor. O Triativ traz como farmacógeno Hypericum perforatum L., na sua embalem externa não traz a indicação terapêutica e não informa a parte da planta utilizada. Possui bula interna, não apresenta ilustrações que induzem à automedicação e possui tarja vermelha. Encontra-se localizado nas prateleiras internas da farmácia. Está de acordo com a legislação em vigor. Todos os medicamentos aqui relacionados possuem registro no Ministério da Saúde. Além desses dados analíticos fez-se uma análise numérica dos parâmetros descritos nas fichas técnicas, através de gráficos (Gráficos 1, 2, 3, 4, e 5), os quais encontram-se a seguir com as respectivas discussões dos resultados. 50 60 P ercen tu al d e F ito m ed icam en to s 50 40 Sem ilustração 30 Com ilustração 20 10 56,52 43,48 0 Gráfico 1 – Fitoterápicos que Apresentam Ilustrações ou Frases que Induzem à Automedicação. O gráfico 1 mostra um valor de 56,52% de fitoterápicos que em suas embalagens não apresentam ilustrações ou frases que induzem à automedicação. Este percentual é mais elevado do que os medicamentos que possuem tais ilustrações (43,48%). A legislação atual não se pronuncia em relação a esse item (RDC 48/2004 ANVISA), porém na redação da RDC 17/2000 da ANVISA, no subitem 7.1.1. que trata da embalagem desses medicamentos diz: “Não deve conter dizeres que induzam à automedicação, à utilização indevida do medicamento, ou referências a "Medicamento Natural" ou congêneres que transmitam ao consumidor a idéia de produto inócuo ou possuidor de propriedades especiais”. De acordo com o Decreto 79.094/77que regulamenta a Lei 6.360/76, declara em seu artigo 93 que as embalagens não podem conter figuras, símbolos ou dizeres que possam induzir o consumidor ao erro de medicação. Dessa forma, observa-se que ainda há um número elevado de fitoterápicos com ilustrações, encontrado-se portanto em desacordo com a legislação em vigência. 51 70 Percentual de Fitomedicamentos 60 50 40 Sem indicação Com indicação 30 20 39,13 60,87 10 0 Gráfico 2 – Fitoterápicos que Apresentam Indicação Terapêutica na Embalagem Externa No gráfico 2 é possível observar um número elevado de fitoterápicos que trazem em sua embalagem externa a indicação de uso (60,87%). Complementarmente ao gráfico 1, essa característica aqui citada pode ainda contribuir com a indução de automedicação, principalmente se o medicamento vier com frases e/ou ilustrações em suas embalagens. 52 Percentual de Fitomedicamentos 65 55 45 Sem Tarja Vermelha Com Tarja Vermelha 35 25 47,82 52,18 15 Gráfico 3 – Fitoterápicos que Apresentam Restrição de Uso O gráfico 3 mostra percentuais muito próximos entre os medicamentos com ou sem tarja vermelha (52,18% e 47,82% respectivamente). Embora se observe um elevado número de fitoterápicos sem restrição, alguns se encontram em desacordo com a legislação, como por exemplo, o sominex que em sua composição está associada à Valeriana officinalis a qual apresenta restrição de uso. Logo, faz-se necessária uma reavaliação dos produtos fitoterápicos disponíveis no mercado para que o consumidor tenha maior segurança na sua utilização. 53 70 Percentual de Fitomedicamentos 60 50 40 Sem informação Com informação 30 20 65,21 34,79 10 0 Gráfico 4 – Fitoterápicos que Informam a Parte da Planta Utilizada na Embalagem Externa No gráfico 4 verifica-se que a maioria dos fitoterápicos (65,21%) não informa a parte da planta utilizada na embalagem externa. Embora um percentual ainda considerável de medicamentos fitoterápicos (34,79%) apresente em suas embalagens a parte da planta utilizada. Dessa forma, um percentual mais elevado de fitoterápicos estão de acordo com a legislação vigente (RDC 48/2004 ANVISA, anexo 2) que exige tal característica apenas na bula. 54 53 Percentual de Fitomedicamentos 52 51 50 Desacordo com a legislação 49 48 De acordo com a legislação 52,58 47 46 47,42 45 44 Gráfico 5 – Fitoterápicos de acordo com a legislação Após a análise dos diversos parâmetros contidos na ficha técnica, levando-se em consideração a Lei 6.360/76, observou-se derradeiramente que a grande maioria dos fitoterápicos está em desacordo com a legislação em vigor (52,58%). 55 5.CONCLUSÕES Os resultados demonstraram que 43,48% dos fitoterápicos analisados apresentaram frases ou ilustrações que induzem à automedicação; 60,87% apresentaram indicação terapêutica na embalagem externa; 52,18% apresentaram restrição de uso; 34,79% informaram a parte da planta utilizada na embalagem externa. Todos os fitoterápicos apresentaram registro no Ministèrio da Saúde. Considerando-se que dos 23 fitoterápicos analisados nesse estudo 9 apresentaram frases chamativas que podem induzir à automedicação e, levando-se em consideração a RDC que proíbe o uso desse tipo de apresentação juntamente com a Lei 6.360/76, pode-se observar que 52,58% estariam em desacordo com a legislação. Para o farmacêutico que dispensa esse tipo de fitoterápicos convém barrar esse tipo de artifício ilegal para promoção de venda e, conseqüentemente, a automedicação. Pois esse tipo de ilustração faz com que o consumidor acredite que os produtos naturais são isentos de riscos para a saúde. Importante se faz a orientação farmacêutica desses tipos de fitoterápicos. Diante dos resultados obtidos, verificou-se a necessidade de uma revisão dos registros dos fitoterápicos pelo órgão competente, uma vez que foi encontrado um índice elevadíssimo desses medicamentos em desacordo com a legislação. 56 6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ABELL, S. DRUGDEX Editorial Staff. Drug evaluation: Kava. 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