PROPEDÊUTICA DE INSULINOMA EM PACIENTE HIPOGLICÊMICO NÃO DIABÉTICO: RELATO DE CASO CAIXETA¹, N.G.S.; LIMA¹, B.G.L.; MACHADO¹, C.M.M.; MASELLI¹, L.T.; SILVA¹, M.Y.M. [email protected] ¹ HOSPITAL MATER DEI INTRODUÇÃO O Insulinoma, embora seja um tumor neuroendócrino raro e na maioria das vezes benigno, cursa com sintomas episódicos neuroglicopênicos e/ou adrenérgicos, não devendo ser negligenciado como diagnóstico diferencial em situações de hipoglicemia em pacientes não diabéticos. Palavras-chave: insulinoma, hipoglicemia, tumor neuroendócrino, Tríade de Whipple. OBJETIVO Destacar a importância da anamnese detalhada, da propedêutica médica sequencial diante da possibilidade diagnóstica do Insulinoma em pacientes hipoglicêmicos não diabéticos. MÉTODOS Consistem em informações obtidas por meio de revisão de prontuário, entrevista com a paciente, exames bioquímicos e de imagem, aos quais a mesma foi submetida e revisão detalhada da literatura médica. RESULTADOS Descreve-se o caso de uma paciente de 53 anos do sexo feminino que apresentava a Tríade de Whipple: episódios de neuroglicopenia e hipoglicemia confirmada, associada a alívio do sintomas após normalização da glicemia sérica. Durante avaliação, a mesma foi interrogada sobre início dos sintomas, relação com jejum ou alimentação; sendo ainda afastado inicialmente doenças de base e uso de medicações que possam levar a hipoglicemia. Exames evidenciaram glicemia capilar 28mg/dL (60 a 99 mg/dL), pro-insulina 7,62pmol/L (em jejum 0,53,5pmol/L), insulina 70,6microUi/mL (1,9-23 microUi/mL), peptídeo C 3,46ng/mL (1,1-4,4 ng/mL), beta-hidroxibutirato 0,39mg/dL (até 4,4 mg/dL), anticorpo anti-insulina não reator, glicemia após glucagon 0’: 46 mg/dL, 10’: 78 mg/dL, 20’: 51 mg/dL, 30’: 39 mg/dL. O teste do glugacon baseia-se no fato de que a hiperinsulinemia inibe a glicogenólise e permite a retenção de glicogênio hepático. Doentes com hipoglicemia mediada por aumento da insulina podem responder a administração de glucagon. Já em quadros de hipoglicemia e ausência de hiperinsulinismo, toda a glicose do fígado será liberada e, portanto, não ocorrerá aumento da glicemia sérica. Na paciente em questão houve um aumento maior que 25mg/mL na glicemia corroborando o diagnóstico de Insulinoma. Após confirmação bioquímica, a Tomografia Computadorizada de abdome mostrou lesão nodular hipervascular na cabeça pancreática, de limites precisos com realce precoce homogêneo medindo 12x11mm, sem dilatação de ductos pancreáticos. A localização exata pré-operatória através de exames de imagem é desejável para melhor abordagem cirúrgica do insulinoma. A paciente foi submetida a excisão cirúrgica do tumor (gastroduodenopancreatectomia), sendo o material enviado para anatomopatológico e estudo imunohistoquímico. Este evidenciou índice proliferativo menor que 2% para proteína Ki-67, reiterando a benignidade do tumor. A evolução clínica foi favorável e houve normalização da sintomatologia e laboratório até o momento. DISCUSSÃO O Insulinoma é um tumor endócrino raro, secretor de insulina, o que resulta em hipoglicemia corrigida com administração de carboidratos. Em geral, ocorre em indivíduos entre os 40 e 50 anos. São geralmente de dimensões pequenas (≥90% são ≤2 cm), únicos (90%) e apenas 5-15% são malignos. Localizam- se maioritariamente nas células ß pancreática, com distribuição equitativa pela cabeça, corpo e cauda. Os sintomas podem ser divididos em duas categorias: neuroglicopênicos como alterações do comportamento, confusão mental, alterações visuais, fadiga, convulsões e perda de consciência; e neurogênicos como fome, sudorese, parestesias, ansiedade, tremores e palpitações. Estes sintomas são tipicamente precipitados por jejum ou exercício físico, mas podem ocorrem após refeições ou não ter relação com alimentação. Para estabelecer diagnóstico, as alterações bioquímicas confirmada pela glicemia sérica e sintomas de hipoglicemia prontamente corrigidos após administração de glicose (Tríade de Whipple) são suficientes. Na investigação deve-se ponderar a possibilidade de hipoglicemia secundária a uma alteração do eixo hipotálamo-hipófise-suprarrenal, administração de insulina exógena, fármacos e situações clínicas críticas. Dado o diagnóstico clínico e laboratorial, deve-se definir sua localização no pâncreas, sendo recomendada a Tomografia Computadorizada (TC) de alta definição que atualmente, permite identificá-lo em 90% dos casos no pré-operatório. A ultrassonografia endoscópica e a estimulação arterial seletiva com cálcio com coleta de sangue em veia hepática ficam reservados para as situações em que a TC é inconclusiva. A ressecção cirúrgica é o tratamento de escolha e, é habitualmente curativa. CONSIDERAÇÕES FINAIS A hipoglicemia é uma síndrome clínica grave que pode levar a desfechos desfavorávies e pode ser decorrente de diversos diagnósticos diferenciais, entre eles o Insulinoma. O inicio de uma propedêutica correta que valorize os dados clínicos, favorece a definição etiológica precoce e a terapêutica adequada. FIGURA 1: Tomografia Computadorizada de abdome (seta): lesão nodular hipervascular em cabeça pancreática, de limites precisos, com realce precoce e homogêneo, medindo 12x11mm, sem dilatação de ductos pancreáticos. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. ABBOUD, B.; BOUJAOUDE, J. Occult sporadic insulinoma: Localization and surgical strategy. World Journal of Gastroenterology: WJG, v. 14, n. 5, p. 657-665, Feb, 2008. 2. CARVALHO, R. et al. Publicação trimestral. Casos clínicos de Medicina Interna, vol. 17, n. 2, 2010. 3. IGLESIAS, P. et al. Insulinoma: análisis multicéntrico y retrospectivo de la experiencia de 3 décadas (1983-2014). Endocrinol Nutr., 2015. 4. 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