Guimarães Apontamentos para a sua História Padre António José Ferreira Caldas 2.ª Edição, Guimarães, CMG/SMS, 1996, parte I, pp. 219/221 ESCOLAS ACADÉMICAS DA COSTA O convento de Santa Marinha da Costa, desde a sua antiga origem, sempre engrandecido e honrado das atenções dos nossos monarcas, teve noutras épocas um importante e considerado estabelecimento científico, devido à protecção indefessa del-rei D. João III. Oferece-nos ainda hoje testemunho de tão benemérita instituição lapidar, lavrada e embutida na parede exterior da rotunda da capelamor, que apesar de tudo e da sua mudez, ainda nos diz: Neste lugar por ordem de El-Rey D. João o 3º, e já no tempo em que este Mosteiro era dos Religiosos de S. Jerónimo houve um colégio em o qual se estudavam humanidades, Filosofia e Teologia. Dele foi Reitor o Padre fr. Diogo de Murça antes de o ser da Universidade de Coimbra e nele se congregaram os Mestres estrangeiros que vieram para a dita universidade. Aqui estudaram, assistiram e se criaram os S. Infantes D. Duarte filho bastardo de El-Rei D. João o 3º e D. António filho do Infante D. Luís e neto de El-Rei D. Miguel. Há no cartório deste Mosteiro um privilégio concedido e © Sociedade Martins Sarmento | Casa de Sarmento 1 assinado por El-Rei D. João o 3º para que o Prior deste Mosteiro que juntamente era Reitor e cancelário e os seus lentes dessem graus de licenciados, bacharéis e Mestres em Artes e os graduados tivessem as mesmas isenções que gozam os da universidade de Coimbra. O alvará, em que se concediam tais privilégios, foi dado a 7 de Junho de 1541, e ainda em 1748 se achava arquivado no cartório do mosteiro, na gaveta 11, nº 25. O padre-mestre frei Diogo de Murça, a que alude a inscrição supra, foi o segundo reitor da universidade de Coimbra, que, como frade regular, até essa época recebeu tal honra; e os mestres estrangeiros, a que a mesma inscrição se refere, foram: Inácio de Morais, Henrique Caiado, Marcos Romeiro e Pedro Margalho. Neste memorável colégio foram educados e instruídos os infantes D. Duarte e D. António, que tiveram por preceptor a frei Jorge de Belém, que ensinou filosofia àquele e teologia a este. O infante D. Duarte, por ocasião do seu curso literário neste mosteiro, e em dia de S. Jerónimo, recitou, em sessão solene, uma oração em louvor da filosofia, que principia: Platão excelentíssimo pai da Grega Atica eloquência e de toda a Filosofia. O original existia no convento da Cartuxa, em Évora, donde se tirou cópia, que corre impressa no tomo III das PROVAS DA CASA REAL DE PORTUGAL, pág. 40. Nos azulejos, com que se adorna a formosa varanda de pedra, em que termina o principal dormitório do convento, ainda hoje se vêem pinturas alusivas à educação dos infantes: e da sua morada aqui dá também testemunho uma inscrição gravada numa pedra do muro da cerca, fronteiramente à parte posterior da capela-mor: AQUI ESTEVE A CASA DOS INFANTES Esta casa, que ficava a nascente do convento e completamente independente dele, conservou-se até 1684, desmoronando-se então por incúria dos monges. © Sociedade Martins Sarmento | Casa de Sarmento 2 Terminou este colégio, não sabemos quando nem por que fatalidade de circunstâncias, é todavia certo que os monges, saudosos pelas glórias passadas, em 1727, sendo prior frei José de Santo António, instalaram aqui de novo aulas de filosofia, renovando assim as memórias dos tempos antigos. Estas aulas eram também frequentadas por estudantes seculares de Guimarães, e no fim de cada ano, ou de cada curso, defendiam-se conclusões, com a maior solenidade, assistindo a este certame científico o que havia de mais ilustrado e distinto no «berço da monarquia». Destas conclusões algumas foram impressas, e eu as vi apensas ao precioso MANUSCRITO DA COSTA, donde extraí a maior parte destas notícias. Finalmente, em 1733, sendo prior frei Crispim da Conceição, inaugurou-se neste mosteiro um novo curso de filosofia, de que foi leitor o padre-mestre dr. frei Manuel de S. Jerónimo, professo em Penhalonga. Pelo que fica escrito, e pelo que se lê, nesta obra, sob a epígrafe Instrução pública, conclui-se, que em tempos passados Guimarães devera, em grande parte, a sua instrução e educação de seus filhos às ordens religiosas. © Sociedade Martins Sarmento | Casa de Sarmento 3