Energia: Investimento nas energias oceânicas vai abrandar mas é fundamental para Portugal - António Sarmento Lisboa, 27 dez (Lusa) – O investimento na energia das ondas nos próximos dois anos vai sofrer um abrandamento, devido à crise mundial e também ao fracasso de outros projetos do género em Portugal, estimou o especialista António Sarmento. “O [fracasso do projeto] Pelamis teve um impacto negativo muito forte em Portugal e mesmo no estrangeiro teve um impacto forte. E vemos que alguns financiadores, nomeadamente fundos de capitais de risco, que na altura se envolveram bastante estão agora mais receosos”, disse o presidente da direcção do Wave Energy Center, em entrevista à agência Lusa. O projeto Pelamis em Portugal (uma iniciativa conjunta da escocesa Pelamis Wave Power e a EDP) consistia em produzir energia através das ondas com três unidades flutuantes. O projeto foi abandonado no início do ano. “Provavelmente vai haver algum abrandamento no investimento nesta área nos dois próximos anos”, sublinhou António Sarmento, acrescentando que “vai depender muito daquilo que os governos conseguirem pôr em cima da mesa para apoiar as empresas para que estas tenham um risco gerível”. No entanto, ressalvou, a retração nos próximos anos a grandes investimentos nesta área vai gerar também “uma oportunidade para quem conseguir progredir” num período em que os outros estão parados. Por outro lado, António Sarmento considera acertada a expetativa do Governo português de ter 250 MegaWatts de potência instalada nas ondas até 2020. “A minha expetativa é que em 2015 teremos uma visão muito mais clara de qual é o caminho tecnológico a seguir e que em 2020 estaremos já na fase de comercialização”, disse o professor. “Por isso a meta do Governo (250 MW de potência instalada até 2020) é um número adequado, uma vez que é pouco provável que a tecnologia se desenvolve com uma velocidade tão rápida que esse número seja ultrapassado”, acrescentou. No entanto, a aposta nas ondas é fundamental, defende o professor. “A sociedade portuguesa cada vez mais tem identificado como um desígnio nacional: a exploração do oceano. Para que esse discurso tenha consistência temos de ir à procura de novas actividades no mar que potenciem a exploração do oceano”, sublinhou. É aí que surgem as energias renováveis oceânicas. “Dão um contributo importante no desenvolvimento de tecnologia que vamos precisar para explorar outros recursos marinhos, seja quais forem no futuro, e ao mesmo tempo ajuda a criar um tecido empresarial ligado ao mar”, explicou o responsável do centro que gere a central de ondas do Pico. Atualmente, considerou António Sarmento, o panorama do mar em Portugal “é muito fraco”. “A indústria naval está muito debilitada, as pescas com menos expressão. Um país que já tem mais de 50 por cento da Zona Económica Exclusiva da União Europeia e está a alargar essa zona económica, se não tiver as ferramentas e quem as saiba trabalhar, as empresas, necessárias para explorar os recursos a conclusão verá os outros países a entrar por esse mar adentro para explorá-lo”, adiantou. NVI ***Este texto foi escrito ao abrigo do novo Acordo Ortográfico*** Lusa/Fim