Curso de Eletrônica Parte Analógica Ademarlaudo Barbosa II – Circuitos Elementares 2.1 Divisor de Tensão Na Fig. 08 ilustramos um circuito envolvendo dois resistores. É conveniente estudá-lo não só para entender suas propriedades como também para estabelecer os métodos que em seguida servirão ao estudo de outros circuitos. A função de transferência, T, pode ser obtida pelo menos de duas maneiras distintas. Em uma delas, notamos que a mesma corrente passa pelos dois resistores: I(em R1) = I(em R2) Ve −Vs R1 = Vs R2 ⇒ Vs = R2 R1 + R2 ∴T = R2 R1 Ve Vs R2 I Ve Fig. 08: Circuito divisor de tensão R1 + R 2 Também podemos acompanhar as quedas de tensão através do circuito: Ve − R1 I − R2 I = 0 Como I = Vs/R2: Ve = Vs R2 ∴T = (R1 + R2 ) R2 R1 + R 2 Vemos que T é um número real necessariamente menor que 1, por isto o circuito é conhecido como ‘divisor de tensão’. Como a parte imaginária de T é nula, não há diferenças de fase entre as componentes espectrais dos sinais de entrada e saída. Lembrando que o retardo, ou tempo de propagação (τ) de cada harmônico e a defasagem (ϕ) estão relacionados por τ=ϕ/ω [Ver (6)], fica claro que o retardo é também nulo para todas as componentes espectrais. Entretanto qualquer resistor real apresenta, além da resistividade, algum valor não nulo de capacitância (C) e indutância (L) inerentes ao material de que é feito. C e L impõem um tempo mínimo de propagação, conforme veremos mais adiante. 2.2 Diferenciador Na fig. 09 está esboçado outro circuito elementar, comparável ao da Fig. 08. Os resistores R1 e R2 foram substituídos respectivamente por um capacitor (C) e por um outro resistor (R). Sabemos que só haverá passagem de corrente por C quando houver variação da tensão de entrada. Seja ∆Ve esta variação, e ∆t o intervalo de tempo em que ela ocorre. A carga acumulada em C, devida a ∆Ve, é dada por: ∆Q = C ( ∆Ve − Vs ) Onde Vs é a tensão de saída. A corrente que passa por C e por R é portanto dada por: I= ∆Q ∆t = C ( ∆Ve − Vs ) Vs = R ∆t A expressão acima permite-nos escrever: Vs (1 + RC ∆t ) = RC ∆Ve ∆t Quando RC << ∆t, o termo RC/∆t tende a zero, embora ∆Ve/∆t possa não ser desprezível. Nestas circunstâncias, o sinal de saída é proporcional à derivada temporal do sinal de entrada: Vs ≈ RC dVe dt (53) Chegamos a esta mesma conclusão quando nos guiamos pelas quedas de tensão no circuito: ∆Ve = I ∆t C + RI = I ( ∆Ct + R ) Como I=Vs/R, encontramos novamente Vs (1 + RC ∆t ) = RC ∆Ve ∆t Que, quando RC<<∆t, nos remete a (53). C ∆Ve Vs I R Fig. 09: Circuito diferenciador 2.3 Integrador Quando intercambiamos as posições de R e C na Fig. 09, conforme mostrado na Fig. 10, passamos a um circuito de comportamento bastante distinto do anterior. De fato, para a mesma variação ∆Ve da tensão de entrada, encontramos que: ∆Ve −Vs R = CVs ∆t A expressão acima simplesmente afirma que a corrente que passa por R é a mesma que passa por C. Daí podemos escrever: Vs (1 + ∆t RC )= 1 RC ∆ Ve ∆ t Podemos então concluir que, quando RC>>∆t, a tensão de saída é proporcional à integral no tempo da tensão de entrada, pois neste caso Vs ≈ 1 RC ∆ V e ∆t ≈ 1 RC ∫ ∆V dt e Naturalmente o mesmo resultado é obtido quando consideramos as quedas de tensão sobre R e C. Com isto mostramos que os circuitos R e C das Figs. 09 e 10 realizam o equivalente às operações de diferenciação e integração, desde que os valores de R e C sejam escolhidos adequadamente ao comportamento do sinal de entrada. R ∆ Ve Vs I C Fig. 10: Circuito integrador 2.4 Diferenciador e Integrador no Domínio da Freqüência No item 2.1 encontramos a função de transferência para o circuito divisor de tensão. Este circuito pode ser generalizado para incluir componentes (R, L, C) de impedância Z, conforme mostrado no capítulo anterior (Fig. 11). Assim fica também generalizada a expressão para a função de transferência. T= Z2 Z1 + Z 2 (54) Z1 Ve I Vs Z2 Fig. 11: Circuito integrador Voltemos agora aos casos do integrador e do diferenciador, sabendo que, para R, Z ≡ R, e para C, Z ≡ 1/iωC. Chegamos às seguintes funções de transferência: Tdiferencia dor = Tint egrador = R iωRC = 1 R + iωC 1 + iωRC 1 iωC R+ 1 iωC = 1 1 + iωRC A partir da função de transferência podemos obter explicitamente o ganho e a fase para cada harmônico de freqüência ω (Ver §1.3): T T diferenciador int egrador = = 1 1+ω 2 R 2C 2 ω 2 R 2C 2 + iωRC = ωRC 1 + ω 2 R 2C 2 1 1 1 − iωRC = 1 + ω 2 R 2C 2 1 + ω 2 R 2C 2 1 Arg [T ]diferenciador = ArcTg ωRC Arg[T ]int egrador = − ArcTg[ωRC ] A fim de simplificar a forma e a análise das expressões acima, introduzimos o parâmetro ν ≡ ω/ωo, onde ωo = 1 RC Com isto obtemos as seguintes funções do parâmetro ν: T diferenciador = ν 1 +ν 2 T int egrador 1 = 1 +ν 2 1 Arg[T ]diferenciador = ArcTg ν Arg[T ]int egrador = − ArcTg[ν ] Finalmente podemos passar à representação da função de transferência em um Diagrama de Bode. 1,6 1,0 Diferenciador Diferenciador 1,4 0,8 1,2 1,0 |T| Arg[T] 0,6 0,4 0,8 0,6 0,4 0,2 0,2 0,0 0,0 0,01 0,1 1 10 0,01 0,1 υ 1 10 υ 0,2 1,0 0,0 Integrador Integrador -0,2 0,8 -0,4 |T| Arg[T] 0,6 0,4 -0,6 -0,8 -1,0 -1,2 0,2 -1,4 0,0 0,01 0,1 1 υ 10 -1,6 0,01 0,1 1 10 υ Fig. 12: Diagramas de Bode para os circuitos integrador e diferenciador Vemos que ωo é uma freqüência crítica. O circuito diferenciador atenua os harmônicos de freqüência ω<<ωo (ν<<1), enquanto que o integrador atenua os harmônicos de freqüência ω>>ωo (ν>>1). Por esta razão o diferenciador e o integrador são interpretáveis respectivamente como filtros passa-alta e passabaixa. 2.5 Equações diferenciais para os circuitos envolvendo R e C Para ambos os circuitos representados nas Figs. 09 e 10 pode ser escrita a seguinte equação, que representa as quedas de tensão verificadas sobre R e C: Ve = Q C + RI Ve e I são respectivamente a tensão de entrada e a corrente que passa pelo circuito, Q é a carga presente nos eletrodos do capacitor. Consideremos estas grandezas como funções do tempo, e tomemos a derivada temporal de cada termo, de modo a obter uma outra equação: dVe dt = 1 dQ C dt + R dIdt = I C + R dIdt A equação acima se converte numa equação de primeira ordem homogênea, de solução conhecida, desde que Ve seja uma constante. Seja portanto Ve, o pulso de entrada, uma função que vale Vo a partir de t=0. Com isto podemos escrever (para t≥0): I = − RC dIdt ⇒ I (t ) = I (0)e t − RC Como condição de contorno para a equação, notamos que, em t=0, Q(t)=0 e I(t)=I(0)=Io. Portanto: I (t ) = I o e t − RC Se V(t) é a função que representa a tensão de saída, é claro que, para o diferenciador, esta tensão é responsável pela corrente sobre R: V (t ) = RI (t ) = RI o e t − RC RIo é a tensão em t=0, de modo que: V (t ) = Vo e t − RC Para o integrador podemos obter V(t) a partir da queda de tensão em C: V (t ) = Q C = 1 C ∫ I (t )dt ⇒ V (t ) = C1 ( − RCI o e t − RC + K) Onde K é uma constante de integração, cujo valor explícito encontramos pela condição de contorno: Q (0) = 0 ⇒ K = RCI o Assim encontramos a tensão de saída para o integrador: V (t ) = Vo (1 − e t − RC ) As soluções encontradas nos permitem confirmar os resultados obtidos anteriormente. Conforme mostrado na Fig. 13, o sinal de saída do diferenciador se aproxima cada vez mais do que seria a derivada do sinal de entrada, à medida em que o produto RC diminui. Para o integrador, o sinal de saída tende à integral do sinal de entrada à medida em que o produto RC aumenta. Diferenciador 1,0 Integrador Vo 1,0 Vo 0,8 0,8 0,6 0,6 RC=10 0,4 0,2 V(t) V(t) RC=0.1 RC=1 RC=10 0,4 0,2 RC=1 RC=0.1 0,0 0,0 0 2 4 6 8 t 10 0 2 4 6 8 10 t Fig. 13: Respostas do diferenciador e do integrador ao impulso ‘degrau’ no domínio do tempo. É importante notar que a solução da equação diferencial foi obtida para o caso muito particular em que a tensão de entrada é constante a partir de um instante inicial (t=0). Na Fig. 13 está mostrada a solução V(t) para t≥0. Este tipo de sinal é conhecido como impulso ‘degrau’. Qualquer outro tipo de impulso em que Ve(t) não é uma constante leva a equações cujas soluções são mais complicadas, ou não são calculáveis. Entretanto, do ponto de vista de composição espectral, o impulso degrau é bastante representativo de um impulso genérico, já que contém componentes de freqüência variando desde 0 (para representar o nível de tensão Ve=Vo) até valores muito altos (para representar a transição rápida de 0 a Vo em t=0). 2.6 Circuito L-C Um circuito simples envolvendo indutor e capacitor, de notável interesse prático, é mostrado na Fig. 14. A função de transferência é obtida conforme o procedimento usado anteriormente para circuitos com R e C: T = 1 iωC iωL + iω1C = 1 1−ω 2 LC Tomemos novamente o parâmetro ν = ω/ωo, definindo agora: ωo = 1 LC Assim podemos escrever: T = 1−1ν 2 (55) A constatação mais imediata é que T diverge quando ν=1. Como T é real, este circuito apresenta ganho infinito para ω=ωo . Na prática o ganho infinito não é observado, em particular porque qualquer outro circuito que seja acoplado ao circuito da Fig. 14 para medir a amplitude de saída (por exemplo, um osciloscópio) tem impedância de entrada finita, o que modifica a função de transferência do circuito final. Ainda que não haja um circuito exterior, previsto para observar a ressonância, haverá pelo menos a resistividade intrínseca do capacitor. Esta última pode ter valor muito elevado, mas certamente é finito. De modo que - quando são levados em conta todos os parâmetros relevantes verifica-se algum limite para o valor de T quando ν=1. De qualquer forma o circuito apresenta a característica de um filtro que amplifica uma frequência específica, determinada pelos valores de L e C. L Ve Vs C Fig. 14: Circuito L-C Outro aspecto interessante do circuito L-C vem do fato de que ele representa também uma linha de transmissão de sinais (como um cabo coaxial, par trançado ou fios paralelos). Em geral é possível desprezar a resistividade dos cabos utilizados para transmissão de sinais, mas os efeitos da indutância e da capacitância por unidade de comprimento raramente podem ser ignorados. Uma representação adequada para uma linha de transmissão de sinais em termos de L e C é mostrada na Fig. 15. L e C referem-se respectivamente aos coeficientes de auto-indutância e de capacitância por unidade de comprimento da linha. L Ve Vs C C Fig. 15: Circuito L-C representativo de uma linha de transmissão de sinais Notemos inicicialmente que qualquer sinal trafegando pela linha está sujeito a uma impedância característica do circuito. A impedância equivalente do circuito mostrado na Fig. 15 é facilmente calculável como uma associação de componentes em série e em paralelo, conforme mostrado na Fig. 16. Vs C L Ve C Fig. 16: Circuito da Fig. 15, evidenciando a impedância equivalente Assim encontramos que a impedância equivalente, Zeq, é dada por: Z eq = 1 iωC ( 1−ω 2 LC 2−ω 2 LC ) De (55) obtemos que: 1 C = ωo L C = ωoZo Onde introduzimos a constante Zo = L C (56) Então podemos escrever Zeq em função do parâmetro ν: Z eq = iZ o ν [ ] ν 2 −1 2 −ν 2 O gráfico apresentado na Fig. 17 mostra que Zeq varia muito com a frequência. Podemos portanto esperar distorções importantes do sinal que passa pela linha. 1000 100 | Zeq / Zo | 10 1 0,1 0,01 0,001 0,01 0,1 1 10 ν Fig. 17: Variação da impedância em função da freqüência para o circuito da Fig. 14. Para reduzir as distorções convém utilizar uma resistência de terminação, R, que minimize as variações de impedância. Suponhamos então uma linha de transmissão terminada, como mostrado na Fig. 18. L Ve Vs C C R Fig. 18: Circuito L-C representativo de uma linha de transmissão terminada. Nesse caso encontramos: R +iωL −ω RLC Z eq = 1+iωRC −ω 2 LC −iω 3 RLC 2 2 Exigimos agora que Zeq seja exatamente igual a R, de modo que um sinal atravessando a linha não passe por variações de impedância: Z eq ≡ R⇒ R = Zo 1−ν 2 (57) Na expressão acima substituímos C por C/2, de modo que Zo continue definido pela expressão (55). O parâmetro ν mantém a mesma forma (ν=ω/ωo), e redefinimos ωo como: ωo = 2 LC (58) Em §2.7 fica explícita a razão pela qual redefinimos Zo com o valor C/2. O resultado encontrado, (57), mostra que não é possível encontrar uma terminação perfeita para a linha, pois o valor de R dependeria da frequência de cada componente espectral. Entretanto, vemos que para frequências muito menores que a frequência crítica ωo, R=Zo seria a melhor terminação. O gráfico da Fig. 18 mostra a comparação entre uma linha terminada com R=Zo e outra sem terminação (R=!). 1000 100 Sem terminação | Zeq / Zo | 10 1 Terminação R = Zo 0,1 0,01 0,001 0,001 0,01 0,1 1 υ Fig. 19: Impedância equivalente para linha de transmissão terminada com Z=Zo e sem terminação. 2.7 Linha de Retardo Vimos acima que o circuito L-C da Fig. 17 transmite sinais sem distorção das componentes espectrais, desde que ω<<ωo. A função de transferência para este circuito é dada por: T = 1+ iωL −1ω 2 LC R Susbituindo C por C/2 e R pela expressão encontrada em (57), obtemos o que seria a função de transferência para um circuito perfeitamente terminado: Tideal = 1 1−2ν 2 +2iν 1−ν 2 A condição ω<<ωo ou ν<<1, que corresponde ao caso em que podemos terminar o circuito por um resistor, leva a: Treal = 1− 2ν 12 + 2iν Podemos então calcular ganho e fase, para os casos de terminação ‘ideal’ e ‘real’: Tideal = 1 (para ν < 1) Tideal = Treal = 1 1− 2ν 2 − 2ν ν 2 −1 1 1+ 4ν 4 (para ν > 1) ϕ ideal = Arg [Tideal ] = − ArcTg ( 2ν 1−ν 2 1− 2ν 2 ) (para ν < 1) ϕ ideal = Arg [Tideal ] = 0 (para ν > 1) ϕ real = Arg [Treal ] = ArcTg ( ) 2ν 1− 2ν 2 Note-se que, para υ >1, a função de transferência para o caso ‘ideal’ assume valores reais. No caso ‘real’ a atenuação de |T| para υ >1 é propoprcional a 1/υ2 , ou seja, o filtro passa-baixa do tipo LC atenua mais as frequências altas que o filtro tipo RC. Fig. 20 mostra o ganho para os dois casos. 101 101 caso "real" 100 10-1 10-1 | T| | T| caso"ideal" 100 10-2 10-2 10-3 10-2 10-1 100 101 10-3 0,01 102 0,1 1 10 100 υ υ Fig. 20: Ganho para os casos de terminação ‘ideal’ e ‘real’. A respeito da fase, para o caso ‘real’, lembremos que (capítulo I, eq. (6) ) o retardo de cada componente espectral é dado por: τ= ϕ ω = Arg [T ] ω Podemos expandir Arg[Treal] em termos de potências de ν, para obter: ϕ = Arg [T ] = 2ν + 4 ν3 + ... 3 Para ν<<1 apenas o primeiro termo é relevante, de modo que o retardo do circuito é: τ= 2ν ω = LC (58) Em (58) vemos que o retardo é uma constante, não depende da frequência de cada componente espectral. Portanto, para υ<<1, o circuito introduz retardo e transmite sinais sem deformação. Notemos agora que, como exigimos Zeq=R, o componente R pode ser substituído por outro circuito de impedância Zeq, e o circuito resultante continuará adaptado em impedância. A função de transferência resultante será expressa pelo produto das funções de transferência dos dois circuitos envolvidos. Este processo pode ser repetido recursivamente, de modo a obter o que chamamos de “linha de retardo com componentes discretos”, conforme mostrado na Fig. 21. L Ve C/2 L C L C L C L C C/2 Vs R Fig. 21: Linha de retardo com 5 células discretas. Mostramos assim que uma linha de transmissão tal qual um cabo coaxial pode ser caracterizada por um circuito LC, em que L e C representam os coeficientes de auto-inductância e capacitância por unidade de comprimento. Utilizando-se componentes discretos podemos também construir uma linha de transmissão envolvendo n circuitos individuais, ou células. O retardo na transmissão de sinais é dado por nτ, com τ dado por (58). Em qualquer dos casos os sinais são transmitidos sem deformações desde que as frequências das componentes espectrais se limitem a ω<<ωo. A linha de retardo é construída pela justaposição de células do tipo ilustrado na Fig. 18, com C substituído por C/2, gerando o circuito da Fig. 21, cuja impedância característica é dada por (56) quando ω<<ωo. 2.8 Circuito R-L-C Consideremos agora um circuito que inclua os três componentes elementares, R-L-C, conectados em série, estimulados por uma tensão de entrada Vo, conforme mostrado na Fig. 22. L Vo R C Fig. 22: Circuito R-L-C Na Fig. 22 está representada uma chave que permite aplicação do impulso Vo num determinado instante (t=0), de modo a produzir o estímulo correspondente à função ‘degrau’. As quedas de tensão ao longo do circuito levam à seguintes equações: L dIdt + RI + QC = Ve L ddt 2I + R dIdt + C1 I = 0 2 A última equação é equivalente à equação que descreve um oscilador harmônico amortecido. É bastante evidente que a solução deve ser uma função do tipo: I (t ) = e at Para esta solução, a própria equação impõe a seguinte condição à constante a: a 2 + RL a + 1 LC =0 Portanto há duas possibilidades para a: a1, 2 = 12 − RL ± ( RL )2 − LC4 Como a equação é de segunda ordem, a solução geral deve ser uma combinação das duas soluções particulares com a1 e a2: I ( t ) = C1e a1t + C 2 e a2t Onde C1 e C2 são constantes a se determinar a partir das condições de contorno. A fim de simplificar a expressão para I(t), definimos também as seguintes constantes: γ = ω o= R 2L 1 LC Com isto obtemos: −γ + γ 2 −ω 2 t o I (t ) = C1e −γ − γ 2 −ω 2 t o + C2 e Podemos agora considerar três casos distintos. No caso em que ωo=γ, o comportamento de I(t) se reduz a um decaimento exponencial, com constante de decaimento γ. Quando ωo<γ encontramos uma superposição de dois decaimentos exponenciais, com constantes de decaimento distintas. O caso mais complexo ocorre quando ωo>γ. Neste caso o termo sob raiz quadrada é menor que zero, e I(t) pode ser escrita como: −γ +i ω 2 −γ 2 t o I (t ) = C1e −γ −i ω 2 −γ 2 t o + C2 e I(t) seria então uma grandeza complexa, a menos que: C1 ≡ C2* Suponhamos então: C1 = 12 Ae iϕ C 2 = 12 Ae −iϕ Assim encontramos: I (t ) = 2 K cos α Onde: K = 12 Ae −γt α= (ω 2 o ) −γ 2 t +ϕ As constantes A e ϕ podem ser determinadas pela condição de contorno [em t=0, I(t)=Q(t)=0]: I (0) = cos ϕ ⇒ ϕ = ± π2 Da equação para Q(t) obtemos, em t=0: [L dIdt ]t =0 = Vo Como [dIdt ]t =0 = [2K (γ cosα − ⇒ A=! ω o2 − γ 2 senα )] t =0 = ! ω o2 − γ 2 A Vo ω o2 −γ 2 L Note-se a polaridade de Vo define o sinal das constantes A e ϕ. Supondo Vo < 0, chegamos a: Vo < 0 ⇒ A = − Vo ω o2 −γ 2 L , ϕ = π2 Encontramos assim a expressão final para I(t): I (t ) = − Vo ω o2 −γ 2 L e −γt cos [( ω 2 o ) ] − γ 2 t + π2 = − Vo ω o2 −γ 2 L e −γt sen [( ω 2 o )] −γ 2 t 1,0 0,8 γ =2 ωο=20 0,6 0,4 I(t) 0,2 0,0 -0,2 -0,4 -0,6 -0,8 -1,0 0 1 2 3 4 t Fig. 23: Representação da oscilação harmônica amortecida descrita por I(t) Como mostramos na Fig. 23, I(t) representa uma oscilação amortecida. Escolhendo apropriadamente ωo e γ pode-se programar a taxa de amortecimento da oscilação, ou também a supressão das oscilações (ωo = γ). Este último caso é de interesse quando se pretende eliminar efeitos transientes induzidos quando se aciona um circuito. O resistor R pode por exemplo corresponder a uma carga à qual se transmite corrente quando ligamos a chave do circuito. 2.9 Teoremas de Thevenin e de Norton Neste capítulo apresentamos diferentes métodos de análise de circuitos elementares. Estes métodos foram aplicados aos circuitos representados nas Figs. 08 e 11. São circuitos efetivamente simples, mas de interesse muito amplo, devido ao fato de que podem representar circuitos mais complexos. O teorema de Thevenin afirma que qualquer circuito contendo fontes de tensão e resistores pode ser reduzido a um circuito equivalente contendo unicamente uma fonte de tensão (Veq) e um resistor (Req). Req Qualquer circuito contendo fontes e resistores Vs Rcarga Veq Fig. 24: Representação do Teorema de Thevenin Rcarga Da própria representação gráfica do Teorema de Thevenin podemos deduzir quais devem ser os valores de Veq e Req a partir dos seguintes procedimentos: (a) Quando suprimimos a resistência de carga não há passagem de corrente. Nesse caso, a diferença de potencial entre os terminais de saída do circuito a representar é precisamente Veq. Ou seja, Veq é a voltagem em regime de ‘circuito aberto’. (b) Quando a resistência de carga é nula há passagem de corrente, I. Req é dado por Veq /I . (c) Na ausência de resistência de carga, Req é a resistência observada quando a Veq = 0. Estas regras simples podem ser aplicadas para reduzir a análise de circuitos complicados ao caso do circuito divisor de tensão. Tomemos por exemplo o circuito conhecido como “Ponte de Whetstone”, ilustrado na Fig. 25. R2 R1 R carga V R3 R4 Fig. 25: Circuito “Ponte de Wheatstone” Para encontrar Veq e Req, supomos inicialmente que V é substituído por um curto-circuito e que a resistência de carga é suprimida, de acordo com o procedimento (c) da lista acima. Nestas condições os resistores R1 e R3 estariam em paralelo, assim como os resistores R2 e R4. Conforme mostrado na Fig. 26, Req é dado pela associação em série destas duas combinações: Req = R1 R3 R1 + R3 + RR22+RR44 R1 R3 R2 R4 Fig. 26: Req para o circuito “Ponte de Wheatstone” Aplicando agora o procedimento (a), notamos que Veq, a diferença de potencial entre os terminais de saída quando não há carga, é dado por: Veq = VA − VB = VR3 R1 + R3 4 − RVR 2 + R4 V R1 R2 VA VB R3 R4 Fig. 27: Determinaçã de Veq para o circuito “Ponte de Wheatstone” Outro teorema que também permite a redução de circuitos complexos a circuitos simples é o Teorema de Norton, que afirma que qualquer circuito envolvendo fontes de tensão e resistores pode ser reduzido à associação em paralelo de uma fonte de corrente, Ieq, e um resistor Req. Evidentemente os Teoremas de Thevenin e de Norton devem fornecer resultados coerentes entre si. Esta própria coerência permite determinar Ieq e Req para o teorema de Norton. De acordo com a equivalência mostrada na Fig. 28, notamos que Req é o próprio Req referido no Teorema de Thevenin, e Ieq é a corrente que circula por Req quando a resistência de carga é nula (curto circuito): I eq = Veq Req Req Qualquer circuito contendo fontes e resistores Veq Ieq Req Fig. 28: Equivalência entre os teoremas de Norton e Thevenin Uma fonte de corrente não é algo tão comum quanto uma fonte de tensão. Mas há situações físicas em que um dispositivo efetivametne atua como fonte de corrente. Por exemplo, no momento em que um detector de partículas apresenta um evento, há liberação de energia, na forma de carga elétrica, dentro do detector. Tipicamente (detectores a gás, a semicondutor, fotomultiplicadoras) o sinal elétrico se transmite entre dois eletrodos (catodo e anodo) que definem uma capacitância. A equivalência entre os Teoremas de Thevenin e de Norton sugere que o mesmo fenômeno pode ser interpretado eletricamente como uma fonte de tensão em série com a capacitância entre os eletrodos, ou como uma fonte de corrente em paralelo com esta capacitância. No primeiro caso notamos que o pulso de tensão é diferenciado com uma constante de tempo RC, onde C é a capacitância do detector e R é a resistência de carga. No segundo caso o pulso de corrente carrega a capacitância C com carga Q, a uma taxa determinada pela constante de integração RC. ‘Q’ é a carga elétrica gerada pela detecção da partícula, e R se materializa como a impedância de entrada do circuito utilizado para observar o sinal. No caso de um detector a gas utilizando fios como eletrodos, o pulso de tensão pode ser satisfatoriamente modelado por uma função do tipo: V (t ) = K ln 1 + tto ( K e to constantes ) Este pulso se propaga através da capacitância C. A ele está associada uma corrente: ( ) I (t ) = C dtd K ln 1 + tto = - CK2 1 t + to de modo que as representações elétricas do mesmo fenômeno baseadas nos teoremas de Thevenin e de Norton sejam compatíveis.