O SR. Candinho Mattos (PSDB-RJ. Pronuncia o seguinte discurso.) - Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, Teve divulgação, faz poucos dias, a Tábua Completa de Mortalidade do IBGE, com novidades sobre a expectativa média de vida do brasileiro. Para nossa surpresa, muito pouco se comentaram seus importantes dados, inclusive nesta Casa, habitualmente uma caixa de ressonância dos assuntos mais palpitantes da coletividade. Imaginemos se a situação oposta houvesse ocorrido. Ou seja, se a imprensa houvesse publicado, nas manchetes de seus mais populares veículos, dados da Tábua do IBGE, que demonstrassem haver a expectativa média de vida dos brasileiros, em lugar de aumentado, como de fato se deu, regredido, de 68,6 anos para 66 anos, entre os anos de 1991 e 2000. Fosse essa a realidade, teríamos, neste recinto e fora dele, nas declarações dos líderes políticos, particularmente 2 entre os candidatos de oposição à Presidência, um verdadeiro festival de altissonantes condenações das políticas seguidas pelo governo, durante os dois mandatos de Fernando Henrique Cardoso. Ouviríamos veementes condenações do "descalabro" de nossas políticas sociais. É curiosa tal assimetria de julgamento. Fosse negativo o dado do IBGE, seria explorado até a exaustão pelos que vêem a realidade com as viseiras da ideologia e dos interesses políticos e partidários menores. Como o dado é positivo, ou é ignorado ou, quando comentado, seu significado é visto como desprovido de méritos. Apesar, porém, da conspiração do silêncio, não se pode tapar o sol com a peneira. Se a situação social se houvesse deteriorado, como tantos proclamam, como explicar que os brasileiros estejam vivendo mais do que no começo da década de 1990? Sem dúvida, os indicadores dos progressos na expectativa de vida são medida muito efetiva de que as coisas melhoraram. 3 Quando do recente falecimento do Dr. Vilmar Faria, o brilhante sociólogo que assessorava o Presidente República nas políticas sociais, observou-se nos jornais como ele reagia ao examinar os dados. Aos muitos que olhavam o copo e diziam estar ele meio vazio, retrucava Vilmar Faria que, ao contrário, o recipiente já estava meio cheio. Ou seja, fixava-se ele no sentido do movimento -um copo a encher-se --, o que justificava um otimismo moderado, em vez de aferrar-se à crítica negativista, porque o copo ainda não estava cheio. Estivesse regredindo a expectativa média de vida dos brasileiros, aí, sim, seria o caso de darmos a mão à palmatória e reconhecer o rotundo fracasso da política governamental. Porque tudo o que se faz no chamado "social" deve redundar em melhor qualidade de vida, da qual um dos aspectos é precisamente o aumento do número de anos que se espera viverem as pessoas. 4 Outro dia, dois comentaristas de rádio, conhecidos por atitudes muito críticas ao governo, discorriam sobre o aumento da expectativa de vida média de nossos concidadãos. Como não podiam dizer que os brasileiros estavam morrendo mais cedo, pois isso afrontaria os dados, procuraram sutilmente desmerecer a conquista que eles assinalam. Para aqueles jornalistas, vive-se mais, mas com menos qualidade de vida. Tolice rematada, pois se as pessoas vivem mais, é porque a qualidade de vida melhorou, mesmo que ainda não possamos dar-nos por satisfeitos. Há menos fome, menos doenças transmitidas pelo meio ambiente, mais medicina preventiva e mais disponibilidade da medicina curativa. Pode não ser tudo o que a idéia de qualidade de vida pressupõe, mas são, sem dúvida, componentes essenciais de uma vida melhor. Se não tivesse havido melhoria nesses e em outros aspectos, os brasileiros não estariam vivendo mais, senão menos. 5 Contudo, a oposição logrou incutir, na opinião pública, a idéia de que o governo fez pouco ou nada na área social. A política social teria sido um clamoroso fracasso do governo tucano. É isso verdade? Essa visão preconceituosa tornou-se um lugar comum equivocado e mal-intencionado. Quando nos decidimos por este breve pronunciamento, deparamos com texto da socióloga Maria Hermínia Tavares de Almeida, sobre a política social do governo, que veio a calhar. Menciona ela um estudo recente do IPEA, "Políticas Sociais: Acompanhamento e Análise", que mostra o significativo crescimento do gasto do governo Fernando Henrique na área social. Em 1998, por exemplo, tal gasto representou cerca de 12% do PIB, ou pouco mais de R$ 137 bilhões. Somados os recursos despendidos por estados e municípios, nosso gasto social é da ordem de 19% do PIB, montante, como observa a socióloga, "bastante aceitável para um país de nível médio de 6 desenvolvimento". O problema, segundo Maria Hermínia, é que o gasto social federal está, em boa medida, engessado pelos compromissos com o pagamentos dos benefícios dos sistemas de previdência dos setores privado e público. Mas os gastos com previdência são relevantes e de inegável impacto social. Sabemos que muitas municípios do interior têm suas economias movimentadas por esses recursos. Mas, além dos gastos em previdência, houve substanciais investimentos em saúde pública e, sobretudo, nas políticas de emprego e reforma agrária. Um outro estudo, de autoria da cientista política Sônia Draibe, da Unicamp, mostra o quanto de inovação vem-se produzindo na política social desde o início da década dos noventa. Nesse período, a política social ampliou seu foco, com a introdução de novas áreas de atuação das políticas públicas de cunho social, como por exemplo o ensino médio e técnico, no setor de educação, a capacitação para 7 o trabalho, inclusive a de jovens; a alfabetização solidária, os programas de renda mínima, a bolsa-escola e o crédito popular, especialmente na zona rural; a erradicação do trabalho infantil e a defesa dos direitos humanos. Além disso, não podemos menosprezar, apesar de serem reformas incompletas, a reforma da previdência, a descentralização da assistência social e a criação dos fundos estaduais e municipais, de acordo com a nova Lei Orgânica da Assistência Social, e a criação do Fundef -que reforçou a municipalização do ensino fundamental; também o estabelecimento do Piso de Assistência Básica e a redefinição das regras que deram novo estímulo à municipalização do atendimento de saúde no âmbito do SUS, a aceleração da Reforma Agrária, os programas de garantia de renda mínima, a mudança das relações entre governo e setor privado na prestação de serviços sociais, efetuada no âmbito da Comunidade Solidária, a ampliação da participação social na gestão dos programas, por meio 8 do estabelecimento dos conselhos setoriais, entre outros muitos programas inovadores. Não se trata de obra apenas do governo federal. Em verdade, está havendo, no Brasil de hoje, um rico processo de influência mútua nas políticas sociais entre prefeituras, governos estaduais e governo federal, e os três interagem com os movimentos sociais, as organizações não governamentais e as empresas. Mas, na deflagração desse processo de melhoria da política social, não foi pequeno o papel da administração de Fernando Henrique Cardoso, com o enfoque inovador que lhe está imprimindo. Sim, o copo ainda não está cheio. Ainda há muito o que fazer. Mas, se melhorou a expectativa de vida média do brasileiro, é sinal de que não estamos indo no caminho errado. O copo já está meio cheio. Não quero, contudo, deixar de assinalar um dado muito preocupante nos indicadores publicados: a grande taxa de mortalidade entre os jovens do sexo masculino, 9 causada pelos acidentes e pelos homicídios. Ou seja, a violência não é algo inconseqüente. Ao contrário, está afetando milhões de brasileiros, encurtando-lhes a vida. Por causa das mortes dos jovens, muitas famílias são hoje chefiadas e compostas basicamente por mulheres. Estas são as famílias onde mais provavelmente vai incidir a pobreza e, até mesmo, a miséria. É uma área em que temos todos de atuar com mais energia e engenho. O Plano Nacional de Segurança Pública foi um passo na direção certa, mas outros precisam ainda ser tomados. São estes os pontos para os quais desejamos chamar a atenção de nossos pares, a propósito dos dados trazidos à luz pelo IBGE. O caminho a percorrer ainda é longo, mas estamos avançando significativamente. Muito obrigado. 11514700-194