UNIVERSIDADE FEDERAL DO MATO GROSSO DO SUL João Donha Nunes DIAGNÓSTICO DE DEPRESSÃO EM PACIENTES CADASTRADOS EM UMA UNIDADE DE ESF Campo Grande – MS UNIVERSIDADE FEDERAL DO MATO GROSSO DO SUL João Donha Nunes DIAGNÓSTICO DE DEPRESSÃO EM PACIENTES CADASTRADOS EM UMA UNIDADE DE ESF Campo Grande – MS Resumo O objetivo desse estudo foi de verificar a frequência de casos de depressão na área de abrangência da ESF Esperança (Chapadão do Sul, MS). Buscou-se, na população adscrita, a existência de casos de depressão através da aplicação de um questionário – Escala de Goldberg, a 294 usuários do SUS. Verificou-se existência de subdiagnóstico de depressão junto à população estudada, pois 69,2% dos participantes apresentaram critério para presença de depressão. Concluiu-se que a frequência de depressão foi considerada alta (62,93%), com predileção pelo gênero feminino, na faixa etária dos 40 a 50 anos. Sumário 1 Introdução--------------------------------------------------------------------05 2 Objetivo------------------------------------------------------------------------06 2.2 Geral--------------------------------------------------------------------------06 2.3 Específico--------------------------------------------------------------------06 3 Método-------------------------------------------------------------------------07 4 Resultados---------------------------------------------------------------------08 5 Discussão-----------------------------------------------------------------------10 6 Conclusão----------------------------------------------------------------------15 7 Referências---------------------------------------------------------------------16 1 INTRODUÇÃO A depressão, na atualidade, tem sido estudada sob as mais diferentes óticas e também tem sido alvo de crescente preocupação em virtude da repercussão do aumento dos índices epidemiológicos de sua incidência nos últimos anos (Leite e Moreira, 2009). Tal agravo acomete o ser humano em diversas fases da sua vida, desde a idade escolar até a fase de envelhecimento. Nesse sentido, verifica-se que a depressão pode afetar o aprendizado (Cruvinel e Baruchovit, 2004), além de ser incidente (13,2%) na população idosa (Pinho et al., 2009). Os pacientes deprimidos apresentam limitação da sua atividade e bem estar, além de maior utilização de serviços de saúde. No entanto, a depressão é subdiagnosticada e subtratada: cerca de 50 a 60% dos casos de depressão não são detectados pelo clínico geral. Frequentemente, tais pacientes não recebem tratamentos suficientemente adequados e específicos, que poderiam prevenir em torno de 70% a morbimortalidade associada. (Docherty, 1997) A depressão é um problema comum em todos os países que realizaram estudos de prevalência, constituindo-se em um importante problema de saúde pública. No Brasil, um estudo multicêntrico mostrou grande variação entre as regiões estudadas, com prevalência entre 3% em São Paulo e Brasília e 10% em Porto Alegre (Almeida-Filho et al., 1997). Em populações específicas como a de pacientes com infarto recente, sua prevalência é de 33%, chegando a 47% nos pacientes com câncer. Como se observa, a depressão faz parte de doenças crônicas e pode surgir em decorrência do tratamento de certas doenças. Como exemplo, na década de 1980, foram descritos sintomas depressivos nos relatos de casos de pacientes que utilizavam interferon (medicamento utilizado para o tratamento de certas hepatites), chegando ao extremo de haver casos de suicídio entre estes. A incidência de depressão para pacientes em uso de interferon variava entre valores de 3% até 57% (Brasil, 2003; Mejia-Guevaro, 2003). Desse modo, nota-se que é importante verificar a ocorrência da depressão, tendo em vista que a mesma é uma condição de saúde comum em cuidados primários, sendo sua evolução caracterizada por episódios recorrentes (Mueller et al., 1999). Além disso, faz-se necessário identificar casos novos para realização de tratamento mais precoce, pois quanto mais longo é o período sintomático, menor é a chance de recuperação. O percentual de recuperação do paciente nos primeiros meses de sintomas é de 50%, decaindo de maneira significativa com o passar dos meses (Keller et al., 1992). O objetivo desse estudo será de identificar os casos de depressão na área de abrangência do ESF Esperança (Chapadão do Sul, MS). 2 OBJETIVOS 2.1 GERAL Verificar o diagnóstico de casos de depressão na área de abrangência da ESF Esperança (Chapadão do Sul, MS). 2.2 ESPECÍFICO Conhecer a distribuição desse agravo na comunidade estudada, quanto ao gênero e idade. 3 MÉTODO Com esse estudo de natureza quantitativa, buscou-se o diagnóstico situacional relativo à frequência da depressão na área de abrangência da ESF Esperança (Chapadão do Sul, MS). Para tanto, os Agentes Comunitários de Saúde (ACS) foram capacitados para a aplicação de um questionário de rastreamento de depressão, por ser um instrumento validado (Anderson et al., 2001) e de simples utilização, ilustrado na Figura 1. 1 - Durante o último mês, você se sentiu incomodado por estar “para baixo”, deprimido ou sem esperança? 2 - Durante o ultimo mês, você se sentiu incomodado por ter pouco interesse ou prazer para fazer as coisas? Critério diagnóstico: Sim para as duas questões (sensibilidade = 96%; especificidade = 57%) Escala de Goldberg para detecção de depressão: 1) Você vem tendo pouca energia? 2) Você vem tendo perda de interesse? 3) Você vem tendo perda de confiança em si mesmo? 4) Você tem se sentindo sem esperança? (sim para qualquer uma, continue...) 5) Você vem tendo dificuldade para concentrar-se? 6) Você vem tendo perda de peso (devido a pouco apetite)? 7) Você tem acordado cedo? 8) Você vem se sentindo mais “devagar”? 9) Você tende a se sentir pior pela manhã? Critério diagnóstico: Sim para três ou mais questões (sensibilidade = 85%; especificidade = 90%). Figura 1 - Questionário para Rastreamento de Depressão Fonte: (Anderson et al., 2001) A amostra foi constituída aleatoriamente na área adscrita à ESF previamente referida, a qual possui 4.275 usuários cadastrados. Inicialmente, seriam aplicados 297 questionários; 03 usuários se recusaram a respondê-lo (n=294). 4 RESULTADOS A Tabela 1 apresenta os dados relativos à presença e ausência de critérios para depressão na população estudada. Tabela 1 – Presença e ausência de critérios para depressão, por gênero (Chapadão do Sul, 2011; n=294). Depressão Gênero Feminino (Frequência- %) Masculino (Frequência- %) Total (Frequência- %) Presente Ausente Total de respondentes 160 38 198 (80,81%) (19,19%) (67,35%) 25 71 96 (26,05%) (73,95%) (32,65%) 185 109 294 (62,93%) (37,07%) (100%) 50 40 30 20 10 0 2001 à 1992 1991 à 1982 1981 à 1972 1971 à 1962 1961 à 1952 1951 à 1942 1941 à 1932 1931 à 1922 % Nas Figuras 2 e 3, está ilustrada a frequência dos respondentes com e sem depressão, distribuídos por faixa etária e gênero (feminino e masculino), respectivamente. com depressão sem depressão Ano de nascimento Figura 2 - Frequência (%) de respondentes do gênero feminino com e sem depressão, por faixa etária (Chapadão do Sul, 2011). 1941 à 1932 1951 à 1942 1961 à 1952 1971 à 1962 1981 à 1972 1991 à 1982 2001 à 1992 % 12 10 8 6 4 2 0 com depressão sem depressão Ano de nascimento Figura 3 - Frequência (%) de respondentes do gênero masculino com e sem depressão, por faixa etária (Chapadão do Sul, 2011). 5 DISCUSSÃO Através desse estudo, verificou-se a existência de subdiagnóstico da depressão na área adscrita à ESF Esperança, pois foram encontrados critérios para depressão em 185 usuários que responderam ao questionário, o que equivale a 62,9% da amostra, já que esta foi constituída de 294 indivíduos. Os casos depressivos foram mais frequentes em mulheres. Tal fato pode estar relacionado às questões hormonais inerentes ao gênero, o que foi evidenciado por Dunn e Steiner (2000), os quais propuseram uma hipótese de sustentabilidade biológica para explicar as diferenças nas prevalências de transtornos de humor entre gêneros. Segundo esses autores, haveria, na mulher, um desequilíbrio na interação entre o eixo do hipotálamo e hipotálamo-gônada, implicando maior vulnerabilidade às mudanças do ritmo neuroendócrino, relacionado à reprodução na mulher, tornando-o altamente afetado por fatores psicossociais, ambientais e fisiológicos. Outras teorias têm sido exploradas para explicar as diferenças do gênero na prevalência de depressão, como, por exemplo, maior persistência dos episódios depressivos em mulheres que em homens, permeada pela influência de pressões sociais, estresse crônico e baixo nível de satisfação associados ao desempenho de papéis tradicionalmente femininos, ou pela forma diferencial entre gêneros de lidar com problemas e buscar soluções. A prevalência de ponto varia de 5% a 9% para mulheres e de 2% a 3% para homens. A prevalência de depressão maior se mantém constante entre diferentes raças e culturas. Independente de outros fatores demográficos, as mulheres são universalmente mais acometidas por depressão maior que os homens, numa proporção de 2:1. A idade média do inicio do transtorno depressivo maior se situa por volta do 40 anos. Metade dos pacientes apresenta inicio dos sintomas entre os 20 e 50 anos. Embora menos comumente, tal quadro também pode iniciar na infância e adolescência (Michelon et al., 2008) Os critérios de inclusão da idade acima de 15 anos justifica-se através dos estudos da OPAS, que confirmaram ser a faixa etária de 15 a 44 anos aquela em que os transtornos mentais estão mais presentes, sendo responsáveis pelo ônus da incapacidade (OMS, 2001). O perfil de comodidade também parece diferir entre gêneros, com mulheres apresentando maiores traços de ansiedade associados à depressão. Enquanto em homens, este apresenta-se relacionado ao abuso de substâncias psicoativas e transtornos de conduta. Entre os principais casos de incapacitação, cinco deles são transtornos psiquiátricos, sendo a depressão responsável por 13% das incapacitações, alcoolismo por 7%, esquizofrenia por 4%, transtorno bipolar por 3,3% e transtorno obsessivo-compulsivo por 2,8% (Lopes e Murray, 1998), daí a importância de se realizar a busca ativa desse agravo junto à população adscrita. Por tais motivos, é importante aplicar esse questionário na comunidade, pois acredita-se que em 2020, a depressão será provavelmente a segunda maior causa de doenças (doença do século) (Murray e Lopes, 1997). Nesse sentido, esse trabalho vem chamar a atenção para a existência frequente de casos de portadores de depressão, que não são diagnosticados. O questionário para rastreamento e a escala de Goldberg para detecção de depressão devem ser executados pelos profissionais das equipes da Estratégia da Saúde da Família rotineiramente, a fim de que seja possibilitado o diagnóstico precoce do agravo. Observa-se que os valores encontrados nesse estudo são semelhantes aos da literatura (Duncan et al., 2006), denotando a existência de um relevante/iminente problema de saúde pública na área de abrangência da ESF-Vila Esperança. Com a realização desse trabalho, através da busca ativa de casos depressivos, buscou-se ampliar o olhar da equipe de ESF acerca da temática abordada, o que pode auxiliar o diagnóstico e possibilitar o tratamento da depressão em fase inicial. Nesse aspecto, destacou-se a participação dos agentes comunitários de sáude como atores que representam o elo entre a equipe de ESF e a comunidade, os quais, após a capacitação para realização do estudo, viabilizaram-no de maneira adequada, com vistas ao seu objetivo. Desse modo, ratifica-se o fato de que a atenção à saúde mental corresponde a um eixo importante para que a integralidade das ações de saúde seja contemplada, e que a aplicação de instrumentos diagnósticos relativamente simples pode ser suficiente para que se conheça o diagnóstico situacional da comunidade em relação a um determinado agravo, o que poderá possibilitar um melhor planejamento das ações da equipe de ESF. As pessoas portadoras de depressão encontrados neste trabalho foram encaminhadas ao tratamento adequado. 6 CONCLUSÃO Na população estudada, a frequência de depressão foi considerada alta (62,93%), com predileção pelo gênero feminino, na faixa etária dos 40 a 50 anos. 7 REFERÊNCIAS Almeida-Filho N, Mari JJ, Coutinho E, Franco JF, Fernandes J, Andreoli SB et al. Brazilian multicentric study of psychiatric morbidity: methodological features and prevalence estimates.Br J Psychiatry. 1997; (171):524-9. Brasil, MA; Mejia-Guevaro, J. Hepatite C, interferon e depressão: uma revisão (da série Depressão Induzida por Substâncias). J Bras Psiquiatr. 2003; 52(2):117-26. Cruvinel M, Baruchovit E. Sintomas depressivos, estratégias de aprendizagem e rendimento escolar de alunos do ensino fundamental. Psicol. estud. [online]. 2004; 9(3):369-78. Docherty JP. Barriers to the diagnosis of depression in primary care. J Clin Psychiatry. 1997; (58):5-10. Duncan BB, Schimidt MI, Giugliani ERJ et al. 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