PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO PARANÁ PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM TECNOLOGIA EM SAÚDE FRANCINE DE OLIVEIRA FISCHER SGROTT ESTIMULAÇÃO ELÉTRICA DO NERVO TIBIAL POSTERIOR PARA O TRATAMENTO DA BEXIGA HIPERATIVA REFRATÁRIA DE ORIGEM NÃO NEUROLÓGICA CURITIBA 2007 Livros Grátis http://www.livrosgratis.com.br Milhares de livros grátis para download. FRANCINE DE OLIVEIRA FISCHER SGROTT ESTIMULAÇÃO ELÉTRICA DO NERVO TIBIAL POSTERIOR PARA O TRATAMENTO DA BEXIGA HIPERATIVA REFRATÁRIA DE ORIGEM NÃO NEUROLÓGICA Dissertação apresentada ao Programa de Pós Graduação em Tecnologia em Saúde da Pontifícia Universidade Católica do Paraná como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre em Tecnologia em Saúde. Orientadora: Profª Drª Elisangela Ferretti Manffra Co-orientador: Prof. Dr. Wilson Francisco Schneider Busato Jr. CURITIBA 2007 A meu esposo, Emerson Alexandre, companheiro e incentivador em todas as horas, aos nossos futuros filhos ... ... e aos meus pais, Edemar e Bernadete, sem vocês eu nada seria, obrigada pela educação. Dedico este trabalho. AGRADECIMENTOS Expresso minha gratidão a todas as pessoas que se envolveram direta ou indiretamente com minha pesquisa. Agradeço a Deus por ter-me permitido concluir esse trabalho, de grande importância para a minha vida profissional e aos meus irmãos, Caroline e Luiz Gustavo, vocês são muito importantes para mim. As minhas avós, Olga e Emília, carinho de vovó é tudo e os meus avôs, Arthur e Estevam, tão longe, tantas saudades... Aos meus sogros, Bento e Ana, boas lições em pouco tempo. À minha orientadora, professora Dra. Elisangela Ferretti Manffra, por acreditar na minha idéia de pesquisa e me auxiliar sempre neste trabalho e ao co-orientador, professor Dr. Wilson Busato, por além de aceitar a co-orientação também realizou os exames e consultas necessárias para a viabilização da pesquisa. À Universidade do Vale do Itajaí (UNIVALI), principalmente na figura da professora Arlete Besen Soprano, diretora do Centro de Ciências da Saúde e da professora Luciana de Oliveira Gonçalves, coordenadora do curso de Fisioterapia e dos professores do curso de Fisioterapia: Ana Lígia Oliveira, Christian Marchi, Cilene Volkmer, Ana Beatriz Tonon Cheren, Fabiane Del’Antonio, Vera Lígia Bento Galli, Marta Carpes, Karen Simon, Rúbia Gianchini, Clarice Pamplona, Alexsandra Dias, Silvia Dias, Emmanuel Pannizzi, Marlus Karsten, Marcelo Dias, Simone Viana e Simone Gasperin, Danieli Ribas, Edilaine Kerkoski... Nosso caminho é recente e o trilharemos com sabedoria e sapiência. Aos meus “novos” amigos do Programa de Mestrado em Tecnologia em Saúde, pela colaboração voluntária em meu crescimento profissional e na realização desta dissertação, Giullia Rinaldi, Cristiane Veiga, Francine Cavalli, Beatriz Zanon, Josué Julliato, Richard Wüge, Patrícia Manfre, Anselmo Grecco Neto, Ericsson Pereira... São amizades para a vida toda, contem comigo... As funcionárias da Clínica de Fisioterapia da UNIVALI e do Instituto Catarinense de Urologia (INCAU) pela dedicação e paciência comigo quando necessitávamos marcar as voluntárias para os exames e atendimentos. E, por último, e não menos importante, as minhas queridíssimas voluntárias, sempre presentes e preocupadas comigo e com “nossa” pesquisa, a elas o meu muito obrigada. “Agora nunca mais poderei saber se sou um louco ou se fiz o que determina meu carma.” Gary Snyder (2005) RESUMO Incontinência Urinária (IU) é definida como qualquer perda involuntária de urina pelo meato uretral. Uma de suas formas é a Bexiga Hiperativa (BH), que é segunda maior causa de perda de urina na mulher. A BH é caracterizada pelo aumento da freqüência urinária diurna e noturna, urgência miccional e/ou urge-incontinência. As pessoas com BH apresentam restrição em suas atividades e baixa qualidade de vida, devido a distúrbios emocionais, isolamento social e alteração no sono. Uma das formas de tratamento da BH com fisioterapia é a estimulação elétrica do nervo tibial posterior (PTNS). Os objetivos desta pesquisa foram de verificar o efeito da estimulação elétrica do nervo tibial posterior no tratamento da BH de origem não neurológica, verificando se ocorriam: diminuição das contrações não inibidas do detrusor, alterações no comportamento miccional e na qualidade de vida após a aplicação da PTNS. Participaram deste estudo 11 mulheres com idades entre 22 e 65 anos, diagnóstico de BH idiopática pelo exame de urodinâmica e refratárias ao tratamento com anti-colinérgico. A PTNS foi aplicada por 12 sessões, 2 a 3 vezes na semana, com corrente bifásica, largura de pulso fixa de 200 µs, freqüência de 10 Hz, sem tempo de repouso e intensidade de corrente até no limiar doloroso (variando entre 0 a 10 mA). Antes do início e ao final do tratamento, as voluntárias responderam a dois questionários de qualidade de vida específicos para IU (“King’s Health Questionnaire” e “Internacional Consultation on Incontinence Questionnaire – Short Form”) e foram submetidas a avaliações urodinâmicas. Também preencheram diários miccionais de três dias no início, metade e no final do tratamento com PTNS. Os diários miccionais demonstraram uma diminuição do número de micções diárias após o tratamento até a normalidade. Houve também uma melhor significativa na qualidade de vida das pacientes apontada pelos questionários aplicados. Entretanto, no exame de urodinâmica, as contrações não inibidas do detrusor ainda permaneceram em 63% da amostra. Os demais parâmetros do exame da urodinâmica também não trouxeram resultados conclusivos sobre os efeitos da PTNS. A partir da melhora clínica observada, conclui-se que a PTNS mostrou-se eficaz no tratamento da BH. A permanência das contrações não inibidas do detrusor mostram, no entanto, que são necessários mais estudos para elucidar os mecanismos neurais de ação da PTNS. Palavras-chave: Fisioterapia. Bexiga urinária hiperativa. Estimulação elétrica transcutânea do nervo. Nervo tibial. ABSTRACT Urinary incontinence (UI) is defined as any involuntary urine flow through the urethra. The second cause of UI in women is overactive bladder (OAB), which is characterized by increased diurnal and nocturnal urinary frequencies, by urgency and/or urge-incontinence. Patients with OAB have restrictions in their daily activities and poor quality of life, due to emotional problems, social isolation and sleep disturbances. One of the physiotherapeutic treatments of OAB is the percutaneous tibial nerve stimulation (PTNS). The objective of this research was to investigate the effect of PTNS in the treatment of idiopathic OAB. To to this, uninhibited detrusor´s contractions, micturition habits and quality of life were analysed before and after PTNS treatment. Eleven women aging between 22 and 65 years took part in this study. All of them had diagnosis of idiopatic OAB from urodynamics data and were refractory to anticholinergic treatment. The PTNS was applied during 12 sessions, two to three times per week, with biphasic current, fixed pulse width of 200µs, frequency of 10 Hz, without rest time and current intensity limited by painful threshold (ranging from 0 to 10 mA). Before the beginning and at the end of the treatment, the volunteers answered two quality of life questionnaires specific for UI ("King's Health Questionnaire" and "International Consultation on Incontinence Questionnaire - Short Form") and went through urodynamics evaluation. They also filled three day micturition diaries at the beginning, middle and end of the treatment with PTNS. The micturition diaries demonstrated a reduction of urinary frequency after treatment achieving normal levels. There was also a significant improvement in the quality of life, according to the applied questionnaires. However, the detrusor uninhibited contractions still remained in 63% of the volunteers. The other urodynamics parameters, didn't bring conclusive results about PTNS effects, either. From the observed clinical improvement, it is possible to conclude that PTNS was effective in the treatment of refractory OAB. The permanence of detrusor uninhibited contractions shows, however, that more studies are necessary in order to elucidate the neurological mechanisms of PTNS action. Key-words: Physiotherapy. Overactive Urinary Bladder. Transcutaneous Electric Nerve Stimulation. Tibial nerve. LISTA DE FIGURAS Figura 1: Exemplo de exame de urodinâmica onde podem ser observadas as contrações não inibidas (CNI) do detrusor que são características da bexiga hiperativa, onde as setas caracterizam o esforço solicitado indicando as CNI. ..................................................... 28 Figura 2: Exemplo de exame de urodinâmica com padrão miccional dentro da normalidade...... 29 Figura 3: Representação da localização dos eletrodos e da atuação da PTNS (Percutaneous Tibial Nerve Stimulation) ............................................................................................... 46 Figura 4: Forma de onda utilizada na estimulação elétrica no nervo tibial posterior.................... 60 Figura 5: Uso de protetor íntimo, pré-PTNS e pós-PTNS............................................................. 64 Figura 6: Média e desvio-padrão das micções em 24 h por três dias consecutivos. ..................... 65 Figura 7: Média e desvio-padrão das micções noturnas em 24 h por três dias consecutivos........ 65 Figura 8: Média e desvio-padrão do número de perdas urinárias em 24 h por três dias consecutivos. .................................................................................................................. 66 Figura 9: Média e desvio-padrão dos episódios de urgência miccional leve em 24 h por três dias consecutivos. .................................................................................................................. 67 Figura 10: Média e desvio-padrão dos episódios de urgência miccional moderada em 24 h por três dias consecutivos. .................................................................................................... 67 Figura 11: Média e desvio-padrão dos episódios de urgência miccional severo em 24 h por três dias consecutivos. ........................................................................................................... 68 Figura 12: Média e desvio-padrão da Capacidade Cistométrica Máxima (CCM), segundo o exame de urodinâmica pré e pós PTNS. .................................................................................... 69 Figura 13: Média e desvio-padrão do Primeiro desejo miccional (PD), segundo o exame de urodinâmica pré e pós PTNS. ......................................................................................... 70 Figura 14: Média e desvio-padrão do Forte desejo miccional (FD), segundo o exame de urodinâmica pré e pós PTNS. ......................................................................................... 70 Figura 15: Média e desvio-padrão do Domínio Percepção Geral da Saúde do “King’s Health Questionnaire” (KHQ).................................................................................................... 72 Figura 16: Média e desvio-padrão de três domínios do “King’s Health Questionnaire” (KHQ).. 72 Figura 17: Média e desvio-padrão de quatro domínios do “King’s Health Questionnaire” (KHQ)............................................................................................................................. 73 Figura 18: Média e desvio-padrão da pontuação do “Internacional Consultation on Incontinence Questionnaire – Short Form” (ICIQ-SF). ....................................................................... 74 LISTA DE QUADROS Quadro 1: Termos utilizados para descrever os parâmetros encontrados na Cistometria. ............ 27 Quadro 2: Variáveis do Diário Miccional. .................................................................................... 55 Quadro 3: Variáveis do exame de Urodinâmica............................................................................ 56 Quadro 4: Variáveis do questionário de qualidade de vida “King´s Health Questionnaire”. ....... 58 Quadro 5: Variáveis do questionário de qualidade de vida “Internacional Consultation on Incontinence Questionnaire – Short Form”. ................................................................ 58 LISTA DE TABELAS Tabela 1: Medida da força muscular perineal segundo o esquema P.E.R.F.E.C.T., para fibras tônicas e fibras fásicas. Dentro dos quadros estão descritos o numero de repetições X e a duração da repetição, realizadas pelas voluntárias sem apresentar sinais de fadiga muscular. ........................................................................................................................ 63 Tabela 2: Momentos comparados dois a dois no diário miccional com relação à média das micções, número de perdas e urgência moderada. MM: média das micções, NP: número de perdas, EU++: Urgência miccional moderada.............................................. 68 Tabela 3: Presença das contrações não inibidas do detrusor (CNI), pré e pós-PTNS................... 71 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................................ 14 1.1 OBJETIVO GERAL................................................................................................................ 16 1.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS .................................................................................................. 16 2 REVISÃO DA LITERATURA ............................................................................................... 17 2.1 NEUROFISIOLOGIA DA MICÇÃO ..................................................................................... 17 2.1.1 Fase de enchimento vesical ................................................................................................ 20 2.1.2 Fase de micção .................................................................................................................... 20 2.2 INCONTINÊNCIA URINÁRIA ............................................................................................. 21 2.3 MÉTODOS DE AVALIAÇÃO DA INCONTINÊNCIA URINÁRIA................................... 24 2.3.1 Avaliação urodinâmica....................................................................................................... 24 2.3.2 Diário miccional.................................................................................................................. 29 2.3.3 Questionários de qualidade de vida .................................................................................. 30 2.3.4 Avaliação funcional do assoalho pélvico........................................................................... 35 2.4 TRATAMENTO DA BEXIGA HIPERATIVA...................................................................... 38 2.4.1 Tratamento farmacológico................................................................................................. 38 2.4.2 Cinesioterapia ..................................................................................................................... 39 2.4.3 Eletroterapia ....................................................................................................................... 40 2.4.4 Estimulação elétrica no Nervo Tibial Posterior (PTNS)................................................. 44 3 METODOLOGIA..................................................................................................................... 52 3.1 LOCAL DO ESTUDO ............................................................................................................ 52 3.2 POPULAÇÃO ......................................................................................................................... 52 3.3 ANAMNESE ........................................................................................................................... 53 3.4 DIÁRIO MICCIONAL............................................................................................................ 54 3.5 EXAME DE URODINÂMICA............................................................................................... 55 3.6 QUESTIONÁRIOS DE QUALIDADE DE VIDA ................................................................. 57 3.7 APLICAÇÃO DO PROTOCOLO DE ESTIMULAÇÃO ELÉTRICA .................................. 59 3.8 ANALISE ESTATÍSTICA DOS DADOS .............................................................................. 60 4 RESULTADOS ......................................................................................................................... 62 4.1 AMOSTRA.............................................................................................................................. 62 4.2 AVALIAÇÃO DO ASSOALHO PÉLVICO E USO DE PROTETORES ÍNTIMOS............ 62 4.3 DIÁRIO MICCIONAL............................................................................................................ 64 4.4 PARÂMETROS URODINÂMICOS ...................................................................................... 69 4.5 QUALIDADE DE VIDA ........................................................................................................ 71 5 DISCUSSÃO ............................................................................................................................. 75 5.1 DA AMOSTRA....................................................................................................................... 75 5.2 DO PROTOCOLODE ELETROESTIMULAÇÃO ................................................................ 77 5.3 DA AVALIAÇÃO DO ASSOALHO PÉLVICO E USO DE PROTETOR ÍNTIMO............ 78 5.4 DOS RESULATDOS DO DIÁRIO MICCIONAL................................................................. 79 5.5 DOS RESULTADOS DAS URODINÂMICAS ..................................................................... 81 5.6 DOS QUESTIONÁRIOS DE QUALIDADE DE VIDA ........................................................ 83 6 CONCLUSÕES......................................................................................................................... 86 REFERÊNCIAS .......................................................................................................................... 88 APENDICE A - TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO................. 99 APENDICE B - FICHA DE AVALIAÇÃO ............................................................................ 102 ANEXO A - PARECER DO COMITÊ DE ÉTICA EM PESQUISA................................... 106 ANEXO B - DIÁRIO MICCIONAL........................................................................................ 108 ANEXO C - VERSÃO EM PORTUGUÊS DO “KING’S HEALTH QUESTIONNAIRE” ................................................................................................................. 109 ANEXO D - “INTERNACIONAL CONSULTATION ON INCONTINENCE QUESTIONNAIRE – SHORT FORM”.................................................................................. 113 ANEXO E - ESCALA VISUAL DE DOR (EVA)................................................................... 114 14 1 INTRODUÇÃO A Sociedade Internacional de Continência (ICS) considera Incontinência Urinária (IU) como qualquer perda involuntária de urina. Para Broome (2003), a prevalência da incontinência urinária é estimada em 15 a 35% da população adulta com 60 anos ou mais e é maior entre as mulheres, na proporção de duas mulheres para um homem. Existem três tipos de Incontinência Urinária de origem não neurológica, a Incontinência Urinária aos Esforços (IUE) definida como perda involuntária de urina em resposta ao aumento súbito da pressão intra-abdominal após esforços físicos como tossir, sorrir e espirrar (GIRÃO; SARTORI; LIMA, 2004) e a Bexiga Hiperativa (BH) caracterizada pelo aumento da freqüência urinária diurna e noturna, urgência miccional e urge-incontinência (GUIDI et al. 2004, TAMANINI et al., 2004, TAMANINI et al., 2003). Se a BH vem acompanhada de contrações involuntárias do músculo detrusor durante o enchimento vesical, esta condição passa a ser chamada de Hiperatividade Vesical. Para tal condição ser comprovada, é necessário um exame de Urodinâmica. Também podem ocorrer as duas situações expostas simultaneamente, condição esta denominada Incontinência Urinária Mista (FELDNER Jr., 2003; GUIDI et al., 2004). A bexiga hiperativa é a segunda maior causa de incontinência urinária na mulher. Existe grande dificuldade em se estabelecer a sua real incidência, em virtude dos problemas relacionados ao diagnóstico, causados principalmente pela vergonha das pacientes para falar sobre a incontinência urinária ou até mesmo pela falta de investigação clínica (GÉO et al., 2002). Os pacientes com bexiga hiperativa apresentam maior restrição em suas atividades e pior qualidade de vida, quando comparados com pacientes que apresentam outras formas de perdas de urina, podendo apresentar distúrbios emocionais, isolamento social e até alteração no sono. Para Emmons e Otto (2005), são conseqüências comuns dessa condição a perda na produtividade e baixa auto-estima, podendo culminar com o isolamento social. Estima-se que 16 a 26 bilhões de dólares sejam gastos, anualmente, pelos Estados Unidos da América, em produtos para controlar a incontinência urinária (GROSSE; SENGLER, 2002). São várias as formas de tratamento da BH: cirúrgico, farmacológico e a fisioterapia. Dentre as opções de fisioterapia é possível descrever a cinesioterapia, a neuromodulação sacral, a 15 eletroterapia com eletrodos de superfície ou com as sondas endovaginais, e desde 1983, a possibilidade de eletroestimulação no nervo tibial posterior (Percutaneous Tibial Nerve Stimulation - PTNS), conforme Herrmann e Palma (2001) e Kabay; Yucel; Kabay (2008). Todas estas modalidades de tratamento podem ou não ser acompanhadas pela terapia comportamental e pelo diário miccional (BARACHO, 2002 e GIRÃO; SARTORI; LIMA, 2004). Existe uma grande necessidade em buscar novos tratamentos para a BH, visto que muitos dos que estão sendo utilizados apresentam resultados pouco satisfatórios. É o que apresenta Géo et al. (2002), descrevendo que métodos cirúrgicos, por exemplo, podem causar disfunções miccionais, desde o fluxo diminuído até a retenção urinária crônica de urina. Os resultados clínicos e a convergência com os resultados urodinâmicos fazem da bexiga hiperativa uma indicação para a eletroestimulação, mas seu modo de ação ainda não está bem explicado. Supõe-se que a eletroestimulação inibe o músculo detrusor por um reflexo medular longo que requer a integridade de vários nervos e que as vias aferentes utilizadas para a estimulação são sempre as do nervo pudendo (GROSSE; SENGLER, 2002). A eletroestimulação do nervo tibial posterior (PTNS) é uma técnica acessível, não invasiva, livre dos efeitos colaterais dos medicamentos utilizados para o tratamento da bexiga hiperativa, além de ter uma aceitação pelos participantes das pesquisas publicadas. Entretanto, sua forma de ação ainda não está totalmente esclarecida pelos pesquisadores (AMARENCO et al., 2003; FINAZZI AGRO et al., 2005; HOEBEKE et al., 2002). Vários autores, como Amarenco et al. (2003), Andrews e Reynard (2003), De Gennaro et al. (2004), Govier et al. (2001), Hoebeke et al. (2002), Vandoninck et al. (2003) e têm relatado a aplicação da PTNS no tratamento das disfunções miccionais. Dentre a população estudada, De Gennaro et al. (2004) e Hoebeke et al. (2002) citam a utilização desta corrente em crianças com bexiga neurogênica, retenção urinária de origem não-neurogência e descoordenação miccional. Já Amarenco et al. (2003), Andrews e Reynard (2003), Govier et al. (2001) e Vandoninck et al. (2003), relatam suas experiências com homens e mulheres adultos com patologias neurológicas como Esclerose Múltipla, doença de Parkinson, Lesão Medular e bexiga neurogênica. Existe também uma crescente preocupação não só na determinação da ocorrência de incontinência urinária e nas formas de tratamento, como também o fato de quanto esse problema pode interferir no estilo de vida de cada paciente. A Sociedade Internacional de Continência (ICS) recomenda que medidas de avaliação de qualidade de vida, com o uso de questionários 16 específicos e validados para a população avaliada, sejam incluídas nos estudos, como complemento de medidas clínicas, para que novas evidências possam ser adquiridas no entendimento dessa patologia (PACETTA; GIRÃO, 2004; TAMANINI et al., 2004, TAMANINI et al., 2003). Para verificar se o uso da PTNS resultará em inibição das contrações involuntárias do detrusor em mulheres com BH de origem não neurogênica, foram estabelecidos alguns objetivos. 1.1 OBJETIVO GERAL Avaliar o efeito da estimulação elétrica do nervo tibial posterior no tratamento da bexiga hiperativa refratária de origem não neurológica, em mulheres com instabilidade vesical comprovada. 1.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS a) avaliar quantitativamente se ocorrem alterações dos parâmetros urodinâmicos com a aplicação da PTNS; b) verificar as alterações no comportamento miccional após a aplicação da PTNS; c) avaliar a qualidade de vida nos pacientes com bexiga hiperativa de origem não neurológica antes e após a aplicação da PTNS. 17 2 REVISÃO DA LITERATURA 2.1 NEUROFISIOLOGIA DA MICÇÃO De acordo com Real et al. (2006) e Rocha e Gomes (2001), para que ocorra a função normal do trato urinário inferior (TUI) é necessário o relaxamento da musculatura vesical e, concomitantemente a contração do mecanismo esfincteriano uretral durante a fase de enchimento da bexiga, e o oposto, durante a micção. Para que esse sincronismo ocorra é indispensável à interação de numerosos arcos reflexos e circuitos nervosos (REAL et al. 2006). A regulação vegetativa da bexiga é um bom exemplo da interação entre o sistema motor voluntário e as divisões simpáticas e parassimpáticas do sistema motor visceral, os quais operam involuntariamente (PURVES et al., 2005). Quando há eliminação de urina, a influência cortical inicialmente desinibe o reflexo miccional. A seguir, ocorre o relaxamento do esfíncter estriado externo. O centro miccional é necessário para uma atividade de eliminação coordenada, controlando o reflexo do arco sacral via leitos do cordão espinhal. Uma diminuição da atividade espinhal simpática da bexiga e colo vesical provoca um aumento na atividade do músculo detrusor. Este se contrai e o trígono vesical afunila-se e abre-se, permitindo a passagem da urina (WEI, RAZ, YOUNG, 2001). Segundo Real et al. (2006) e Rocha e Gomes (2001), os neurônios motores da bexiga e da uretra estão localizados na medula espinhal e a coordenação dessas atividades neuronais estão na ponte e nos núcleos da base no cérebro. Para estes autores acima, a percepção das sensações trazidas da bexiga pelas fibras sensitivas e sua atividade voluntária são dependentes do centro cortical da micção. Este ainda relata que, aparentemente, os centros pontinos coordenam a micção como um todo, mas o centro superior, cortical, determina o início, o retardo e a interrupção da micção; e a inervação do trato urinário inferior tem uma organização que inclui o córtex cerebral, a ponte, a medula espinhal e os nervos periféricos. O centro do controle voluntário da micção, conforme citam Krane e Siroky (1991), Real et al. (2006) e Rocha e Gomes (2001), está localizado no córtex cerebral, bilateralmente na região lateral do cérebro, no giro pré-central, com predominância no lobo direito. Neste centro cortical, 18 duas funções ocorrem: a inibição voluntária do detrusor e o controle emocional da micção, impedindo as pessoas de urinarem em público. O núcleo da micção, ou núcleo de Barrington, está localizado nas regiões medial e dorsolateral do segmento pontino, representado por uma estrutura bilateral, importantíssima no reflexo miccional, conhecida como centro do detrusor ou centro pontino da micção (REAL et al., 2006; ROCHA, 2001). Para Rocha (2001), na ponte ainda existe um grupo de células na porção mais ventral e lateral, o centro pontino esfincteriano ou centro pontino da continência e, através do trato reticuloespinhal, os impulsos chegam ao núcleo de Onuf na medula sacral. Quando estimulado este núcleo gera um grande aumento da pressão uretral. Durante a fase de enchimento vesical, este núcleo mantém atividade constante no esfíncter uretral externo e efeito de relaxamento na atividade do detrusor, gerando a continência urinária. Os principais núcleos da base que participam do ato miccional são o globo pálido, o núcleo caudado e as células da substância nigra cuja principal função é modular o tônus da musculatura do esfíncter uretral externo ou esfíncter estriado (ROCHA, 2001). A função do sistema límbico é de regulação do comportamento emocional, sua estimulação facilita ou deprime a atividade da bexiga, influenciando a micção (REAL et al., 2006). Isto pode ser demonstrado em situações de estresse e nervosismo, em que algumas pessoas costumam ter vontade de urinar (KRANE e SIROKY, 1991; ROCHA, 2001). O cerebelo participa da coordenação motora da musculatura estriada, tanto uretral quanto do assoalho pélvico, mantendo a tonicidade e a força dessa musculatura e interagindo com o cérebro e os núcleos da base. O cerebelo age ainda inibindo as contrações reflexas do detrusor e, segundo Rocha (2001), possivelmente promovendo a coordenação entre a atividade contrátil do detrusor e o relaxamento esfincteriano. O controle parassimpático da musculatura da bexiga, ou seja, a contração do músculo detrusor, que causa o esvaziamento vesical, origina-se em neurônios dos segmentos sacrais da medula espinhal (S2-S4) que inervam os neurônios motores viscerais nos gânglios parassimpáticos ou próximos da parede da bexiga. Mecanorreceptores na parede da bexiga fornecem a informação aferente visceral à medula espinhal e aos centros vegetativos superiores no tronco encefálico. Estes por sua vez, projetam-se a vários centros de coordenação central do 19 funcionamento da bexiga no tronco encefálico (LUNDY-EKMAN, 2004; PURVES et al., 2005 e REAL et al., 2006). O Sistema Nervoso Parassimpático atua especialmente através da liberação da acetilcolina que estimula os receptores nicotínicos e muscarínicos da parede vesical, promovendo sua contração (ROCHA e GOMES, 2001). Já a inervação simpática da bexiga origina-se nos segmentos torácicos inferiores e lombares superiores da medula espinhal entre T10-L2, com os axônios pré-ganglionares rumando para neurônios simpáticos no gânglio mesentérico inferior e nos gânglios do plexo pélvico. As fibras pós-ganglionares desses gânglios seguem, dos nervos hipogástrico e pélvico, para a bexiga, onde a atividade simpática causa o fechamento do esfíncter uretral interno. A estimulação dessa via, em resposta a um pequeno aumento na pressão da bexiga em decorrência do acúmulo de urina, vai, portanto, fechar o esfíncter interno e inibir a contração da musculatura da parede da bexiga, permitindo seu enchimento. Ao mesmo tempo, a distenção moderada da bexiga inibirá a atividade parassimpática. Quando a bexiga estiver repleta, a atividade aferente conduzindo essa informação centralmente aumentará o tônus parassimpático e diminuirá a atividade simpática, promovendo assim, o relaxamento do músculo esfíncter interno e a contração da bexiga. Nessas circunstâncias, a urina será mantida sob controle pela inervação motora voluntária ou pelo Sistema Nervoso Autônomo, no músculo esfíncter externo uretral (LUNDY-EKMAN, 2004; PURVES et al., 2005 e REAL et al., 2006). O Sistema Nervoso Simpático exerce sua influência sobre o trato urinário inferior (TUI) através de estimulação adrenérgica, atuando, principalmente, através da liberação da noradrenalina em receptores β-adrenérgicos no corpo vesical e receptores α-adrenérgicos na base vesical e uretra, conforme descrevem Rocha e Gomes (2001). Purves et al. (2005) descrevem que o controle voluntário do esfíncter externo é mediado pelos motoneurônios α do corno ventral nos segmentos sacrais da medula espinhal (S2-S4), que promovem a contração das fibras musculares estriadas do esfíncter externo. Durante o enchimento da bexiga, esses neurônios estão ativos, mantendo o esfíncter externo fechado e prevenindo o esvaziamento da bexiga. Durante a micção, essa atividade tônica é temporariamente inibida, levando ao relaxamento no músculo esfincteriano externo. Portanto, a micção sempre resulta da atividade coordenada dos neurônios motores α do sistema motor voluntário. 20 2.1.1 Fase de enchimento vesical Na fase de enchimento, a manutenção de baixa pressão vesical, a ausência de contração involuntária do detrusor e o aumento da pressão uretral são o resultado das propriedades viscoelásticas da parede vesical e eletromecânicas dos músculos lisos, vesical e uretral, modulados por impulsos neurais. A continência é mantida pela complacência vesical associada à inibição total dos impulsos eferentes parassimpáticos e ativação de eferentes simpáticos e somáticos (KRANE e SIROKY, 1991; ROCHA, 2001). O enchimento vesical desencadeia impulsos aferentes, que caminham pelo nervo pélvico até a porção posterior da medula sacral, ascendem pela medula até o córtex frontal e áreas septais do cérebro exercendo controle inibitório voluntário sobre o detrusor. A partir do córtex são enviados impulsos descendentes inibitórios para o centro pontino, nervo pélvico, que pertence ao sistema parassimpático, inibindo a atividade do detrusor. Ao mesmo tempo, são enviados estímulos excitatórios para o nervo hipogástrico, que pertence ao sistema simpático, e nervos pudendos, que pertencem ao sistema somático, aumentando a resistência uretral (PURVES et al., 2005). Os impulsos aferentes através do nervo pélvico levam também à ativação da via reflexa espinhal intersegmentar sacrolombar, com ativação do simpático, originando estímulos transmitidos pelo nervo hipogástrico à uretra, base e corpo vesical e gânglios pélvicos, aumentando a resistência do colo vesical e da uretra. Os impulsos aferentes vesicais também ativam motoneurônios pudendos do núcleo de Onuf, aumentando a atividade tônica do esfíncter uretral estriado com o aumento da resistência uretral. 2.1.2 Fase de micção Os receptores de tensão na parede vesical desencadeiam impulsos aferentes, com aumento da pressão vesical, que trafegam pelo nervo pélvico até a medula sacra onde ascendem para o córtex cerebral. 21 O centro pontino da micção facilita a atividade vesical enquanto uma região mais lateral na ponte regula os músculos do assoalho pélvico envolvidos na continência e micção. O córtex cerebral e áreas do tronco cerebral modulam a atividade do centro pontino da micção através de impulsos inibitórios e excitatórios (KRANE e SIROKY, 1991 e ROCHA, 2001). Na micção voluntária, ocorre liberação cortical da atividade do centro pontino da micção que envia impulsos para a medula sacra ativando neurônios parassimpáticos e conseqüente contração do detrusor. Simultaneamente, impulsos descendentes da ponte dorsomedial e axônios de neurônios pré-ganglionares sacrais inibem motoneurônios pudendos que inervam o esfíncter uretral estriado, promovendo o relaxamento do esfíncter externo (KRANE e SIROKY, 1991 e ROCHA, 2001). O impulso aferente da bexiga não é essencial para a micção, mas na sua ausência, a contração do detrusor fica diminuída e parece que a contração normal requer estimulação pontina contínua, via aferente vesical. Iniciada a contração do detrusor, a descarga aferente gerada pela tensão na parede vesical reforça a reflexo miccional. O fluxo de urina também facilita o esvaziamento através de receptores de tensão da parede uretral, estimulando a contração do detrusor (ROCHA, 2001). 2.2 INCONTINÊNCIA URINÁRIA Atualmente, o Comitê de padronização da Sociedade Internacional de Continência (ICS) considera Incontinência Urinária (IU) uma queixa de qualquer perda involuntária de urina pelo meato uretral (GUIDI et al., 2004; TAMANINI et al., 2003; TAMANINI et al., 2004). A ICS ainda relata que a IU é uma condição em que a perda involuntária de urina causa problema higiênico e social e pode ser objetivamente demonstrável, sendo esta a antiga definição de IU (MODOTTE et al., 1999). De acordo com Agostinho, Amaro e Trindade (2005), a definição anterior de IU é inadequada pela extrema subjetividade do que seja problema social ou higiênico, de acordo com a cultura de uma população ou a sua condição sócio-econômica. 22 São três os principais tipos de Incontinência Urinária de origem não neurológica, a incontinência urinária aos esforços (IUE), a bexiga hiperativa (BH) e a incontinência urinária mista (IUM). A incontinência urinária aos esforços (IUE) que pode ser definida como perda involuntária de urina pela uretra em resposta ao aumento súbito da pressão intra-abdominal após esforços físicos tais como tossir, sorrir e espirrar (GIRÃO; SARTORI; LIMA, 2004). A incontinência urinária mista (IUM) caracteriza-se pela coexistência de sintomas relacionados aos esforços e sintomas de bexiga hiperativa (FELDNER Jr, 2003; GUIDI et al., 2004). “As duas forças de expulsão – hiperpressão abdominal e contração não inibida do detrusor – podem superar as forças de retenção” (GROSSE; SENGLER, 2002, p. 41). Grosse e Sengler (2002) ainda comentam que é o quadro de BH que predomina sendo o mais desconfortável socialmente. A Bexiga Hiperativa é uma desordem do sistema parassimpático, de esvaziamento vesical, em que são geradas contrações involuntárias do músculo detrusor quando a bexiga não está totalmente repleta e não em decorrência da fraqueza dos músculos do assoalho pélvico (BARACHO, 2002; ROCHA, 2001; SHAFIK e SHAFIK, 2003). Para Pacetta e Girão (2004), a causa mais freqüente dos sintomas da Bexiga Hiperativa é o detrusor hiperativo, diagnosticado por meio do estudo Urodinâmico. Sendo possível comprovar as contrações não inibidas do detrusor (CNI) na urodinâmica, esta condição é denominada hiperatividade vesical (PALMA; QUERNE, 2005). O detrusor hiperativo pode ser de origem neurogênica ou idiopática (PACETTA; GIRÃO, 2004). Pacetta e Girão (2004) ainda citam que, de acordo com esta classificação, alguns pacientes identificados como portadores de bexiga hiperativa podem ter apenas urgência miccional, polaciúria e/ou urge-incontinência, e podem não apresentar correlação com um estudo urodinâmico positivo para CNI. Géo et al. (2002) ainda elencam que, em relação à etiologia, é importante salientar que em mais de 90% dos casos a Bexiga Hiperativa é idiopática, não sendo encontrada a sua real causa. As pessoas com Bexiga Hiperativa queixam-se com freqüência de sintomas múltiplos, incluindo a urgência, incontinência com urgência ou urge-incontinência, noctúria (necessidade de acordar mais de uma ou duas vezes para urinar) e a polaciúria (aumento da freqüência urinária num período de 24 h) conforme descrevem Girão; Sartori; Lima (2004), Grosse e Sengler (2002), Guidi et al. (2005) e Jones III et al. (1988). Freeman et al. (2003) relatam que, normalmente, a 23 maioria das pessoas apresentam até oito micções em 24 h e em pessoas com BH este número pode ser muito maior. Guidi et al. (2004) elencam que a urgência miccional pode ser definida como um desejo súbito de urinar associado à dificuldade de conter esta urina e a urge-incontinência como sendo a queixa de perda urinária durante ou imediatamente precedida pela urgência miccional. Setenta por cento dos homens e mulheres americanos, acima de 60 anos, sofrem de bexiga hiperativa e metade deles têm incontinência urinária, gerando como conseqüências comuns o isolamento social, a perda na produtividade e a baixa auto-estima. As pessoas com BH queixamse de urgência para urinar e, em muitos casos, esta urgência pode estar acompanhada de perda de grandes volumes de urina. Estima-se que 16 a 26 bilhões de dólares sejam gastos anualmente pelos Estados Unidos da América (EUA) em produtos para minimizar a incontinência urinária (EMMONS e OTTO, 2005). Telöken et al. (2006) realizaram um estudo em Porto Alegre sobre a prevalência da BH na população. Foram entrevistados 848 pessoas com uma prevalência de 18,9% da população investigada. O índice foi maior nas mulheres (23,2%) que nos homens (14%), entretanto, esses resultados foram estatisticamente o mesmo nas diferentes idades pesquisadas (p=0,152) apontando que a BH é uma condição prevalente, mesmo na população jovem. Estes autores ainda reforçam que a BH é uma importante condição de saúde, com sério impacto na qualidade de vida e na função sexual e terminam o artigo descrevendo que um grande percentual de indivíduos permanecem não diagnosticados e, conseqüentemente, sofrendo por um longo período de tempo, antes de iniciarem a reabilitação. Mulheres têm uma propensão maior à Bexiga Hiperativa, segundo Pacetta e Girão (2004), Shafik e Shafik (2003), Simeonova et al. (1999) e Vandoninck et al. (2003). No estudo de Govier et al. (2001), havia 47 pacientes com BH participantes, sendo 90,2% mulheres. Guidi et al. (2004) descrevem que é útil questionar os pacientes com relação à presença ou não de sintomas desencadeados por atividades cotidianas como lavar louças ou roupas onde podem ocorrer perdas originadas pelo contato térmico, visão e audição com água corrente ou mesmo em situações elaboradas na função cortical, como chegar em casa e não encontrar rapidamente as chaves da porta ou a chegada ao elevador e perder urina no caminho até o banheiro. 24 Palma e Querne (2005) descreveram a prevalência dos três tipos mais comuns de perdas urinárias. A incontinência urinária de esforço perfaz 49% dos casos, a incontinência urinária mista 29% e os demais, isto é, 22% os casos de bexiga hiperativa. Um estudo de Digesu et al. (2003), com mulheres com sintomas do trato urinário inferior (TUI) demonstrou que apenas 27,5% das mulheres com hiperatividade do detrusor apresentavam polaciúria e urgência miccional. Para esta pesquisa, os autores correlacionaram a história clínica, questionários para sintomas urinários (não validados para a língua portuguesa), diário miccional, exame vaginal com a urodinâmica. Foram entrevistadas 4500 mulheres, com idade entre 22 e 73 anos. Somente 843 (18,7%) mulheres foram classificadas como portadoras de bexiga hiperativa destas, 457 (54,2%) mulheres tinham urodinâmica apresentando as contrações não inibidas do detrusor. Os autores concluíram que os sintomas de urgência, característicos da BH nem sempre se relacionam com o diagnóstico urodinâmico de BH e que para diagnosticar devidamente esta condição, devem ser correlacionados os sintomas clínicos com o exame de urodinâmica. 2.3 MÉTODOS DE AVALIAÇÃO DA INCONTINÊNCIA URINÁRIA 2.3.1 Avaliação urodinâmica De acordo com D’Ancona (2001, p. 53), a “avaliação urodinâmica é um termo genérico que compreende o estudo funcional da bexiga e/ou da uretra”. Segundo Smith et al. (2005), a avaliação urodinâmica é parte integrante na determinação da verdadeira etiologia dos diversos tipos de incontinência urinária, possibilitando a terapêutica adequada. Para D’Ancona (2001), o estudo urodinâmico pode ser composto pela fluxometria, pela cistometria, pelo estudo fluxo/pressão, pela eletromiografia, pelo perfil pressórico uretral e pela pressão de perda. A fluxometria consiste na medida e registro do fluxo urinário durante o esvaziamento vesical e permite uma avaliação mais objetiva do jato miccional (BARACHO, 2002; GIRÃO; SARTORI; LIMA, 2004). Segundo D’Ancona e Netto Jr. (2001) e D’Ancona (2001), este é o 25 exame mais simples do trato urinário inferior. O fluxo é definido como o volume de líquido expelido pela uretra por unidade de tempo, sendo expresso em mililitros por segundo (ml/s). A fluxometria tem sido utilizada há décadas na avaliação de sintomas miccionais, pelo fato de ser um exame não-invasivo (CANALINI, 2001). Baracho (2002) e Takano; Brasileiro (2004) destacam que a cistometria avalia a função de enchimento e armazenamento de urina na bexiga. Segundo D’Ancona e Netto Jr. (2001), a cistometria é o registro da pressão vesical durante a fase de enchimento da bexiga. É um importante exame dentro da avaliação Urodinâmica, pois permite avaliar a sensibilidade e a capacidade vesical, as contrações involuntárias do detrusor e a relação pressão-volume (complacência). Durante a cistometria, com a mobilização do paciente ou com uma conversa, ocorre um aumento da pressão vesical (Pves) e para confirmar se existe alguma atividade do detrusor, é necessário medir a pressão abdominal (Pabd). Esta pressão é verificada através de um cateter com um balão na extremidade dentro do reto. A pressão do detrusor (Pdet) é obtida subtraindo-se a pressão abdominal da pressão vesical (D’ANCONA e NETTO Jr., 2001). D’Ancona e Netto Jr. (2001) relatam que a avaliação urodinâmica é um exame invasivo devido à colocação de uma sonda na uretra, mas desde que realizada com cuidados, adequada lubrificação e anestesia na uretra, é pouco doloroso e bem tolerado. Ainda, sob o aspecto psicológico, o exame é agressivo, pois o paciente expõe suas sensações durante o exame, em muitas ocasiões pode apresentar perda de urina e, principalmente, urinar em um ambiente estranho diante do médico e dos assistentes que ali estiverem. Um diálogo prévio possibilita uma maior interação do médico com seu paciente, fazendo com que o estudo urodinâmico reflita o hábito miccional do paciente. Antes de iniciar o exame, D’Ancona (2001) cita que o examinador deve ter uma idéia do possível diagnóstico. A proposta do exame é produzir os sintomas do paciente. Durante o exame mantem-se o contato verbal entre o paciente e o examinador para informar a sensibilidade da bexiga e comentar os resultados observados no decorrer da avaliação. Antes de iniciar o exame de urodinâmica, é solicitado ao paciente que urine e após isso, é colocado um cateter para medir o resíduo pós-miccional (D’ANCONA, 2001). A colocação dos cateteres geralmente é feita com o paciente em decúbito dorsal ou em posição de litotomia (D’ANCONA, 2001). O cateter de cistometria possui uma abertura para 26 enchimento e um canal para registro de pressão (THEOFRAUSTOUS; WIFT, 2006). A maioria dos cateteres possui diâmetro de 3 a 12 French1, 0,95 a 3,82 mm. Os transdutores de pressão têm a função de converter pequenas variações de pressão em sinal elétrico, que é amplificado e depois enviado ao aparelho de urodinâmica (D’ANCONA, 2001). Os transdutores para registro de pressão, segundo Theofraustous e Wift (2006), são montados externamente ou integrados a extremidade do cateter com uma membrana de registro ou um balão contendo líquido. Estes cateteres de pressão devem ser capazes de registrar a pressão até 300 cm H2O e este deve ser sempre zerado na pressão atmosférica antes de ser colocado na bexiga. Convencionou-se usar a borda superior da sínfise púbica como pressão zero quando se utilizam transdutores de pressão. Transdutores externos também são colocados externamente na sínfise púbica para a calibração da pressão atmosférica (D’ANCONA, 2001). Tanto para D’Ancona (2001) como para Theofraustous e Wift (2006), a cistometria pode ser realizada com líquido (água, solução salina ou contraste radiopaco) ou com gás (ar ou dióxido de carbono). O líquido atualmente é o meio mais utilizado por ser considerado mais fisiológico, possibilitar o estudo fluxo/pressão e verificar se ocorre perda de urina durante o exame (D’ANCONA, 2001). O enchimento vesical tem a finalidade de diminuir o tempo do exame, sendo esta selecionada dependendo do caso (D’ANCONA, 2001). As medidas mais utilizadas são: lenta ou fisiológica (até 10ml/min), média (entre 10 e 100ml/min) e rápida (acima de 100ml/min) (THEOFRAUSTOUS e WIFT, 2006). Geralmente, a velocidade de enchimento de 50-60 ml/min possibilita um enchimento fisiológico, sem acarretar em prolongamento do tempo do exame. A velocidade de infusão deve ser mantida constante, para facilitar a interpretação dos dados e o líquido deve ser usado à temperatura semelhante à temperatura corporal (D’ANCONA, 2001). Os termos referenciados no quadro 1 são comumente descritos numa cistometria (BARACHO, 2002;D’ANCONA, 2001; THEOFRAUSTOUS e WIFT, 2006). Após a referência da urgência e o aparecimento do forte desejo miccional, a cistometria é finalizada, o laudo é realizado e os dados são impressos e entregues ao paciente. A capacidade cistométrica máxima (CCM) corresponde ao máximo volume que o paciente consegue reter em sua bexiga. Segundo D’Ancona (2001), para saber a capacidade vesical antes de realizar a cistometria, deve ser solicitado ao paciente preencher o diário ______________ 1 Medida do calibre das sondas e cateteres utilizadas no exame de Urodinâmica. 27 miccional. Para ele, a capacidade normal da bexiga varia entre 300 a 600 ml. Para BARACHO (2002), a capacidade cistométrica máxima é de 400 a 600 ml. Já para Stephen e Abrams (2004), a capacidade vesical máxima é aquele volume em que o paciente não consegue mais inibir o ato miccional. Sigla PD Termo Primeiro desejo miccional FD Forte desejo miccional DN Desejo normal CCM Capacidade cistométrica máxima URG CNI Urgência Contrações não inibidas do detrusor ou instabilidade do detrusor Complacência vesical CV Descrição Volume infundido correspondentes à primeira vontade de urinar, independente da quantidade de líquido presente na bexiga e que pode motivar a pessoa a procurar um banheiro, comumente entre 150 a 250 ml. Volume infundido correspondente ao desejo persistente de urinar sem medo de perda intermitente, comumente entre 300 e 500 ml. Volume urinado em mais de 50% das situações normais, comumente entre 200 a 300 ml. Volume infundido correspondente ao momento em que o paciente não pode mais adiar a micção, comumente entre 300 e 500 ml. Desejo persistente de urinar com medo de perda urinária. Contrações involuntárias do detrusor de qualquer magnitude durante o enchimento vesical, enquanto o paciente tenta inibir a micção. Capacidade da bexiga de armazenar urina sob baixa pressão. Quadro 1: Termos utilizados para descrever os parâmetros encontrados na Cistometria. O estudo urodinâmico, para Smith et al. (2005), é importante para demonstrar pressões de enchimento elevadas na bexiga, como pode ocorrer na bexiga hiperativa, visto que uma pressão aumentada ou uma bexiga pouco complacente pode representar um risco significativo para a função uretral e renal. Já uma baixa complacência é uma condição onde a bexiga pode armazenar urina sob pressões mais altas que as consideradas “normais”. O exame urodinâmico é sensível e preciso quanto ao diagnóstico das baixas complacências vesicais. Para D’Ancona (2001) e Stephen; Abrams (2004), o detrusor pode ser caracterizado como hiperativo quando este apresentar contrações involuntárias que podem ser espontâneas ou desencadeadas por manobras provocativas como o enchimento vesical rápido, mudança de decúbito, o tossir, pular ou espirrar. Nestas manobras, o paciente não consegue inibir a necessidade de urinar. 28 Smith et al. (2005) relatam que é importante medir os valores da urina residual na determinação da complacência vesical. Baracho (2002) e Takano; Brasileiro (2004) relatam que valores de até 50 ml de urina residual são desprezíveis no estudo urodinâmico. Já para Trigo-Rocha e Gomes (2001), ao se realizar o estudo urodinâmico em qualquer paciente, deve-se lembrar que ele é apenas uma parte da avaliação e deve ser interpretado à luz das outras informações, como o exame físico, a história clínica, exames complementares e questionários de qualidade de vida. Um diagnóstico urodinâmico incompatível com o quadro clínico de um determinado paciente deve ter sua validade questionada. Colli et al. (2003) e Smith et al. (2005) descreveram que a sensibilidade do diagnóstico clínico é melhor que aquele obtido com o exame urodinâmico. Smith et al. (2005) justificam, no entanto, a realização da urodinâmica afirmando que é importante afastar outras causas concomitantes de incontinência urinária, como prolapso vaginal, litíases vesicais, uropatias obstrutivas e uma complacência vesical ruim, sendo esta última a mais importante delas. * Figura 1: Exemplo de exame de urodinâmica onde podem ser observadas as contrações não inibidas (CNI) do detrusor que são características da bexiga hiperativa, onde as setas caracterizam o esforço solicitado indicando as CNI. O sinal * significa a presença de tosse durante o exame. PV: pressão vesical, PR: pressão retal, PV-PR: pressão do detrusor, FLX: fluxo e VOL: volume. 29 Nas figuras 1 e 2 podem ser verificados dois exames de urodinâmica sendo o primeiro referente à bexiga hiperativa com a presença das contrações não inibidas do detrusor e o segundo exame com os parâmetros urodinâmicos dentro da normalidade. Figura 2: Exemplo de exame de urodinâmica com padrão miccional dentro da normalidade. PV: pressão vesical, PR: pressão retal, PV-PR: pressão do detrusor, FLX: fluxo e VOL: volume. 2.3.2 Diário miccional Um método de correlacionar a urgência e a polaciúria é o diário miccional, que consta de informações referentes ao número de micções, volume urinado, episódios de perda com urgência, urgência sem perda, troca de absorventes ou fraldas, além da possibilidade de quantificar o volume de ingestão líquida (CARRIÈRE, 2002; GROSSE; SENGLER, 2002). É desejável que a produção diária de urina situe-se entre 1500 e 2500 ml (MODOTTE et al., 1999). 30 A confecção dos diários miccionais esclarece as queixas de perda que até então eram subjetivas, fornecem dados como a ingesta hídrica diária, capacidade vesical e o volume urinário, diariamente (WROCLAWSKI, BEZERRA, BORRELLI Jr, 2001). Para Wroclawski, Bezerra e Borrelli Jr. (2001), o diário miccional deve ser solicitado a todas as pacientes, independente do tipo de incontinência urinária. Segundo eles, os eventos miccionais devem ser anotados por dois ou três períodos de 24h consecutivos. Pacetta e Girão (2004) comentam que solicitar ao paciente que registre as micções e sintomas correlatos por um período predeterminado propicia informações extremamente valiosas. Relatam ainda que este registro pode ser de três maneiras: um que registra somente o horário das micções por 24h; outro que registra o volume urinado e o horário de cada micção por 24h; e um terceiro que registra a hora de cada micção e o volume de urina, episódios de incontinência, uso de absorventes e outras informações, tais como ingestão de líquido e grau de urgência e da incontinência. Segundo Wroclawski, Bezerra e Borrelli Jr. (2001), o diário miccional é ainda de grande utilidade na avaliação dos resultados terapêuticos e cirúrgicos através da simples comparação do pré e pós-tratamento. Para Moreno e Souza (2004), o diário miccional é usado muitas vezes como base no planejamento do programa de reabilitação e também como parâmetro de avaliação do progresso da terapia. 2.3.3 Questionários de qualidade de vida O termo e o conceito de qualidade de vida surgiram com o crescimento e o desenvolvimento econômico ocorridos após a Segunda Guerra Mundial, nos Estados Unidos da América, para descrever efeito de aquisição de diferentes bens na vida das pessoas (FONSECA et al., 2005). Fleck (2008) descreve que a Organização Mundial da Saúde (OMS) define saúde como um status completo bem-estar físico, mental e social e não apenas a ausência de doença ou de enfermidade. 31 Qualidade de vida é um conceito multidimensional que reflete uma experiência individual sob as óticas física, emocional e social, bem como a percepção do “status” da saúde da pessoa (NERI, 2004; PACETTA; GIRÃO, 2004; TAMANINI et al., 2004, TAMANINI et al., 2003). O status de saúde pode ser definido como o nível de saúde de um indivíduo, grupo ou população avaliado de forma subjetiva pelo indivíduo ou através de medidas mais objetivas (FLECK, 2008). Em geral, a incontinência urinária (IU) afeta adversamente as atividades diárias, as relações sociais e emocionais das pessoas de todas as idades. Em particular, mulheres com bexiga hiperativa relatam uma pior qualidade de vida quando comparadas com mulheres com incontinência urinária de esforço, conforme Fonseca et al. (2005); Hägglund et al. (2001); Irwin et al. (2005). No Brasil, assim como em outros países em desenvolvimento, o interesse pela qualidade de vida é ainda fragmentado (NERI, 2004). Fonseca e Fonseca (2004) descrevem que são de grande importância a avaliação da qualidade de vida em pessoas com doenças benignas, como a incontinência urinária. Por esse motivo, a ICS recomenda que na análise dos pacientes incontinentes, seja incluída a avaliação da qualidade de vida, como complemento das medidas clínicas, segundo Blaivas et al. (1997) apud Pacetta e Girão (2004) e Ribeiro et al. (2005). Na medicina e na saúde pública, as avaliações relatadas pelos pacientes são cada vez mais usadas para ajudar a determinar se os tratamentos estão sendo mais benéficos que maléficos (PATRICK, 2008). Como a incontinência urinária tem grande impacto na qualidade de vida das pacientes, um instrumento para mensuração da qualidade de vida permitirá avaliar o resultado do tratamento escolhido e facilitará a comparação de estudos realizados em locais diferentes, utilizando tratamentos diferentes, em populações semelhantes (FONSECA et al., 2005). Vários autores confirmam um nível de qualidade de vida inferior em pessoas com bexiga hiperativa, indicando a necessidade de tratamento (COYNE et al., 2003; O´CONNOR et al., 1998; VAN DER PAL et al., 2006). A bexiga hiperativa tem um grande impacto nas atividades diárias dos pacientes, sendo que uma grande porcentagem da população não procura tratamento. Um desses motivos é o fato da incontinência urinária ser ainda tratada como “tabu”. Estes pacientes desenvolvem vários mecanismos de modificações comportamentais para se adaptar à incontinência urinária e, assim, 32 reduzir o impacto dos sintomas na sua qualidade de vida. Dentre estas modificações, podem-se citar mecanismos que incluem aumentar a freqüência urinária e assim evitar perdas, descobrir a localização dos banheiros quando estão em locais públicos, a obtenção de dietas restritivas, a limitação de suas atividades físicas e, nos casos mais graves, até a limitação de suas atividades sociais de acordo com Pacetta e Girão (2004). Os sintomas da bexiga hiperativa podem afetar muitas áreas ou domínios, nos questionários de qualidade de vida, incluindo o social, o psicológico e o ocupacional (Irwin et al., 2005). Segundo D’Ancona e Netto Jr (2001), num estudo com 1262 mulheres com idade igual ou superior a 20 anos, 32 delas apresentavam incontinência urinária. Nesse grupo de pacientes, 34,3% não apresentavam alteração na qualidade de vida, 47,4% relatavam que a incontinência urinária era um problema leve, 11,6% um problema moderado e 6,7% relatavam que suas perdas urinárias eram um grave problema para elas. A aplicação de questionários para avaliar a qualidade de vida em mulheres é bem aceita, uma vez que pode ser determinado o impacto nos fatores individuais. Paccetta e Girão (2004) ainda comentam que para que sejam eficientes, esses instrumentos devem ser simples, relevantes à enfermidade e de fácil compreensão. O interesse em mensurar a qualidade de vida, em relação aos cuidados de saúde, tem aumentado nos últimos anos, de tal modo que a WHO (World Health Organization) iniciou projeto de avaliação internacional de qualidade de vida, levando em consideração decisões de tratamento, autorização para novos fármacos e política de pesquisa. Os instrumentos de medida de qualidade de vida são, em sua maior parte, desenvolvidos em outras línguas e culturas que não a brasileira. Utilizam-se, na mensuração da qualidade de vida, questionários que têm por finalidade avaliar os diversos aspectos e dimensões da vida da paciente, como o físico (mobilidade, autocuidado, exercícios), o psicológico (depressão, ansiedade, preocupação), o social (suporte, contato, atividades nas horas vagas), o desempenho geral (emprego, trabalhos domésticos, compras), a dor, o sono e sintomas específicos da doença, por exemplo, perda urinária (FONSECA et al., 2005). Outro ponto importante é que os questionários precisam ser validados na população em que se deseja avaliar, pois sua interpretação é influenciada pela cultura e suas determinações deveriam ser sempre pré-testadas em populações específicas antes do seu uso em estudos clínicos (PACCETTA; GIRÃO, 2004). Tamanini et al. (2003) e Tamanini et al. (2004) elencam que o uso 33 de questionários como instrumentos de avaliação de qualidade de vida tem sido intensificados na pesquisa científica nos últimos anos. Com isso, valoriza-se a opinião do paciente sobre a sua condição de saúde. Existem vários questionários para se avaliar a qualidade de vida em mulheres incontinentes que têm semelhanças e diferenças entre si. Podem ser utilizados questionários genéricos ou específicos, que avaliam aspectos próprios da gravidade e do impacto dos sintomas na vida das pacientes (FONSECA et al., 2005). Dentre os questionários genéricos, tem-se o SF36, que é de fácil administração e compreensão, mas tem como inconveniente apresentar dimensões gerais, que podem ser pouco sensíveis às alterações clínicas que as pacientes venham a apresentar (FONSECA et al., 2005). Atualmente, para a língua portuguesa, é possível utilizar dois questionários específicos para incontinência urinária: o “King’s Health Questionnaire” (KHQ) e o “Internacional Consulation on Incontinence Questionnaire – Short-Form” (ICIQ-SF), ambos traduzidos e validados por Fonseca et al. (2005), Tamanini et al. (2003) e Tamanini et al. (2004). O “King’s Health Questionnaire” (KHQ) é um instrumento confiável e válido para mulheres com Incontinência Urinária (TAMANINI et al., 2003). Pacetta e Girão (2004) e Tamanini et al. (2003) descrevem que este é um questionário constituído de 30 questões, divididas em 9 domínios: percepção geral da saúde (PGS), impacto da incontinência urinária (IIU), limitações de atividades diárias (LAVD), limitações físicas (LF), limitações sociais (LS), relacionamento pessoal (RP), emoções (E), sono e disposição (SD) e medidas de gravidade (MG). Além desses parâmetros, existem duas escalas independentes. Uma avalia a gravidade da incontinência urinária e a outra considera a presença e a intensidade dos sintomas urinários. A pontuação é dada em cada um dos domínios separadamente, não havendo um escore geral. Os valores variam de 0 a 100, e quanto maior a pontuação, pior é a qualidade de vida referente a aquele domínio (FONSECA et al., 2005; TAMANINI et al., 2003). No domínio percepção geral da saúde (PGS), é perguntado sobre a saúde do entrevistado no momento da avaliação e o impacto da Incontinência Urinária (IIU), questiona sobre o quanto o problema da bexiga afeta a vida do entrevistado. No domínio limitação das atividades de vida diária (LAVD), questiona-se sobre a problemática da realização das tarefas domésticas e sobre o trabalho e atividades fora de casa; o domínio limitação física (LF) questiona quanto o problema na bexiga afeta as atividades como 34 andar, correr e praticar e o quanto isto afeta as viagens; o domínio limitação social (LS) refere-se à limitação a vida social, aos encontros com os amigos e à vida familiar. No domínio relações pessoais (RP), avalia-se o quanto o problema de bexiga interfere no relacionamento com o parceiro e a vida sexual. O domínio emoções (E) aborda se o problema de bexiga fazia com que ela se sentisse deprimida, ansiosa ou nervosa e se por ter este problema, ela sentia-se mal consigo mesmo; o domínio sono e disposição (SD), questiona o quanto o fato de ter que levantar da cama para ir ao banheiro é um problema para as entrevistadas; já no domínio medidas de gravidade (MG), é questionado se a mulher necessita usar forros ou absorventes para se manter seca, se ela toma cuidado com a quantidade de líquido ingerido, se ela necessita trocar as roupas íntimas caso estejam úmidas, se ela se preocupa com a possibilidade dos outros sentirem o cheiro de urina e, finalmente, se ela fica envergonhada com o seu problema de bexiga. Segundo Tamanini et al. (2004), o “Internacional Consulation on Incontinence Questionnaire – Short-Form” (ICIQ-SF) é um questionário simples, breve e pode ser autoadministrável. Avalia rapidamente o impacto da incontinência urinária na qualidade de vida e qualifica as perdas urinárias de pessoas de ambos os sexos. É composto por quatro questões que avaliam a freqüência, a gravidade e o impacto da incontinência urinária, além de um conjunto de oito itens de autodiagnóstico, relacionados às causas ou às situações de incontinência urinária vivenciadas pelas pessoas entrevistadas. Este questionário tem uma pontuação de 0 a 21 pontos e quanto mais perto de 21, pior é o impacto das perdas de urina na qualidade de vida do entrevistado. Ainda segundo Tamanini et al. (2004), o KHQ é um questionário com um maior número de itens que avalia os sintomas urinários em geral e o impacto que eles têm nos diferentes aspectos da vida das pessoas. Já o ICIQ-SF avalia, especificadamente, o impacto da incontinência urinária na vida das pessoas. Existe a possibilidade de quantificar a qualidade de vida utilizando questionários não específicos para determinada patologia como o “Health Survey Questionnaire Short Form-36”, mais conhecido como SF-36. Este questionário é utilizado em pesquisas de qualidade de vida em IU. Entretanto, deve-se priorizar a utilização dos questionários específicos para quantificar a qualidade de vida. 35 Num trabalho realizado por Hägglund et al. (2001), foram comparadas mulheres com incontinência urinária (IU) com mulheres sem IU. Das 511 mulheres com IU entrevistadas, 440 (86%) tinham IUE e 71 (14%) tinham urge-incontinência pelo questionário de qualidade de vida SF-36. O escore das mulheres com urge-incontinência foi significativamente menor, nas oito dimensões que o SF-36 aborda, quando comparadas com as mulheres sem IU. As mulheres com IUE também obtiveram um escore menor quando comparadas com as mulheres sem IU. Entretanto, a diferença absoluta foi pequena para as mulheres com IUE. As mulheres com urgeincontinência eram mais velhas que as mulheres com IUE. Foram achadas pequenas correlações no escore entre a idade e a qualidade de vida nas mulheres com urge-incontinência e nas mulheres com IUE. Com o estudo de Hägglund et al. (2001), ficou claramente demonstrado que mulheres com IU relatam escores menores com relação à qualidade de vida quando comparadas com mulheres sem IU. Outros autores, como Simeonova et al. (1999) e Samuelsson et al. (1997), utilizando diferentes instrumentos e diferentes amostras também relataram isto. Na população estudada por Hägglund et al. (2001), mulheres com urge-incontinência são mais afetadas em sua qualidade de vida que as mulheres com IUE. Um grande efeito negativo da urge-incontinência também pode ser observado na população Sueca pelos estudos de Samuelsson et al. (2004) que utilizou a escala visual (EVA). Os achados de Hägglund et al. (2001) indicam que mulheres com IUE têm sua qualidade de vida menos afetada que as mulheres com urge-incontinência. Esta possibilidade, segundo os autores, é de que as mulheres com IUE podem prevenir suas perdas, como por exemplo, evitando as atividades físicas que propiciam estas perdas. Já as mulheres com urge-incontinência têm menos chance de evitar suas perdas pois é o detrusor que se contrai involuntariamente. 2.3.4 Avaliação funcional do assoalho pélvico É imprescindível que, no exame físico, seja realizado um exame neurológico local minucioso, com a pesquisa de alguns reflexos regionais que permitem avaliar as raízes sacrais (CARRIÈRE, 2002; GUIDI et al., 2005). 36 A função sensorial e motora das raízes de L1-S4 são particularmente importantes de serem avaliadas nas pacientes com queixa de perda de urina, conforme destacam Szóbel e Davila (2005). Exames com leve toque e alfinetadas sobre o períneo, parte interna e anterior das coxas e área pré-tibial testam adequadamente a função sensorial. O exame motor deve incluir a extensão e a flexão do quadril, joelho e tornozelo. Reflexos sacrais intactos são confirmados pela verificação do reflexo bulbocavernoso e contração esfíncter anal. O toque nos grandes lábios ou percussões leves no clitóris e a busca de contração dos músculos bulbocavernoso e isquiocavernoso testam o reflexo bulbocavernoso. A contração anal é observada através de um estímulo na pele perianal e observa-se a contração do esfíncter anal externo. Esses testes devem ser realizados bilateralmente (SZÓBEL; DAVILA, 2005). O reflexo bulbocavernoso é testado com a estimulação da região clitoridiana e observando-se a contração reflexa dos músculos bulbocavernoso, isquiocavernoso e do esfíncter anal (GUIDI et al., 2005). Outro teste que deve ser realizado é o da contração reflexa durante a tosse. A paciente é orientada a tossir e durante este ato deve acontecer uma contração reflexa da musculatura do assoalho pélvico. Para a obtenção de uma taxa maior de sucesso no tratamento conservador da incontinência urinária, Coletti et al. (2005) relatam que é importante que se considere a avaliação funcional do assoalho pélvico. Gameiro e Amaro (2005) utilizaram a avaliação funcional do assoalho pélvico (AFA) que é um método subjetivo e o perineômetro, considerado um método objetivo para avaliar o assoalho pélvico. Observaram um déficit significativo de força nas mulheres incontinentes com relação ao grupo controle e demonstraram que a avaliação da força muscular pode direcionar melhor o tratamento. Coletti et al. (2005) finalizam um pensamento dizendo que a AFA é um método simples e de muita importância para que se possa estabelecer um prognóstico de tratamento em mulheres com incontinência urinária. Moreno (2004) elenca que para se reeducar um músculo ou um grupo muscular, é necessário avaliar o estado desse músculo, a intensidade e a duração da contração muscular. Em geral, na prática do fisioterapeuta, a avaliação engloba a anamnese, a inspeção, a palpação, o teste de força muscular e uma metodologia válida e aplicável aos músculos do assoalho pélvico. 37 No exame vaginal com a finalidade de quantificar a força do períneo, Moreno (2004) elenca que deve ser solicitado à paciente que contraia e mantenha a contração dos músculos do assoalho pélvico ao redor do dedo do examinador para que se possa graduar mais objetivamente a função muscular. A mensuração da força da musculatura do assoalho pélvico por pressão é o comumente adotado para verificar a força e a resistência perineal. As pacientes são instruídas a contrair esta musculatura o máximo possível, a sustentar as contrações e a manter as contrações o máximo de tempo possível sem utilizar outros grupos musculares acessórios, como glúteos, adutores de coxa ou abdominais (BO; SHERBURN, 2007). Estes mesmos autores ainda elencam que essas pressões podem ser expressas em mmHg ou cm H2O. O assoalho pélvico também pode ser avaliado utilizando-se a classificação denominada P.E.R.F.E.C.T., proposta por Bo e Larsen em 1990, segundo Coletti, Haddad, Barros (2005) e Moreno (2004). Moreno (2004) comenta que o esquema P.E.R.F.E.C.T. é composto por cinco variáveis, sendo elas: a força muscular (power) que avalia a presença e a intensidade da contração voluntária do assoalho pélvico numa escala de 0-5 (Escala de Oxford-modificada); a manutenção das contrações (endurance) que seria o tempo dispensado para sustentar as contrações e logo verifica a atividade das fibras lentas; a repetição (repetition) das contrações mantidas sem comprometer a intensidade; o número de contrações rápidas (fast) verificando a atividade das fibras rápidas e o progresso seria, então, verificado através da cronometragem de todas as contrações. Conforme a autora, também é muito importante verificar a habilidade da paciente em relaxar a musculatura perineal de maneira rápida e completa após cada contração e sua progressão também deve ser avaliada, este item compreende as iniciais E.C.T. (every contractions timed). Este teste de coordenação deve completar o exame de análise da força da musculatura perineal. Com a avaliação acima descrita, é possível quantificar a intensidade, o número de contrações rápidas e lentas e o tempo de sustentação destas contrações. 38 2.4 TRATAMENTO DA BEXIGA HIPERATIVA O tratamento conservador da bexiga hiperativa vem assumindo novas proporções nos últimos tempos, à medida que o tratamento cirúrgico não apresenta taxas de sucesso dentro da expectativa da paciente e não está mais em uso nos dias atuais. Esta forma de tratamento consegue atingir taxas de cura e (ou) melhora entre 50%-60%. O tratamento cirúrgico ficou, então, restrito aos casos que não respondem ao tratamento conservador (MODOTTE et al., 1999; PALMA; RICCETTO, 2004) e não foi possível identificar na literatura as taxas de cura para bexiga hiperativa tratadas com cirurgia. De acordo com Broome (2003), o tratamento conservador para a Bexiga Hiperativa (BH) pode ser farmacológico e fisioterápico. O mesmo autor ainda reforça que os agentes farmacológicos estão sendo usados em conjunto com a fisioterapia para promover o retorno da continência. Burgio et al. (2000) demonstraram que a combinação de fisioterapia e medicação tem efeito somatório e a possibilidade de combinar acupuntura com medicação ou fisioterapia pode prometer mais tempo de sucesso na resolução da bexiga hiperativa. De acordo com Herrmann e Palma (2001), a fisioterapia mostra-se eficiente na utilização de seus recursos. Atualmente, têm-se como possibilidades para o tratamento da Bexiga Hiperativa com fisioterapia, a utilização da cinesioterapia e da eletroestimulação. Na eletroestimulação, as possibilidades mais pesquisadas são a utilização de eletrodos implantados, o uso dos eletrodos de superfície e dos eletrodos endocavitários e a eletroestimulação no nervo tibial posterior (PTNS). 2.4.1 Tratamento farmacológico Os tipos de drogas que podem ser utilizadas para o tratamento da bexiga hiperativa são aquelas que promovem o relaxamento do detrusor, como as bloqueadoras de cálcio e os antidepressivos tricíclicos (RIBEIRO et al., 2005). Dentre os fármacos que relaxam o detrusor, tem-se o cloridrato de oxibutinina, tartarato de tolterodina, darifenacin, cloridrato de trospium e 39 os bloqueadores do canal de cálcio e dentre os antidepressivos tricíclicos tem-se o cloridrato de imipramina, além da terapia de reposição hormonal que pode ser realizada pelo estrogênio (BARACHO, 2002; RIBEIRO et al., 2005). As terapias com medicamentos para a bexiga hiperativa são parcialmente efetivas (AMARENCO et al., 2003). Medicações anticolinérgicas têm 50 a 70% de efetividade e tem efeitos colaterais significativos, como boca seca, constipação intestinal e visão turva. Em decorrência disso, somente 18% dos pacientes continuam seu tratamento após seis meses de uso. A terapia comportamental e a fisioterapia podem ter iguais ou mais efeitos que a medicação. Recentemente, foram testados tratamentos com drogas locais, como a colocação intravesical de capsaicina e de resiniferatoxina e a toxina botulínica no músculo detrusor. Entretanto, estes tratamentos são propostos de fato só em casos neurológicos, especialmente nas lesões medulares com hiperatividade vesical intratável que pode conduzir ao refluxo ureteral e à lesão renal (AMARENCO et al., 2003). 2.4.2 Cinesioterapia Um obstetra e ginecologista americano, Arnold Kegel em 1948, foi quem descreveu primeiro a importância dos exercícios para a melhora da função do assoalho pélvico (BO; BERGHMANS, 2000; BO, 2006; BO, 2007; HERBERT, 2004; e SHAFIK; SHAFIK, 2003). Herbert (2004) relatou que Kegel iniciou seus trabalhos em 1932 e publicou seus achados entre 1940 e 1950. Em uma de suas publicações, Kegel descreveu uma taxa de cura da incontinência urinária de 84% em seus voluntários. Entretanto, ele não relatou que tipo de perda urinária seus voluntários apresentavam (BO; BERGHMANS, 2000; BO, 2006). Muitos trabalhos randomizados têm mostrado que os exercícios para a musculatura do assoalho pélvico (MAP) são efetivos para o tratamento da IUE e que, atualmente, muitos autores têm reivindicado que a cinesioterapia para a MAP pode também ser eficiente para o tratamento dos sintomas da Bexiga. E finalizam escrevendo que, na prática clínica, muitos pacientes com urge-incontinência, com ou sem IUM, são tratados com exercícios para a musculatura do 40 assoalho pélvico (MAP) com biofeedback, eletroestimulação, treinamento vesical, medicação ou com a combinação desses métodos (BO e BERGHMANS, 2000). Durante a contração, Kegel realizava o registro da atividade muscular com um dispositivo que chamou de perineômetro, o qual permitia que a paciente tivesse um melhor entendimento da musculatura a ser contraída (COLETTI, HADDAD, BARROS, 2005). Já para Gameiro, Moreira e Amaro (2005), a mais antiga menção dos exercícios para o assoalho pélvico, para o tratamento da incontinência urinária, ocorreu em um texto médico na Swedish Work, publicado em 1861. Shafik e Skafik, num estudo publicado em 2003, sugeriram que a contração da musculatura do assoalho pélvico tem efeito na inibição da contração vesical e um adiamento dos reflexos miccionais. Sugere-se que esta ação é mediada pelo reflexo de inibição voluntária da micção. Estes autores teorizam a hipótese de que os efeitos dos exercícios na bexiga hiperativa são mediados por este reflexo. 2.4.3 Eletroterapia A estimulação elétrica perineal pode ser dividida de duas formas: neuroestimulação e neuromodulação. A neuroestimulação do assoalho pélvico tem como objetivo estimular as fibras motoras eferentes do nervo pudendo para proporcionar contrações na musculatura pélvica. O objetivo da neuromodulação é a remodelação do reflexo neural, por exemplo, a inibição do reflexo de contração do detrusor, através da estimulação das fibras aferentes do nervo pudendo que influencia na inibição do reflexo de contração do detrusor (BERGHMANS, 2007; BERGHMANS, 2007). Martins (2000) cita que a eletroestimulação tem sido usada para o tratamento dos vários tipos de Incontinência Urinária, desde a década de 60. Raddatz et al. (2002) elencam que os impulsos elétricos constituem um estímulo capaz de provocar uma reação numa célula, num tecido ou numa víscera. Esta estimulação provocará atividade num elemento nervoso acompanhada por um efeito elétrico como, por exemplo, o aparecimento de um potencial de ação da membrana ou um efeito físico-químico com modificações das paredes das membranas. Os 41 parâmetros de eletroestimulação permitem, atualmente, a obtenção de efeitos antálgicos e excitomotores com um grau satisfatório de inocuidade, conforto e eficácia. De acordo com Amarenco et al. (2003), o uso de eletroestimulação para melhorar a capacidade de armazenamento de bexiga tem uma história longa. Vários tipos de neuroestimulação foram experimentados tanto para o tratamento da urge-incontinência, freqüência e urgência como também para a incontinência urinária de esforço. Grosse e Sengler (2002) citam que na reeducação perineal a eletroestimulação não só permite um ganho de força numa musculatura inicialmente fraca como também representa assistência, sensibilização e propriocepção muscular para o reforço muscular ótimo. Inúmeros podem ser os locais de estimulação elétrica para o tratamento das Incontinências Urinárias, desde a estimulação em musculatura tibial posterior até as cutâneas perineais e sacrais com posicionamentos variáveis como em torno do Núcleo Fibroso Central do Períneo (NFCP), na sínfise púbica e no NFCP entre outros (GROSSE; SENGLER, 2002). Segundo Amarenco et al. (2003), vários locais de estimulação como a pele perianal, estimulação esfincteriana, no dorso do pênis ou nervo clitoridiano, e nos músculos quadríceps e isquiostibiais foram testados e em tipos diferentes de pacientes, tanto com instabilidade de detrusor idiopática ou hiperreflexia de detrusor, especialmente quando advindo de lesão medular. Esta modalidade terapêutica pode ser realizada introduzindo-se um eletrodo que se assemelha a um absorvente interno na vagina, através do acoplamento de eletrodos de superfície na pele do paciente e também pela utilização de eletrodos implantados cirurgicamente. O eletrodo é ligado a uma fonte que gera impulsos elétricos, os quais promovem contração muscular (HERRMANN; PALMA, 2001). Esta colocação de eletrodos produz uma contração dos músculos elevadores do ânus e dos esfíncteres, uretral e anal, pela direta estimulação dos nervos pudendos causando um reflexo inibitório na contração de músculo detrusor (MARTINS, 2000). A estimulação eletrétrica no nervo pudendo, nas regiões anal e vaginal e, atualmente, a utilização de eletrodos de superfície nestas regiões também tem sido utilizadas para incontinência urinária de esforço e para o tratamento de sintomas irritativos da bexiga (AMARENCO et al., 2003). Estudos clínicos mostraram a eficácia desses tipos de tratamento para diminuir episódios de incontinência, freqüência urinária e sensação de desejo, o aumento da capacidade de bexiga também têm sido utilizados instrumentos de verificação da qualidade de vida (AMARENCO et al., 2003; GROSSE; SENGLER, 2002; HERRMANN; PALMA, 2001). 42 A eletroestimulação é indicada para casos de distúrbio funcional da micção como a Bexiga Hiperativa, em que predominam os sintomas de urgência e urge-incontinência. Entretanto, também atua como um exercício muscular “artificial”, por meio da ativação de fibras musculares eferentes, melhorando assim o sintoma de perda urinária à realização de esforço físico (FRAHM, 2006; HERRMANN; PALMA, 2001). Segundo citam Grosse e Sengler (2002), a intensidade deve ser sempre a mais elevada possível, tanto para inibição do detrusor quanto para contração muscular. A duração de pulso ou largura de pulso é o elemento determinante para o tipo de recrutamento de fibras desejado. Durações de pulso breves favorecem ao recrutamento de fibras sensitivas. A eletroestimulação para inibir o detrusor age por via reflexa a partir das aferências sensitivas do nervo pudendo. Em estudos comparativos em seres humanos utilizando durações de pulsos entre 0,1 ms e 5 ms, mostraram claramente que, para a inibição do detrusor, as durações de pulso devem estar compreendidas entre 0,2 e 0,5 ms. A intensidade da corrente utilizada deve ser baseada na informação da máxima tolerabilidade da paciente, evitando desencadear sensação dolorosa (FRAHM, 2006; GAMEIRO; AMARO, 2005). Para tratamento das disfunções refratárias do trato urinário inferior são utilizados vários métodos de neuromodulação intermitente, inclusive intravesical, anal, vaginal, peniana e a eletroestimulação perineal, a eletroestimulação transcutânea suprapúbica ou região sacral e no nervo tibial posterior. Em decorrência dos resultados insatisfatórios ou pelos locais incômodos de estimulação, a maioria das modalidades de tratamento mencionadas não teve uma boa aceitação nem foi muito difundida (VAN BALKEN et al., 2003). Gameiro e Amaro (2005) destacam que a eletroestimulação, na dependência do tipo de freqüência de corrente utilizada, inibe o músculo detrusor pela estimulação do nervo pudendo, diminuindo o número de micções, com conseqüente aumento da capacidade vesical. Grosse e Sengler (2002) destacaram que inicialmente a eletroestimulação, para o tratamento da bexiga hiperativa, foi realizada em gatos e nestes animais foi descoberto que a eletroestimulação era capaz de limitar e mesmo de eliminar as contrações vesicais não inibidas. Conforme estes autores, todas as pesquisas confirmam que ocorria inibição do detrusor com a eletroestimulação. Continuam descrevendo que no decorrer das explorações urodinâmicas, 43 quando uma contração não inibida do detrusor aparecia nos estudos, a eletroestimulação nesta mesma hora fazia desaparecer estas contrações. Plevnik e Vodusek (1986) descreveram que para uma melhor estimulação objetivando o fechamento uretral, as freqüências devem ser entre 20 e 50 Hz e para a inibição vesical entre 5 e 10 Hz e que, praticamente não existe diferença em utilizar freqüências de 5, 10 e 20 Hz para inibir as contrações da bexiga. Dorey (2001) elenca que para o tratamento da bexiga hiperativa, a estimulação elétrica deve ser bifásica, com freqüência entre 5-10 Hz, com pulso de 200µs por 20 min para a supressão da urgência miccional. Fall e Lindstron (1998) escreveram que durante a condução da corrente inibitória ocorre à participação de fibras eferentes do plexo hipogástrico (simpático), ocasionando a inibição da musculatura vesical e estimulação da musculatura lisa periuretral, agindo sinergicamente nos mecanismos de continência urinária. Reed e Low (2001) afirmam que uma série de pulsos elétricos aplicados à pele estimula, inicialmente, os nervos sensoriais cutâneos causando uma sensação de formigamento, com o uso de uma amplitude de corrente baixa; depois, com uma amplitude de corrente maior, os nervos motores serão sensibilizados, gerando uma contração muscular e, por último, com uma amplitude de corrente ainda maior, as fibras nociceptoras serão estimuladas, causando dor. Amplitudes de correntes maiores são necessárias para estimular fibras de dor, amplitudes menores para estimular os nervos motores e ainda menores para os nervos sensitivos. Logo, pode-se chegar à conclusão que a amplitude de corrente necessária para estimular uma fibra nervosa é inversamente proporcional ao seu diâmetro. Assim, as pequenas fibras C, nociceptoras, necessitam de uma amplitude de corrente maior para gerarem impulsos para a medula. É, portanto, mais fácil estimular seletivamente nervos motores ou sensoriais sem provocar dor através de pulsos de curta duração (REED; LOW, 2001; ROBINSON; SNYDER-MACKLER, 2002). Em 1980, os implantes de eletrodos para neuroestimulação ficaram disponíveis para modulação dos nervos espinhais sacros, especialmente em S3 (terceira vértebra sacral). Esta estimulação pode ser realizada continuamente, conduzindo a resultados melhores (VAN BALKEN et al., 2003). Essas técnicas são seguras e efetivas, mas requerem implantação cirúrgica e um período de teste que podem limitar seu uso (AMARENCO et al., 2003). 44 Além da desvantagem desta forma de tratamento incluir a invasividade do procedimento, a ela somam-se os altos custos e o tempo de funcionamento do dispositivo, que varia de 7 a 10 anos, bem como os sintomas que parecem ocorrer quase que imediatamente depois de descontinuidade da estimulação (VAN BALKEN et al., 2003). Amarenco et al. (2003), ainda sugerem que a neuromodulação sacral de S3 pode ser indicada para aqueles pacientes cuja eletroestimulação do nervo de tibial posterior falhou. Além disso, pode ser proposta excitação de nervo de tibial posterior como um teste para selecionar os candidatos para neuromodulação de S3 que é um procedimento definitivo. Porém, são exigidos estudos adicionais para testar esta hipótese. A eletroestimulação transcutânea aplicada à pele perianal mostrou-se eficaz para abolir a instabilidade do detrusor e aumentar o volume vesical para o primeiro desejo miccional (AMARENCO et al., 2003). Enquanto isso, outros estudos não mostraram mudanças significantes nos resultados da cistometria depois da eletroestimulação crônica. Melhorias clínicas são notáveis, incluindo aumento da capacidade funcional, número menor de perdas no diário miccional e melhora das medidas de qualidade de vida conforme destacam Amarenco et al. (2003). 2.4.4 Estimulação elétrica no Nervo Tibial Posterior (PTNS) Apesar da PTNS ser um tipo de neuromodulação, a ela será dado enfoque especial, separadamente, por ser o objeto do presente estudo. Bourcier e Park (2004), Govier et al. (2001), Kabay; Yucel; Kabay, (2008)e Van Der Pal et al. (2006) elencam que a eletroestimulação no nervo tibial posterior (PTNS) foi primeiramente aplicada por McGuire em 1983 em pessoas com incontinência urinária. Kabay; Yucel; Kabay (2008) relatam ainda que McGuire utilizou eletrodos transcutâneos no nervo fibular comum ou no nervo tibial posterior e outro contralateralmente em cima do mesmo nervo e mais tarde, Stoller et al. (1999), ajustaram esta técnica utilizando eletrodos-agulha no nervo tibial posterior e outro ipsilateralmente, técnica esta mais divulgada atualmente. 45 Segundo Amarenco et al. (2003), a eletroestimulação do nervo tibial posterior inibe atividade de bexiga através de despolarização das fibras aferentes somáticas sacrais e lombares. A estimulação das fibras aferentes provê a inibição central dos motoneurônios pré-ganglionares vesicais diretamente na medula. Entretanto, os mesmo autores citam que a neuromodulação do reflexo miccional, realizada pela PTNS, ainda é obscura. De forma interessante, o local da inserção da agulha para a aplicação da PTNS está perto do ponto chamado Sanyinjiao (BP6), sexto ponto do meridiano Baço-Pâncreas da Medicina Tradicional Chinesa, ponto este usado na Acupuntura Chinesa para tratar problemas de incontinência urinária (ANDREWS; REYNARD, 2003). Em acupuntura, segundo Lian et al. (2005), o corpo não é medido em unidades absolutas, mas nas unidades relativas e proporcionais de um dado paciente. As distâncias são determinadas por referências anatomo-topográficas. A unidade básica de medida na acupuntura chinesa é o tsun ou cun. Estas medidas são obtidas a partir das medidas dos dedos da mão do paciente. A largura do polegar é de 1 tsun. A colocação das agulhas é observada na figura 3. Chen (1997) e Lian et al. (2005) relatam que o ponto BP6 está localizado a 3 polegadas ou a 2 tsun2 de distância do maléolo medial, acima da fossa posterior, a margem medial da tíbia e a introdução da agulha deve ser de 1,5 a 2 polegadas de profundidade. Lian et al. (2005) destaca que a introdução das agulhas deve ser sempre precedida pela desinfecção da pele por uma solução de álcool. A agulha de aço tem a medida de 25x30mm e deve ser introduzida por um cilindro de plástico, chamado de mandril, aproximadamente 3 mm mais curto que a agulha. As agulhas devem ser esterilizadas e descartáveis. Uma vez que a pele foi perfurada, o mandril é afastado, e a agulha permanece aproximadamente 3 a 4 cm posteriormente à tíbia. A trajetória de agulha será perpendicular ao longo do comprimento da tíbia, no sentido cefalo-caudal, conforme citam Govier et al. (2001). As agulhas são inseridas em ambas as pernas, no mesmo ponto e com a mesma metodologia. Dorey (2001) descreve que o uso de eletrodos-agulha é uma forma de tratamento da bexiga hiperativa, mas que este tipo de tratamento deve ser realizado por um fisioterapeuta especialista em Acupuntura. ______________ 2 Medida usada na Medicina Tradicional Chinesa onde a largura do quinto dedo da mão da pessoa a ser tratada equivale a 1 tsun. 46 Os eletrodos agulha ou outros tipos de eletrodos subcutâneos são aqueles colocados sob a pele, próximos ou diretamente no tecido excitável de interesse. Não necessitam de solução eletrolítica porque estão em contato com os fluidos corporais que têm baixa resistência ao fluxo de corrente elétrica. Os eletrodos monopolares colocados próximos ou no tecido excitável de interesse devem ser usados junto com outros eletrodos agulha ou com eletrodos de superfície que agem como eletrodos de referência ou de terra (ROBINSON; SNYDER-MACKLER, 2002). Um outro eletrodo, auto-adesivo, é colocado abaixo do maléolo medial, próximo ao calcanhar fechando o circuito. O eletroestimulador é conectado à agulha e no adesivo fixado no arco do pé. A correta colocação da agulha será confirmada pela flexão do hálux ou a flexão do segundo ou quinto dedos do pé ipsilateral a agulha inserida e que será eletroestimulada. Na figura 3 segue uma ilustração da colocação dos eletrodos, delimitado pelo número 1 na figura. Vandoninck et al. (2003) descrevem que o nervo tibial posterior é misto, isto é, tem fibras motoras e sensitivas. A correta colocação dos eletrodos-agulha induz a uma resposta motora e sensitiva à área de localização deste nervo. Centralmente, o nervo tibial posterior adentra na espinha dorsal sacra na mesma área onde são achadas projeções nervosas para a bexiga. Estas são as mais prováveis áreas onde o efeito terapêutico da neuromodulação da bexiga pela eletroestimulação em nervo tibial posterior (PTNS) atua e, este estímulo, com duração de 30 minutos já tem um efeito benéfico. Bexiga Trajeto do nervo Tibial Posterior Figura 3: Representação da localização dos eletrodos e da atuação da PTNS (Percutaneous Tibial Nerve Stimulation) Fonte: adaptado de Iptnsuitleg2_120.gif (2005). 47 Pacientes com Bexiga Hiperativa pouco instáveis, com baixa intensidade das CNI, são bons candidatos a PTNS, segundo citam Vandonick et al. (2003). Quando a Bexiga Hiperativa com alta intensidade das CNI estiver presente, parece aconselhável excluir esses pacientes com formas severas de hiperatividade vesical da terapia com a PTNS, como aqueles com contrações não inibidas do detrusor (CNI) que aparecem logo na urodinâmica. Em seus estudos com a PTNS, Van Balken et al. (2003), obtiveram uma taxa de sucesso de cerca de 60% dos 49 pacientes com bexiga hiperativa e com retenção urinária. A PTNS foi aplicada em 22 pacientes com instabilidade de detrusor, cistite intersticial e com pessoas com doença neurológica com resultados promissores, inclusive na continência em 12 deles e na melhora dos padrões urodinâmicos em 7 deles (VAN BALKEN et al., 2003). De Gennaro et al. (2004) relatam um trabalho utilizando a eletroestimulação em nervo tibial posterior (PTNS) em crianças com LUTS (da sigla em inglês Lower Urinary Tract Symptons que se refere aos sintomas em trato urinário inferior) que não responderam a outros tratamentos. Participaram deste trabalho 23 crianças, 10 delas apresentavam bexiga hiperativa idiopática, 7 tinham retenção urinária de origem não-neurogência e 6 delas tinham bexiga neurogênica. O protocolo de tratamento constituiu-se na aplicação da PTNS por 30 minutos, uma vez na semana durante 3 meses. A estimulação foi aplicada com uma agulha de 34 gauge inserida dois dedos acima dos maléolos mediais com os seguintes parâmetros: 200 µs, freqüência de 20 Hz com intensidade da corrente variando de 0 a 10 mA. Além disso, as crianças foram avaliadas com relação à dor na utilização da corrente pelas escalas de análise visual da dor e questionários específicos para dor em crianças. Na conclusão do trabalho, os autores relatam que as maiores queixas de dor relacionam-se à inserção das agulhas e não pela passagem da corrente e que a PTNS é satisfatória, proporcionando dores mínimas e especialmente eficaz para o tratamento das alterações miccionais não relacionadas com alterações neurológicas nestas crianças. Vandoninck et al. (2003) também relatam o tratamento com eletroestimulação percutânea no nervo tibial posterior (PTNS). Neste estudo 35 pacientes adultos, 10 homens e 25 mulheres, com média de idade de 57 anos, foram tratados com os mesmos parâmetros do trabalho De Gennaro et al. (2004) e com as agulhas de igual calibre. Dois questionários para avaliação da qualidade de vida foram utilizados: o I-QoL (“Incontinence-specific Quality of Live Assessment”) e o SF-36. A conclusão do trabalho foi de que a PTNS é efetiva sendo uma opção de tratamento com mínima invasividade para as pessoas com bexiga hiperativa. 48 Nos artigos de Vandoninck et al. (2003; 2004) descreve-se também o método de neuromodulação no nervo tibial posterior para o tratamento da urge-incontinência. Segundo estes autores, a etiologia da hiperatividade vesical é desconhecida, mais a hipótese é que ocorre um desequilíbrio entre os impulsos inibitórios e excitatórios que comandam a bexiga. Ainda segundo estes autores, o modo de ação desta neuromodulação também é obscuro, mas acredita-se que ele possa reestabelecer o equilíbrio no sistema nervoso central. Já Amarenco et al. (2003) desenvolveram uma proposta aplicando a PTNS com 44 pacientes. Dos pacientes tratados, 37 deles tinham alterações miccionais em decorrência de patologias neurológicas (13 tinham esclerose múltipla, 15 lesão medular e 9 doença de Parkinson), os setes restantes apresentavam bexiga hiperativa idiopática. Estes autores tiveram bons resultados quando compararam os exames de urodinâmica antes e depois da aplicação da eletroestimulação. Mais recentemente, foram feitos vários estudos para avaliar a PTNS como um tratamento em pacientes que apresentavam sintomas de hiperatividade vesical, como urgência, freqüência e/ou urge-incontinência por Amarenco et al. (2003). Observou-se uma significância estatística com relação à diminuição dos episódios de perda, no número de absorventes utilizados diariamente, na freqüência de perda e na noctúria. Dois terços dos casos foram classificados como sucessos de tratamento. Os autores relataram que esta técnica é barata, não invasiva e livre de efeitos colaterais farmacêuticos. Além disso, a eletroestimulação fora da região anogenital tem aceitação mais alta por pacientes. Outros autores Andrews e Reynard (2003), Govier et al. (2001) e Hoebeke et al. (2002) também relatam experiências com a PTNS com resultados satisfatórios. O primeiro deles relata o caso de um homem de 68 anos com seqüela de lesão medular (ANDREWS; REYNARD, 2003). Hoebeke et al. (2002) relatam sua experiência com crianças (17 meninos e 15 meninas) com disfunção miccional decorrente com bexiga hiperativa não-neurogênica. E os últimos autores relatam um estudo com 53 pacientes com bexiga hiperativa com média de idade de 57,4 anos. A conclusão destes autores foi de que a PTNS não foi invasiva e tornou-se efetiva no tratamento das Bexigas Hiperativas e nas disfunções do assoalho pélvico na população estudada (GOVIER et al., 2001). Hoebeke et al. (2002) realizaram a PTNS em 31 crianças. Somente uma delas não concluiu o tratamento por medo das agulhas, os outras 30 crianças terminaram as 12 sessões com 49 a PTNS sem referir dor, nem durante a colocação das agulhas nem na passagem da corrente elétrica. Já De Gennaro et al. (2004), fizeram seu estudo com 23 crianças e as 10 primeiras é que responderam a vários questionários de dor e ansiedade, além da Escala Visual de Dor (EVA). Eles queriam testar a tolerância e a possibilidade de tratamento em crianças com a PTNS e estes também encontraram os mesmos resultados que Hoebeke et al. (2002): que o maior componente de dor era a inserção das agulhas e não a passagem da corrente. Participaram do estudo de Vandoninck et al. (2004), 12 homens e 27 mulheres, totalizando 39 voluntários. O exame de urodinâmica revelou 5 pacientes com hiperatividade do detrusor. Depois do tratamento com 12 sessões da PTNS, foram vistas as contrações não inibidas (CNI) do detrusor em 3 deles. Os mesmos autores também não observaram nenhum efeito colateral pela aplicação da PTNS. Os resultados obtidos, com a utilização da PTNS, por Andrews e Reynard (2003), conforme citam os próprios autores, necessitam de investigação adicional, avaliação e otimização por ser uma opção de tratamento de minimamente invasivo para as situações de incontinência urinária intratável devido a hiperreflexia do detrusor em pacientes com lesão medular. Zhao e Nordling (2004) realizaram um estudo com a PTNS com homens e mulheres que apresentavam Cistite Intersticial refratária aos tratamentos convencionais. No total, este estudo contou com a participação de um homem e doze mulheres e o tratamento foi realizado com 10 sessões. Os autores concluíram que apesar da PTNS ser um método seguro, simples e bem aceito pelos pacientes não proporcionou um resultado satisfatório no alívio das dores que ocorrem durante o enchimento vesical, sendo que este desconforto continuou ocorrendo em 61% dos voluntários da pesquisa. A cistite intersticial, segundo O’Reilly et al. (2004), é uma condição debilitante, que causa sintomas irritativos na bexiga como polaciúria e urgência miccional, dor e diminuição nos níveis de qualidade de vida. Em um estudo de Geirsson et al. (1993) apud Zhao e Nordling (2004), com pessoas com Cistite Intersticial, foi realizada a estimulação elétrica transcutânea (TENS) somente com eletrodos de superfície, colocados em cima da pele, próximo do nervo tibial posterior, ao invés da inserção da agulha. Este estudo foi realizado em casa, pelos próprios sujeitos da pesquisa. Não foram observadas diferenças significativas na freqüência de perda nem nos volumes de perdas depois do tratamento. 50 De acordo com Van Balken et al. (2003), um estudo realizado por Geirsson et al. (1993) em pacientes com cistite intersticial, a PTNS usada com eletrodos transcutâneos no ponto usado tradicionalmente da Medicina Tradicional Chinesa (MTC), não revelou nenhuma diferença na freqüência das perdas urinárias, no volume das perdas e nem na diminuição da dor, aplicada subjetivamente pela escala analógica visual antes e depois desta modalidade de tratamento. Já O’ Reilly et al. (2004) realizaram um estudo com 29 pessoas com cistite intersticial e 27 pessoas no grupo controle, também com cistite intersticial. A terapêutica constou da aplicação, em domicílio, da utilização do laser por 30s sobre o ponto BP6, da Medicina Tradicional Chinesa, por 12 semanas, totalizando 84 dias de utilização do protocolo. Este ponto, BP6, está no mesmo lugar onde é possível encontrar o nervo tibial posterior mais passível de estimulação. Para a comprovação da eficácia, ou não da técnica, um diário miccional de 7 dias consecutivos foi utilizado e repetido a cada 3 semanas durante o experimento, além do questionário de qualidade de vida SF-36. Após estes 84 dias de tratamento, não foi possível observar uma diminuição significativa na freqüência das perdas somente na quantidade de urina perdida no grupo que realizou a terapia a laser. Os dados também mostraram não ocorrer nenhuma diferença significativa entre os participantes do grupo controle. Finazzi Agro et al. (2005) realizaram uma pesquisa com o objetivo de comparar os resultados obtidos com a aplicação da PTNS uma vez na semana e três vezes semanais. Para isto utilizaram 35 pacientes (28 mulheres e 7 homens) que tinham Bexiga Hiperativa e não haviam respondido ao tratamento com antimuscarínicos. Concluíram que a periodicidade de eletroestimulação não efetuou diferenças no tratamento. A vantagem de se realizar as sessões com a PTNS com maior freqüência é de alcançar uma melhora clínica mais rapidamente. Para Richardson et al. (1996), não há diferença significativa da utilização da eletroestimulação diária ou em dias alternados no tratamento de pacientes com incontinência urinária e para Gameiro e Amaro (2005), o programa de tratamento deve ser no mínimo de 12 semanas e com duração de cada sessão de 20 a 30 minutos. O estudo de Van Der Pal et al. (2006) mostrou que a PTNS foi efetiva para melhorar/incrementar a qualidade de vida em pessoas com bexiga hiperativa e ficou demonstrado também que a definição do sucesso da terapêutica utilizada é baseada na melhora da qualidade de vida. 51 Van Der Pal et al. (2006) concluíram que a PTNS foi útil no tratamento da bexiga hiperativa e mostrou que esta pode ser considerada uma alternativa terapêutica antes de uma cirurgia e foram identificadas correlações entre a perda de urina e qualidade de vida nos pacientes em tratamento pela PTNS. A melhor definição do sucesso da terapia pela PTNS é baseada na melhora da qualidade de vida nas pessoas com bexiga hiperativa e na redução de pelo menos 2 absorventes/dia descritos pelo diário miccional. Eles também observaram que a redução de 1 absorvente/dia no diário miccional resultava no decréscimo de 5 pontos no domínio físico do SF36. 52 3 METODOLOGIA 3.1 LOCAL DO ESTUDO A pesquisa experimental foi realizada na Clínica de Fisioterapia da UNIVALI (Universidade do Vale do Itajaí-SC), no setor de Ginecologia e Obstetrícia (GO) e no Instituto Catarinense de Urologia (INCAU), ambos na cidade de Itajaí-SC. 3.2 POPULAÇÃO A casuística deste estudo foi composta por mulheres que foram encaminhadas por um médico urologista e que apresentavam o diagnóstico de Bexiga Hiperativa por meio do exame de Urodinâmica, sem comprometimento neurológico. O critério de inclusão foi: confirmação do diagnóstico de bexiga hiperativa pelo exame de urodinâmica com a presença de contrações não-inibidas do detrusor (CNI), emitido por médico urologista. Os critérios de exclusão foram: mulheres com idade inferior a 18 anos, presença dos sintomas irritativos do trato urinário inferior decorrentes de Bexiga Hiperativa com comprometimento neurológico, com menos de 6 meses de duração, gestantes ou mulheres que tinham a intenção de engravidar durante o estudo, presença de infecção no trato urinário demonstrado por urocultura atual ou no último ano, diagnóstico de câncer vesical, carcinoma vesical in situ, malignidade vesical, cistite intersticial diagnosticada, litíase no trato urinário, doença cardiopulmonar severa, voluntárias que usavam marcapasso cardíaco, que apresentavam afecções ginecológicas ou na pelve, diabetes descompensada a mais de seis meses, presença de doença neurológica (esclerose múltipla, doença de Parkinson, acidente vascular cerebral, espinha bífida ou lesão medular, por exemplo), realização de outras formas de fisioterapia para os sintomas urinários durante o estudo, obstrução vesical demonstrada pelo estudo fluxo-pressão, 53 uso de medicação anticolinérgica, antidepressivos tricíclicos, alfa-bloqueadores, adrenérgicos e antidepressivos, dentro de 2 semanas antes ou durante o estudo. Todas as voluntárias passaram por uma consulta clínica prévia com urologistas e/ou ginecologistas para investigação de possíveis critérios de exclusão. 3.3 ANAMNESE O presente estudo respeitou a Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde/MS de 10/10/96 tendo sido aprovado pela Comissão de Ética em Pesquisa da UNIVALI pelo Parecer no. 442/2005 (Anexo A). Cada voluntária assinou o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (Apêndice A). Neste mesmo momento, as voluntárias foram submetidas a anamnese, foi questionado sobre os antecedentes familiares de IU, doenças pré-existentes e medicamentos utilizados no momento da avaliação, constipação intestinal e hemorróidas, antecedentes obstétricos, questionamentos sobre a incontinência urinária em questão, tempo da queixa urinária, uso de protetores íntimos. As informações foram registradas na ficha de avaliação (Apêndice B). A avaliação funcional do assoalho pélvico foi realizada com um perineômetro de pressão (Perina® da marca Quark Produtos Médicos) em três tomadas de força, conforme recomenda Moreno (2004). As informações também foram registradas na ficha de avaliação (Apêndice B). Para avaliar a contração perineal voluntária foi utilizado o esquema P.E.R.F.E.C.T. para avaliação clínica do assoalho pélvico através do toque bidigital vaginal e com o perineômetro Perina® (Quark Produtos Médicos) ambos procedimentos a paciente permanecia em posição de litotomia (posição ginecológica). Segundo descreve Moreno (2004), com a paciente em posição de litotomia e o avaliador com os segundo e terceiro dedos introduzidos na vagina, é possível avaliar, através do esquema P.E.R.F.E.C.T. seis variáveis: força muscular (power) que avalia a presença e a intensidade da contração voluntária do assoalho pélvico numa escala de 0-5 (Escala de Oxford-modificada); a manutenção das contrações (endurance) que seria o tempo dispensado para sustentar as contrações e podendo ser verificado a atividade das fibras lentas; o número de repetições 54 (repetition) das contrações mantidas sem comprometer a intensidade; o número de contrações rápidas (fast) verificando a atividade das fibras rápidas e o progresso seria então verificado através da cronometragem de todas as contrações. Verifica-se também a habilidade da paciente em relaxar de maneira rápida e completa após cada contração bem como a sua progressão durante o tratamento fisioterápico e este item compreende as iniciais E.C.T. (every contractions timed). Já o perineômetro Perina® tem um sensor de pressão que registra os níveis das contrações musculares do assoalho pélvico e traduz sua intensidade por sinais visuais. Segundo Géo e Lima (2001), neste exame pode-se quantificar a intensidade, duração e sustentação da contração muscular. 3.4 DIÁRIO MICCIONAL As voluntárias receberam instruções de como preencher o diário miccional que foi realizado por três dias consecutivos, antes da aplicação da PTNS e repetidos a cada duas semanas, durante todo o estudo (Anexo B), conforme recomenda MORENO (2004). Junto com a folha do diário miccional, todas as pacientes também receberam um copo milimetrado de até 600 ml. Neste copo elas deveriam urinar durante todo o tempo da realização do diário miccional para saber o volume de urina eliminada em cada micção. Este valor era anotado na folha junto com o horário das micções e quando possível, a ingesta de líquido que foi feita entre cada micção. No diário miccional utilizado nesta pesquisa, existia um quadro que questionava a quantidade de urina que elas percebiam que perdiam e era assim classificada: +, pequena quantidade, semelhante a gotas; ++, moderada quantidade, quantidade de uma colher e +++, intensa quantidade, aproximadamente um copo. Neste trabalho, foi solicitado a todas as voluntárias que preenchessem todos os itens do diário miccional. Entretanto, a quantidade e o tipo de líquido ingerido entre as micções não foi preenchido adequadamente por todas as participantes. No entanto, a perda desta variável, não invalidou os achados. 55 As variáveis analisadas do diário miccional encontram-se no quadro 2, cujas dados são a média de 3 dias consecutivos em 3 momentos distintos, antes da primeira aplicação da PTNS, após a 6a. sessão e no final do tratamento, após a 12a. sessão. MM1 Média das micções em 24 h, por 3 dias consecutivos, antes do início da PTNS. MM6 Média das micções em 24 h, por 3 dias consecutivos, na sexta sessão da PTNS. MM12 Média das micções em 24 h, por 3 dias consecutivos, na décima segunda sessão da PTNS. MMN1 Média das micções noturnas, por 3 dias consecutivos, antes do início da PTNS. MMN6 Média das micções noturnas, por 3 dias consecutivos, na sexta sessão da PTNS. MMN12 Média das micções noturnas, por 3 dias consecutivos, na décima segunda sessão da PTNS. EU+1 Número de episódio de urgência miccional leve, por 3 dias consecutivos, antes do início da PTNS. EU+6 Número de episódio de urgência miccional leve, por 3 dias consecutivos, na sexta sessão da PTNS. EU+12 Número de episódio de urgência miccional leve, por 3 dias consecutivos, na décima segunda sessão da PTNS. EU++1 Número de episódio de urgência miccional moderada, por 3 dias consecutivos, antes do início da PTNS. EU++6 Número de episódio de urgência miccional moderada, por 3 dias consecutivos, na sexta sessão da PTNS. EU++12 Número de episódio de urgência miccional moderada, por 3 dias consecutivos, na décima segunda sessão da PTNS. EU+++1 Número de episódio de urgência miccional severa, por 3 dias consecutivos, antes do início da PTNS. EU+++6 Número de episódio de urgência miccional severa, por 3 dias consecutivos, na sexta sessão da PTNS. EU+++12 Número de episódio de urgência miccional severa, por 3 dias consecutivos, na décima segunda sessão da PTNS. Quadro 2: Variáveis do Diário Miccional. 3.5 EXAME DE URODINÂMICA Os exames de urodinâmica pré e pós-PTNS foram realizados no Instituto Catarinense de Urologia (INCAU) na cidade de Itajaí-SC. Ambos exames foram realizados pelo mesmo médico 56 urologista. Utilizou-se aparelho de urodinâmica Urosystem DS 5600 Viotti Associados, de fabricação nacional. CNIi Contrações não inibidas do detrusor, antes do início da PTNS. CNIf Contrações não inibidas do detrusor, após a PTNS. CCMi Capacidade cistométrica máxima, antes do início da PTNS. CCMf Capacidade cistométrica máxima, após a PTNS. PDi Primeiro desejo miccional, antes do início da PTNS. PDf Primeiro desejo miccional, após a PTNS. FDi Forte desejo miccional, antes do início da PTNS. FDf Forte desejo miccional, após a PTNS. Quadro 3: Variáveis do exame de Urodinâmica. Após a antissepsia da genitália, era feita a lubrificação da uretra com lidocaína geléia a 2%, seguida da passagem do cateter uretral de urodinâmica de membrana, calibre 5 Fr, com 4 vias. A pressão abdominal foi monitorizada por meio de pequeno balão introduzido no reto. Para a realização da cistometria de infusão foi utilizada solução fisiológica à temperatura ambiente com velocidade de enchimento entre 30 e 50 ml/min. Durante a fase de infusão foram avaliados os seguintes parâmetros: sensação inicial de enchimento vesical, desejo habitual de micção, forte desejo de micção, sensação de urgência miccional, presença de contrações involuntárias do detrusor, pressão do detrusor na capacidade vesical máxima, ocorrência de perdas urinárias durante testes de esforço ou durante mudanças de posição do paciente. Encerrada a fase de armazenamento vesical a voluntária assumia a posição ortostática ou sentada, sendo solicitada que urinasse no fluxômetro com o cateter uretral posicionado. Nesta fase miccional, foram anotados os seguintes parâmetros: fluxo urinário máximo, pressão detrusora no fluxo máximo, volume miccional e volume residual. O segundo exame de Urodinâmica que foi realizado com no máximo 7 dias após a finalização das sessões com a PTNS. As variáveis analisadas no exame de urodinâmica aplicado nas voluntárias da presente pesquisa encontram-se no quadro 3. 57 3.6 QUESTIONÁRIOS DE QUALIDADE DE VIDA Antes da primeira sessão da PTNS e após a última sessão de eletroestimulação (12ª. sessão), as voluntárias preencheram dois questionários de qualidade de vida: “King’s Health Questionnaire” (KHQ) e o “Internacional Consultation on Incontinence Questionnaire – Short Form” (ICIQ-SF), (anexos C e D). Os dois questionários utilizados foram traduzidos e validados para a língua portuguesa por Tamanini et al. (2003) e Tamanini et al. (2004). Estes questionários foram respondidos pelas próprias voluntárias sem a interferência da avaliadora (HAJEBRAHIMI; CORCOS; LEMIEUX, 2004). O KHQ é um questionário constituído de 21 questões, divididas em 8 domínios: percepção geral da saúde, impacto da incontinência urinária, limitações de atividades diárias, limitações físicas, limitações sociais, relacionamento pessoal, emoções, sono e disposição e as medidas de gravidade geral que avalia a gravidade da incontinência urinária, a presença e a intensidade dos sintomas urinários (PACETTA; GIRÃO, 2004; TAMANINI et al., 2003). O quadro 4 representa as variáveis dos domínios utilizados nesta pesquisa. A pontuação é dada em cada um dos domínios separadamente, não havendo um escore geral. Os valores variam de 0 a 100, e quanto maior a pontuação, pior é a qualidade de vida referente a aquele domínio (TAMANINI et al., 2003). E fi D oom íínniiooesom oções,apósaPT N S.oiníciodaPT SD D D m N S. S fi D oom íínniioosm oenndooideeaddsiidssppeoogssriiaççvããiood,,aaadpneótegsseardaP M G D m l,T aN nS te.sdoT inN íciodaPTN S. M G fQ D o m í n i o m e d i d a s d e g r a v i d a d e uadro4:V ariáveisdoquestionáriodequalgideardale,dapeóvsidaaP “K inSǵ.sH ealthQ uestionaire”. O “InternacionaavallC onsultatioenntoenoInim copnatcintoendcaeiQ hroiarte-F oram IsQ -SF)é ntceuoqensutteiinosêtninocaniáiarreiuor–itneSám lni”ftiuc(aIaC u2ur1m inpqáorunieatsost,siopeonqádrueioanndqtoousem eraiustipilaezrrataodpodidpeao2m r1apm b o s o s s e x o s . E s um aquA poM çIaãN oIpdeeetrda0al.as, A N 204).N oquadro5podem serobservaidoarséaqsuvaalridiáavdeeisd.evidadoentrevistado(T IIC IQ i dP tT uN açS ã.odo“InternacionalC onsultationonInccoonnttiinneenncceeQ Q ueessttiioonnaaiirree––S ShortFoorrm m ”,anótessadP oinN íci.o C PaaoornnP Q uaIQ drfo5:V iátuvaeçisãododoqu“eInsttieornnáarcioiodnealqC uaolnidsaudlteatdi–oenvSoihdnoarIt“nIF notrem n”a.cionaluC onsultationonhIonrctoF ntinen”,caepQ uestioT nS aire 58 PGSi Domínio percepção geral da saúde, antes do início da PTNS. PGSf Domínio percepção geral da saúde, após a PTNS. IIUi Domínio impacto da incontinência urinária, antes do início da PTNS. IIUf Domínio impacto da incontinência urinária, após a PTNS. LAVDi Domínio limitação das atividades de vida diária, antes do início da PTNS. LAVDf Domínio limitação das atividades de vida diária, após a PTNS. LFi Domínio limitação física, antes do início da PTNS. LFf Domínio limitação física, após a PTNS. LSi Domínio limitação social, antes do início da PTNS. LSf Domínio limitação social, após a PTNS. RPi Domínio relacionamento pessoal, antes do início da PTNS. RPf Domínio relacionamento pessoal, após a PTNS. Ei Domínio emoções, antes do início da PTNS. 59 3.7 APLICAÇÃO DO PROTOCOLO DE ESTIMULAÇÃO ELÉTRICA Após a avaliação inicial, foram realizadas 12 sessões, sendo duas sessões por semana da aplicação da eletroestimulação em nervo tibial posterior (PTNS). Durante a aplicação da PTNS, as voluntárias permaneciam deitadas com as pernas fletidas e os joelhos apoiados sobre um rolo de couro para o maior conforto das voluntárias. Era então apalpada a região do maléolo medial e medidos 2 tsun para cima deste ponto, onde era introduzida uma agulha de acupuntura. Antes da aplicação da agulha, a pele era desinfetada por uma solução de álcool 70%. As agulhas de aço tinham a medida de 25x30 mm e eram introduzidas com um mandril3 de plástico, aproximadamente 3 mm mais curto que a agulha. Todas as agulhas eram estéreis e descartáveis. Depois que a pele era perfurada, o mandril era então afastado e a agulha permanecia inserida aproximadamente 3 a 4 cm posteriormente à tíbia. As agulhas foram inseridas em ambas as pernas, no mesmo ponto e com a mesma metodologia. Um outro eletrodo, desta vez auto-adesivo, era colocado abaixo do maléolo medial, próximo ao calcanhar fechando o circuito para a eletroestimulação nos dois pés. O eletroestimulador era, então, conectado às agulhas e nos adesivos fixados nos pés. A correta colocação da agulha era confirmada pela flexão do hálux ou pela flexão do segundo ou quinto dedos do pé ipsilateral à agulha inserida. Os parâmetros da estimulação elétrica foram: corrente bifásica, com amplitude de 0 a 10 mA, com pulso fixo em 200 µs e sem tempo de repouso. A sessão era realizada por 30 min e a intensidade da corrente era aumentada pela pesquisadora até que as voluntárias relatassem a sensibilidade perto do limiar de dor (AMARENCO et al., 2003; DE GENNARO et al., 2004; GOVIER et al., 2001; HOEBEKE et al., 2002; VAN BALKEN et al., 2003; VANDONINCK et al., 2003). A freqüência utilizada foi de 10 Hz já que Dorey (2001) e Grosse e Sengler (2002) descrevem que para o tratamento da bexiga hiperativa, a estimulação elétrica com freqüência entre 5-10 Hz. A forma de onda utilizada na estimulação elétrica utilizada pode ser observada na figura 4. ______________ 3 Mandril: haste que serve para facilitar a colocação das agulhas de Acupuntura. 60 O aparelho utilizado foi o Dualpex 961® da marca Quark Produtos Médicos, alimentado por uma bateria de 9 V para evitar interferência da rede elétrica no sinal aplicado às pacientes. O aparelho foi aferido no LER (Laboratório de Engenharia de Reabilitação, PUCPR) com o auxílio de um osciloscópio digital utilizando um resistor de 1KΩ como carga. Amplitude (mA) 100 A0 t (ms) -A0 0,2 Figura 4: Forma de onda utilizada na estimulação elétrica no nervo tibial posterior. A amplitude da corrente foi ajustada de acordo com o limiar doloroso das voluntárias. A fim de verificar se a PTNS poderia causar dor durante a colocação das agulhas ou durante a eletroestimulação, no início e no final de cada aplicação, as voluntárias preenchiam uma folha com a Escala Visual de Dor (EVA) composta de “carinhas” (Anexo E). 3.8 ANALISE ESTATÍSTICA DOS DADOS Para avaliar o efeito do tratamento, os resultados obtidos no início foram comparados com os resultados obtidos no final do protocolo de tratamento. 61 Para a comparação dos resultados da avaliação inicial com a avaliação final, em relação a variáveis quantitativas dos domínios dos questionários de qualidade de vida, da CCM, PD e FD do exame de urodinâmica, foi usado o teste não-paramétrico de Wilcoxon. Comparações entre três momentos de avaliação consecutivos (1º, 6º e 12º) do diário miccional referente a MM, MMN, NP e urgência miccional, foram feitas usando-se o teste nãoparamétrico de Friedman. Nos casos em que o teste de Friedman apontou diferença, os momentos foram comparados dois a dois usando-se do teste de Wilcoxon. Para a comparação da avaliação inicial com a avaliação final em relação a variáveis dicotômicas, em relação à presença das contrações não inibidas do detrusor, foi usado o teste de McNemar. Valores de p<0,05 indicaram significância estatística, com nível de significância de 95%. 62 4 RESULTADOS 4.1 AMOSTRA A amostra foi composta por onze mulheres com idade de 40,79±15,8 anos, com peso 60,4±6,8 kg, altura 163,3±7,8 cm, Índice de Massa Corporal (IMC) 22,7±2,6 kg/m2 e o tempo médio das queixas urinárias de 7,7 anos. 4.2 AVALIAÇÃO DO ASSOALHO PÉLVICO E USO DE PROTETORES ÍNTIMOS Na tabela 1 encontram-se os resultados obtidos na avaliação da força muscular segundo o esquema P.E.R.F.E.C.T. Nenhuma das pacientes apresentava fraqueza muscular, tanto para fibras tônicas quanto para as fásicas quando eram avaliadas pelo esquema P.E.R.F.E.C.T. Portanto, com este exame, também não foram encontradas diferenças na contração muscular em nenhum dos tipos de fibras avaliadas. Para esta medida também foi utilizado o perineômetro Perina® (Quark Produtos Médicos), cujos resultados também não foram estatisticamente diferentes pré-PTNS foi de 44,8±1,67 e pós-PTNS 45,3±1,28. 63 Tabela 1: Medida da força muscular perineal segundo o esquema P.E.R.F.E.C.T., para fibras tônicas e fibras fásicas. Dentro dos quadros estão descritos o numero de repetições X e a duração da repetição, realizadas pelas voluntárias sem apresentar sinais de fadiga muscular. Voluntárias A Fibras Tônicas Pré-PTNS Pós-PTNS 8x6s 9x6s Fibras Fásicas Pré-PTNS Pós-PTNS 12 x 2 s 13 x 2 s B mais que 10 x 6 s mais que 10 x 6 s mais que 15 x 2 s mais que 15 x 2 s C 7x6s 7x6s 9x2s 10 x 2 s D 9x6s 9x6s 12 x 2 s 12 x 2 s E 9x6s 8x6s 10 x 2 s 11 x 2 s F 9x6s 9x6s 10 x 2 s 11 x 2 s G 9x6s 9x6s 12 x 2 s 12 x 2 s H mais que 10 x 6 s mais que 10 x 6 s mais que 15 x 2 s mais que 15 x 2 s I 7x6s 7x6s 10 x 2 s 11 x 2 s J 7x6s 7x6s 9x2s 10 x 2 s mais que 10 x 6 s mais que 10 x 6 s mais que 15 x 2 s mais que 15 x 2 s K Na figura 5, estão mostrados os resultados relativos à utilização de protetores íntimos. No estudo aqui apresentado, 8 pacientes usavam absorventes pequenos e 2 usavam absorventes grandes diariamente, pré-PTNS. Após a PTNS, somente cinco delas relataram ainda necessitar dos absorventes pequenos. 64 Pré-PTNS Pós-PTNS 7 6 5 4 3 2 1 0 Ocasionalmente, absorvente pequeno Permanentemente, absorvente pequeno Permanentemente, absorvente grande Não usava Figura 5: Uso de protetor íntimo, pré-PTNS e pós-PTNS. A ausência de barras significa que não houve voluntária. A coluna pontilhada corresponde a avaliação pré-PTNS e a coluna lisa a avaliação pós-PTNS. 4.3 DIÁRIO MICCIONAL Nas figuras 6 a 11, é possível observar o comportamento das variáveis do diário miccional. Além dos dados mostrados nas figuras, outras informações importantes extraídas dos diários são: sete das voluntárias relataram apresentar perda de urina diurna pré-PTNS; depois da aplicação da PTNS somente três ainda apresentavam perdas e estas eram esporádicas. Para uma participante a redução das perdas urinárias foi de 89%, passando de 5,6 perdas em 3 dias consecutivos para 0,6 ao final do tratamento. E para a outra participante, a redução das perdas foi de 78%, passando de 9,3 episódios de perda em 3 dias consecutivos para 2 vezes em 3 dias. Na figura 6, o nível de significância estatística foi de 0,011. 65 12 p=0,011 10 8 6 4 2 0 1º. 6º. 12º. MM Figura 6: Média e desvio-padrão das micções em 24 h por três dias consecutivos. MM1o. antes do inicio do tratamento na coluna pontilhada, MM6o. após a sexta sessão na coluna lisa e MM12o. após a décima segunda sessão na coluna listrada. Na figura 7, observam-se às médias das micções noturnas antes da primeira sessão, na sexta e após a décima segunda sessão da PTNS em todas as voluntárias da pesquisa com nível de significância estatística de 0,337. 5 p=0,337 4,5 4 3,5 3 2,5 2 1,5 1 0,5 0 1º. 6º. 12º. MMN Figura 7: Média e desvio-padrão das micções noturnas em 24 h por três dias consecutivos. MMN1o. antes do inicio do tratamento na coluna pontilhada, MMN6o. após a sexta sessão na coluna lisa e MMN12o. após a décima segunda sessão na coluna listrada. 66 p=0,014 20 18 16 14 12 10 8 6 4 2 0 1º. 6º. 12º. NP Figura 8: Média e desvio-padrão do número de perdas urinárias em 24 h por três dias consecutivos. NP1o. antes do inicio do tratamento na coluna pontilhada, NP6o. após a sexta sessão na coluna lisa e NP12o. após a décima segunda sessão na coluna listrada. Na figura 8 observa-se à média do número de perdas urinárias em 24 h segundo do diário miccional antes da primeira sessão, na sexta semana e após a décima segunda sessão de PTNS, com nível de significância estatística de 0,014. Nas próximas figuras, de 9 a 11, estão representados os números de episódios de urgência leve, moderada e grave registrados nos diários miccionais. Pode-se obter significância estatística somente na urgência moderada (0,005). Na urgência leve a significância estatística foi de 0,871 e na urgência grave de 0,323. Para a comparação dos dias, foi calculado um valor médio em cada dia, considerando-se o número de cruzes como um peso. Desta forma, o valor correspondente a 3 cruzes assumiu uma importância maior do que o valor correspondente a 2 cruzes ou 1 cruz. 67 5 p=0,871 4,5 4 3,5 3 2,5 2 1,5 1 0,5 0 EU + 1o. EU + 6o. EU + 12o Figura 9: Média e desvio-padrão dos episódios de urgência miccional leve em 24 h por três dias consecutivos. EU+1º. urgência miccional leve, por 3 dias consecutivos, antes do início da PTNS na coluna pontilhada, EU+6º. urgência miccional leve, por 3 dias consecutivos, na sexta sessão da PTNS na coluna lisa, EU+12º. urgência miccional leve, por 3 dias consecutivos, na décima segunda sessão da PTNS na coluna listrada. 6 p=0,005 5 4 3 2 1 0 EU ++ 1o. EU ++ 6o. EU ++ 12o. Figura 10: Média e desvio-padrão dos episódios de urgência miccional moderada em 24 h por três dias consecutivos. EU++1º. urgência miccional leve, por 3 dias consecutivos, antes do início da PTNS na coluna pontilhada, EU++6º. urgência miccional leve, por 3 dias consecutivos, na sexta sessão da PTNS na coluna lisa, EU++12º. urgência miccional leve, por 3 dias consecutivos, na décima segunda sessão da PTNS na coluna listrada. 68 6 p=0,323 5 4 3 2 1 0 EU +++ 1o. EU+++ 6o. EU +++ 12o. Figura 11: Média e desvio-padrão dos episódios de urgência miccional severo em 24 h por três dias consecutivos. EU+++1º. urgência miccional leve, por 3 dias consecutivos, antes do início da PTNS na coluna pontilhada, EU+++6º. urgência miccional leve, por 3 dias consecutivos, na sexta sessão da PTNS na coluna lisa, EU+++12º. urgência miccional leve, por 3 dias consecutivos, na décima segunda sessão da PTNS na coluna listrada. Tanto a média das micções (p=0,011), quanto o número de perdas (p=0,014) e os episódios de urgência moderada (p=0,005) sofreram variações durante a aplicação da PTNS no teste de Friedman. Na comparação entre os momentos dois a dois, observou-se que houve variação significativa entre o primeiro diário miccional e o diário da sexta sessão teste de Wilcoxon para as variáveis acima mencionadas, bem como na comparação entre o primeiro diário e o diário realizado após a décima segunda sessão para o mesmo teste estatístico. No entanto, não se observou variação estatística entre os diários da sexta sessão com o realizado após a décima segunda sessão para estas variáveis. Tais dados podem ser observados na tabela 2. Tabela 2: Momentos comparados dois a dois no diário miccional com relação à média das micções, número de perdas e urgência moderada. MM: média das micções, NP: número de perdas, EU++: Urgência miccional moderada. Momentos comparados MM NP EU ++ 1º. x 6º. 0,015 0,034 0,019 1º. x 12º. 0,013 0,028 0,025 6º. x 12º. 0,139 0,116 0,612 (*) Teste não-paramétrico de Wilcoxon 69 4.4 PARÂMETROS URODINÂMICOS Na figura 12, tanto na capacidade cistométrica máxima (CCM) inicial como na CCM final, somente obteve-se o valor válido em 8 mulheres, com significância estatística de 0,735. Nas outras três não foi possível obter este valor, pois a medição foi prejudicada pela perda involuntária de urina durante o enchimento ou no esvaziamento vesical. 450 p=0,735 400 350 300 250 200 150 100 50 0 CCM i CCM f Figura 12: Média e desvio-padrão da Capacidade Cistométrica Máxima (CCM), segundo o exame de urodinâmica pré e pós PTNS. CCMi Capacidade Cistométrica Máxima inicial na coluna pontilhada, CCMf Capacidade Cistométrica Máxima final na coluna lisa. Nas duas figuras a seguir, 13 e 14, são representados os valores referentes ao primeiro desejo miccional (PD) e ao forte desejo miccional (FD), itens importantes na avaliação urodinâmica. Tanto o PD quanto o FD não tiveram significância estatística, com p=0,477 e p=0,066, respectivamente. 70 p=0,477 140 120 100 80 60 40 20 0 PD i PD f Figura 13: Média e desvio-padrão do Primeiro desejo miccional (PD), segundo o exame de urodinâmica pré e pós PTNS. PDi: Primeiro desejo miccional inicial, PDf: Primeiro desejo miccional final. 400 p=0,066 350 300 250 200 150 100 50 0 FD i FD f Figura 14: Média e desvio-padrão do Forte desejo miccional (FD), segundo o exame de urodinâmica pré e pós PTNS. FDi: Forte desejo miccional inicial, FDf: Forte desejo miccional final. 71 Com relação à presença das contrações não inibidas do detrusor (CNI), ao final do estudo, estas haviam desaparecido do exame urodinâmico em três voluntárias, conforme a tabela 3. Obtendo-se um valor de p de 0,249 pelo teste de McNemar. Tabela 3: Presença das contrações não inibidas do detrusor (CNI), pré e pósPTNS. Sim Não Início 11 0 Final 8 3 Valor de p: 0,249 (Teste de McNemar) 4.5 QUALIDADE DE VIDA Nas figuras 15 a 17 são apresentadas às pontuações dos oito domínios do “King’s Health Questionnaire” (KHQ) e na figura 18 as do “Internacional Consultation on Incontinence Questionnaire – Short Form” (ICIQ-SF), ambos questionários específicos para avaliar a qualidade de vida em pessoas com incontinência urinária. Dos oito domínios do KHQ, somente o domínio percepção geral da saúde teve um valor estatístico tendendo a ser significativo (p=0,068), conforme a figura 15. Os domínios impacto da incontinência urinária, limitação das atividades de vida diária e limitação física tiveram nível de significância estatística (0,008), conforme figura 16. 72 90 p=0,068 80 70 60 50 40 30 20 10 0 Início Final PGS Figura 15: Média e desvio-padrão do Domínio Percepção Geral da Saúde do “King’s Health Questionnaire” (KHQ). PGS: Percepção Geral da Saúde pré-PTNS na coluna pontilhada e pós-PTNS na coluna lisa. 120 p=0,008 100 80 60 40 20 0 Início Final IIU Início Final LAVD Início Final LF Figura 16: Média e desvio-padrão de três domínios do “King’s Health Questionnaire” (KHQ). IIU: Domínio impacto da incontinência urinária, pré-PTNS na coluna pontilhada e pós-PTNS na coluna lisa; LAVD Domínio limitação das atividades de vida diária, pré-PTNS na coluna pontilhada e pós-PTNS na coluna lisa; LF Domínio limitação física, antes do início da PTNS, pré-PTNS na coluna pontilhada e pós-PTNS na coluna lisa. 73 Os demais domínios do KHQ, apresentados na figura 17, tiveram valores estatisticamente significativos, são eles, domínio limitação social com p=0,028, o domínio relacionamento pessoal com p=0,043, o domínio emoções com p=0,005, o domínio sono e disposição com p=0,012 e o domínio medidas de gravidades geral com p=0,003. 120 100 80 60 40 20 0 Início Final LS Início Final RP Início Final E Início Final SD Início Final MG Figura 17: Média e desvio-padrão de quatro domínios do “King’s Health Questionnaire” (KHQ). LS Domínio limitação social, pré-PTNS na coluna pontilhada e pós-PTNS na coluna lisa; RP Domínio relacionamento pessoal, pré-PTNS na coluna pontilhada e pós-PTNS na coluna lisa; E Domínio emoções, pré-PTNS na coluna pontilhada e pós-PTNS na coluna lisa; SD Domínio sono e disposição, pré-PTNS na coluna pontilhada e pós-PTNS na coluna lisa; MG Domínio medidas de gravidade geral, pré-PTNS na coluna pontilhada e pós-PTNS na coluna lisa. Todos os domínios apresentaram diferença estatisticamente significativa entre os valores pré e pósPTNS. 74 18 p=0,008 16 14 12 10 8 6 4 2 0 Início Final ICIQ Figura 18: Média e desvio-padrão da pontuação do “Internacional Consultation on Incontinence Questionnaire – Short Form” (ICIQ-SF). Pré-PTNS na coluna pontilhada e pós-PTNS na coluna lisa. Com relação ao “Internacional Consultation on Incontinence Questionnaire – Short Form” (ICIQ-SF), foi possível obter significância estatística com p=0,008 após a aplicação da PTNS, conforme a figura 18. Durante e após a aplicação das agulhas, era mostrado uma régua com “carinhas”, Escala Visual de Dor (EVA), que pontuava do dor da colocação e da manutenção das agulhas na região interna do tornozelo. Nem durante nem após a inserção das agulhas, a quantificação da dor não passou de 1-3 numa escala de 0-10. A correta colocação das agulhas era confirmada pela movimentação involuntária dos dedos dos pés, muitas vezes em movimentos rápidos mais indolores. 75 5 DISCUSSÃO 5.1 DA AMOSTRA Fizeram parte deste estudo 11 mulheres, com idades entre 22 e 65 anos, moradoras das cidades de Itajaí e Balneário Camboriú em Santa Catarina, todas com diagnóstico de bexiga hiperativa emitido por médico urologista. Para que não houvesse divergência nos laudos do exame de Urodinâmica, optou-se por “oferecer o tratamento” com a eletroestimulação no nervo tibial posterior (PTNS) somente para as pacientes de um único médico urologista. A priori supunha-se que seria possível contar com um número considerável de voluntárias com BH idiopática dispostas a participar da pesquisa. Todavia, foram utilizados vários expedientes para alcançar uma amostra com um número estatisticamente significativo. Primeiramente, foram contatadas 78 mulheres com o referido diagnóstico, via telefone e somente duas delas aceitaram participar deste estudo. A seguir, foi veiculado um anúncio da pesquisa em uma revista de saúde, com circulação local, sendo que mais quatro voluntárias apresentaram-se para participar. As demais participantes foram encaminhadas pelo médico urologista que realizou os exames de urodinâmica. No estudo realizado e ora apresentado, a idade média das voluntárias foi de 40,73 anos. Esta média de idade é inferior à média verificada nos trabalhos publicados e que serviram de embasamento teórico para o presente estudo (AMARENCO et al., 2003; ANDREWS; REYNARD, 2003; De GENNARO et al., 2004; FINAZZI AGRO et al., 2005; GOVIER et al., 2001; HOEBEKE et al., 2002; KABAY; YUCEL; KABAY, 2008; VAN BALKEN et al., 2003; VAN BALKEN; VERGUNST; BEMELMANS, 2006; VAN DER PAL et al., 2006; VANDONINCK et al., 2003; VANDONINCK et al., 2003; VANDONINCK; VAN BALKEN; FINAZZI AGRO, 2004; ZHAO; NORDLING, 2004). Van Balken, Vergunst e Bemelmans (2006) realizaram um estudo cuja média de idade das mulheres participantes era de 53,2 anos (23 a 82 anos). Já Vandonick et al. (2003), a idade média das pessoas estudadas era de 51 anos (19 a 82 anos). Do segundo estudo de Vandonick et al. (2003), participaram dez homens e 15 76 mulheres, com idade média de 57 anos (29 a 82 anos) e do terceiro estudo de Vandonick et al. (2004), a idade média dos voluntários era de 53 anos (28 a 77 anos). No estudo de Goveir et al. (2001), a idade média das participantes era de 57,4 anos (24 a 80 anos) e no trabalho publicado por Kabay; Yucel e Kabay (2008) foi de 46,5 anos (29 a 55 anos). Haver encontrado uma amostra aleatória de mulheres com bexiga hiperativa com idade média inferior à citada nos trabalhos acima concorda com a literatura que diz que os sintomas da bexiga hiperativa são uma condição prevalente mesmo na população mais jovem (TELÖKEN et al., 2006). No presente estudo, o tempo médio das queixas urinárias das participantes era de 7,7 anos (2 a 17 anos). Já a duração média das queixas urinárias nas mulheres participantes do estudo de Van Balken, Vergunst e Bemelmans (2006) era de 4 anos, no estudo de Vandonick et al. (2003) era de 4,5 anos, no de Kabay; Yucel; Kabay (2008) de 4,3 e no de Van Balken et al. (2003), era de pelo menos 6 meses, com média de 4 anos. Dessa forma, observa-se que as participantes deste estudo ficaram expostas, em média, quase que o dobro de tempo, aos sintomas irritativos vesicais, como polaciúria e urgência miccional mas realizaram o mesmo número de sessões da PTNS dos participantes dos estudos mencionados. Dessa forma, esperava-se uma dificuldade maior para erradicar os sintomas das participantes deste estudo, o que não ocorreu. Para Géo et al. (2002), Grosse e Sengler (2002) e Berghmans (2005), o motivo da demora em procurar soluções para os diversos tipos de incontinência urinária ocorre em função da vergonha, de ser um “tabu” e também pelo desconhecimento das possibilidades de tratamento. Ainda segundo Berghmans (2005), na prática clínica diária, as mulheres só procuram ajuda quando a perda de urina leva a problemas mentais, físicos e/ou sociais. Artibani (2007) destaca que os pacientes podem ficar constrangidos para falar sobre seus sintomas urinários, e seus estudos mostram inclusive, que menos de 50% dos pacientes com BH consultam um médico para tratar do problema. Segundo ele ainda, muitos acham que o problema não é tão sério que mereça tratamento ou, então, não acreditam que exista tratamento disponível. Telöken et al. (2006) e Artibani (2007) afirmam que grande percentual de indivíduos permanece não diagnosticado, subtratado e, conseqüentemente, sofrendo por um longo período de tempo. Estes motivos acima expostos podem justificar o tempo médio de 7,7 anos do aparecimento dos sintomas de BH nas voluntárias do presente estudo. 77 Apesar de não constar como um dos critérios de inclusão, a amostra acabou por ser composta exclusivamente por voluntárias que já haviam realizado tratamento clínico com anticolinérgico, por pelo menos 3 meses e sem melhora na sintomatologia. O fato de terem sido obtidos resultados positivos nesse trabalho, demonstra que a PTNS pode ser uma alternativa para casos sem um bom prognóstico clínico e refratários ao tratamento medicamentoso. 5.2 DO PROTOCOLODE ELETROESTIMULAÇÃO Os parâmetros da estimulação elétrica foram os mesmo já publicados na literatura sobre PTNS (AMARENCO et al., 2003; DE GENNARO et al., 2004; GOVIER et al., 2001; HOEBEKE et al., 2002; KABAY; YUCEL; KABAY, 2008; VAN BALKEN et al., 2003; VAN BALKEN et al., 2006; VAN DER PAL et al., 2006; VANDONINCK et al., 2003) exceto a freqüência. A escolha da freqüência de 10 Hz foi feita porque alguns trabalhos preconizam que para o tratamento da bexiga hiperativa, com estimulação elétrica endocavitária, sejam utilizadas freqüências entre 5-10 Hz (AMARENCO et al., 2003; DOREY, 2001; GROSSE e SENGLER, 2002). Este dado diferencia o protocolo aqui utilizado dos artigos já publicados sobre PTNS (DE GENNARO et al., 2004; GOVIER et al., 2001; HOEBEKE et al., 2002; KABAY; YUCEL; KABAY, 2008; VAN BALKEN et al., 2003; VAN DER PAL et al., 2006; VAN BALKEN et al., 2006; VANDONINCK et al., 2003). A Escala Visual de Dor (EVA) foi utilizada em todas as sessões tanto durante a colocação das agulhas quanto no ajuste da intensidade de corrente aplicada. As voluntárias relataram um desconforto maior no momento da colocação das agulhas do que durante a passagem da corrente elétrica. Todavia, mesmo durante a inserção das agulhas, a quantificação da dor não passou de três numa escala de 0-10. Este comportamento das voluntárias foi semelhante aos relatados nos trabalhos de De Gennaro et al. (2004), Hoebeke et al. (2002), Van Balken et al., 2003, Van Der Pal et al., 2006 e Van Balken et al., 2006. Durante a coleta dos dados, nenhuma das voluntárias desistiu do tratamento proposto de 12 sessões. Dessa forma, pode-se inferir que a aplicação do protocolo não gerou desconforto, constrangimento ou outra situação que pudesse levar à desistência do estudo. 78 Do ponto de vista do terapeuta, o protocolo proposto demonstrou ser de fácil aplicação, pois, entre outros fatores, proporcionou certeza do correto posicionamento das agulhas devido à movimentação dos dedos dos pés (AMARENCO et al., 2003; DE GENNARO et al., 2004; GOVIER et al., 2001; HOEBEKE et al., 2002; KABAY; YUCEL; KABAY, 2008; VAN BALKEN et al., 2003; VAN BALKEN et al., 2006; VAN DER PAL et al., 2006; VANDONINCK et al., 2003;). Diferente da utilização dos medicamentos que podem ocasionar alguns efeitos colaterais (AMARENCO et al., 2003), a PTNS mostrou-se livre de qualquer efeito adverso ao longo desta pesquisa, o que já era esperado a partir da literatura (AMARENCO et al., 2003; DE GENNARO et al., 2004; GOVIER et al., 2001; HOEBEKE et al., 2002; KABAY; YUCEL; KABAY, 2008; VAN BALKEN et al., 2003; VAN BALKEN et al., 2006; VAN DER PAL et al., 2006; VANDONINCK et al., 2003). 5.3 DA AVALIAÇÃO DO ASSOALHO PÉLVICO E USO DE PROTETOR ÍNTIMO A avaliação da musculatura perineal não revelou mudança da força muscular pós-PTNS. Isto já era esperado porque a BH não está relacionado à fraqueza muscular e sim uma desordem do sistema parassimpático (BARACHO, 2002; ROCHA, 2001; SHAFIK e SHAFIK, 2003). Com relação ao uso de protetores íntimos, observou-se que após a PTNS, cinco voluntárias relataram ainda necessitar de absorventes pequenos durante alguns períodos do dia, entretanto muitas vezes o este permanecia seco após o uso. Estas voluntárias foram incentivadas a não usarem mais este artifício, mesmo para sair de casa. A única voluntária que ainda necessitava usar absorvente teve as contrações não-inibidas extintas no exame de Urodinâmica. Entretanto, ela ainda sentia-se insegura para sair de casa sem este artifício. Estes dados concordam com aqueles publicados na literatura (Amarenco et al., 2003; Vandonick et al., 2003). Vandonick et al. (2003) observaram uma diminuição do uso de absorventes em 57% dos 20 pacientes estudados e Amarenco et al. (2003) também relataram diminuição no número de absorventes utilizados diariamente. 79 5.4 DOS RESULATDOS DO DIÁRIO MICCIONAL Inicialmente, as participantes desta pesquisa tinham, em média, 9,35 micções em 24 h, sendo o máximo de 12,3 micções por dia. Após a aplicação da PTNS, obteve-se a média de 7,14 vezes com o máximo de 8,6 micções por dia. Esses dados estão muito próximos dos padrões da normalidade que consiste em até 8 micções por dia (Freeman, 2003; Vandonick et al., 2003). Logo, é possível perceber a melhora significativa do padrão miccional para as voluntárias deste estudo após a PTNS. Estes resultados encontram apoio nos estudos de Vandonick et al. (2003), onde onze voluntários (31%) recuperaram o padrão miccional normal de menos de 8 micções em 24 h, outros 10 (29%) diminuíram a polaciúria para 10 micções em 24 h. No total, 60% dos pacientes participantes do estudo de Vandonick et al. (2003), recuperaram um padrão miccional para até 10 micções de 24 h. O número de micções noturnas entre as participantes deste estudo era de no máximo seis vezes ao deitarem para dormir, com média de 2,5 vezes. Após a aplicação da PTNS, seis participantes relataram a necessidade esporádica de urinar a noite e as demais não necessitavam mais acordar durante a noite. Estas observações qualitativas demonstram uma melhora na qualidade do sono. Quantitativamente (Figura 7), não se observou alteração significativa no número de micções noturnas pós-PTNS. Isso porque uma característica da população deste estudo, é que as voluntárias não apresentavam o quadro de noctúria severa característico da BH (GUIDI et al., 2005; JONES III et al., 1988; MORENO, 2004), antes da PTNS. Sendo assim, é difícil comparar os resultados deste estudo com os da literatura. Por exemplo, no estudo de Vandonick et al. (2003), a noctúria diminuiu 50% em 20 pacientes, perfazendo um total de 57% dos participantes da pesquisa. Este resultado difere do obtido aqui. Porém, além da ausência da noctúria severa há outras diferenças entre as características das amostras dos estudos, já que a amostra de Vandonick et al. (2003) era composta por pessoas com bexiga hiperativa de origem neurogênica, ao contrário do presente estudo. Com relação às perdas urinárias, observa-se que a PTNS produziu uma diminuição significativa no seu valor. Estes achados encontram apoio em trabalhos publicados que não realizaram suas pesquisas somente com bexiga hiperativa idiopática (AMARENCO et al., 2003; 80 DE GENNARO et al., 2004; GOVIER et al., 2001; HOEBEKE et al., 2002; VAN BALKEN et al., 2003; VAN BALKEN et al., 2006; VANDONINCK et al., 2003; VANDONINCK et al., 2004). Estes resultados também concordam com Van Der Pal et al. (2006), que realizaram a PTNS em 11 voluntários, destas seis mulheres, com bexiga hiperativa idiopática e refratária a medicamentos, como a amostra do presente estudo, com diminuição de 50% das perdas após o protocolo de PTNS. Mais especificamente, no estudo de Vandonick et al. (2003), um total de 24 pacientes (69%) tiveram uma redução nos episódios de perda de urina em mais de 50%, destes, 16 não relataram mais perdas de urina após a PTNS. A conclusão do trabalho de Van Balken et al. (2003) é a de que todos os 33 participantes do estudo com 12 sessões de PTNS, que apresentavam quadro de urgência e freqüência urinária, tiveram uma melhora significativa na diminuição da freqüência das perdas, tanto diurna quanto noturna. Os dados obtidos no presente trabalho estão, portanto, de acordo com os publicados internacionalmente, como de Van Balken et al. (2003) e Vandonick et al. (2003), citados acima. Qualitativamente, observou-se no presente estudo, na avaliação inicial pelo diário miccional, que seis voluntárias (54,4%) descreveram perda de urina. Após aplicação da PTNS, duas mulheres relataram não terem mais perdas de urina em nenhum momento do dia e mesmo não relatando mais perdas urinárias para uma delas, a presença das CNI ainda pode ser observada no exame de Urodinâmica. Entretanto, para esta voluntária, quando se observa o número médio de perdas urinárias pré e pós-tratamento, é possível perceber a aquisição de um melhor controle urinário, passando de uma média de 15,8 perdas em 24 h para 3,5 episódios no mesmo período. Nas três voluntárias do presente estudo que ainda relatavam perda de urina após a 12ª sessão de PTNS, estas perdas foram referidas em menor quantidade e menor freqüência durante o preenchimento do último diário miccional. Sendo que um delas apresentava 33 perdas urinárias no primeiro diário miccional e passou para 5 perdas (redução de 85%) e a outra passou de 17 para 2 episódios (redução de 88%) de perda urinária pós-PTNS. Com relação à urgência miccional, referida como um dos sintomas da BH no diário miccional, as pacientes deveriam relatar o quanto de urgência elas sentiam antes da necessidade premente de urinar. Esta urgência era quantificada por cruzes. No terceiro e último diário miccional preenchido pelas três pacientes que ainda apresentavam perda de urina, a quantidade de urina perdida referida por elas, era de apenas uma cruz (+) ou duas cruzes (++). Todas tiveram 81 diminuição da urgência, tanto da leve (+), como da moderada (++) quanto da severa (+++). A maior variação foi na urgência moderada, provavelmente por motivos relativos à composição amostra. No primeiro diário miccional, o caráter de urgência que mais foi referido foi de grau severo, ou seja, três cruzes. Na literatura pesquisada não se discute urgência e isto se deve, aos modelos de diário miccional utilizados, onde não consta o pedido de anotação do caráter da urgência miccional. Os melhores resultados para esse trabalho ocorreram no diário miccional. Pode-se supor que isto se deve, além dos efeitos da própria PTNS também ao fato que as voluntárias começaram a prestar atenção ao ritmo miccional, já que deveriam anotar o horário e o volume urinado por três dias a cada duas semanas. Vale lembrar que nenhuma das voluntárias deste estudo necessitava de auxílio de outras pessoas para o preenchimento dos diários miccionais, já que tinham compreensão para tal. 5.5 DOS RESULTADOS DAS URODINÂMICAS Ao contrário do que se esperava, das 11 participantes deste estudo, somente três delas tiveram as CNI abolidas pós-PTNS. Porém este resultado é semelhante ao obtido por Vandoninck; Van Balken; Finazzi Agro (2004) em que dos cinco voluntários com bexiga hiperativa idiopática, somente três apresentaram eliminação das CNI pós-PTNS. Vandonick et al. (2003) também relatam que as sessões com PTNS não eliminaram as CNI em todos os voluntários participantes, da mesma forma que no presente trabalho. A neuromodulação do reflexo miccional pela PTNS ainda é um assunto obscuro (AMARENCO et al., 2003 e KABAY; YUCEL; KABAY, 2008). Para estes mesmos autores, a PTNS atua despolarizando as fibras aferentes somáticas tanto sacrais quanto lombares e desta forma, proporcionando um aumento da capacidade vesical concomitante à inibição das contrações do detrusor. Dessa forma, pode-se supor que ação da PTNS baseia-se em mecanismos de plasticidade neuronal e que, portanto, um protocolo utilizando a PTNS com um maior número de sessões proporcionaria melhores resultados com relação as CNI. 82 Quanto aos parâmetros cistométricos, não se observou diferença entre capacidade cistométrica máxima (CCM) inicial e final. Porém, é importante ressaltar que a CCM não pôde ser investigada completamente em todas as voluntárias, pois três pacientes tiveram perdas urinárias durante o enchimento ou o esvaziamento vesical no exame de Urodinâmica, o que impossibilitou a quantificação em todos os exames. Isto dificulta a discussão quantitativa com a literatura. Em decorrência disto, estes dados serão discutidos individualmente possibilitando a comparação com a literatura. Das duas voluntárias em que foi possível comparar a CCM inicial com a final, obteve-se um incremento de 165%, portanto, um resultado muito próximo daquele encontrado por Amarenco et al. (2003) em a média da CCM inicial era de 221 ml e pós-PTNS passou para 277,4 ml, um incremento de 125%. No estudo de Vandoninck; Van Balken; Finazzi Agro (2004), os voluntários aumentaram a CCM a um ponto em foi possível experimentar a diminuição dos episódios de perda, diminuição da severidade das perdas e da polaciúria, resultados estes também observados no presente estudo, a partir dos diários miccionais. Com relação ao primeiro desejo miccional, esperava-se que houvesse um aumento no volume pós-PTNS, atingindo níveis próximos da normalidade, de 150 a 250 ml (BARACHO, 2002; D’ANCONA, 2001; THEOFRAUSTOUS e WIFT, 2006). Este fato não foi observado nesta pesquisa, já que a média do PD pré-PTNS foi de 60,10 ml e pós-PTNS foi de 50,71 ml, não havendo variação estatisticamente significativa entre estes dois valores. Possivelmente, isto se deu em decorrência do tempo médio da sintomatologia da BH de 7,7 anos, já que as voluntárias ficaram mais tempo expostas aos sintomas fisiológicos como polaciúria e urgência. Assim, numa situação anormal e estressante, como no exame da urodinâmica, as voluntárias podem ter sentido o primeiro desejo da mesma forma que antes da PTNS. Novamente, pode-se supor que, devido a este tempo de instalação dos sintomas, as voluntárias deste estudo necessitariam de mais sessões da PTNS para alteração observável deste parâmetro urodinâmico. Da mesma forma que o volume do primeiro desejo, o volume do forte desejo também não aumentou após o tratamento com a PTNS. Pré-PTNS este dado foi de 189,44 ml e pós-PTNS de 223,66 ml, quando o normal ocorre entre 300 e 500 ml (BARACHO, 2002; D’ANCONA, 2001; THEOFRAUSTOUS e WIFT, 2006). Acredita-se que as razões para este resultado negativo sejam as mesmas já expostas para o primeiro desejo no parágrafo anterior. 83 Novos estudos podem preconizar uma maior amostra, protocolos com mais sessões e que estas fossem realizadas mais vezes durante a semana, a fim de comparar os ganhos obtidos. 5.6 DOS QUESTIONÁRIOS DE QUALIDADE DE VIDA Nesta pesquisa, foi obtida uma diferença significativa na pontuação para o questionário “Internacional Consultation on Incontinence Questionnaire – Short Form” (ICIQ-SF), com valor de p=0,008. Este dado demonstra que as participantes do estudo realmente perceberam uma melhora na sua qualidade de vida tanto na freqüência urinária, quanto na gravidade deste problema como no impacto causado pelas perdas urinárias em sua vida cotidiana. Nos artigos pesquisados na literatura internacional (O’REILLY et al., 2004; VAN BALKEN et al., 2003; VAN DER PAL et al., 2006; VAN DER PAL et al., 2006), o questionário utilizado foi o SF-36 que avalia a qualidade de vida geral, não sendo específico para a Incontinência Urinária, não sendo possível uma comparação direta com os resultados deste trabalho. No outro questionário utilizado, o “King’s Health Questionnaire” (KHQ), somente um dos domínios, percepção geral da saúde, não apresentou variação, do ponto de vista estatístico. Os demais domínios do KHQ tiveram variação estatisticamente significativa. Van Balken et al. (2003), encontraram uma melhora na qualidade de vida com relação aos aspectos físicos e sociais em todos os pacientes com bexiga hiperativa em seu trabalho após a PTNS, entretanto estes autores utilizaram o SF-36, não permitindo uma correlação direta destes dados com este trabalho. Pacetta e Girão (2004) demonstraram que 19% das pacientes incontinentes se abstinham de alguma atividade social como visitar amigos, praticar esportes ou ir às compras e ao trabalho em decorrência das perdas urinárias. Na presente pesquisa, foi obtido um p=0,028 no domínio limitação social (LS), relatando uma melhora deste item. Quando questionadas sobre quais medidas elas utilizavam para suas perdas urinárias, no próprio KHQ, perguntava-se sobre a utilização de absorventes íntimos, sobre o cuidado com a ingestão de líquidos e a possibilidade de cheirar urina. Como já relatado anteriormente, somente duas delas relataram a necessidade do uso de absorventes pequenos após a PTNS e não relatavam mais temor em cheirar urina porque as perdas eram mínimas. 84 Pessoas com Bexiga Hiperativa desenvolvem vários mecanismos de modificações comportamentais para se adaptar à incontinência urinária e assim, reduzir o impacto dos sintomas na sua vida. Dentre estas modificações podem-se citar mecanismos que incluem aumentar a freqüência urinária e assim evitar perdas, descobrir a localização dos banheiros quando estão em locais públicos, a restrição na ingestão de líquidos, a limitação de suas atividades físicas e, nos casos mais graves, até a limitação de suas atividades sociais (PACETTA e GIRÃO, 2004). Juntase a isso o sentimento de vergonha e a gradativa piora da urgência miccional em razão da angustia que, freqüentemente causa importante incomodo psicológico e variado grau de isolamento social. Estes dados reforçam a necessidade de questionamentos sobre a qualidade de vida em pessoas com perdas de urina, dados estes presentes nesta pesquisa. Durante as sessões com a PTNS, as voluntárias relatavam as modificações miccionais que estavam ocorrendo, como a possibilidade de caminhar por até uma hora sem necessitar de pausas para urinar, a diminuição da utilização de absorventes íntimos diários, a percepção do seu ritmo miccional e da ingestão de líquidos, já que algumas delas diminuíam a quantidade de líquido para evitar perdas antes da aplicação da PTNS. Uma outra voluntária comentou que sempre que iria ao supermercado, a primeira ação dela era ir ao banheiro lá, antes de iniciar as compras, fato que ela não realizava mais após o tratamento com a PTNS. Pacetta e Girão (2004) evidenciam que as pessoas com IU formam um ciclo vicioso de ansiedade e sofrimento relacionado a uma possível perda de urina, associado ao sentimento de vergonha e a gradativa piora da urgência miccional em razão da angustia que, freqüentemente causa importante incomodo psicológico e variado grau de isolamento social, fato este relatado, na avaliação inicial, pelas voluntárias deste estudo e modificado após as sessões com a PTNS. A vida sexual também pode sofrer intercorrências devido a BH. Duas pacientes eram viúvas e não mantinham relações sexuais no momento da pesquisa, duas outras relataram que seus companheiros já estavam “acostumados” com a polaciúria delas e a quinta voluntária relatou que a freqüência urinária aumentada dela incomodava bastante seu parceiro quando foi realizada a avaliação inicial e este questionamento, quando refeito ainda tinha impacto no convívio dela e do seu marido. Nenhuma das pacientes relatou perda de urina durante as relações sexuais. Vandonick et al. (2003) chamaram de sucesso subjetivo quando os voluntários do estudo observaram suas melhoras, sem se importar com resultados objetivamente demonstráveis. No 85 estudo deles é possível afirmar que foi obtido 63% de sucesso subjetivo, já que as voluntárias relataram que a situação miccional deles melhorou consideravelmente. Um fator que pode ter contribuído para a não obtenção do sucesso objetivo foi o número reduzido de voluntárias para a pesquisa. Contudo, o sucesso subjetivo foi de mais de 90%, pois apenas uma voluntária relatou não estar plenamente satisfeita com a terapia proposta. Mesmo aquelas mulheres em que não foram inibidas as contrações involuntárias do detrusor, referiram aumento do volume urinado, diminuição da freqüência, da urgência urinária, do uso de protetores íntimos, além da melhora na pontuação dos questionários específicos para avaliar a qualidade de vida em pessoas incontinentes. De acordo com as pacientes tratadas neste estudo, obteve-se uma taxa de sucesso subjetivo de quase 100%, isto é, todas as participantes do estudo relataram que perceberam uma melhora em suas micções, demonstradas no diário miccional, mesmo naquelas em que não foi possível inibir as contrações involuntárias do detrusor. Algumas relataram que já não necessitavam ir tantas vezes ao banheiro e outras relataram que já conseguiam realizar suas caminhadas sem a necessidade da interrupção desta para urinar. 86 6 CONCLUSÕES Os parâmetros urodinâmicos avaliados não trouxeram resultados conclusivos. As variáveis cistométricas não demonstraram alterações, mas não se pode concluir sobre a eficácia do tratamento unicamente a partir delas, pois não foi possível medí-las para todas as voluntárias. Ao contrário dos parâmetros urodinâmicos, os diários miccionais trouxeram dados consistentes que demonstraram a influência da PTNS nos sintomas clínicos da BH: polaciúria, noctúria, urgência e urge-incontinência. A partir dos diários é possível concluir que o protocolo de estudo aqui aplicado (que inclui a PTNS) teve o efeito de normalizar o número de micções em 24 e de diminuir do número de episódios de perdas urinárias podendo até extingui-las completamente em alguns casos. Da mesma forma que o diário miccional, os resultados da aplicação dos questionários de qualidade de vida, demonstraram uma melhora significativa da mesma após a PTNS. Dessa forma, pode-se concluir que o protocolo de estudo aqui aplicado (que inclui a PTNS) apresentou um impacto positivo sobre a qualidade de vida das voluntárias. A partir da aderência das voluntárias ao estudo e do seu estado de saúde após a finalização do mesmo, pode-se concluir que a terapia com PTNS apresentou-se segura, de fácil realização, sem efeitos colaterais e de boa tolerância. Os resultados positivos obtidos a partir do diário miccional e dos questionários de qualidade de vida demonstram o potencial da PTNS para o tratamento da bexiga hiperativa idiopática. No entanto, a falta de coerência entre os resultados dos diários e aqueles obtidos através do exame de urodinâmica (que demonstrou a permanência das contrações não inibidas, por exemplo) não permite concluir sobre o efeito da PTNS sobre a eventual causa neurológica da BH. Neste sentido, novos estudos devem ser realizados tentando identificar os possíveis mecanismos de ação da PTNS com um número maior de voluntárias, e com um número maior de sessões a que cada voluntária fosse submetida. Poder-se-ia também ser comparar a evolução do quadro de bexiga hiperativa tratado com PTNS em homens e mulheres e também em grupos tratados com PTNS e outras formas de fisioterapia, como a cinesioterapia e diferentes formas de eletroestimulação. Uma outra opção de pesquisas futuras é a comparação do tratamento 87 comportamental com a PTNS, até para verificar se resultados os efeitos nos hábitos miccionais obtidos neste estudo não seriam decorrentes simplesmente do registro e da tomada de consciência dos mesmos. 88 REFERÊNCIAS AGOSTINHO, A. D.; AMARO, J. L.; TRINDADE, J. C. S. Epidemiologia da incontinência urinária feminina. In: AMARO, J. L. et al. Reabilitação do assoalho pélvico nas disfunções urinárias e anorretais. São Paulo: Segmentofarma, 2005. 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Foi informado detalhadamente sobre a pesquisa intitulada: “Eletroestimulação do nervo Tibial Posterior para o tratamento da Bexiga Hiperativa de origem não neurológica”. Você foi plenamente esclarecido(a) de que será submetida a uma avaliação, um tratamento fisioterapêutico e uma reavaliação, na área de ginecologia e obstetrícia na Clínica de Fisioterapia da UNIVALI ou no Instituto Catarinense de Urologia (INCAU), ambos na cidade de Itajaí-SC, ficando a seu critério a escolha do local; e que os resultados servirão de base para pesquisa de tratamento da bexiga hiperativa. Tanto a avaliação como o tratamento e a reavaliação serão realizados pela fisioterapeuta responsável pela pesquisa, Francine de Oliveira Fischer Sgrott. A senhora foi informada que a avaliação e a reavaliação serão compostas da Ficha de Avaliação (inicial e final), Teste de Força Muscular do Períneo (inicial e final), Diário Miccional de três dias consecutivos, repetidos a cada duas semanas de tratamento, e de dois questionários de Qualidade de Vida já validados para a língua portuguesa. 1- Ficha de Avaliação Inicial: você deverá responder a algumas perguntas sobre o que sente, quais são suas queixas, etc. Esses questionamentos serão feitos pela pesquisadora. 2 - Teste de Força Muscular do Períneo (músculos que sustentam os órgãos internos - bexiga, útero,...): para que este teste seja feito você terá que ficar seminu (a) (sem as roupas íntimas) em posição ginecológica (para as mulheres) e em decúbito lateral ou de lado (para os homens) e a pesquisadora introduzirá os dedos indicador e médio em sua vagina. Esclarecemos que este exame será realizado somente pela pesquisadora, em um ambiente totalmente preparado para tal exame. Não haverá a presença de nenhuma outra pessoa, e a você utilizará um avental, para que o seu corpo não fique exposto. A pesquisadora utilizará luvas descartáveis para evitar qualquer tipo de contaminação. Este teste é importante para a verificação da força da musculatura de seu períneo. 3- Diário Miccional: você receberá uma ficha (diário miccional) e um recipiente graduado (copinho com medidas). Nesta ficha deverão ser anotados: quantidades de líquido ingeridas e 100 urinadas (você deverá urinar no copinho com medidas e observar o valor alcançado), o horário das micções bem como as perdas urinárias. Este diário deverá ser preenchido por três dias consecutivos e repetidos a cada duas semanas de tratamento. 4- Questionário de Qualidade de Vida: serão realizadas perguntas sobre sua condição urinária após três e seis meses da alta da fisioterapia. Você foi informado (a) que, para esta reavaliação, serão utilizados os mesmos procedimentos acima descritos. Para a aplicação do protocolo de tratamento você deverá permanecer sentado(a) ou deitado(a) com as pernas abduzidas e os calcanhares juntos (posição de rã). Será então palpada a região do maléolo medial (perto do tornozelo) e medido três dedos para cima deste ponto, onde será então introduzida uma agulha de acupuntura. Esta agulha de aço terá a medida de 25x30 e será introduzida por um cilindro de plástico (mandril) aproximadamente 3 mm mais curto que a agulha. Uma vez a pele foi perfurada, o mandril será afastado, e a agulha permanece aproximadamente 3 a 4 cm posteriormente à tíbia (osso da perna). Serão inseridas agulhas em ambas as pernas, no mesmo ponto e com a mesma metodologia. Um outro eletrodo, desta vez auto-adesivo, será colocado abaixo do maléolo medial, próximo ao calcanhar. A correta colocação da agulha será confirmada pela flexão do hálux ou a flexão do segundo ou quinto dedos do pé ipsilateral (do mesmo lado) a agulha inserida e que será eletroestimulada. O eletroestimulador será então conectado á agulha e no adesivo fixado no arco do pé. A eletroestimulação será realizada por 30 minutos nos seguintes parâmetros: amplitude de 0 a 10 mA, com pulso fixo em 200 microsegundos e freqüência de 10 Hz e a intensidade da corrente será aumentada pela pesquisadora até que o voluntário(a) relate a sensibilidade perto do limiar de dor. O aparelho será alimentado por uma bateria de 9V para evitar interferência da rede elétrica no sinal aplicado ao paciente. Lembramos que este procedimento é indolor, isto é, não causa dor, conforme a literatura cita. A pesquisa foi aceita espontaneamente pelo(a) senhor(a), que, no entanto, poderá desistir a qualquer momento da mesma, inclusive sem nenhum motivo, bastando para isso informar, da maneira que achar mais conveniente, a sua desistência. Por ser voluntária e sem interesse financeiro, a senhora não terá direito a nenhuma remuneração. Os dados referentes ao (à) senhor(a) serão mantidos em sigilo, e a divulgação do resultado visará apenas mostrar os possíveis benefícios obtidos pela pesquisa em questão, sendo que a 101 senhora poderá solicitar informações durante todas as fases desta pesquisa, inclusive após a publicação da mesma. Itajaí,_____________ de ___________________________ de 2006. Assinatura (de acordo):_________________________________________________ ______________________________________ Francine de Oliveira Fischer Sgrott Fisioterapeuta – CREFITO 34843-F 102 APENDICE B - FICHA DE AVALIAÇÃO Data Avaliação: _____/_____/_____ Nome: ___________________________________________________________________ Endereço: _________________________________________________________________ Contato telefônico: _________________________________________________________ Data Nascimento: _____/_____/_____ Médico: ______________________________ MOTIVO DA CONSULTA ( ) Pós-parto ( ) IUE ( ) IV ( ) IUM Antecedentes Familiares Doenças pré-existentes Medicamentos Antecedentes Uro-gineco Antecedentes Ano-retais Antecedentes Cirúrgico Antecedentes Obstétricos Data de nascimento dos filhos Parto Normal Cesárea (progr/urg) Peridural Fórceps Episiotomia Rasgadura Expressão Abdominal Peso na Gravidez Peso do Bebê IU pré-parto IU pós-parto ( ) Prolapsos ( ) Pré-operatório ( ) Pós-operatório ( ) Gestante ( ) Prolapsos Peso: ________kg ( ) Diabetes ( ) Obesidade ( ) Hepatite ( ) AIDS ( ) diuréticos ( ) hormônios ( ) anticolinérgicos ( ) Infecção Urinária ( ) Menarca ( ) Menopausa Tratamento: ( ) Constipação ( ) Hemorróidas ( ) Incontinência a gazes Data _____/_____/_____ ( ) Histerectomia ( ) Outras, quais: ( ) Constipação ( ) Sexológico ( ) Incontinência Anal ( ) Polaciúria ( ) IU Altura: ________ cm ( ) Enurese ( ) Bronquite Crônica ( ) Ciatalgia ( ) IU ( ) tranqüilizantes ( ) corticoesteróides ( ) outros, quais: ( ) Freqüência Quando: ____________ Desde quando: _____________ ( ( ) Incontinência a fezes líquidas ) Incontinências a fezes sólidas ( ) Prolapsos 103 EXAME DA INCONTINÊNCIA Data que começou: _______________ Freqüência: _________________ Caráter ( ) jato ( ) gota a gota ( ) insensível ( ) retardatária Incontinência ( ) diurna ( ) noturna ( ) esforço ( ) contínua Proteção ( ) permanente ( ) ocasionalmente Tipo de proteção ( ) absorvente pequeno ( ) absorvente grande ( ) fralda ( ) outras, _________ Bebida Tipo: _____________ Quantidade: __________ Esforço ( )1 ( ) salto ( ) corrida ( ) ginástica ( ) dança ( )2 ( ) tosse ( ) espirro ( )3 ( ) andar ( ) troca de posição ( ) relação sexual Hiperatividade Stress ( ) vontade ( ) perda Frio ( ) vontade ( ) perda Barulho de torneira ( ) vontade ( ) perda Mãos na água ( ) vontade ( ) perda Mudança de temperatura ( ) vontade ( ) perda Ato de colocar a chave na fechadura ( ) vontade ( ) perda Sensação de resíduo após a micção ( ) vontade ( ) perda Desejo após a micção ( ) vontade ( ) perda Micções Freqüência dia: ________ noite: _________ ( ) disúria ( ) força abdominal ( ) atraso na micção ( ) dificuldade segurar a urina ( ) incontrolável ( ) urgência Generalidades Aleitamento ( ) Sim ( ) Não Tratamento anterior ( ) Médico e medicamentoso ( ) Cirúrgico ( ) Outros, _________________________ Reeducação Abdominal ( ) Sim ( ) Não Relação Sexual ( ) dispareunia ( ) anorgasmia ( ) perda de flatus ( ) vaginismo ( ) perda de urina ( ) perda de fezes ( ) desde quando: ___________________________ EXAME CLÍNICO Distância ano-vulvar (3): ________________ Sensibilidade ( ) S2 ( ) S3 ( ) S4 Motricidade ( ) S2 Reflexos ( ) anal ( ) clitóris-anal Núcleo Fibroso Central do Períneo ( ) atrofiado ( ) tônico Abertura Vulvar ( ) fechada ( ) aberta ( ) importante ( ) moderada Abertura Vaginal ( ) fechada ( ) aberta ( ) importante ( moderada Laceração do períneo ( ) ausente ( ) presente ( ) aderências ) 104 Prolapsos ( ) Cistocele ___________________ ( ) Uretrocele ___________________ ( ) Retocele ___________________ ( ) Eritrocele ___________________ ( ) Histerocele ___________________ Compreensão dos exercícios perineais ( ) ótima ( ) boa ( ) regular ( ) ruim Contração perineal associada à tosse ( ) sim ( ) não Tosse com perda de urina ( ) sim ( ) não Já fez/faz Fisioterapia para perda urinária ( ) sim, há quanto tempo? ________ ( AVALIAÇÃO FUNCIONAL DO ASSOALHO PÉLVICO (P.E.R.F.E.C.T.) P.E.R.F.E.C.T. Data Power (0-5) Endurance (resistência) em segundos Repetições (contrações mantidas) Fast (número contrações rápidas) Every Contractions Timed (progresso) Coordenação (relaxamento após as contrações) ANÁLISE DA FORÇA MUSCULAR CONFORME BIOFEEDBACK PERINA ® força (mmHg) data 1ª. tomada de força 2ª. tomada de força 3ª. tomada de força INVESTIGAÇÕES COMPLEMENTARES Exame citobacteriológico de urina: _______________________________ Urodinâmico:_________________________________________________ Outros: ) não 105 ANEXOS 106 ANEXO A - PARECER DO COMITÊ DE ÉTICA EM PESQUISA 107 108 ANEXO B - DIÁRIO MICCIONAL Nome: ____________________________________________ Data: ____ /_____ / ____ Responda: Freqüentemente tem desejo súbito e urgente para urinar? Sim Não Em algumas ocasiões não chega a tempo ao banheiro? Sim Não Freqüentemente urina > 8x ao dia? Sim Não Levanta > 2x à noite para urinar? Sim Não Há quanto tempo refere estes problemas? Horário Quantidade e tipo de líquido ingerido Volume urinado ml Necessidade urgente para urinar: + pequena ++ moderada +++ intensa Perda involuntária de urina. Quantidade + pequena (gotas) ++ moderada (colher) +++ intensa (copo) Atividade na ocasião (tosse, espirro, exercícios e outras) 109 ANEXO C - VERSÃO EM PORTUGUÊS DO “KING’S HEALTH QUESTIONNAIRE” Nome: ______________________________ idade: ____________ data: ___/___/___. ( 1. Como você descreveria sua saúde no momento? ) muito boa ( ) boa ( ) regular ( 2. Quanto você acha que o seu problema de bexiga afeta sua vida? ) nem um pouco ( ) um pouco ( ) moderadamente ( ) ruim ( ) muito ruim ( ) muito Gostaríamos de saber quais são sues problemas de bexiga e quanto eles afetam você. Da lista abaixo, escolha aqueles que você apresenta atualmente. Exclua os problemas que não se aplicam a você. Um pouco Moderadamente Muito Quanto que os seus problemas afetam você? a. FREQUENCIA (ir ao banheiro para urinar muitas vezes) ( ) ( ) ( ) b. NOCTÚRIA (levantar a noite para urinar) ( ) ( ) ( ) c. URGENCIA (forte desejo de urinar e difícil segurar) ( ) ( ) ( ) d. URGE-INCONTINÊNCIA (vontade muito forte de urinar, com ( ) ( ) ( ) perda de urina antes de chegar ao banheiro) e. INCONTINÊNCIA URINÁRIA AOS ESFORÇOS (perda de ( ) ( ) ( ) urina que ocorre durante a realização de esforços físicos como tossir, espirrar, correr, ...) f. ENURESE NOTURNA (urinar na cama à noite dormindo) ( ) ( ) ( ) g. INCONTINÊNCIA DURANTE A RELAÇÃO SEXUAL ( ) ( ) ( ) h. INFECÇÕES URINÁRIAS FREQUENTES ( ) ( ) ( ) i. DOR NA BEXIGA ( ) ( ) ( ) j. DIFICULDADE DE URINAR ( ) ( ) ( ) k. VOCÊ TEM ALGUMA OUTRA QUEIXA? ( ) ( ) ( ) QUAL?_______________________________________ A seguir, estão algumas das atividades diárias que podem ser afetadas por seu problema de bexiga. Quanto seu problema de bexiga afeta você? Nós gostaríamos que você respondesse cada questão, escolhendo a resposta que mais se aplica a você. Nem um pouco Um pouco Moderadamente Muito Limitações de atividades diárias 3a. Quanto o seu problema de bexiga afeta seus ( ) ( ) ( ) ( ) afazeres domésticos como limpar a casa, fazer compras ...? 3b. Quanto seu problema de bexiga afeta seu ( ) ( ) ( ) ( ) trabalho ou suas atividades diárias fora de casa? Nem um pouco Limitações físicas e sociais 4a. Seu problema de bexiga afeta suas ( ) atividades físicas como andar, correr, praticar esportes, fazer ginástica ...? 4b. Seu problema de bexiga afeta suas viagens? ( ) 4c. Seu problema de bexiga limita sua vida ( ) social? 4d. Seu problema de bexiga limita seu encontro ( ) ou visita a amigos? Um pouco Moderadamente Muito ( ) ( ) ( ) ( ( ) ) ( ( ) ) ( ( ) ) ( ) ( ) ( ) 110 Relações Pessoais 5a. Seu problema de bexiga afeta seu relacionamento com seu parceiro? 5b. Seu problema de bexiga afeta sua vida sexual? 5c. Seu problema de bexiga afeta sua vida familiar? Não aplicável Nem um pouco Um pouco Moderadamente Muito ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) Nem um pouco Emoções 6a. Seu problema de bexiga faz com que você ( ) se sinta deprimida? 6b. Seu problema de bexiga faz com que você ( ) se sinta ansiosa ou nervosa? 6c. Seu problema de bexiga faz você sentir-se ( ) mal consigo mesma? Sono e disposição 7a. Seu problema de bexiga afeta seu sono? 7b. Você se sente esgotada ou cansada? Nunca Medidas de gravidade Nunca ( ( ) ) Um pouco Às vezes ( ( ) ) Às vezes Moderadamente Muito ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) Freqüentemente ( ( ) ) Freqüentemente O tempo todo ( ( ) ) O tempo todo Você faz algumas das seguintes coisas? E se faz, quando? 8a. Você usa forros ou absorventes para se ( ) ( ) ( ) manter seca? 8b. Toma cuidado com a quantidade de líquido ( ) ( ) ( ) que bebe? 8c. Troca suas roupas íntimas quando elas estão ( ) ( ) ( ) molhadas? 8d. Preocupa-se com a possibilidade de cheirar ( ) ( ) ( ) urina? 8e. Fica envergonhada por causa do seu ( ) ( ) ( ) problema de bexiga? Muito obrigado. Agora veja se deixou de responder alguma questão. ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) 111 PONTUAÇÃO E CÁLCULO DO "KING’S HEALTH QUESTIONNAIRE" (0 - 100) PERCEPÇÃO GERAL DE SAÚDE Pontuação = ((Pontuação da Questão 1 - 1) / 4) x 100 1 – Muito boa 2 – Boa 3 – Regular 4 – Ruim 5 – Muito ruim IMPACTO DA INCONTINÊNCIA Pontuação = ((Pontuação da Questão 2 - 1) / 3) x 100 1 – Nem um pouco 2 – Um pouco 3 – Moderadamente 4 – Muito LIMITAÇÕES DE ATIVIDADES DIÁRIAS Pontuação = (((Pontuação das Questões 3a + 3b) - 2) / 6) x 100 1 – Nem um pouco 2 – Um pouco 3 – Moderadamente 4 – Muito LIMITAÇÕES FÍSICAS Pontuação = (((Pontuação das Questões 4a + 4b) - 2) / 6) x 100 1 – Nem um pouco 2 – Um pouco 3 – Moderadamente 4 – Muito LIMITAÇÕES SOCIAIS Pontuação = (((Pontuação das Questões 4c+ 4d + 5c) - 3) / 9) x 100** ** Se a pontuação da Questão 5c >= 1; se 0, então ..-2) / 6) x 100 1 – Nem um pouco 2 – Um pouco 3 – Moderadamente 4 – Muito RELAÇÕES PESSOAIS Pontuação = (((Pontuação das Questões 5a + 5b) - 2) / 6) x 100*** *** Se a pontuação das Questões 5a + 5b >= 2, Se (5a + 5b) = 1; ........-1) / 3) x 100 Se (5a + 5b) = 0; .........tratar como "missing value" (não aplicável) 0 – Não aplicável 1 – Nem um pouco 2 – Um pouco 112 3 – Moderadamente 4 – Muito EMOÇÕES Pontuação = (((Pontuação das Questões 6a + 6b + 6c) - 3) / 9) x 100 1 – Nem um pouco 2 – Um pouco 3 – Moderadamente 4 – Muito SONO E DISPOSIÇÃO Pontuação = (((Pontuação das Questões 7a + 7b) - 2) / 6) x 100 1 – Nunca 2 – Às vezes 3 – Freqüentemente 4 – O tempo todo MEDIDAS DE GRAVIDADE Pontuação = (((Pontuação das Questões 8a + 8b + 8c + 8d + 8e) - 5) / 15) x 100 1 – Nunca 2 – Às vezes 3 – Freqüentemente 4 – O tempo todo 113 ANEXO D - “INTERNACIONAL CONSULTATION ON INCONTINENCE QUESTIONNAIRE – SHORT FORM” Nome do paciente: ____________________________ Data de Hoje: ___/___/___ Muitas pessoas perdem urina alguma vez. Estamos tentando descobrir quantas pessoas perdem urina e o quanto isso as aborrece. Ficaríamos agradecidos se você pudesse nos responder às seguintes perguntas, pensando em como você tem passado, em média nas ÚLTIMAS QUATRO SEMANAS. 1. Data de Nascimento: ___/___/___ 2. Sexo: Feminino ( ) Masculino ( ) 3. Com que freqüência você perde urina? (assinale uma resposta) Nunca ( ) 0 Uma vez por semana ou menos ( ) 1 Duas ou três vezes na semana ( ) 2 Uma vez ao dia ( ) 3 Diversas vezes ao dia ( ) 4 O tempo todo ( ) 5 4. Gostaríamos de saber a quantidade de urina que você pensa que perde. (assinale uma resposta) Nenhuma ( ) 0 Uma pequena quantidade ( ) 2 Uma moderada quantidade ( ) 4 Uma grande quantidade ( ) 6 5. Em geral quanto que perder urina interfere em sua vida diária? Por favor, circule um número entre 0 (não interfere) e 10 (interfere muito). 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 ICIQ Escore: soma dos resultados 3+4+5 = _________ 6. Quando você perde urina? (Por favor, assinale todas as alternativas que se aplicam a você) Nunca Perco antes de chegar ao banheiro Perco quando tusso ou espirro Perco quando estou dormindo Perco quando estou fazendo minhas atividades físicas Perco quando terminei de urinar e estou me vestindo Perco sem razão óbvia Perco o tempo todo “Obrigado por você ter respondido às questões” ( ( ( ( ( ( ( ( ) ) ) ) ) ) ) ) 114 ANEXO E - ESCALA VISUAL DE DOR (EVA) Livros Grátis ( http://www.livrosgratis.com.br ) Milhares de Livros para Download: Baixar livros de Administração Baixar livros de Agronomia Baixar livros de Arquitetura Baixar livros de Artes Baixar livros de Astronomia Baixar livros de Biologia Geral Baixar livros de Ciência da Computação Baixar livros de Ciência da Informação Baixar livros de Ciência Política Baixar livros de Ciências da Saúde Baixar livros de Comunicação Baixar livros do Conselho Nacional de Educação - CNE Baixar livros de Defesa civil Baixar livros de Direito Baixar livros de Direitos humanos Baixar livros de Economia Baixar livros de Economia Doméstica Baixar livros de Educação Baixar livros de Educação - Trânsito Baixar livros de Educação Física Baixar livros de Engenharia Aeroespacial Baixar livros de Farmácia Baixar livros de Filosofia Baixar livros de Física Baixar livros de Geociências Baixar livros de Geografia Baixar livros de História Baixar livros de Línguas Baixar livros de Literatura Baixar livros de Literatura de Cordel Baixar livros de Literatura Infantil Baixar livros de Matemática Baixar livros de Medicina Baixar livros de Medicina Veterinária Baixar livros de Meio Ambiente Baixar livros de Meteorologia Baixar Monografias e TCC Baixar livros Multidisciplinar Baixar livros de Música Baixar livros de Psicologia Baixar livros de Química Baixar livros de Saúde Coletiva Baixar livros de Serviço Social Baixar livros de Sociologia Baixar livros de Teologia Baixar livros de Trabalho Baixar livros de Turismo