XX Congreso Latinoamericano y XVI Congreso Peruano de la Ciencia del Suelo “EDUCAR para PRESERVAR el suelo y conservar la vida en La Tierra” Cusco – Perú, del 9 al 15 de Noviembre del 2014 Centro de Convenciones de la Municipalidad del Cusco COMPARAÇÃO DE MÉTODOS DE DIGESTÂO DE ZINCO, FERRO E MANGANÊS EM ORGANOSSOLOS Lima,ESA1, 3*; Coutinho,IB1, 3; Pereira,MG2, 3; Amaral Sobrinho,NMB1, 3. 1. Laboratório de Química e Poluição do Solo; 2. Laboratório de Gênese e Classificação do Solo; 3. Departamento de Solos, Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro. *e-mail: [email protected] ; Departamento de Solos, Instituto de Agronomia, Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, 23890-000, Seropédica, RJ, Brasil; +55 21 997276136. RESUMO A diversidade de métodos de abertura de amostras de solo para análise de metais dificulta a comparação dos dados obtidos, visto que, resultam em diferentes capacidades de solubilizar a fração orgânica e mineral do solo. Diante disso, o presente trabalho tem como objetivo avaliar três métodos de digestão com relação à capacidade de extração dos elementos zinco, ferro e manganês presentes em horizontes orgânicos. Para tal, foram selecionadas 20 amostras de organossolos de várias regiões edafoclimáticas do Brasil. Foram avaliados três métodos de abertura: EPA 3051, EPA 3051A e Água Régia em sistema fechado. Para validação dos métodos, foram utilizadas amostras certificadas (NIST SRM 2709a e NIST 2782). A concentração dos elementos foi determinada por Espectrometria de Absorção Atômica com chama. Para comparar as metodologias estudadas foram aplicados o teste “t” de Student e a regressão linear. Os teores médios recuperados dos elementos nas amostras NIST SRM 2709a e SRM 2782, pelos diferentes métodos de abertura, foram satisfatórios quando comparados ao valor lixiviado NIST. Em relação às amostras dos horizontes orgánicos, para o elemento zinco, os métodos de digestão não podem ser considerados similares, sendo a água régia o método que obteve os teores mais elevados. O contrário foi evidenciado para ferro e manganês, onde foram encontradas similitudes estatísticas entre os três métodos. PALAVRAS CHAVE Metais Pesados; digestão; regressão linear. INTRODUÇÃO A importância e complexidade dos horizontes orgânicos fizeram com que inúmeros pesquisadores se interessassem pelo assunto a fim de entender melhor esta dinâmica. Os solos orgânicos apresentam atributos que os diferenciam fortemente dos solos ditos minerais, ou seja, de todas as demais classes de solos, desde a sua origem. A composição química destes solos é influenciada diretamente pelo estágio de desenvolvimento da porção mineral, pela natureza do material orgânico e pela composição química da água de formação, o que contribui para que ocorra uma ampla variação na composição mineral desses solos entre si e entre os horizontes de um mesmo solo (GALVÃO e VAHL, 1996). O conhecimento da concentração de base (background) é fundamental para o estabelecimento do valor máximo permitido de um determinado metal pesado para esse tipo de solo. Contudo, a obtenção de resultados confiáveis no laboratório inicia-se com a adequada “abertura” das amostras para as posteriores determinações analíticas. Tendo em vista a carência de metodologia de análises específicas para solos orgânicos, faz se necessário uma padronização do método de abertura. Atualmente, na literatura nacional e internacional, é possível identificar diversas formas de digestão ácida, com variabilidade entre soluções solubilizadoras, proporção de ácidos, tempo, temperatura e sistema de digestão (aberto ou fechado). Resultando, em diferentes capacidades de solubilizar a fração orgânica e mineral do solo e, por consequência, diferentes teores extraídos (PELOZATO et al., 2011). Diante do exposto, o objetivo do presente estudo foi avaliar três métodos de digestão com relação à capacidade de solubilização dos elementos zinco, ferro e manganês presentes em horizontes orgânicos. MATERIAL E MÉTODOS Foram selecionadas e separadas 20 amostras oriundas de horizontes orgânicos de diferentes regiões edafoclimáticas do Brasil. Essas amostras fazem parte de uma coleção de solos do Laboratório de Gênese e Classificação de Solos da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, onde se encontram devidamente classificadas e caracterizadas conforme EMBRAPA (1997) e o Sistema Brasileiro de Classificação de Solos – SiBCS (EMBRAPA, 2006). Para definir o método mais adequado de digestão para os horizontes orgânicos em estudo, foram avaliados três métodos de digestão: Água Régia (ISO 12914, 2012); USEPA 3051 (USEPA, 1994) e USEPA 3051A (USEPA, 2007), todos realizados em sistema fechado (Tabela ). Após a obtenção dos extratos foram determinadas às concentrações dos elementos por Espectrometria de Absorção Atômica utilizando-se um equipamento de marca Variam SpectrAA 55B. Tabela 1. Descrição dos métodos de digestão que foram analisados. Digestão Pseudo - Total Método Proporções (v/v) Água Régia HNO3 : 3 HCl EPA 3051 HNO3 EPA 3051A 3 HNO3 : HCl Sistema Fechado (Micro-ondas) Para validação dos métodos, foram utilizados materiais certificados de referência (NIST SRM 2709a, San Joaquin Soil e SRM 2782, Industrial Sludge). Os teores obtidos foram comparados aos valores lixiviados (leachable concentrations), assim como, recomendado pelo NIST. Visto que, as amostras do NIST têm seus teores certificados determinados com base em métodos de determinação total, ou seja, através de métodos que utilizam ácido fluorídrico (HF) para dissolução dos silicatos do solo ou mediante utilização de fluorescência de raios-X (NIST, 2002). Nos resultados obtidos nos horizontes orgânicos, foram empregados dois métodos estatísticos, para comparar as metodologias estudadas: o teste de comparação de médias “t” de Student (p < 0,01) e a regressão linear. Para a regressão linear, a hipótese nula buscada, para que dois métodos sejam considerados similares, é que o coeficiente angular não difere de 1 e que o linear não difere de zero. Para tal, foram calculados intervalos de confiança para os respectivos coeficientes. Os procedimentos estatísticos foram realizados utilizando o programa estatístico SISVAR versão 5.3 (FERREIRA, 2007) e o programa Excel® do pacote Office® da Microsoft. RESULTADOS E DISCUSSÃO Os teores recuperados de zinco, ferro e manganês para as amostras certificadas NIST SRM 2709a e SRM 2782 pelos diferentes métodos de abertura são apresentados na Tabela 2. Em geral, quando comparados com os valores lixiviados às taxas de recuperação das amostras certificadas foram satisfatórias, acima de 75%, para todos os métodos de digestão. Em alguns casos, pode-se observar que as taxas de recuperação ultrapassaram 100%, indicando que os teores obtidos se aproximaram mais do valor certificado, obtido pelo método de digestão total EPA 3052. Tabela 2. Taxas de recuperação dos teores de zinco, ferro e manganês obtidos por três métodos de digestão em amostras certificadas (NIST SRM 2709a e 2782). Metais Zn Fe Mn (1) NIST Valor Certificado (mg kg-1) 2709a 106 ± 3 EPA 3051 Recup. T.R(1) por Valor do. Lixiviado Determ. Lixiv. (NIST) (mg kg-1) (%) EPA 3051A Água Régia Valor Determ. (mg kg-1) T.R(1) do. Lixiv. (%) Valor Determ. (mg kg-1) T.R(1) do. Lixiv. (%) 94% 91.6 86 % 98.5 99 % 104.4 105 % 1254 ± 196 35000 ± 2709a 1100 269000 ± 2782 7000 2709a 538 ± 17 93% 1183 101 % 1290 111 % 1125 96 % 86% 28270 94 % 33157 111% 40205 134% 94% 320939 126 % 304219 120% 278927 110% 87% 417.1 89 % 468.9 100 % 467.1 100 % 2782 86% 197.1 76 % 245.0 95 % 246.1 96% 2782 300 T.R – taxa de recuperação com base no valor lixiviado Os teores de zinco, ferro e manganês dos horizontes orgânicos, apresentaram grande variação entre os métodos. Onde, os intervalos foram, respectivamente, de 10,2 - 118,0 mg kg-1, 1298 – 20179 mg kg-1 e 5,8 – 249,0 mg kg-1 para o método EPA 3051, que utiliza apenas ácido nítrico; de 10,8 – 113,3 mg kg-1, 1280 – 26034mg kg-1 e 7,3 – 244,1 mg kg-1 para o método EPA 3051A ; e de 9,5 – 136,1 mg kg-1, 1402 – 25254 mg kg-1 e 6,6 – 279,7 mg kg-1 para o método da Água Régia. Contrariando assim, a hipótese que os três métodos apresentam teores semelhantes, por serem aberturas parciais (pseudototais) de metais. De acordo com os resultados obtidos pelo teste “t” de Student, verifica-se que para todos os elementos em estudo, o método da Água Régia foi o que apresentou os teores mais elevados, diferindo estatisticamente dos demais métodos (Figura1). Entretanto, a tomada de decisão somente a partir da utilização do teste “t”, apesar de muito utilizado em comparações de metodologias, pode ser inapropriado, visto que, a faixa de variação das concentrações dos elementos analisados é grande. Segundo CASTILHO (2006), o teste “t” não permite testar a existência de erros sistemáticos proporcionais, além de não tratar adequadamente a heteroscedasticidade presente em resultados de análise química. Nesse caso, a utilização da regressão linear é pertinente, conforme sugerem MILLER & MILLER (2005). 20000 16000 12000 A EPA 3051 EPA 3051A Água Régia B B mg kg-1 8000 4000 180 150 120 90 60 30 0 B B A B C Zn A Fe Mn Metais Figura 1. Concentrações (média ± desvio padrão) de zinco, ferro e manganês extraídos pelo método EPA 3051, EPA 3051A e Água Régia das amostras dos horizontes orgânicos. Na Figura 2 são apresentados os gráficos de regressão entre os elementos Zn, Fe e Mn extraídos com HNO3 e os teores extraídos com água régia e água régia invertida (EPA 3051A). Quanto ao elemento Zinco, observa-se que o método da água régia apresentou melhor desempenho do que a digestão nítrica e, consequentemente, que o método da EPA 3051A, que pode ser considerado similar estatisticamente ao método EPA3051, pois apresentou o coeficiente angular próximo a 1 e linear próximo a zero. Este resultado corrobora com os obtidos pelo teste “t” de Student. PÉREZ et al. (2013), também observaram maiores valores nos teores de metais extraídos pelo método da água régia ao estudar os solos do Mato Grosso do Sul. Porém, os elementos Fe e Mn, tomando-se como base a regressão linea, apresentaram certa similaridade estatística entre os métodos, diferindo do encontrado no teste “t”, que demonstrava superioridade do método da água régia. Vale ressaltar, que para todos os elementos estudados os métodos apresentaram eficiência, onde os respectivos coeficientes ficaram dentro do intervalo de confiança obtido (Tabela 3). 160 y = 1.1995x - 4.4905 R² = 0.946** 140 Zn (mg kg-1) 120 100 y = 0.9421x + 0.2193 R² = 0.985** 80 60 40 Zn - EPA 3051A 20 Zn - Água Régia 0 0 20 40 60 80 100 120 140 Zn- HNO3 (mg kg-1) 30000 y = 1.0233x + 2183.8 R² = 0.602** Fe (mg kg-1) 25000 20000 y = 1.0771x - 152.71 R² = 0.942** 15000 10000 Fe - EPA 3051A 5000 Fe - Água Régia 0 0 5000 10000 15000 20000 25000 Fe - HNO3 (mg kg-1) 300 y = 1.0524x - 0.8909 R² = 0.9453** Mn (mg kg-1) 250 200 y = 0.9613x + 3.5278 R² = 0.989** 150 100 Mn-EPA 3051A 50 Mn-Água Régia 0 0 50 100 150 200 250 300 Mn - HNO3 (mg kg-1) Figura 2. Gráfico de regressão entre os teores dos metais extraídos por HNO3 e o extraído por Água Régia e pelo método EPA 3051A para Organossolos. ** significativo a 1% de probabilidade Tabela 3. Parâmetros associados à regressão linear (Y=aX+b) dos 3 métodos de digestão estudados para os elementos Zn, Fe e Mn. Intervalo de Confiança (1%) Metais Y X a b a b Inferior Superior Inferior Superior ARI HNO3 0,94 0,22 0,86 1,02 -3,12 3,56 Zn AR HNO3 1,20 -4,50 1,00 1,39 -12,89 3,91 ARI HNO3 1,08 -152,71 0,89 1,26 -1835 1530 Fe AR HNO3 1,02 2183 0,46 1,59 -3040 7407 ARI HNO3 0,96 3,53 0,89 1,02 -3,74 10,80 Mn AR HNO3 1,05 -0,89 0,88 1,22 -19,07 17,29 ARI- Água Régia Invertida (EPA 3051A); AR – Água Régia; HNO3 – EPA 3051. CONCLUSÃO Em relação ao elemento zinco, os métodos de digestão não podem ser considerados similares, sendo a água régia o método que obteve os teores mais elevados. O contrário foi evidenciado para os elementos ferro e manganês, onde a hipótese nula foi aplicada, encontrando-se similitudes estatísticas entre os três métodos. Para todos os elementos estudados os métodos apresentaram eficiência, onde os respectivos coeficientes ficaram dentro do intervalo de confiança. AGRADECIMENTOS À Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (FAPERJ), ao Programa de Pós-Graduação em Ciência, Tecnologia e Inovação em Agropecuária (PPGCTIA), à Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) e ao Laboratório de Química e Poluição do Solo/UFRRJ. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CASTILHO, M.V. Comparação de dois métodos de análise química considerando a modelagem matemática da precisão. 136 f. Dissertação (Mestrado em Estatística). Universidade Federal de Minas Gerais, 2006. EMBRAPA - Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária. Sistema Brasileiro de Classificação de Solos. EMBRAPA/CNPS. Rio de Janeiro, 2006. 305p. EMBRAPA. Manual de métodos de análise de solo. 2ed. Rio de Janeiro: Embrapa, 1997. 212p. GALVÃO, F. de A. D.; VAHL, L. C. Propriedades químicas de solos orgânicos do litoral do Rio Grande do Sul e Santa Catarina. Revista Brasileira de Agrociência, v.2, nº 2, p. 131-135, 1996. ISO 12914 International Standard. Soil quality - Microwave-assisted extraction of the aqua regia soluble fraction for the determination of elements, 2012, 7p. MILLER, J.N.; MILLER, J.C. Statistics and Chemometrics for Analytical Chemistry. 5th ed. Pearson Education Limited, Harlow, UK, 2005, 267p. NIST-National Institute of Standards and Technology. Standard Reference Materials SRM 2709, 2710 and 2711Addendum Issue Date: 18 January 2002. PELOZATO, M.; HUGEN, C.; CAMPOS, M.L.; ALMEIDA, J.A.; SILVEIRA, C.B.; MIQUELLUTI, D.J.; SOUZA, M.C. Comparação entre métodos de extração de cádmio, cobre e zinco de solos catarinenses derivados de basalto e granitomigmatito. Revista de Ciências Agroveterinárias. 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