universidade federal da paraíba centro de ciências da

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UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA
CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE
DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS FARMACÊUTICAS
THIAGO FERREIRA SARMENTO
IMPORTÂNCIA DA IDENTIFICAÇÃO DE BACTÉRIAS
MULTIRRESISTNETES PELAS CULTURAS DE VIGILÂNCIA NO
CONTROLE DAS INFECÇÕES HOSPITALARES
JOÃO PESSOA
2015
THIAGO FERREIRA SARMENTO
IMPORTÂNCIA DA IDENTIFICAÇÃO DE BACTÉRIAS
MULTIRRESISTENTES PELAS CULTURAS DE VIGILÂNCIA NO
CONTROLE DAS INFECÇÕES HOSPITALARES
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à
Coordenação
do
Curso
de
Ciências
Farmacêuticas, do Centro de Ciências da Saúde,
da Universidade Federal da Paraíba, como parte
dos requisitos para obtenção do título de
Bacharel em Farmácia.
Orientador: Prof. Dr. Adalberto Coelho da Costa
JOÃO PESSOA
2015
S246a
Sarmento, Thiago Ferreira.
Importância da identificação de bactérias multirresistentes pelas
culturas de vigilância no controle das infecções hospitalares / Thiago
Ferreira Sarmento. - - João Pessoa: [s.n.], 2015.
34f. : il.
Orientador: Adalberto Coelho da Costa.
Monografia (Graduação) – UFPB/CCS.
1. Cultura de vigilância. 2. Bactérias multirresistentes. 3. Barreiras
de contato.
BS/CCS/UFPB
CDU: 561.23(043.2)
IMPORTÂNCIA DA IDENTIFICAÇÃO DE BACTÉRIAS
MULTIRRESISTENTES PELAS CULTURAS DE VIGILÂNCIA NO
CONTROLE DAS INFECÇÕES HOSPITALARES
THIAGO FERREIRA SARMENTO
Aprovado em ____ / ____ / ____
COMISSÃO EXAMINADORA
_________________________________________________________
Prof. Dr. Adalberto Coelho da Costa
Orientador – UFPB
__________________________________________________________
AGRADECIMENTOS
A Deus, que nunca me abandonou e me deu forças para, apesar dos obstáculos,
concluir este trabalho;
Aos meus pais José Ferreira Filho e Tereza Antônia Sarmento Ferreira, que me
apoiam, me amam e têm orgulho de mim, são meu sopro de vida para vencer os
desafios;
A toda a minha família, que me motiva, ampara e proporciona sempre um ambiente
feliz e agradável;
À minha namorada Kamila Katrine, por compreender os momentos de ausência, por
me estimular e ser meu porto seguro;
À Raphael de Andrade Pessoa, irmão que fiz durante a minha graduação, amigo que
guardarei para minha vida inteira;
Aos meus amigos, colegas de curso e do PET-Farmácia, sempre presentes,
tornando as atribulações do dia-a-dia mais leves e engraçadas;
Ao meu orientador, o Professor Doutor Adalberto Coelho da Costa, pela paciência e
orientação. Agradeço a este também, pela sua amizade, por todas as boas
conversas e pela enorme transmissão de experiência;
As minhas examinadoras, a Professora Mestre Alba Fracinete Caiaffo Costa e a
Professora Doutora Edeltrudes de Oliveira Lima, pela disponibilidade em fazer parte
da minha banca examinadora;
A Professora Doutora Leônia Maria Batista, que foi minha tutora no Programa de
Educação Tutorial (PET-Farmácia), agradeço por seus valiosos ensinamentos que
contribuíram para minha formação acadêmica e cidadã;
A querida Ivoneide Alves Souto Guedes, secretária do PET-Farmácia, pelo auxílio
prestado e por sempre me tratar com o carinho de um filho;
Ao colega de curso Leonardo Saldanha de Sá pela amizade e ajuda na obtenção
dos dados desse trabalho.
À todos que fazem parte do Laboratório de Microbiologia Clínica, em especial à
Farmacêutica Bioquímica MSc. Bernadete Helena Cavalcanti dos Santos, pela ajuda
e o apoio na realização desse trabalho;
Ao PET-Farmácia por todo suporte técnico;
À Universidade Federal da Paraíba;
À todos que participaram direta ou indiretamente da realização deste trabalho e
colaboraram para finalizar esta etapa da minha vida.
RESUMO
SARMENTO, T.F. Importância da identificação bacteriana pelas culturas de
vigilância no controle das infecções hospitalares . 2015. 34 fls. Monografia
(Graduação). Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa, 2015.
A rotina de coleta de swabs de vigilância é recomendada em ambientes críticos
como unidades de terapia intensiva (UTI) e especialmente em situações de surto. A
análise dos resultados da cultura de vigilância pode guiar as medidas preventivas e
assim auxiliar na contenção da disseminação cruzada de bactérias multirresistentes.
Este estudo teve como objetivo representar a resistência de bactérias isoladas em
culturas de vigilância obtidas de usuários internos, as quais foram examinadas por
um laboratório privado do município de João Pessoa. O trabalho constitui-se em
estudo do tipo transversal, retrospectivo, descritivo exploratório de abordagem
quantitativa. O trabalho foi realizado no Setor de Bacteriologia de um Laboratório
Privado de Análises Clínicas localizado na cidade de João Pessoa, Estado da
Paraíba, durante o período de outubro de 2013 a dezembro de 2014. Os dados
foram obtidos após a análise das fichas de registros laboratoriais de usuários
internados em diferentes unidades de saúde do município de João Pessoa. A
investigação levou em conta a prevalência de cepas bacterianas colonizantes em
geral, bactérias multirresistentes e suas incidências. Dentre as fichas analisadas,
62% pertenciam a indivíduos do gênero feminino, que em sua maior parte (44%)
pertenciam a faixa etária com idade maior igual a sessenta anos. As culturas de
vigilância apresentaram o percentual de positividade de 37,72% destacaram-se as
culturas de swab retal como as com o maior número de espécies bacterianas
isoladas (57,69%). Analisado as culturas de swab nasal e retal observou-se que
aproximadamente 83% destas apresentaram colonização por apenas uma bactéria.
A bactéria mais incidente foi Klebsiella pneumoniae, seguido por Escherichia coli,
destacando a presença de cepas multirresistentes para ambas as espécies
bacterianas. Este tipo de vigilância faz-se necessário para guiar medidas de
precaução de contato adicionais, na rotina de trabalho em áreas de risco
hospitalares a fim de reduzir transmissão cruzada de patógenos multirresistentes.
Palavras-chave: Cultura de vigilância, bactérias multirresistentes, barreiras de
contato
ABSTRACT
SARMENTO, T.F. Importance of bacterial identification through surveillance
cultures in the control of hospital infections.. 2015. 34 fls. Monograph
(Undergraduate). Federal University of Paraíba, João Pessoa, 2015.
Routine surveillance swabs collection is recommended in critical environments such
as intensive care units (ICU) and especially in outbreak situations. Analysis of
surveillance culture results can guide preventive measures and thus assist in
containing the cross spread of multiresistant bacteria. This study aimed to represent
the resistance of bacteria isolated from surveillance cultures obtained from internal
users, which were examined by a private laboratory in the city of João Pessoa. The
work constitutes a cross-sectional study, retrospective, descriptive exploratory
quantitative approach. The study was conducted in Bacteriology Private Sector of
Clinical Laboratory Analysis in the city of João Pessoa, Paraíba State, during the
period October 2013 to December 2014. Data were obtained after analyzing the
records of laboratory records of users admitted to different health units in the city of
João Pessoa. The research took into account the prevalence of colonizing bacterial
strains generally multiresistant bacteria and its implications. Among the records
analyzed, 62% were from female subjects, which for the most part (44%) belonged to
the age group with the highest age to sixty years. Surveillance cultures showed a
37.72% positivity percentage stood out the rectal swab cultures as with higher
number of bacterial species isolated (57.69%). Analyzed cultures nasal and rectal
swabs was observed that approximately 83% of these had only colonization by
bacteria. The most frequent bacteria were Klebsiella pneumoniae, followed by
Escherichia coli, highlighting the presence of multidrug-resistant strains for both
bacterial species. This type of surveillance is necessary to guide additional contact
precautions, in the work routine in hospital risk areas in order to reduce crosstransmission of multi-resistant pathogens.
Key-words: Surveillance culture, multiresistant bacteria, Contact barriers
LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 1
Gênero dos pacientes analisados entre outubro de 2013 a
dezembro de 2014 ........................................................................... 24
Gráfico 2
Faixa etária dos pacientes analisados entre outubro de 2013 a
dezembro de 2014 ........................................................................... 25
Gráfico 3
Distribuição de culturas de vigilância por sítio solicitado
........................................................................................................... 25
Gráfico 4
Porcentagem de positividade das culturas de vigilância por sítio
solicitado .......................................................................................... 26
Gráfico 5
Porcentagem de microbiota mista e microbiota única nas culturas
positivas de swabs nasal e retal ....................................................... 28
Gráfico 6
Distribuição das bactérias nas culturas positivas em swabs nasal e
retal ................................................................................................... 28
LISTA DE TABELAS
Tabela 1
Distribuição
das
bactérias
isoladas
em
swab
nasal
.............................................................................................................. 27
Tabela 2
Distribuição
das
bactérias
isoladas
em
swab
retal
.............................................................................................................. 27
Tabela 3
Frequência de bactérias multirresistentes isoladas em culturas de
vigilância positivas entre outubro de 2013 a dezembro de
2014..................................................................................................... 29
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 11
2 OBJETIVOS ......................................................................................................... 13
2.1 GERAL ........................................................................................................... 13
2.2 ESPECÍFICOS ............................................................................................... 13
3 REFERENCIAL TEÓRICO ................................................................................... 14
3.1 CULTURA DE VIGILÂNCIA ........................................................................... 14
3.2 BACTÉRIAS MULTIRRESISTENTES ............................................................ 16
3.2.1 Staphylococcus aureus resistente à meticilina ................................. 17
3.2.2 Staphylococcus coagulase negativa .................................................. 18
3.2.3 Enterococcus spp ................................................................................ 18
3.2.4 Escherichia coli .................................................................................... 18
3.2.5 Klebsiella pneumoniae ......................................................................... 19
3.2.6 Enterobacter spp .................................................................................. 19
3.2.7 Bacilos Gram-negativos não fermentadores ...................................... 20
3.3 RESISTÊNCIA A ANTIMICROBIANOS ......................................................... 20
4 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS ............................................................ 22
4.1 CARACTERIZAÇÃO DA PESQUISA ............................................................. 22
4.2 LOCAL DE ESTUDO ...................................................................................... 22
4.3 POPULAÇÃO DA AMOSTRA ........................................................................ 22
4.4 PROCEDIMENTO DE COLETA E ANÁLISE DE DADOS ............................. 23
4.5 POSICIONAMENTO ÉTICO .......................................................................... 23
5 RESULTADOS E DISCUSSÕES ......................................................................... 24
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................. 31
REFERÊNCIAS ........................................................................................................ 32
11
1 INTRODUÇÃO
Segundo o Ministério da Saúde do Brasil, infecção hospitalar (IH) é aquela
adquirida após a admissão do paciente e que se manifesta durante a internação, ou
após a alta, quando se relacionar com a internação ou procedimentos hospitalares.
O diagnóstico de IH é realizado quando na mesma topografia em que foi
diagnosticada infecção comunitária, for isolado um germe diferente, seguido do
agravamento das condições clínicas do paciente; ou se desconhecer o período de
incubação do micro-organismo, não houver evidência clínica e/ou dado laboratorial
de infecção no momento da internação e se manifestar a partir de 72h após a
admissão; associadas a procedimentos diagnósticos e/ou terapêuticos, realizados
72h antes da internação (BRASIL, 1998).
O risco de IH está diretamente relacionado à gravidade da doença, as
condições nutricionais dos pacientes, a natureza dos procedimentos diagnósticos ou
terapêuticos, ao tempo de internação, dentre outros aspectos. Dessa forma, um
número elevado de casos de IH tem relação direta com o aumento de morbidade e
mortalidade, maiores custos relacionados à internação e crescimento de organismos
multirresistentes (PADRÃO et al., 2010).
Fatores como superlotação da unidade, déficit de pessoal, sobrecarga de
trabalho, número inadequado de pias - ou instalação em local muito distante contribuem para diminuição da higienização das mãos. Além disso, capacitação
insuficiente de pessoal e recursos limitados de equipamentos e materiais,
isoladamente e, mais ainda, o conjunto de fatores aqui descritos, colaboram para o
aumento do risco de transmissão de infecções cruzadas (DAL-BÓ; SILVA; SAKAE,
2012).
Estima-se que cerca de um terço das infecções hospitalares poderia ser
prevenida, se os hospitais contassem com programas eficientes de controle de
infecção. Apesar dos programas de vigilância epidemiológica e das medidas
preventivas
para
controle
das
infecções
hospitalares,
o
risco
para
seu
desenvolvimento permanece inaceitavelmente alto (DAL-BÓ; SILVA; SAKAE, 2012).
12
A saúde sofreu grandes avanços tecnológicos, porém, procedimentos
diagnósticos e terapêuticos que tem o intuito de prolongar a vida, podem aumentar
os riscos de complicações clínicas, dentre os quais, o da IH vem se destacando ao
longo dos anos por conta da relevante causa de mortalidade e morbidade (GEDRIM,
2013).
Mundialmente existem cada vez mais bactérias resistentes e há cada vez um
número maior de estirpes resistentes a múltiplas drogas (particularmente em meio
hospitalar), aumentando a morbilidade, os custos inerentes às prestações dos
cuidados de saúde, bem como as taxas de mortalidade por infecções. Nos Estados
Unidos, o Center for Disease Control (CDC) estimou que anualmente cerca de 2
milhões de indivíduos adquirem uma infecção enquanto internados, resultando daí
90.000 mortes (DIAS; MONTEIRO, 2010).
Atualmente, algumas classes de micro-organismos representam extrema
preocupação para a saúde publica. Dentre os que mais provocam mortes no mundo
estão o Staphylococcus aureus meticilina-resistente (MRSA), Staphylococcus aureus
vancomicina-resistente
(VRSA),
Escherichia
coli,
Klebsiella
pneumoniae
e
Pseudomonas aeruginosa, que são bactérias resistentes a múltiplas drogas. Os
processos infecciosos causados por estas classes de micro-organismos geralmente
estão associados com alta letalidade e altos custos de tratamento (ROCHA et al.,
2011).
Um mecanismo de resistência emergente é a produção por alguns microorganismos Gram-negativos, principalmente da família Enterobacteriaceae, da
enzima Klebsiella pneumoniae carbapenemase (KPC), a qual confere resistência
aos antimicrobianos carbapenêmicos, além de inativar penicilinas, cefalosporinas e
β-lactâmicos (DIENSTMANN et al., 2010).
A execução desse trabalho justifica-se pela importância em ressaltar a
necessidade de uma padronização nas medidas de contato em áreas hospitalares
de risco, assim como, no uso racional da terapia antimicrobiana.
13
2 OBJETIVOS
2.1 GERAL
Determinar a importância da identificação de bactérias multirresistentes pelas
culturas de vigilância no controle das infecções hospitalares
2.2 ESPECÍFICOS
Identificar as espécies bacterianas isoladas de culturas de vigilância;
Definir
o
perfil
das
bactérias
isoladas
quanto
à
susceptibilidade
antimicrobiana;
Mapear a prevalência de bactérias isoladas de acordo com o sítio da coleta;
Avaliar
o
percentual
de
positividade
das
culturas
para
bactérias
multirresistentes;
Listar as bactérias multirresistentes identificadas nos swabs nasal e retal e
analisar suas incidências;
Caracterizar a microbiota bacteriana responsável pela colonização.
14
3 REFERENCIAL TEÓRICO
3.1 CULTURA DE VIGILÂNCIA
Para o controle de micro-organismos resistentes as técnicas de vigilância se
configuram como um importante componente, possibilitam a detecção de patógenos
emergentes, a monitoração das tendências epidemiológicas e o cálculo da eficácia
das intervenções. As estratégias variam desde a vigilância de resultados obtidos por
meio de cultura clínica (atendimento de rotina) até a realização de culturas de
vigilância ativa, para detectar a colonização assintomática (BEATRIZ, 2013).
A cultura de vigilância tem importância na investigação epidemiológica em
unidades críticas dentro de cada instituição na busca de pacientes colonizados por
bactériass multirresistentes instituindo precocemente a precaução de contanto
prevenindo a disseminação dos mesmos. Tais culturas são ferramentas necessárias
para a identificação e condução dos casos, tanto no que diz respeito ao tratamento
quanto a medidas de bloqueio. As culturas de vigilância delimitam às precauçõespadrão para profissionais de saúde, visitantes e acompanhantes (CORTEZ et al.,
2012; SCHMITT et al., 2012; ANTUNES et al., 2012).
O uso de culturas de vigilância ativa (Active Surveillance Cultures – ASC)
representa uma triagem dos pacientes no momento da internação hospitalar.
Numerosos estudos têm demonstrado que a aplicação de ASC e das medidas de
isolamento tornou possível reduzir significativamente a colonização e a infecção,
embora tenha havido relatos de um aumento gradual da prevalência de S. aureus
resistentes à meticilina (Methicillin – Resistant Staphylococcus aureus – MRSA) nos
hospitais que não instituem um programa de vigilância ativa (ALVAREZ; LABARCA;
SALLES, 2010).
Alguns estudos recomendam a realização de culturas de vigilância em todos
os pacientes admitidos no hospital, independente da avaliação dos critérios de risco.
Porém, o tempo gasto para a execução dos testes microbiológicos e o alto custo do
procedimento têm dificultado a implementação dessa rotina na maioria dos hospitais,
sendo a utilização dos critérios clínicos opção promissora e de menor custo, quando
comparada à cultura de vigilância (CATANEO et al., 2011).
15
Há consenso de que sejam realizadas culturas ativas em pacientes
transferidos de outro hospital, pacientes que estão relacionados pela proximidade de
um paciente índice, se existir evidência de transmissão de bactéria multirresistente
dentro de uma unidade ou se padrões de resistência ameaçam a capacidade de
tratamento de infecção. O Controle de Infecção deve selecionar essa população
considerando a epidemiologia local, bem como os principais fatores de risco
(internação em Unidade de Terapia Intensiva
(UTI), uso prolongado de
antimicrobianos, uso de dispositivos invasivos) para microrganismos Gram-positivos
e Gram-negativos multirresistentes (BEATRIZ, 2013).
Alvarez; Labarca; Salles (2010) traçam algumas recomendações para a
implantação de ASC para os pacientes:
 É necessário um grupo multidisciplinar de profissionais para desenvolver
um programa de vigilância ativa: pessoal para coleta adequada das
culturas, laboratório de microbiologia para processar as culturas,
mecanismo para comunicação de resultados, o uso de isolamento de
contato e mecanismo para assegurar a adesão às medidas;
 A população a ser submetida a esta vigilância deve ser selecionada e
identificada em termos de risco de colonização do paciente (por exemplo:
hospitalização recente, residente em casa de idosos), e os risco
específicos da unidade (por exemplo, UTI);
 Deve-se buscar a técnica de amostragem mais eficiente para a
identificação dos diferentes tipos de bactérias multirresistentes;
 De acordo com as suas necessidades e restrições de custo, cada hospital
terá que definir sua própria política de vigilância.
Beatriz (2013) recomenda a realização de culturas de vigilância de áreas de
ruptura da pele e feridas drenantes, além dos seguintes sítios, conforme bactérias
de interesse:
 MRSA: amostragem das narinas anteriores é suficiente;
 Enterococcus spp. Resistentes à vancomicina (VRE): culturas de fezes,
anal ou retal;
16
 Micro-organismos multirresistentes Gram-negativos não fermentadores
(Pseudomonas, Acinetobacter): peri-retal, orofaringe, pele (inguinal),
feridas;
 Enterobactérias produtoras de beta-lactamases de espectro estendido
(ESBL): peri-retal, orofaringe e endotraqueal, inguinal, feridas e urina;
 Enterobactérias produtoras de carbapenemase: cultura retal.
3.2 BACTÉRIAS MULTIRRESISTENTES
Do ponto de vista clínico, uma bactéria é considerada resistente a um
determinado antibacteriano, quando é capaz de crescer, in vitro, em concentrações
mais altas do que a maior concentração alcançada pelo fármaco no sítio da infecção
(HOIBY et al., 2010). Esta resistência é determinada pelo genoma da bactéria, que
codifica a expressão de mecanismos bioquímicos capazes de neutralizar os efeitos
dos antibacterianos (DA SILVA 2010; OBATA, 2010).
A importância clínica de bactérias multirresistentes se dá pelo fato que na
maioria dos casos, as infecções causadas
por esses agentes possuem
manifestações clínicas que são semelhantes às infecções causadas por patógenos
sensíveis. No entanto, as opções para o tratamento desses doentes são, muitas
vezes, extremamente limitada. Estas limitações podem influenciar os padrões de uso
de antibióticos de modo a suprimir a microbiota e criar um ambiente favorável ao
desenvolvimento da colonização, quando expostos a um potencial de Patógenos
Multidroga Resistente (MRDO), ou seja, acontece o que se denomina pressão
seletiva (SIEGEL et al., 2006).
As Infecções Relacionadas à Assistência à Saúde (IRAS) são definidas como
qualquer infecção que acomete o indivíduo, seja em instituições hospitalares,
atendimentos ambulatoriais na modalidade de hospital dia ou domiciliar, e que possa
estar associada a algum procedimento assistencial, seja terapêutico ou diagnóstico.
No Brasil, apesar de não haver uma sistematização dos dados, estima-se que
aproximadamente 5 a 15% dos pacientes hospitalizados e 25 a 35% dos pacientes
admitidos em UTI adquiram algum tipo de infecção relacionada à assistência a
saúde, sendo ela, a quarta causa de mortalidade (OLIVEIRA, 2012).
17
Nas UTI, as IRAS estão associadas, principalmente, ao uso de procedimentos
invasivos (cateteres venosos centrais, sondas vesicais de demora, ventilação
mecânica, dentre outros), imunossupressores, período de internação prolongado,
colonização por bactéria resistente, uso indiscriminado de antimicrobianos e o
próprio ambiente da unidade, que favorece a seleção natural de micro-organismos e,
consequentemente,
a
colonização
e/ou
infecção
por
bactérias,
inclusive
multirresistentes (OLIVEIRA, 2012).
3.2.1 Staphylococcus aureus resistente à meticilina (MRSA)
De acordo com a Chaberny (2008) e Junior (2009) S. aureus resistente à
oxacilina, embora não seja mais patogênico que os isolados sensíveis à oxacilina,
pode causar grandes e dispendiosas infecções epidêmicas, de difícil tratamento
e controle. MRSA é o termo utilizado como referência a S. aureus com resistência a
meticilina, oxacilina, penicilinas, cefalosporinas e carbapenêmicos.
Agente que causa principalmente infecções de corrente sanguínea relacionada a cateteres e infecções de pele e partes moles - mas é também um dos
agentes mais frequentes de pneumonias associadas à ventilação mecânica.
Diversos estudos mostram que os principais fatores predisponentes para a
colonização por MRSA são: a hospitalização – maior tempo de permanência do
indivíduo neste ambiente, uso prolongado e ou inadequado de antimicrobianos, e, a
presença de procedimentos invasivos (CATANEO, 2011).
Com relação à coleta de amostra na vigilância epidemiológica deste microorganismo foram realizados diferentes estudos, onde várias amostras foram
avaliadas a partir de swabs nasal e faríngea, axilar, perianal, fezes, corrimento,
vaginal ou mesmo urina. Segundo Cano (2007) para estudo de colonização por
MRSA recomenda-se o swab nasal para cultura de vigilância com uma única
amostra.
Em relação ao processamento de amostras de vigilância para detectar tal
bactéria não exigem a realização da coloração de Gram, já que cocos Gram
18
positivos agrupados fazem parte da microbiota da maioria dos locais de interesse
para essas culturas.
3.2.2 Staphylococcus coagulase negativa
Bactérias gram-positivas que habitam a microbiota da pele e mucosas do
homem, e são responsáveis por causar infecções relacionadas à assistência à
saúde, principalmente em dispositivos médicos, onde seu tratamento muitas vezes
se dá pela oxacilina e aminoglicosídeos, sendo que em casos de resistência contra
esses antibióticos, a vancomicina se torna a terapia adequada inicialmente (SILVA et
al., 2013).
3.2.3 Enterococcus spp
São cocos gram-positivos que colonizam o trato intestinal e trato genital, e
podem provocar infecções. A terapia antimicrobiana é um pouco difícil, pois a maior
parte dos antimicrobianos não tem efeito bactericida contra eles, então é necessária
a associação de antimicrobianos para ocorrer o efeito, como aminoglicosídeos,
betalactâmicos e glicopeptídeos, em casos de resistência a essas classes, o
tratamento fica bastante prejudicado. A resistência à vancomicina (VRE), por
exemplo, ocorre com o surgimento de precursores de peptideoglicano na parede
celular, que acabam se ligando com a vancomicina e não permite a ação da mesma
na parede celular (BENDER et al., 2010).
3.2.4 Escherichia coli
Pode ser encontrada no trato gastrointestinal causando diversas doenças
como sepse, infecções no intestino e trato urinário, e também meningites. É um
bastonete Gram-negativo responsável por provocar muitas infecções intestinais,
onde essa bactéria inicialmente faz parte da microbiota normal, e quando as defesas
dos pacientes internados diminuem, elas causam a formação de infecções. A
bactéria consegue se fixar no trato gastrointestinal pela produção de adesinas e
19
podem provocar doenças pela liberação de exotoxinas as quais são produzidas em
amplo espectro. Pode gerar resistência ao produzir a enzima beta lactamase de
espectro estendido (ESBL), que é responsável pela hidrólise de vários tipos de
antimicrobianos como penicilinas, cefalosporinas e monobactâmicos (MURRAY et
al., 2006; LAGO et al., 2010).
3.2.5 Klebsiella pneumoniae
Bacilo Gram-negativo que está presente na microbiota normal do intestino
do corpo humano é uma bactéria que pode ter um longo tempo de sobrevivência em
ambientes hospitalares, secos e pele, sua virulência está relacionada com alguns
fatores como presença de fenótipo mucoide, lipopolissacarídeo tóxico, cápsula
polissacarídica e um sistema de captação de ferro, onde todos esses fatores
interferem na formação de infecções. Klebsiella pneumoniae produtora de
betalactamase de espectro estendido (ESBL) está bastante relacionada a infecções
hospitalares, provocando mortalidade e morbidade, sendo um micro-organismo
oportunista, atacando principalmente pacientes com baixa imunidade. Existem ainda
as bactérias do grupo das carbapenemases, que possuem enzimas que
proporcionam resistência a todos betalactâmicos, impedindo assim a ação dos
mesmos contra as infecções, essas bactérias podem transmitir plasmídeos a
diferentes cepas de enterobactérias, ocorrendo a troca de material genético entre as
mesmas e disseminando assim esse tipo de infecção, tornando o tratamento
bastante difícil, sendo muito comum em pacientes crônicos (PERNA et al., 2015;
ALVES; BEHAR, 2013).
3.2.6 Enterobacter spp
O gênero Enterobacter é caracterizado por serem micro-organismos que
estão disponíveis na microbiota normal do trato gastrointestinal de humanos, são
amplamente distribuídos na natureza, Gram-negativos e causadores de patogenias
que acometem bastante pacientes hospitalizados, visto sua baixa imunidade,
podendo assim, se tornarem patógenos oportunistas. Os recém-nascidos são mais
vulneráveis a esse tipo de infecção, como casos de colite, meningite, e infecções
20
dos ossos, circulação e tecidos moles, mas também podem acometer pacientes
adultos. Em crianças é bastante comum, as infecções surgirem através de
administração de soluções em pó contaminadas, estudos comprovam que a
presença de nutrientes nessas fórmulas e o ambiente em que elas são
armazenadas, favorecem a proliferação desses micro-organismos. Nos últimos anos,
a
resistência
desses
micro-organismos,
em
destaque,
a
produção
de
betalactamases de espectro estendido (ESBL) teve um crescimento considerável
(ALVES et al., 2015).
3.2.7 Bacilos Gram-negativos não fermentadores
Entre as infecções hospitalares, há ainda as bactérias do grupo dos bacilos
gram-negativos não fermentadores de glicose que acometem muitos pacientes,
sendo um grupo bastante diverso e diferenciado, são aeróbios e não esporulados,
onde as infecções provocadas por eles vêm aumentando significamente ao longo
dos últimos anos, onde são representados por Acinetobacter spp. e Pseudomonas
aeruginosa principalmente, e outras bactérias. Outro ponto que vem aumentando
consideravelmente nesse grupo é a sua resistência a antimicrobianos, onde as
infecções têm origens endógenas ou exógenas, ocorrendo principalmente em
ambiente hospitalar (DELIBERALI et al., 2011).
3.3 RESISTÊNCIA A ANTIMICROBIANOS
Em 1928, Fleming descobriu o efeito bactericida de um fungo Penicillium que
havia crescido numa placa de Petri esquecida. Estavam lançadas as bases para a
era moderna do tratamento farmacológico das infecções, iniciada em 1936 com a
utilização clínica das sulfonamidas. O tratamento antibiótico começou com a
produção de benzilpenicilina em 1941. Nas três décadas seguintes a expectativa de
vida da população aumentou oito anos, variação atribuída ao aparecimento dos
antibióticos. Acreditou-se que os programas de vacinação e a generalização de
procedimentos de desinfecção, em conjunto com os antibióticos, acabariam
definitivamente com a ameaça de epidemias (DIAS; MONTEIRO, 2010).
Pouco tempo depois do início da aplicação em medicina humana, a utilização
de antibióticos generalizou-se, muito além do tratamento humano e animal. Na
21
veterinária, doses subterapêuticas desses medicamentos passaram a utilizar-se
como promotoras do crescimento animal acelerado. Produtos antissépticos e
desinfectantes passaram a estar fortemente presentes na agricultura, indústria e nos
lares, contaminando a água e o solo, com prejuízo dos ecossistemas bacterianos
(DIAS; MONTEIRO, 2010).
A ampla eficácia dos antibióticos foi precisamente o fio condutor para a
situação atual; por serem drogas muito eficazes no controle dos vários
microrganismos, foram ao longo do tempo cada vez mais massivamente aplicados.
Apesar da emergência de bactérias resistentes ser um fenômeno natural e
decorrente do contato dos microrganismos com os antibióticos, a rápida evolução
verificada acontece na proporção da utilização dessas drogas (DIAS; MONTEIRO,
2010).
22
4 PROCEDIMENTOS METOLÓGICOS
4.1 CARACTERIZAÇÃO DA PESQUISA
O estudo epidemiológico foi do tipo transversal, retrospectivo, descritivo
exploratório de abordagem quantitativa. A investigação levou em conta a prevalência
de cepas bacterianas colonizantes em geral, bactérias multirresistentes e suas
incidências.
Realizou-se uma pesquisa bibliográfica prévia em livros, periódicos e sites da
internet, de acordo com Pizzani et al (2012), tem por finalidade proporcionar um
aprendizado sobre uma determinada área do conhecimento; facilitar a identificação e
seleção dos métodos e técnicas a serem utilizados pelo pesquisador; oferecer
subsídios para a redação da introdução e revisão da literatura e redação da
discussão do trabalho científico.
Posteriormente, foi realizada uma pesquisa documental, que consistiu na
coleta, classificação, seleção e utilização de toda espécie de informações. A técnica
de documentação escolhida foi a direta intensiva, por meio das fichas de registro dos
resultados de exames microbiológicos.
4.2 LOCAL DE ESTUDO
O trabalho foi realizado no Setor de Bacteriologia de um Laboratório Privado
de Análises Clínicas localizado na cidade de João Pessoa, Estado da Paraíba.
4.3 POPULAÇÃO DA AMOSTRA
A população foi constituída por registros laboratoriais de usuários internados
em diferentes unidades de saúde do município de João Pessoa, as quais
encaminharam amostras para a realização de exames microbiológicos no Setor de
Bacteriologia de um laboratório privado. Foram avaliadas as fichas referentes ao
período de outubro de 2013 a dezembro de 2014. A amostra foi composta por 63
requisições médicas que continham no total 114 exames de culturas de vigilância,
de materiais como swab nasal e retal, que são solicitados quando usuários são
23
admitidos na UTI provenientes de outros hospitais; usuários crônicos graves
transferidos das enfermarias para a UTI; usuários internados em UTI com
permanência prolongada, e que não estejam respondendo a terapia antimicrobiana
de amplo espectro. Nestes materiais possivelmente pode ser encontrado bactérias
multirresistentes que foram alvo deste estudo.
4.4 PROCEDIMENTO DE COLETA E ANÁLISE DE DADOS
Para obtenção dos dados da pesquisa foi necessário que o pesquisador
permanecesse no Laboratório durante uma semana do mês de Junho de 2015,
período em que foram coletadas as informações presentes nas fichas laboratoriais.
Os dados foram tabulados no programa Microsoft Office Excel Versão 2007,
onde após análise descritiva foram obtidas as frequências simples e percentuais,
que permitiram a confecção de gráficos e tabelas.
4.5 POSICIONAMENTO ÉTICO
Para a realização da pesquisa foram levadas em consideração as
observâncias éticas preconizadas pela Resolução 466, de 12 de dezembro de 2012,
que dispõe as diretrizes e normas reguladoras de pesquisas envolvendo seres
humanos (BRASIL, 2013).
24
5 RESULTADOS E DISCUSSÕES
No período de outubro de 2013 a dezembro de 2014 foram analisadas 63
requisições, onde 39 (61,90%) eram de pacientes do gênero feminino e 24 (38,10%)
eram de pacientes do gênero masculino (Gráfico 1).
Gráfico 1 – Gênero dos pacientes analisados entre outubro de 2013 a dezembro de 2014.
Gênero
38,10%
61,90%
Masculino
Feminino
A faixa etária apresentada pelos pacientes ficou dividida em 10 (15,87%)
pacientes que apresentaram idade entre 0 – 15 anos, 4 (6,34%) entre 16 – 29 anos,
21 (33,33%) entre 30 – 59 anos e 28 (44,44%) que apresentaram idade igual ou
maior a 60 anos (Gráfico 2).
Os dados obtidos no presente trabalho com relação ao coeficiente de
internação estão coerentes com os registrados por Costa et al (2010), em um estudo
sobre a prevalência de internação e fatores associados em Pelotas-RS, onde o
maior coeficiente de internação está ligado a indivíduos do gênero feminino. Este
estudo também apresenta que o grupo etário de indivíduos com 60 anos ou mais
apresenta um maior coeficiente de internação, já o grupo etário de 10 a 14 anos
apresenta o menor coeficiente.
25
Gráfico 2 – Faixa etária dos pacientes analisados entre outubro de 2013 a dezembro de
2014
50,00%
45,00%
40,00%
35,00%
30,00%
25,00%
20,00%
15,00%
10,00%
5,00%
0,00%
44,44%
33,33%
Faixa Etária
15,87%
6,34%
0 - 15
16 - 29
≥ 60
30 - 59
Das 63 requisições analisadas obteve-se um total de 114 exames de cultura
de vigilância. O exame mais solicitado para cultura de vigilância foi o swab de sítio
nasal, sendo este solicitado em quase a totalidade das requisições 98,41% (62
requisições) e na sequência veio o swab retal com 82,54% (52 requisições), como
demonstrado no gráfico 3.
Gráfico 3 – Distribuição de culturas de vigilância por sítio solicitado
100
80
100,00
98,41
60
82,54
40
20
0
Total
Nasal
Total
Nasal
Retal
Retal
26
Estes dados corroboram com um estudo de Saraiva (2013), que destaca
estes sítios como os locais de maior interesse para a pesquisa de patógenos
multirresistentes relevantes.
Do total de culturas analisadas, foi encontrado um percentual de 37,72% de
positividade. O swab retal foi o sítio de maior positividade já que dos 52 exames
realizados, 30 foram positivos, representando 57,69% de positividade. Já o swab
nasal apresentou baixa positividade, representada por 17,74%, tendo em vista que
dos 62 exames analisados apenas 11 foram positivos (Gráfico 4).
Gráfico 4 – Porcentagem de positividade das culturas de vigilância por sítio solicitado
Retal
57,69%
17,74%
Nasal
0%
20%
40%
60%
O percentual de positividade encontrado no trabalho em questão apresentase similar ao obtido em um estudo realizado por Campos, Pereira e Lima (2012), que
avaliou a prevalência de colonização de recém nascidos internados em uma UTI
Neonatal por bactérias multirresistentes e de importância hospitalar. Das 208
culturas avaliadas neste estudo 51 foram positivas para micro-organismos
multirresistentes ou de importância epidemiológica, constituindo assim um
percentual de positividade de 24,5%.
Dos 11 exames positivos de swab nasal, um revelou colonização por
microbiota mista (duas espécies bacterianas distintas) e dez por microbiota única,
27
totalizando o isolamento de 11 micro-organismos. A espécie bacteriana isolada em
maior frequência foi Staphylococcus coagulase negativo (54,55%), seguido de
Klebsiella pneumoniae e Staphylococcus aureus (18,18%) e por último Acinetobacter
spp (9,09%) como descrito na Tabela 1.
Tabela 1 Distribuição das bactérias isoladas em swab nasal
BACTÉRIAS
NÚMERO
(%)
Staphylococcus coagulase
6
54,55
Staphylococcus aureus
2
18,18
Klebsiella pneumoniae
2
18,18
Acinetobacter spp
1
9,09
TOTAL
11
100,00
negativo
Quantos aos exames de swab retal, foram solicitadas 52 culturas, sendo
positivas 30 destas culturas, colonização por microbiota mista em quatro e por
microbiota única em 26, totalizando o isolamento de 31 bactérias. Dentre estes a
bactéria mais frequente foi Klebsiella pneumoniae (41,94%), seguida pela
Escherichia coli (35,48%) e em terceiro pela Enterobacter spp. (9,68%), como
descrito na Tabela 2.
Tabela 2 Distribuição das bactérias isoladas em swab retal
BACTÉRIAS
NÚMERO
(%)
Klebsiella pneumoniae
13
41,94
Escherichia coli
11
35,48
Serratia spp.
1
3,22
Pseudomonas aeruginosa
2
6,45
Klebsiella spp.
1
3,22
Enterobacter spp.
3
9,68
TOTAL
31
100,00
28
Gráfico 5 – Porcentagem de microbiota mista e microbiota única nas culturas positivas de
swabs nasal e retal.
90%
80%
70%
60%
50%
40%
30%
20%
10%
0%
Microbiota única
Microbiota mista
Gráfico 6 – Distribuição dos microrganismos isolados nas culturas positivas em swabs nasal
e retal
Klebsiella Enterobacter
spp.
spp.
2,38%
7,14%
S. aureus
4,76%
Acinetobacter
spp.
2,38%
P. aeruginosa
4,76%
Serratia spp.
2,38%
K.
pneumoniae
35,71%
E. coli
26,19%
S. coag. neg.
14,28%
29
Deduziu-se com o gráfico 6 que Klebsiella pneumoniae foi o de maior
percentual (35,71%), seguido por Escherichia coli (26,19%) e Staphylococcus
coagulase negativo (14,28%).
Os resultados desse estudo convergem com Grillo et al. (2013), onde ele
mostrou que as bactérias mais incidentes em pacientes pediátricos de um hospital
público foram P. aeruginosa, E. coli, Enterobacter spp, S. aureus e S. coagulase
negativo. Já Guimarães et al. (2011) mostrou que as bactérias mais incidentes
responsáveis por óbitos em infecções hospitalares foram S. aureus, P. aeruginosa,
K. pneumoniae e E. coli, resultados que se aproximam desse estudo. Magalhães et
al (2014) identificou que as bactérias predominantes em hemoculturas de um
hospital oncológico foram Enterobacter spp, S. aureus e E. coli, mostrando
semelhança com as bactérias encontradas por esse estudo. Pode-se observar que
independente do tipo de hospital, seja ele, público, privado, pediátrico, oncológico,
entre outors, as infecções hospitalares podem acometer o ambiente de qualquer um
deles, como atingir qualquer tipo de paciente, e que pelos resultados dos estudos
citados existem bactérias comuns para esse tipo de infecção e de ambiente.
Uma total de 41 bactérias apresentaram multirresistência, sendo 17 (41,46%)
Klebsiella pneumoniae, 11 (26,83%) Escherichia coli, 6 (14,63%) Staphylococcus
coagulase negativa, 3 (7,32%) Enterobacter spp., 2 (4,88%) Staphylococcus aureus,
1 (2,44%) Acinetobacter spp. e Serratia spp. (Tabela 3).
Tabela 3 Frequência de bactérias multirresistentes isoladas em culturas de vigilância
positivas entre outubro de 2013 e dezembro de 2014.
BACTÉRIAS MULTIRRESISTENTES
NÚMERO
(%)
Staphylococcus aureus
2
4,88
Acinetobacter spp.
1
2,44
Staphylococcus coagulase negativa
6
14,63
Klebsiella pneumoniae
17
41,46
Escherichia coli
11
26,83
Serratia spp
1
2,44
Enterobacter spp.
3
7,32
TOTAL
41
100,00
30
Os resultados desse estudo são semelhantes aos de Guimarães et al (2011),
em
que
as
bactérias
multirresistentes
que
mais
acometeram
pacientes
hospitalizados levando-os ao óbito foram S. aureus, P. aeruginosa, Acinetobacter
spp, E. coli e K. pneumoniae, mostrando também um número mais elevado de
bactérias Gram-negativas do que bactérias Gram-positivas, sendo assim outro ponto
que se assemelha com o presente estudo.
Os estudos de Jabur et al (2014) demonstraram que a Escherichia coli foi a
bactéria multirresistente mais comum em amostras de uroculturas de pacientes de
um hospital em Goiânia, sendo frequente em infecções comunitárias e provocando
muitas infecções do trato urinário, o que justifica seus altos índices em estudos
sobre a incidência de multirresistência, resultado esse que converge com esse
estudo que identificou E. coli como um das bactérias multirresistentes mais
presentes nos pacientes. Segundo Garcia et al (2013) as bactérias multirresistentes
que mais prevaleceram em pacientes de um hospital de Minas Gerais foram K.
pneumoniae, E. coli, Acinetobacter baumannii, S. aureus e P. aeruginosa sendo
responsáveis pela grande parte das infecções e/ou colonizações as Enterobactérias
produtoras de betalactamases de espectro estendido, resultados que também se
aproximam dos resultados do presente estudo. Grillo et al. (2013) identificou Bacilo
gram-negativos não fermentadores de glicose, Escherichia coli, Enterobacter spp e
Staphylococcus spp como as bactérias multirresistentes presentes em pacientes
pediátricos em um hospital público de Rondônia, ocorrendo assim semelhança com
os resultados desse estudo.
31
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O controle de infecção hospitalar e da disseminação de espécies bacterianas
multirresistentes é de relevância para a saúde pública, pois a resistência das
bactérias aos antimicrobianos tem aumentado efetivamente, contribuindo para
limitação do arsenal terapêutico disponível para o tratamento dessas infecções /
colonização como também incrementando os custos relativos à internação.
O trabalho em questão mostrou uma maior prevalência de indivíduos do
gênero feminino e com faixa etária maior igual a sessenta anos, com relação ao
envio de amostras para cultura de vigilância.
A colonização por um único micro-organismo foi mais evidente, apresentando
um baixo índice de colonização mista. As culturas de vigilância apresentaram um
consideravél percentual de positividade, destacando as culturas de swab retal pela
maior número de espécies bacterianas isoladas.
No presente estudo evidenciou-se uma maior incidência de Klebsiella
pneumoniae seguida por Escherichia coli, inclusive com cepas multirresistentes,
mostrando que estas enterobactérias constituem um grupo de importância
epidemiológica. Dentre os Gram positivos, destacou-se o Staphylococcus coagulase
negativa, em sua maioria resistente a meticilina.
As culturas de vigilância ativa agilizam a identificação de pacientes
colonizados por bactérias multirresistentes, e consequentemente ajudam as
instituições a praticar as precauções de contato, minimizando assim, a propagação
destes micro-organismos para outros pacientes.
32
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