FISIOTERAPIA RESPIRATÓRIA EM PACIENTE PORTADORA DE ATAXIA TELANGIECTASIA COM PNEUMONIA DE REPETIÇÃO – ESTUDO DE CASO SABRINA DA SILVEIRA MOREIRA, MICHELLE CARDOSO MACHADO. RESUMO A ataxia telangiectasia é um distúrbio autossômico recessivo caracterizado por ataxia cerebelar progressiva com aparecimento de telangiectasia, especialmente em lobos das orelhas e em conjuntivas, e, eventualmente na maioria dos pacientes infecções sinopulmonares de repetição. Os sintomas neurológicos manifestam-se entre 1 e 2 anos de idade com ataxia progressiva, distonia, coréia, disfagia e movimentos faciais deficientes. Não existe tratamento para a doença ou sintomas neurológicos o quadro é progressivo e leva ao confinamento no leito no final da primeira década. A marca externa da doença, telangiectasia conjutival, não se manifesta antes dos 5 anos de idade. Este trabalho tem como objetivo avaliar os efeitos da fisioterapia respiratória em um caso de infecção sinopulmonar em uma criança com diagnóstico de ataxia telangiectasia. O estudo foi composto por uma única paciente com 11 anos de idade atendida no HNSC de Tubarão – SC hospitalizada no dia 20 de Fevereiro de 2006 com diagnóstico de pneumonia e desnutrição. A mesma foi submetida a uma avaliação respiratória, onde encontravase com oxigenioterapia por máscara de venturi com FiO2 35%. O tratamento foi realizado no período de 07 a 31 de Março de 2006, diariamente com duração de 50 minutos, constando de manobras de higiene brônquica e reexpansão pulmonar. No decorrer dos atendimentos foi observado a melhora da função pulmonar da paciente e também melhora do quadro radiológico. Por se tratar de uma doença evolutiva e fatal com complicações sinopulmoares de repetição, a fisioterapia visa diminuir as complicações pulmonares contribuindo para a qualidade de vida. Palavras-chave: Ataxia telangiectasia, pneumonia de repetição, fisioterapia respiratória. Introdução A ataxia telangiectasia é uma patologia genética, autossômica recessiva, causada pela mutação do gene ATM, localizado no cromossomo 11q22-23 [1]. É uma síndrome recessiva caracterizada por ataxia cerebelar progressiva, com aparecimento de telangiectasias, especialmente em lobos das orelhas e em conjuntivas e na maioria dos pacientes, infecções sinopulmonares de repetição [2]. Estima-se que afete 1 em cada 40.000 nascidos vivos [3]. Sintomas como distonia, coréia, dificuldade na deglutição, movimentos faciais deficientes e anormalidades nos movimentos oculares manifestam-se entre um e dois anos de idade juntamente com a ataxia. A telangiectasia não se manifesta antes de cinco anos de idade. Observa-se uma incidência aumentada de neoplasias e de imunodeficiência, que se manifesta através de infecções respiratórias recorrentes [4]. Os sinais e sintomas da doença pioram a partir do sexto ano de vida. Geralmente a morte ocorre aos dez anos e na adolescência, raramente no início da vida adulta, com os pacientes completamente inválidos, não existe tratamento específico e a doença é evolutiva e fatal [5]. A ataxia telangiectasia (AT) é uma síndrome que apresenta várias complicações pulmonares, dentre elas a pneumonia de repetição que é a causa mais freqüente de internações. As infecções sinopulmonares são freqüentes e podem ocorrer no início da vida ou podem permanecer assintomáticas durante 10 anos ou mais [6], não existe teoria para explicar as anormalidades que ocorrem em diversos sistemas na ataxia telangiectasia [6]. É uma doença de caráter progressivo, com anormalidades neurológicas e deficiência imunológica, e se torna mais grave com o decorrer do tempo. Os movimentos anormais iniciam quando a criança começa a andar e as telangiectasias desenvolvem-se até os cinco anos de idade em locais como olhos, orelhas, nariz e braços. Pacientes portadores de AT desenvolvem infecções sinopulmonares recorrentes. Tais infecções não respondem à antibioticoterapia [7]. Com o tempo essa patologia torna-se mais grave, sendo estes acometidos principalmente por doença pulmonar crônica. A fisioterapia respiratória tem a finalidade de auxiliar na manutenção das funções vitais prevenindo e controlando as doenças pulmonares reduzindo as complicações e o tempo de internação, colaborando para uma boa evolução do paciente [8]. Materiais e métodos A coleta de dados foi realizada durante os atendimentos de fisioterapia realizada pela acadêmica no período matutino e por uma colega de fisioterapia da Unisul que acompanhou a paciente no período da tarde entre os dias 07 de Março a 31 de Março do ano de 2006 utilizando o mesmo protocolo. Os atendimentos foram de segunda a sexta-feira com duração de aproximadamente 50 minutos na enfermaria pediátrica do Hospital Nossa Senhora da Conceição – Tubarão/SC. Os procedimentos realizados foram explicados para a paciente e seu responsável seguido da assinatura do termo de consentimento livre e esclarecido, no mesmo dia foi iniciada a coleta de dados através de uma ficha de avaliação respiratória pediátrica com perguntas dirigidas ao paciente de forma clara e simples contendo dados de identificação como idade escolaridade, peso, altura. Na anamnese foi verificado: Queixa principal (QP) da internação colhido espontaneamente no momento da avaliação para um tratamento mais fidedigno; História da doença atual (HDA) onde foram coletados os dados da patologia, sintomatologia, sinais e sintomas e início da mesma; História da doença pregressa (HDP) verificando se houve doenças anteriores, quais foram e seus respectivos tratamentos; História ambiental (HA) identificando o tipo de moradia, se o lugar é seco ou úmido; História familiar (HF) verificando se possui algum caso semelhante na família; Antecedentes obstétricos; Na inspeção foi avaliado tipo de tórax, ritmo respiratório, padrão ventilatório, sinais de desconforto respiratório, tosse: avaliando quanto à eficácia e se era produtiva ou seca, expectoração e por fim os sinais vitais: freqüência cardíaca (FC), freqüência respiratória (FR), saturação periférica de oxigênio (SpO2) e ausculta pulmonar (AP). Na palpação observou-se expansibilidade torácica e percussão torácica. A paciente foi internada dia 20 de Fevereiro do ano de 2006 no Hospital Nossa Senhora da Conceição da cidade de Tubarão - SC com o diagnóstico de pneumonia e desnutrição, apresentando febre, tosse seca improdutiva e inapetência, tendo com queixa principal dificuldade de eliminar a secreção. No exame físico foi verificado que a paciente possuía tórax pectus carinatum, expansibilidade torácica simétrica, ritmo respiratório regular, padrão respiratório costo diafragmático, tiragens supra clavicular, tosse produtiva e ineficaz com secreção muco purulenta e sinais de desconforto respiratório com batimento da asa do nariz (BAN). A mesma apresentava déficits motores (motricidade fina e ampla), disfagia neurogênica, disartria, incoordenação dos membros superiores (MMSS) apresentando também desnutrição grave. A mesma também apresentava telangiectasia ocular (figura 1). Fig. 1 Após a cirurgia realizada dia 21 de Março, a paciente permaneceu no leito sem deambulação com oxigenioterapia por máscara de venturi com FiO2 50%, fluidoterapia no MSD e sonda nasogástrica (SNG) com dieta hipercalórica e hiperprotéica de 50ml. Apresentou tosse produtiva e ineficaz, FC: 105bpm; FR: 37rpm; SpO2: 95%; AP: MV rude com EB ápice e MV diminuído bilateralmente com ronco em base direita, EC difuso hemitórax esquerdo. O principal objetivo deste trabalho foi avaliar os efeitos da fisioterapia respiratória em um caso de infecção sinopulmonar em uma criança com diagnóstico de ataxia telangiectasia. Este estudo teve como objetivos específicos, verificar se as técnicas de higiene brônquica e reexpansão pulmonar são eficazes no tratamento da complicação pulmonar da paciente em questão e observar o quadro radiológico antes e depois do tratamento fisioterápico respiratório avaliando possíveis alterações. Considerando a importância do tema e por se tratar de uma patologia rara com várias complicações dentre elas a sinopulmonar, o presente estudo procurou comprovar a eficácia da fisioterapia respiratória em casos de ataxia telangiectasia otimizando o quadro radiológico e pulmonar do paciente. Para a realização deste estudo a acadêmica estabeleceu um protocolo de atendimento baseado nas manobras de higiene brônquica como AFE (aceleração do fluxo expiratório), TEMP (terapia expiratória manual passiva), ELPr (expiração lenta prolongada),vibração, vibrocompressão e reexpansão pulmonar utilizando bloqueio torácico e compressãodescompressão. O protocolo utilizado estabelecido pela acadêmica para a realização deste trabalho, foi aplicado conforme a ausculta pulmonar e a intercorrência noturna que a paciente apresentou naquele determinado dia. No dia da avaliação a paciente apresentou tosse produtiva e ineficaz com secreção muco purulenta, foi realizado AFE lento, técnica realizada passivamente onde a acadêmica com a mão dominante posicionada no tórax e a mão não dominante posicionada no abdome realizava um movimento expiratório aproximando as mãos iniciado no platô inspiratório, sem ultrapassar os limites fisiológicos da paciente com o intuito de mobilizar as secreções mais proximais para serem melhor eliminadas; TEMP (terapia expiratória manual passiva) foi aplicada com a paciente em decúbito dorsal com os MMII fletidos, onde a acadêmica com as mãos posicionadas na parte inferior do tórax acompanhava o movimento da caixa torácica no momento da expiração. A ELPr (expiração lenta prolongada) mesmo se tratando de uma técnica passiva em certas vezes foi realizada com a ajuda da paciente, a acadêmica com as mãos posicionadas uma no tórax e a outra no abdome realizava uma pressão manual lenta no final da expiração progredindo até o volume residual, com o objetivo de obter um volume expiratório maior que o volume de uma expiração normal, porém a técnica não era bem aceita pela paciente por não querer colaborar. A vibração foi realizada com as mãos posicionadas no tórax da paciente aplicando movimentos vibratórios rítmicos durante a expiração através da contração isométrica dos membros superiores. Na técnica de vibrocompressão aplicada, a acadêmica posicionava as mãos e utilizando o peso do próprio corpo aplicava uma vibração no tórax da paciente na fase expiratória. A técnica de reexpansão pulmonar, o bloqueio torácico, foi utilizado quando a paciente apresentou murmúrio vesicular diminuído principalmente em bases. A acadêmica aplicava uma pressão em um dos hemitórax da paciente direcionando o fluxo de ar para o hemitórax contralateral, a manobra foi realizada no final da expiração sustentando a pressão no hemitórax durante três ciclos. A Compressão-descompressão manobra também realizada com o intuito de promover a reexpansão pulmonar, foi realizada com o paciente em decúbito dorsal. A acadêmica posicionava as mãos no tórax da paciente acompanhando o movimento das costelas comprimindo o tórax durante a expiração soltando rapidamente no início da inspiração. Resultados Os resultados da presente pesquisa basearam-se na avaliação após a aplicação do protocolo de tratamento estabelecido pela acadêmica que constou de manobras de higiene brônquica e reexpansão pulmonar, onde pode-se afirmar a melhora do quadro pulmonar e radiológico da paciente no período de sete de Março a trinta e um de Março do ano de 2006. No decorrer dos atendimentos houve evolução na função pulmonar do paciente bem como a diminuição dos ruídos adventícios que no início do tratamento eram bem evidentes e também melhora no quadro radiológico com diminuição do derrame pleural (Fig. 1 e 2). Fig. 1 Fig. 2 No final do tratamento a paciente encontrava-se sem queixas de dores, pele mais corada e com ganho de peso de 3 kg. Discussão e análise dos dados Não existe tratamento para a doença ou sintomas neurológicos, e os pacientes são confinados a uma cadeira de rodas. Na maioria dos casos, o quadro é progressivo e leva o confinamento no leito no final da primeira década [4]. Qualquer alteração na dinâmica ventilatória, que impeça ou restrinja os pulmões de realizarem a expansão adequadamente necessita de intervenção da fisioterapia respiratória com o objetivo de redistribuir a ventilação, melhorar as trocas gasosas e prevenir a atelectasia, beneficiando estes pacientes em termos de melhora da função respiratória promovendo qualidade de vida além de reduzir gastos [9]. A fisioterapia respiratória tem como objetivo retirar ou reduzir a obstrução brônquica, prevenção ou tratamento da atelectasia e da hiperinsuflação ajuda também a prevenir danos estruturais evitando cicatrizes lesionais e a perda da elasticidade causada pelas infecções broncopulmonares [10]. As técnicas de fisioterapia respiratória na higiene brônquica baseiam-se em três níveis de atuação, são eles: descolamento do muco brônquico, deslocamento do muco brônquico e a eliminação do mesmo [9]. As técnicas de higiene brônquica são indicadas em situações de alteração do sistema de depuração mucociliar que segundo [11], os fatores que contribuem para a eficácia das técnicas aplicadas são a viscoelasticidade do muco, ação ciliar além da produção diária de secreção brônquica acima de 30 ml. As secreções aumentam a resistência ao fluxo aéreo, dificultam as trocas gasosas e tornam excessivo o trabalho dos músculos respiratórios, sendo que a fisioterapia respiratória facilita a remoção das secreções evitando retenção e prejuízo da função pulmonar [12]. Conclusão Ao final deste estudo pode-se concluir que houve efetividade das manobras de higiene brônquica e reexpansão pulmonar no tratamento das complicações pulmonares em função da melhora do quadro radiológico, na ausculta pulmonar. Em razão dos resultados obtidos, pode-se afirmar que as técnicas utilizadas no presente estudo é uma das formas de tratamento para as complicações sinopulmonares recorrentes causada pela ataxia telangiectasia. Porém, por se tratar de uma doença progressiva surge a necessidade de tratamento mais específico como a imuno-estimulação. A evolução da doença e suas complicações interferem de forma negativa na qualidade de vida dos pacientes portadores da ataxia telangiectasia, causando limitações nas atividades da vida diária (AVDs), limitações estas que levam à um quadro de inatividade e dependência física, por isso a importância do tratamento fisioterapêutico tanto respiratório quanto motor. Referências 1.VEIGA, Estela. Fonseca, Maria José. Et al. Ataxia telangiectasia – caso clínico. Rev. Nascer e Crescer, v.14, n. 1, 2005. 2. MARCONDES, Eduardo (Coord.) Pediatria básica. 8. ed. São Paulo: Sarvier, 1999. 2v. 3.LEDERMAN, H. M; CRAWFORD, T. O. Family Support – Handboock for Families and Caregivers. Baltimore, USA. v.1. Disponível em <www.atcp.org> acesso em: 05 Set, 2006. 4. BEHRMAN, Richard E.; KLIEGMAN, Robert M. Nelson: princípios de pediatria. 4 ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2004 5. DIAMENT, Aron; CYPEL, Saul. Neurologia infantil. 3ed. São Paulo: Atheneu, 1996. 1352p. 6. STITES, Daniel P.; TERR, Abba I.; PARSLOW, Tristrsm G. Imunologia médica. 9 ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2000. 689 p. 7. NORA, James J; FRASER, F. Clarke. Genética médica/ James J. Nora, F. Clarke Fraser; tradutor Marcio Moacyr de Vasconcelos. 3. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1991. 301 p. 8. COSTA, Dirceu. Fisioterapia respiratória básica. São Paulo: Atheneu, 1999. 127 p. 9. SLUTZKY, Luiz Carlos. Fisioterapia respiratória: nas enfermidades neuromusculares. Rio de Janeiro: Revinter, 1997. 10. POSTIAUX, Guy. Fisioterapia respiratória pediátrica: o tratamento guiado por ausculta pulmonar. Porto Alegre: Artmed, 2004. 301 p. 11. SILVA, Luiz Carlos Corrêa da et al. Condutas em pnumologia. Rio de Janeiro: Revinter, 2001. v.2. 12. AZEREDO, Carlos Alberto Caetano; MACHADO, Maria da Glória Rodrigues. Fisioterapia respiratória moderna. 4. ed. ampl. e rev. São Paulo: Manole, 2002. 495 p. Sabrina da Silveira Moreira ([email protected]/ [email protected]): Graduanda em Fisioterapia da Universidade do Sul de Santa Catarina – UNISUL, campus Tubarão, SC . Michelle Cardoso Machado ([email protected]): Mestre, Professora e Supervisora de Estágio da Universidade do Sul de Santa Catarina – UNISUL, campus Tubarão, SC. Endereço para correspondência: Sabrina da Silveira Moreira Rua: Coronel Luís Francisco Pereira, 94 Cep: 88715-000 - Jaguaruna, SC Tel: (48) 36240294, (48) 96251020 e-mail: [email protected], [email protected]