COMPUTAÇÃO QUÂNTICA Ademar Crotti Junior1, Ana Paula Biz1, Ana Paula Scotti1, Daniel Pezzi da Cunha2 1 Acadêmico(a) do curso de Ciência da Computação 2 Professor do curso de Ciência da Computação Universidade do Extremo Sul Catarinense (UNESC) – Criciúma/SC – Brasil [email protected], [email protected], [email protected], [email protected] Resumo. Na tentativa de solucionar problemas de diversas naturezas, o ser humano vem utilizando há décadas os conceitos da Física Clássica. No entanto, a necessidade de se obter soluções para questões contemporâneas tem conduzido a ciência para novos paradigmas. Nos últimos anos, descobriu-se que a física quântica possibilita a existência de um tipo de computador completamente diferente – o computador quântico. Em conseqüência, pelo menos três grandes áreas de estudo são diretamente afetadas: comunicação, armazenamento e poder computacional. Este artigo tem o objetivo de destacar as principais características dos novos sistemas computacionais e descrever o cenário atual do avanço das pesquisas científicas relativas à computação quântica. Palavras-chave: Computação Quântica; quantum bit; Lei de Moore. 1. Introdução O computador atual é baseado na arquitetura proposta por John Von Neumann em 1946. Desde então, não houve uma evolução significativa na arquitetura de computadores. Apesar dos computadores terem evoluído, tornando-se menores e mais rápidos, continuam realizando os mesmos cálculos matemáticos desde seus primórdios. Em 1965, Gordon Moore, estabeleceu uma lei onde constatou que a cada 2 (dois) anos aproximadamente, o número de transistores por unidade de área dobra e, consequentemente, o poder de processamento dos computadores. Esta lei ficou conhecida como Lei de Moore e vem se mantendo em vigor até os dias de hoje. Segundo esta lei, em 2020 a computação clássica atingirá seu limite, sendo possível a representação de um bit de informação em um átomo (OLIVEIRA et al, 2003). Em 1981, Richard Feymann sugeriu o uso da mecânica quântica na computação clássica, quando descobriu que os sistemas clássicos não poderiam representar sistemas quânticos. A idéia sugerida por Feymann levou à miniaturização dos componentes e a crescente busca por mais eficiência computacional, sendo que, quando um bit for representado por um único átomo, não será fisicamente impossível fabricar algo menor (OLIVEIRA et al, 2003). A computação quântica guarda e processa informações armazenadas em átomos, sendo um importante recurso na solução de problemas complexos que os computadores clássicos não conseguem resolver, como a fatoração de números inteiros muito grandes ou problemas de tentativa e erro. 2. A computação clássica O conceito que se tem de computador hoje, é baseado na arquitetura de Von Neumann, que afirma serem necessários, memória, processador, dispositivos de entrada e saída de dados e barramento de comunicação para ter-se um computador (LOMONACO, 2002). Esta forma de organização é extremamente eficiente na execução de aplicações em computadores modernos, porém áreas como a Inteligência Artificial ficam restritas a um processamento seqüencial, que é conseqüência dessa arquitetura. Entretanto, é preciso que sejam desenvolvidas novas tecnologias, mais eficientes, como a computação quântica, para que outras áreas que necessitam de muito poder computacional, possam solucionar problemas complexos. Para um melhor entendimento da computação quântica, é necessário entender a Mecânica Quântica. 3. Introdução à mecânica quântica A mecânica quântica é um segmento da física que estuda o movimento de partículas muito pequenas, em escala subatômica. Na física clássica os valores das grandezas são bem definidos, já na física quântica não se pode medir com precisão os estados de uma partícula subatômica. O princípio da incerteza de Heisenberg nos diz que quando se precisa encontrar a posição de um elétron temos que incidir sobre ele algum tipo de radiação. Por exemplo, para descobrir a posição de uma bola de plástico em um quarto escuro emite-se um feixe de luz que “bate” na bola e volta, de maneira que não interfira na posição da bola (LOMONACO, 2002). 3.1. Bit quântico Toda a informação na computação clássica é representada por bits, que assumem valores de 0 ou 1. Na computação quântica surge o quantum bit – chamado de qubit –, que pode assumir os valores 0 ou 1 ou 0 e 1, possuindo outros estados possíveis. Esse fenômeno chama-se superposição (RIEFFEL, 2000). Pode-se utilizar uma analogia de fácil entendimento, supondo que se tenham duas moedas; sob as leis da física clássica, haverá quatro combinações possíveis; porém se a moeda fosse um elemento quântico, ambas as faces seriam visíveis ao mesmo tempo. Rieffel (2000), relata que é impossível observar essa propriedade em objetos comuns. Tentar observar os estados superpostos destrói a superposição. Os qubits estão presentes em algumas moléculas de substâncias da tabela periódica, e é através da Ressonância Magnética Nuclear (RMN) que manipulam-se as informações nestes qubits. A RMN manipula o momento magnético de um núcleo e é por meio dela que pode-se criar o estado superposto (MARQUEZINO, 2006) Na Figura 1 ilustra-se a diferença entre bits clássicos e bits quânticos. O bit clássico pode guardar 0 ou 1. Já o bit quântico tem vários estados possíveis que podem ser representados por um ponto em qualquer lugar da esfera. O pólo norte equivale a 1 e o pólo sul equivale a 0. Figura 1 – Estados dos bits quântico e clássico. Qualquer tentativa de ler um qubit resulta em 0 ou 1. A mensuração apaga todas as informações contidas no bit quântico, exceto o bit de saída (NIELSEN, 2005). Essa superposição de estados permite que um computador quântico realize 1 (um) milhão de cálculos simultaneamente enquanto os microcomputadores tradicinais realizam somente 1 (um). 4. O computador quântico A primeira pessoa a aplicar teorias quânticas à computadores foi Paul Benioff em 1981, quando criou uma Máquina de Turing quântica. A Máquina de Turing consiste em uma fita dividida em células, que pode se mover para esquerda ou direita, lendo e gravando informações em bits. A diferença na máquina quântica de Benioff é que cada célula pode comportar um estado de superposição do bit quântico (RIEFFEL, 2000). A dificuldade em construir um computador quântico está na manipulação dos bits quânticos sem alterar a informação que eles carregam. Os qubits precisam ficar armazenados por tempo suficiente para realizar as operações. Devem ser lidos de forma precisa e, principalmente, precisam atingir um isolamento perfeito a fim de evitar erros, pois qualquer alteração no campo magnético pode alterar o estado do qubit. Assim como na computação clássica, a computação quântica manipula as informações por meio de portas lógicas que se assemelham às clássicas, com uma restrição, devem ser reversíveis. Um exemplo interessante é a Porta de Toffoli que transforma um registrador quântico em um registrador clássico, tornando possível a emulação de algoritmos clássicos em computadores quânticos (RIEFFEL, 2000). 4.1 Algoritmos Quânticos Foram criados vários algoritmos que utilizam o poder do computador quântico. O mais importante deles foi desenvolvido em 1994, pelo pesquisador Peter Shor; resolve o problema da fatoração de números inteiros grandes. Esse algoritmo utiliza a superposição quântica para reduzir o tempo de solução do problema. A divulgação desse algoritmo chamou muita atenção da sociedade científica, por possibilitar a utilização da mecânica quântica na computação e também porque possibilita a quebra de certas chaves criptográficas. O método de criptografia RSA, que é muito utilizado, seria ineficaz se inteiros grandes pudessem ser fatorados com facilidade (LOMONACO, 2002). Em dezembro de 2001, o algoritmo de Shor foi implementado em um computador quântico de sete qubits, este computador foi criado por cientistas do Centro de Pesquisas da IBM (International Business Machines Corporation). O computador foi utilizado para fatoração do número 15 e, como esperado, o resultado foi 15 = 3 x 5, por mais simples que seja, mostrou que computadores quânticos podem existir realmente. E operações que levariam bilhões de anos para serem resolvidas por um computador clássico poderão ser resolvidas rapidamente pelos computadores quânticos (figura 2). A tabela a seguir mostra estimativas de tempo de fatoração em algoritmos quânticos e comuns (OLIVEIRA, 2003). Figura 2 - Comparação do tempo de fatoração de números inteiros (OLIVEIRA, 2003). 5. Conclusão Um computador clássico pode ser descrito de forma bastante genérica como uma máquina que lê certo conjunto de dados, codificado em zeros e uns, executa cálculos e gera uma saída também codificada em zeros e uns. Um computador quântico vai além da tecnologia presente, baseando-se nos diferentes estados que um bit quântico pode assumir aumentando exponencialmente sua velocidade de processamento. Quando a construção de máquinas quânticas para uso comercial se tornar possível, surgirá a necessidade de se desenvolver novos algoritmos quânticos. Outro ponto interessante é que não se faz necessário a criação de uma arquitetura mais eficiente em termos de processamento para resolver tarefas que os computadores clássicos já resolvem com eficiência, ou seja, áreas específicas, como inteligência artificial e criptografia, teriam um maior interesse no desenvolvimento dessa nova tecnologia. O computador quântico possibilita o desenvolvimento de uma nova arquitetura de computadores, o que elevaria muito o poder computacional comparado aos computadores atuais. No entanto, ele faz os mesmos cálculos que o computador tradicional faz. Referências LOMONACO, S.J. Jr. A Rosetta Stone for quantum mechanics with an introduction to quantum computation. Washington, DC, volume 58 of Proc. Sympos. Appl. Math., pages 3–65. Amer. Math. Soc., Providence, RI, 2002. NIELSEN, Michael A.; CHUANG, Isaac L. Computação Quântica e Informação Quântica. Porto Alegre: Bookman, 2005. OLIVEIRA, Ivan S.; AZEVEDO, Eduardo R. de; FREITAS, Jair C. C. de. Computação quântica. Revista Ciência Hoje, 2003. RIEFFEL, E.; POLAK, W. Introduction to quantum computing. ACM Computing Surveys, 32(3):300–335, 2000.