Insper Instituto de Ensino e Pesquisa Faculdade de Economia e Administração Vitor Altenfelder Corrêa Lima Estudo das relações de causalidade entre Investimento Estrangeiro Direto e Crescimento Econômico São Paulo 2012 Vitor Altenfelder Corrêa Lima Estudo das relações de causalidade entre Investimento Estrangeiro Direto e Crescimento Econômico Monografia apresentada ao curso de Ciências Econômicas, como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel do Insper Instituto de Ensino e Pesquisa. Orientador: Profa. Ana Lúcia Pinto da Silva– Insper São Paulo 2012 1 Lima, Vitor Altenfelder Corrêa Estudo das relações de causalidade entre Investimento Estrangeiro Direto e Crescimento Econômico /Vitor Altenfelder Corrêa Lima. – São Paulo: Insper, 2012. 22 f. Monografia: Faculdade de Economia e Administração. Insper Instituto de Ensino e Pesquisa. Orientador: Profa. Ana Lucia Pinto da Silva 1.Investimento Estrangeiro Direto 2. Crescimento Econômico 3. Relações de Causalidade 2 Vitor Altenfelder Corrêa Lima Estudo das relações de causalidade entre Investimento Estrangeiro Direto e Crescimento Econômico Monografia apresentada à Faculdade de Economia do Insper, como parte dos requisitos para conclusão do curso de graduação em Economia. Aprovado em Junho 2012 EXAMINADORES ___________________________________________________________________________ Profa. Ana Lucia Pinto da Silva Orientador ___________________________________________________________________________ Prof. Eraldo Genin Fiore Examinador(a) Prof. Fernando Ribeiro Leite Neto Examinador(a) 3 Resumo LIMA, Vitor Altenfelder C.. Estudo das relações de causalidade entre Investimento Estrangeiro Direto e Crescimento Econômico. São Paulo, 2012. 22p. Monografia – Faculdade de Economia e Administração. Insper Instituto de Ensino e Pesquisa. O presente estudo busca encontrar relações de causalidade entre Investimento Estrangeiro Direto e Crescimento Econômico nas 5 principais economias em desenvolvimento (BRICS), assim como, por meio de analises estatísticas, identificar o sinal dessas relações a fim de propor incentivos para o crescimento desses países por meio de políticas econômicas. Palavras-chave: Investimento Estrangeiro Direto, Crescimento Econômico, BRICS. 4 Sumário 1. Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .6 2. Investimento Estrangeiro Direto. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8 3. Metodologia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11 4. Análise Descritiva.. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13 5. Análise Econométrica.. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .14 6. Análise dos Resultados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16 7. Conclusão... . . . . ... . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .17 8. Referências. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18 9. Apêndice. . .. .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .20 5 1. Introdução O Investimento Estrangeiro Direto está cada vez mais presente na economia global. Em meio ao alto grau de globalização que a economia mundial esta inserida, é comum que grandes empresas multinacionais ampliem seus segmentos de atuação, principalmente nos mercados de países em desenvolvimento. Isso devido aos menores custos que eles normalmente incorrem sobre a atividade (tanto referentes à mão-de-obra quanto aos insumos para produção e impostos) e também ao potencial mercado consumidor que surgirá ao longo dos anos. Segundo Calderon-Rossell (1985), o crescimento dos Investimentos Estrangeiros Diretos (IED) nos passados 25 anos está mudando a forma de modelo de negócio das grandes multinacionais. Estudos mostram que nos últimos 25 anos houve um aumento médio de aproximadamente 10 vezes nos IED’s pelo mundo. Quando o ponto onde a receita marginal se iguala ao custo marginal é alcançado, as grandes empresas passam a investir seu capital em mercados em desenvolvimento que proporcionam baixos custos de produção, mesmo com a existência de riscos, como o risco cambial por exemplo. Com isso, se faz necessário uma série de análises de risco e investimento além de uma detalhada análise da situação política e econômica do país de destino. Como constatou Walz (1995), as firmas que visam desenvolver produtos inovadores primeiramente estabelecem suas relações em países desenvolvidos com o intuito de adquirir novos conhecimentos e habilidades através de pesquisa e desenvolvimento (P&D), para finalmente estabelecerem sua produção em países com suas economias em desenvolvimento, a onde os custos de produção são inferiores. Ele afirma que o Investimento Estrangeiro Direto (IED) é acompanhado de um fluxo de conhecimento que vai dos países mais desenvolvidos para os menos desenvolvidos. Blomström e Kokko (2003) complementam essa idéia com o argumento de que incentivos com foco em promover o Investimento Estrangeiro Direto nem sempre é o modo mais eficiente de aumentar o bem-estar social da economia doméstica. Para que o subsídio tenha melhor aproveitamento, é necessário que as empresas domésticas tenham alto potencial de absorção de idéias e fluxos de conhecimento, assim como motivação para isso. Assim, para garantir a eficiência desse incentivo é preciso investir e dar suporte para aprendizagem nas firmas locais. Kamal Saggi (1999) questiona a respeito da vantagem de transferência tecnológica que o país doméstico pode tirar com a presença de Investimento Estrangeiro Direto. Para ele, o 6 sucesso dos investimentos depende do grau de educação da população e do nível de treinamento em que a força de trabalho se encontra. Além de trazer importantes conhecimentos tecnológicos e habilidades específicas, o Investimento Estrangeiro Direto também pode acelerar o crescimento econômico à medida que contribui com geração de emprego para a economia em questão. Essa alta na oferta de emprego deve aumentar o consumo doméstico sem que haja um expressivo aumento no salário, o que mantém de certa forma a inflação controlada, minimizando o risco cambial referente a uma possível alteração da taxa de juros local como política monetária contracionista. Porém, apenas incentivos econômicos como subsídios e incentivos fiscais proporcionados por governos locais não bastam para atrair investidores de outros países. As empresas multinacionais buscam segurança para os seus investimentos alem de lucros exorbitantes. Esta segurança pode derivar de segurança jurídica, política e econômica. No primeiro caso o país de destino deve possuir instituições fortes, com um sistema legal de bases sólidas e que faça cumprir as leis estabelecidas na constituição. Principalmente aquelas que definem os direitos de propriedade (física e intelectual), questões contratuais e fiscais e os faz cumprir, ganhando assim credibilidade. O segundo caso está mais relacionado à corrupção. Habib e Zurawicki (2002) concluíram que a corrupção é um serio obstáculo para o Investimento Estrangeiro Direto. Por último e não menos importante, a segurança econômica se dá na presença de transparência e estabilidade econômica. Elas exercem influencia na eficiência do mercado financeiro e no sucesso das políticas empregadas pelo governo. Ao optar por políticas econômicas de controle de preços e incentivo a investimentos de forma transparente e austera, o governo estará diminuindo o risco econômico, o que deixa a economia local menos vulnerável a oscilações prejudiciais. O presente estudo tem como principal objetivo identificar as relações de causalidade entre o Investimento Direto Estrangeiro (IED) e o crescimento econômico de algumas economias em desenvolvimento. Para isso, foram escolhidos os 5 principais países em desenvolvimento, todos fazem parte do G-20 (grupo que engloba as 20 economias de maior PIB) e da OMC (Organização Mundial do Comércio), são os chamados BRIC’s (Brasil, Rússia, Índia e China) mais a África do Sul (“BRICS” como ficaram conhecidos). Todos os 5 países estão vivendo um “boom“ de crescimento nos últimos 15 anos (Apêndice – gráfico 1 e 2). Esses países utilizam de diferentes políticas econômicas e desenvolvimentistas além de distintos enforcements institucionais e características populacionais. Essa disparidade se faz 7 necessária para verificar a importância real do Investimento Estrangeiro Direto para o crescimento, caso exista uma relação de causalidade entre as variáveis. Porém, apesar dessas diferenças com relação às políticas adotadas, ao o enforcement institucional (“força” das instituições locais), aos níveis de educação, aprendizagem e tecnologia observados nas respectivas economias além da existência de corrupção em excesso e da inexistência de transparência referente às políticas a serem adotadas, esses países em desenvolvimento apresentam estabilidade política e econômica. Com isso, algumas conclusões a respeito de incentivos ou barreiras a esses investimentos e decisões quanto a políticas econômicas a serem adotadas poderão ser formadas visando o crescimento econômico e à atração ou repulsão dos Investimentos Estrangeiros Diretos. 2. Investimento Estrangeiro Direto O Investimento Estrangeiro Direto corresponde aos fluxos de receita ou investimento para aquisição da totalidade ou de parte de uma empresa em território estrangeiro (pelo menos 10 por cento das ações preferenciais de determinada empresa, àquelas que dão direito a voto). Em suma, ele envolve participações do investidor externo na gestão do negócio, transferência de tecnologia e especialização por parte da mão-de-obra. O IED também pode ser ampliado na forma de aquisição de ativos produtivos como terras, fábricas e maquinário além de investimentos em greenfields e na forma de fusões e aquisições. Existem diferentes políticas por parte dos governos para atrair ou repelir esses investimentos. De acordo com Jauch e Endresen (2000), as opiniões a respeito da importância desses incentivos variam significantemente. Os Estados utilizam de ferramentas como subsídios e tarifas, além de políticas cambiais para gerenciar a atratividade do capital externo. Por isso, para que o estudo seja mais bem compreendido e a análise dos resultados seja mais realista, faz-se necessário compreender as diferentes realidades para essa forma de investimento nos países em estudo, a começar pela África do Sul. O governo sul-africano tem extrema influência no ingresso de capital estrangeiro em sua economia. Segundo informações da OECD, desde sua transição para um sistema democrático em 1994, o país passou por algumas transformações importantes como seu ingresso na OMC (Organização Mundial do Comércio) e a conseqüente queda nas tarifas de importações, a adoção de políticas econômicas estáveis que buscam crescimento baseadas em 8 uma inflação controlada assim como o controle da dívida como proporção do PIB e da taxa de juros real, além de uma política cambial controlada com finalidade de manter suas atividades competitivas no mercado. O país possui uma estratégia industrial focada no crescimento do valor agregado com baixos custos - possui abundancia de matéria-prima, energia barata e sólida infraestrutura – proporcionando vantagens comparativas para algumas atividades. Mais recentemente, o foco da estratégia industrial foi alterado para incentivos à obtenção de conhecimento, tanto na forma de pesquisa e desenvolvimento como por meio de maior penetração de informações tecnológicas. A África do Sul tem, em sua constituição, direitos de propriedade bem definidos além de um sistema judiciário independente. Também possui um sistema financeiro desenvolvido com grandes bancos internacionais, proporcionando o mesmo ambiente legal e regulatório para os investidores estrangeiros que os investidores domésticos usufruem. Os investidores estrangeiros encontram dificuldades com excesso de burocracia e dificuldades com as leis trabalhistas, o que ocasiona perda de eficiência e excesso de tempo para realização de algumas atividades. No caso do Brasil, o país teve uma série de políticas econômicas com intuito de estabilizar a inflação e encontrar uma taxa de cambio de equilíbrio, tornando sua economia competitiva em relação aos outros países, sem prejudicar os exportadores e o desenvolvimento da industria local e consequentemente o crescimento, e sem criar um viés inflacionário pelo encarecimento dos insumos de produção importados. O objetivo só foi atingido com o plano Real em 1994, o qual trouxe a inflação para patamares aceitáveis e fixou o cambio à cotação do dólar americano até 1999, resultando em maior estabilidade econômica. Tal estabilidade remeteu condições favoráveis para realização de planejamentos para novos investimentos, contribuiu para uma melhora da distribuição de renda - o que levou um aumento de sua demanda agregada – alem de uma redução observada do risco país. Outro fator de extrema importância foi a consolidação do MERCOSUL no final de 1994, o que levou as tarifas de importação de países membros que era de 32% do preço final em 1990 para 14% em 1994, melhorando o saldo das exportações brasileiras (principal economia do bloco). Outro fator de suma importância a ser considerado foram as privatizações no setor de infraestrutura realizadas por Fernando Henrique Cardoso a partir de seu primeiro mandato em 1995. O país também possui vasta oferta de terras férteis, com abundancia de recursos naturais como água e minério, e extensa fonte de energia renovável. O sistema judicial apesar de independente apresenta alto índice de morosidade, proporcionado pelo excesso de burocracia e de litigâncias. O país apresenta direitos de propriedade e de cumprimento de 9 contratos bem definidos em sua constituição, o que colabora com o aporte de capital estrangeiro em sua economia. A China apresenta algumas peculiaridades no que diz respeito ao ambiente de negócios. O país abriu sua economia em 1979 para os IED e até meados da década de 90 teve um baixo crescimento no estoque, até se tornar o país com maior fluxo de IED do mundo nos dias de hoje. A primeira medida tomada pelo governo chinês para a abertura econômica foi a criação das chamadas Zonas Econômicas Especiais (ZEE’s), as quais permitiram a utilização de capital externo pelas joint-ventures que ali se instalavam. Com o tempo o numero de distritos que englobavam essas ZEE’s foi aumentando e em 1984 já eram 14 cidades, sendo 12 delas designadas Zonas de Promoção de Tecnologia em 1985, criadas com intuído de promover transferência de tecnologia para o país. Já em 1986 surgiram novos incentivos como taxas especiais, maior liberdade para importação de insumos e equipamentos para produção, simplificação de procedimentos de licença e, ainda, outros privilégios para empresas de energia, água e transporte. Resumindo, o país passou por três políticas relacionadas ao IED: abertura gradual e limitada, promoção ativa através de necessidades especiais e promoção de acordo com objetivos industriais domésticos. Em dezembro de 2001 a China passou a fazer parte da OMC, o que contribuiu com o montante exportado pelo país. Já em 2005 foi possível notar a queda brusca e considerável de alguns impostos do setor de tecnologia e agricultura. Além disso, o país possui a maior população do mundo, e uma força de trabalho cujos salários estão em níveis inferiores ao observado no restante do mundo. Porém, o sistema judicial do país ainda não pode ser considerado independente, o que prejudica a transparência no que diz respeito aos direitos de propriedade e enforcement de contratos. Há lacunas, principalmente no que diz respeito aos direitos de propriedade intelectual, onde são comuns queixas de investidores estrangeiros em joint-ventures quanto à cópia da tecnologia adotada em novas fábricas por parte de sócios chineses em suas instalações próprias, competidoras com o negócio em conjunto. Ainda, seu governo apresenta um regime de câmbio fixo, e sua conta capital fechada, o que repele de certa maneira a presença de novos investimentos. A reforma de liberalização econômica na Índia teve início em 1991 e vem evoluindo até os dias de hoje. No período “pré-reforma” o ambiente de negócios na Índia era marcado pela forte presença de tarifas e restrições para as importações e altos índices de corrupção. Com o passar do tempo essas barreiras comerciais foram desaparecendo junto com uma maior flexibilidade do regime cambial, apesar de seguirem como as mais elevadas entre os países 10 em desenvolvimento. Apesar da evolução das tarifas comerciais ser positiva para o ingresso de Investimentos Estrangeiros Diretos no país, a corrupção segue em níveis considerados ainda muito elevados. Porém, mesmo com a liberalização econômica, o crescimento industrial e das exportações na Índia ainda está aquém do potencial. Uma explicação pode vir da alta estrutura de custos que incorre no país, possivelmente em função do lento progresso de importação de tecnologia produtiva, o que prejudica a qualidade da infraestrutura disponível. A Rússia segue uma situação parecida com a chinesa, a qual o país vem de uma abertura econômica mais recente iniciada em 1989 com o fim da Guerra-Fria. Em 1993, o presidente Putin precipitou o ingresso do país na OMC, com medidas favoráveis ao livre comércio e à abertura econômica. O país possui vasta área territorial em dois continentes (Ásia e Europa), com notável abundancia de recursos naturais, além de uma demanda por consumo de aproximadamente 150 milhões de pessoas. A força de trabalho pode ser considerada bem especializada, o que contribui para um melhor aproveitamento quanto ao processo de transferência tecnológica. Com o governo de Putin veio também uma notável estabilidade econômica, proporcionando um ambiente adequado à promoção de novos investimentos. Os riscos político e macroeconômico tiveram significante redução em função da evolução da liberalização econômica e da estabilidade do ambiente legal. É possível observar também uma pequena redução no nível de corrupção, se comparado ao dos demais países, e alguns estímulos para o setor financeiro. Porém, ainda existem problemas significantes quanto à ineficiência do governo em garantir o enforcement e em sua matriz energética. A matriz energética do país depende da importação de petróleo, deixando assim sua economia desprotegida quanto às oscilações em seus preços. A Rússia também apresenta consideráveis problemas de financiamento público, por não possuir um sistema financeiro bem desenvolvido e alto índice de corrupção. 3. Metodologia Para dar seqüência ao estudo, serão utilizadas ferramentas econométricas e estatísticas para testar a relação de causalidade entre as variáveis. O teste a ser executado será o de Causalidade de Granger, através do software Eviews. Para melhor entendimento ver Granger (1969). Esse teste detecta a presença de causalidade Granger entre as variáveis em estudo. 11 Portanto, se for detectado que o Investimento Estrangeiro Direto causa, no sentido de Granger, o crescimento econômico, então, uma variação no nível de IED ocasionará uma mudança no nível de crescimento econômico. O mesmo vale caso seja detectada uma relação de causalidade Granger inversa, onde o crescimento econômico Granger causa o IED. Desta forma, uma variação no nível de atividade causa uma variação no IED. Para melhor análise dos resultados, o estudo também se atentará para a direção da relação de causa, caso essa exista. Portanto, caso seja observado existência de relação de causalidade onde o IED Granger causa uma variação no crescimento econômico, podemos ter uma variação positiva nos IED’s levando a um maior crescimento econômico como a uma retração no nível da atividade econômica. O mesmo vale para o crescimento econômico Granger causando o IED. O teste de Granger ainda detecta uma possível relação de feedback entre as variáveis, onde ambas as variáveis causam a outra, ou seja, uma variação na Investimento Estrangeiro Direto afeta o crescimento econômico assim como uma variação de mesmo sinal no crescimento econômico causa o mesmo aumento ou diminuição no IED. Para identificarmos a presença de sinalização de causa entre as variáveis analisaremos a correlação entre elas nos determinados países. Para realização do teste de Causalidade de Granger serão necessários dados do nível de atividade econômica e do Investimento Estrangeiro Direto nos respectivos países a serem estudados. No primeiro caso será feito uso do PIB dos respectivos países em sua primeira diferença, tomados em logaritmo, a fim de capturar a variação e, portanto, o crescimento ou retração do nível de atividade da economia em questão e também eliminar a presença de raízes unitárias, ou seja, a presença de tendências estocásticas e determinísticas, e reduzir a amplitude da série, respectivamente (Apêndice – Tabela 1). Para capturar o IED o estudo utilizará os fluxos de entrada de Investimento Estrangeiro Direto, ou seja, a soma de entrada de investimentos na economia doméstica feito pelas economias externas em unidades de dólares correntes e medido pela PPC (paridade do poder de compra), a fim de eliminar o efeito especulativo das moedas respectivas aos países em estudo, tornando a série mais adequada para o estudo. Para a coleta dos dados mencionados acima serão utilizadas as bases de dados do Banco Mundial (worldbank.com) e do estudo de Ana Flávia Bonzanini (2010). Foram coletados os dados anuais referentes ao Investimento Estrangeiro Direto no período que compreende o intervalo de 1980 até 2007 (com exceção da Rússia, cujos dados são de 1994 até 2007), e dados referentes ao Produto Interno Bruto no mesmo período de tempo, ou seja, de 1980 a 2007 (com exceção da Rússia, cujos dados são de 1994 até 2007). A explicação 12 para o inicio da série se dar em 1980 é a escassez de dados disponíveis e confiáveis nas literaturas e nas bases de dados acessíveis. Ainda, principalmente por parte da Rússia, foi encontrada grande dificuldade da obtenção dos dados em razão do antigo regime político, que monopolizava e manipulava os dados a fim de causar efeitos positivos em sua economia. Essa omissão e falta de transparência levou grande parte dos bancos de dados a divulgarem apenas dados do período pós-queda do Muro de Berlim (fato histórico que representa o final da Guerra Fria e, consequentemente, o inicio do processo de abertura econômica dos países da extinta União das Repúblicas Socialistas Soviéticas – URSS). Visando obter resultados robustos, será realizado um teste prévio ao de causalidade com o intuito de detectar a possível presença de raízes unitárias nas séries obtidas. O teste utilizado será o teste proposto por Dickey e Pantula (1987) e, em caso de haver presença de uma ou mais raízes unitárias nas séries, elas serão transformadas em estacionárias tomando-se sua primeira diferença ou mais, dependendo da necessidade verificada. 4. Análise Descritiva A base de dados dessa monografia consiste nas séries históricas do PIB e do IED em dólares correntes, ponderados pela PPC, dos 5 países em estudo: África do Sul, Brasil, China (inclusive Hong Kong e Macau), Índia e Rússia . Com esses dados foram medidas as respectivas correlações entre as variações das variáveis de cada país em diferentes períodos de tempo. Correlação PIB - IED Brasil China Índia Rússia África do Sul Correlação (1981 -0,5344 -0,5487 -0,3030 -0,2437 - 2007) Correlação (1994 -0,3040 0,2965 0,1650 -0,0989 -0,0522 - 2007) Correlação (1981 - 2007) * 0,1671 * 0,0515 *PIB em t e IED em t+1 Correlação (1995 - 2007) * 0,2199 * 0,2727 -0,0275 *PIB em t e IED em t+1 Correlação (1981 – 2007) 0,1624 * -0,2193 0,0515 *PIB em t+1 e IED em t Correlação (1995 – 2007) -0,5006 * -0,2278 0,1564 0,0199 *PIB em t+1 e IED em t *Os coeficientes de correlação foram omitidos pois são insignificantes segundo os testes realizados. 13 Da tabela acima é possível concluir que as variáveis, se olhadas no mesmo período de tempo entre 1980-2007, possuem razoável relação negativa. Porém, se olhadas no período de 1994-2007 apenas Brasil, China e Índia possuem alguma relação entre as variáveis, sendo que somente o Brasil apresentou razoável correlação negativa, contrário à China e Índia, que apresentaram pequena correlação positiva. Essa distinção entre os intervalos e seus resultados se explica principalmente em função da mudança nas políticas adotadas e dos choques macro e microeconômicos, como já discorrido no item 2 dessa monografia. Porém, ao olharmos as correlações entre o PIB no período corrente e o IED um ano a frente, podemos notar uma relação positiva entre as variáveis (ainda que pouco significante), com exceção da Índia entre 1981-2997 e da África do Sul de 1995 e 2007. Isso pode ser interpretado como uma possível existência de relação de causalidade, onde o crescimento econômico leva a um crescimento do IED. Ainda da tabela acima, temos que o PIB um ano a frente e o IED no ano corrente apresentam correlação negativa para o Brasil principalmente, ou seja, relação negativa onde um crescimento do IED causa uma queda do PIB do ano seguinte ou, uma queda no IED causa um aumento do nível de atividade. A mesma relação pode ser observada com menos evidência para a Índia. Já a África do Sul só apresenta alguma correlação significante na primeira análise, nas demais as correlações são todas insignificantes, ou seja, quase não existe correlação entre as variáveis. 5. Análise Econométrica Nesta seção será utilizado o teste de Causalidade de Granger a fim de testar se uma variação no PIB dos países estudados é capaz de prever uma mudança no fluxo de IED e se uma variação no IED prevê uma mudança no nível de atividade econômica. O resultado desse teste pode ser observado abaixo: País África do Sul Brasil China Hipótese Nula PIB não Granger causa FDI IED não Granger causa PIB PIB não Granger causa FDI IED não Granger causa PIB PIB não Granger causa FDI Estatística F 0.96985 147.823 0.05316 316.751 122.615 p-valor 0.4155 0.2785 0.9484 0.0638 0.0004 14 Índia Rússia IED não Granger causa PIB PIB não Granger causa FDI IED não Granger causa PIB PIB não Granger causa FDI IED não Granger causa PIB 0.71530 0.50224 288.563 0.78291 0.05565 0.5018 0.6126 0.0792 0.4988 0.9464 Da tabela acima tirada do software Eviews, podemos tirar as devidas conclusões analisando os p-valores. Nos testes em que o p-valor é inferior a 0,1 – ou seja, ao nível de significância adotado – temos que a hipótese nula é rejeitada, isto é, existe relação de causalidade entre as variáveis estudadas. Já naqueles em que o p-valor é superior ao nível de significância de 10% escolhido, temos que as hipóteses nulas não são rejeitadas, o que indica a inexistência de relação de causalidade entre as séries. Foram encontradas as seguintes relações de causalidade: • Brasil – a hipótese nula rejeitada é a de que o IED não causa, no sentido de Granger o PIB, ou seja, uma variação na evolução do IED leva a uma alteração no crescimento do PIB. Porem, não é possível concluir o contrario assim como não podemos observar a presença de relação de feedback; • China - a hipótese nula rejeitada é a de que o PIB não causa, no sentido de Granger o IED, ou seja, uma variação na evolução do PIB leva a uma alteração no crescimento do IED. Também não foi possível concluir o contrário assim como não podemos observar a presença de relação de feedback; • Índia - a hipótese nula rejeitada também é a de que o IED não causa, no sentido de Granger o PIB, ou seja, uma variação na evolução do IED leva, da mesma forma que no Brasil, a uma alteração no crescimento do PIB. O contrário não é observado, assim como não há presença de relação de feedback; Não foi possível observar relação de causalidade para Rússia, o que já era esperado, uma vez que a base de dados para Rússia apresenta grande defasagem de dados, além de os números serem pouco confiáveis. O mesmo resultado negativo do teste pode ser observado para a África do Sul, o que pode ser explicado em parte pela ausência de correlações incondicionais consideráveis entre as séries e pelo comportamento das variáveis não possuir o 15 mesmo dinamismo que o observado para os demais países (gráficos 1 e 3), mesmo com as informações vistas na seção 2 dessa monografia. 6. Análise dos Resultados Para um entendimento mais completo dos resultados do teste econométrico feito na seção anterior e da tabela de correlações incondicionais da seção 4, o estudo apresentará na presente seção uma análise mais detalhada no que diz respeito às particularidades dos resultados encontrados para cada país. Assim, para os países que foram detectadas presença de relação de causalidade entra as variáveis (Brasil, China e Índia) será discutida e explicada a sinalização do efeito. O resultado do testes de Causalidade de Granger para Brasil junto com a tabela de correlações já apresentada nos permite concluir que há uma relação de causalidade entre IED e PIB, onde uma variação no IED causa uma variação de sinal oposto no PIB, uma vez que o coeficiente de correlação observado é de -0,5344 para o intervalo de 1980 a 2007, e de 0,3040 para o período de 1995 a 2007. Essa sinalização negativa pode se dar em razão dos investimentos estrangeiros se direcionarem para um setor cujos insumos para a produção devem vir de outras economias por meio de importações. Como é o caso das montadoras de automóveis por exemplo. Da mesma maneira, uma variação no IED no ano corrente causa uma mudança de sinal oposto no PIB do ano seguinte, dado uma correlação de -0,5006. Uma explicação plausível e com fundamentos econômicos para os resultados observados para o Brasil é a de que uma entrada de investimentos no país leva a uma posterior valorização da moeda local, prejudicando assim a conta corrente do país. O volume das exportações fica comprometido e o das importações aumenta, gerando uma perda considerável para a indústria local e para o crescimento. A mesma relação de causalidade pode ser observada para a Índia, onde o IED causa, no sentido de Granger, o PIB. Porém, segundo a tabela de correlações, a sinalização muda no período pós reformas liberais, passando a ser positivo o efeito do IED no crescimento com uma correlação de 0,1650 (correlação fraca). Na Índia, o principal motivo para essa correlação de -0,3030 entre as variáveis no período de 1980 a 2007 deve ser a corrupção em excesso e o baixo nível de educação observado para sua extensa população (segunda maior do mundo). Com isso, as empresas buscam tirar proveito dos baixos custos de mão de obra, sem 16 que haja benefícios para o crescimento econômico do país. A mudança de sinalização no período pós reformas pode vir de incentivos ao setor em que o país apresenta vantagens comparativas consideráveis, como o de tecnologia da informação por exemplo, onde os investidores estrangeiros tiram proveito da mão de obra disponível e das tarifas reduzidas para o setor de serviços. As correlações de -0,2193 e -0,2298 entre o IED no ano corrente e o PIB no ano seguinte muito provavelmente se dão em função da variação cambial que esse fluxo proporciona, como acontece no Brasil. Os resultados observados para a China são contrários aos de Brasil e Índia. No caso Chinês é possível observar uma relação onde o PIB motiva o IED com uma sinalização negativa para o período de 1980 a 2007, com correlação de -0,5487, e positiva para os demais períodos, correlação de 0,2965 entre 1995 e 2007 e de 0,1671 e 0,2199 para a relação entre o PIB corrente e o IED um ano a frente entre 1980 e 2007 e 1995 e 2007 respectivamente. Por se tratar de uma economia ímpar, com todas as suas particularidades, esses resultados para a China tornam-se mais difíceis de serem interpretados com alguma precisão. O que fica claro nos dias de hoje é que o país vem apresentando exorbitantes taxas de crescimento, além de uma considerável evolução do mercado consumidor e detrimento ao aumento de renda das famílias. Essa parece ser uma boa explicação para o coeficiente positivo de 0,2965 para o período entre 1995 e 2007. 7. Conclusão O presente estudo buscou identificar e entender, por meio do teste de causalidade proposto em Granger (1969) e da análise estatística dos coeficientes de correlação incondicionais, a presença de possíveis relações de causalidade entre o crescimento econômico dos principais países em desenvolvimento (BRICS) e a variação no fluxo dos Investimentos Estrangeiros Direto. Esse estudo objetiva propor possíveis políticas de atração ou repulsão para esses investimentos dependendo da relação causal entre as variáveis, sempre visando maior crescimento econômico sustentável. Assim como em Blomström (2003), onde o autor conclui que o incentivo ao fluxo de entrada desses investimentos é benéfico somente para aquelas atividades que criam um forte potencial de transferência tecnológica e de conhecimento, os resultados dessa monografia 17 também evidenciam que os IED’s devem atingir determinados setores para que possam gerar benefícios a economia doméstica. Do contrário, como foi possível observar, tais investimentos acabam exercendo efeitos opostos aos esperados no crescimento dessas economias. Dessa forma, é possível concluir que é necessária uma maior regulação da entrada desses investimentos nas economias em desenvolvimento, a fim de impossibilitar que essas companhias estrangeiras estabeleçam seu capital somente com o intuito de se aproveitar dos menores custos de produção, da fraca concorrência e do menor grau de enforcement do judiciário. Portanto, políticas de incentivo aos IED’s devem vir de forma gradual, com acompanhamento do efeito gerado na economia do país e com investimentos no estoque de capital humano para que haja maior transferência tecnológica e de conhecimento para a economia local culminando em uma variação positiva do crescimento dessas economias. 8. Referências Bibliográficas BLOMSTRÖM, Magnus; KOKKO, Ari. (2003). “The Economics of Foreign Direct Investment Incentives.” Working Papers 168. CALDERÓN-ROSSELL, Jorge. (1985). “Towards the Theory of Foreign Direct Investment.” Oxford Economic Papers 37, 282-291. GLASS, Amy J. and SAGGI, Kamal. (1999). “Foreign Direct Investment and the Nature of R&D.” Canadian Journal of Economics 32, 92-117. GRANGER, C.W.J. (1969). “Investigating causal relations by econometric models and crossspectral methods.” Econometrica, 424-438. GROSSMAN, M. and HELPMAN, E. (1990). “Comparative advantage and long-run growth.” American Economic Review, 796-815. GROSSMAN, M. and HELPMAN, E. (1991). “Innovation and growth in the global economy.” Cambridge, Mass. 18 GROSSMAN, M. and HELPMAN, E. (1992). “Trade, knowledge spillovers, and growth.” European Economic Review (Papers and Proceedings), 35, 517-526. HINES, J.R. (1994). “Taxes, technology transfer and the R&D activities of multinational firms.” NBER Working Papers 4932. SAGGI, Kamal. (2002). “Trade, Foreign Direct Investment and International Technology Transfer: a Survey.” Banco Mundial, v. 17, n. 2, 191-235. WALZ, Uwe. (1997) “Innovation, Foreign Direct Investment and Economic Growth.” New Series, v. 64, n. 253, 63-79. 19 9. Apêndice Tabela 1 - Testes de Dickey-Fuller aumentado para as séries FDI e PIB dos países Série Hipótese Nula Estatística t p-valor lnPIB Brasil lnPIB Brasil tem raiz unitária -2.013.651 0.5680 lnPIB China lnPIB China tem raiz unitária -3.013.329 0.1542 lnPIB India lnPIB India tem raiz unitária -0.628477 0.9687 lnPIB Russia lnPIB South Africa lnPIB Russia tem raiz unitária lnPIB South Africa tem raiz unitária -0.962135 0.8919 lnFDI Braisl lnFDI Brasil tem raiz unitária -3.313.580 0.1975 lnFDI China lnFDI China tem raiz unitária -3.927.162 0.1343 lnFDI Índia lnFDI India tem raiz unitária -2.189.008 0.4669 lnFDI Rússia lnFDI Russia tem raiz unitária lnFDI South Africa tem raiz lnFDI South unitária Africa Gráfico 1 – Evolução do PIB 0.910952 0.9996 -1.936.069 0.5794 -3.807.375 0.1406 Conclusão Não Rejeita a Hipótese Nula Não Rejeita a Hipótese Nula Não Rejeita a Hipótese Nula Não Rejeita a Hipótese Nula Não Rejeita a Hipótese Nula Não Rejeita a Hipótese Nula Não Rejeita a Hipótese Nula Não Rejeita a Hipótese Nula Não Rejeita a Hipótese Nula Não Rejeita a Hipótese Nula 20 Gráfico 2 – Variação do PIB 21 Gráfico 3 – Evolução do FDI 22 23