UNIVERSIDADE FEDERAL DE RORAIMA CENTRO DE CIÊNCIA HUMANA – CCH CURSO DE HISTÓRIA ANTONIO RAFAEL DE CASTRO RIO AMAZONAS NO JORNAL O CATECHISTA DE MANAUS: UMA IMPRENSA VINCULADA AOS INTERESSES DA POLÍTICA EXTERNA DO IMPÉRIO DO BRASIL- (1860 – 1870) Boa Vista/ RR 2014 ANTONIO RAFAEL DE CASTRO RIO AMAZONAS NO JORNAL O CATECHISTA DE MANAUS: UMA IMPRENSA VINCULADA AOS INTERESSES DA POLÍTICA EXTERNA DO IMPÉRIO DO BRASIL- (1860 – 1870) Monografia apresentada como requisito para obtenção do título de graduação, no curso de Bacharel e Licenciatura em História Universidade Federal de Roraima. Orientador: Profº Dr. Américo Alves de Lyra Jr. Boa Vista/RR 2014 da Dados Internacionais de Catalogação na publicação (CIP) Biblioteca Central da Universidade Federal de Roraima C355r Castro, Antonio Rafael de. Rio Amazonas no jornal o catechista de Manaus : uma imprensa vinculada aos interesses da política externa do Império do Brasil – (1860-1870) / Antonio Rafael de Castro. – Boa Vista, 2014. 60 f. : il. Orientador: Prof. Dr. Américo Alves de Lyra Jr. Monografia (graduação) – Universidade Federal de Roraima, Curso de História. 1 – Abertura do Rio Amazonas. 2 – Análise do discurso. 3 - Escola Francesa de Relações Internacionais. 4 – Jornal O Catechista. I Título. II – Lyra Jr., Américo Alves de (Orientador). CDU – 981.04 ANTONIO RAFAEL DE CASTRO RIO AMAZONAS NO JORNAL O CATECHISTA DE MANAUS: UMA IMPRENSA VINCULADA AOS INTERESSES DA POLÍTICA EXTERNA DO IMPÉRIO DO BRASIL- (1860 – 1870) Monografia apresentada como requisito para a obtenção do título de Graduação, no Curso de Bacharelado e Licenciatura em História da Universidade Federal de Roraima – UFRR, defendida em 22 de janeiro de 2014 e avaliada pela seguinte banca examinadora. _________________________________ Profº Dr. Américo Alves de Lyra Júnior Departamento de Relações Internacionais/UFRR Orientador _________________________________ Profª Msc. Márcia d’Acampora Departamento de História/ UFRR Membro _________________________________ Profº Dr. Alfredo Ferreira de Souza Departamento de História/ UFRR Membro _________________________________ Profº. Nélvio Paulo Dutra dos Santos Departamento d História /UFRR Suplente AGRADECIMENTO A pesquisa histórica, por definição, é uma atividade solitária que requer horas de isolamento para ser realizada a contento. Esta pesquisa não foi diferente, entretanto, foram várias as pessoas que tornaram este trabalho viável. Primeiramente agradeço o meu orientador, o professor Dr. Américo Alves de Lyra Júnior, pela competência intelectual e metodológica, pela paciência e generosidade em me orientar e, sobretudo, pelo exemplo ético e humano. À minha família, especialmente aos meus pais Oliveira e Maria. Ao meu irmão Leandro, sendo a minha base de sustentação ao longo dessa jornada, me apoiando as minhas decisões. A todos os meus colegas, tanto os que ingressaram comigo na graduação no ano de 2009, quanto os que conheci ao decorrer do curso. RESUMO A questão da livre navegação do Rio Amazonas compôs um ponto importante da política externa brasileira na segunda metade do século XIX. O desenrolar dessa questão adquiriu grande importância para o país e, principalmente, para a região amazônica. Nesse sentido, tornou-se necessário a adoção de políticas que visassem fazer frente ao risco de perda da soberania da região, então ameaçada pelo imperialismo das grandes potências mundiais da época. A inserção da região no contexto político e econômico nacional e internacional, seria uma resposta a essa ameaça. A presente monografia tem como tema central a abertura do rio Amazonas à navegação internacional, através da imprensa escrita, no caso o jornal O Catechista. O apoio teórico para análise dessa fonte primaria, foi Análise do Discurso de influência francesa Michel Pêcheux e a categoria do silêncio de influência, de Eni Orlandi. Palavras-Chave: Abertura do Rio Amazonas; Análise do Discurso; Escola Francesa de Relações Internacionais; Jornal O Catechista. SUMÁRIO INTRODUÇÃO______________________________________________________ 8 Capitulo I Escola Francesa de Relações Internacionais e Análise de Discurso: referenciando estudos amazônicos___________________________________ 11 1.1 A Escola Francesa _______________________________________________12 1.2 Forças Profundas________________________________________________13 1.3 Sistem Internacional europeu: pentarquia______________________________14 1.4 Análise do Discurso da Fonte da Primaria: apreciação do discurso: o silêncio _15 1. 5 O Silenciamento como Política do Discurso___________________________ 16 Capitulo II O Mundo em Perspectiva Global: pax britânica, expansão americana e a região amazônica_______________________________________________18 2.1 Expansão Americana: territorial_____________________________________ 22 2.2 Expansão Americana: econômica ___________________________________24 2.3 A Região Amazônica: a fase de expansão da borracha__________________ 27 2.4 As Pretensões Estrangeiras no Rio Amazonas_________________________ 28 Capitulo III Considerações Sobre a Imprensa Nacional e Amazonense ______32 3 .1 A Imprensa Periódica como Objeto de Estudo_________________________ 32 3.2 Desenvolvimento da Imprensa ______________________________________33 3.3 A Chegada da Imprensa no Brasil___________________________________ 34 3.4 A Imprensa Amazonense no Século XIX______________________________ 36 3.5 Jornal O Catechista______________________________________________ 38 2..5.1 A Imprensa no Contexto Nacional e Amazônico: analise do jornal O Catechista_________________________________________________________40 Considerações Finais_______________________________________________53 Referências Bibliográficas___________________________________________55 8 INTRODUÇÃO A presente pesquisa monográfica busca compreender o processo de abertura do Rio Amazonas à navegação internacional por meio da imprensa escrita local (Manaus), no jornal O Catechista (1860-1870). Investigou-se o contexto regional, nacional e internacional nas décadas mencionadas, para compreender abertura do Rio Amazonas a navegação internacional. A abertura do Rio Amazonas no século XIX aparece, na historiografia, como uma disputa entre Brasil e as grandes potências do período. O Brasil, possuidor da maior parte do delta do rio teria uma postura conservadora ao afirmar que o Rio não poderia ser aberto às demais nações sob o risco de perda da soberania nacional sobre a região. Nesse sentido, deveria continuar fechado, cabendo ao Império desenvolver a região. De outro lado, estariam as nações estrangeiras, com uma postura liberal, e favorável à abertura do Rio a todos os países. Coube alguma argumentação sobre o assunto, quem deveria instituir a navegação a vapor no rio Amazonas, se esta atividade deveria ou não ser liberada para todos os países. A questão da abertura do Rio Amazonas constitui-se com um elemento importante no cenário nacional, tornando necessária a adoção de políticas que visassem fazer frente ao risco de se perder a soberania sobre a região amazônica. Estes fatores apresentavam tal seriedade que a questão acabou adquirindo posição destacada nas discussões acerca dos projetos a serem implantados na região, por exemplo, a criação da província do Amazonas e a Companhia de Navegação do Amazonas. A monografia procurou compreender o silêncio da abertura do Rio Amazonas a navegação através da imprensa. Nesse sentido, indagou-se o posicionamento do jornal O Catechista, como abordou este tema na matéria do referido período da abertura do Rio Amazonas e quais personagens foram utilizados para construção da informação. São indagações norteadoras desse trabalho. Para compreender essas questões, foram analisadas várias fontes, essencialmente primárias (imprensa), haja vista um assunto pouco pesquisado. No que concerne aos estudos sobre a questão da abertura do rio Amazonas, existem 9 trabalhos como o de Paulo Roberto Palm e Vitor Marcos Gregório em sua dissertação com o titulo Uma Face de Jano: A Navegação do Rio Amazonas e a Formação do Estado Brasileiro (1838- 1867). O interesse por esse tema surgiu no decorrer da pesquisa feita para o Programa Institucional de Iniciação Cientifica (PIC) da Universidade Federal de Roraima (UFRR), entre agosto de 2012 a julho de 2013, no projeto pesquisa intitulado “Rio Amazonas no Jornal O Catechista de Manaus: Impactos da Política Externa Brasileira – (1860-1870)”. Durante esse ano de pesquisa tinha como o objetivo compreender o processo de abertura do Rio Amazonas à navegação internacional que ocorreu na segunda metade do século XIX. Nesse sentido, optou-se por trabalhar com jornais de época distribuídos e publicados em Manaus, então recente província do Amazonas criada por uma preocupação política de assegurar a posse da região para o Império. Entende-se, igualmente, que os jornais representam o veículo de circulação de ideias e opiniões de elites que pretende fazer prevalecer seus interesses. Após um levantamento dos jornais que circularam em Manaus no período aqui estudado, chego a uma obra de referencia para quem quer trabalhar com imprensa no Amazonas, um catalogo cujo titulo “Cem Anos de Imprensa no Amazonas (1851-1950). Na escolha do jornal privilegiou-se a temporalidade de circulação, algo raro nesse período embrionário da imprensa amazonense e o fácil acesso ao material. Com o material em mãos e iniciada a pesquisa no programa institucional de iniciação cientifica, observamos um relativo silêncio em relação abertura do Rio Amazonas a navegação internacional, causando algumas inquietações sobre esse silêncio da sociedade amazonense. O porque do silêncio sobre uma questão tão importante para região, a importância estratégica que o Rio Amazonas tem para região principalmente com inicio da exploração da borracha, sendo a via de acesso entre os grandes seringais e Manaus e Belém e daí com principais centros consumidores da matéria prima no exterior. Decidi escrever a presente pesquisa, a partir das inquietações iniciadas ao longo de um ano de pesquisa, busca de dar respostas a essas inquietações sobre esse tema importante para nossa região sendo um assunto pouco trabalhado na Universidade Federal de Roraima (UFRR). 10 A monografia desenvolvida insere-se no campo histórico, Escola Francesa de Relações Internacionais. Este um campo bastante fecundo nas academias brasileiras, tratando-se de estudo das Relações Internacionais em perspectiva histórica. Esta monografia está dividida em três capítulos: no primeiro capítulo apresentamos e discutimos os conceitos que permeia a pesquisa. No segundo capítulo apresentamos o contexto regional, nacional e internacional, no qual se encontra o recorte temporal da pesquisa (1860-1870). O momento mundial com interesses e pressões internacionais sobre a região, especificamente a abertura do Rio Amazonas. Aborda-se, igualmente o interesse da Coroa brasileira em integrar a Amazônia e fortalecer a presença do Estado Imperial na região. No terceiro capítulo apresentamos a importância da imprensa periódica como objeto de estudo, a utilização da imprensa periódica como fonte para pesquisa historiográfica e por fim analisamos o silêncio do jornal O Catechista de 9 de abril de 1864 com relação a abertura do Rio Amazonas à navegação internacional. 11 Capítulo I Escola Francesa de RELAÇÕES INTERNACIONAIS e análise de discurso: referenciando estudos amazônicos Toda pesquisa necessita de um referencial teórico, via de regra, o historiador, queira ou não, tem uma teoria que subjazer o seu trabalho. Para realização desse trabalho, o campo historiográfico utilizado para a investigação e o da chamada Historia das Relações Internacionais. Este campo é bastante fecundo nas academias brasileiras. Segundo Duroselle (2000), A História das Relações Internacionais é, enfim, um campo das relações internacionais há muito consolidado, que teve as suas origens nas transformações metodológicas que subverteram as bases da construção das ciências históricas na Europa a partir da década de 1930 e que se estabeleceu como campo autônomo dos estudos em História como decorrência de um longo amadurecimento que se iniciou na França, e depois foi estendido por toda a Europa e nos Estados Unidos. Na década de 1920, os historiadores Lucien Febvre e Marc Bloch, fundaram a Revistas dos Annales. Renouvin trabalhando paralelamente aos esforços desses renovadores, recusando-se a deixar levar unicamente pelos documentos revelados pelos arquivos diplomáticos, decide colocar sua produção sob o símbolo da “história global” ou. “forças profundas1”. Pierre Renouvin foi um historiador francês especializado na História das Relações Internacionais e representa a transição entre a história diplomática tradicional e a história das Relações Internacionais. Renouvin enfoca não somente o papel do Estado e a pesquisa nos arquivos diplomáticos, mas também a história econômica e social, a história das idéias e das instituições. 1 A Escola Francesa inaugurou boa parte dos conceitos presentes nas Relações Internacionais. Conceitos de Forças Profundas de Pierre Renouvin partindo da premissa histórica estabeleceu um novo enfoque aos estudos de Relações Internacionais, a influência das Forças Profundas nas diversas relações entre os Estados, como também nos grupos humanos, pois estas movimentam a história. 12 O que distingue, antes de qualquer coisa, os textos de Pierre Renouvin é uma vontade de ultrapassar os limites da história política tradicional, na qual se comprazia ainda grande parte da história diplomática elaborada nas universidades e academias, recusando-se a deixar levar unicamente pelos documentos revelados pelos arquivos diplomáticos. No Brasil, no inicio, havia um preconceito com a História das Relações Internacionais, não raro, confundiam com a história diplomática, a partir da década de 1970 supera esse resquício e torna mais numeroso os trabalhos, muito embora existissem uma razoável produção acadêmica que trata da historiografia, mas na década de 1990 é que dá um salto.(BREDA DOS SANTOS: 2005). 1.1 A ESCOLA FRANCESA Segundo Saraiva (2007, p.10) “A evolução do conhecimento adquirido levou os franceses, fundadores da primeira escola da história das Relações Internacionais, a assistirem à profusão, em ritmos distintos, de novas contribuições dos países vizinhos da Europa continental, especialmente da Suíça e da Itália”. A escola francesa das Relações Internacionais está ligada diretamente ao nome de Pierre Renouvin. Sobretudo, graças aos seus trabalhos, de ter ampliado os horizontes das Relações Internacional, a partir de seus estudos realizados na universidade de Sorbonne na França na década 1930. Renouvin, não satisfez com as interpretações vigentes sobre as razões das duas guerras, da paz e das paixões que haviam alimentado um início de século tão turbulento. Essa distinção possibilitou uma nova explicação à História das Relações Internacional, no tratamento do fato internacional. Nascia o conceito de “forças profundas”, ou seja, um conjunto de causalidades sobre os quais atuavam os homens de Estados Na década de 1950 foi publicado o livro história das Relações Internacionais. A obra não tratava de escolher uma corrente de interpretação histórica e torná-la aplicável no desenvolvimento das relações internacionais. Mas o oposto, discute uma nova leitura das relações entre os povos e os problemas da vida internacional. 13 Os méritos de Renouvin advém por estabelecer uma conexão entre política internacional e política interna, os fatores de ordem política, econômica e geográfica, assim ele “rechaçou, o ponto de sustentação da história diplomática em benefício da construção de um campo novo e amplo. A explicação e a interpretação da evolução da vida internacional passavam incluir outros autores que não eram tradicionalmente considerados nos livros disponíveis”. (Saraiva, 2007, p.10). Partindo do exposto acima, a fonte primária para o trabalho analisado, é algo singular, concreto e irreversível ao tempo, que ocorreu no século XIX entre Brasil e Peru na regulamentação da livre navegação do Rio Amazonas pelos seus cidadãos. De acordo com a escola francesa das Relações Internacionais, o trabalho esta inserido no conceito de forças profundas, pois analisa uma década, onde vários fatores político e econômico atuaram na conjuntura para o processo de abertura do Rio Amazonas. E, é nesse ponto que nós historiadores nos destacamos, pois nosso enfoque é algo concreto e singular, situado em lugar e período específicos de tempo histórico. 1.2 Forças Profundas Para Renouvin (1967, p.5), as forças profundas estão ajustadas a fatores geográficos, as condições demográficas, as forças econômicas, o nacionalismo, e o sentido nacional, que explicam o evento, ocorrência ou fato internacional. Conforme será visto no segundo capítulo trabalhamos sobre as forças profundas envolvendo a abertura do Rio. Os homens de Estados, as políticas nacionais para a região, as ameaças a soberania nacional, os acordos diplomáticos com os países vizinhos e os interesses ingleses e americanos sobre a região. Ao estabelecer uma conexão entre a política internacional e os fatores políticos, econômico e geográfico observamos o contexto internacional do período de abertura do Rio Amazonas, mundo é ocidentalizado e marcado pela liderança da Grã- Bretanha com a Pax Britanica, sob um olhar de uma liderança global, essa liderança afetava os interesses de outros países e sua área de influência. A abertura do Rio era defendida pela Grã-Bretanha a maior potência do período e Estados Unidos futura potência que se consolidou no pós 2º guerra, e no 14 meio desses dois países estava o Brasil defendendo os seus interesses nacionais na região. A diplomacia trabalhou para manobrar essa situação fazendo acordos com seus vizinhos ribeirinhos, assim excluindo a participações dessas nações na região para abertura do Rio. A diplomacia brasileira conhecedora do expansionismo americano rumo ao oeste, trabalhariam em duplicidade, fazendo acordo com seus vizinhos do norte e ocupando a região com a presença do Estado, desse modo assegurando os seus interesses sobre a região. A reposta do governo foi à instalação da empresa do Barão de Mauá a companhia de Navegação e Comércio do Amazonas e assim ganharia tempo para futuros acordos. Sistema Internacional europeu: pentarquia Oriunda do Congresso de Viena, sob a forma de uma hegemonia coletiva, a organização dos Estados europeus do século XIX ficou conhecida como Concerto Europeu. Em teoria, os cincos grandes (Grã-Bretanha, Rússia, Áustria-Hungria, Prússia e França) haveriam de implantar a diplomacia de conferências e entender-se sobre grandes questões da política internacional. (Saraiva, 2007, p. 49) s culo Estados, sob I o assinalou a estabilização do sistema europeu de arcabouço de um equilíbrio multipolar din mico. A derrota da França napole nica deu origem a uma geometria pentagonal, baseada no poderio da rã- retanha, da rança, da r ssia, da ustria- ungria e da R ssia. Essa estrutura multipolar forneceu as bases do funcionamento de um sistema basicamente restrito ao espaço europeu no século XIX, com exceção da Grã-Bretanha. equilíbrio geopolítico europeu do s culo I , a rã-Bretanha encontrava-se no centro desse processo, principal pot ncia econ mica da Europa e do mundo. A estabilidade din mica da cena europ ia, perturbada por conflitos que não chegavam a ameaçar o sistema no seu conjunto, garantiu ambiente da “ a rit nica”. A favorável para a constituição do Imp rio brit nico e rã- retanha temia a emerg ncia de uma pot ncia capaz de ameaçar seus interesses internacionais. Sua segurança repousava no equilíbrio 15 entre os Estados do continente europeu, essa situação fazia que as várias ameaças se anulassem mutuamente. 1.3 Análise do Discurso da Fonte Primária APRECIAÇÃO DO DISCURSO: O SILÊNCIO. Para ampliar base de analise, a base teórica foi a escola francesa da análise do discurso de Michel Pencheux e Eni Orlandi acerca do silêncio. Eni Orlandi é pioneira sobre o papel do silêncio no discurso. Nesta monografia, analise da fonte primaria, jornal O Catechista, consiste, sobretudo, em abordar o silêncio do referido jornal, em relação abertura do rio Amazonas à navegação internacional, onde se observa a não participação da sociedade local nessa noticia. Utilizando a análise do discurso como metodologia para analisar a fonte e optamos pela categoria do silêncio. Surgido no contexto francês no final da década de 1960, a Análise do Discurso como campo teórico e analítico foi fundada por Michel Pêcheux2, em sua tese "Analyse Automatique du Discours" em 1969. No Brasil uma das principais pensadores dessa área, Eni Puccinelli Orlandi, notável pesquisadora da análise do discurso, ampliou os horizontes da disciplina ao envolver o “silêncio” no campo epistemológico. Para Orlandi (2007), “o silêncio é uma posição em que o sujeito se insere no sentido. Há sentido no silêncio”. O silêncio do mesmo modo que o sentido, não está vazio de significação. O silêncio não é ausência de sons e palavras, ele é sons e palavras. Segundo Orlandi (2007), em sua obra: As Formas do Silêncio no Movimento dos Sentidos, o silêncio é disperso e continuo e é essa continuidade que permite ao sujeito se mover nos variados sentidos, o silêncio tem significado próprio, ele é o próprio significado. A autora situa o silêncio em posição fundamental e indissociável ao discurso. Conforme Orlandi (2007) existem diferentes formas de silêncio. 2 Michel Pêcheux (1938-1983) é considerado uma das figuras mais importantes da Análise do Discurso Francesa. 16 O silêncio fundador: significa garantia do movimento de sentidos, que é necessário e não originário, função da relação da língua com a ideologia, porque sempre se diz a partir de uma totalidade histórica, no qual são produzidas todas as representações do mundo, todas as espécies de crenças e de conhecimentos. O silêncio constitutivo: indica que para dizer é preciso não-dizer, e que é a inserção dos sujeitos discursivos nas formações discursivas historicamente determinadas que dão sentidos ao dizer. Ao dizer algo, apagamos outros sentidos possíveis, mas indesejáveis, em uma situação discursiva dada. É esse silêncio constitutivo que trabalha os limites e a constituição das formações discursivas determinando os limites do dizer. Isso mostra que o dizer e o silenciamento são inseparáveis. No silêncio local: o sujeito é impedido pela censura de dizer o que pode ser dito, produzindo um enfraquecimento de sentidos. A censura, produzindo efeitos de falar e silenciar tem materialidade lingüística e histórica. O silêncio constitutivo é chamado por Orlandi de política do silêncio, pois trabalha com o dito e não dito. O silêncio do jornal O Catechista esta vinculada entre estreita linha do dizer e não dizer ou seja um silenciamento. 1.4 O silenciamento como Política do Discurso A Análise do Discurso do silenciamento permite que se pense não só os dizeres e os discursos, mas tamb m os “não-ditos”. “a política do silêncio local se define pelo fato de que ao dizer algo apagamos necessariamente outros sentidos possíveis, mas indesejáveis, em uma situação discursiva dada” (ORLANDI, 2007, p. 73). O jornal O Catechista, por exemplo, na sua discussão dada a noticia não aparecem às vozes dos grupos locais. Conforme Carneiro (Orlandi apud Carneiro, 2013, p. 24) assim explica o silêncio: O silêncio pode ser pensado como respiração da significação, lugar de recuo necessário para que o sentido faça sentido. É o silêncio como horizonte, como iminência [...]. Silêncio que indica que o sentido pode ser outro. Mas há formas de silêncio que indica as palavras que falam por elas, que as calam. 17 Conforme a citação acima o jornal O Catechista de 9 de abril de 1863, as palavras utilizadas na noticia não tinham a participação local, essas palavras não falam os pensamento da sociedade, ou seja as palavras que as calam. O silêncio da elite3 sobre abertura do rio Amazonas a navegação internacional. Isso é possível de perceber ao ler o jornal, quando em momento alguns a noticia é discutida ou trabalhada com a sociedade. Essa noticia recebeu de certa forma um tratamento diferenciado em relação às outras noticias. Quanto menciono um tratamento diferenciado, trata-se de que em outros assuntos tinham a participação de pequenos grupos locais. Essa noticia foi discutida por autores exógenos, onde a participação local não foi ouvida, sendo assim prevaleceram à idéia externa, atores locais não se posicionaram, levando nos a pensar, que nesse momento, a província do Amazonas não tinha força suficiente no parlamento para defender seus interesses. O artigo VI § único do decreto 3.212, reforça a ideia da exclusão da sociedade local na elaboração do decreto. “o pessoal das referidas mesas poderá somente ser alterado pelo ministro da fazenda, como exigir o bem do serviço publico”. Uma escolha feita pelo um cidadão local para administrar as mesas não representaria o bem do serviço publico, alijando da sociedade participação de escolher os representantes para ocupar os cargos mais importantes. A distância para percorrer entre a capital Rio de Janeiro e esses entrepostos alfandegário poderiam facilmente chegar 6 meses, e qualquer medidas tomada em relação aos administradores da mesa poderia deixar por um longo período sem funcionamento os entrepostos. Em outras províncias, por exemplo, São Paulo, Rio de Janeiro, Minas gerais e Rio Grande do Sul as elites locais posicionavam suas idéias e projetos políticos através da imprensa, onde muita vez comententavam as decisões do Império. Algo que não ocorreu com o objeto de estudo no jornal analisado. 3 Definição de Elite, segundo a qual, em toda a sociedade, existe, sempre e apenas, uma minoria que, por várias formas, detentora do poder, em contraposição a uma maioria que dele está privada. Segundo Mosca e Pareto, os precursores da teoria das elites. Que toda sociedade seja divididos em governantes e governados e os governantes sejam uma minoria. Temos então dois estratos numa população: 1) um estrato inferior, a não - elite; 2) um estrato superior, a elite dividida em dois: a) a elite governante; b) a elite não governante. (BOBBIO; MATTEUCCI e PASQUINO; 2009, p. 384) 18 CAPITULO II O MUNDO EM PERSPECTIVA GLOBAL: PAX BRITANICA, EXPANSÃO AMERICANA E A REGIÃO AMAZONICA Visto em uma perspectiva de longa duração4, a década de 1860 foi um divisor de águas na História das Relações Internacionais. Pode-se afirmar que a configuração do mundo atual tem seu esboço inaugural naquela década. Como sugere Demétrio Magnoli (2006, p.234), a sociedade ocidental do século XXI tem maiores semelhanças com a de 1860 porque o avanço tecnológico, em todas as suas perspectivas, as aproxima. Ainda de acordo com Magnoli (2006, p. 238) até 1840, a sociedade experimentava um ritmo mais lento do que em 1860. As comunicações na década de 1840 baseavam-se em viagens terrestres feitas à base de tração animal. Os barcos eram movidos pela força dos ventos e havia carência de domínio da tecnologia do ferro, impossibilitando o recurso das ferrovias. Essa novas tecnologias deram um novo jeito às relações humanas. Nesse sentido, as mudanças culturais, econômicas e políticas foram extraordinárias e, como sugere Martin (2006, p.234), a conclusão de que a história contemporânea começa nesse período não é exagerada. As principais mudanças deram-se em termos de comportamento e ritmo da vida diária a partir daquelas transformações tecnológicas, então oriundas da Segunda Revolução Industrial5. Martin (2006, p.234) compreende a década de 1860 como sendo aquela em que a humanidade vivenciou ajustes que precederam o nascimento da sociedade atual, a denominada “sociedade urbano-industrial”. 4 História de longa duração é um conceito que se refere ao tempo. O tempo passa de forma diferente em referência à relação do homem com meio ambiente, suas formas de pensar, agir e perceber a sua realidade, como algo lento, quase não muda, ou seja, são de longa duração. 5 A Segunda Revolução Industrial ocorreu entre 1860 -1900 e, ao contrário da primeira, não ficou restrita à Inglaterra. Países como Estados Unidos, Alemanha, França, Rússia e Itália também se industrializavam. O emprego do aço, a utilização da energia elétrica e dos combustíveis derivados de petróleo, a invenção do motor a explosão, da locomotiva a vapor e o desenvolvimento de produtos químicos, são próprios desse período. 19 Nas Relações Internacionais6, o século XIX tem relevância em função de fatos que contribuem para a compreensão do presente. Entre eles, destacam-se o Congresso de Viena e a Pax Britânica. O primeiro representa um fórum de decisões dos líderes mundiais que, uma vez feitas, perduram por quase meio século configurando uma ordem global. Reforça-se que o colapso do Império Napoleônico animou forças contra revolucionária a partir de nações participes das alianças que derrotaram as pretensões de conquista dos franceses. Nesse contexto, surge o Congresso de Viena para resolver questões emergenciais do pós-guerra e esboçar novos arranjos de poder para as relações internacionais. Dos vários objetivos contemplados, o principal era o de evitar a hegemonia de uma única potência sobre a Europa, tornando o continente uma força coesa na política mundial. Dos demais objetivos do Congresso de Viena, frisam-se o de refazer o mapa econômico e político europeu, com a partilha do continente entre os quatro grandes (Inglaterra, Rússia, Áustria e Prússia) aos quais logo se incorporou a França. A ideia fundamental desse arranjo, com a inclusão da França, era a legitimação de políticas de intervenção de modo concertado, não se admitindo exercícios de hegemonia individual. Desse modo, o Congresso de Viena foi relativamente bem-sucedido. O Congresso garantiu o equilíbrio de força no continente europeu por cerca de quatro décadas. Para Antonio Carlos Lessa (2008, p. 55), o Congresso de Viena representou o primeiro entendimento das potências como um condomínio de poder. Nessa perspectiva, propunha-se a manutenção da paz a partir do equilíbrio entre as potências européias para a estabilidade e gestão negociada das relações internacionais em nível global. Dessa forma, o exercício da hegemonia coletiva era flexível e móvel. Cada Estado era entendido como ente de interesse próprio. Por exemplo, GrãBretanha e França agregaram à política internacional seus interesses econômicos através do liberalismo comercial. Já as três monarquias absolutistas (Rússia, Prússia e Áustria), baseavam-se em doutrinas arcaicas e do direito divino dos príncipes, então desejosos por recuperar poderes. (SARAIVA, 2008, p.53) 6 Usa-se Relações Internacionais em maiúsculo para designar a ciência que tem as relações internacionais entre os países com o objeto de Estado 20 A configuração internacional, ao término do Congresso de Viena, tem as seguintes características. A Grã-Bretanha emerge como a grande potência hegemônica7 mundial, com o controle do comércio marítimo e compartilhando o equilíbrio de poder8 na Europa com a Rússia, Prússia, França e Áustria. Como observa Pereira e Visentini (2010, p. 59), a Grã-Bretanha consolidou sua hegemonia internacional através de um sistema baseado no equilíbrio de poderes na Europa. O objetivo foi atingido pelo Congresso de Viena. A predominância britânica sobre o sistema mundial, consagrada com a Pax Britânica, colocou o país em posição até então não obtida por outra nação. A Grã-Bretanha distinguia-se das demais nações europeias por vários fatores. Sua posição geográfica insular, superioridade econômica e marítima, política liberal e oficina do mundo9, sendo a primeira nação a se industrializar. A sua economia industrial tornou-se imbatível, que se consolidou nesse período como o centro econômico do planeta. Londres, como o grande centro econômico e financeiro do mundo, aprendera a enxergar o equilíbrio de poder com os olhos de uma potência global no decorrer desse período. Levava em conta a presença e a expansão pelo globo. A Grã- Bretanha considerava a sua presença e a expansão pelos quatro cantos do planeta e, particularmente, preocupava-se com a sua própria expansão econômica, enquanto as demais potências europeias permaneceram obcecadas com a lógica das compensações de influências no teatro europeu. O país tornou-se o centro do crescimento de uma economia global integrada a partir da década de 1840, incorporou gradualmente as demais regiões do planeta (LESSA, 2008, p.5556). Sendo assim, a Grã-Bretanha era fiel dessa balança de poder e o acesso dos países europeus ao resto do mundo dependia da boa vontade britânica. 7 “O uso do termo ‘hegemonia’, informa que alguma potência ou autoridade num sistema pode ‘escrever as leis’ sobre operação do sistema, ou seja, determinar em alguma medida as relações externas entre Estados-membros enquanto os deixa internamente independente”. (WATSON, 2004, p.29) 8 Mesmo no Equilíbrio de Poder europeu, a Grã- Bretanha possuía uma posição mais destacada do que estes outros países devidos o seu poder político-econômico e, ao longo do século XIX, construiu sua hegemonia que ficou conhecida como Pax Britanica, designa um período compreendido entre 1840-1870. Período em que o poder político, econômico e militar da Grã-Bretanha estabeleceu as bases de uma nova ordem mundial. 9 Pereira e Visentini, (2010, p 59) ao firmar que a Grã-Bretanha se inseriu no sistema internacional, em uma posição de certo destaque, como a oficina do mundo, abastecendo o comércio internacional. 21 Os britânicos mantiveram vários pontos estratégicos em volta do mundo, como parte de sua política. Geralmente, era a partir desses pontos que a diplomacia britânica realizava sua política externa. Cingapura, 1819; Malvina, 1833; Aden, 1839; Hong Kong, 1841, entre outras. (PEREIRA E VISENTINI, 2010, p.59) A Grã-Bretanha manteve-se como primeira e incontestável potência mundial, até o final do seu período de apogeu econômico, ou seja, até o início da década de 1870. Com o advento da segunda Revolução Industrial, com novos competidores, as potências tardiamente industrializadas (Alemanha, Estados Unidos e Itália) produziram um desgaste da hegemonia britânica na segunda metade do século XIX. Principalmente Estados Unidos e Alemanha despontam como grandes potências industriais e econômicas. Mas a partir de 1860, a Revolução Industrial se expande para Europa continental e América do Norte. O sucesso da Pax Britânica gerava, dialeticamente, os elementos de sua própria negação e superação, pois desde meados do século XIX a industrialização expandia-se pela América do Norte e continente europeu, particularmente no norte da França, na Bélgica e no oeste dos Estados alemães, avançados depois ao longo das vias de comunicação, em direção ao sul e ao leste. anhava fisionomia à “economia nacional”, isto é, o nascimento da indústria moderna dentro do limites do Estado Nacional. A industrialização revolucionava as estruturas dos países nos quais era implementada, servindo de base para a emergência do nacionalismo e, em seguida, de potências desafiadoras à lideranças britânicas. (PEREIRA; VISENTINI, 2010, p. 59-60) Os Estados Unidos, desde sua independência até 1850, apresentaram uma modesta participação internacional, concentrando seus esforços na economia e a expansão territorial, ação que os transformou em um país de forte economia e dimensões continentais. Após a guerra de independência, os Estados Unidos proporcionaram rápida expansão territorial, pois garantiriam a paz em relação ao inimigo externo, lançando para longe toda e qualquer ameaça a soberania americana. 22 2.1 Expansão Americana: Territorial Após a independência os Estados Unidos, houve a necessidade de fortalecer a economia e conquistar novos territórios. As conquistas territoriais se baseavam na doutrina do destino manifesto10, a sociedade americana estava mobilizada em conquistar novos territórios e construir uma grande nação. Os Estados Unidos promoveu um notável processo de crescimento econômico e expressivo alargamento das fronteiras rumo ao oeste e ao sul. O período de pós-independência, o comportamento externo dos Estados Unidos foi marcado pela consciência da vulnerabilidade de seu país no sistema internacional. Nesse sentido, o posicionamento norte-americano estava atrelado à ideia de isolamento devido a não proximidade de inimigo imediato entre seus vizinhos, pelo não envolvimento direto nos conflitos europeus, pela auto-suficiência interna e pela capacidade de expansão. Os Estados Unidos entraram em uma nova fase, caracterizada pelo expansionismo interno, viabilizado por um rápido processo de ampliação das fronteiras. A primeira metade do século XIX, na história dos Estados Unidos, foi marcada pela conquista de território em direção ao oceano pacífico conhecido como “marcha para o oeste”. Segundo Lessa (2008), os Estados Unidos, entre 1803 e o final da década de 1850, conheceram um importante processo de alargamento das suas fronteiras nacionais, as quais lhe deram uma configuração territorial muito semelhante à que tem atualmente. Esse processo iniciou-se em 1803, quando o governo adquiriu a Lousiana, até então território francês. Em 1819, aproveitando-se da debilidade da Espanha, incorporaram a Flórida. Na conquista da região do Texas, os americanos tiveram que empreender uma guerra contra o México. A vitória sobre os mexicanos aconteceu paralelamente ao processo de ocupação das terras do oeste. A expansão deu-se gradualmente a oeste e por meio do conflito de atrito com as populações indígenas, vagarosamente encurraladas para dar espaço à abertura de 10 Destino Manifesto é o pensamento que expressa à crença de que o povo americano é escolhido por Deus para comandar o mundo e por isso o expansionismo é apenas o cumprimento da vontade divina. 23 novas fronteiras, com a compra de novos territórios, como o Oregon, adquirido da Grã-Bretanha em 1846. (LESSA, 2008, p.85) Na década 1820, a expansão norte-americana ganha um conteúdo politizado com a Doutrina Monroe, que inicialmente colocou-se como defensora das recém-independências das nações latino-americanas. Mencionado anteriormente, os Estados Unidos tinham assumido uma posição política de isolamento em relação aos assuntos que se passavam na Europa e que vinham desde sua independência em 1776. Ao término do Congresso de Viena, com o princípio de intervenção e restauração da antiga ordem, colocariam em risco, o sonho de liberdade do novos países, construído durante a guerra napoleônica. Diante do descontentamento do governo americano, em relação ao direito de intervenção da Santa Aliança nos países da América Latina 11, o então presidente James Monroe elaborou a denominada Doutrina Monroe. Em um discurso proferido no congresso americano, em 2 de dezembro de 1823, o presidente James Monroe declarou que “os Estados Unidos não aceitam nenhuma intervenção da Europa nos países que declaram independentes, uma intervenção seria considerada uma manifestação contra os Estados Unidos” (SEITEN US,2003,p.3) As ideias de segurança e defesa estavam propagadas, sobretudo, na Doutrina Monroe elaborada pelo presidente James Monroe em 1823. Nela, o governo dos Estados Unidos definia sua posição em relação à América diante da Europa, considerando uma hostilidade ao seu país qualquer interferência europeia nos assuntos políticos dos novos países recém-independentes da América espanhola e portuguesa. Essa ameaça, expressa na Doutrina Monroe, deixava claro às potências que novas tentativas de recolonizar os países de independência recentes seriam rechaçadas e que os destinos da América, a partir de então, seriam definidos pelos Estados Unidos e não mais pelos europeus. O receio dos Estados Unidos era, especialmente, que as grandes potências europeias pudessem se unir e reprimir as colônias espanholas e portuguesas recém-independentes, e acabassem ameaçando a autonomia de seu 11 A Santa Aliança, tendo como objetivo a restauração do antigo regime, defendia também o direito dos reinos de Portugal e Espanha em retomar o controle das colônias que, naquela ocasião, proclamavam suas independências. 24 próprio território ou seus interesses comerciais em todos os mercados na América. Assim, a Doutrina Monroe pode ser entendida, em um primeiro momento, como um primeiro passo da política externa americana. 2.2 Expansão Americana: Economia Nos Estados Unidos, a industrialização se iniciou no final do século XVIII especialmente na região norte12. Mas somente após a guerra de secessão, ocorreu a consolidação da industrialização, em relação tardia à Grã- Bretanha. A colonização dos Estados Unidos ocorreu de diferentes formas, os arranjos políticos e socioeconômicos distinguiram as diferenças entre as regiões colocando em conflito armado os estados que formavam a unidade institucional americana, que originou a guerra de Secessão travada entre os ano de 1861-1865. A Guerra de Secessão, o Sul defendia uma política de grandes latifúndios e a escravidão. Os estados do Norte defendiam uma política de industrialização, com a escravidão tendo um peso econômico bem menor. Estas diferenças estão entre as principais causas da guerra. A economia do Norte tendo uma forte base industrial, necessitava de uma política protecionista para impedir as importações dos produtos industriais de outros países, interessados em impulsionar as vendas de produtos industrializados dentro do território americano. A conseqüência dessa política foi à transformação da economia sulista em consumidora dos produtos industriais produzidos pelos nortistas. Por volta de 1860, o Norte dos Estados Unidos tinha se transformado em um centro industrial. O transporte em navios e a agricultura continuavam como sempre, mas a manufatura crescia aos saltos. (Huberman, 1987, p.136) Essas medidas foram essenciais para que ocorresse a expansão industrial. Todavia, a industrialização norte-americana distinguiu-se dos demais países porque ocorreu em escala maior e em um território de dimensões continentais. Analistas creditam a explosão industrial norte-americana à Guerra Civil (Pereira e Visentini, 2010, p.64). 12 Os estados pertencentes a essa região eram Rhode Island, Delaware, Pensilvânia, Nova Jersei, Connecticut, Massachusetts, Nova Hampshire e Nova York. 25 Foi exatamente no período pós-guerra que ocorreu a consolidação da industrialização americana. As indústrias voltadas para as produções de materiais bélicos, no período de guerra, no pós-guerra transformaram a base do setor secundário da ind stria americana. “ s arquivos do escritório de patentes dos Estados Unidos mostram o que acontecia então. Durante 20 anos, de 1790 a 1810, expedia em média 77 patentes por ano entre 1850 e 1870, o numero pulou para 2300 por ano”. (Huberman, 1987, p.133) Com o término da Guerra de Secessão, a vitória nortista marcou a hegemonia da burguesia urbano-industrial ascendente sobre a aristocracia ruralagrária do sul. A burguesia impôs seu modelo econômico e seus interesses ao restante do país. Esse novo modelo econômico se baseava na proteção dos mercados americanos ajudava no desenvolvimento da emergente economia da nação. No contexto da ampliação de mercado, essas medidas colaboraram para a industrialização do país. Observamos o relato de um sulista exaltado Hilton Helper: “queremos bíblias, vassouras, baldes e livros, e nos dirigimos ao norte; queremos penas, tintas, papel, biscoitos e envelopes, e nos dirigimos ao norte; queremos sapatos, chapéus, lenços, guarda-chuvas e canivetes, vamos para o norte; queremos mobília, louças, cristais e pianos, vamos para o norte; queremos brinquedos, cartilhas, livros escolares, modas, máquinas, remédios, e mil outras coisas, e ai nos dirigimos para o norte”. ( Helper apud Huberman, 1987,p.137) a fala não do autor De acordo com Pereira e Visentini (2010. p.73), a emergência dos Estados Unidos na política mundial representava uma nova etapa do capitalismo americano, constituindo a necessidade e o anseio de participar dos assuntos políticos e de assumir um papel decisivo nas relações internacionais. Os Estados Unidos, na segunda metade do século XIX, mudou sua política externa isolacionista da pós-independência para uma política externa expansionista. Nessa mudança de paradigmas, os Estados Unidos se configurava como uma liderança na ordem mundial do século XIX. Os Estados Unidos nem bem haviam saído da guerra de secessão e davam mostras de aspirar à condição de grande potência, ao comprarem o Alasca da Rússia em 1867 e no mesmo ano exigirem a saída das tropas francesas do México, deixava claro que a Doutrina Monroe, deveria ser encarada pelas potências como algo bastante sério. (MARTIN, 2006, p.238) 26 A Guerra de Secessão marcou o encerramento da política de isolocionismo. A mudança na política externa americana foi resultado, na qual a unidade federativa estava consolidada. O país abandonaria as feições de uma potência que cresceria para dentro e se converteria em uma potência de aporte mundial. Segundo Pereira e Visentini (2010 p.145), a rapidez com que emergiu a nova política exterior norte-americana deveu-se tanto às dimensões alcançadas pela economia do Norte em busca de novos mercados e crise sociais do sul deste país. O sul precisava projetar-se para fora. Também a preocupação dos Estados Unidos em relação à presença de enclaves europeus no Caribe, na América Central e nas Guianas. Caribe, América Central e Guianas poderiam vir a servir de cabeça de ponte para o estabelecimento de impérios coloniais europeus na região, tendo em vista a debilidade da maioria dos Estados latino-americanos. A Amazônia foi uma das regiões que, com o ciclo da borracha, correram este rico. (PEREIRA; VIZENTINI, 2010, p.145) Cervo e Bueno (2002, p.102) e Palm (2009, p.30) concordam que o expansionismo estadunidense, a partir de 1850, resultaria em uma crise da economia escravista e a região amazônica representava uma possibilidade de solução para ela. De acordo com esses autores, existia um plano de transportar colonos e escravos do sul dos Estados Unidos para aquela região, com o intuito de promover a produção de algodão e borracha. Essa iniciativa poderia equilibrar a balança comercial norte-americana, como também ser reposta para parte de seus problemas sociais. Mas para o êxito do plano, seria necessário conseguir a abertura do Rio Amazonas, para o comércio e navegação internacionais. Ainda, de acordo com Cervo, a diplomacia brasileira teria considerado práticas norte-americas como a política de fronteiras. Ela se baseava em quatro fases, sendo estas: penetração demográfica, provocação, conflito e anexação no caso. (Lyra Júnior: 2011) Nesse contexto, a abertura comercial do Rio Amazonas, proporcionaria a essa República americana soluções para problemas como liberdade para o trânsito de suas mercadorias, penetração em mercados dominados por nações europeias e possibilidade de superar a crise escravista com a vinda de escravos do sul dos Estados Unidos para a Amazônia. (LYRA JUNIOR, 2011, p. 11) 27 2.3 A Região Amazônica: A Fase de Expansão da Borracha A partir de 1850, a produção e a exportação de borracha tiveram um ligeiro avanço em relação à primeira metade do século XIX. Respondendo uma nova demanda externa de borracha no mercado mundial, “como era de esperar, por essa altura a demanda do produto se intensificou e a Amazônia sentiu os bons efeitos da mudança. Na Inglaterra, a importação passou de 23 toneladas em 1830 a 68 em 1845, 209 em 1850 e 1.818 em 1855. Nos Estados Unidos, em 1850 a borracha importada já atingia 1.000 toneladas e em 1865 subiu a 3.000” (SANT S, 1980, p.49). Para atender à demanda de novos mercados, a borracha pudesse oferecer o máximo de rentabilidade à indústria, foi necessário descobrir uma forma de torná-la resistente ao calor e ao frio e manter sua elasticidade inalterada. Através do processo de vulcanização desenvolvido simultaneamente pelo inglês Thomas Hancook e pelo americano Charles Goodyear em 1844, isso se tornou possível e, a partir desse momento, a borracha deixa de representar um pequeno comércio de manufatura, existente desde os tempos da colônia, e passar a ser uma matériaprima requisitada pelo comércio mundial. (LIMA, 2009, p.11) O boom da borracha modificou as condições locais de tal forma que, pela primeira vez, o comércio internacional amazônico atingiu patamares nunca antes alcançados. O governo central passou a ter maior interesse sobre a região, procurando uma maior integração da região com restante do país. Com alguns problemas de instabilidade política na região, como a cabanagem e ameaça de invasões estrangeiras, chamaram atenção das autoridades e, necessário ampliar a presença do governo na região. Em 1850, foi criada a Província da Amazonas, sediada na Barra, atual cidade de Manaus, e, em 1852 foi fundada a Companhia de Comércio da Amazonas. Na década de 1850, quando a produção e a exportação de borracha aumentaram, o governo decidiu criar uma nova província imperial autônoma no alto amazonas: “O projeto deveria satisfazer o interesse nacional, sem prejudicar a autodeterminação da nação, implantando o desmembramento da província do Pará 28 à desanexação do ocidente amazônico, destinada à criação da província do Amazonas”. (SILVA, 2011, p.60) Autorizou também uma empresa privada brasileira a introduzir a navegação a vapor no Rio Amazonas. O governo apreensivo a uma possível investida externa, uma vez que os Estados Unidos ameaçavam fazer o uso da força para obrigar a abertura do Rio Amazonas á navegação estrangeira: “ arão de Mauá foi convidado a lançar a navegação a vapor no Amazonas. Oficializado pelo Decreto Nº. 1.037, de 30 de agosto de 1852, e conseqüente criação da companhia de Navegação e Com rcio do Amazonas” ( ALM, 2009). Esses dois atos do governo imperial pretendiam reafirmar a presença do Estado e reforçar a soberania nacional a possíveis ameaças estrangeiras na região. As medidas adotadas pelo governo central, ao fortalecer a presença do Estado sobre a região amazônica com a criação da Província do Amazonas e introdução da navegação a vapor. Surgiu como uma das mais importantes ações do governo para região por impulsionar, simultaneamente, tanto o povoamento quanto o desenvolvimento econômico e integrar economicamente a outra regiões do Império, sendo assim, assegurados interesses na região. 2.4 As Pretensões Estrangeiras no Rio Amazonas No início da década de 1850 vivia-se o auge das pressões norteamericanas pela abertura do Rio Amazonas à navegação a vapor. Mas eram muito recentes as ocupações militares que Inglaterra e França haviam feito em território brasileiro13. Na ocasião já neutralizada. Nestes temos, o governo vedaria a estrangeiro o acesso a essa região, convertia-se em estratégia vital para mantê-la sob soberania brasileira. (Gregório, 2009, p. 14) A questão da navegação era seguramente a de maior importância nesse momento. Onde os agentes consulares da França, Inglaterra e dos Estados Unidos 13 Questão do Pirara. Um conflito territorial que surgiu em 1829, na região de fronteira entre o Brasil e a Guiana Inglesa, e cuja solução definitiva só se deu em 1904 por arbitragem do rei da Itália, desfavorável às pretensões brasileiras. Questão do Amapá foi uma desavença com a França acerca dos limites fronteiriços entre Brasil e França em 1813. A França reivindicava para si parte do estado do Amapá, ao sul do rio Oiapoque, alegando que aquela região lhe pertencia. 29 logo se instalaram no Brasil. Era um indício do interesse que o extremo norte provocava, mais cedo ou mais tarde, como de fato aconteceu, pelos nacionais daquelas autoridades diplomáticas que chegavam para abrir caminho. (REIS, 1964, p.61) No início da década de 1850, Teixeira de Macedo representante do Brasil em Washington, narra as conversas reservadas que havia tido com membros influentes do governo americano. A ameaça que avolumava nos Estados Unidos à soberania brasileira sobre o Rio Amazonas, especialmente com o desenvolvimento da campanha do Tenente Mattew Maury, iniciara uma grande campanha com objetivo de conseguir para seu país o direito de navegar as águas daquele rio. Após a recusa de autorização à Amazon Steam Navigation para operar no vale (SANTOS, 1980, p.54). Nos Estados Unidos iniciou-se uma grande campanha para a colonização da Amazônia. Mattew Fontaine Maury foi um dos mais obstinados defensores da ideia, promovendo verdadeira campanha junto à opinião pública norte-americana a respeito da abertura do Rio Amazonas. Este fato abriu precedentes para que países, a exemplo da Inglaterra e França, pressionassem o governo brasileiro no sentido da abertura do Rio à navegação também para estas potências. A intensa campanha feita na imprensa por Maury, ex-tenente da Armanda americana, e junto a políticos influentes. Autor de diversos artigos que apresentavam a Amazônia como fonte de riqueza incalculável, um verdadeiro eldorado cuja geografia ansiava pela presença de povos industriosos que pudessem explorá-los, necessidade de governo brasileiro permitir que empresários americanos explorassem a região. (GREGÓRIO, 2009.p.26) De acordo com Arthur Cesar Ferreira Reis: A campanha de Maury principiara em 1850. Aos poucos mobilizava a opinião publica, provocando os receios da diplomacia brasileira. Das campanhas de imprensa, Maury passaria às convenções partidárias ou de homens de negócios. A Amazônia, aos olhos dos homens de negócio e dos aventureiros, que desejavam uma oportunidade para atirar-se a novas façanhas como o que haviam realizado em direção o oeste, sobre a Florida, nas fronteiras com México ou nos setores mais próximos da Luisiana, aparecia como um verdadeiro velocino (SIC) que o Brasil procurava ocultar, desservindo, com sua atitude aos mais legítimos interesses da espécie humana. A tese invocada era sempre essa. (REIS, 1964, p.63) 30 A atenção sobre o Amazonas estava iniciada. Nos Estados Unidos tomou corpo a alegação de que o Brasil cometia um crime contra os interesses da humanidade, denominação que se deu à atitude brasileira, da porta fechada aos barcos estrangeiros, que vinham trazer civilização e não por em perigo à soberania nacional. (REIS, 1964, p.62) De acordo com Palm (2009, p. 34) ao refletir sobre a conjuntura ameaçadora que se lhe apresentava contra o Império brasileiro. Onde os países ribeirinhos superiores poderiam protestar contra a duplicidade da política brasileira de navegação14 que se insistia em manter o Rio Amazonas sob seu inteiro monopólio. Segundo Paulo Roberto Palm (2009, p.35), Peru (ribeirinho superior) assina com os Estados Unidos um tratado de amizade, comércio e navegação, estipulando que os cidadãos americanos poderiam navegar os rios peruanos. A diplomacia brasileira viu-se acuada pela manobra e considerou-se como primeiro passo para que os Estados Unidos assimilasse a condição de ribeirinho, tentassem, com base em sua conveniente doutrina15, forçar a passagem ao Atlântico. Ponte Ribeiro firmou, com os peruanos, o tratado16 de comércio, navegação e limites, que afirmava a exclusividade dos ribeirinhos na utilização recíproca dos rios comuns. (PALM, 2009, p. 36) Sendo assim, o Império assegurava a navegação, às repúblicas ribeirinhas do alto amazonas: “A reação brasileira quanto às pressões relativas à abertura do rio Amazonas foi de caráter bifronte, pois se buscava ajustes bilaterais com os co-ribeirinhos para enfrentar ações ensaiadas em especial pelos Estados Unidos e Inglaterra contra o Brasil, ao passo que procurava contemporizar com essas potencias”. (Lyra Júnior, 2011 p.11) 14 O Império posicionava-se com grande defensor da livre navegação nos rios da bacia do prata, sendo uma forma de garantir acesso a região do alto Paraguai província de Mato Grosso. 15 “No século XVII surgiram na Europa tentativas isoladas de pais em formalizarem concessões recíprocas de trechos fluviais. Mas o impulso definitivo adviria da Revolução Francesa, que levou a França a celebrar um tratado com a Holanda em 1795, concedendo-se mutuamente navegação livre aos rios Reno e Mosa até sua desembocadura. Em 1815, o Congresso de Viena, evento basilar para as futuras regulamentações de todos os rios internacionais. O Congresso de Viena abre assim, novo capítulo no direito internacional público, no que tange à utilização dos rios”. (Palm, 2009. p. 22) 16 Em 1852, Ponte Ribeiro assinaria com o Peru uma convenção especial de comércio, navegação fluvial, extradição e limites. Seria ratificado pelos dois governos. 31 O extenso trabalho diplomático desenvolvido junto ao Peru permitiu neutralizar a influência das grandes potências na região (Grã-Bretanha, França e Estados Unidos), o enfraquecimento desses países na região também tinha causas internas. A Grã-Bretanha estava envolvida na guerra da Criméia e os Estados Unidos a guerra de Secessão, esse abrandamento era essencial para a manutenção do rio fechado. Na década de 1860, já afastado o perigo da década anterior. O Império se fazia presente na região, através da companhia de comercio e navegação do amazonas e a província do Amazonas e, assim salvaguardando a integridade territorial do Brasil. Guardando a presença do Império na região, o governo viria instituir a liberdade de navegação com o Peru através do Decreto nº 3.216, que foi transmitido para sociedade amazonense da época através do jornal O Catechista. Exposto isso, busca-se no próximo capítulo compreender a abertura do Rio Amazonas à navegação internacional no jornal O Catechista. 32 CAPÍTULO III CONSIDERAÇÕES SOBRE A IMPRENSA NACIONAL E AMAZONENSE 3.1 Imprensa Periódica como Objeto de Estudo A utilização da imprensa periódica como fonte para pesquisa historiográfica ganhou espaço, de forma lenta, a partir da década de 1970. Com a superação de antigas posturas17 que marcaram a prática historiográfica, notadamente as noções de fonte suspeita não confiável. De início os jornais eram visto com desconfiança. Os temas abordados, as informações vinculadas, por não serem oficiais, eram relegadas a um plano secundário por não se tratar de um documento oficial. (Teles, 2011, p.187) No início da década de 1970, ainda era relativamente pequeno o número de trabalhos que se valiam de jornais e revista como fonte de pesquisa. Reconheciase a importância dos periódicos como objeto de pesquisa histórica e não era nova a preocupação de se escrever a história da imprensa, mas relutava-se em mobilizá-los para a escrita da história por meio da imprensa. Nas décadas de 1970, e principalmente na de 1980, os jornais passaram a ser observados de forma diferente. No processo de reavaliação dispensado às fontes históricas, os jornais passaram a ser apresentados como espaço de representação de inúmeros aspectos da realidade de uma sociedade. Esta postura foi difundida e acabou influenciando os historiadores que caminharam no sentido de romper com a postura que enxergava os jornais como fonte suspeita. (Teles, 2011, p. 188) 17 A Escola dos Annales questionava as antigas posturas como se fazia a história, as quais se preocupavam tão somente como os fatos singulares, e factuais, sobretudo políticos, militares e diplomáticos. Uma história que tomava como um dos critérios analise de documentos verdadeiros, e assim poderiam chegar à cientificidade e a verdade dos fatos. 33 De acordo com Maria Helena Capelato, esse processo foi importante, uma vez que deu à imprensa um lugar de destaque nos estudos históricos. Manancial dos mais férteis para o conhecimento do passado, a imprensa possibilita ao historiador acompanhar o percurso dos homens através dos tempos. O periódico, antes considerado fonte suspeita e de pouca importância, já é reconhecido como material de pesquisa valioso para estudo de uma época. (Capelato apud Teles, 2011, p. 189) De acordo com afirmação acima, enquadra-se num contexto de renovação da historiografia. A partir de 1970, com novos métodos de estudos e abordagem de novas fontes, a história passava ter novos objetos e problemas. Sendo assim, ampliou-se a noção de documentos na historiografia. Os historiadores, nesse momento, assumiam posturas distintas em relação aos jornais. A imprensa configurou-se como uma fonte das mais férteis, possibilitando um melhor conhecimento da sociedade quanto à suas manifestações culturais e políticas, lutas e interesses de diversos setores. 3.2 O Desenvolvimento da Imprensa A imprensa é um fenômeno recente, com mais de 500 anos de existência. É um dos principais veículos para a difusão das idéias. Nenhum evento político, constitucional, econômico, movimento sociais, filosóficos e literários podem ser compreendidos sem levar em conta a influência da imprensa sobre eles. (CÂMARA, 2009, p.3) A imprensa, como atividade de informação, mesmo que oral, já existia antes do surgimento do capitalismo. Mas, certamente seu maior impulso, sua transformação, veio junto com desenvolvimento capitalista. (SODRÉ, 1983, p.1) A imprensa surgiu como instrumento de auxilio ao capitalismo, de forma a fazer circular informação, divulgar opinião e influenciar ideias. A partir do momento que esse meio de poder foi percebido, as novas forças econômicas passaram a querer para si o poder que até então estava concentrado no Estado. 34 Nelson W. Sodré via de forma cristalina a estreita ligação entre o desenvolvimento da imprensa com o surgimento do capitalismo. Sendo o objeto de estudo desse trabalho a imprensa amazonense, é possível observar que a criação da província do Amazonas em 1850, com criação da imprensa em 1851, foi algo que nasceria e se desenvolveria concomitantemente no Amazonas. A criação da província do Amazonas ocorreu através da lei nº 582 de 5 de setembro de 1850, propiciando a sua emancipação política em relação ao Pará. O território da província seria o mesmo da antiga capitania de São José do Rio Negro, com a capital na Cidade da Barra. Sendo assim, o aparecimento da imprensa na província do Amazonas está diretamente ligado com o aparecimento do aparato administrativo e a burocracia estatal, no qual o jornal seria um veiculo entre o governo e a sua população, pois esse meio de comunicação seria utilizado para legitimar os atos administrativos. Os teores das informações dos primeiros jornais possuíam, de certa forma, os aspectos básicos que encontramos atualmente nós diários oficiais divulgados pelos jornais. Com o estreito vínculo entre a imprensa e determinados grupos de interesses, aparece o problema da liberdade de informar e de opinar. Quando se refere à liberdade de opinião, trata-se do relativo silêncio do jornal o Catechista em relação à abertura do Rio Amazonas. Em momento algum, grupos locais se posicionavam a favor ou contra a referida abertura. A ausência de um posicionamento da imprensa pode ser visto como algo impositivo do governo: “Como a imprensa tem sido governada, em suas operações, pelas regras gerais da ordem capitalista, particularmente em suas técnicas de produção e de circulação, tudo conduz à unidade e uniformidade”. (S DRÉ, 1983, p. 19) 3.3 A Chegada da Imprensa no Brasil A imprensa surgiu no Brasil em 1808. O navio que transportou a família real Portuguesa trouxe equipamentos gráficos que foram instalados no Rio de Janeiro dando origem à imprensa no Brasil. 35 A imprensa surgiria, finalmente, no Brasil – e ainda desta vez, a definitiva, sob proteção oficial -, com o advento da corte de D. João. Antônio de Araújo, futuro conde da Barca, na confusão da fuga, mandara colocar no porão da Medusa o material fotográfico que havia sido comprado para Secretaria de Estrangeiros e da Guerra, de que era titular, e que não chegara a ser montado. (Sodré, 1983, p.19) A comitiva real desembargou no Rio de Janeiro em maço de 1808. Neste mesmo ano, D. João sabendo do material de impressão trazido de Portugal, baixou o decreto de 13 de maio de 1808, criando a imprensa Régia. Tendo-me constado, que os prelos que se achão nesta Capital, erão os destinados para a Secretaria de Estado dos Negocios Estrangeiros, e de Guerra; e attendendo á necessidade, que há de officina de impressão nestes meus estados; sou servido, que a casa, onde elles se estabelecerão, sirva interinamente de impressão regia, onde se imprimão exclusivamente toda a legislação e papeis diplomáticos, que emanarem de qualquer repartição do meu real serviço, e se possão imprimir todas, e quaesquer outras obras, ficando interinamente pertencendo o seu governo e administração á mesma secretaria. Dom Rodrigo de Souza Coutinho, do meu conselho de Estado, ministro e secretario de Estado dos negócios estrangeiros, e da Guerra o tenha assim entendido e procurará dar ao emprego da officina a maior extensão e lhe dará todas as instrucções e ordens necessárias, e participará a este respeito a todas as estações o que maior convier ao meu real serviço. Palacio do Rio de Janeiro, em treze de maio de mil oito centos e oito. (REIS, 2013, p.41) Surgiu, então, a imprensa nacional com 300 anos de atraso em relação América espanhola e ainda sob forte vigilância do governo. Portugal nunca se interessou em liberar a imprensa durante o Brasil-colônia, exercendo forte censura e aniquilando qualquer ameaça de implantação. Poucos meses após a chegada da família real, o Brasil, quase ao mesmo tempo, viu o nascimento de dois jornais: um áulico18 autorizado pela corte portuguesa e intitulado de A Gazeta do Rio de janeiro e outro clandestino, O Correio Braziliense, escrito e editado em Londres e distribuído ilegalmente no Brasil. Estes jornais são os pioneiros da imprensa periódica nacional. 18 Jornais que valorizavam e engrandeciam as atitudes da Corte. Foi a iniciativa oficial, de que o aparecimento da Gazeta do Rio de Janeiro constituiu o primeiro fato. A iniciativa correspondia a determinadas causas, não era gratuita. Era agora necessário informar, já precisava dos louvores, de ver proclamadas as suas virtudes, de difundir os seus benefícios, de, principalmente, combate às ideias que lhe eram contrárias. Ao mesmo passo que, com a abertura dos portos, crescia o número de impresso entrado clandestinamente, inclusive jornais que tinham bafejo oficial e que pretendiam neutralizar os efeitos da leitura do material contrabandeados. O absolutismo luso precisava, agora, defender-se. E realizou a sua defesa em tentativas sucessivas de periódicos, senão numerosos pelos menos variados. 36 Mas não foi coincidência o aparecimento da imprensa, em concomitância com a vinda da Família Real. Transferência do governo português para o Brasil modifica a estrutura da colônia, provocando uma série de transformações que passou de colônia a sede da monarquia dos Bragança, dentre as necessidades, a instalação da imprensa logo se tornou imprescindível, pois era fundamental para o bom funcionamento da máquina administrativa régia. 3.4 A Imprensa Amazonense no Século XIX O surgimento da imprensa no Amazonas remonta ao ano de 1851. Após a criação da Província do Amazonas, em 5 de setembro do ano anterior. Para encontrarem-se as origens da imprensa no estado do Amazonas, podemos partir da fala do segundo presidente da Província, Herculano Ferreira Penna que, na mensagem dirigida à Assembléia em 1853, arrolou a primeira e a única “Typographia” e istente na cidade da arra do Rio Negro, capital do Amazonas. (Souza, 2005, p.11) A tipografia mencionada por Ferreira Penna fora instalada em 1851 pelo tipógrafo, tenente e proprietário Manoel da Silva Ramos, sendo parte, também, das burocracias administrativas de instalação da nova Província concluída em 1º de janeiro do ano seguinte. A rigor, cidade e cultura impressa (na forma de folhas jornalísticas) foram algo que nasceriam e se desenvolveriam concomitantemente no Amazonas. A oficina tipográfica de Silva Ramos localizava-se em uma rua de chão batido às margens do extinto igarapé do Espírito Santo. As instalações eram modestas e os equipamentos de prensa os mais rudimentares. Todos trazidos por Silva Ramos da província do Pará. Fora este o berço de nascimento da imprensa amazonense. (Souza, 2005, p.41) De suas prensas saiu o primeiro jornal da Província que, a partir de 03 de maio de 1851, passou a circular às quartas-feiras na capital com o título de “Cinco de Setembro”, de formato pequeno (18×26), um só caderno com 04 páginas e 02 colunas, ao preço de 2$ réis pela assinatura trimestral. Circulou com este nome por oito meses, quando, a 07 de janeiro de 1852, foi rebatizado com o nome de “Estrela 37 do Amazonas” que circulou at 1866, sendo adquirido pelo portugu s Antonio da Cunha Mendes. (Souza, 2005, p.41) A linha editorial desses primeiros jornais era marcada por um tom oficial, em conformidade com o discurso da nova cúpula administrativa e política: “ s primórdios da imprensa no Amazonas materializavam-se, sobretudo a partir das documentações governamentais, que informavam principalmente sobre a conjuntura política da capital imperial, deixando pouca margem para os anúncios e para o noticiário local”. (Souza, 2005, p.5). Além do que, o surgimento da imprensa na província do Amazonas teve um peso expressivo. Não era apenas o formato e estética do jornal, os informes da burocracia administrativa e as regras da palavra impressa que lhe pareciam estranhos. O próprio idioma no qual era vinculada para muito daqueles brasileiros soava muito mais como um vernáculo estrangeiro. (Souza, 2005, p.31) Segundo Bessa Freire, em obra recente, realçam o embate de “mundos” lingüísticos totalmente diferenciados destacados abaixo: Durante todo o período colonial, no entanto, a língua portuguesa – cujas categorias não davam inteligibilidade à realidade cultural e ecológica da região – permaneceu minoritária, como língua exclusiva da administração, mas não da população. Essa situação só mudou a partir da segunda metade do século XIX, quando passou a predominar o monolinguismo da língua européia (FREIRE, 2011, p.16). A língua portuguesa era falada basicamente por governadores e altos funcionários, assim desconhecendo a língua geral (nheengatu), o que levou a administração colonial a uma situação de isolamento da população. (Freire, 2011, p.123) No relato do viajante inglês Alfred Russel Wallace, de passagem pela Cidade da Barra do Rio Negro em 1850, em uma de suas coletas de campo nas cercanias do lugar, ressalta, com certo espanto, a preponder ncia da “língua geral” como instrumento de comunicação entre os moradores da cidade. (Souza, 2005, p.3) 38 Só um dos moradores sabia falar português. Os outros empregavam um dialeto indígena chamado de língua geral, que eu tinha muita dificuldade de compreender, na falta de livros (...). O que me facilitou foi que o rapazinho índio que estava comigo e sabia falar tanto a língua geral quanto o português, servindo-me de intérprete. (Wallace apud Souza, 2005, p.3). Ora, é interessante destacar que, no censo de 1852, a proporção de brancos não ultrapassava os 6% em toda a província, incluindo Manaus e os principais núcleos urbanos. (Freire, 2011, p.131). Antes do Boom da borracha, a percentagem da população de indígenas em relação os brancos era maior. Assim, a pluralidade lingüística que existia na região amazônica era vasta. Com a exploração da borracha, esse cenário muda, com aceleração do crescimento demográfico em um curto período de apenas 40 anos. De 1860 a 1900, a população aumentou quase quatro vezes, de 323.000 à 1.217.000. A língua portuguesa passa a ser a mais falada pela primeira vez na região. (Santos, 1980, p.109) 3.5 Jornal O Catechista A notícia é o reflexo de como um determinado fato foi registrado e mostrado à população, através do meio de comunicação como fonte de pesquisa histórica, o que se procura é, entre outras coisas, uma nova forma de compreender um determinado período da história. As notícias divulgadas podem servir de matéria prima para analisar como determinados assuntos foram retratados em períodos específicos. ( d’ Acampora, p.30, 1993) O jornal O Catechista circulou em Manaus ao longo da década de 1860. Sua primeira edição foi de 12 julho de 1862. Tinha como editor, redator e proprietário o Sr. João Antonio Pará. A tipografia de João Antonio Pará fora instalada em 1862 e localizava-se na travessia oriente na casa nº 5. Os jornais eram vendidos pelo preço de 12&000 réis por um ano, 6&500 réis por um semestre, 3&500 réis por um trimestre e & 850 réis a folha avulsa. 39 O Catechista possuía quatro páginas e três colunas. Nas duas primeiras páginas eram distribuídas as noticias e informações. Na outra metade, as propagandas e anúncios. Com relação às noticias, eram as mais variadas possíveis. Uma simples compra de madeiras para reforma de delegacia, fuga de escravos e compras de canhoneiras. Quanto aos anúncios e propagandas aparecem textos que recomendam produtos de determinados estabelecimentos comerciais-alfaiataria, sapataria e armarinhos. Os jornais sempre foram utilizados como um lugar de debates, de influência de ideais. O jornal O Catechista não foge dessa intenção, pois se tornou importante meio de informação da província do Amazonas. A linha editorial do jornal O Catechista apresentou um posicionamento a favor do grupo político que estava no governo durante o período de sua circulação, uma vez que o periódico dedicava duas páginas (a metade do jornal), às noticias oficiais da província, um “porta-voz oficial da nova província do Amazonas”. A atuação se orientava por um projeto de legitimação da província do Amazonas. Nesse projeto, o periódico assumia o papel simpatizante, razão pela qual seu proprietário sempre procurava dar ao jornal uma feição de vinculação à administração. Para o Sr. João Antonio Pará, a folha não é oficial, porém, publica-se todos os atos da administração da província. Sendo que o motivo da escolha ocorreu pela sua longa circulação, algo raro neste período embrionário da imprensa nacional e amazonense. A maioria dos jornais tinha vida efêmera. Vida longa, pelo contrário, era algo raro entre os jornais, principalmente nesta fase embrionária da imprensa amazonense, caracterizada por uma produção artesanal, realizada em pequenas oficinas onde os serviços gráficos de redação, composição e prensas eram de responsabilidade quase sempre de um único profissional tipógrafo, geralmente o dono. Nelson Werneck Sodré é contundente ao apontar a “incipiente divisão do trabalho” e a “profissionalização apenas relativa” que caracterizavam a imprensa brasileira ao longo do século XIX (SODRÉ, 1983, p.307308). 40 3.5.1 A Imprensa no Contexto Nacional e Amazônico: Análise do Jornal O Catechista A importância da análise das notícias transmitidas reside no impacto que ela tem sobre a opinião pública. Para Nilson Lage (1985) as notícias, como mensagens transmitidas, podem comover, motivar revolta ou conformismo em seu público alvo. É através de suas colocações que, a notícia pode levar o público a mudar sua postura, mediante acontecimentos determinados. (d’Acampora, p.31, 1993) Analisar as notícias é colocar em evidência os assuntos e os temas das mensagens dos periódicos. Na sessão de 31 de dezembro de 1863, o Marquez de Abrantes manda executar o decreto para livre navegação do Rio Amazonas por embarcações brasileiras e peruanas. Pelo decreto Nº 3.216, os dois países comprometiam a introduzir linhas de navegação a vapor entre si no Rio Amazonas. O decreto é publicado no Jornal O Catechista de Manaus somente em Abril de 1864. O jornal O Catechista, que circulou em Manaus no dia 9 de Abril de 186419, teve como manchete de primeira página a regulamentação do decreto Nº 3.216, para a navegação do Rio Amazonas por embarcações brasileiras e peruanas. Assim começavam as primeiras linhas do jornal, que circulou no dia 9 de abril de 1864, de acordo com o Marquês de Abrantes, que mandava executar o decreto 3.216/1863 após vários anos de exaustivos e intensos debates sobre a abertura comercial do rio Amazonas. Considerando quanto é vantajoso promover o comércio e a navegação do rio Amazonas, e tendo em vista as clausulas estipuladas nos artigos 2 e 4 da convenção de 28 de outubro de 1858, mandada cumprir pelo decreto nº 2.432 de 16 de julho de 1859; hei por bem que o trânsito fluvial pelo rio Amazonas se observe provisoriamente o regulamento que com este baixa assinado pelo Marquez de Abrantes, conselheiro de Estado, senador do Império, ministro e secretário de Estado dos negócios estrangeiros e 19 Vide em anexo 41 interino da fazenda e presidente do tribunal do tesouro nacional, que assim o tenha entendido e faça executar. Palácio do Rio de Janeiro em trinta de dezembro de mil oitocentos e sessenta e três, quadragésimo segundo ano da independência e do Império. Com a rubrica de Sua Majestade o Imperador Marquez de Abrantes. Os debates no parlamento acerca da navegação do Rio Amazonas mudaram no inicio da década de 1860, afastados o clima de desconfiança em relação às grandes potências, especialmente os Estados Unidos, retomam os debates no parlamento brasileiro, iniciado ao longo das décadas de 1840 e 1850 a respeito da abertura do Rio Amazonas a navegação. Em 1860 a conjuntura política do parlamento era menos conversador, onde o partido liberal constituía a maioria e com uma postura mais favorável à abertura do Rio Amazonas a todos os países. Na sessão da câmara dos deputados de 13 de fevereiro de 1863, iniciaram-se os debates acerca do tema da abertura do Rio Amazonas. Nos discursos que se seguiram, ficou demonstrado que a franca maioria dos deputados estava a favor da abertura do Rio Amazonas, o que, entretanto, não significava que essa posição era unânime. Novamente voltariam à tona, mas agora em minoria, as mesmas idéias que haviam determinado as políticas adotadas com relação à região até o momento. (GREGÓRIO, 2009. p 13) Os parlamentares do Partido Liberal reconheceram no projeto de abertura do Rio Amazonas a grande oportunidade para o desenvolvimento da região amazônica. Para os parlamentares a livre navegação do Rio realmente era uma atividade muito útil e de grandes vantagens para o país. Marquez de Abrantes consideravam quanto era vantajoso o comércio e a livre navegação com o Peru e mandava executar o decreto nº 3.216/1863 que regulamentava a navegação fluvial do Rio Amazonas por embarcações brasileiras e peruanas na conformidade da convenção fluvial de 28 de outubro de 1858. Ponto bastante relevante para pensar este decreto de abertura do Rio Amazonas à navegação internacional: livre comércio entre os dois países, exploração comercial do Rio Amazonas pelo Peru e dar uma resposta à questão da soberania, assim preservando a região contra possíveis ameaças estrangeiras, algo comum no período estudado. Os principais objetivos do decreto eram o progresso 42 econômico entre as duas nações e a livre navegação do Rio. De acordo com decreto 3.216/1863, as idéias basilares eram que as duas nações comprometer-se-iam a promover o comércio e a livre navegação do Rio Amazonas. Artigo I Regula a navegação entre os dois países. Sendo livre o comércio e navegação pelas águas do rio Amazonas entre o Império e a república do Peru e nos termos da convenção de 28 de outubro de 1858, observando-se-hão no trânsito fluvial as disposição do presente regulamento, e as do de 19 de setembro de 1852 na parte que não for por elas alteradas. A cláusula mencionada pelo Marquez de Abrantes, no decreto de abertura do Rio Amazonas, foi um tratado entre Brasil e Peru assinado em 1852. O então embaixador brasileiro no Peru, Ponte Ribeiro assinaria com os peruanos um tratado de comércio, navegação e limites que afirmava a exclusividade dos ribeirinhos na utilização recíproca dos rios comuns (PALM, 2009, p. 36). De acordo com os artigos I e II da convenção de 1852, permitia-se a passagem, livre de direitos especiais, do Peru para o Brasil e vice-versa, de embarcações e mercadorias de cada um dos contratantes, respeitados apenas os regulamentos fiscais e de polícia marítima. Cabe esclarecer que a Convenção de 1852 não dava ao Peru o direito de atravessar o Amazonas e sair no Atlântico. Esse direito somente foi conquistado sete anos mais tarde em 1858. A convenção fluvial de 185820 estabelecia a livre navegação por navios peruanos no Rio Amazonas e o acesso ao Atlântico. Essa convenção serviu de base para formulação do decreto de 1863 que regulamentou a navegação entre os dois países. 20 Em 1858 promulga a nova convenção fluvial entre o Brasil e o Peru. Tendo concluído e assinado em Lima, aos 22 de outubro do ano, uma nova convenção fluvial entre o Brasil e o Peru, e sido trocado as respectivas ratificações em 27 de maio deste ano, é por bem ordenar que a dita convenção seja observada e cumprida tão inteiramente como nela se contém. <http://books.google.com.br/books?id=FQcGAAAAYAAJ&pg=PA464&dq=conven%C3%A7%C3%A3o+fluvi al+de+1858+entre+brasil+e+peru&hl=ptBR&sa=X&ei=DwbGUqP0N9GzkAfavYCgBg&ved=0CDEQ6AEwAA#v=onepage&q=conven%C3%A7%C3 %A3o%20fluvial%20de%201858%20entre%20brasil%20e%20peru&f=false > acesso em: 20 de dezembro de 2013. 43 Quanto o Marquez de Abrantes observou as cláusulas estipuladas nos artigos II e IV da convenção de 1858, o artigo II permitira as embarcações peruanas acessar ao Atlântico, cruzando o Amazonas e vice e versa, mencionado anteriormente a convenção de 1852 que não consentia acesso ao Oceano ao Peru. Mas, de acordo com o artigo II da convenção de 1858, sua Majestade, o Imperador do Brasil, convém permitir como concessão especial. Que as embarcações peruanas, regulamentem registradas possam livremente passar do Peru ao Brasil e sair pelo dito Rio ao Oceano. Artigo IV da convenção de 1858 apresenta os primeiros acordos comerciais entre Brasil e Peru. Estipula regulamentos que devem ser o mais favoráveis à navegação e comércios entre os dois países. Nos artigos II, VIII e IX do decreto nº 3.216/1863 assinalava uma melhor relação comercial entre os países instituída em 1858, de acordo com estes artigos, que regulamentavam o comércio entre os países. Em outro trecho do jornal O Catechista observa-se essa visão de integração e desenvolvimento do comércio para navegação entre os dois países. Artigo II Regulamenta os gêneros de produção e manufaturas da república do Peru poderão ser importados pelas águas do rio Amazonas, em embarcações brasileiras e peruanas de qualquer natureza, denominação ou lotação, quer no porto da cidade de Belém da província do Pará, quer nos de Manaus e Tabatinga e vice-versa os gêneros ser exportados pelos portos indicados em embarcações brasileiras e peruanas para a republica do Peru. Artigo VIII. Os portos de Manaus e Tabatinga ficam habilitados, guardando-se, todavia a disposição do Artigo II, para importação: § 1 – dos Artigos de produção e manufaturas nacionais navegados por cabotagem. 44 § 2 – dos gêneros estrangeiros já despachados para consumo navegados com cartas de guia § 3 – dos gêneros de produção e manufaturas da república do Peru. § - dos seguintes gêneros estrangeiros: sal comum, carne seca ou charque, bacalhau, farinha de trigo, carvão de pedra, pedras de calcares, maquinas de vapor e suas pertenças, utensílios próprios para a lavoura, materiais e instrumentos para obra publicas. Artigo IX. Os portos de Manaus e Tabatinga ficam habilitados, guardando-se, todavia a disposição do artigo II, para exportação: § 1 – dos gêneros de produção e manufatura nacional. § 2 – dos gêneros estrangeiros que já tiveram pagado direito de consumo, e se destinarem aos portos nacionais do Amazonas ou a republica do Peru. Outro ponto sensível do decreto era regulamentação do recolhimento dos tributos entre as duas nações. Os artigos IV, V e VI regula estes pontos. Artigo IV Para esse fim, logo que for publicado o presente regulamento, terão plena execução na alfândega do Pará a disposição do regulamento das alfândegas relativas ao entreposto publica, criado no porto daquela província. Artigo V Alem da mesa de renda criada na cidade de Manaus haverá outra mesa de renda na povoação de Tabatinga na província do Amazonas. Artigo VI 45 Em cada uma destas repartições haverá um chefe com a denominação de administrador, o qual servirá ao mesmo tempo de tesoureiro, um escrivão, um escriturário, um porteiro e três guardas, que servirão ao mesmo tempo de oficial de descarga. § Único. O pessoal das referidas mesas poderá somente ser alterados pelo ministro da fazenda, como exigir o bem do serviço publico. O ponto que trabalhava a questão dos contrabandos entre os dois países, para combate o ato ilícito, o Brasil colocava na povoação de Tabatinga uma guarnição, esse assunto foi tratado no artigo XVII. Artigo XVII Na povoação de Tabatinga haverá uma linha de policia composta de 30 praças, ao comando de oficial subalterno ou inferior, a qual terá por dever auxiliar não só a respectiva mesa, como as autoridades competentes, na religiosa observância e guarda das disposições dos regulamentos fiscais, e prevenção do contrabando, o comandante considerar-se especialmente encarregados da policia fiscal nas águas e margens do Amazonas e fronteiras terrestres do império, como auxiliar da repartição fiscal, executando e fazendo executar este regulamento, e o das alfândegas na parte que lhe competir. Diante do contexto do artigo anterior, o decreto reforçará para combater as irregularidades, as medidas estabelecida, onde as embarcações poderiam atracar fora dos portos habilitados e por quais motivos isso ocorresse, toda atracagem não autorizada era punível. Os artigos que regulamenta são XIX ao XXIV. Artigo XIX Os presidentes das províncias do Pará e Amazonas, cada um dentro do território de sua jurisdição e ouvindo as tesourarias de fazenda, logo que for publicado o presente decreto, designarão os lugares, fora dos portos habilitados para o comércio com a Republica do Peru, em que poderão comunicar com terra as embarcações que no 46 curso de sua viagem necessitarem reparar avarias, ou promover-se de combustíveis ou de outros objetos indispensáveis. § 1º a parada somente durará o tempo necessário para o objeto que a motivar, e as autoridades fiscais cumpridos à disposição do artigo 371 do regulamento das alfândegas, exigirão durante ela a exibição do rol da equipagem, lista dos passageiros, e manifesto de carga, e visarão grátis todos ou alguns desses documentos, guardadas as disposições do mesmo decreto. § 2º As embarcações a que se refere este artigo poderão, sendo necessário, descarregar nos referidos lugares gêneros de produção e manufatura da Republica do Peru, e receber gêneros de produção e manufatura nacional, observando-se as disposições deste Regulamento, e do das Alfândegas. § 3º Feita a designação dos lugares de que trata este artigo, na qual serão compreendidos os atualmente freqüentados pelos vapores da Companhia de Navegação do Alto Amazonas, os Presidentes darão conta ao Ministro da Fazenda para final aprovação. § 4º Nos lugares, em que não existirem Coletorias, e onde for conveniente, haverá agencias, postos de fiscalização e registros, ficando os Presidentes de Província, ouvidos a Tesouraria de Fazenda respectiva, incumbidos de criar, e designar os Empregados, Guardas ou Vigias precisos, na forma do art. 18 § único e mais disposições do Regulamento das Alfândegas, e sendo fornecidos dos escaleres necessários para o serviço. § 5º Nos portos onde houver Coletorias, observarão estas Estações, na parte que convier, o presente Regulamento e o das Alfândegas para prevenção do contrabando, e fiscalizar das rendas publicas. Artigo XX Poderão descarregar toda ou parte da carga, fora dos portos fluviais habilitados para o comercio com a Republica do Peru, as embarcações que, por causa de avaria ou por outro incidente fortuito e extraordinário, não puderem continuar a sua viagem. 47 § Único. Os capitães das embarcações se dirigirão previamente, salvo o caso de iminência de perigo, aos empregados fiscais, na sua falta á Autoridade policial do lugar, e na falta desta á do lugar mais próximo, e sujeitando-se ás medidas e cautelas, que pelas mesmas Autoridades, de conformidade com as leis do Império, forem tomadas para prevenção de qualquer importação clandestina. Artigo XXI O perigo iminente, previsto no artigo antecedente, isenta somente da apresentação prévia aos empregados fiscais, e Autoridades locais, de que trata o mesmo artigo; sendo em todo o caso obrigados os comandantes das embarcações peruanas a provar a necessidade da arribada, e a exibir os papeis de bordos necessários, procedendo-se a respeito destes documentos na forma do art. 19 § 1º. Artigo XXII Os gêneros e mercadorias que, nos casos de incidentes fortuitos e extraordinários mencionados no art. 21, forem postos em terra, não pagaram direito algum se forem de novo embarcadas; mas toda a descarga de gêneros e mercadorias feita sem prévia autorização, ou sem as formalidades prescritas nos artigos antecedentes, ficará sujeita, conforme as circunstancias, á multa de 10$ a 100$000 por volume, ou ás pena do contrabando, procedendo-se para esse fim á apreensão, na forma dos Caps. 1º e 2º do Tit. 8º do Regulamento das Alfândegas. Artigo XXIII Toda a comunicação com a terra não autorizada, ou em lugares não designados no presente Regulamento, e fora dos casos de força maior, será punível com a multa de 10$ a 100$000 a cada pessoa da tripulação, e de 50$ a 500$000 ao comandante da embarcação, além 48 das outras penas em que possam incorrer na forma da legislação do país. § Único. Os passageiros, que desembarcarem antes da visita da Autoridade policial, deixando de apresentar-lhe o competente passaporte, o qual será por ela visado grátis, incorrerão na multa de 10$ a 100$000, além de ficarem sujeitos ás medidas policiais, que a referida Autoridade julgar convenientes. Artigo XXIV Se por causa de contravenção ás medidas concernentes ao livre transito do rio Amazonas para as embarcações peruanas e brasileiras se efetuar, na forma dos Regulamentos fiscais, alguma apreensão de mercadorias ou do navio, ou das embarcações miúdas, que as transportarem, a mesma apreensão poderá ser levantada mediante fiança, caução ou deposito. Se á contravenção cometida estiver imposta somente a pena de multa, será permitido ao contraventor continuar a sua viagem, garantindo o valor da mesma multa por meio de fiança, caução ou deposito, e o seu efetivo pagamento dentro de um prazo que for marcado pelo Administrador da Mesa de Rendas. § Único. Nos casos previstos neste artigo ao Administrador da Mesa de Rendas do distrito, onde se tiver verificado a apreensão, ou cometido a contravenção, compete decidir sobre a idoneidade da fiança, caução ou deposito com atenção ao valor dos objetos apreendidos ou á importância da multa, e julgar a apreensão, facultando os recursos estabelecidos no Regulamento das Alfândegas. O artigo XXVII estabelece os valores a serem cobrados das embarcações peruanas por permanecerem atracado nos portos de Manaus e Tabatinga. Artigo XXVII 49 As embarcações peruanas, que entrarem nos portos de Manaus e Tabatingas, ou arribando em qualquer dos mencionados no artigo XIX, aqui carregarem ou descarregarem, ficam sujeitas ao imposto de 80 réis por tonelada por cada dia de estada ou demora em as despesas de faróis, balizas e quaisquer outros auxílios, que por parte do império se tenha de prestar à navegação do Rio Amazonas. § único. O imposto, de que trata este artigo, será cobrado, antes do desembaraço da embarcação, e de seu pagamento se fará expressa menção no manifesto ou certificado. O artigo XXIII definiu como seriam identificadas as embarcações peruanas. Artigo XXVIII Para os favores e efeitos do presente regulamento serão consideradas embarcações peruanas aquelas, cujos donos, e capitães forem cidadãos da republica do Peru, e cujo rol das respectivas equipagem, licenças, e patentes certifiquem em devida forma que foram matriculados de conformidade com as ordenanças e leis da republica do Peru, e usam legalmente de sua bandeira. As embarcações peruanas para entrar no Brasil tinham que ser cadastrada na alfândega da Província do Pará, e registrada nos portos de Manaus e Tabatinga. Artigo XXIX As embarcações peruanas, que tiveram de navegar pelas águas do Rio Amazonas, qualquer que seja o seu destino, darão entrada na alfândega do Pará, e serão obrigadas ser registrada nos portos de Manaus e Tabatinga, onde se verificará a sua nacionalidade e legitimidade, segundo o disposto no artigo antecedentes, e quando o recusarem, serão compelidas pelas barcas de vigia, que empregarão para aquele fim a força necessária, ficando sujeito o respectivo comandante a uma multa de 500 a 1.000 réis. 50 No descumprimento dos artigos anteriores, que regulamentavam o acesso das embarcações peruanas que poderiam entrar em águas brasileiras. Essas embarcações poderiam ser apreendidas. Artigo XXX Se as embarcações peruanas não estiverem nas condições expressas nos artigos XXVIII e XXIX, serão apreendidas com as respectivas cargas. No artigo XXXII do decreto regulamentava o funcionamento das mesas rendas dos portos de Manaus e Tabatinga e quais os procedimentos seriam adotados para o controle das mesas de rendas. Artigo XXXII As mesas de rendas do presente regulamento, na parte relativa a arrecadação de quaisquer direitos ou impostos e multas, será feitas em livros especiais, os quais, depois de encerrados no fim de cada semestre, serão remetidos com os despachos, manifesto, guias e documentos de receita e despesa, e mais papeis relativos para tesouraria de fazenda da província do Amazonas, para nela se instituir o competente exame sobre sua moralidade exatidão, na forma das disposição em vigor. Os dois últimos artigos do decreto trabalham para sanar qualquer duvida ou mal entendido entre ambas as partes que assinaram o decreto de 31 de dezembro de 1863. Artigo XXXIV As duvidas que ocorram por ocasião de executar-se este regulamento serão resolvidas pela tesouraria de fazenda, sempre no sentido mais favorável ao comércio e navegação dos dois países. § único estas decisões serão executadas provisoriamente, dando-se conta ao ministro da fazenda para final deliberação. 51 Artigo XXXV Os artigos do presente regulamento, que não contiverem disposição estipuladas na convenção fluvial de 1858, mandava observar por decreto nº 2.442 de 16 de julho de 1859, poderão ser alteradas independente do comum acordo exigindo pelo artigo 5º da mesma convenção. De acordo com artigo 5º do decreto nº 2.442 de 1859. As duas partes contratantes adotará de comum acordo, na extensão do Rio Amazonas que respectivamente lhe pertence, um sistema de política fluvial, e os regulamentos fiscais que tiverem de estabelecer nos portos habilitados para o comercio, conservando a possível uniformidade, quanto seja compatível com as leis de ambos países Exposto ao longo do capitulo III, a importância dos jornais como veículo de informação e pesquisa, mas também utilizados por grupos para impor seus interesses e idéias a determinados grupos ou sociedades. O jornal aqui analisado não foge dessa hipótese. A importância que Rio Amazonas tinha para região, sendo o principal caminho de ligação com restante do país e a maior fonte de recurso econômico da região através dos postos alfandegários. Dada a importância do Rio para região, a lei que trata da abertura foi trabalhada e discutida externamente da região não levado em consideração a sociedade local. O decreto assinado pelo Marquez de Abrantes no ano de 1863 mostra o silenciamento das palavras, quando dizemos que há silêncio nas palavras, estamos dizendo que elas são atravessadas de silêncio; elas produzem silêncio, fazer calar a sociedade local em relação da abertura do Rio Amazonas é silenciam a sociedade através da política do silêncio em sua dimensão política, o silêncio pode ser considerado tanto como parte da retórica da dominação ou como de sua contrapartida, a retórica do oprimido. A edição do jornal O Catechista de 9 de abril de 1864, circulou com a noticia da abertura, mas, nas posteriores, não se observa o posicionamento da sociedade local nem a favor ou contra à referida abertura. Uma total apatia um silenciamento em relação a um assunto de vital importância para região. Esse absoluto silêncio da sociedade amazonense da época tem várias hipóteses, cooptação em troca de favores ou simplesmente essa sociedade não 52 tinham representantes no parlamento brasileiro, ou seja, não tinha vozes para defender seus interesses e idéias, porém essas hipóteses aqui levadas podem ser aprofundadas em outra pesquisa no futuro. 53 CONSIDERAÇÕES FINAIS Os objetivos propostos para a realização desta monografia foram atingidos. Contudo, foram lançadas questões oportunas para pesquisas futuras. Em primeiro lugar, esta monografia foi, mas um passo na longa caminhada no meu processo de crescimento como pessoa, professor e futuro pesquisador. O caminho seguido na realização desta monografia foi expor o silêncio da sociedade amazonense na abertura do Rio Amazonas à navegação internacional por meio do jornal O Catechista de 9 de abril de 1864. Não posso esquecer a importância do periódico na elaboração da pesquisa, para o historiador fontes primárias é essencial em uma pesquisa. A metodologia utilizada foi a escola francesa de Relações Internacionais e a análise do discurso, neste caso, enfatizando no silêncio da sociedade em relação ao tema, com o apoio teórico de Michel Pencheux e Eni Orlandi. Observamos com a leitura das fontes que nos foram disponibilizada, através de uma investigação priorizando o que nos possibilitaria uma maior compreensão do período proposto nessa pesquisa (1860-1870) O período aqui analisado 1860 a 1870 explicita uma época de profundas transformações, destas pode-se citar a guerra de secessão, o mundo sobre égide da Pax Britannica, segunda Revolução Industrial e a exploração dos seringais na região norte do Império. Com a exploração das seringueiras a região passa ter grande importância para o Império, onde o governo toma algumas medidas, para preservar o controle do Estado na região, como a criação da Província do Amazonas e criação da Companhia de navegação e Comércio da Amazonas. Neste contexto internacional de ameaças sobre a região, o controle sobre Rio seria estratégico para Estado, nesse sentido o Estado adotar várias medidas especificamente para manter o domínio sobre Rio Amazonas, foram assinados acordos bifrontes entre o Brasil e países ribeirinhos. Uma estratégia diplomática para afasta possíveis ameaças. De todos os países ribeirinhos o Peru se destaca pela posição geográfica, o Rio Amazonas nasce nesse país e caminho para sua região amazônica. O país que os acordos mais avançaram se iniciou com a convenção de 1852, mais tarde de 54 1858 e finalmente em 1863 quando ocorreu a abertura do Rio Amazonas a navegação internacional. A lei que regulamentava abertura do Rio Amazonas à navegação internacional, não foi trabalhada com a sociedade da região, onde foi imposta sem a participação local. Concluímos que esta monografia expôs que o jornal O Catechista uso o discurso do silêncio em relação a essa noticia, sendo um jornal a vinculado serviço dos interesses do império. 55 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ARR S, Jos D’Assunção. O projeto de pesquisa em História: Da escolha do tema ao quadro teórico. Petrópolis/ RJ: Vozes, 2007. BOBBIO, Norberto; MATTEUCCI, Nicola; PASQUINO, Gianfranco. Elites. In: Dicionário de política. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 2009, p. 384. BREDA DOS SANTOS, Norma. History of International Relations in Brasil: A Summarize Field Evaluation. História. São Paulo, v, 24, n. 1, p. 11-39, 2005. CÂMARA, Bira. O Nascimento da Imprensa: IN A História da Impressa é Parte Integrante da História Geral da Civilização. 2009. 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