PERFIL EPIDEMIOLÓGICO DOS DOADORES DE SANGUE INAPTOS POR SÍFILIS EPIDEMIOLOGICAL PROFILE OF BLOOD DONORS INELIGIBLE BY SYPHILIS Izabelle Rodrigues da Silva1, Adryanna Cardim2 Autora para correspondência: Izabelle Rodrigues da Silva - [email protected] Bióloga especializada em Imunohematologia, Análises Clínicas e Gestão de Serviço de Saúde com Ênfase em Serviço de Hemoterapia. Salvador, Bahia, Brasil. 2 Sanitarista do Centro Estadual de Referência em Saúde do Trabalhador - CESAT/ Secretaria da Saúde do Estado da Bahia. Doutoranda em Saúde Pública na Universidade Federal da Bahia. Salvador, Bahia, Brasil. 1 RESUMO | Os objetivos desta pesquisa foram estimar ABSTRACT | This study aimed to estimate the a prevalência de doadores de sangue reativos para sífilis e descrever o perfil epidemiológico, analisando as frequências de acordo com as variáveis sexo, faixa etária, estado civil, município de residência e tipo de doação, no HEMOLAGOS/RJ, no período de janeiro de 2013 a dezembro de 2015. Trata-se de um estudo descritivo, de caráter exploratório a partir dos dados registrados no Sistema de Informação HemotePlus. Neste período foram recebidos 15.461 candidatos à doação de sangue. Destes, 250 (2,13%) apresentaram resultado sorológico reativo para sífilis. Observou-se um decréscimo de aproximadamente 25,3% de doadores com amostras de sangue reativas para a sífilis ao longo dos anos do estudo. A maior frequência de doadores inaptos para sífilis ocorreu no sexo masculino (68,4%). A média de idade da população de doadores inaptos foi de 41,52 anos e desvio padrão de 12,9 anos. Dos doadores inaptos para sífilis, 96,0% residiam nos municípios que compõem a Região dos Lagos. As doações do tipo reposição apresentaram o maior percentual de doadores inaptos (68,8%). Os resultados apontam para um perfil geral da população doadora do Hemolagos/RJ com amostras reativas para a sífilis, destacando a necessidade de um trabalho de captação com os candidatos à doação e a importância de um acolhimento ao doador reativo. Ressalta-se também a necessidade de implementar outros processos de identificação e tratamento da doença na população, bem como a necessidade de avaliar a eficácia dos programas voltados para as DST. prevalence of blood donors samples with syphilis reactivity and to describe the epidemiological profile, analyzing the frequencies according to gender, age, marital status, city of residence and type of donation in HEMOLAGOS/RJ, in the period from January 2013 to December 2015. This is a descriptive and exploratory study from data recorded in HemotePlus Information System. In this period we got 15,461 candidates for blood donation. Of these, 250 (2.13%) presented serologic reactive results for syphilis. It was observed that there was an average decrease of 25.3% of donors reactive for syphilis. The highest frequency of unfit donors for syphilis occurred in males (68.4%). The average age of the population of unfit donors was 41.52 years and standard deviation of 12.9 years. Of the donors unfit for syphilis, 96.0% lived in the municipalities that constitute the Lagos Region. The replacement donations model showed the highest percentage of unfit donors (68.8%). The results pointed out to a general profile of the donor population of Hemolagos/RJ with reactive samples for syphilis, highlighting the need for captation work with the candidates to the donation and the importance of receiving the reactive donor. Also points up the need to implement other processes of identification and treatment of disease in the population, and the need to evaluate the effectiveness of STD programs. Keywords: Syphilis, reactive donor, epidemiology. Palavras-Chave: Sífilis, doador reativo, epidemiologia. Submetido em 08/10/2016, aceito para publicação em 17/03/2017 e publicado em 24/04/2017 DOI: 10.17267/2317-3378rec.v6i1.1108 INTRODUÇÃO A sífilis, também conhecida como lues, é uma infecção causada pela bactéria Treponema pallidum, subespécie pallidum, uma espiroqueta patogênica microaerofílica. Considerada como um problema de saúde pública possui uma ampla distribuição mundial, com as maiores taxas de infectados encontrandose nos países em desenvolvimento. Apresenta transmissão sexual, vertical e por transfusão de sangue contaminado, podendo produzir a forma adquirida e congênita da doença. Tem evolução crônica, sujeita a surtos de agudização que acomete múltiplos sistemas, determinando os seus efeitos localmente1,2. sangue sem que haja prejuízo à saúde do doador e do potencial receptor9,10. Para isto, são preconizados testes para infecções transmissíveis pelo sangue com o intuito de reduzir os riscos de transmissão de doenças11. A informação correta sobre os riscos de transmissão de doenças é fundamental para um doador consciente. Nas últimas três décadas, os avanços na segurança transfusional foram notáveis. Como consequência das ações de prevenção, o risco de adquirir uma doença transmitida por meio de transfusão de sangue vem sendo reduzido significativamente6. A implementação de critérios mais rígidos na seleção do doador, o desenvolvimento de testes cada vez mais sensíveis e altos padrões de qualidade estão sendo estabelecidos8,12. A sensibilidade é exigida nos testes de triagem sorológica para aumentar a segurança. Todavia, testes com baixa especificidade ocasionam falso-positivos, gerando transtornos aos doadores, descarte das bolsas e desperdício de sangue7. Não é responsabilidade do serviço de hemoterapia o diagnóstico final do doador6. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), cerca de 11 milhões de novos casos de sífilis no mundo em 2010, foram estimados cerca de 2.4% milhões de casos de sífilis na América Latina e Caribe. Estudos apontaram um aumento na incidência de sífilis em doadores de sangue na China, durante os anos de 2008 a 20103. Em países da África, também são observadas altas taxas de reativos na população4. No Brasil, em 2003, foram registrados um total de 843.300 casos de sífilis. Na população sexualmente ativa, foi estimada uma prevalência de sífilis de 2,1%5. Segundo a Agencia Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), a taxa de reativos para sífilis no Brasil foi de 0,67%, sendo o Sudeste a quarta região com maior taxa de reativos para sífilis, 0,60%6. Atualmente, o risco de transmissão da sífilis através de transfusões sanguíneas é baixo devido a melhor seleção de doadores, a aplicação universal de testes sorológicos de triagem e a transfusão de sangue refrigerado e estocado, devido a incapacidade da bactéria sobreviver por mais que 48 horas nessas condições13. Fatores como o perfil epidemiológico da população na qual se faz a captação dos candidatos à doação, a seleção desses candidatos na triagem clínica e hematológica, a triagem sorológica de infecções/doenças transmitidas pelo sangue são imprescindíveis para garantir a segurança das transfusões2. A frequência da forma latente é cada vez maior devido ao tratamento inadequado de casos e de contatos6. Minimizar a possibilidade de transmissão de doenças pela transfusão requer ações que possam garantir a segurança do sangue transfundido7. A existência de uma viremia, bacteremia ou parasitemia e a transmissibilidade por sangue com consequências clínicas comprovadas para o receptor constituem-se em obrigatoriedade de investigação na triagem sorológica de doadores de sangue8. Desta forma, o objetivo deste estudo foi estimar a prevalência de doadores de sangue com amostras reativas para sífilis, bem como descrever o perfil epidemiológico analisando as frequências de acordo com as variáveis: sexo, faixa etária, estado civil, município de residência e tipo de doação, no Hemocentro da Região dos Lagos - HEMOLAGOS/ RJ, no período de janeiro de 2013 a dezembro de 2015. A triagem clínica consiste na avaliação da história clínica e epidemiológica, do estado atual de saúde, dos hábitos e comportamentos do candidato à doação para determinar sua aptidão para doar Revista Enfermagem Contemporânea. 2017 Abril;6(1):12-19 13 MÉTODOS Esse estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Instituto de Saúde Coletiva, da Universidade Federal da Bahia, sob Parecer Consubstanciado no processo n° 015/16. Trata-se de um estudo descritivo, de caráter exploratório, realizado com os doadores do Hemocentro da Região do Lagos (HEMOLAGOS/ RJ) a partir dos dados registrados no Sistema de Informação HemotePlus, durante o período de janeiro de 2013 a dezembro de 2015. RESULTADOS Foram considerados, para a população alvo do estudo, os doadores de sangue aptos na triagem clínica e hematológica. Como população de referência, os doadores do HEMOLAGOS/RJ que apresentaram exame sorológico reativo para sífilis (doadores inaptos), sem coleta de segunda amostra para confirmação do resultado. Os exames sorológicos foram realizados pelo Hemocentro Coordenador (HEMORIO/RJ), cuja metodologia utilizada foi o teste ELISA com detecção por quimioluminescência. No período de 2013 a 2015 o HEMOLAGOS recebeu 15.461 candidatos à doação de sangue. Destes, 11.702 (75,68 %) foram considerados aptos na triagem clínica e hematológica e submetidos ao processo de coleta de bolsa de sangue e amostras para os testes sorológicos obrigatórios. Destas amostras, 250 (2,13%) apresentaram resultado sorológico reativo para sífilis (Figura 1). Figura 1. Distribuição percentual (%) dos candidatos a doação aptos na triagem clínica e hematológica e percentual de amostras de sangue reativas para sífilis (N=11.701 e N=250). HEMOLAGOS/RJ, 2013-2015. As variáveis descritoras consideradas para análise foram sexo (masculino e feminino), faixa etária, em anos (16 a 29, 30 a 39, 40 a 49, 50 a 59, 60 anos ou mais), estado civil (solteiro, casado, viúvo e divorciado), municípios de residência (categorizados como municípios da Região dos Lagos, demais municípios do Estado do Rio de Janeiro e municípios localizados em outros estados do Brasil) e tipos de doação (espontânea e de reposição). Os tipos de doação foram categorizadas segundo a Portaria nº15811. A doação espontânea é definida como aquela realizada por pessoas motivadas a manter o estoque do banco de sangue, sem identificação do possível receptor. A de reposição é feita para atender a necessidade de um paciente. Fonte: HEMOLAGOS - RJ A maior frequência de doadores inaptos para sífilis durante o período estudado deu-se no sexo masculino (68,4%). A média de idade da população de doadores inaptos foi de 41,52 anos e desvio padrão de 12,9 anos. A distribuição percentual entre as faixas etárias apresentou-se de forma relativamente proporcional, exceto para 60 anos ou mais (8,4%). Quando se analisou o estado civil dos doadores inaptos para sífilis, 48,8% eram casados, seguidos pelos solteiros (46,0%). Quanto ao município de residência, 96,0% dos doadores inaptos para sífilis residiam nos municípios que compõem a Região dos Lagos (Tabela 1). O coeficiente de prevalência dos doadores de sangue reativos para sífilis (CP) foi estimado dividindo-se o número de doadores de sangue reativos para sífilis pelo total de doadores de sangue, no período de 2013 a 2015, multiplicado por 10.000. Não foram realizados testes estatísticos por se tratar de dados censitários e pelo fato do estudo ser de natureza descritiva. Foram utilizadas planilhas eletrônicas Microsoft Excel® para a criação do banco de dados e a análise das informações foi realizada pelo software STATA, versão 12. Revista Enfermagem Contemporânea. 2017 Abril;6(1):12-19 14 Tabela 1. Distribuição absoluta e percentual (%) das características sociodemográficas dos doadores de sangue reativos para a sífilis (N=250). HEMOLAGOS/RJ, 2013-2015. Fonte: HEMOLAGOS - RJ Nota: * Municípios da Região dos Lagos que apresentaram doadores no HEMOLAGOS/RJ: Araruama, Arraial do Cabo, Búzios, Cabo Frio, Casimiro de Abreu, Iguaba Grande, Rio das Ostras, São Pedro da Aldeia, Saquarema. ** Municípios do Estado do Rio de Janeiro que apresentaram doadores no HEMOLAGOS/RJ: Itaboraí, Macaé, Nova Iguaçu, Rio de Janeiro e São Gonçalo. - : Significa ausência de doador reativo para sífilis. Observando a frequência em relação ao tipo de doação, o maior percentual de doadores inaptos apresentado no período foi de doações de reposição (68,8%) (Tabela 2). Tabela 2. Distribuição absoluta e percentual (%) dos doadores reativos para sífilis segundo tipo de doação (N=250). HEMOLAGOS/RJ, 2013-2015. Fonte: HEMOLAGOS - RJ Revista Enfermagem Contemporânea. 2017 Abril;6(1):12-19 15 O coeficiente de prevalência de doadores reativos para sífilis no HEMOLAGOS/RJ, no período, foi de 2,14%. No período estudado, quando se analisa as amostras de sangue reativas para sífilis segundo sexo, o masculino demonstrou um coeficiente de prevalência de 2,32%. Aproximadamente 1,3 vezes maior do que o sexo feminino. No que tange a faixa etária, o grupo com 60 anos ou mais apresentou um coeficiente de prevalência de 6,12%, seguido pela faixa etária de 50 a 59 anos. Quando comparados aos grupos anteriores ao grupo etário de 16 a 29 anos, estes grupos apresentam um risco de aproximadamente 5,0 vezes e 3,4 vezes maior, respectivamente, de terem amostras de sangue reativas (Tabela 3). Tabela 3. Coeficiente de prevalência (por 100) de doadores reativos para sífilis. HEMOLAGOS/RJ, 2013-2015. Fonte: HEMOLAGOS - RJ Nota: * Doadores aptos = são considerados como aptos, os doadores que foram aprovados na triagem clínica e hematológica. ** Coeficiente de prevalência (por 100) = CP Quanto ao município de residência, a maior frequência de doadores reativos ocorreu em moradores do município de Cabo Frio (96,04%), seguido de doadores que residiam em outros municípios do Rio de Janeiro (3,2%). DISCUSSÃO Durante o período estudado, notou-se uma diminuição na frequência de doadores com sorologia reativa para sífilis. Estudos de Rodriguez et al14, Salles et al15 e Carrazone et al7 corroboram os resultados obtidos nesta pesquisa. Segundo a ANVISA, constata-se uma queda na frequência de sífilis assim como observado nesta pesquisa, no período avaliado16. frequência encontrada variou de 0,14% a 1,7%15,17. Entretanto, em estudo realizado em um hemocentro do estado do Paraná, a taxa de prevalência de reativos para sífilis foi 11,17%, com uma maior concentração pertencente ao sexo masculino, assim como os resultados encontrados nesta pesquisa que apresentaram maior percentual de reativos no sexo masculino18. Foi observado um coeficiente de prevalência para doadores com amostras reativas para sífilis de 2,18%. Em outros estudos realizados do Brasil, a Estudos realizados em países da África, encontraram uma frequência de reativos para sífilis 0,13% a 1,3%4,19. Um aumento na frequência de sífilis foi Revista Enfermagem Contemporânea. 2017 Abril;6(1):12-19 16 respostas do candidato à doação no questionário utilizado e na entrevista da triagem clínica, muitas vezes por medo de ser rejeitado e não conseguir realizar a doação. A omissão de importantes informações da vida do candidato à doação pode atrapalhar a triagem clínica e causar risco aos receptores de sangue. Desta forma, justifica-se a percentagem maior de inaptos pelo fato de serem maiores em número de doadores. observada na China entre os anos de 2008 a 201020. Em países da América Latina, a prevalência observada variou de 0,5% a 5%21. Em países em desenvolvimento, a sífilis pode ser encontrada em até 13,5% dos doadores. Yildiz et al22 relatam que em países em desenvolvimento a taxa de doadores soropositivos para sífilis é de 25%. A elevada frequência de sífilis nos doadores do HEMOLAGOS/RJ, comparada a outros estudos, pode estar relacionada ao fato de não ser coletada uma segunda amostra para realização de teste confirmatório para a doença, não sendo possível descartar os casos falso-positivos. Em estudo onde foi realizado uma nova testagem para sífilis, verificou-se uma redução da taxa de reativos22. Quanto ao sexo, estudo realizado na China, de 2006 a 201020 aponta maior frequência de sífilis em doadores do sexo feminino, o que não ocorreu nos resultados obtidos nesta pesquisa, em que a frequência foi maior em doadores do sexo masculino, bem como nos estudos de Mavenyengwa et al4 e Baião et al17. A falta de profissional especializado destinado à captação de doadores de sangue e a constante troca de profissionais da triagem clínica e hematológica durante o período estudado podem ser fatores que comprometem a avaliação das condições dos candidatos a doação, trazendo ao banco de sangue um candidato à doação pouco instruído sobre as condições básicas para a segurança do receptor. O fato da omissão de informações importantes, por parte do doador, também confere um fato que pode contribuir para doação de pessoas em grupo de risco. De 2007 a 2014, em Florianópolis, foi observado uma aumento no número de casos de sífilis, tendo números em 2013 de 170 casos do sexo feminino e 316 casos no sexo masculino, aumento que pode estar relacionado a maior busca por atendimento por parte dos homens aos postos de saúde25. A maior prevalência de reativos em homens do que em mulheres pode ser resultado de maior liberdade sexual e, de acordo com Baião et al17, o tempo entre as doações é menor do que para as mulheres. No que tange a faixa etária dos doadores reativos, o estudo demonstrou resultados similares com o revelado por Yaozhen (2014), sendo maior a frequência na faixa entre 30 a 39 anos. A faixa etária com maior frequência de inaptos observado foi de 25 a 38 anos, considerada faixa etária com vida sexual ativa, podendo o ato sexual desprotegido ser um agravante. Assim, a sífilis é mais comum entre os jovens4. Corroboram também com esses achados, o estudo de Chen et al20. Já em pesquisa realizada por Baião et al17, a maior soroprevalência foi observada no grupo de 45 a 65 anos. No que se refere ao estado civil, verificou-se uma elevada frequência de inaptidão sorológica para sífilis entre indivíduos casados, assim como observado em estudos semelhantes22. Esta alta freqüência pode estar associada a relações extraconjugais sem proteção, trazendo assim maior risco para doenças sexualmente transmissíveis. O percentual de reativos no grupo de doadores de reposição foi maior do que os doadores espontâneos, corroborando com os achados de Hussein19, Yildiz et al22 e Ferreira et al23. Resultados encontrados por Allain et al24, não apresentaram diferença significativa entre doadores de reposição e espontâneos. O município de residência com maior frequência de doadores reativos para sífilis foi Cabo Frio/RJ. Este fato pode estar intimamente ligado à localização do Hemocentro, de acesso mais fácil aos residentes desta cidade. Doadores de outros municípios do Rio de Janeiro, com resultado reativo, apresentaram taxa de 4,25 e 4,8% nos anos de 2013 e 2014, A doação de reposição, tipo de doação mais freqüente neste estudo, geralmente, está relacionada a membros da família ou conhecidos do paciente que necessita de transfusão, fato que pode interferir nas Revista Enfermagem Contemporânea. 2017 Abril;6(1):12-19 17 não tendo nenhum doador residente em outros municípios do Rio de Janeiro reativos para sífilis no ano de 2015. Verificou-se apenas uma doação de residente fora do estado Rio de Janeiro com resultado reativo para sífilis no ano de 2014, representando um percentual de 1,19%. CONCLUSÃO Os resultados apontam para um perfil epidemiológico geral da população doadora do Hemolagos/RJ com amostras reativas para a sífilis, destacando a necessidade de um trabalho de captação com os candidatos à doação e a importância de um acolhimento ao doador reativo. acompanhamento a esses doadores. Outras ações seriam a maior oferta de exames diagnósticos e campanhas para detecção de sífilis em homens, já que a maioria dos dados sobre infecção de sífilis está relacionada a gestantes. Deve-se salientar a implementação de outros processos de identificação e tratamento da doença na população, bem como a necessidade de avaliar a eficácia dos programas voltados para as DST. A frequência de reativos para sífilis encontrada foi maior do que em outros serviços de hemoterapia. As doações de reposição foram as que apresentaram um maior número de reativos. Em sua maioria, os reativos fazem parte do sexo com idade de 16 a 29, sendo grande parte moradores da Região dos Lagos. Ressalta-se também a necessidade de investir na qualificação do profissional de captação, destinado a trabalhar as questões importantes sobre conscientização da doação de sangue, o que é fundamental para a qualidade do doador de sangue. Os doadores que apresentaram resultado reativo para sífilis não foram submetidos a coleta de segunda amostra, não sendo possível descartar os casos falso positivos. O fluxo atual para doadores reativos é o encaminhamento à saúde coletiva do município de origem do doador. Não existe um controle eficaz sobre o retorno desses doadores após repetição do teste para sífilis, como também taxa de doadores habilitados para nova doação após teste confirmatório. Esse fator pode levar a um número maior de reativos e casos sem conclusão nesse cadastro de doadores. Além disso, indivíduos com contato prévio a bactéria desenvolvem anticorpos que perduram por longos períodos, mantendo os resultados do teste como reativo por anticorpos da memória imunológica. CONTRIBUIÇÕES DOS AUTORES Rodrigues,I. Participou da concepção, delineamento, busca dos dados da pesquisa, interpretação dos resultados, redação e encaminhamento do artigo científico. Cardim, A. participou da concepção, delineamento, análise estatística dos dados da pesquisa, interpretação dos resultados, redação do artigo científico. CONFLITOS DE INTERESSES Nenhum conflito financeiro, legal ou político envolvendo terceiros (governo, empresas e fundações privadas, etc.) foi declarado para nenhum aspecto do trabalho submetido (incluindo mas não limitandose a subvenções e financiamentos, conselho consultivo, desenho de estudo, preparação de manuscrito, análise estatística, etc). A utilização de testes para triagem de sífilis, que sejam automatizados e rápidos, é de suma importância para a rotina de banco de sangue, porém o descarte de bolsas é maior, pela detecção tanto de casos de sífilis recente quanto da sífilis pregressa, o que não foi diferenciado nesta pesquisa. REFERÊNCIAS 1. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Programa Nacional de DST e Aids. Manual de Controle das Doenças Sexualmente Transmissíveis. 4.ed. Brasília. DF. 2006. 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