Texto para discussão

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Curso de design
Disciplina:
ANTROPOLOGIA
Professor: Ocimar
Aranha
Acadêmic@: ________________________
Centro de Ensino Superior do Amapá - CEAP
Curso de Design
Antropologia
A Disciplina
Objetivos
• Reflexão sobre os principais elementos formadores da população brasileira, com ênfase na
realidade regional, a partir dos diferentes grupos étnicos que a constituem.
• Compreensão dos aspectos singulares que definem a cultura nacional e as subculturas regionais
que a integram.
• Caracterizar a realidade brasileira em termos dos seus indicadores econômicos e sociais como
base para identificar os seus problemas principais.
• Analisar a conjuntura atual e as transformações mundiais e seus impactos sobre a sociedade
brasileira;
• Caracterizar a cultura indígena brasileira, seus principais elementos formadores, mitos e rituais e
os impactos na formação da sociedade do Estado.
• Compreender as raízes históricas que geraram as questões atuais que cercam a sociedade
brasileira;
Objetivos do Design
• O Design é uma atividade cujo objetivo é estabelecer qualidades multifacetadas de objetos,
serviços e seus sistemas em ciclos de vida completos. Portanto, design é o fator central da
humanização inovadora das tecnologias e um fator crucial de intercâmbio cultural e econômico.
Competências da área do Design
• O Design procura descobrir e estabelecer relações estruturais, organizacionais, funcionais,
expressivas e econômicas, com o objetivo de:
• Enfatizar a sustentabilidade global e a proteção ambiental (ética global)
• Dar benefícios e liberdade para a inteira comunidade humana, individual e coletiva, usuários
finais, produtores e protagonistas de mercado (ética social)
• Dar suporte à diversidade cultural, independentemente da globalização mundial (ética cultural)
• Gerar produtos, serviços e sistemas, cujas formas sejam expressivas e coerentes com sua própria
complexidade.
Assim, o design é uma atividade envolvendo uma ampla faixa de profissões, das quais produtos,
serviços, comunicações gráficas, decoração e arquitetura fazem parte. Juntas, essas atividades deveriam
elevar, de um modo harmônico e orquestrado com outras profissões, o valor da vida.
Portanto, o termo “designer” refere-se a um indivíduo que pratica uma profissão intelectual, e não
apenas um serviço executado para empresas.
É dever do designer, traduzir da melhor forma os anseios e intenções de seus clientes, mostrando a
eles a importância de seu trabalho e o quanto a confiança no conhecimento desse profissional, pode
transformar a imagem de determinada empresa transmitindo toda a qualidade e eficiência de seu produto
ou serviço.
Definição do ICSID
International Council of Societies of Industrial Design
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Antropologia
EIXO TEMÁTICO DA AULA: O CONHECIMENTO COMO CARACTERÍSTICA DE
HUMANIDADE
Nas várias espécies animais existentes sobre a Terra encontramos formas estabelecidas de
relacionamento que nos fazem pensar na existência de regras que ordenam sua vida comunitária.
Percebemos facilmente que os diversos animais se agrupam, convivem, se acasalam, sobrevivem e se
reproduzem de forma mais ou menos ordenada, em função de suas potencialidades e do ambiente em que
vivem.
A preservação da espécie e seu aprimoramento parecem ser o objetivo das suas formas de vida,
convivência e sociabilidade. Assim, alguns animais têm um ciclo de vida que lhes permite a reprodução e
a manutenção de sua sobrevivência e a de seus descendentes. Estabelecem para isso modos de vida mais
ou menos complexos, como os sistemas de acasalamento, alojamento, migração, defesa e alimentação.
O Ser Humano, como uma dentre as várias espécies existentes, também desenvolveu todos os
processos de convivência, reprodução, acasalamento e defesa observáveis nos demais seres vivos. Desse
modo, o Ser Humano apresenta, como os animais, uma série de atividades “instintivas”, isto é, ações e
reações inatas como respirar, engatinhar, sentir fome, medo, frio. Além disso, porém, quer por
dificuldades impostas pelo ambiente, quer por particularidades da própria espécie, o homem desenvolveu
capacidades que dependem de aprendizado. Assim, as crianças aprendem a comer, beber e dormir em
horários regulares; aprendem a brincar e a obedecer; mais tarde, aprenderão a trabalhar, comerciar,
administrar, governar.O Ser Humano, portanto, se distingue das demais espécies existentes porque nem
tudo o que faz surge de sua estrutura genética, nem se desenvolve automaticamente em sua relação com a
natureza, nem se transmite à sua descendência através dos gens. É o único animal que necessita de
aprendizado para uma série de atividades que lhe são próprias.
Tarzan, aquele que, mesmo abandonado na selva sem a companhia de outros homens, pôde
desenvolver todas as suas características humanas, na verdade não passa de uma lenda. Para se tornar
humano, o Ser Humano tem que aprender com seus semelhantes uma série de atitudes que lhe seriam
impossíveis desenvolver no isolamento. Já entre os demais animais, se separarmos uma cria de seu grupo
de origem, ela apresentará com o tempo as mesmas capacidades e atitudes de seus semelhantes, pois essas
decorrem, sobretudo de características genéticas.
Portanto, para que um bebê humano se transforme em um Ser Humano propriamente dito, capaz
de agir, viver e se reproduzir como tal, é necessário um longo aprendizado, pelo qual as gerações mais
velhas orientam e passam às gerações subseqüentes suas experiências adquiridas. Essa característica
essencialmente humana só se tornou possível porque o homem tem a capacidade de criar sistemas de
símbolos, como a linguagem, através dos quais dá significado às suas experiências vividas e as transmite
a seus semelhantes.
Se podemos detectar em outros animais certa capacidade de comunicação, nunca foi neles
percebida a possibilidade de transmitir uma experiência particular. O cachorro que aprende a apanhar o
jornal para o seu dono executa um comportamento considerado “inteligente”. Tal conduta, porém, difere
do comportamento humano na medida em que o animal não é capaz de passar para outro ser da mesma
espécie o que aprendeu. A atitude do cachorro só se repete frente ao mesmo estímulo: a mesma casa, a
mesma hora, o mesmo objeto, o mesmo lugar. Ele não é capaz de reutilizar o comportamento aprendido
em outra situação que envolva lugares, pessoas e objetos diferentes.
As capacidades características dos animais se desenvolvem de maneira predominantemente
instintiva e se transmitem aos descendentes pela carga genética.
O Ser Humano, por sua vez, deve transmitir por uma série ordenada de símbolos suas
experiências e interpretações da realidade.
Por isso, dizemos que o Homo sapiens é a única espécie que pensa, que é capaz de transformar a
sua experiência vivida em um discurso com significado e transmiti-la aos demais seres de sua espécie e a
seus descendentes. É o único capaz de imaginar ações e reações sob forma simbólica, isto é, mesmo na
ausência de estímulos concretos que provoquem medo, alegria, fome ou rancor, ele pode reviver essas
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situações que o estimulam. Além disso, é o único a diferenciar as experiências no tempo e, em
conseqüência, a projetar ações futuras. O Ser Humano, portanto, é capaz de recriar situações e emoções, é
capaz de simbolizar, de atribuir significados às coisas, de separar, agrupar, classificar o mundo que o
cerca segundo determinadas características. Esse é o cerne de sua capacidade simbólica e de sua
humanidade.
Ao pensar, ao ser capaz de ordenar, de prever, de aprender, o homem, sempre vivendo em
grupos, começou a travar com o mundo ao seu redor uma relação dotada de significado, de avaliação.
Nisso se baseou seu conhecimento do mundo que, organizado, comunicado e compartilhando com seus
semelhantes e transmitido à descendência, se transformou em cultura humana propriamente dita. Essa
reelaboração sob forma simbólica da experiência fez com que os homens recriassem o mundo segundo
suas necessidades e pontos de vista, transformando-o em conhecimento ou em abstração. A partir dessa
conquista, do desenvolvimento dessa capacidade genuinamente humana de representar e transformar o
ambiente natural, cada grupo, compartilhando experiências comuns adaptadas ao seu modo próprio de
vida, criou formas próprias de cultura. É por isso que encontramos formas de existência, crenças e
pensamento tão diversas. Porque elas não são conseqüências de uma estrutura genética da espécie, mas da
criação de formas de ação e reação decorrentes da experiência particular vivenciada por um grupo de
homens.
Uma vez que cada cultura tem suas próprias raízes, seus próprios significados e características,
todas elas são qualitativamente comparáveis. Todas são igualmente, enquanto culturas, simbólicas, fruto
da capacidade criadora do homem e adaptadas a uma vida comum em determinado espaço e tempo nesse
contínuo recriar, compartilhar e transmitir a experiência vivida e aprendida.
EIXO TEMÁTICO DA AULA: O ESTUDO DA SOCIEDADE HUMANA
 Victor, O “selvagem de Aveyron”
O “menino selvagem” Victor de Aveyron é um dos casos mais conhecidos de seres humanos
criados livres em ambiente selvagem. Provavelmente abandonado numa floresta aos 4 ou 5 anos, foi
objeto de curiosidade e provocou discussões acaloradas principalmente na França, onde o caso ocorreu.
Sua história oficial começa em 1797, quando um menino inteiramente nu, que fugia do
contato com as pessoas, foi visto pela primeira vez na floresta de Lacaune. Em 9 de janeiro de 1800 foi
registrado seu aparecimento num moinho em Saint-Sernein, distrito de Aveyron. Tinha a cabeça, os
braços e os pés nus; farrapos de uma velha camisa cobriam o resto do corpo. Era um menino de cerca de
12 anos de idade, media 1,36m, tinha pele branca e fina, rosto redondo, olhos negros e fundos, cabelos
castanhos e nariz comprido e aquilino. Sua fisionomia foi descrita como graciosa; sorria
involuntariamente e seu corpo apresentava a particularidade de estar coberto de cicatrizes.
Victor não pronunciava nenhuma palavra e parecia não entender nada do que falavam com
ele. Apesar do rigoroso inverno europeu, rejeitava roupas e também o uso de cama, dormindo no chão
sem colchão. Quando procurava fugir, locomovia-se apoiado nas mãos e nos pés, correndo como os
animais quadrúpedes.
Estudo sociológico do caso
Alguns médicos, como os franceses Esquirol (1772-1840) e Pinel (1745-1826), diagnosticaram o
menino selvagem como idiota (nomenclatura que hoje corresponde à deficiência mental grave). Talvez
por essa razão tenha sido abandonado pelos pais.
O médico psiquiatra Jean-Marie Gaspard Itard, diretor de um instituto de surdos-mudos, não
compartilhava da opinião dos colegas. Propôs uma questão: Quais as conseqüências da privação do
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convívio social e da ausência absoluta da educação social humana para a inteligência de um adolescente
que viveu assim, separado de indivíduos de sua espécie? Ele acreditava que a situação concreta de
abandono e afastamento da civilização explicava o comportamento diferente do menino Victor,
contrapondo-se ao diagnóstico de deficiência mental para o caso.
Em seu livro A educação de um homem selvagem, publicado em 1801, Itard apresenta seu trabalho
com o menino selvagem de Aveyron, descrevendo as etapas de sua educação: ele já é capaz de sentar-se
convenientemente à mesa, tirar a água necessária para beber, levar ao seu benfeitor as coisas de que
necessita; diverte-se ao empurrar um pequeno carrinho e começa também a ler. Cinco anos mais tarde, já
fabricava pequenos objetos e podava as plantas da casa. A partir desses resultados Itard reforçou sua tese
de que os hábitos selvagens e a aparente deficiência mental inicial eram apenas e tão-somente resultados
de uma vida afastada de seus semelhantes e da civilização.
Acompanhando de perto e trabalhando vários anos com Victor para educá-lo, Itard formula a
hipótese de que a maior parte das deficiências intelectuais e sociais não é inata, mas tem sua origem na
ausência da socialização, na falta de comunicação com os semelhantes principalmente pela palavra.
Aproximando-se da visão sociológica dos fatos sociais, o pesquisador concluiu que o isolamento social
prejudica a sociabilidade do indivíduo. E a sociabilidade é a base da vida em sociedade.
Os estudos de Itard reforçam um dos fundamentos da Sociologia: os fatos sociais, embora
exteriores, são introjetados pelo indivíduo e exercem sobre ele um poder coercitivo, já que determinam
seu comportamento.
O comportamento humano é muito diversificado. Cada indivíduo recebe influências de seu meio,
forma-se de determinada maneira e age no meio social de acordo com sua formação. O indivíduo aprende
com o meio, mas também pode transformá-lo em sua ação social.
Há comportamentos – como andar, respirar, dormir – estritamente individuais, que se originam na
pessoa enquanto organismo biológico. São comportamentos estudados pelas Ciências Físicas e
Biológicas. Por outro lado, receber salário, fazer greve, participar de eventos, casar-se, educar os filhos
são comportamentos sociais, pois se desenvolvem no contexto da sociedade.
Princípio do prazer X Princípio da realidade: Uma teoria freudiana
Vamos fazer uma descrição resumida de um dos princípios básicos da teoria de Freud, o fundador
da psicanálise. Você verá que para esse grande pensador do século XX “a civilização começa com a
repressão”, já que somos regidos inconscientemente pelo princípio do prazer, que é limitado pelo
princípio da realidade. E a realidade está no social, na vida dos indivíduos em grupos com suas normas e
sanções.
Freud descreve como se desenvolve o eu em um ser humano. O recém-nascido é incapaz de
distinguir o seu eu do mundo externo, que ele percebe apenas como fonte de sensações que fluem
constantemente. Em geral, a primeira percepção do mundo externo ocorre com a descoberta de que uma
fonte vital e de prazer pode ser subtraída, reaparecendo com choro e grito. Essa fonte vital e de prazer é o
seio da mãe, o primeiro objeto que concretiza a existência de algo externo ao indivíduo.
Outra função importante que forja o eu, levando-o a separar-se da “massa geral de sensações”, é o
confronto entre o princípio do prazer – regido por conteúdos inconscientes – e o princípio da realidade –
uma das forças motrizes de todo o desenvolvimento humano, com suas inevitáveis sensações de
desprazer. Pode-se resumir que o que limita o princípio do prazer é o princípio da realidade, com todas as
suas normas sociais.
É pelo confronto entre esses dois princípios que começa a se diferenciar no indivíduo o eu,
interior, do mundo externo. A introjeção do princípio da realidade irá estruturar todo o seu
desenvolvimento posterior. O princípio da realidade, no seu confronto com o princípio do prazer, irá
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capacitar o ser humano a construir defesas que o protejam dos desprazeres de que o mundo externo o
ameaça.
Freud identifica na relação do eu com os objetos existentes no mundo externo – principalmente
com as sensações que estes objetos causam no mundo interno do indivíduo – um importante ponto de
partida de distúrbios patológicos.
Freud considera que a liberdade do indivíduo não é um resultado da civilização. Ao contrário, a
civilização está fundada exatamente na capacidade de, com seus mecanismos reguladores, restringir a
liberdade individual. O homem se constitui, assim, como ser social, aprisionado a um dilema que parece
insolúvel: enquanto no seu estado original de natureza o ser humano era totalmente livre de regras e
padrões, essa liberdade tinha pouco valor, uma vez que todos os indivíduos ficavam vulneráveis e à mercê
de seus semelhantes, sem as normas sociais reguladoras do comportamento.
Portanto, é a civilização que mantém a ordem social, mesmo ao elevado custo de restringir as
liberdades individuais, muitas regidas pelo princípio do prazer.
Freud identifica que, por conta da liberdade perdida, o ser humano estará em permanentemente em
conflito com a civilização, reconhecendo que cada revolução, cada impacto que a humanidade
experimenta é uma tentativa de externalizar e superar esse conflito, essa inquietação. E é assim que a
civilização evolui. Segundo Freud “o impulso de liberdade é dirigido contra formas e exigências
específicas da civilização ou contra a civilização em geral. Não parece que qualquer influência possa
induzir o homem a transformar sua natureza na de uma térmita. Indubitavelmente, ele sempre defenderá
sua reivindicação à liberdade individual contra a vontade do grupo”.
Com o seu agudo espírito investigativo, Freud desmistifica o papel do progresso científico e
tecnológico como um fator imediato na construção da felicidade humana, segundo ele, principal propósito
da vida. E identifica na civilização e na cultura, pelas regras e limitações que estas impõem aos homens,
um impedimento à conquista da felicidade.
Quanto às relações sociais – classificadas por ele como um dos aspectos característicos da
civilização – Freud define o primeiro momento da civilização como aquele em que se iniciou a regulação
dos relacionamentos sociais. É esse o momento da passagem do estado de natureza para o estado de
sociedade. O elemento de civilização entra em cena com as primeiras tentativas dos indivíduos de regular
seus relacionamentos sociais e, sem essa tentativa, os relacionamentos ficariam sujeitos à vontade
arbitrária de cada indivíduo, ao princípio do prazer. O homem fisicamente mais forte decidiria sempre no
sentido de seus próprios interesses e impulsos instintivos, até encontrar outro mais forte que ele.
(Fonte: FREUD, Sigmund. O mal-estar na civilização. Traduzido para o
inglês por Joan Riviere, Londres, Hogarth, 1955.)
EIXO TEMÁTICO DA AULA: Biológico e Cultural
Dizer que o homem é um ser bio-cultural não é simplesmente justapor estes dois termos, mas
mostrar que eles se co-produzem e que desembocam nesta dupla proposição:


Todo o ato humano é bio-cultural (comer, dormir, defecar, acasalar, cantar, dançar, pensar ou
meditar).
Todo o ato humano é, ao mesmo tempo, totalmente biológico e totalmente cultural.
Comecemos pelo primeiro ponto: o homem é um ser totalmente biológico. Antes de mais é
preciso ver que todos os traços propriamente humanos derivam de traços específicos dos primatas ou dos
mamíferos que se desenvolvem e se tornam permanentes. Neste sentido, o homem é um superprimata:
traços que eram esporádicos ou provisórios no primata - o bipedismo, a utilização de utensílios e mesmo
uma certa forma de curiosidade, de inteligência, de consciência de si - tornaram-se sistemáticos no
homem. O mesmo se verifica no domínio da afetividade: o jovem mamífero é um ser ligado à mãe (...) e
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é nesta forma primitiva que radica o amor e a ternura humana. Os sentimentos de fraternidade e de
rivalidade que se encontram nos mamíferos desenvolveram-se também na nossa espécie: o homem
tornou-se capaz da maior amizade como da maior hostilidade para com o seu semelhante. (...)
Falta mostrar agora que o homem é totalmente cultural. Antes de mais, é preciso recordar que
qualquer ato é totalmente culturalizado: comer, dormir e mesmo sorrir ou chorar. Sabemos bem, por
exemplo, que o sorriso do japonês não é igual à gargalhada do americano! E a coisa mais espantosa aqui
é que os atos que são mais biológicos são precisamente os que são mais culturais: nascer, morrer, casar.
(...).
A idéia de uma definição bio-cultural de homem é fundamental e rica de conseqüências. O
processo bio-cultural é um processo incessantemente recomeçado que, a cada instante, se refaz a nível
dos indivíduos e a nível das sociedades. Eu definiria, por isso, o nó da nova antropologia do seguinte
modo: o ser humano é totalmente humano porque é, ao mesmo tempo, plena e totalmente vivo e plena e
totalmente cultural.
Quando comparamos os seres humanos com os outros seres, aquilo que desde logo se destaca
é a sua enorme capacidade de adaptação às mais diversas situações, seja modificando o comportamento,
seja alterando o próprio meio. Nesta adaptação a enorme capacidade de aprendizagem humana
desempenha em todo o processo uma função essencial.
É característico da natureza humana a sua capacidade de integração às mais variadas
sociedades e grupos sociais, onde adota desde nascença as suas normas, valores e comportamentos
específicos. É por esta forma que os seres humanos se diferenciam entre si, condicionados pelos padrões
culturais que encontram quando nascem.
Edgar Morin, A Unidade do Homem, Vol. III. Ed. Cutrix.
Hereditariedade e Aprendizagem Cultural
Segundo Kroeber, o pensamento baseado em antíteses complementares, ou seja, um equilíbrio
formado de contrários que se excluem, é a marca do pensamento da civilização ocidental. Daí a idéia de
físico e mental, corpo e alma, orgânico e cultural. É sobre essa última antítese que se detém o autor,
melhor dizendo, é a que diz respeito à Antropologia. Aquilo que não faz parte da natureza, seguramente
está na cultura. Mas essa lógica dedutiva seria assim tão simples? Na realidade não. Mas veja bem, será
que os aspectos culturais podem ser explicados pelo biológico? Vejamos as evidências existentes na
diferença entre aquilo que é orgânico (faz parte da natureza) e o que não é. Para compreender façamos
uma comparação entre dois elementos que compõem os aspectos característicos de um indivíduo: a cor
dos olhos e seus modos (grosseiros ou gentil, por exemplo). A primeira característica é claramente
hereditária, no entanto, as regras de etiqueta que compõem o quadro de comportamento, chegam aos
indivíduos por meios que em nada se relacionam com a hereditariedade.
No conceito de evolução elaborado pela Biologia, os animais se adaptam ao meio para garantir a
sobrevivência de sua espécie. É a reverenciada e valiosa teoria da seleção natural das espécies de Charles
Darwin, nela somente os mais aptos sobrevivem. Assim, nesse processo adaptativo, os seres vivos
adquirem, por mudanças gradativas, uma série de modificações que produzem o aparecimento de
determinadas faculdades em detrimento de outras, e que, em síntese, no decorrer de um longo tempo,
confere uma maior aptidão ao meio pelos seres que sofreram esse processo.
Essa é uma comparação entre natureza e cultura para mostrar que a questão fundamental é que na
natureza o surgimento de determinadas faculdades e características físicas significa a perda de outras, pois
o desaparecimento de determinadas faculdades deu lugar ao surgimento de outras. Já no campo da cultura
isso não é verdade. Para continuar esse raciocínio vamos olhar para algumas conquistas da humanidade.
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Antropologia
Há um século, o homem conquistou a capacidade de voar, mas isso não decorreu da perda de qualquer
característica ou faculdade que ele possuía. Essa nova capacidade resultou de acúmulo de conhecimento
que o levou a essa conquista. Percebe-se, portanto, que enquanto a evolução orgânica está intrínseca e
inseparavelmente relacionada com a hereditariedade, a evolução social é resultado da ação humana. Essa
constatação levou Kroeber (1949) a uma inferência importante: “O processo de desenvolvimento da
civilização é claramente acumulativo: conserva-se o antigo, apesar da aquisição do novo” (p.235).
Apesar de tal constatação e inferência, muitos cientistas persistem na explicação das variações
culturais partindo das referencias biológicas. Os animais possuem características e faculdades físicas
decorrentes de sua adaptação ao meio, partindo desse raciocínio, quanto mais rigoroso o frio em uma
região mais características para a retenção de calor do corpo o animal possuirá, garantindo, dessa forma,
sua sobrevivência. Assim, uma lebre do deserto Norte Americano possui uma pelagem fina e com falhas,
ao passo que mudando de latitude em direção ao norte as lebres possuem pelos macios e fartos de modo a
garantir proteção contra o frio rigoroso. Percebe-se que para sobreviver uma espécie necessita modificar
características de seu corpo. Esse mesmo raciocínio alguns cientistas insistem em aplicar às diferenças
entre grupos sociais humanos. Vejamos o exemplo dos esquimós, apesar do frio intenso do pólo norte a
população esquimó não possui pelos para aquecer seu corpo. A versão explicativa elaborada pelos
cientistas ligados às ciências biológicas afirma que ele é protegido pela gordura de seu corpo e a
manutenção da mesma depende do alto nível de carne e banha de foca que constituem sua dieta. Ora,
parece que os níveis de gordura do corpo de um esquimó são os mesmos de vários habitantes dos trópicos
e a dieta baseada em foca durante o inverno resulta da total, ou quase total, falta de opções em conseguir
outro alimento. No entanto, um pesquisador do Ártico ou da Antártida não se alimenta de foca durante
suas expedições exploradoras, mas sim de pão, leite, ovos e tudo aquilo que seus hábitos permitirem. Se
um habitante do Ártico ou qualquer outra parte do planeta sente frio ele faz uma fogueira, ou veste uma
roupa mais quente, mas todos seus ancestrais e descendentes nasceram e continuarão a nascer tão nus
quanto ele.
O homem não modifica seu corpo para se adaptar a um dado ambiente, ele muda o ambiente.
As diferenças entre o homem e os demais animais não são só de quantidade, mas também de
qualidade. A primeira se refere ao físico e ao mental, logo é relativa, mas a segunda diz respeito à
diferença entre o orgânico e o social e nesse ponto somente o homem possui a civilização. Uma prova
para essa inferência está na linguagem. Tanto a linguagem humana como a animal exprimem emoções,
porem, somente o homem pode aprender qualquer tipo de linguagem, não acontecendo o mesmo entre os
animais. Melhor explicitando, um cachorro jamais miara, assim como um leão nunca relinchara, mas uma
criança, ou mesmo um adulto, pode aprender todas, literalmente todas, as línguas existentes no mundo por
um simples motivo: a linguagem humana não é hereditária, a capacidade de emitir sons o é, mas a
linguagem vai alem, pois nela se encerram significados e todo o processo de simbolização, portanto ela é
aprendida. Somente o homem é capaz de conferir significados a sons articulados. Talvez fosse possível
questionar a capacidade de cachorros ou golfinhos, por exemplo, em distinguir e entender os significados
de sons a partir de um comando de “sente-se!” ou “pare!” como uma tarefa semelhante à humana no
processo da fala, mas veja em nenhum momento esses animais são o agente ativo na criação desses
significados, eles não podem simbolizar.
“A linguagem humana e a animal, se bem que uma se origine da outra, são, pois, na natureza, de ordem
diferente. Elas se assemelham apenas como o vôo de um pássaro se assemelha ao de um aeronauta”.
(KROEBER; 1949: 245).
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
 KROEBER, Alfred l. “O superorgânico”, in Donald Pierson (org.), Estudos de organização
social. São Paulo: Livraria Martins Editora, 1949.
EIXO TEMÁTICO DA AULA: FORMAÇÃO DA SOCIEDADE BRASILEIRA
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A questão social e racial no pensamento brasileiro
Numa atitude característica da produção cultural de países periféricos, a intelectualidade brasileira
da passagem do século XIX ao XX esteve mobilizada pelo problema da formação nacional. Esse
interesse, contudo, estava sendo suscitado, no período, por dois processos sociais mais amplos em
relação, aos quais, na verdade, o próprio pensamento social brasileiro do período se constituiu como
corpo de conhecimento relativamente ordenado: a construção do Estado-nação e a modernização
capitalista. E uma das principais vertentes em que se abriu, no período, o debate sobre a formação do
povo e, conseqüentemente, sobre as formas de organização da sociedade, foi a chamada questão racial.
Sob o influxo do naturalismo, em geral, e do darwinismo social, em particular, o biológico foi
adotado no período como modelo epistemológico cientificamente legítimo de explicação da realidade
social, configurando, assim, idéias como a de uma luta universal dos organismos pela sobrevivência e,
derivação necessária, de uma hierarquia natural que dividiria a humanidade em raças superiores e
inferiores. Tomando esses dogmas como leis científicas, não apenas a intelectualidade brasileira, mas a
latino-americana em geral, formulou uma série de diagnósticos sobre o trágico destino reservado às
nações egressas do sistema colonial em função das suas constituições étnicas.
No Brasil, a convicção de que a mestiçagem constituía a base particular da formação da sociedade
já era, no entanto, qualquer definição do que seria o “brasileiro” deveria partir da fusão das três diferentes
raças que aqui se encontraram: Qualquer que se encarregar de escrever a História do Brasil, país que tanto
promete, jamais deverá perder de vista quais os elementos que aí concorrerão para o desenvolvimento do
homem.
Todo brasileiro é um mestiço, quando não no sangue, nas idéias. Os operários deste fato inicial
têm sido: o português, o negro, o índio, o meio físico e a imitação estrangeira.
Existiriam ao menos duas posições básicas distintas a respeito do tema da raça que vinha
ordenando a produção intelectual brasileira: partindo ambas da miscigenação, uma tomando como
premissa a idéia de que ela levaria à esterilidade senão biológica, cultural ao menos, sustentava a
inviabilidade do país frente a qualquer esforço de civilização; a outra posição procuraria justamente nos
libertar dessa suposta condenação, apresentando, para isso, um tipo de terapêutica étnica que assegurasse
o gradual predomínio dos caracteres brancos sobre os caracteres negros na nossa população miscigenada:
a chamada teoria do branqueamento. Além de ideologia discriminatória baseada no dogma da supremacia
das supostas “raças arianas”, o gradual “embranquecimento” da população brasileira foi pensado por seus
artífices como um mecanismo normativo capaz de assegurar a coesão ou unidade étnica do país. A
redenção étnica do país se daria da seguinte forma: O tipo branco irá tomando a preponderância, até
mostrar-se puro e belo como no velho mundo. Será quando já estiver de todo aclimatado no continente.
Dois fatos contribuíram largamente para tal resultado: de um lado a extinção do tráfico africano e o
desaparecimento constante dos índios, de outro a imigração européia.
Embora sejam conhecidas as pretensões com que Gilberto Freyre procurou estabelecer Casagrande & senzala (1933) como o primeiro estudo de caráter sociológico a romper com a lógica racial
característica até então da nossa produção intelectual, permanece ainda como controvérsia se o autor teria
abandonado, de fato, a utilização da categoria raça, ou mesmo se teria distinguido seu emprego da de
cultura. Controvérsia presente em grande parte nas análises das interpretações do Brasil formuladas até
meados dos anos 30, e que, aliás, também está presente no debate latino-americano em geral sobre o
período.
Não se pode perder de vista, assim, que a adoção do naturalismo pela intelectualidade brasileira
estava associada também, num certo sentido, à expectativa de que a “ciência” fundaria um tipo de
autoridade mais racional e civilizada do que a “patronagem”: A sua terminologia, tão prestigiosamente
moderna quanto estranha à vida corrente, anunciava rupturas radicais; prometia substituir o mecanismo
atrasado da patronagem oligárquica por espécies novas de autoridade, fundadas na ciência e no mérito
intelectual.
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Cultivados na atmosfera modernizante dos anos finais do Império no Brasil, os intelectuais da
chamada geração modernista de 1870 vislumbraram na sintonia do pensamento brasileiro aos discursos
filosóficos e cientificistas dominantes da época, a possibilidade de demonstrar sua própria modernização.
O período, com efeito, é marcado de tal modo por transformações econômicas, políticas, sociais e
culturais que em parte confere sentido histórico à perseguição de um ideal de modernidade por parte da
intelectualidade brasileira. Importante relevar que neste processo mais amplo de transição social, os
intelectuais do período viveram uma profunda tensão entre a herança dos valores paternalistas herdados e
a convicção modernizadora dos valores burgueses em ascensão. Essa tensão, acentuada pelas
ambigüidades sociais próprias ao funcionamento incompleto de um padrão burguês no país, marcou
objetiva e subjetivamente a produção intelectual do período e esteve presente na própria
institucionalização das Ciências Sociais décadas mais tarde. É claro que a perspectiva dos autores da
geração modernista de 1870 em relação ao naturalismo não foi unívoca, ainda que suas distintas inserções
ideológicas não tenham em geral constituído propriamente um obstáculo para o plano do procedimento
metodológico, dada a imposição de modo quase convencional nas análises da sociedade brasileira do
período de um “método histórico-genético”. Todavia, embora a adoção do biológico, assim como da sua
correspondente perspectiva determinista racial, possam exprimir genericamente a tentativa de atualização
do pensamento brasileiro ao discurso cientificista dominante da época, o ponto fundamental do problema
é que essa modernização se realizou através da própria naturalização da nossa herança colonial e das
relações sociais que, tendo por base a experiência de três séculos de escravidão, estruturaram a sociedade
brasileira.
Por isso, na mesma medida em que aguçava as aspirações do moderno, a adoção do naturalismo
por parte da intelectualidade brasileira expunha as fraturas e ambigüidades da nossa realidade social. O
uso provinciano da ciência revelava a própria apropriação oligárquica do moderno no plano das idéias, o
que, de certa forma, sintetiza um caminho brasileiro para a modernidade. Nesse sentido, a explicação do
modo pelo qual foram adotadas as teorias do racismo científico por parte da intelectualidade nacional esta
relacionada, no limite, ao vínculo ambíguo da escravidão numa economia capitalista e com o modo
conservador e retrógrado pelo qual o Brasil rompeu com o estatuto colonial e entrou para o concerto das
nações independentes. Em suma, tratava-se de incorporar idéias necessárias à construção da jovem pátria,
mas isto sem quebra da ordenação social e econômica formada na colônia, tráfico negreiro e trabalho
escravo inclusive, ordenação sobre a qual repousariam a liberdade e a prosperidade nas novas
circunstâncias.
Com a Abolição, as inovações institucionais e a liberalização jurídico-política ficaram
circunscritas apenas à adaptação da grande empresa agrária ao regime de trabalho livre e às relações de
troca no mercado de trabalho que ele pressupunha. No mais “continuaram a imperar os modelos de
comportamento, os ideais de vida e os hábitos de dominação patrimonialista, vigentes anteriormente na
sociedade estamental e de castas”. Não se trata, no entanto, de duvidar que o discurso do racismo
científico tenha sido carente de função. Nesse sentido, pode-se dizer que no contexto da desagregação da
ordem escravocrata o racismo científico procurou transfigurar a experiência social da escravidão sob a
qual nos formamos em dados meramente naturais equacionáveis cientificamente; daí ter constituído
exatamente uma “aparência socialmente necessária” da própria escravidão. Pois “a ideologia é ideologia,
ou seja, aparência socialmente necessária, precisamente porque a consciência que produz nos integrantes
da sociedade se atém à sua forma já acabada - a única que aparece. Essa forma acabada é produto de um
processo complexo, mas não aparece como produto e sim como dado original e, no limite, natural. A
eficácia da ideologia reside na sua capacidade para vedar o acesso aos resultados da atividade social como
produtos, mediante o bloqueio da reflexão sobre o modo como foram produzidos”. Trata-se, assim, de se
qualificar o mecanismo social de apropriação oligárquica no plano das idéias, fundamental numa
sociedade formada sob a escravidão, cuja complexidade, como a matéria que o pensamento brasileiro
trata de ordenar, não se presta a simplificações demasiado ordeiras não raro presentes nas análises do
tema.
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Na medida em que desempenhou papel decisivo na desarticulação do debate da questão social no
contexto da desagregação da ordem social escravocrata, a ideologia do racismo científico constitui um
dos casos mais emblemáticos dessa combinação do moderno no plano das idéias – a ciência e seu
horizonte democrático - a objetivos conservadores – o legado da escravidão - no plano social, quer no
pensamento social brasileiro da passagem do século XIX ao XX, quer nas relações sociais em geral. E
ainda hoje, uma vez que a ideologia racial transfigurou o cativo em “negro” ou “mulato”.
EIXO TEMÁTICO DA AULA: Interculturalismo, Etnocentrismo, Relativismo cultural e
Multiculturalismo.
Interculturalismo
O Interculturalismo implica a integração de indivíduos e grupos étnicos minoritários numa
sociedade com uma cultura diferente. Assim, estas minorias étnicas poderiam expressar e manter
elementos distintivos da sua cultura ancestral, especialmente em relação à língua e à religião.
Podemos dizer que o Interculturalismo defende a ausência de desvantagens sociais e econômicas
ligadas a aspectos étnicos ou religiosos; a oportunidade de participar nos processos políticos, sem
obstáculos do racismo e da discriminação e o envolvimento de grupos minoritários na formulação e
expressão da identidade nacional.
O modelo intercultural afirma-se no cruzamento e miscigenação cultural, sem imposições.
O interculturalismo consiste em pensar que nós nos enriquecemos através do conhecimento de
outras culturas e dos contactos que temos com elas e que desenvolvemos a nossa personalidade ao
encontrá-las. As pessoas diferentes deveriam poder viver juntas apesar de terem culturas diferentes. O
interculturalismo é a aceitação e o respeito pelas diferenças. Crer no interculturalismo é crer que se
pode aprender e enriquecer através do encontro com outras culturas.
Etnocentrismo
O etnocentrismo é a atitude pela qual um indivíduo ou um grupo social, que se considera o
sistema de referência, julga outros indivíduos ou grupos à luz dos seus próprios valores. Pressupõe que
o indivíduo, ou grupo de referência, se considere superior àqueles que ele julga, e também que o
indivíduo, ou grupo etnocêntrico, tenha um conhecimento muito limitado dos outros, mesmo que viva
na sua proximidade.
O termo etnocentrismo foi utilizado pela primeira vez por W. G. Sumner (1906), e
corresponde à atitude pela qual os hábitos ou comportamentos próprios são acriticamente encarados
como sendo indiscutivelmente superiores aos hábitos ou comportamentos de outrem. É a atitude pela
qual um indivíduo ou um grupo toma como referência os valores partilhados no seu próprio grupo,
quando avalia os mais variados assuntos. É uma atitude que encara o próprio grupo como se fosse o
centro da realidade.
O termo é também utilizado para criticar os cientistas sociais que apresentam visões acusadas
de estreitas e preconceituosas acerca dos grupos ou sociedades estudados. Assim, como exemplo temos
o regime Nazista, que acreditava na sua supremacia e que deveria existir apenas uma única raça, a
Ariana. As pessoas que não correspondiam à definição da constituição física desta raça eram
executadas.
Relativismo cultural
Princípio que afirma que todos os sistemas culturais são intrinsecamente iguais em valor, e
que os aspectos característicos de cada um têm de ser avaliados e explicados dentro do contexto do
sistema em que aparecem.
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A comunidade Hippie é um exemplo de relativismo cultural, são respeitados pela sociedade e
respeitam-na, mas não vivem segundo os seus costumes e ideais, e vivem sem seguir as tendências da
sociedade.
Multiculturalismo
A palavra multiculturalismo tem geralmente uma conotação positiva: refere-se à coexistência
enriquecedora de diversos pontos de vista, interpretações, visões, atitudes, provenientes de diferentes
bagagens culturais. O termo serve de etiqueta para uma posição intelectual aberta e flexível, baseada no
respeito desta diversidade e na rejeição de todo preconceito ou hierarquia. As várias óticas devem ser
consideradas em pé de igualdade; afirmações ou construções teóricas só podem ser julgadas em relação
ao ponto de vista cultural. Não tem sentido falar de contradição, só de diferença. Não tem sentido falar
de verdade, só de verdade para um determinado grupo cultural. O multiculturalismo apregoa uma visão
caleidoscópica da vida e da fertilidade do espírito humano, na qual cada indivíduo transcende o marco
estreito da sua própria formação cultural e é capaz de ver, sentir e interpretar por meio de outras
apreciações culturais. O modelo humano resultante é tolerante, compreensivo, amplo, sensível e
fundamentalmente rico: a capacidade interpretativa, de observação e até emotiva, se multiplica.
O multiculturalismo implica em reivindicações e conquistas das chamadas minorias (negros,
índios, mulheres, homossexuais, entre outras).
A doutrina multiculturalista da ênfase a idéia de que as culturas minoritárias são
discriminadas, sendo vistas como movimentos particulares, mas elas devem merecer reconhecimento
público. Para se consolidarem, essas culturas singulares devem ser amparadas e protegidas pela lei. O
multiculturalismo opõe-se ao que ele julga ser uma forma de etnocentrismo (visão de mundo da
sociedade branca dominante que se toma por mais importante que as demais).
A política multiculturalista visa resistir à homogeneidade cultural, principalmente quando esta
homogeneidade é considerada única e legítima, submetendo outras culturas a particularismos e
dependência.
Texto para discussão
Cidadão 100% norte-americano
O cidadão norte-americano desperta num leito construído segundo padrão originário do Oriente
próximo, mas modificado na Europa Setentrional, antes de ser transmitido à América. Sai debaixo de
cobertas feitas de algodão, cuja planta se tornou doméstica na Índia; ou de linho ou de lã de carneiro, um
e outro domesticados no Oriente Próximo; ou seda, cujo emprego foi descoberto na China. Todos estes
materiais foram fiados e tecidos por processos inventados no Oriente Próximo. Ao levantar da cama faz
uso dos mocassins que foram inventados pelos índios das florestas do Leste dos Estados Unidos e entra
no quarto de banho, cujos aparelhos são uma mistura de invenções européias e norte-americanas, umas e
outras recentes. Tira o pijama, que é vestuário inventado na Índia, e lava-se com sabão que foi inventado
pelos antigos gauleses; faz a barba que é um rito masoquístico que parece provir dos sumerianos ou do
antigo Egito.
Voltando ao quarto, o cidadão toma as roupas que estão sobre uma cadeira de tipo europeu
meridional e veste-se. As peças de seu vestuário têm a forma das vestes das peles curtidas por um
processo inventado no antigo Egito e cortadas segundo um padrão proveniente das civilizações clássicas
do Mediterrâneo; a tira de pano de cores vivas que amarra ao pescoço é sobrevivência dos xales usados
aos ombros pelos croatas do século XVII. Antes de ir tomar seu breakfast, ele olha a rua através da
vidraça feita de vidro inventado no Egito; e, se estiver chovendo, calça galochas de borracha descoberta
pelos índios da América Central e toma um guarda-chuva inventado no sudoeste da Ásia. Seu chapéu é
feito de feltro, material inventado nas estepes asiáticas.
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De caminho para o breakfast, pára, para comprar um jornal, pagando-o com moedas, invenção da
Líbia antiga. No restaurante, toda uma série de elementos tomados de empréstimo o espera. O prato é
feito de uma espécie de cerâmica inventada na China. A faca é de aço, liga feita pela primeira vez na
Índia do sul; o garfo inventado na Itália medieval, a colher vem de um original romano.
Começa seu breakfast com uma laranja vinda do Mediterrâneo oriental, um melão da Pérsia, ou
talvez uma fatia de melancia africana. Toma café, planta abissínia, com nata e açúcar. A domesticação do
gado bovino e a idéia de aproveitar seu leite são originárias do Oriente Próximo, ao passo que o açúcar foi
feito pela primeira vez na Índia.
Depois das frutas e do café, vêm Waffles, os quais são bolinhos fabricados segundo uma técnica
escandinava, empregando como matéria-prima o trigo, que se tornou planta doméstica na Ásia Menor.
Rega-os com xarope de maple, inventado pelos índios das florestas do Leste dos Estados Unidos. Como
prato adicional talvez coma o ovo de uma espécie de ave domesticada da Indochina ou delgadas fatias de
carne de um animal domesticado na Ásia oriental, salgada e defumada por um processo desenvolvido no
Norte da Europa.
Acabando de comer, nosso amigo se recosta para fumar, habito implantado pelos índios americanos
e que consome uma planta originaria do Brasil: fuma cachimbo, que procede dos índios da Virginia, ou
cigarros, provenientes do México. Se for fumante valente, pode ser que fume mesmo um charuto,
transmitido à América do Norte pelas Antilhas, por intermédio da Espanha. Enquanto fuma, lê noticias do
dia, impressas em caracteres inventados pelos antigos semitas, em material inventado na China e por um
processo inventado na Alemanha. Ao inteirar-se das narrativas dos problemas estrangeiros, se for um bom
cidadão conservador, agradecerá a uma divindade hebraica numa língua indoeuropéia, o fato de ser 100%
americano. (LINTON, Ralph. O homem: uma introdução à Antropologia. 8ª ed.,são Paulo, Martins Ed.,
1971, p. 331-2.)
EIXO TEMÁTICO DA AULA: RAÇAS HUMANAS
A designação ‘raças humanas’, um conceito estritamente antropológico, classifica grupos
populacionais com base em características morfológicas: traços visíveis, tais como cor da pele,
formação do crânio e do rosto e tipo de cabelo, constituição física, estatura, etc.
A designação etnia é muitas vezes usada como um eufemismo para raça, ou como um sinônimo
para grupo minoritário. Etnia compreende os fatores culturais, como a nacionalidade, a afiliação
tribal, a Religião, a língua e as tradições.
A cultura como principal critério de diferenciação:
Assim, abandonada a noção de raça, a partir do séc. xx um novo paradigma sustentado pela ciência,
afirma que os grupos humanos se distinguem e se diferenciam unicamente em termos culturais. A
imensa diversidade cultural, correspondendo a modos de vida extraordinariamente diversificados, não é
em nada imputável à biologia: ela desenvolve-se paralelamente à diversidade biológica. O racismo
consiste precisamente no contrário, fez de um fenômeno cultural, um fenômeno pretensamente físico,
natural e biológico. “No início das pesquisas em genética, os cientistas, que tinham em mente as
classificações raciais herdadas do século passado, pensavam que iriam encontrar os genes dos Amarelos,
dos Negros, dos Brancos... Pois bem, nada disso, não foram encontrados. Em todos os sistemas genéticos
humanos conhecidos, os repertórios de genes são os mesmos”.
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No ser humano, o impacto da cultura não parece assim ser suficientemente grande para explicar
uma diferenciação entre raças.
A etnologia, ciência que estuda as etnias, é uma área multidisciplinar que reconta a história de
negros, índios, mestiços e procura caminhos para que se exterminem racismos e outras formas de
injustiças étnico-culturais. Esta é a área de um mestrado numa universidade do Brasil.
Diz assim o dicionário: etnologia é o Tratado acerca da origem e distribuição dos povos.
Étnico define-se como:
. Característico de um país.
. Designa os habitantes de uma região ou é relativo a eles.
Geralmente utiliza-se o termo etnia para nos referirmos a grupos indígenas ou de nativos. Porém, o
termo etnia deve ser usado para designar diversos grupos étnicos existentes no mundo, de acordo com o
próprio conceito: deriva do grego ethnos, cujo significado é povo. A etnia representa a consciência de um
grupo de pessoas que se diferencia dos outros. Esta diferenciação ocorre em função de aspectos culturais,
históricos, linguísticos, raciais, artísticos e religiosos.
A etnia não é um conceito estático. O aumento populacional e o contacto de um povo com outros
(miscigenação cultural) provoca mudanças numa determinada etnia.
Etimologia
A palavra "etnia" é derivada do grego ethnos, e significa "povo". Esse termo era tipicamente
utilizado para se referir a povos não-gregos, então também tinha conotação de "estrangeiro". No
posterior uso Católico-romano, havia a conotação adicional de "gentio". A palavra deixou de ser
relacionada com o paganismo em princípios do Século XVIII. O uso do sentido moderno, mais próximo
do original grego, começou na metade do Século XX, tendo se intensificado desde então.
Influências promotoras da interculturalidade e da partilha, denominadas étnicas.
Embora não possam ser considerados como iguais, o conceito de raça é associado ao de etnia. A
diferença reside no fato de que etnia também compreende os fatores culturais, como a nacionalidade, a
afiliação tribal, a Religião, a língua e as tradições, enquanto raça compreende apenas os fatores
morfológicos, como cor de pele, constituição física, estatura, traço facial, etc.
Grupo étnico
É um grupo de pessoas que se identificam umas com as outras, ou são identificadas como tal por
terceiros, com base em semelhanças culturais ou biológicas, ou ambas, reais ou presumidas. Tal como
os conceitos de raça e nação, o de etnicidade desenvolveu-se no contexto da expansão colonial européia.
Nação, do latim natio, de natus (nascido), é a reunião de pessoas, geralmente do mesmo grupo
étnico, falando o mesmo idioma e tendo os mesmos costumes, formando, assim, um povo, cujos
elementos componentes trazem consigo as mesmas características étnicas e se mantêm unidos pelos
hábitos, tradições, religião, língua e consciência nacional.
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"Raças" humanas
O conceito de raças humanas foi usado pelos regimes coloniais e pelo apartheid (na África do
Sul), para perpetuar a submissão dos colonizados; atualmente, só nos Estados Unidos se usa uma
classificação da sua população em raças, alegadamente para proteger os direitos das minorias. Algumas
vezes utiliza-se o termo raça para identificar um grupo cultural ou étnico-lingüístico, sem quaisquer
relações com um padrão biológico. Nesse caso pode-se preferir o uso de termos como população, etnia,
ou mesmo cultura.
A Sociedade Brasileira
A formação da sociedade brasileira é fruto de uma miscigenação, ou seja, uma mistura de três
etnias formadoras da cultura do povo brasileiro. A cultura brasileira seria um complicado processo de
unificação de influências indígenas, européias (brancos) e negras. O colonizador europeu, em razão do
seu domínio político-econômico, impôs ao Brasil os padrões culturais europeus. Desprezou ao máximo
as heranças culturais dos índios e do negro, considerando-os contribuições de classes inferiores. Porém,
muitos elementos culturais do índio e do negro se fixaram aos costumes brasileiros, incorporando-se na
estrutura cultural do Brasil. Vejamos algumas heranças deixadas pela miscigenação das etnias à cultura
brasileira:
Herança Cultural Indígena
Sabe-se que os índios, primeiros habitantes de nossas terras, tinham hábitos diferentes dos
conquistadores, por isso foram considerados raça inferior, já que viviam basicamente da coleta natural, ou
seja, caçavam, pescavam e algumas tribos desenvolviam uma rudimentar agricultura de subsistência.
Sobreviviam basicamente da natureza. Principais contribuições culturais dos índios ao povo brasileiro
foram:
 Alimentos: mandioca, milho, guaraná, palmito etc.
 Objetos e utensílios: rede de dormir, jangada, canoa, instrumentos de caça e de pesca,
instrumentos musicais (maracá) etc.
 Linguagem: palavras derivadas da língua Tupi, como jacaré, Pará, abacaxi e muitas outras.
 Trabalho: técnica de cerâmica, o preparo da farinha de mandioca e do milho.
 Costumes: banho diário, uso do tabaco, a pintura etc.
 Nas comunidades caiçaras, isoladas dos centros urbanos, é possível reviver um pouco da
atmosfera do Brasil dos primeiros tempos. Os ancestrais dessa gente provavelmente descendem
dos primeiros mestiços que habitaram o litoral. A canoa, feita a partir do tronco de árvore, se
parece com as usadas pelos índios. Ela é o único meio de transporte e garante a sobrevivência.
O colonizador e o índio
O processo de colonização empreendido pelo europeu na América, movido pela ganância de
lucros e riquezas, foi altamente danoso e prejudicial ao índio, pois, em posição desvantajosa sob vários
aspectos em relação ao europeu, o nativo não pôde resistir à fúria do colonizador.
Desde a extração do pau-brasil até os dias atuais, os índios foram explorados como força de
trabalho, adquiriram doenças para as quais eram indefesos, sofreram perseguições e preconceitos, foram
desalojados de suas terras, dizimados e até mesmo transformados em "objeto" de interesse turístico.
Muitos "integraram-se" à sociedade branca, porém essa integração é apenas aparente, pois, de
um lado, o índio não consegue tornar-se um "civilizado" ou "branco" e, de outro, acaba perdendo grande
parte de sua própria identidade.
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As palavras a seguir são do indigenista brasileiro Orlando Villas-Boas:
"Se fizermos uma comparação com os índios, poderemos dizer que os civilizados são uma sociedade
sofrida. O índio, por sua vez, estacionou no tempo e no espaço. O mesmo arco que ele faz hoje, seus
antepassados faziam há 1.000 anos. Se eles pararam nesse sentido, evoluíram quanto ao comportamento
do homem dentro de sua sociedade O índio em sua tribo tem um lugar estável e tranqüilo. É totalmente
livre, sem precisar dar satisfações de seus atos a quem quer que seja. Toda a estabilidade tribal, toda a
coesão está assentada num mundo mítico. Que diferença enorme entre as duas humanidades: uma
tranqüila, onde o homem é o dono de todos os seus atos; outra, uma sociedade em explosão, onde é
preciso um aparato, um sistema repressivo para poder manter a ordem e a paz dentro da sociedade. Se um
indivíduo der um grito no centro de São Paulo, uma radiopatrulha poderá levá-lo preso. Se um índio der
um tremendo berro no meio da aldeia, ninguém olhará para ele, nem irá perguntar porque ele gritou. O
índio é um homem livre." (Citado por Melhem Adas, Panorama geográfico do Brasil, p. 107.)
Herança Cultural Europeia (Branca)
Chegaram com a efetiva posse da terra e procuraram de imediato implantar aos conquistados
seus valores culturais, sua língua e padrões de comportamentos europeus “civilizados”. Por meio dos
padres jesuítas conseguiram implantar a educação europeia e a religião católica, que até hoje é
predominante no Brasil. Recebemos dos portugueses a maior parte das influências que formam a cultura
brasileira. Vejamos algumas:
 O idioma português;
 Roupas, comidas, modelos de habitação (casas);
 O cristianismo;
 A educação cientifica;
 O sistema político, jurídico, administrativo e econômico.
Herança Cultural Negra
A Escravidão
Durante o século XV, enquanto contornavam a África para chegar às Índias, os portugueses
iniciaram um grande negócio que nos séculos seguintes foi se tornando cada vez mais lucrativo: capturar
homens, mulheres e crianças no litoral da África, para depois vendê-los como mercadorias (escravos),
obtendo daí um grande lucro. Os negros trazidos ao Brasil pertenciam principalmente à dois grupos
lingüísticos:
 Bantos: sul da África, geralmente de Angola e Moçambique, trazidos para o Rio de Janeiro,
Minas Gerais e Pernambuco.
 Sudaneses: da Nigéria e Guiné, que foram trazidos principalmente para a Bahia.
Um duro trabalho era reservado aos negros que conseguiam sobreviver à dura viagem. Chegando ao
Brasil, eles eram vendidos nos mercados de escravos, e algum tempo depois, já estavam trabalhando para
os seus donos, à base da violência, do chicote do feitor. Os negros realizavam vários tipos de atividades.
Trabalhavam na lavoura do açúcar, no plantio do algodão e do café, no extrativismo mineral.
Trabalhavam também na prestação de serviços domésticos, no comércio etc.
Quarenta e cinco por cento da população brasileira é de descendência africana elevando-se essa
proporção em algumas regiões até chegar a 80% na cidade de Salvador. Seus integrantes, portadores de
riquíssimas culturas correspondentes aos vários reinos de onde foram trazidos da África Ocidental e
Meridional, radicaram-se e foram transmitindo seus costumes, hierarquias, línguas, concepções estéticas,
dramatizações, literatura e mitologia, sobretudo a sua religião, visão de mundo e universo simbólico.
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No início do século XV, período da colonização brasileira foi palco de um cenário muito triste,
quando mais de quatro milhões de homens e mulheres africanos escravizados oriundos de diferentes
regiões da África, cruzaram o oceano Atlântico nos porões de diversos navios negreiros.
Aonde eram tratados como animais desprezíveis e mercadorias muito valiosas, que ao entraram no
país principalmente pelos portos do Rio de Janeiro, de Salvador, do Recife e de São Luís do Maranhão
para se tornarem escravos na colônia portuguesa. E devido ao jogo de interesse econômico do reino de
Portugal e de comerciantes brasileiros foi criado um comércio escravagista com várias etnias reunidas no
Brasil com suas culturas, e para evitar que houvesse rebeliões, os senhores brancos agrupavam os
escravos em senzalas, sempre evitando juntar os originários de mesma nação, por esse motivo houve uma
mistura de povos e costumes, que foram concentrados de forma diferente nos diversos estados do país
com isto deu lugar a um modelo de religião chamado Candomblé, palavra denominada de Kandombile,
significando culto e oração, que teve no Brasil terreno fértil para sua propagação na tentativa de resgatar a
atmosfera mística da pátria distante, pois o contato direto com a natureza fazia com que atribuíssem todos
os tipos de poder a ela e que ligassem seus deuses aos elementos nela presentes.
Diversas divindades africanas foram tomando força na terra dos brasileiros. O fetiche marca
registrada de muitos cultos praticados na época, associado à luta dos negros pela libertação e
sobrevivência, à formação dos quilombos e a toda a realidade da época acabaram impulsionando a
formação de religiões muito praticadas atualmente. CARNEIRO, Édison, "Ladinos e Crioulos”,
Civilização Brasileira, Rio de Janeiro, 1964
A Resistência
Ao contrário do que dizem alguns livros antigos de História do Brasil, o negro lutou muito,
reagindo de diversas formas contra sua condição de escravo. No Brasil colonial os negros reagiam das
seguintes formas:
 Evitando filhos: sabiam que a criança que nascida de uma escrava seria escrava também.
 Suicidando-se: geralmente, para se livrar das violências e das humilhações diárias.
 Matando feitores e senhores que os maltratavam – geralmente, para se vingar dos maltratos
sofridos ou a morte de um companheiro.
 Fugindo: fugiam para as matas como forma de conseguirem alcançar sua liberdade. A tarefa de
perseguir e capturar os escravos fugitivos era realizada pelo capitão-do-mato, um homem livre
que recebia dinheiro para executar esse serviço.
 Quilombos: os quilombos, que na língua banto significam "povoação", funcionavam como
núcleos habitacionais e comerciais, além de local de resistência à escravidão, já que abrigavam
escravos fugidos de fazendas. Apesar de serem constantemente ameaçados, vigiados e
perseguidos, os escravos sempre fugiam. Em pequenos grupos penetravam na mata e, num local
de difícil acesso, formavam comunidades negras chamadas quilombos. Houve pequenos
quilombos formados por cerca de dez pessoas e que tiveram pouca duração. Por sua imensa área,
pelo enorme quantidade de habitantes (chegou a reunir cerca de 20 000 fugitivos) e por ter durado
65 anos, o Quilombo de Palmares, em Alagoas, foi com certeza o mais importante de nossa
história e Zumbi foi o grande chefe dos negros e no aniversário de sua morte, 20 de novembro, se
comemora o Dia da Consciência Negra no Brasil.
A Presença Da Cultura Negra
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É enorme a influência negra na cultura brasileira. Vejamos alguns exemplos dessa influência:
Alimento – feijoada, cocada, vatapá, acarajé, quindim, caruru, pé-de-moleque;
Religião – umbanda, candomblé;
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Música – ritmos, musicais como o samba, maxixe, maracatu, congada. Instrumentos musicais,
como atabaque, berimbau, ganzá, agogô, cuíca, reco-reco. O gingado da capoeira;
Vocabulário – palavras como batuque, bengala, gingar, macumba, quitanda, samba, chuchu,
cachaça, moleque, fubá, caçula, etc.
Refletindo sobre as identidades culturais, a “raça” e a etnicidade.
Com vistas nas peculiaridades que os diferentes povos buscam manter em seu lugar, percebe-se
que os sistemas de comunicação globalmente interligados, as imagens e influências da mídia, a busca pela
inserção no mercado mundial de estilos e a velocidade das informações contribuem para desvincular,
descaracterizar e até desalojar as identidades culturais no tempo e nos lugares. Esta compressão de
distâncias e das escalas temporais possibilita a exposição das culturas locais a influências externas,
tornando difícil conservar as identidades culturais intactas ou impedir seu enfraquecimento em virtude do
bombardeamento e infiltração de outras culturas.
Frente a estas considerações, torna-se difícil conceber a existência de sociedades autosuficientes, ou seja, fechadas ao mundo exterior. No entanto, percebe-se que algumas comunidades
tendem a se retrair até o instante em que se torne impossível o afastamento das outras sociedades. Isso
porque o capitalismo e a globalização contribuem para a mitigação das fronteiras culturais e a
homogeneização das relações sociais, fazendo com que as crenças e hábitos, ou seja, o professar de
simbolismos seja descaracterizado no tempo e no espaço por algumas comunidades, ao passo que, outras,
podem vir a retomar tais características, seus símbolos – sua identidade.
Se referir ao poder simbólico, o caracteriza como sendo invisível, só podendo ser exercido “com
a cumplicidade daqueles que não querem saber que lhe estão sujeitos ou mesmo que o exercem”. Os
sistemas simbólicos, entendidos como estruturas estruturantes (mito, língua, arte, ciência) são vistos como
instrumentos do conhecimento e da construção do mundo dos objetos, como “formas simbólicas” que na
inscrição de Durkheim tomam os fundamentos de uma sociologia das formas simbólicas para se tornarem
“formas sociais, quer dizer, arbitrárias (relativas a um grupo particular) e socialmente determinadas”.
Nessa discussão sobre simbolismo, ao trabalhar a questão da identidade e da representação,
acredita que a procura de critérios objetivos tanto para identidade regional, quanto étnica deve estar
pautada no fato de que na prática social esses critérios são objetos de representações “mentais” (como
língua, sotaque), e de representações “objetuais” (como emblemas, bandeiras, construções), ou seja,
estruturantes e estruturadas, onde “por outras palavras, as características que os etnólogos e os sociólogos
objetivistas arrolam funcionam como sinais, emblemas ou estigmas, logo que são percebidas e apreciadas
como o são na prática”.
O conceito de raça é um dos mais complexos da sociologia, principalmente devido à contradição
entre seu uso cotidiano e sua base científica (ou inexistência desta), o que ocorre é que as pessoas
enganam-se ao acreditar que os seres humanos possam ser separados em diferentes raças biologicamente,
isso se prova nos estudos de alguns autores que distinguem quatro ou cinco raças principais ao passo que
outros chegam a reconhecer três dúzias.
O início dos estudos sobre a raça se deu no final do século XVIII e início do século XIX com o
intuito de justificar a ordem social emergente à medida que a Inglaterra e outras nações da Europa
tornavam-se potências imperiais e submetiam outros territórios e povos a seu domínio. Nesta época, o
conde Joseph Arthur de Gobineau (1816-1882) propôs a existência de três raças, sendo os brancos, negros
e amarelos, que mais tarde influenciariam Adolf Hitler e sua ideologia nazista.
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Para uma análise do ponto de vista da sociologia, os cientistas sociais sustentam a raça como um
conceito vital, ainda que altamente contestado, a utilizando entre aspas para refletir seu uso enganoso,
mas corriqueiro. Então, a “raça” pode ser entendida “como um conjunto de relações sociais que permitem
situar os indivíduos e os grupos e determinar vários atributos ou competências com base em aspectos
biologicamente fundamentados”.
Ao clarificar a noção de “raça”, cuja idéia implica erroneamente a noção de algo definitivo e
biológico, se apresenta também o conceito de etnicidade, com um significado puramente social, onde “a
etnicidade refere-se às práticas e às visões culturais de determinada comunidade de pessoas e que as
distingue das outras”. Ou seja, diferentes características podem servir para distinguir um grupo étnico de
outro, dentre eles a língua, história ou linhagem, religião, os estilos de roupas, adornos e hábitos.
No entanto, alguns antropologistas físicos levantam sérias dúvidas a respeito da validade dos
conceitos tradicionais, aferições e classificações sobre raça. Já foi até mesmo sugerido que o termo ‘raça’
seja definitivamente abandonado, ainda para eles “raça, como conceito científico, aplica-se unicamente
aos agrupamentos biológicos de tipos humanos. Isso se refere aos grupamentos de pessoas que tem em
comum certo conjunto de características físicas inatas e uma origem geográfica dentro de uma
determinada área”.
Portanto, ao passo que o conceito de raça implica a noção de algo definitivo e biológico, sendo
baseado nos atributos biologicamente fundamentados, o conceito de etnicidade não pressupõe nada inato,
trata-se de um fenômeno puramente social, produzido e reproduzido ao longo do tempo, onde através da
socialização o indivíduo assimila os estilos de vida, normas e crenças de suas comunidades. Ressalta-se
que a etnicidade pode ser central para a identidade do indivíduo e do grupo oferecendo uma linha de
continuidade com o passado, mantida viva através das práticas das tradições culturais, não sendo estática
nem imutável, mas variável e adaptável.
Mas o que vem a ser identidade cultural? Talvez se devesse falar de identidade “étnico-cultural”,
pois, ao se retratar de identidade de uma cultura, deve-se localizá-la num determinado tempo e espaço e
no interior de um grupo étnico. Por sua vez, essa identidade estaria articulada a uma identidade nacional,
determinada também historicamente.
Essa discussão sobre identidade étnica ou regional, no que diz respeito a propriedades ligadas à
origem ou ao lugar de origem, é um caso popular das lutas de classificações, de dar e se fazer conhecer,
de fazer ou desfazer grupos, ou “a conservação ou a transformação das leis de formação dos preços
materiais ou simbólicos ligados às manifestações simbólicas (objetivas e intencionais) da identidade
social”. Essa questão simbólica envolve também certa dominação, ou melhor, a intimidação quando o que
está em jogo não é a conquista nem a reconquista de uma identidade, mas a “reapropriação coletiva deste
poder sobre os princípios de construção e de avaliação de sua própria identidade de que o dominado
abdica em proveito do dominante enquanto aceita ser negado ou nega-se”.
Nestas concepções de construção, avaliação, descaracterização ou retomada de identidades,
insere-se o lugar, que focado sob o objeto de análise pode ser trabalhado sob variados ângulos: como um
conjunto de imagens, como unidade espacial, ou ainda na relação íntima com seus habitantes, uma
relação de identidade. Nesta discussão sobre identidade, para o indivíduo que opera num sistema social a
identidade se apresenta como resultado de um confronto com os outros, o que o leva a construir uma
representação de si próprio, de sua unidade pessoal, do papel desempenhado na sociedade.
A modernidade “rompe o referencial protetor da pequena comunidade e da tradição,
substituindo-as por organizações muito maiores e impessoais. O indivíduo se sente privado e só num
mundo em que lhe falta o apoio psicológico e o sentido de segurança oferecido em ambientes mais
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tradicionais, ao passo que a “pós-modernidade se refere a algo diferente, uma trajetória de
desenvolvimento social rumo a um novo e diferente tipo de ordem social”; no entanto, a pós-modernidade
é mais apropriado para se referir a estilos ou movimentos na literatura, artes plásticas e arquitetura,
dizendo respeito à aspectos da reflexão estética sobre a natureza da modernidade. “Não vivemos ainda
num universo pós-moderno, mas podemos ver mais do que uns poucos relances da emergência de modos
de vida e formas de organização social que divergem daquelas criadas pelas instituições modernas”. A
discussão entre modernidade e pós-modernidade ao afirmar que “em vez de estarmos entrando num
período de pós-modernidade, estamos alcançando um período em que as consequências da modernidade
estão se tornando mais radicalizadas e universalizadas do que antes. Além da modernidade, devo
argumentar, podermos perceber os contornos de uma ordem nova e diferente, que é “pós-moderna”; mas
isto é bem diferente do que é atualmente chamado por muitos de “pós-modernidade”.
A dificuldade de conceituar identidade, uma vez que se trata de um termo "demasiadamente
complexo, muito pouco desenvolvido e muito pouco compreendido na ciência social contemporânea para
ser definitivamente posto à prova”. O sujeito assume identidades diferentes em diferentes momentos.
Portanto, a identidade é definida historicamente e não biologicamente, é assim, realmente algo formado,
ao longo do tempo, através de processos inconscientes, e não algo inato, existente na consciência no
momento do nascimento. Existe sempre algo 'imaginário' ou fantasiado sobre sua unidade. “Ela
permanece sempre incompleta, está sempre em ‘processo’, sempre ‘sendo formada”. Desta forma, em vez
de falar em identidade acabada, falar em identificação, e vê-la como um processo em andamento.
Definir-se como sendo português, inglês ou indiano é falar metaforicamente, uma vez que essas
"identidades" não estão literalmente impressas em nossos genes. No entanto, as culturas nacionais
representam uma das principais fontes de identidade cultural. Nesta óptica, a nação não é apenas a
entidade política, mas sim algo que produz sentido, como um sistema de representação cultural.
Ao discutir a negociação da identidade nacional - focalizando os imigrantes, as minorias e a luta
pela etnicidade no Brasil - levanta uma questão sobre o que vem a significar ser hoje um brasileiro.
Embasado em uma pesquisa realizada no Brasil, as possibilidades de interpretação das questões da
etnicidade e da identidade abrindo discussões acerca do surgimento de uma nova identidade nacional
brasileira que concilia todas aquelas que a formaram.
No atual contexto social e político, marcado tão fortemente por relações de poder, duas questões
passam a ser cruciais: a disposição de viver com a diferença e por outro lado, a etnicidade. O primeiro
termo evoca a multiplicidade de diferenças que operam na representação da identidade em um lugar, ao
passo que etnicidade admite o entendimento de que um espaço é um lugar, é o reconhecimento a partir de
uma história, de uma experiência, de uma cultura particular. Sendo assim, a etnicidade pode ser situada e
estas são fundamentais para o senso subjetivo do que se é realmente. Quanto à etnicidade, a etnia e a raça
são questões fulcrais e sua forma de manifestação é alterada pela tendência social, sendo também uma
forma de identidade. Nesta perspectiva, acrescenta-se que: “identidade é um espaço onde um conjunto de
novos discursos teóricos se interseccionam e onde um novo grupo de práticas culturais emerge. Trata-se
de uma categoria política e culturalmente construída em que a diferença e a etnicidade são seus elementos
constituintes e a fluidez da identidade torna-se ainda mais complexa pelo entrelaçamento de outras
categorias socialmente construídas, além das de classe, raça, nação e gênero”.
Retomando os conceitos fundamentais que instigaram tal discussão, sabe-se que, natural,
biológica e culturalmente, cada comunidade busca manter suas características, seus hábitos e costumes,
enfim o que se poderia chamar de sua “identidade”, com a intenção de evitar a exposição e a
descaracterização do que se poderia chamar de sua “cultura”. O que é fundamental acrescentar
finalmente, é que as identidades, em relação a como foram construídas, devem ser vistas dependentes do
contexto social. Este exercendo fundamental papel na consolidação destas identidades que constituem
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fontes de significado para os próprios atores, por eles originadas, e constituídas por meio de um processo
de individualização, uma organização que se mantém ao longo do tempo, em um determinado espaço e
contexto social e político fortemente marcado por relações de poder.
Frente a estas considerações, percebe-se que a identidade cultural, por fim, pode ser entendida
como um processo de incorporação de conhecimentos e da cultura do local onde se vive. A raça, por sua
vez, é algo definitivo e biológico. A etnicidade, com um significado puramente social, refere-se às
práticas e às visões culturais de determinada comunidade de pessoas e que as distingue das outras como a
língua, história ou linhagem, religião, estilos de roupas, adornos e hábitos.
Adaptado do texto de ALCIMARA APARECIDA FOETSCH
Mestre em Geografia pela Universidade Federal do Paraná (UFPR).
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