UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE FÍSICA GLEB WATAGHIN DISSERTAÇÃO MEDIÇÃO FRACA DO DESLOCAMENTO GOOS-HÄNCHEN PRÓXIMO DO ÂNGULO CRÍTICO PARA REFLEXÃO INTERNA TOTAL OCTAVIO JOSÉ SANTOS DE SANTANA CAMPINAS - SÃO PAULO 2015 MEDIÇÃO FRACA DO DESLOCAMENTO GOOS-HÄNCHEN PRÓXIMO DO ÂNGULO CRÍTICO PARA REFLEXÃO INTERNA TOTAL Por OCTAVIO JOSÉ SANTOS DE SANTANA Dissertação submetida ao Instituto de Física da Universidade Estadual de Campinas para a obtenção do título de Mestre em Física Orientador: Prof. Dr. Luís Eduardo Evangelista de Araujo CAMPINAS - SÃO PAULO 2015 AGRADECIMENTOS Gostaria de agradecer a Deus por todos os momentos maravilhosos que tenho tido em minha vida. Por todos os momentos felizes e porque não os tristes? Muitas coisas aprendi com eles, muitos valores guardei e muitas vitórias conquistei. Aos meus pais José (in memoria) e Valdira acreditando sempre em meu potencial e nunca deixando que eu desanimasse nos momentos difíceis em minha vida, em especial minha mãe, minha maior bênção que dos céus eu recebi na minha vida, obrigado por tudo, e principalmente pelo seu amor dedicado! À minha família. Ao meu orientador Luís Eduardo Evangelista de Araújo pela oportunidade de iniciar um novo trabalho de pesquisa no grupo GLA, pela paciência e pelo otimismo. Por ter me ensinado a ser paciente e persistente, nunca desanimando perante os obstáculos. A Silvânia e Stefano por ter ajudado com o andamento da pesquisa com discussões cienticas e colaborações. A todos os professores do IFGW que de alguma forma contribuíram em minha formação À minha noiva Nathalia pelo constante apoio, pelas palavras de incentivo e ações. Dizer obrigado às vezes não é suciente para agradecer a tão amável e gentil pessoa que nos momentos de nossas vidas, aqueles mais difíceis, nos estende a mão amiga e nos oferece amparo. Estou agradecido a você e não sei neste instante como retribuir tanto carinho, mas é claro que encontrarei uma maneira de fazê-lo. Obrigado meu anjo. Aos meus amigos de SERGIPE (minha terrinha querida) que sempre entenderam minha ausência. Aos amigos do grupo de pesquisa, Erick, José e Marvyn muito obrigado pelas conversas no bandeco! Ao Camilo pela ajuda com a minha chegada a Campinas. Aos amigos e colegas que conheci durante o mestrado. Citar e agradecer a todos eles constituiria uma lista muito longa de ser editada. Assim, a todos os que de uma forma ou de outra zeram parte nesta jornada, muito obrigado. Ao técnico do grupo João Batista pelo excelente trabalho que desenvolve. Ao IFGW/DEQ e seus funcionários. E, nalmente, mas não sendo o menos importante, à CAPES pela ajuda nanceira. Resumo Um feixe de luz, após sofrer uma reexão em uma interface plana, é deslocado do caminho previsto pela ótica geométrica. Este desvio do feixe é muito pequeno, tipicamente da ordem do comprimento de onda da luz, que é muito menor do que o tamanho do feixe. Portanto, é difícil de se medir. A téc- nica de medição fraca óptica tem sido utilizada com sucesso em investigações de deslocamentos de feixe, tal como o deslocamento Goos-Hänchen (GH) e o deslocamento Imbert-Fedorov (IF) (esses são deslocamentos longitudinal e perpendicular ao plano de incidência, respectivamente). Em uma medição fraca, o sistema de medida é projetado sobre um determinado estado nal (pós-seleção), quase ortogonal ao estado inicial (pré-seleção), dando origem a um valor fraco que pode assumir valores muito grandes (amplicados). Nesta dissertação estudamos experimentalmente o deslocamento Goos-Hänchen de um feixe gaussiano focalizado ao sofrer reexão interna total em um prisma via medida fraca. Investigamos este efeito em torno do ângulo crítico θc para reexão interna total. Nosso experimento demonstra pela primeira vez que há uma dependência axial do valor fraco que tem que ser levado em conta, além de um fator fenomenológico na equação de correção do valor fraco. Comparações entre os dados com e sem o fator fenomenológico foi feita, mostrando que ao utilizar esse fator, nossos resultados experimentais mostram um excelente acordo com a previsão teórica. Palavras-chave: Óptica, Medida fraca, Deslocamento Goos-Hänchen. Abstract A beam of light, after reection from a planar interface, is shifted from the path predicted by ray optics. Such a beam shift is very small, typically of the order of the wavelength of light, which is much smaller than the physical size of the beam. Therefore, it is dicult to measure. The optical weak measurement technique has been successfully used in investigations of beam displacements such as the Goos-Hänchen (GH) and the Imbert-Fedorov (IF) shifts (these are longitudinal and perpendicular to the plane of incidence, respectively). In a weak measurement, the measured system is projected onto a certain nal state (postselected), nearly orthogonal to the inicial state (preselected), giving rise to a measured weak value that may take on very large (amplied). In this dissertation, we study experimentally the Goos-Hänchen shift of a focused Gaussian ligth beam undergoing total internal reection in a prism via weak measurement. We investigate this eect near the critical angle θc for total internal reection. Our experiment demonstrates for the rst time that there is an axial dependence of the weak value that has to be taken into account, plus a phenomenological factor in the correction equation of the weak value. Comparisons between the data with and without the phenomenological factor was made, showing that by using this factor, our experimental results show an excellent agreement with the theoretical predication. Keywords: Optics, Weak measurement, Goos-Hänchen shift. Lista de Figuras 1 Ilustração do deslocamento GH e IF, onde o deslocamento longitudinal e perpendicular ao plano de incidência representa o deslocamento GH e IF, respectivamente. 1.1 . . . . . . . . . . . . . Esquema das direções de uma onda reetida e transmitida numa interface plana, onde Ei é a amplitude da onda incidente, é a amplitude da onda reetida e Et Er é a amplitude da onda transmitida. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1.2 Reetância para n = 1,515 (Ar-Vidro) em (a) e e onda s p, respectivamente. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Mudança de fase para a polariação 23 n−1 = 1,515 (Vidro-Ar) em (b). Curva em azul e preto representa a onda 1.3 18 25 s em azul e polarização p em preto para ângulos de indicência maiores que o ângulo crítico. 26 1.4 Reetância em (a) e fase em (b) dos coecientes de Fresnel em função do desvio angular com relação ao ângulo crítico, sendo que em preto representa a onda p e azul a onda s. As curvas tracejadas referem-se ao feixe laser com distribuição gaussiana e as linhas verticais pontilhadas a uma onda plana que incide abaixo do ângulo crítico em verde, no ângulo crítico em vermelho e acima do ângulo crítico em amarelo. . . . . . . . . . . . . . . . 9 27 1.5 Um feixe de radiação eletromagnética incidente (linha azul continua) é totalmente reetido (linha preta continua) e deslocado com relação a previsão da óptica geométrica (linha preta tracejada) na interface entre dois meios com índices de refração (n1 e n2 ), respectivamente. Há um deslocamento fície que separa os dois meios e S ao longo da super- D indica o deslocamento medido por Goos-Hänchen [2, 5]. O ângulo de incidência é indicado por 1.6 Deslocamento GH com polarização 1.7 n−1 = 1,515 e θc = 41,3°. Com λo = 633 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30 Esquema da propagação do campo elétrico em toda a extensão do prisma. Com ~ in propagando no espaço livre, E ~ l propagando E ~r E propagando no dielétrico e após sofre o deslo- no dielétrico, camento GH, ~ out E propagando no espaço livre e após sofre o deslocamento GH e geométrica. 1.8 28 s em azul e polarização p em preto em função do ângulo de incidência. nm, θ. ~ OG E o feixe que seria descrito pela óptica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Esquema do diagrama de eixos na prisma. Com z 32 eixo de en- trada e incidência normal na borda à esquerda (ar-vidro ou 1) zin , abaixo (vidro-ar ou 2) z* e à direita (vidro-ar ou 3) zout . Figura reproduzida de [39]. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1.9 Diferença entre o deslocamento GH para a onda 34 p e s em função do ângulo de incidência referente a segunda face do prisma. A curva numérica para wo = 169,4 µm, λ = 633 nm e n−1 = 1,515 está representada pela linha continua em verde, triângulos vermelhos e pontos azuis, para z=0 cm, z = 15 cm e z = 25 cm, respectivamente. A curva analítica descrita por Artmann é representa pela linha tracejada preta e a linha pontilhada preta é a posição do ângulo crítico. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 42 2.1 Ilustração do arranjo experimental proposto para observação do efeito AAV para feixe de partículas de spin 1/2. Figura reproduzida de [54]. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2.2 (a) Gráco da função λ∆ = 0,01 e = 0,2. ϕ(p; , ∆, λ) em função de P ≡ p/λ 52 com Note que a função se assemelha a uma única gaussiana cujo pico, mostrado na gura ampliada em (b), é deslocado para 2.3 (a) Gráco da função = λ∆ = 0,01. 2.4 e . . . . . . . . . . . . . . . . . . . ϕ(p; , ∆, λ) em função de λ∆ = 0,01. ϕ(p; , ∆, λ) em função de P ≡ p/λ 56 com 56 com (b) Distribuição de probabilidade. . . . . . 57 Montagem experimental retirada da referência [29]. Onde HeNe é o laser de comprimento λ = 0.633 telescópio para colimar o feixe laser, L1 P2 α são os polarizadores com ângulo x, respectivamente, e e nm, L2 β T representa o são as lentes, P1 e com relação ao eixo Q é a placa de quartzo birrefringente com eixo ótico (OA) alinhado ao longo do eixo x e 2.6 P ≡ p/λ (b) Distribuição de probabilidade. . . . . . . . . (a) Gráco da função = 0,0 2.5 P = 1/ = 5. D é o fotodetector. 58 Dados experimentais representado em linha sólida e curva teórica da equação 2.36 em linha pontilhada. Em (a) situação onde os polarizadores tem a mesma orientação, em (b) os polarizadores são quase ortogonais e em (c) os polarizadores são ortogonais. Figura retirada de [29] . . . . . . . . . . . . . . . . . 2.7 61 Montagem experimental da medição fraca do deslocamento GH. Sendo que os polarizadores (P1 e P2 ), prisma (PRISM), placa de um quarto de onda (QWP), placa de meia onda (HWP) e lentes L1 e L2 . Figura reproduzida de [28]. . . . . . . . . . . . . 62 2.8 Perl de intensidade do feixe após passar pelo polarizador nal. As curvas em preto, vermelho e azul são para as situações = 0,0°, = −0,5° θ = 41,4°, (b) para θc = 41,3. 2.9 e = 0,5°, θ = 42° respectivamente. Em (a) para e (c) para θ = 44°. Com ângulo crítico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 65 Dados experimentais do deslocamento GH via medição fraca comparado com a curva analítica de Artmann. Figura adaptada de [28]. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3.1 66 Arranjo Experimental, em que (HeNe) é o laser de HeNe, (L1 , L2 e L3 ) lentes com foco 5 cm, 20 cm e 100 cm, respectivamente, (M) espelhos, (P1 e P2 ) polarizadores, (PRISM) prisma, (QWP) placa de um quarto de onda, (HWP) placa de meia onda e (CCD) câmera CCD. A posição do prisma é denido como z=0 cm. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3.2 Perl espacial de intensidade do feixe nal observado na câmera com a diferença entre os ângulos dos polarizadores, π/2 + em (a), α − β = π/2 Em todos os casos, 3.3 = 0,5°. em (b) e α−β = α − β = π/2 − em (c). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 72 Perl espacial de intensidade do feixe nal observado na câmera com a diferença entre os ângulos dos polarizadores, (a) π/2 + , casos, 3.5 71 Programa que determina as coordenadas da posição média direcional do centroide do feixe incidente na câmera. . . . . . . . . 3.4 70 (b) α − β = π/2 = 0,5°. e (c) α − β = π/2 − . α−β = Em todos os . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 73 Perl espacial de intensidade do feixe nal observado na câmera com a diferença entre os ângulos dos polarizadores, (a) π/2 + , casos, (b) α − β = π/2 = 0,5°. e (c) α − β = π/2 − . α−β = Em todos os . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 74 3.6 Perl espacial de intensidade do feixe para o prisma BK7 com (a) θ = 43, 4°e θ = 44, 0°observado (b) na câmera com a dife- rença entre os ângulos dos polarizadores de 3.7 . . . . Perl espacial de intensidade do feixe para o prisma UV com 43, 35° 74 θ= observado na câmera com a diferença entre os ângulos dos polarizadores, (a) α − β = π/2 − . 3.8 α − β = π/2. α − β = π/2 + , α − β = π/2 (b) e (c) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 75 Deslocamento GH em função do ângulo de incidência na segunda face do prisma. Os dados experimentais são representados pelos pontos, onde os círculos de cor preta representam vermelha = 1,0°, = 0,5° e em preto tracejado é o deslocamento GH analítico obtido por Artmann e preto pontilhado indica θc . Com w0 = 150,0 µm e z = 18,5 cm em (a), w0 = 169,4 µm e z = 25,0 cm em (b) e (d) e 3.9 w0 = 169,4 µm e z = 20,0 cm em (c) . . . . . 76 Perl espacial de intensidade do feixe com polarizadores ortogonais e (a) θ = 41,7°. d = 20 cm, (b) A distância entre o prisma e a câmera é de d = 25 cm, (c) d = 30 cm e (d) d = 35 cm. . 78 . . . . . . . 79 3.10 Deslocamento GH em função da distância entre o prisma e a câmera com θ = 41, 7°. Em (a) o fator de correção é descrito pela equação 2.44 e em (b) é descrito pela equação 3.1, onde em ambos os grácos a cor preta representa = 1,0°. A posição do prisma representa 3.11 Ajuste não linear da formula da Figura 3.10 (b). = 0,5° e vermelho z=0 cm. f (z) = a(1 + z 2 /b2 ) com os dados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 80 3.12 Deslocamento GH em função do ângulo de incidência na segunda face do prisma, com a distância entre o prisma e a câmera de cm em (a) e (c), e 25 20 cm em (b) e (d).Em (a) e (b) o fator de correção é descrito pela equação 3.1 e em (c) e (d) é descrito pela equação 3.2, onde em ambos os grácos a cor preta representa = 0, 5° e vermelho = 1, 0°. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3.13 Diferença entre o deslocamento GH para a onda 81 p e s em função do ângulo de incidência na segunda face do prisma, onde os pontos de cor preta representam = 0,5° e vermelha = 1,0°. A curva em azul é resultado numérico do deslocamento GH para um feixe gaussiano com z = 25 cm e em preto pontilhado é o deslocamento GH descrito por Artmann. . . . . . . . . . . . . . 82 Sumário Introdução 17 1 Efeito Goos-Hänchen 21 1.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21 1.2 Coecientes de Fresnel 22 1.3 Deslocamento Goos-Hänchen: Descrição de 1.4 1.5 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Artmann . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28 Deslocamento GH de um feixe gaussiano . . . . . . . . . . . . . 31 1.4.1 Propagação do feixe livre . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32 1.4.2 A fase espacial do feixe de saída . . . . . . . . . . . . . . 34 1.4.3 Coeciente de transmissão . . . . . . . . . . . . . . . . . 37 Considerações nais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43 2 Medição Fraca em Mecânica Quântica e Analogia com Óptica 44 2.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 44 2.2 Medição Fraca . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 47 2.3 Exemplo envolvendo partículas de spin 1/2 . . . . . . . . . . . . 52 2.4 Analogia em Óptica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 57 2.5 Aplicando ao deslocamento GH . . . . . . . . . . . . . . . . . . 61 2.6 Considerações nais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 67 3 Medição Fraca do deslocamento Goos-Hänchen 15 68 3.1 Experimento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 69 3.1.1 Montagem experimental 69 3.1.2 Procedimento experimental . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 70 3.2 Diculdades Experimentais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 72 3.3 Resultados e Discussão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 75 3.4 Considerações nais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 82 4 Conclusões e Perspectivas 84 Referências Bibliográcas 87 Introdução No século 17 Newton foi o primeiro a supor que o centro de um feixe reetido deve apresentar um pequeno deslocamento no plano de incidência em relação à sua posição descrita pela óptica geométrica [1]. Mais de dois séculos depois, em 1947 Goos e Hänchen (GH) [2] foram capazes de medir quantitativamente esse deslocamento. O deslocamento GH ocorre quando uma onda com seção transversal nita é totalmente reetida internamente em uma interface de dois meios com índices de refração diferentes (n1 > n2 ), ou seja, de um meio op- ticamente mais denso para um menos denso. Este deslocamento lateral pode ser explicado no sentido mais simples, como o resultado da propagação de uma onda evanescente paralela à interface, ou como um deslocamento da onda de um intervalo de tempo que pode ser interpretado como o tempo de retardo associado com o processo de espalhamento [3]. Logo depois de Goos e Hänchen terem terminado o seu primeiro trabalho, Artmann [4] propôs uma teoria do fenômeno. Partindo das equações de FresnelMaxwell, ele considerou apenas a expressão matemática para o feixe incidente e totalmente reetido. A partir da fase obtida dos coecientes de reexão na situação de reexão interna total, ele foi capaz de explicar o deslocamento observado. Com esta teoria, ele previu duas expressões para o deslocamento da luz: uma para quando a polarização da luz é paralela ao plano de incidência (onda p ) e outra para quando a polarização é perpendicular ao plano de inci- dência (onda s ). Com os resultados previstos por Artmann, Goos e Hänchen 17 18 zeram novas medições [5] e conrmaram o fato de que havia uma dependência do deslocamento com a polarização da luz. Figura 1: Ilustração do deslocamento GH e IF, onde o deslocamento longitudinal e perpendicular ao plano de incidência representa o deslocamento GH e IF, respectivamente. Além do deslocamento GH, existe o deslocamento Imbert-Fedorov (IF) [6, 7] que trata-se de um deslocamento na direção perpendicular ao plano de incidência. A Figura 1 ilustra o deslocamento GH e IF, onde o plano de incidência é xy. Analogias com o deslocamento angular GH [8] e IF foram observadas recentemente, bem como o efeito spin hall da luz (SHEL) [911]. Este último é conectado ao deslocamento IF sendo uma separação ortogonal ao plano de incidência das duas componentes de spin para um feixe reetido ou transmitido. Dualidade entre o deslocamento espacial e angular da luz reetida também já foi observado e surge quando uma das interfaces apresenta perdas [12]. Os dois efeitos (GH e IF) dependem da polarização da luz incidente. Enquanto que o efeito GH é observado para luz linearmente polarizada (ondas s e p ), o efeito IF ocorre para ondas polarizadas circularmente (ou elipticamente). Um 19 tutorial descrevendo os efeitos GH e IF em uma interface dielétrica é apresentado na referência [13]. Estes efeitos também foram observados ou previstos para cristais fotônicos, guias de onda e ressonadores [1416]. Também foram observados para feixes com um grau parcial de coerência espacial [17, 18], luz com momento angular orbital [1921], além de terem sido observadas em ondas de matéria [22, 23]. Aplicações do efeito GH, são encontrados em guias de onda óptico [24], microscopia óptica [25], sensor de temperatura de alta sensibilidade [26, 27] e detecção de vapores químicos com alta sensibilidade. Medidas de deslocamento GH são desaantes por causa do efeito ser muito pequeno (comparável ao comprimento de onda ótico), fazendo com que sua detecção seja muito difícil. Recentemente uma abordagem baseada em medição fraca foi utilizada pela primeira vez para medir o deslocamento GH [28]. A técnica descrita em [28] é uma analogia óptica [29] ao conceito de medição fraca quântica introduzida em [30] com o propósito de amplicar e detectar fenômenos muito pequenos. O resultado de uma medição fraca é chamado de valor fraco e surge após um procedimento de pré-seleção de estados, interação fraca entre o sistema quântico e a medida e uma pós-seleção de estados. Aplicações experimentais da teoria têm atraído bastante atenção dos físicos pelos seus resultados surpreendentes. A medida direta da função de onda [31] e a obtenção da trajetória do fóton simples em um interferômetro de Young [32] são exemplos em Teoria Quântica. Em óptica, o efeito de medida fraca foi observado no deslocamento GH [28], efeito Imbert-Fedorov (IF) [33], efeito spin hall da luz (SHEL) [10, 34], desvio angular do feixe reetido [35, 36]. O deslocamento GH já foi observado utilizando outros métodos de medida como, o detector de quadrante sensível à posição usado para achar a posição do centroide do feixe (método mais popular). Vantagens: medida direta, preciso e insensível a utuação de intensidade. Desvantagem: trabalhoso e mede 20 o desvio para um ponto (centroide) [8, 37]. Método interferométrico usa a interferência entre feixe de ondas s e p. Mede o deslocamento GH ao longo de todo o feixe, pode ser adaptado para incluir reexões múltiplas para aumentar o deslocamento GH quando pequeno, simples de montar, muito preciso [38]. Esta dissertação está dividida da seguinte forma: No capítulo 1 apresenta- remos uma revisão básica dos coecientes de Fresnel, exemplicando os casos de reexão parcial e reexão total; em seguida discutiremos o cálculo feito por Artmann do deslocamento GH e o deslocamento GH de uma distribuição gaussiana, que é o caso de um feixe laser realístico. No capítulo 2 vamos descrever o efeito de medição fraca, apresentando o conceito de medida fraca e valor fraco. Faremos uma descrição geral do modelo e depois o aplicaremos para o caso de partículas de spin 1/2 e faremos a analogia com a óptica, en- fatizando no primeiro experimento de medição fraca em óptica e por m para o caso do deslocamento GH. No capítulo 3 apresentaremos a nossa montagem experimental, as diculdades observadas, as limitações da técnica de medição fraca e os resultados obtidos. Por m, o capítulo 4 aborda as conclusões do nosso trabalho, assim como perspectivas futuras. Capítulo 1 Efeito Goos-Hänchen Esta Capítulo aborda o efeito Goos-Hänchen (GH) de forma geral. Iniciaremos com uma breve introdução dos primeiros resultados do deslocamento GH experimentais e teóricos. Faremos um resumo dos coecientes de Fresnel. Em seguida vamos descrever de forma geral os resultados obtidos de Artmann [4] que explica os resultados obtidos por Goos-Hänchen, além de mostrar a dependência com a polarização da luz incidente. Por m descreveremos o deslocamento GH de um feixe realístico modelado por uma distribuição gaussiana. Este modelo feito em [39] considera os efeitos de transmissão e reexão em toda a extensão de um prisma. 1.1 Introdução O efeito Goos-Hänchen refere-se ao deslocamento lateral que uma onda tendo secção transversal nita sofre ao ser totalmente reetida em uma interface de índices de refração mais denso para menos denso. Este deslocamento não é previsto pela óptica geométrica e foi detectado pela primeira vez em 1947 por Goos e Hänchen [2]. Newton já suspeitava [1] que mesmo em reexão interna total, o feixe incidente penetrava no meio oticamente menos denso mas em seguida ressurge no meio oticamente mais denso. 21 1.2. COEFICIENTES DE FRESNEL 22 Logo depois que Goos e Hänchen terminaram o seu primeiro trabalho, Artmann [4] propôs uma teoria do fenômeno. Partindo das equações de FresnelMaxwell, ele considerou a expressão matemática para o feixe incidente e totalmente reetido. A partir da diferença de fase entre os dois feixes, ele foi capaz de explicar o deslocamento observado. Com esta teoria, ele previu duas expressões para o deslocamento do feixe, uma para quando a polarização da luz é paralela ao plano de incidência e outra para quando a polarização é perpendicular ao plano de incidência. Goos e Hänchen zeram novas medições [5] e conrmaram o fato de que havia uma dependência do efeito com a polarização da luz. Vários meses depois, Fragstein [40] publicou outra teoria baseada no trabalho muito importante de Picht [41, 42] e de Schaefer e Pich [43]. Eles zeram todo o tratamento por uxo de energia e consideraram uma onda plana nita de largura arbitrária. Ao fazer as aproximações contidas na teoria da Schaefer e Pich, Fragstein encontrou as mesmas duas expressões para o deslocamento que haviam sido encontradas por Artmann. Hora [44] aplicou o tratamento desenvolvido por Artmann em Mecânica Quântica para um feixe de partículas totalmente reetido em uma barreira de potencial e obteve uma expressão para o deslocamento com a mesma aproximação e posteriormente Renard [45] ampliou o tratamento de Hora com o princípio de conservação de partículas e obteve a expressão geral descrita por Artmann. 1.2 Coecientes de Fresnel A luz (onda eletromagnética) é reetida e refratada (ou transmitida) ao se deparar com uma superfície plana que apresenta dois meios com índices de refração diferentes. A reexão é denida quando parte da onda retorna para o meio de onde partiu; e deni-se transmissão quando uma parcela desta onda passa para o outro meio, sofrendo eventualmente uma mudança na sua veloci- CAPÍTULO 1. EFEITO GOOS-HÄNCHEN 23 dade de propagação. A Figura 1.1 ilustra o caso em que uma onda eletromagnética incidente (Ei ) que passa de um meio de índice de refração dência θi referente à normal da interface. com ângulo θr n1 para n2 com ângulo de inci- Parte desta onda é reetida (Er ) e parte é transmitida (Et ) com ângulo θt . Sendo que a taxa de reexão e transmissão da onda é denida, respectivamente, por: r≡ Er Ei e t≡ Et Ei (1.1) Figura 1.1: Esquema das direções de uma onda reetida e transmitida numa interface plana, onde onda reetida e Et Ei é a amplitude da onda incidente, Er é a amplitude da é a amplitude da onda transmitida. Dois casos distintos necessitam ser considerados, a polarização do campo elétrico perpendicular ao plano de incidência (modo TE ou onda ção paralela ao plano de incidência (modo TM ou onda dissertação a nomenclatura onda s ) e a polariza- p )(utilizaremos nesta s e onda p ). Aplicando as condições de con- torno na interface, obtém-se as equações de Fresnel padrão para transmissão 1.2. COEFICIENTES DE FRESNEL 24 e reexão numa interface [46, 47]. Assumindo-se que a constante de permeabilidade magnética de cada meio é aproximadamente igual, então os coecientes de reexão de Fresnel são: p n2 − sin2 θ p , cos θ + n2 − sin2 θ p −n2 cos θ + n2 − sin2 θ p rp (θ) = . n2 cos θ + n2 − sin2 θ rs (θ) = cos θ − A equação 1.2 refere-se ao coeciente de reexão para onda para onda p; θ é o ângulo de incidência e n = n2 /n1 (1.2) (1.3) s e a equação 1.3 é a razão entre o índice de refração do meio 2 e o índice de refração meio 1. Outra forma de escrever os coecientes de Fresnel é considerando um termo de amplitude e um termo de fase, r(s,p) (θ) = R(s,p) (θ)eiφ(s,p) (θ) , (1.4) R(s,p) (θ) = |r(s,p) (θ)| é a amplitude do coeciente de Fresnel e φ(s,p) (θ) = arg r(s,p) (θ) é a fase do coeciente de Fresnel. sendo 2 A Figura 1.2 apresenta a reetância (R(s,p) ) do campo elétrico para e onda p em preto em função do ângulo de incidência, para interface Ar-Vidro na Figura 1.2(a) e Vidro-Ar na Figura 1.2(b). Nestas guras podemos notar que a luz pode ser parcialmente reetida (R (R 2 s em azul = 1). < 1) ou totalmente reetida O caso de reexão parcial ocorre para qualquer valor do ângulo de incidência quando crítico (θc 2 n>1 = sin−1 n) ou para um ângulo de incidência menor que o ângulo quando n < 1. Neste caso o coeciente de Fresnel é real. Quando o ângulo de incidência é maior que o ângulo crítico, a reexão EFEITO GOOS-HÄNCHEN 1 0,8 0,8 0,6 0,6 25 |r(θ)| 2 1 |r(θ)| 2 CAPÍTULO 1. 0,4 0,4 0,2 0,2 0 0 20 40 60 0 0 80 θc 20 40 θ(graus) (a) Figura 1.2: 80 (b) Reetância para (Vidro-Ar) em (b). 60 θ(graus) n = 1,515 (Ar-Vidro) em (a) e Curva em azul e preto representa a onda n−1 = 1,515 s e onda p, respectivamente. é total. Porém, os coecientes de Fresnel, embora tenham o módulo da amplitude unitário, estes apresentam um termo da fase representado na equação 1.4 diferente de zero. Essa fase difere para onda s e onda p, o que implica que pode haver uma mudança de estado de polarização do campo elétrico reetido com relação ao campo elétrico incidente. A forma explicita do termo de fase do coeciente de Fresnel é descrita como: φs (θ) = 2 tan−1 φp (θ) = 2 tan−1 onde a equação 1.5 refere-se a onda ! p 2 sin (θi ) − n2 , cos(θi ) ! p 2 sin (θi ) − n2 , n2 cos(θi ) (1.6) s e a equação 1.6 para onda p. Na Figura 1.3 mostra o gráco da mudança de fase da onda onda (1.5) s em azul e p em preto em função do ângulo de incidência. Note que a fase para ambas polarizações é nula abaixo do ângulo crítico que representa a situação em que os coecientes de reexão de Fresnel são puramente reais. 1.2. COEFICIENTES DE FRESNEL 26 1 φ(θ)/π 0,8 0,6 0,4 0,2 0 30 40 50 60 70 80 90 θ(graus) Figura 1.3: Mudança de fase para a polariação s em azul e polarização p em preto para ângulos de indicência maiores que o ângulo crítico. Quando consideramos um feixe laser cintura nita, temos então que este feixe pode ser descrito como uma combinação linear de onda planas, onde cada onda plana tem associada a ela um vetor de onda ligeiramente diferente, distribuídos em torno de um vetor de onda central com amplitude gaussiana. Nessa situação, cada vetor de onda contido no feixe laser sente um coeciente de Fresnel diferente. A Figura 1.4 mostra a reetância e a fase dos coecientes de Fresnel em função do desvio angular (medido em relação ao ângulo crítico) para onda s em azul contínuo e onda p em preto contínuo. As curvas trace- jadas representam feixe laser com distribuição gaussiana de vetores de onda e as linhas verticais pontilhadas correspondem a ondas planas incidentes, em ambos os casos, a um ângulo abaixo do ângulo crítico (linha verde), no ângulo crítico (linha vermelha) e acima do ângulo crítico (linha amarela). A partir das Figuras 1.4 nota-se que a distribuição gaussiana em verde tem em toda sua distribuição a mesma contribuição do termo de fase dos coecientes de Fresnel e a distribuição gaussiana em amarelo tem a mesma contribuição em toda sua distribuição do termo de amplitude dos coecientes de Fresnel. O contrário acontece na distribuição gaussiana em verde para o termo de ampli- CAPÍTULO 1. EFEITO GOOS-HÄNCHEN 27 tude e amarelo para o termo de fase. Nestas situações temos que cada vetor de 1 1 0,8 φ(∆θ)/π |r(∆θ)| 2 0,8 0,6 0,6 0,4 0,4 0,2 0,2 0 -0,4 -0,2 0 0,2 0,4 0 Desvio angular (graus) (a) -0,4 -0,2 0 0,2 0,4 Desvio angular (graus) (b) Figura 1.4: Reetância em (a) e fase em (b) dos coecientes de Fresnel em função do desvio angular com relação ao ângulo crítico, sendo que em preto representa a onda p e azul a onda s. As curvas tracejadas referem-se ao feixe laser com distribuição gaussiana e as linhas verticais pontilhadas a uma onda plana que incide abaixo do ângulo crítico em verde, no ângulo crítico em vermelho e acima do ângulo crítico em amarelo. onda contido na distribuição gaussiana sente contribuições distintas dos coecientes de Fresnel. Já a distribuição gaussiana em vermelho apresenta os dois casos, ou seja, parte da distribuição gaussiana tem a mesma contribuição e enquanto a outra parte sente contribuições distintas dos coecientes de Fresnel tanto para o termo de amplitude e fase. Veremos nas próximas seções que a situação em que apresenta contribuição distinta dos coecientes de Fresnel em toda a distribuição gaussiana para o termo de fase está relacionado com o deslocamento GH longitudinal e para o termo de amplitude o deslocamento GH angular da luz, como também o efeito dual do deslocamento GH longitudinal e angular quando temos a contribuição dos dois efeitos simultaneamente. 1.3. DESLOCAMENTO GOOS-HÄNCHEN: DESCRIÇÃO DE ARTMANN 28 1.3 Deslocamento Goos-Hänchen: Descrição de Artmann O deslocamento GH foi discutido pela primeira vez no contexto de reexão interna total da radiação eletromagnética. O deslocamento GH pode ser relacionado com a fase do coeciente de reexão de amplitude calculado para ondas planas incidente sobre uma interface com um ângulo de incidência igual a θ. A gura 1.5 ilustra o que ocorre com o feixe quando a condição de reexão total é satisfeita. A seta em preto pontilhado é a previsão da óptica geométrica e a seta preta continua é o feixe deslocado. A magnitude do deslocamento é representada por S e corresponde ao deslocamento ao longo da superfície da interface, enquanto que Note-se que D é o deslocamento medido por Goos-Hänchen [2, 5]. D = S cos θ. Figura 1.5: Um feixe de radiação eletromagnética incidente (linha azul continua) é totalmente reetido (linha preta continua) e deslocado com relação a previsão da óptica geométrica (linha preta tracejada) na interface entre dois meios com índices de refração (n1 e n2 ), respectivamente. Há um deslocamento S ao longo da superfície que separa os dois meios e D indica o deslocamento medido por Goos-Hänchen [2, 5]. O ângulo de incidência é indicado por θ . Considerando a denição dos eixos na Figura 1.5, o número de onda em dado como k1y = k1 sin(θ), onde k1 = 2π/λ1 y é é o numero de onda total no meio 1. Utilizando o método de fase estacionária (MFS), Artmann obteve a CAPÍTULO 1. EFEITO GOOS-HÄNCHEN 29 expressão do deslocamento da luz a partir dos coecientes de Fresnel, que é descrito como: S(θ) = − ∂φ(s,p) dφ(s,p) 1 =− . ∂k1y k1 cos(θ) dθ (1.7) Em resumo, o MFS signica obter a posição do máximo de alguma função descrita na forma F = f eg , tal que sua posição máxima é obtida simplesmente derivando a função g. O tratamento rigoroso e detalhado do método de fase estacionária (MFS) pode ser encontrado em [48] e aplicado para o caso de um prisma de formato retangular no artigo [49]. Lembrando que as equações 1.5 e 1.6 representam a fase para onda s e onda p, respectivamente, temos que o deslocamento GH correspondente a onda s e onda p é dado, respectivamente, como: Ds (θ) = S(θ) cos(θ) = − 1 dφs λ1 sin(θ) p 2 = , k1 dθ π sin (θ) − n2 (1.8) Dp (θ) = S(θ) cos(θ) = − 1 dφp n2 = Ds (θ). k1 dθ sin2 (θ)(1 + n2 ) − n2 (1.9) Estas equações foram obtidas primeiramente por Artmann em [4], sendo ângulo de incidência, com o meio 1 e λ1 n = n2 /n1 θ a razão entre os índices de refração do meio 2 comprimento de onda no meio 1. A relação do comprimento de onda no meio 1 com o do vácuo é dada por λ1 = λo /n1 . A Figura 1.6 apresenta o comportamento do deslocamento GH para onda em azul e onda o s p em preto em função do ângulo de incidência. A linha trace- 1.3. DESLOCAMENTO GOOS-HÄNCHEN: DESCRIÇÃO DE ARTMANN 30 Deslocamento GH (µm) 7 6 θC 5 4 3 2 1 0 41,25 41,5 41,75 42 42,25 42,5 42,75 43 θ (graus) Figura 1.6: Deslocamento GH com polarização preto em função do ângulo de incidência. Com θc = 41,3°. s em azul e polarização p em λo = 633 nm, n−1 = 1,515 e jada representa a posição do ângulo crítico para reexão interna total. Para este gráco foi considerado o comprimento de onda Vidro-Ar (nvidro = 1,515 e nAr = 1,0). λo = 633 Note que quando θ ≈ θc analíticas 1.8 e 1.9 divergem. Isto vem do fato que quando o termo sin2 (θ) ≈ n2 . nm na interface as equações θ ≈ θc temos que Por muitos anos acreditava-se que o deslocamento GH somente poderia ocorrer para ângulos de incidência acima do ângulo crítico. Após algumas décadas outros autores estudaram o mesmo problema estudado por Artmann, mas considerando um feixe laser realístico modelado por uma distribuição gaussiana, observando que o deslocamento GH também ocorre em torno do ângulo crítico e que além disso existe um ângulo de incidência em que o deslocamento é máximo [39, 50]. Além do deslocamento longitudinal da luz, existe o deslocamento angular que surge quando a luz é parcialmente reetida. Este desvio foi observado experimentalmente por [8] na interface Ar-Vidro. Em meios com perdas é possível observar o efeito dual entre o deslocamento GH longitudinal e angular após a luz ser reetida e foi observado por [12] utilizando uma interface Ar-Metal. CAPÍTULO 1. EFEITO GOOS-HÄNCHEN 31 A partir dos coecientes de Fresnel é possível determinar o deslocamento GH longitudinal e angular [12]. Dτ (θ) = onde DτR ≡ Re[Dτ ] e ∂ ln rτ 1 ∂Rτ ∂φτ = +i , ∂θ Rτ ∂θ ∂θ DτI ≡ Im[Dτ ] ral, respectivamente, e o índice τ = onda τ (1.10) fornece o deslocamento GH angular e late- indica a polarização da luz incidente, sendo s ou onda p. A demonstração rigorosa da equação 1.10 usando o formalismo de óptica clássica e considerando que a onda incidente é focalizada pode ser vista na referência [51]. 1.4 Deslocamento GH de um feixe gaussiano Aqui descreveremos a abordagem feita em [39] do deslocamento GH de um feixe modelado por uma distribuição gaussiana. A descrição deste trabalho é o mais próximo do nosso experimento, pois os autores tiveram todo o rigor de tratar a propagação do feixe em toda a extensão de um prisma, considerando os efeitos de transmissão e reexão do feixe em cada interface. A Figura 1.7 ilustra a propagação do campo elétrico em toda a extensão do prisma, tal que ~ in E representa o campo elétrico de entrada ou feixe de en- trada propagando no espaço livre, ~l E e ~r E representa a propagação do campo elétrico no Vidro antes e após o deslocamento GH, respectivamente, ~ out E re- presenta o campo elétrico de saída ou feixe de saída no espaço livre após sofrer o deslocamento GH e ~ OG E o feixe que seria descrito pela óptica geométrica. O deslocamento GH surge na interface 2 ilustrado na Figura 1.7 e é calcu- 1.4. DESLOCAMENTO GH DE UM FEIXE GAUSSIANO 32 Figura 1.7: Esquema da propagação do campo elétrico em toda a extensão do ~r E ~ propagando no dielétrico e após sofre o deslocamento GH, Eout propagando no ~ OG o feixe que seria descrito espaço livre e após sofre o deslocamento GH e E prisma. Com ~ in E propagando no espaço livre, ~l E propagando no dielétrico, pela óptica geométrica. lado fazendo a diferença entre a posição do máximo de intensidade do feixe realístico de saída com a posição do máximo do feixe de saída previsto pela óptica geométrica. Uma expressão analítica é obtida utilizando (MFS) para onda s e onda p e corresponde a expressão 1.8 e 1.9 obtida por Artmann, respectivamente, abordada na Seção 1.3. Além de obter o resultado numérico por integração numérica do feixe realístico na saída do prisma. 1.4.1 Propagação do feixe livre Vamos considerar inicialmente um feixe gaussiano propagando pelo espaço livre. Um feixe gaussiano pode ser descrito como sendo formado pela superposição de um número innito de ondas planas, constituídas por diferentes vetores de onda ~k . A amplitude das componentes espectrais do campo elétrico é dada pela distribuição escalar: (kx2 + ky2 )ωo2 ~ δ kz − (k 2 − kx2 − ky2 )1/2 , G(k) = exp − 4 onde ωo é o raio da cintura do feixe e k = 2π/λ (1.11) é o número de onda corres- pondente ao vetor de onda central em torno do qual as diversas componentes ~k estão distribuídas. A amplitude do campo elétrico é então dada por: CAPÍTULO 1. EFEITO GOOS-HÄNCHEN 33 Z ωo2 Ein (~r) = Eo d~ k G(~k) exp[i~k · ~r], 4π Z (kx2 + ky2 )ωo2 ωo2 = Eo dkx dky exp − 4π 4 2 Ö exp i kx x + ky y + (k − kx2 − ky2 )1/2 z com Eo = E(~r = 0). (1.12) Considerando a aproximação paraxial, o campo elétrico representado na equação 1.13 descreve o feixe gaussiano propagando na direção de z. Z (kx2 + ky2 )ωo2 ωo2 Ein (~r) ≈ Eo exp(ikz) dkx dky exp − 4π 4 2 2 kx + ky Ö exp i kx x + ky y − z , 2k x2 + y 2 ωo2 ≈ Eo 2 exp(ikz) exp − 2 . ωo + 2i(z/k) ωo + 2i(z/k) A intensidade, I(~r) = |E(~r)|2 (1.13) para o campo elétrico entrada é então dado por: Iin (~r) ≈ Io ωo ω(z) 2 x2 + y 2 , exp −2 2 ω (z) (1.14) onde " ω(z) = ωo 1 + λz πωo2 2 #1/2 . (1.15) 1.4. DESLOCAMENTO GH DE UM FEIXE GAUSSIANO A equação 1.15 representa o raio da cintura do feixe no plano a cintura mínima do feixe e λ 34 z, tal que ωo é é o comprimento de onda. 1.4.2 A fase espacial do feixe de saída A fase espacial do campo elétrico de saída é determinada pela direção de propagação do campo elétrico (ϕout = ~k · ~r). Por conveniência são denidos novos eixos de coordenadas, como é visto na Figura 1.8. y−z onde z O plano de incidência é é a direção de propagação do feixe de entrada e os novos eixos representam uma rotação no plano y−z onde os eixos zin , z* e zout represen- tam a normal na interface (ar-vidro ou 1), normal a interface (vidro-ar ou 2) e normal a interface (vidro-ar ou 3), respectivamente. z eixo de entrada zin , abaixo (vidro-ar Figura 1.8: Esquema do diagrama de eixos na prisma. Com e incidência normal na borda à esquerda (ar-vidro ou 1) ou 2) z* e à direita (vidro-ar ou 3) Denindo zout . Figura reproduzida de [39]. θ como o ângulo de incidência e usando R(θ) como a matriz rotação: R(θ) = cos θ − sin θ sin θ cos θ , (1.16) podemos relacionar as coordenadas referente ao feixe de saída com as outras CAPÍTULO 1. EFEITO GOOS-HÄNCHEN 35 coordenadas por: yout zout = R = R 3π 4 π 2 y* z* −θ =R y z π 2 yin zin . (1.17) Contudo, podemos determinar a fase espacial em cada interface com relação ao ângulo de incidência. Para o feixe de entrada a fase espacial é denida como: ϕin = ~k · ~r = ~kin · ~rin , onde ~rin = (x, yin , zin ) (1.18) é obtido a partir da equação 1.17 e kin = kxin e kyin kzin = R (−θ) ky kz ~kin é dado por: , levando em conta que a descontinuidade é ao longo do eixo (1.19) zin (esta descon- tinuidade vem do fato que o feixe esta passando de um meio para outro, tal que k = nq onde n representa o índice de refração do vidro e q o número de onda total no vidro), as componentes xin = x e yin do número de onda não se alteram quando o feixe atravessa a primeira interface. (qx , qyin ) = (kx , kyin ) ⇒ qzin = n2 k 2 − kx2 − ky2in enquanto a segunda interface antes do deslocamento GH, 1/2 , (1.20) 1.4. DESLOCAMENTO GH DE UM FEIXE GAUSSIANO 36 ϕl = ~qin · ~rin = ~q∗ · ~r∗ , onde ~r∗ = (x, y∗ , z∗ ) e ~q∗ (1.21) é dado por: q x∗ = q x e q y∗ q z∗ π qy =R − in . 4 qzin (1.22) A fase espacial do feixe reetido na segunda interface, ou seja, após o deslocamento GH, é dada pela equação 1.21, mas mudando z∗ por −z∗ , temos: ϕr = qx∗ x∗ + qy∗ y∗ − qz∗ z∗ = ~qout · ~rout , onde ~rout = (x, yout , zout ) qxout = qx e e qyout qzout ~qout (1.23) é dado por: =R 3π 4 q y∗ −qz∗ = −qyin qzin . (1.24) Em resumo, a equação 1.25 apresenta as componentes do número de onda referente às coordenadas denidas na equação 1.17. (kx , kyout ) = (kx , qyout ) = (kx , −qyin ) = (kx , −kyin ) kzout = kzin . Finalmente a fase espacial do feixe de saída é dada por: (1.25) CAPÍTULO 1. EFEITO GOOS-HÄNCHEN 37 ϕout = ~kout · ~rout = kx x − kyin yout + kzin zout = kx x + (kz cos 2θ − ky sin 2θ) y + (ky cos 2θ − kz sin 2θ) z. (1.26) Consequentemente, o vetor de onda de saída no sistema de coordenadas (x, y, z) é: [∇ϕout ](kx =0,ky =0) = (0, k cos 2θ, k sin 2θ) (0, 0, k) para θ = π/4, = (0, k, 0) para θ = 0, (0, 0, −k) para θ = −π/4, (1.27) Note que o feixe de saída propaga paralelamente ao feixe de entrada para θ = ±π/4 e perpendicular ao feixe de entrada para θ = 0. 1.4.3 Coeciente de transmissão A fórmula de Fresnel para os coecientes de reexão e transmissão para a onda s do feixe pode também ser obtida usando analogia entre óptica e mecânica quântica [52]. r [α, β] = sendo α e β α−β α+β e t [α, β] = 2α , α+β (1.28) os vetores de onda normal em cada interface do prisma. Utilizando a equação 1.28 e levando em conta o termo de fase espacial, os 1.4. DESLOCAMENTO GH DE UM FEIXE GAUSSIANO coecientes de reexão e transmissão para a onda 38 s do feixe para cada inter- face do prisma são dados por: (s) = r [kzin , qzin ] exp [2ikzin ain ] , (s) = t [kzin , qzin ] exp [i(kzin − qzin )ain ] , rin tin r∗(s) = r [qz∗ , kz∗ ] exp [2iqz∗ a∗ ] , t(s) = t [qz∗ , kz∗ ] exp [i(qz∗ − kz∗ )a∗ ] , ∗ (s) rout = r [qzout , kzout ] exp [2iqzout aout ] , (s) tout = t [qzout , kzout ] exp [i(qzout − kzout )aout ] . Escolhendo o eixo que qzout = qzin e ain = 0 (isto implica kzout = kzin a∗ = a/21/2 e aout = b − a) (1.29) e sabendo da equação 1.25, obtemos a expressão para o coeciente de transmissão total: (s) (s) t(s) = tin r∗(s) tout = 4kzin qzin qz∗ − kz∗ exp [iψout ] , (kzin + qzin )2 qz∗ + kz∗ (1.30) onde ψout = 21/2 qz∗ a + (qzin − kzin )(b − a), (1.31) é a fase do coeciente de transmissão total, que depende da geometria do prisma. O coeciente de transmissão total para a onda tituição: p é obtido pela regra de subs- CAPÍTULO 1. EFEITO GOOS-HÄNCHEN 39 n qz o kzin,∗ , qzin,∗ → nkzin,∗ , in,∗ , n (1.32) portanto, t(p) = 4n2 kzin qzin qz∗ − n2 kz∗ exp [iψout ] . (n2 kzin + qzin )2 qz∗ + n2 kz∗ (1.33) A amplitude do campo elétrico de saída é dada por: (s,p) Eout ωo2 (~r) = Eo 4π Z (s,p) dkx dky t (kx2 + ky2 )ωo2 exp − 4 i ~ × exp −ikout · ~rout . h (1.34) Conhecendo a fase espacial e a fase do coeciente de transmissão total, podemos calcular o caminho geométrico usando o MFS. Ao impor que a derivada da fase seja zero no centro da distribuição gaussiana do feixe de entrada, obtemos que: ∂ϕin ∂ϕin , ∂kx ∂ky = {0, 0} ⇒ {xmax , ymax }in = {0, 0} . Para o feixe de saída, a fase do campo é dada pela fase espacial fase ψout (1.35) (kx =0,ky =0) ϕout e pela do coeciente de transmissão total. Usando MFS encontramos: ∂(ϕout + ψout ) ∂kx ∂(ϕout + ψout ) ∂ky (0,0) (0,0) = 0 ⇒ xmaxout = 0, (1.36) = 0 ⇒ zmaxout cos 2θ − ymaxout sin 2θ = d, (1.37) 1.4. DESLOCAMENTO GH DE UM FEIXE GAUSSIANO 40 onde d = a (cos θ + sin θ) + b sin θ ! cos θ p −1 . n2 − sin2 θ (1.38) A equação 1.37 apresenta a posição da intensidade máxima do feixe de saída descrito pela óptica geométrica. No artigo [39] os autores deixam explícito o termo de fase que surge do coeciente de reexão na interface (vidro-ar ou 2) para a onda s e onda p. Essa fase, não é prevista pela óptica geométrica e surge quando a reexão é total, é escrita como: n o qz∗ − n2 kz∗ qz∗ − kz∗ (s) (p) , Arg , φGH , φGH = Arg qz∗ + kz∗ qz∗ + n2 kz∗ 2 −1 |kz∗ | −1 n |kz∗ | = −2 tan , tan . q z∗ q z∗ (1.39) Este termo de fase é o mesmo mencionado na seção 1.2 e ao fazer a sua derivada, ( (s) (p) ∂φGH ∂φGH , ∂ky ∂ky ) (0,0) 2 ∂qz∗ = |kz∗ | ∂ky 1, n2 k 2 k 2 + (n2 + 1)|kz∗ |2 , (1.40) leva à expressão analítica do deslocamento GH para o mesmo resultado obtido por Artmann descrito nas equações 1.9 e 1.8. ( {Ds , Dp } = − (s) (p) ∂φGH ∂φGH , ∂ky ∂ky ) . (0,0) (1.41) CAPÍTULO 1. EFEITO GOOS-HÄNCHEN 41 A curva numérica do deslocamento GH, é obtida a partir da diferença entre a posição da intensidade máxima do feixe de saída da equação 1.42 com a intensidade máxima do feixe de saída descrito pela óptica geométrica da mesma equação, mas sem considerar o termo (s,p) φout , em função do ângulo de incidência. (s,p) 2 (s,p) Iout (~r) = Eout (~r) , 2Z ωo (kx2 + ky2 )ωo2 (s,p) = Io dkx dky |t | exp − 4π 4 i2 (s,p) +i ϕout + ψout + φout . (1.42) A Figura 1.9 apresenta o comportamento da diferença entre o deslocamento GH para a onda p e onda s (∆yGH = Dp − Ds ) em função do ângulo de in- cidência referente a segunda interface do prisma. As curvas referentes à linha continua em verde, triângulos em vermelho e pontos em azul, representam curnm e n−1 = 1,515, onde z indica a posição na qual está sendo feita a medida na qual z = 0 refere- vas numéricas para os parâmetros wo = 169,4 µm, λ = 633 se a posição onde ocorre o deslocamento GH, ou seja, na segunda interface do prisma. A linha tracejada preta representa a curva analítica descrita por Artmann e pontilhado preto a posição do ângulo crítico. A Figura 1.9 mostra que, ao contrário da curva analítica de Artmann, os resultados numéricos próximo do ângulo crítico para reexão interna total não divergem, além de que existe um ângulo para o qual o deslocamento GH é máximo. Vale mencionar que tanto o ângulo e a magnitude do deslocamento GH máximo depende da propagação do feixe de saída, ou seja, do tamanho da cintura do feixe na posição onde está sendo detectado o deslocamento GH. 1.4. DESLOCAMENTO GH DE UM FEIXE GAUSSIANO 42 16 Artmann z=0 cm z=15 cm z=25 cm 14 ∆yGH(µm) 12 10 8 6 4 2 0 41,2 41,3 41,4 41,5 41,6 41,7 θ (graus) Figura 1.9: Diferença entre o deslocamento GH para a onda p e s em função do ângulo de incidência referente a segunda face do prisma. A curva numérica −1 para wo = 169,4 µm, λ = 633 nm e n = 1,515 está representada pela linha continua em verde, triângulos vermelhos e pontos azuis, para cm e z = 25 z = 0 cm, z = 15 cm, respectivamente. A curva analítica descrita por Artmann é representa pela linha tracejada preta e a linha pontilhada preta é a posição do ângulo crítico. Para ângulos maiores do ângulo crítico (θ∗ ≈ 41,45°> θc ) os resultados nu- méricos e analítico convergem para o mesmo valor do deslocamento GH. Isso mostra que o deslocamento GH para um feixe de entrada com raio mínimo de wo = 169,4 µm maior ou igual à não depende da propagação do feixe para ângulos que seja θ∗ . Em torno do ângulo crítico nota-se o efeito de amplicação do deslocamento GH com relação a propagação do feixe, ou seja, o deslocamento depende da posição de onde está sendo feita a medida. Essa amplicação pode ser ex- plicada por causa do efeito GH assimétrico [53], ou seja, quando uma parte do pacote gaussiano sofre reexão interna total, enquanto a outra parte sofre reexão parcial. Essa situação o pacote gaussiano é deformado induzindo um CAPÍTULO 1. EFEITO GOOS-HÄNCHEN deslocamento na posição do máximo do feixe à medida que 43 z aumenta. 1.5 Considerações nais Aqui apresentamos uma breve introdução de alguns resultados importantes e pioneiros, tanto experimental e teórico do deslocamento GH. Fizemos uma revisão dos coecientes de Fresnel mostrando que estes dependem da polarização e do meio de propagação. Mencionamos em quais condições a reexão é parcial ou total, mostrando que na condição de reexão total os coecientes de Fresnel apresentam uma fase diferente de zero. Esta fase difere para cada estado de polarização podendo haver uma mudança na polarização da onda reetida. Em seguida, apresentamos a descrição feita por Artmann [4] do efeito Goos-Hänchen e a obtenção das equações do deslocamento GH para onda onda s e p dada pelas equações 1.8 e 1.9, respectivamente. Por m, descrevemos com um certo formalismo o modelo descrito em [39], no qual os autores tiveram todo o rigor de descrever a propagação do feixe em toda a extensão de um prisma, além de considerar um feixe realístico. Os resultados numéricos do descolamento GH obtido por [39] é comparado com a equação obtida por Artmann [4], mostrando que em torno do ângulo crítico existe o deslocamento GH ao contrário do resultado de Artmann, além da existência de um ângulo em que o deslocamento é máximo, que por sua vez depende do tamanho da cintura do feixe na posição onde está sendo detectado o deslocamento GH. Por m, a amplicação do deslocamento GH em torno do ângulo crítico com relação a posição do feixe, pode ser explicada por causa que o efeito GH é assimétrico neste região [53], ou seja, quando parte do feixe sofre reexão total e a outra parte do feixe sofre reexão parcial. Capítulo 2 Medição Fraca em Mecânica Quântica e Analogia com Óptica Neste capítulo apresentaremos o conceito de medida fraca e valor fraco e o procedimento de medição fraca desenvolvido por Aharonov, Albert e Vaidman (AAV) [30]. Para tanto, começaremos descrevendo o que é uma medida fraca e qual o procedimento para obter o valor fraco de um observável. Em seguida, apresentaremos a descrição geral em que AAV descreveu como obter o valor fraco de uma medição fraca com as correções feitas por Duck e seus colaboradores [54]. Por m, aplicaremos a descrição geral do efeito AAV no experimento de partículas de spin 1/2 [54], discutiremos a analogia em Óptica com o primeiro experimento do efeito de medição fraca em Óptica [29] e aplicaremos o modelo para o deslocamento GH [28]. 2.1 Introdução No artigo [30], Aharonov, Albert e Vaidman (AAV) introduziram o conceito de uma medida fraca. Uma medida fraca é representada por um acopla- mento fraco entre o dispositivo de medição e o observável a ser medido. Este 44 CAPÍTULO 2. MEDIÇÃO FRACA EM MECÂNICA QUÂNTICA E ANALOGIA COM ÓPTICA 45 acoplamento é tão fraco que a incerteza em uma única medida é grande em comparação com a distância entre os valores próprios do observável. Portanto, os autovalores não são resolvidos por um dispositivo de medição. Na prática, há necessariamente algum grau de incerteza em qualquer medida. A força de uma medida pode ser caracterizado por uma escala contínua, que se estende a partir da medida ideal até a medida fraca, dependendo da incerteza de medição em relação à separação dos autovalores. Em uma medida ideal de um observável  temos as seguintes armações [55]: Ela sempre produz um autovalor A probabilidade do resultado O sistema é deixado em um autoestado de an an ; é |an |2 ;  depois da medição. Por outro lado, em uma medida fraca, os autovalores não estão totalmente resolvidos e o sistema não é deixado em um autoestado de uma superposição de autoestados. Â, mas sim em Se uma pós-seleção é feita, esta super- posição de autoestados pode interferir de forma coerente de modo a produzir uma medição que resulte em um valor fraco dos autovalores de Â. B̂ e de modo a escolher um resultado par- Assim, o estado nal é um autoestado de como uma combinação linear dos autoestados de  Resumindo, a medição fraca de um observável Pré-seleção do estado inicial do sistema sendo podendo estar fora da gama A pós-seleção pode ser realizada através de uma forte medição de algum outro observável ticular. Aw Â|an i = an |an i, |an i autoestado e que pode ser expresso Â. inclui tipicamente: |Ψi i, an B̂ onde |Ψi i = P autovalor; Interação fraca entre o sistema físico e o dispositivo de medida; n an |an i, 2.1. INTRODUÇÃO 46 Pós-seleção do estado nal do sistema Leitura do dispositivo de medida. |Ψf i, onde |Ψf i =|bi = P n 0 an |an i; AAV mostraram que em certas circunstâncias, uma medição fraca de um observável  pode produzir resultados surpreendentes. O resultado de uma medição fraca foi denominado pelos autores de valor fraco, que pode ser interpretado como uma generalização do valor esperado de um observável. Se antes da medida fraca o sistema é preparado num estado é pós-selecionado para outro estado |ψf i, |ψi i e depois da medida o sistema então o valor fraco de  é denido como: Aw = onde Aw hψf |Â|ψi i , hψf |ψi i (2.1) pode ser muito maior que qualquer um dos autovalores de for quase ortogonal que |ψi i. Â, se |ψf i O interesse fundamental do procedimento de medição fraca é que este pode ser útil para a amplicação e detecção de efeitos fracos. Este efeito ainda é um tema de pesquisa em aberto, onde muitos cientistas discordam da validade deste efeito ou de sua descrição. Em um artigo re- cente [56] os autores mostram que o efeito não se limita à Teoria Quântica. Este fenômeno se manifesta no mais simples sistema clássico e o efeito nada mais é que um artefato de brincar com as estatísticas clássicas e pertubações ao invés de um fenômeno sicamente observável [56]. Em [57, 58], o autor argumenta que o valor fraco de um observável nenhuma informação útil sobre Â. Â, por si só, não pode fornecer Isso porque qualquer informação contida em um valor fraco está fortemente relacionada ao procedimento de medida utilizado para obter o valor fraco. O foco desta dissertação não é descrever temas em aberto, mas, somente apresentar uma ferramenta de amplicação da CAPÍTULO 2. MEDIÇÃO FRACA EM MECÂNICA QUÂNTICA E ANALOGIA COM ÓPTICA 47 medida, de modo que não abordaremos estas polêmicas. 2.2 Medição Fraca O ponto de partida da discussão feita por AAV é o modelo padrão de Von Neumann do processo de medida. O sistema quântico, cujo observável  a ser medido, é acoplado a um dispositivo de medição por um acoplamento hamiltoniano: Ĥ = −g(t)q̂ Â, onde (2.2) q̂ é a variável canônica do dispositivo de medida (com momento p̂) e g(t) é uma função com suporte compacto perto da hora de medição (normalizado tal que o integrante do tempo é unitário). Um dispositivo de medição ideal tem bem denido os valores iniciais e nais de p̂ e a diferença de leitura do dispositivo que registra o valor de pf − pi é o ponteiro Â. Considere um estado inicial denido por: R dqφ (q)|qi i |Φi i = R dpφ̃ (p)|pi i (representação-q), (2.3) (representação-p), onde q2 φi (q) ≡ hq|Φi i = exp − 2 4∆ , φ̃i (p) ≡ hp|Φi i = exp (−∆2 p2 ) , (2.4) ∆q · ∆p = ~/2, com ~=1 e ∆q = ∆. Vamos supor também que o sistema tenha sido prepa- 2.2. MEDIÇÃO FRACA 48 rado em algum estado inicial denido combinação linear de autoestados de |Ψi i = |Ψi i e que este seja escrito como uma Â: X αn |an i. (2.5) n O hamiltoniano total é escrito como o hamiltoniano do sistema físico, hamiltoniano do aparato de medida e o hamiltoniano de acoplamento 2.2. Como o acoplamento entre o observável e o dispositivo de medida tem uma curta duração, podemos assumir que o hamiltoniano de acoplamento é dominante com relação aos outros termos do hamiltoniano, tal que todo o sistema (sistema quântico mais dispositivo de medição) irá evoluir para: Z X Z αn exp −i Ĥ dt |Ψi i|Φi i = n Inserindo 1̂ = R dq e iqan q2 exp − 2 |an i|qi. 4∆ (2.6) dp|pihp|, podemos reescrever a equação (2.6) na representação de momentos: X Z αn dp exp −∆2 (p − an ) 2 |an i|pi. (2.7) n Assim, se ∆p é pequeno comparado com o intervalo entre os autovalores an , o dispositivo de medida é deixado em um estado que consiste em picos amplamente separados, onde cada centro dos picos corresponde a um dos autovalores an . Portanto, no limite ∆p → 0, as propriedades de uma medida ideal são sa- tisfeitas. No entanto, vamos considerar o limite oposto, em que que o intervalo entre os autovalores an . ∆p é muito maior do AAV refere-se a este caso como uma CAPÍTULO 2. MEDIÇÃO FRACA EM MECÂNICA QUÂNTICA E ANALOGIA COM ÓPTICA 49 medida fraca. A probabilidade após o acoplamento é então uma superposição de gaussianas largas e centradas em seus respectivos autovalores: ℘(p) = X |αn |2 exp −2∆2 (p − an )2 . (2.8) n ∆p e pequeno ∆), isto irá aproximar a uma única gaussiana P 2 larga com pico no valor médio de Â, que é hÂi = n |αn | an . É claro que uma Neste caso (grande única medida fraca dá quase nenhuma informação, uma vez que ∆p hÂi. Porém, repetindo a medida muitas vezes pode-se mapear toda a distribuição e então determinar o centroide hÂi com qualquer precisão desejada. Uma crítica a este procedimento, é justamente a necessidade de disponibilidade de um número arbitrário de cópias do estado inicial vezes. |Ψi i para se repetir a medida várias Para dimensões nitas, um estado reprodutível pode ser considerado conhecido [57, 58]. Logo, se |Ψi i é conhecido a priori, hÂi também deve ser co- nhecido. Então por que fazer uma medida fraca para medir algo já conhecido? O ponto mais interessante deste efeito surge quando se faz uma pós-seleção do estado do sistema quântico. Isto é, imediatamente após a interação fraca de Â, se faz uma medida de algum outro observável resultado B = b. B̂ e seleciona um único Isso coloca o sistema quântico em um determinado autoes- tado nal: |Ψf i =|bi = X 0 αn |an i. (2.9) n O procedimento é exatamente análogo à preparação (ou pré-seleção) do estado inicial forma: |Ψi i. Depois do procedimento de pós-seleção, o estado nal é escrito na 2.2. MEDIÇÃO FRACA 50 Z |Φf i = hΨf | exp −i Ĥ dt |Ψi i|Φi i, = hΨf |eiq̂ |Ψi i|Φi i. (2.10) Esta expressão pode ser diretamente avaliada usando as expansões de |Ψf i. |Ψi i e Na representação-q, |Φf i = X 0∗ Z αn αn dqe q2 exp − 2 |qi, 4∆ (2.11) −∆2 (p − an )2 |pi. (2.12) iqan n e na representação-p, |Φf i = X 0∗ Z αn αn dp exp n O valor fraco do observável de  surge quando expandimos o termo eiq̂ da equação 2.10; |Φf i = hΨf |eiq̂ |Ψi i|Φi i, ' hΨf |Ψi i + iq̂hΨf |Â|Ψi i + ... |Φi i, ' hΨf |Ψi i 1 + iq̂ Âw + ... |Φi i, Z q2 iqAw |Φf i ' hΨf |Ψi i dqe exp − 2 |qi. 4∆ (2.13) (2.14) (2.15) (2.16) Note que a passagem da equação 2.14 para 2.15 mostra como a denição do valor fraco apresentado na equação 2.1 surge. CAPÍTULO 2. MEDIÇÃO FRACA EM MECÂNICA QUÂNTICA E ANALOGIA COM ÓPTICA 51 Na representação de momento, o estado nal Z |Φf i ' hΨf |Ψi i dp exp |Φf i da equação 2.16 torna-se: −∆2 (p − Aw )2 |pi. (2.17) Obviamente este é um único vetor de estado com distribuição gaussiana centrada em Aw . O que torna este resultado desconcertante é que fora, muito fora, do intervalo dos autovalores de |Ψi i e o estado nal |Ψf i an Aw pode estar quando o estado inicial são quase ortogonais. Vale notar que em 2.14 os termos de ordem superior da expansão exigem que; para todo n ≥ 2. |q n hΨf |Ân |Ψi i| |hΨf |Ψi i| , (2.18) |q n hΨf |Ân |Ψi i| |qhΨf |Â|Ψi i|, (2.19) Mas para que a manipulação da equação 2.15 para a equação 2.16 tenha validade, temos que assumir que |qAw | 1, tal que as condições em 2.18 e 2.19 também são satisfeitas. Em resumo, a validade do cálculo feito por AAV requer: ∆ 1/Aw e hΨ |Â|Ψ i 1/(n−1) f i ∆ minn=2,3,... . hΨf |Ân |Ψi i (2.20) 2.3. EXEMPLO ENVOLVENDO PARTÍCULAS DE SPIN 1/2 52 2.3 Exemplo envolvendo partículas de spin 1/2 AAV ilustra a sua discussão geral com o seguinte experimento de um feixe de partículas de spin 1/2, movendo na direção y e com velocidade bem denida é apresentado na Figura 2.1. O feixe é preparado de tal modo que os spins estão orientados no plano componente z xz formando um ângulo α com o eixo x. A medida da do spin é realizada de maneira usual, fazendo o feixe de partí- culas passar por um ímã de Stern-Gerlach, produzindo assim um acoplamento entre o operador de spin σ̂z e a coordenada z , descrito através do hamiltoniano de acoplamento. Ĥ = −λg(t)ẑσ̂z , onde λ (2.21) é proporcional ao momento magnético da partícula e a função g(t) (a qual surge a partir da passagem do feixe de partículas através da região que localiza o campo magnético não homogêneo) é normalizada. Utilizando a terminologia da Seção 2.2, o estado tícula e λσ̂z , |Φi |Ψi corresponde ao estado do spin da par- ao estado translacional. Iremos considerar uma medida fraca de em que a divisão do feixe δpz , induzido pelo primeiro ímã Stern-Gerlach na Figura 2.1 é pequeno comparado com ∆pz = 1/(2∆), onde ∆ é a cintura do feixe. Figura 2.1: Ilustração do arranjo experimental proposto para observação do efeito AAV para feixe de partículas de spin 1/2. Figura reproduzida de [54]. CAPÍTULO 2. MEDIÇÃO FRACA EM MECÂNICA QUÂNTICA E ANALOGIA COM ÓPTICA Assim, as componentes 53 σz = +1 e σz = −1 do feixe continuam a sobrepor- se fortemente e não estão claramente separados como seria em uma medida forte. Uma pós-seleção do estado é feita pela passagem do feixe através de um segundo ímã Stern-Gerlach com forte campo alinhado na direção divide o feixe em dois feixes bem separados espacialmente e o x. σx = +1 Isto é sele- cionado e fotografado em uma tela distante. O estado inicial é o autoestado base dos autoestados de σz +1 de (cos α)σx + (sin α)σz . Escrevendo na temos que, cos(α/2) + sin(α/2) 1 , |Ψi i = √ 2 cos(α/2) − sin(α/2) e o estado nal é o autoestado +1 de (2.22) σx . 1 1 |Ψf i = √ . 2 1 (2.23) hΨf |Ψi i = cos(α/2), hΨf |σ̂z |Ψi i = sin(α/2). (2.24) De modo que O valor fraco da componente de spin σz é: Aw = (λσz )w = λ tan α 2 . (2.25) 2.3. EXEMPLO ENVOLVENDO PARTÍCULAS DE SPIN 1/2 54 A descrição da função de onda espacial inicial é representada a seguir: z2 φi (q) ≡ hq|Φi i = exp − 2 4∆ f (x, y). (2.26) A dependência de x e y da equação 2.26 é irrelevante e vamos ignorá-la daqui por diante. Substituindo os resultados descritos acima na equação 2.17, temos que a função de onda na representação de momento é dada por: α 2 2 φ̃f (p) ≡ hp|Φf i ' cos exp −∆ pz − λ tan . 2 2 α (2.27) Assim, o resultado mostra que a distribuição observada será gaussiana, centrada no valor tan(α/2) (numa escala onde σz = +1 corresponde ao valor +1). O surpreendente é que, quando α se aproxima de π , tan(α/2) pode ser muito maior que a unidade. Para este exemplo o resultado é válido, desde que: h α α i ∆ λ−1 min tan , cot . 2 2 Para melhor entendimento, vamos considerar o caso onde 1. (2.28) α = π − 2, com A equação 2.27 se reduz a: " 2 # λ φ̃f (p) ' exp −∆2 pz − , e é válida se, λ∆ 1. O resultado exato correspondente pode ser obtido da equação 2.12: (2.29) CAPÍTULO 2. MEDIÇÃO FRACA EM MECÂNICA QUÂNTICA E ANALOGIA COM ÓPTICA 55 φ̃f (p) = ϕ(pz ; , ∆, λ), ϕ onde é uma função de p, com parâmetros , ∆ e (2.30) λ denidos por: ϕ(pz ; , ∆, λ) = 1/2 (1 + ) exp −∆2 (p − λ)2 − (1 − ) exp −∆2 (p + λ)2 . (2.31) Note que λ pode ser eliminado por uma relação de escala ϕ(p; , ∆, λ) = ϕ(p/λ; , λ∆, 1). (2.32) A equação 2.31 torna evidente que a função de onda nal é uma superposição de duas gaussianas centradas em σz =±1. p =±λ, correspondendo aos autoestados O truque da amplicação consiste em um cancelamento nas proximi- dades dos dois termos da equação 2.31, quando 1, deixando assim apenas uma pequena parcela no resultado nal que é aproximadamente uma gaussiana centrada em p = λ/. Esta situação está representada na Figura 2.2, onde o centro da função de onda é deslocada por um valor amplicado com P ≡ p/λ. A Figura 2.2(b) é a gura amplicada de 2.2(a), em que a linha vertical tracejada vermelha está localizada em P = 0. O efeito de amplicação torna-se mais evidente cada vez que (para à 1/ ∆ P = 1/ = 5, é feito menor xo). O deslocamento para a direita do pico aumenta proporcional até que a condição torna-se da ordem λ∆ 1 seja quebrada, que acontece quando λ∆. O deslocamento do pico não pode exceder O(1/∆) ou então o efeito satura, 2.3. EXEMPLO ENVOLVENDO PARTÍCULAS DE SPIN 1/2 0,2 56 0,201 0,2 0,15 φ(P) φ(P) 0,199 0,1 0,198 0,197 0,05 0,196 0,195 0 -300 -200 -100 0 100 200 -10 300 0 -5 = 0,2. 20 25 (b) Figura 2.2: (a) Gráco da função e 15 P (a) λ∆ = 0,01 10 5 P ϕ(p; , ∆, λ) em função de P ≡ p/λ com Note que a função se assemelha a uma única gaussiana cujo pico, mostrado na gura ampliada em (b), é deslocado para P = 1/ = 5. 2,5 0,015 2 -4 1,5 2 |φ(P)| /10 φ(P) 0,01 0,005 0 -0,005 -300 1 0,5 -200 -100 0 100 200 300 P 0 -300 -200 Figura 2.3: (a) Gráco da função 0 100 200 300 P (a) = λ∆ = 0,01. -100 (b) ϕ(p; , ∆, λ) em função de P ≡ p/λ com (b) Distribuição de probabilidade. como pode ser visto na Figura 2.3. Note que na Figura 2.3(a), a função de onda não apresenta uma distribuição gaussiana como foi visto na Figura 2.2(a) e isto torna-se mais evidente quando diminui ainda mais. Em termos de dis- tribuição de probabilidade surge um segundo pico pequeno como pode ser visto na Figura 2.3(b). Finalmente, se é igual à zero, obtém-se uma função de onda antissimétrica na Figura 2.4(a), que produz dois picos de mesma magnitude na distribuição de probabilidade 2.4(b). É claro que nesta situação, a condição de medida fraca é CAPÍTULO 2. MEDIÇÃO FRACA EM MECÂNICA QUÂNTICA E ANALOGIA COM ÓPTICA 57 8 0,005 2 |φ(P)| /10 φ(P) -5 6 0 4 2 -0,005 -300 -200 -100 0 100 200 0 -300 300 -200 -100 0 (a) e λ∆ = 0,01. 200 300 (b) Figura 2.4: (a) Gráco da função = 0,0 100 P P ϕ(p; , ∆, λ) em função de P ≡ p/λ com (b) Distribuição de probabilidade. quebrada, contudo o efeito de medida fraca é ainda um tanto impressionante, pois os dois picos estão localizados em P/λ =±70 em vez de ±1). p '±70/∆ e não em ±λ (de modo que No entanto, esta distribuição surge a partir da superposição da função de onda das componentes σz =±1, apenas. 2.4 Analogia em Óptica Nesta Seção apresentaremos uma analogia em Óptica do experimento de SternGerlach descrito na Seção 2.3. Aqui o feixe de partículas de spin 1/2 é substituído por um feixe laser com modo Gaussiano e a pré-seleção e pós-seleção do magneto Stern-Gerlach são substituídos por polarizadores ópticos. A montagem experimental é apresentada na Figura 2.5 que foi retirada da referên- T cia [29]. O feixe laser de He-Ne é colimado e focalizado por um telescópio e lente L1 , respectivamente, em seguida é polarizado por um ângulo relação ao eixo x ao passar pelo polarizador refringente Q P1 . α com Uma placa de quartzo bir- com eixo ótico (OA) alinhado ao longo do eixo x é localizado próximo da posição do raio mínimo do feixe. O polarizador com relação ao eixo x, pós-seleciona a polarização nal. P2 com ângulo Por m a lente β L2 2.4. ANALOGIA EM ÓPTICA 58 expande o feixe que detecta a intensidade do feixe ao longo do eixo y com um fotodetector D. Os autores foram os primeiros a realizar um experimento do efeito de medição fraca em Óptica, utilizando uma placa de cristal de quartzo birrefringente que separa espacialmente as duas polarizações da radiação laser por uma distância que é muito menor que o raio do feixe laser, correspondendo assim a uma medida fraca. Figura 2.5: Montagem experimental retirada da referência [29]. Onde He-Ne é o laser de comprimento o feixe laser, β L1 e L2 λ = 0.633 são as lentes, nm, T representa o telescópio para colimar P1 P2 e com relação ao eixo x, respectivamente, são os polarizadores com ângulo αe Q é a placa de quartzo birrefringente com eixo ótico (OA) alinhado ao longo do eixo x e D é o fotodetector. Assumindo que o feixe de luz propaga na direção z e após ser pré-selecionado pelo polarizador α P1 , seu campo elétrico é linearmente polarizado com ângulo com respeito ao eixo x. O vetor campo elétrico após ser pré-selecionado é descrito por: 2 2 cos(α) ~ i = Eo exp − x + y , E 2 wo sin(α) (2.33) CAPÍTULO 2. MEDIÇÃO FRACA EM MECÂNICA QUÂNTICA E ANALOGIA COM ÓPTICA onde wo 59 é o raio mínimo do feixe. Em seguida, a luz é incidente numa placa birrefringente (Q ), cujo eixo ótico é alinhado com o eixo x. O plano da placa inclui o eixo x e é rodado a partir do eixo y por um ângulo θ. A placa birre- fringente interage fracamente com o feixe que executa uma separação espacial das componentes de polarização linear e ortogonais do campo, correspondentes aos raios ordinários e extraordinários, por uma distância comparado com nimo wo . wo = 55 µm a que é pequena No experimento, foi utilizado um feixe laser de raio mí- e a placa está rodada por um ângulo assim, um deslocamento espacial de θ = 30° produzindo a = 0,64 µm entre as polarizações do feixe incidente. Além disso, a placa birrefringente introduz uma diferença de fase φ entre os dois raios, devido a uma diferença de caminho ótico entre eles. Depois de passar pela placa, o campo elétrico (ignorando a quantidade de deslocamento devido à refração comum a ambas componentes de polarização) é: (y + a)2 iφ e cos(α) exp − wo (y)2 sin(α) exp − wo 2 ~ w = Eo exp − x E wo . A pós-seleção é executada por um alinhamento do polarizador β (2.34) P2 a um ângulo com respeito ao eixo x, tal que. 2 (y + a) cos(α) cos(β) exp − eiφ 2 x w ~ f = Eo exp − o 2 E (y) wo sin(α) sin(β) exp − wo A intensidade da luz transmitida de eixo y [ I(y) ∝|Ef |2 ]: I(y) . (2.35) é detectada pelo fotodetector ao longo 2.4. ANALOGIA EM ÓPTICA 60 2(y + a)2 2y 2 2 2 2 2 I(y) = Io cos(α) cos(β) exp − + sin(α) sin(β) exp − wo wo 2 y + (y + a)2 , +2 cos(α) cos(β) sin(α) sin(β) cos(φ) exp − wo (2.36) onde Io corresponde ao máximo de intensidade e é proporcional a |Eo |2 . Os dados experimentais e as curvas teóricas da equação 2.36 são apresentados na Figura 2.6. Inicialmente os autores mantiveram os polarizadores com a mesma orientação α = β = π/4 com relação ao eixo x. Neste caso, o termo de interferência da equação 2.36 contribui construtivamente. Sendo a wo , o perl de intensidade do feixe é essencialmente uma única gaussiana com intensidade centrada em Io como é visto na Figura 2.6(a) na curva de linha contínua. Com os dados experimentais da Figura 2.6(a) os autores obtiveram a informação do raio do feixe gaussiano na posição onde estava localizado o fotodetector a partir de um ajuste de uma curva gaussiana (linha pontilhada na Figura 2.6(a)). A Figura 2.6(b) corresponde à situação que AAV chama de medida fraca. Neste caso, α = π/4 e β = α + π/2 + , com = 2,2x10−2 rad, de modo que a pré-seleção e pós-seleção dos estados de polarização são quase ortogonais. Para essa situação, as duas gaussianas interferem destrutivamente. Se 1 a/wo 2 1, a interferência vai produzir uma única gaussiana com pico centrado no valor fraco, Aw ≈ 21 a cot , que pode ser muito maior que caso da Figura 2.6(b), o deslocamento amplicado foi de Aw = 12 µm. a. No Deve- se notar que a amplitude da gaussiana resultante é varias ordens de grandeza menor do que a amplitude da gaussiana mostrada na Figura 2.6(a). CAPÍTULO 2. MEDIÇÃO FRACA EM MECÂNICA QUÂNTICA E ANALOGIA COM ÓPTICA 61 Figura 2.6: Dados experimentais representado em linha sólida e curva teórica da equação 2.36 em linha pontilhada. Em (a) situação onde os polarizadores tem a mesma orientação, em (b) os polarizadores são quase ortogonais e em (c) os polarizadores são ortogonais. Figura retirada de [29] A Figura 2.6(c) corresponde ao caso onde os polarizadores são ortogonais ( = 0). Aqui, o termo de interferência é destrutivo, causando um quase cancelamento da intensidade. O restante da intensidade consiste em dois picos que são 5 ordens de magnitude menos intensos do que distância muito maior que a, aproximadamente Io e separado por uma 21/2 wo . 2.5 Aplicando ao deslocamento GH Esta Seção vamos descrever de forma geral o artigo [28]. Este foi o primeiro artigo experimental a observar o deslocamento GH via medição fraca. A Figura 2.7 apresenta a montagem experimental usada pelos autores [28]. Os autores 2.5. APLICANDO AO DESLOCAMENTO GH 62 utilizaram no experimento um laser de diodo de comprimento de onda λ = 833 nm acoplado a uma bra óptica monomodo com uma lente objetiva acoplada em sua saída. Em seguida o feixe é colimado usando a combinação das lentes L1 e L2 P1 e P2 , o prisma por (PRISM) e as placas de um quarto de onda e meia onda, por um raio de w0 = 260 µm. Os polarizadores são representados por (QWP do inglês Quater Wave Plate) e (HWP do inglês Half Wave Plate), respectivamente. A polarização inicial ângulo α e β, P1 e nal P2 respectivamente com relação ao eixo são selecionados por um x do plano xy. Figura 2.7: Montagem experimental da medição fraca do deslocamento GH. Sendo que os polarizadores (P1 e P2 ), prisma (PRISM), placa de um quarto de L1 e L2 . Figura reproduzida onda (QWP), placa de meia onda (HWP) e lentes de [28]. A descrição do modelo do deslocamento GH via medição fraca é análogo a descrição feita na Seção 2.4. O que difere da descrição e na montagem experimental com o descrito na Seção 2.4 são as placas QWP e HWP. Estas placas são inseridas de modo a retirar a fase adicional que surge quando o feixe sofre reexão interna total, de modo que pode ocorrer mudança no estado de polarização da onda reetida com relação a onda incidente, situação esta que foi discutida na Seção 1.2. CAPÍTULO 2. MEDIÇÃO FRACA EM MECÂNICA QUÂNTICA E ANALOGIA COM ÓPTICA 63 O campo elétrico ao passar pelo polarizador inicial (P1 ) é descrito por: x2 cos(α) exp − w2 o ~ E(x) = x2 sin(α) exp − 2 wo , (2.37) e após sofrer o deslocamento GH no prisma é escrito na forma: (x − Dp )2 δ cos(α) exp −i 2 exp − wo2 ~ E(x) = δ (x − Ds )2 sin(α) exp i exp − 2 wo2 onde δ = φp − φs é a diferença de fase entre a onda , (2.38) p e onda s após reexão interna total. O deslocamento GH devido a reexão interna total é denido como Dp para onda p e Ds para onda s. As placas QWP e HPW são intro- duzidas após o feixe passar pelo prisma para eliminar a fase adquirida. Na representação de matriz de Jones a combinação das placas QWP e HWP é dada por: e −iδ/2 0 0 eiδ/2 . (2.39) Desta forma, após passar pelas placas QWP, HWP o campo elétrico é dado por: (x − Dp )2 cos(α) exp − wo2 ~ E(x) = (x − Ds )2 sin(α) exp − wo2 Por m, o polarizador pelo ângulo β P2 , (2.40) projeta o campo elétrico ao longo da direção denida tal que a componente x do campo é dado por: 2.5. APLICANDO AO DESLOCAMENTO GH 64 (x − Dp )2 E(x) = cos(β) cos(α) exp − wo2 (x − Ds )2 . + sin(β) sin(α) exp − wo2 (2.41) Escrevendo a equação 2.41 na forma, E(x) = cos(α + β)Ẽ(x − a; , w0 , ∆yGH ), com a = (Dp + Ds )/2, ∆yGH = (Dp − Ds ) (x − ∆yGH /2)2 Ẽ(x) = (1 + ) exp − wo2 e tan ≈ , Ẽ (2.42) é dado por: (x + ∆yGH /2)2 − (1 − ) exp − wo2 . (2.43) Esta última forma deixa evidente que o resultado nal é uma superposição de duas gaussianas centradas em x = ±∆yGH /2. medida fraca é satisfeita, ou seja, 1 ∆yGH /w 2 Note que quando a condição de 1, as duas gaussianas in- terferem destrutivamente e produzem uma única gaussiana deslocada por um valor fraco, 1 ∆yGH 2 cot ≈ 12 ∆yGH / ∆yGH . A Figura 2.8 apresenta o comportamento da intensidade do campo elétrico descrito na equação 2.42, com ângulo de incidência em (b) e θ = 44° θ = 41,4° em (a), θ = 42° em (c). Estes ângulos refere-se ao ângulo de incidência do campo elétrico na segunda face do prisma e esta relacionado com a magnitude da diferença do deslocamento GH para onda 1.9 e 1.8, respectivamente com p e onda s, descrita nas equações n−1 = 1,515 e λo = 633 nm. As curvas em preto são para situação em que os polarizadores estão ortogonais = 0,0°, em CAPÍTULO 2. MEDIÇÃO FRACA EM MECÂNICA QUÂNTICA E 65 1 0,5 0,8 0,4 |E(x)| (arb. units) 0,6 2 2 |E(x)| (arb. units) ANALOGIA COM ÓPTICA 0,4 0,2 0 -300 0,3 0,2 0,1 -200 -100 0 100 200 300 0 -300 -200 -100 x (µm) 0 100 200 x (µm) (a) (b) 0,5 2 |E(x)| (arb. units) 0,4 0,3 0,2 0,1 0 -300 -200 -100 0 100 200 300 x (µm) (c) Figura 2.8: Perl de intensidade do feixe após passar pelo polarizador nal. As curvas em preto, vermelho e azul são para as situações = 0,5°, respectivamente. Em (a) para θ = 41,4°, para θ = 44°. Com ângulo crítico θc = 41,3. e = 0,0°, = −0,5° θ = 42° e (c) (b) para vermelho e azul para as situações quase ortogonais com = −0,5° e = 0,5°, respectivamente. Para ângulos próximo do ângulo crítico a condição de medida fraca não é mais satisfeita pois surgi um segundo pico de intensidade na situação de quase ortogonalidade dos polarizadores dada na Figura 2.8(a). Neste caso é necessário aumentar o tamanho do raio do feixe para que a condição de medida fraca seja satisfeita. Enquanto nas Figuras 2.8(b) e 2.8(c) a condição de medida fraca é satisfeita, além de que, observa-se que o perl de intensidade para = 0,0° e 300 2.5. APLICANDO AO DESLOCAMENTO GH a separação entre os máximos para = −0,5° e 66 = 0,5° diminui quanto maior for o ângulo de incidência com relação ao ângulo crítico. Isso vem do fato que o deslocamento GH diminui quanto maior for o ângulo de incidência. Figura 2.9: Dados experimentais do deslocamento GH via medição fraca comparado com a curva analítica de Artmann. Figura adaptada de [28]. O procedimento de medida do deslocamento GH via medição fraca descrito em [28], foi feito medindo a separação entre os máximos de intensidade dos dois feixes correspondentes a α = π/4 e β = α + π/2 ± . locamento GH (∆yGH ) e o valor fraco medido (∆Y A relação entre o des- = Y ()−Y (−)) é dado por: ∆yGH = ∆Y tan ≈ ∆Y . (2.44) O resultado obtido em [28] é apresentado na Figura 2.9, onde os dados experimentais são os pontos pretos e a curva contínua é a fórmula analítica de Artmann. A medida concorda muito bem com a curva analítica de Artmann, mostrando que o procedimento de medida utilizando o efeito de medição fraca é bastante útil. CAPÍTULO 2. MEDIÇÃO FRACA EM MECÂNICA QUÂNTICA E ANALOGIA COM ÓPTICA 67 2.6 Considerações nais Neste capítulo introduzimos o conceito de medida fraca, valor fraco e qual o procedimento de medir o valor fraco de um observável de forma simples. Em seguida descrevemos o desenvolvimento descrito pela primeira vez por AAV [30] com as correções feitas por Duck e seus colaboradores [54], mostrando quais as condições necessárias para obter o valor fraco. Por m aplicamos e discutimos a validade dos resultados obtidos para um feixe de partículas de spin analogia em óptica [29] e para o caso do deslocamento GH [28]. 1/2 [54], Capítulo 3 Medição Fraca do deslocamento Goos-Hänchen Neste capítulo vamos apresentar detalhes da montagem experimental e o procedimento experimental utilizado para medir o deslocamento GH. Consequentemente, apresentaremos as diculdades obtidas e as limitações da técnica de medição fraca. Na Seção de resultados e discussão vamos discutir a diferença do experimento feito no artigo [28] com o nosso, observando uma discrepância entre os resultados experimentais com o teórico. Nossos resultados provam a existência de uma dependência axial entre a medida e o efeito observável, onde a relação teórica entre eles é descrita em [59]. Discutiremos também a inserção de um fator fenomenológico no fator de correção da medida amplicada, algo não citado na literatura mostrando que sua utilização faz os dados experimentais reproduzirem a curva analítica descrita na Seção 1.3 na região em que é válida, como também os resultados numéricos do deslocamento GH utilizando um feixe gaussiano apresentado na Seção 1.4. 68 CAPÍTULO 3. MEDIÇÃO FRACA DO DESLOCAMENTO GOOS-HÄNCHEN 69 3.1 Experimento 3.1.1 Montagem experimental O arranjo experimental usado neste trabalho é mostrado na Figura 3.1. Foi utilizado um laser Hélio-Neônio (HeNe) de comprimento de onda 633 nm onde este é acoplado a uma bra óptica para reduzir o máximo possível a instabilidade direcional do feixe que são produzidos pelos elementos ópticos antes da bra e do próprio laser por ser à gás. Após a saída da bra, montamos um telescópio com as lentes (L1 e L2 ) com foco f1 =5 cm e f2 = 20 cm, respec- tivamente, para aumentar a largura do feixe gaussiano e deixá-lo colimado. Em seguida, com a lente (L3 ), focalizamos o feixe com foco f3 posicionamos o prisma (BK7, n = 1,515 focal, onde o raio do feixe no foco é de de Rayleigh de zR = (14,3 ± 0,1) em 633 P1 e P2 cm e nm) exatamente na posição wo = (169,4 ± 0,3) µm e comprimento cm. O prisma é montado sobre um estágio de rotação para o ajuste do ângulo de incidência com passo de Os elementos = 100 são polarizadores com passo de ∆ = 0,04° ∆θ = 0,02°. e têm o papel de denir a polarização do feixe de entrada e saída, respectivamente. As placas de um quarto de onda (QHP do inglês Quater Wave Plate) e meia onda (HWP do inglês Half Wave Plate) são ajustadas para eliminar a fase ganha pelo feixe após reetir no prisma, obtida pelos coecientes de Fresnel quando o feixe sofre reexão interna total. A câmera CCD é utilizada para observar o perl transversal do feixe nal e medir o deslocamento GH amplicado para cada ângulo de incidência. Todo o aparato após o prisma ( QHP, HWP, P2 e CCD ) é montado sobre uma placa de acrílico de modo que para cada ângulo de incidência no prisma, move-se todo o conjunto manualmente de uma só vez e fazendo com que todos estejam perpendicular com o feixe gaussiano. 3.1. EXPERIMENTO 70 Figura 3.1: Arranjo Experimental, em que (HeNe) é o laser de HeNe, (L1 , L2 e espelhos, (P1 L3 ) lentes com foco 5 cm, 20 cm e 100 cm, respectivamente, (M) e P2 ) polarizadores, (PRISM) prisma, (QWP) placa de um quarto de onda, (HWP) placa de meia onda e (CCD) câmera CCD. A posição do prisma é denido como z=0 cm. 3.1.2 Procedimento experimental Durante todo o experimento, o polarizador xo α = π/4 P1 é pré-selecionado com ângulo com relação ao eixo x, de modo que o feixe de luz após passar por ele, tenha uma combinação linear da onda s e onda p da luz ao incidir no prisma. A interação fraca ocorre no prisma entre o sistema físico (feixe laser) e o dispositivo de medida (deslocamento GH), enquanto as placas QWP e HWP é utilizada para retirar a fase ganha quando o feixe sofre reexão interna total no prisma. Em seguida o sistema é pós-selecionado com o polarizador variado para três situações: P2 que é (β − α) = (π/2, π/2 + , π/2 − ) para cada ângulo de incidência no prisma. Inicialmente o polarizador P2 é mantido ortogonal ao polarizador P1 e como já mencionado no Capítulo 2, está é a situação que o efeito de medida fraca não é valido e observaremos então um perl de intensidade com dois máximos. Contudo é necessário eliminar a fase ganha no prisma ajustando as placas QWP e HWP, de modo que sabemos que a fase foi eliminada quando o perl CAPÍTULO 3. MEDIÇÃO FRACA DO DESLOCAMENTO GOOS-HÄNCHEN 71 transversal de intensidade do feixe observado na câmera vai a zero entre os máximos de intensidade. Está situação é representada na Figura 3.2(b). Após eliminar totalmente a fase, o polarizador larizador P1 por ±. ortogonalidade com P2 é tirado de ortogonalidade do po- As Figuras 3.2(a) e 3.2(c) mostra a situação de quase = 0,5° (a) e = −0,5°, respectivamente. (b) (c) Figura 3.2: Perl espacial de intensidade do feixe nal observado na câmera com a diferença entre os ângulos dos polarizadores, α − β = π/2 em (b) e α − β = π/2 − em (c). Em α − β = π/2 + em (a), todos os casos, = 0,5°. A medida do valor fraco é então obtida fazendo a diferença entre as coordenadas dos centroides para a situação em que β = α + π/2 + e β = α + π/2 − . O procedimento de medição do centroide é feito usando um programa de estabilidade direcional do feixe incidente na câmera, onde o programa informa a média das coordenadas do centroide e sua incerteza para um número medidas em um intervalo de ≈ 40 segundos. ≈ 150 A Figura 3.3 apresenta a janela de análise do programa utilizado para medir a estabilidade direcional do centroide do feixe, tal que cada ponto representa a posição direcional do centroide e as cores a frequência com que os pontos estão se repetindo. 3.2. DIFICULDADES EXPERIMENTAIS 72 Figura 3.3: Programa que determina as coordenadas da posição média direcional do centroide do feixe incidente na câmera. 3.2 Diculdades Experimentais Alguns problemas experimentais foram observados com o andar da montagem, como a instabilidade direcional do feixe laser, precisão na situação onde os polarizadores estão fora de ortogonalidade e limitações do efeito de medida fraca, ocasionando erros na magnitude do resultado nal. A instabilidade direcional era ocasionada por vibrações mecânicas nos elementos ópticos, principalmente nos suportes de espelhos e do próprio laser. Para reduzir está instabilidade foi necessário minimizar o número de elementos ópticos na montagem do experimento e acoplar o feixe a uma bra óptica, de forma que os elementos ópticos antes do acoplamento não inuenciariam na estabilidade direcional e também evitava deformação do perl transversal do feixe por irregularidades nas superfícies dos elementos ópticos localizados antes da bra. A precisão de foi solucionada adquirindo um suporte rotatório com melhor resolução, onde o erro foi reduzido 2,5 vezes comparado com o antigo suporte. Em seguida vamos apresentar alguns problemas observados durante as medidas do deslocamento GH, como perl de intensidade assimétrico, múltiplas reexões, entre CAPÍTULO 3. MEDIÇÃO FRACA DO DESLOCAMENTO GOOS-HÄNCHEN 73 outras. (a) (b) (c) Figura 3.4: Perl espacial de intensidade do feixe nal observado na câmera com a diferença entre os ângulos dos polarizadores, (a) α − β = π/2 e (c) α − β = π/2 − . Em todos os casos, α − β = π/2 + , = 0,5°. (b) As Figuras 3.4(b) e 3.5(b) representam a situação em que os polarizadores estão ortogonais e com a fase relativa ganha no prisma cancelada pelas placas QWP e HWP para dois ângulos de incidência diferentes, enquanto que nas Figuras 3.4(a) e 3.4(c), os polarizadores são quase ortogonais por uma diferença de + e − com = 0,5°, respectivamente. Nestas duas Figuras nota-se que a distribuição de intensidade são distintas, sendo uma mais intensa que a outra, além de apresentar um segundo pico de intensidade, mostrando que a condição do efeito de medida fraca não é satisfeita. As Figuras 3.5(a) e 3.5(c) também representam a condição de quase ortogonalidade e apresentam com mais evidência a condição do efeito de medida fraca não sendo satisfeita. Um problema mencionado na referência [28] e também observado aqui, é quando ocorre interferência entre o feixe nal e as múltiplas reexões internas no prisma, impossibilitando medir o deslocamento, como ilustrado na Figura 3.6(b). Na Figura 3.6(a) é observado o surgimento de outros picos de intensidade ao lado da gaussiana a direita. Tanto a Figura 3.6(a) e 3.6(b) correspondem à situação onde os polarizadores são ortogonais. Para este ângulo 3.2. DIFICULDADES EXPERIMENTAIS (a) 74 (b) (c) Figura 3.5: Perl espacial de intensidade do feixe nal observado na câmera com a diferença entre os ângulos dos polarizadores, (a) α − β = π/2 e (c) α − β = π/2 − . Em todos os casos, α − β = π/2 + , = 0,5°. (b) de incidência da Figura 3.6(a), em particular, não tivemos problemas com as medidas. Porém, para pequenas variações em torno deste ângulo de incidência da Figura 3.6(a), estes picos deixam de ser desprezíveis, como é visto na Figura 3.7(b), impossibilitando a medida do centroide da gaussiana predominante com precisão. As Figuras 3.7(a) e 3.7(c), apresentam a situação em que os polarizadores são quase ortogonais. (a) (b) Figura 3.6: Perl espacial de intensidade do feixe para o prisma BK7 com (a) θ = 43, 4°e (b) θ = 44, 0°observado na câmera com a diferença entre os ângulos dos polarizadores de α − β = π/2. Tentativa de medida direta do deslocamento Goos-Hänchen foram feitas com o intuito de contornar estes problemas observados utilizando o método de CAPÍTULO 3. MEDIÇÃO FRACA DO DESLOCAMENTO GOOS-HÄNCHEN 75 medição fraca. Porém, além de existir instabilidade direcional na montagem experimental como já foi citado, também foi detectado que ao modicar a polarização incidente no prisma, o polarizador modicava o percurso de propagação da luz. (a) (b) (c) Figura 3.7: Perl espacial de intensidade do feixe para o prisma UV com θ = 43, 35° observado na câmera com a diferença entre os ângulos dos polarizadores, (a) α − β = π/2 + , (b) α − β = π/2 e (c) α − β = π/2 − . Tentamos selecionar a polarização da luz antes de passar pela bra óptica com placas de meia onda e um quarto de onda, porém a ordem de grandeza do deslocamento Goos-Hänchen divergia bastante do esperado, mostrando que a medida direta do deslocamento Goos-Hänchen não foi factível em nossa montagem. Nestas condições, a técnica de medição fraca mostrou-se indispensável para a observação experimental do efeito. 3.3 Resultados e Discussão Os autores do artigo [28] foram os primeiros a medir o deslocamento GH via medição fraca. Eles estavam interessados em reproduzir a medida feita por Goos-Hänchen [5] utilizando um método que mostra ser bastante poderoso no que se refere a amplicação de uma medida. Em nosso trabalho, estamos interessados em estudar o uso de medição fraca para medir o deslocamento GH 3.3. RESULTADOS E DISCUSSÃO em torno do ângulo crítico. 76 Apesar de estarmos trabalhando com um feixe focalizado exatamente na posição do prisma, o deslocamento GH não depende da propagação do feixe na região em que as equações de Artmann é válida. No entanto foi observado a dependência na propagação do feixe. 4 7 (a) z = 18,5 cm 3,5 3 5 2,5 4 2 3 ∆yGH(µm) 1,5 (b) z = 25 cm 6 2 1 41 41,5 42 4 1 41,2 3 3 2,5 2 2 1,5 1,5 41,4 41,6 41,8 41,6 41,8 42 1 41,2 41,4 41,6 42 (d) z = 25 cm 3,5 2,5 1 41,2 41,4 4 (c) z = 20 cm 3,5 43 42,5 41,8 42 θ (graus) Figura 3.8: Deslocamento GH em função do ângulo de incidência na segunda face do prisma. Os dados experimentais são representados pelos pontos, onde os círculos de cor preta representam = 0,5° e vermelha = 1,0°, em preto tracejado é o deslocamento GH analítico obtido por Artmann e preto pontilhado indica z = 25,0 θc . Com w0 = 150,0 µm e z = 18,5 cm em (a), w0 = 169,4 µm w0 = 169,4 µm e z = 20,0 cm em (c) e cm em (b) e (d) e A Figura 3.8 apresenta as medidas do deslocamento GH corrigidas pela amplicação (cot ≈ ) em função do ângulo de incidência com situações diferentes. Em todos os casos apresentado na Figura 3.8 o deslocamento GH que está representado pelos pontos preto com = 0,5° e pontos vermelhos com = 1,0°, difere da curva analítica de Artmann [4] dada pela linha tracejada preta. Na Figura 3.8(a) a medida foi feita a uma distância de 18,5 cm entre a câmera e o prisma, com a montagem experimental idêntica ao da Figura 3.1, diferenci- CAPÍTULO 3. MEDIÇÃO FRACA DO DESLOCAMENTO GOOS-HÄNCHEN 77 ando apenas o raio mínimo do feixe de w0 = 150 µm no prisma. Inicialmente supomos que esta discrepância estaria relacionada pela falta de calibração na câmera e também pela diculdade experimental, ilustrada na Seção 3.2. O argumento da falta de calibração foi descartado após alguns testes com a câmera. Portanto, aumentamos o tamanho do raio mínimo do feixe para o tamanho descrito na montagem experimental, am de reduzir os problemas da medida do deslocamento GH descrito na Seção 3.2. A Figura 3.8(b) apresenta a medida do deslocamento GH para a montagem atual a uma distância de 25 cm entre a câmera e o prisma. Esta situação apresenta o resultado bastante intrigante, que além da discrepância já mencionada, o resultado do deslocamento GH apresenta valores distintos para os dois valores de , fato este não observado na literatura. Além da existência de discrepância entre o resultado experimental e teórico, também observamos uma dependência do deslocamento GH em função da distância entre a câmera e o prisma, como é visto nas Figuras 3.8(c) e 3.8(d). As Figuras 3.8(b) e 3.8(d) mostra a reprodutibilidade das medidas em nosso experimento. A m de entendermos o motivo desta discrepância, estudamos o deslocamento GH em função da posição da câmera, para ângulos de incidência em que a equação descrita por Artmann é válida. A Figura 3.9 apresenta o perl transversal do feixe observado na câmera com distância cm em (b), z = 30 cm em (c) e z = 35 z = 20 cm em (a), z = 25 cm em (d) da câmera com relação a posição do prisma para situação que os polarizadores estão ortogonais. Esta Figura mostra o aumento da separação dos máximos em função da posição da câmera, ou seja, mostra a dependência do valor fraco em função da posição onde está sendo feita a medida. Como já foi descrito no Capítulo 2, a dependência entre a medida real (autovalor) e a medida amplicada (valor fraco) é o fator que representa o quanto 3.3. RESULTADOS E DISCUSSÃO 78 Figura 3.9: Perl espacial de intensidade do feixe com polarizadores ortogonais e θ = 41,7°. A distância entre o prisma e a d = 25 cm, (c) d = 30 cm e (d) d = 35 cm. câmera é de (a) d = 20 cm, (b) fora de ortogonalidade os polarizadores de entrada e saída estão. Esta relação para o deslocamento GH [28] é descrita na equação 2.44. Recentemente os autores de [59] mostraram que a equação 2.44 é válida quando a condição 2 ∆yGH /w (z) é satisfeita, ou seja, somente ângulos de incidência maiores que o ângulo crítico. Como também descreveram uma fórmula geral que é válida tanto para ângulos maiores e próximo do ângulo crítico e que esta apresenta uma dependência axial. 2 ∆yGH 2 w (z) ∆Y . = 2 w2 (z) − ∆Y 2 Portanto, xamos um ângulo de incidência (3.1) θ = 41,7° que na referência [28] é o ângulo mais próximo do crítico medido pelos autores e observamos a dependência do deslocamento GH com relação a posições diferentes da câmera com relação ao prisma para dois valores distintos de e = 1,0° em vermelho. , com = 0,5° em preto O resultado é representado na Figura 3.10, onde em (a) utiliza a equação 2.44 e em (b) a equação 3.1, para obter o valor do deslocamento GH. Como pode ser visto na Figura 3.10(a), o resultado do deslocamento GH apresenta valores distintos para os dois valores de e a diferença do deslocamento GH aumenta com relação da posição da câmera. De modo CAPÍTULO 3. MEDIÇÃO FRACA DO DESLOCAMENTO GOOS-HÄNCHEN 79 que nesta região a equação 2.44 não é válida. Enquanto na Figura 3.10(b) os resultados são aproximadamente de mesma magnitude, mostrando que próximo do ângulo crítico a relação entre o valor fraco e o deslocamento GH também depende do raio do feixe na posição da medida. Porém, apesar da fórmula geral 3.1 corrigir a dependência axial dos valores amplicados próximo do ângulo crítico para dois valores distintos de , ainda observa-se uma dependência do deslocamento GH em função da distância de propagação do feixe gaussiano. 4 (a) 3,5 3 ∆yGH(µm) 2,5 2 1,5 4 20 25 20 25 30 35 30 35 (b) 3,5 3 2,5 2 1,5 z(cm) Figura 3.10: câmera com Deslocamento GH em função da distância entre o prisma e a θ = 41, 7°. Em (a) o fator de correção é descrito pela equação 2.44 e em (b) é descrito pela equação 3.1, onde em ambos os grácos a cor preta representa z=0 = 0,5° e vermelho = 1,0°. A posição do prisma representa cm. Com isso, a partir dos dados obtidos da dependência da medida do deslocamento GH com a propagação do feixe, foi feito um ajuste não linear dos dados com a fórmula f (z) = a(1+z 2 /b2 ), obtendo a = (1,4±0, 2)µm e b = (26±4)µm a pode ser interpretado como z=0 cm pois coincide dentro das para os dados da Figura 3.10 (b). O parâmetro sendo o valor do deslocamento GH quando barras de erro, com o valor calculado pela expressão analítica e b como sendo 3.3. RESULTADOS E DISCUSSÃO duas vezes o comprimento de Rayleigh 80 zR do feixe gaussiano focalizado. Assim um fator fenomenológico é inserido na equação 3.1. 2 ∆yGH 1 2 w (z) ∆Y = . 2 2 1 + (z /4zr ) 2 w2 (z) − ∆Y 2 (3.2) Foram feitas repetidas medidas do deslocamento GH em função da propagação do feixe gaussiano para ângulos diferentes e em todos os resultados conrmamos que o fator fenomenológico ajusta os dados experimentais com a curva analítica descrita na Seção 1.3, mostrando que nossos resultados são coerentes. A Figura 3.11 apresenta o ajuste não linear da fórmula proposta para os dados obtidos com θ = 41, 7° da Figura 3.10. ∆yGH(µm) 4 3,5 3 2,5 2 20 30 25 35 z (cm) Figura 3.11: Ajuste não linear da formula f (z) = a(1 + z 2 /b2 ) com os dados da Figura 3.10 (b). Em seguida comparamos os resultados experimentais em uma região onde a equação de Artmann ainda é válida considerando o fator de correção das equações 3.1 e 3.2, dada na Figura 3.12, considerando a distância entre o prisma e a câmera de 20 cm nas Figuras 3.12 (a) e 3.12 (c) e 25 cm nas Figuras 3.12 (b) e 3.12 (d), onde em ambos os grácos os pontos de cor preta representa os dados experimentais com = 0, 5° e vermelho = 1, 0°. A curva contínua preta representa a expressão analítica do deslocamento GH descrito por Artmann. As Figuras 3.12 (a) e 3.12 (b) apresentam os dados experimentais utilizando CAPÍTULO 3. MEDIÇÃO FRACA DO DESLOCAMENTO GOOS-HÄNCHEN 81 o fator de correção da equação 3.1, enquanto as Figuras 3.12 (c) e 3.12 (d) utilizam o fator de correção da equação 3.2. z = 20 cm 7 (a) ∆yGH(µm) 6 5 5 4 3 3 2 2 1 1 0 0 41,4 41,6 41,8 42 (c) 6 4 4 3 3 2 2 1 1 41,6 41,8 0 42 41,6 41,8 42 (d) 6 5 41,4 41,4 7 5 0 (b) 6 4 7 z = 25 cm 7 41,4 41,6 41,8 42 θ (graus) Figura 3.12: Deslocamento GH em função do ângulo de incidência na segunda face do prisma, com a distância entre o prisma e a câmera de e (c), e 25 20 cm em (a) cm em (b) e (d).Em (a) e (b) o fator de correção é descrito pela equação 3.1 e em (c) e (d) é descrito pela equação 3.2, onde em ambos os grácos a cor preta representa = 0, 5° e vermelho = 1, 0°. Como se pode ver, ao considerar o fator fenomenológico de propagação junto com o fator de correção os dados experimentais coincidiram corretamente com a curva analítica, mostrando a importância de também considerar o fator fenomenológico em nossos resultados. A Figura 3.13 apresenta a comparação entre os resultados experimentais 0,5° pontos preto e = 1,0° = pontos vermelho, com a curva numérica em azul contínuo descrita na Seção 1.4 e a curva analítica obtida por Artmann em preto tracejado descrita na Seção 1.3. Acima do ângulo crítico, tanto os resultados teóricos, numéricos e experimentais concordam, porém próximo de θc os dados 3.4. CONSIDERAÇÕES FINAIS 82 16 14 ∆yGH(µm) 12 10 8 6 4 2 0 41,2 41,3 41,4 41,5 41,6 41,7 41,8 θ (graus) Figura 3.13: Diferença entre o deslocamento GH para a onda p e s em função do ângulo de incidência na segunda face do prisma, onde os pontos de cor preta representam = 0,5° e vermelha = 1,0°. A curva em azul é resultado numérico do deslocamento GH para um feixe gaussiano com z = 25 cm e em preto pontilhado é o deslocamento GH descrito por Artmann. experimentais concordam com a descrição de um feixe realístico. Abaixo do ângulo crítico o deslocamento GH é determinado predominantemente pela parte da real da equação 1.10, associada a um deslocamento angular do feixe. No nosso experimento, procuramos sempre manter a câmera CCD perpendicular ao feixe, de modo que um deslocamento angular devido a fatores geométricos não deveria ser observado. Este comportamento observado pode ser associado à quebra de simetria do feixe gaussiano previsto em [53]. 3.4 Considerações nais Neste capítulo descrevemos detalhes da montagem experimental e as etapas do procedimento para realizar a medida do deslocamento GH utilizando a técnica CAPÍTULO 3. MEDIÇÃO FRACA DO DESLOCAMENTO GOOS-HÄNCHEN de medição fraca. 83 Em seguida apresentamos alguns problemas encontrados durante a montagem do experimento, como instabilidade do perl transversal do feixe, precisão na situação em que os polarizadores estão fora de ortogonalidade e limitações do efeito AAV, em que a instabilidade foi minimizada e o problema de precisão foi contornado. Na Seção 3.3, discutimos a diferença entre o experimento feito no artigo [28] com o nosso, onde mostramos que a nova fórmula descrita em [59] é válida para ângulos próximo e maiores que o ângulo crítico, como também apresentamos um fator fenomenológico na nova fórmula mostrando que a sua utilização faz com que os dados experimentais independente da distância entre o prisma e a câmera reproduza a região que a equação de Artmann [4] é válida e o resultado numérico do deslocamento GH utilizando um feixe gaussiano [39]. Capítulo 4 Conclusões e Perspectivas Nesta dissertação apresentamos os resultados experimentais do deslocamento Goos-Hänchen (GH) em torno do ângulo crítico para reexão interna total. As nossas medidas foram realizadas em um prisma de ângulo reto com o efeito de deslocamento ocorrendo na sua hipotenusa (interface Vidro-Ar ). O Capítulo 1 foi feita uma breve introdução de alguns resultados importantes e pioneiros, tanto experimental e teórico do deslocamento GH, introduzimos os coecientes de Fresnel e discutimos em quais condições ocorrê reexão parcial e total. Em seguida descrevemos o deslocamento GH na representação de onda plana que refere-se a descrição de Artmann e para um feixe de modo gaussiano. No Capítulo 2 zemos uma descrição geral do efeito de medição fraca, introduzindo o conceito de medida fraca, valor fraco e qual o procedimento para se medir o valor fraco de um observável. Uma descrição do desenvolvimento feito por AVV [30] com as correções feitas por Duck e seus colaboradores [54], mostrando quais as condições necessárias para obter o valor fraco foi mostrada. Em seguida aplicamos o efeito de medição fraca para os casos de partícula de spin 1/2, como também descrevemos o primeiro experimento em que se fez a analogia com a óptica [29] e para o deslocamento GH [28]. Na descrição do deslocamento GH via medição fraca feita na Seção 2.5 utilizando um modelo simples, mostramos que próximo do ângulo crítico a condição do efeito de me- 84 CAPÍTULO 4. CONCLUSÕES E PERSPECTIVAS 85 dida fraca não é mais satisfeita, algo que foi visto no experimento e apresentado na Seção 3.2. No Capítulo 3 apresentamos detalhes da montagem experimental e o procedimento de medição do deslocamento GH. Enfatizamos as diferenças de nossa montagem com a da referência [28]. Mostramos experimentalmente que o valor fraco medido apresenta uma dependência axial, tal que a fórmula geral 3.1 descrita em [59] elimina este efeito das nossas medidas. Mas além deste efeito, foi observado no experimento uma dependência do deslocamento GH com a propagação referente a distância entre o prisma e a câmera na região de ângulo de incidência onde a fórmula analítica de Artmann [4] é válida. Dependência esta que não foi eliminada com a fórmula obtida em [59]. Propusemos então um fator de correção adicional obtido experimentalmente e mostramos que a sua utilização faz com que os dados experimentais independente da distância entre o prisma e a câmera reproduzam a região onde a equação de Artmann [4] é válida e consequentemente o resultado numérico do deslocamento GH para um feixe gaussiano [39]. Concluímos que tem que ser levado em conta a dependência axial dos valores fracos medidos, como também conrmamos que a fórmula geral é válida em torno do ângulo crítico ao contrário da fórmula 2.44 conhecida na literatura e descrita em [28]. Enquanto que acima do ângulo crítico foi necessário usar o fator fenomenológico obtido experimentalmente para que os dados experimentais reproduza a curva de Artmann e o resultado numérico, não precisamos aplicar este fator aos dados obtidos abaixo do ângulo crítico para obter concordância com a teoria. A região próxima do ângulo crítico é pouco estudada experimentalmente devido à diculdade de se medir o efeito. Quase a totalidade dos estudos experimentais descritos na literatura foi realizada para comprimentos de onda em microondas. Nós observamos, na região visível do espectro (633 nm), a existência de um valor máximo para o deslocamento GH, como também o efeito GH assimétrico que surge quando estamos em torno do ângulo crítico. 86 Como perspectivas futuras, pretendemos compreender o fator fenomenológico obtido em nosso experimento, aprofundar o estudo do efeito GH assimétrico, como também estudar desvios da Lei de Snell. Uma outra possibilidade seria estudar o efeito GH decorrente da dependência dos coecientes de Fresnel com o comprimento de onda que ocorreria para pulsos ultracurtos (com largura espectral com dezenas ou centenas de nm), ou seja, um desvio GH espectral. Referências Bibliográcas [1] I. Newton, Opticks (Reprodution), (Dover Publications, Inc., New York (1952). [2] F. Goos and H. Hänchen, Ann. Physik 1, 333 (1947). [3] K. W. Chiu and J. J. Quinn, Am. J. Phys. [4] K. Artmann, Ann. Physik 40, 1847 (1972). 2, 87 (1948). [5] F. Goos and H. Lindberg-Hänchen, Ann. Physik [6] F. I. Fedorov, Dokl. Akad. 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