Vagner Candido Nascimento

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USO DE MATERIAL VEGETAL EM FORMA DE PÓ NO CONTROLE DE
NEMATÓIDES DAS GALHAS DO TOMATEIRO.
Vagner Candido Nascimento1
Valdiney Cambuy Siqueira2
Renan Vieira Arcanjo3
Fernandes Antonio de Almeida4
RESUMO
Os nematóides são organismos tipicamente vermiformes, não segmentados, e a maioria completa seu ciclo de
vida no solo. A cultura do tomateiro é uma das espécies mais suscetíveis a esses nematóides. Considerando a
importância dos fitonematóides, vários métodos são empregados visando o controle dos mesmos, havendo uma
busca aos chamados métodos alternativos, entre esses, o uso de produtos vegetais.. O presente trabalho teve o
objetivo de avaliar o efeito nematicida ou nematostático dos extratos vegetais preparados com: Urtiga, Nim,
Mamona e Mandioca, empregado na forma de pó das distintas partes das plantas (casca e folhas) no controle de
nematóides das galhas do tomateiro. O trabalho foi conduzido no campo experimental da Universidade Federal
de Rondônia, em Rolim de Moura-RO. Fragmentos das espécies vegetais de 10 cm aproximadamente, foram
acondicionados em sacos de papel e submetidos à secagem com circulação de ar forçada a 60 o C em estufa, até
alcançar o peso constante. Logo após, foi realizado a trituração desse material em moinho com rotores de facas,
transformando em pó, onde foi empregado 20g para cada tratamento do ensaio em uma única aplicação. Os
extratos apresentaram os seguintes resultados: a urtiga proporcionou a maior redução de número de galhas no
sistema radicular do tomateiro, enquanto que, a mamona proporcionou o maior desenvolvimento do sistema
radicular e da altura da planta e para mandioca proporcionou melhor eficiência de controle de larvas e ovos de
Meloidogyne incognita no solo.
Palavras chaves: Controle alternativo, Meloidogyne incognita, Lycopersicon esculentum.
INTRODUÇÃO
O tomate (Lycopersicon esculentum Mill.) tornou-se uma das hortaliças mais
importantes do mundo. Por se tratar de uma cultura de ciclo relativamente curto e de altos
rendimentos, vem despertando o interesse de forma crescente dos produtores da região da
zona da mata de Rondônia. Os principais problemas que dificultam o desenvolvimento da
cultura é a presença de vários agentes patogênicos, como os nematóides, que muitas vezes são
considerados de difícil controle (FILGUEIRA, 2000).
Os fitonematóides são considerados um dos maiores problemas na agricultura, pois as
perdas decorrentes de suas ações a nível mundial podem chegar a bilhões de dólares anuais
quando não combatidos adequadamente (FREITAS et al., 2001). Danos nas raízes e nos
rizomas, causados pela invasão dos nematóides, ocasionam o comprometimento na absorção
1
Voluntário PIBIC
Bolsista
3
Voluntário
4
Orientador
2
de água e nutrientes, provocam o tombamento da planta e permitem a invasão de outros
microrganismos como os fungos e as bactérias (GONÇALVES, 1995). Considerando a
importância dos fitonematóides, vários métodos são empregados visando o controle dos
mesmos, havendo uma busca aos chamados métodos alternativos, entre esses, o uso de
produtos vegetais. Diante deste fato, surgiram novas pesquisas com uso alternativo de
recursos naturais para o controle de doenças na agricultura. Com destaque para o uso de
plantas tóxicas como uma ferramenta promissora para o desenvolvimento de novos biocidas
naturais. Com relação ao controle de fitonematóides, considerando-se as informações obtidas
por Bitencourt (1999), constata-se uma possibilidade potencial da utilização de produtos de
origem vegetal, pois princípios nematicidas na forma de substâncias como alcalóides, ácidos
graxos, isothiocianatos e compostos fenólicos tem sido identificados em muitas plantas.
Diferentes partes de plantas como: folhas, extratos aquosos (raiz, caule, frutos e sementes),
óleos extraídos de sementes e tortas (resíduos de extração) têm sido avaliados no controle em
nematóides com bons resultados o que indicam sua viabilidade e importância. O efeito desses
produtos, quando aplicados no solo, pode ser mais satisfatório, devido às ações de seus
compostos tóxicos entrarem mais rapidamente em contato com ovos e juvenis presentes e,
dessa maneira, inibindo a eclosão e promovendo a mortalidade desses pela ação dos
compostos tóxicos já confirmado em trabalhos realizados em outros ensaios. Sendo assim, O
presente trabalho teve o objetivo de avaliar o efeito biocida de extratos vegetais: Urtiga, Nim,
Mamona e Mandioca, empregado na forma de pó das distintas partes das plantas (casca e
folhas) no controle de nematóides das galhas do tomateiro.
MATERIAIS E MÉTODOS
O trabalho foi realizado em estufa localizada no Campus experimental da Faculdade
de Agronomia da Universidade Federal de Rondônia - UNIR, em Rolim de Moura RO
(latitude 11°, 34’ 5” e longitude 61 W e altitude de 277m).
Para viabilizar o ensaio, solo e plantas infectadas foram coletadas em áreas
diferenciadas, armazenadas em sacos plásticos, trazidos ao laboratório de Biologia geral, e em
seguida, extraídos os nematóides para a preparação da suspensão empregada na multiplicação
desses parasitas em plantas de tomateiro antes da preparação dos extratos. O solo utilizado
nesse estudo foi constituído solo-areia-esterco 3:2:1, tratados com o fumigante Dazomet
(Basamid). Permaneceu em repouso por sete dias e foi distribuído em vasos com capacidade
de quatro litros. A adubação empregada foi adotada conforme análise feita no laboratório da
UNIR. Após cinco dias de repouso, realizou-se a semeadura de cinco sementes de tomate cv.
Santa Cruz por vasos. Aos quinze dias da emergência destas, foi feito o desbaste,
considerando-se o vigor e altura, deixando apenas uma planta por vaso para avaliação dos
extratos.
Os nematóides do ensaio foram multiplicados em plantas cultivadas no Campus
experimental da UNIR com solo dos municípios visitados. As amostras contaminadas foram
processadas para obtenção de ovos/juvenis de nematóides, de acordo com a metodologia da
flutuação centrífuga em solução de sacarose proposto por Jenkins (1964). Ao final, foram
vertidos na superfície de cada tratamento em plantas de tomateiro, 10 mL da suspensão (5.000
ovos/juvenis) aproximadamente do inóculo com auxílio de uma pipeta graduada.
Para a formulação dos extratos foram empregadas as espécies: Urtiga (Fleurva
aestuans L), Nim (Azadirachta indica A. Juss), Mamona (Recinus communis L.) e Mandioca
(Manihot esculenta Cranz). Esse material foi triturado e transformando em pó, onde se
empregou 50g para cada tratamento do ensaio em uma única aplicação.
O ensaio constituiu em delineamento inteiramente casualizado, com os tratamentos
distribuídos em esquema fatorial (4 x 2 + 2 x 3), com Urtiga (casca); Urtiga (folha); Nim
(casca); Nim (folha); Mamona (casca); Mamona (folha) e Mandioca (casca); Mandioca
(folha) e as testemunhas (água) e Carbofuran (Químico); respectivamente com três repetições,
tendo como fatores as espécies vegetais e as partes das plantas de onde foram obtidos os
extratos.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Na Tabela 1, as plantas utilizadas para a confecção do pó, a urtiga foi quem
proporcionou um maior rendimento de peso fresco da parte aérea, tendo em vista que por sua
composição ser rica em minerais, certamente houve influência para que isso ocorresse. Porém
não diferiu estatisticamente das plantas de mamona e nim, que por sua vez não diferiram do
pó obtido da mandioca.
Ainda na Tabela 1, o peso fresco do sistema radicular (41,6) e altura (152,7) de planta,
tratados com mamona demonstrou os maiores valores, respectivamente. Conforme explica
Costa et al, (2001), o extrato de mamona, possui diferentes substâncias que agem sobre a
biologia de Meloidogyne spp. Porém não diferindo estatisticamente da urtiga e mandioca, que
por sua vez não diferiram dos valores obtidos de nim, que entre as plantas analisadas foi quem
proporcionou os valores mais baixos (25,8 e 3,0), entre os resultados em relação aos
parâmetros analisados.
Em relação às diferentes partes das plantas utilizadas, observa-se que o extrato a base
de folhas das plantas, diferiu estatisticamente de casca com valor médio de 276,4 contra
237,7g respectivamente, na variável peso fresco de parte aérea (PFPA). Também para o
parâmetro diâmetro do caule (DM) do tomateiro o efeito pelo o emprego do pó com folhas
apresentou um valor médio de 11,6mm, sendo superior ao material casca.
Tabela 1. Valores médios para peso fresco de parte aérea (PFPA); peso seco de parte aérea (PFPA); diâmetro
(DM); peso fresco de sistema radicular (PFSR); peso seco de sistema radicular (PSSR); altura de
planta (AP) e peso de fruto (PF), com aplicação de extratos vegetais em pó e Carbofuran no
desenvolvimento da cultura do tomateiro. Rolim de Moura, RO. 2009.
CARACTERÍSTICAS AGRONÔMICAS
TRAT.
PFPA
(g)
PSPA
(g)
DM
(mm)
PFSR
(g)
PSSR
(g)
Urtiga
306,3 a
41,2 a
11,7 a
32,1 ab
Mamona
256,1 ab 34,4 a
10,8 a
Nim
243,3 ab 37,8 a
Mandioca
222,4 b
Folha
3,0 a
AP
(cm)
141,3 ab
PF
(g)
12,4 a
41,6 a
4,1 a
152,7 a
10,4 a
11,5 a
25,8 b
3,0 a
122,0 b
12,9 a
32,4 a
10,8 a
29,8 ab
2,9 a
145,3 ab
10,5 a
276,4 a
38,4 a
11,6 a
34,5 a
3,2 a
142,2 a
12,4 a
Casca
237,7 b
34,6 a
10,8 b
30,1 a
3,4 a
138,4 a
10,7a
Água
217,0 a
30,9 a
11,3 a
24,7 a
1,9 a
141,0 a
12,4 a
Carbofuran
227,9 a
31,3 a
10,7 a
16,7 a
2,4 a
141,7 a
11,0 a
Média
250,1
35,4
11,2
30,0
3,1
140,5
11,6
C.V.
16,6%
16,1%
7,8 %
28,7%
30,6%
10,7%
21,6%
Médias seguidas de mesma letra não diferem significativamente entre si, pelo teste de Tukey a 5% de
probabilidade.
Os resultados relacionados aos números de danos: número de galhas em raiz e número
de larvas e ovos no solo, Tabela 2, constata-se que a urtiga foi a planta que induziu a uma
maior redução do número de galhas em raiz (16,2), porém não diferiu das plantas de
mandioca e mamona, estas por sua vez não diferiram do nim, que apresentou menor eficiência
neste parâmetro. Mesmo com a maior redução do número de galhas na raiz o extrato de urtiga
proporcionou maior número de larvas e ovos no solo. Mesmo apresentando a maior
quantidade de ovos no solo o extrato de urtiga, não diferiu dos extratos de mamona e nim
respectivamente, ao mesmo tempo, não deferiu significativamente de mandioca que foi quem
apresentou maior redução do número de larvas e ovos no solo. Esse resultado confirma dados
de vários trabalhos com o uso do subproduto da mandioca (manipueira), com características
químicas de insumo agrícola (PONTE e MIRANDA, 1997).
Tabela 2. Valores médios do número de galhas em raiz e número de larvas e ovos de nematóides segundo estádio
(J2) no solo tratado com extratos vegetais em pó e Carbofuran no controle de Meloidogyne incognita
em tomateiro. Rolim de Moura, RO. 2009.
TRATAMENTOS
Urtiga
VARIÁVEIS
N de Galhas/Raiz
N° de Larvas e ovos/ Solo
16,2 b
5,4 a
O
Mamona
23,6 ab
3,5 ab
Nim
26,6 a
3,8 ab
Mandioca
19,2 ab
2,8 b
Folha
21,9 a
4,7 a
Casca
20,9 a
3,1 b
Água
23,1 a
3,5 a
Carbofuran
15,6 a
2,0 a
Média
C.V.
20,9
22,20%
3,5
43,3%
Médias seguidas de mesma letra não diferem significativamente entre si, pelo teste de Tukey a 5%
de probabilidade.
Na avaliação das diferentes partes (casca e folhas), nota-se que apenas o número de
larvas e ovos no solo apresentou diferença significativa, quando empregado o pó advindo da
casca das espécies vegetais utilizadas e não havendo diferença no número de galhas na raiz.
Para esses resultados a explicação possível é que as substâncias aleloquímicas são
encontradas em diferentes concentrações nas partes das plantas.
Os prováveis motivos desse comportamento, pode estar relacionado ao número de
aplicação (dose única) e aos ovos não viáveis durante a inoculação da suspensão de ovos e
juvenis.
CONCLUSÕES
Os extratos apresentaram os seguintes resultados: urtiga proporcionou a maior redução
de número de galhas no sistema radicular, enquanto que, a mamona apresentou o maior
desenvolvimento do sistema radicular e de altura da planta, já para mandioca essa demonstrou
melhor eficiência de controle de larvas e ovos de Meloidogyne incognita no solo.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BITENCOURT, L.F.; HOMECHIN, N.M. & MENDES, M. de L. Efeito de Datura sp sobre
Meloidogyne javanica em condições de casa de vegetação. Nematologia Brasileira, v.22 2933p. 1999.
COSTA, M. J. N.; CAMPOS, V. P.; OLIVEIRA, D. F.; PFENNING, L. A. Toxicidade de
extratos vegetais e de estercos a Meloidogyne incognita. Summa Phytopathologica,
Jaboticabal, v. 27, n. 2, p. 245-250, 2001.
FIGUEIRA, F.A.R. Manual de oleicultura: cultura e comercialização de hortaliças. São
Paulo: Ed. Agronômica Ceres, 2000. v.2, 357p.
FREITAS, L.G.; OLIVEIRA, R.D.L.; FERRAZ, S. Introdução à nematologia Viçosa:
Editora UFV. 2001, 84 p.
GONÇALVES, W.P. MAZZAFERA; L.C.C.B. FERRAZ; SILVAROLLA, M.B. & LIMA,
M.M. A. Biochemical basis of coffee tree resistence to Meloidogyne incognita. Plantation
Recherche developement. p. 60, 1995.
JENKINS, W.R.A. A rapid centrifugal-flotation technnique for separating nematodes from
soil. Plant Disease Reporter, p. 48. 1964.
PONTE, J.J. da; MIRANDA, E. Eficiência da manipueira no controle da traça.
Universidade Federal do Ceará, 1997. 3p. (Boletim técnico).
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