ENGENHARIA FLORESTAL Pesquisadores da Universidade Federal de Lavras testam plantas aquáticas FDSD]HVGHFRQVWUXLUELRʐOWURSDUDHOLPLQD©¥RGHPHWDLVWµ[LFRV Virgínia Fonseca 24 0,1$6)$=&,1&,$Ŧ'(=-$1)(9 Arquivo do projeto cromo) e de manter o crescimento. Outras, por sua vez, apresentaram respostas particulares de sensibilidade a alguns dos elementos, o que resulta em sua classificação como bioindicadoras. “Verificamos que se pode, de fato, vislumbrar um potencial muito grande na aplicação dessas espécies em sistemas de fitorremediação e na construção de filtros biológicos”, avalia o pesquisador. Filtro natural Plantas aquáticas têm apresentado grande potencial para descontaminação A fitorremediação é o processo que utiliza as plantas para a remoção de elementos tóxicos de solos e ecossistemas aquáticos contaminados, valendo-se da capacidade que os vegetais possuem de crescer em diferentes ambientes, sujeitos a variados tipos de estresse e de pressões ambientais. Os metais tóxicos ocorrem de forma natural em formações rochosas, mas são lentamente liberados do solo, durante sua formação, e lixiviados para depósitos e cursos d’água ao longo das chuvas. Atividades humanas como a indústria, a mineração e a agricultura, porém, têm intensificado o acúmulo desses metais em certos ambientes. Por isso, a comunidade científica ampliou esforços em pesquisas relacionadas à descontaminação do solo e de ambientes aquáticos, visto que os métodos físicos e químicos de extração atualmente existentes são onerosos. Além disso, essas técnicas envolvem procedimentos que necessitam de manejo do solo ou da água, o que pode gerar novos refugos. “Tratar os resíduos de processos industriais é nossa responsabilidade, pois constitui problema social e ambiental. As pessoas sofrem com a baixa qualidade de vida decorrente de contato com esses efluentes contaminados, que podem levar ao desenvolvimento de doenças e a problemas ambientais sérios”, declara o professor. Evaristo Castro explica que a diversidade e a complexidade das interações dos elementos tóxicos com o meio é um dificultador no processo de extração e descontaminação. Segundo o pesquisador, a aplicação de filtros biológicos já é usual e satisfatória em alguns países. “Na Engenharia Ambiental, a expressão ‘constructed wetlands’ é bastante comum e se refere a locais construídos que simulam ambientes naturais alagados para o tratamento de resíduos”, detalha. A proposta desenvolvida em Lavras, porém, é diferente, já que, ao invés de áreas abertas do ambiente para cultivo das macrófitas, seriam usados tanques isolados, que permitiriam maior controle da proliferação dessas plantas. A preocupação é fundamentada: agressivas, tais espécies podem colonizar grandes territórios. Coordenado pelo professor Evaristo, o projeto inclui, assim, a composição de um tanque isolado, com sistema de filtragem de resíduos sólidos e com volume controlável. O recipiente seria preenchido com a água contaminada e receberia as plantas por tempo suficiente para a remoção dos elementos, até valores considerados seguros. Posteriormente, as águas seriam liberadas, já com teores bem menores dos elementos tóxicos. Pode-se usar vários tanques em sequência e o líquido precisa ser examinado antes de retornar ao ambiente, para que se tenha certeza dos níveis de elementos na solução. O pesquisador conta que, após o uso, existe a possibilidade de incinerar as plantas de forma a resgatar parte dos metais para reutilização na indústria. O baixo custo de aplicação e o fato de não ocasionar poluição secundária seriam as principais vantagens do filtro de macrófitas proposto pela equipe da Ufla. “A fitorremediação seria bem mais limpa e com menos resíduos do que as técnicas químicas e físicas comumente usadas”, defende o pesquisador. Boas perspectivas O grupo realizou testes entre macrófitas e diferentes elementos tóxicos, como arsênio, cádmio, chumbo, cromo e zinco. Os resultados mostraram-se variados para cada espécie. Algumas, como o aguapé, demonstraram tolerância para arsênio, cádmio e chumbo sem prejuízos para o crescimento, a anatomia ou a fisiologia. O mesmo se confirma em relação à taboa e à canarana. No que tange a outras plantas, como a braquiária do brejo, registrou-se sensibilidade a certos elementos. “Neste caso, elas são classificadas como bioindicadoras. A braquiária, por exemplo, tem potencial para bioindicadora do cádmio”, conta Evaristo Castro. Os resultados, portanto, são muito particulares, mas sempre se relacionam à tolerância ou à capacidade de bioindicação com as características anatômicas e fisiológicas. Caso interessante se deu, segundo o professor, com o aguapé. A espécie demonstrou tamanha tolerância ao arsênio, que ampliou sua taxa fotossintética em função da presença do elemento. “Esse aumento relaciona-se à anatomia da planta, que revelou adaptações foliares 0,1$6)$=&,1&,$Ŧ'(=-$1)(9 25 para, por exemplo, capturar mais CO2 por meio de maior quantidade de estômatos nas folhas”, explica. De forma geral, conclui o coordenador, observou-se grande potencial das plantas testadas nas pesquisas. “Usamos concentrações elevadas, que alcançam de 800 a mil vezes o valor de referência permitido, pela legislação, para a água. Assim, constatamos que as plantas, realmente, possuem grande potencial de descontaminação”, revela. Encontrar espécies potencialmente utilizáveis e reconhecer quais elementos se pode remediar são os objetivos dos atuais trabalhos. Oito espécies já foram analisadas pela equipe de pesquisa, para, ao menos, três elementos tóxicos. “Esperamos, com o projeto, trabalhar dez espécies e três elementos para que tenhamos ampla gama de possibilidades de aplicação. Estamos quase concluindo a fase de teste das espécies”, adianta Evaristo Castro. Paralelamente, realizam-se experimentos em microescala, para já aplicar essas plantas no sistema do filtro biológico. O pesquisador ressalva, porém, que a aplicação em grandes sistemas, com volumes maiores de solução contaminada por resíduos, ainda deve ser avaliada. Em longo prazo, espera-se aplicar as plantas analisadas em locais onde se gera resíduos descartados sem tratamento. Sistemas serão montados nesses locais, em parceria com empresas que precisam tratar esses efluentes gerados, e testados em grande escala. Após esses testes, os detalhes do manejo dos filtros serão definidos, bem como os protocolos para que funcionem adequadamente. A equipe envolvida nos estudos conta, também, com outros docentes da Ufla, como o professor Fabrício Pereira, que orienta os alunos no desenvolvimento das pesquisas com macrófitas aquáticas, além de alunos de mestrado e doutorado do Programa de Pós-Graduação em Botânica Aplicada da universidade. Pesados e perigosos extenso, com diferentes tipos de ambientes e atividades humanas que podem favorecer a presença de metais pesados. O alumínio, por exemplo, pode ser encontrado em grandes quantidades em solos dos ambientes de cerrado. Teores de chumbo, cobre, arsênio e cádmio também ocorrem de forma natural em terras mineiras. Muitos existem em níveis inofensivos para os organismos, mas atividades humanas como a mineração, muito importante no Estado, aumentam consideravelmente o teor dessas substâncias no solo. O desenvolvimento de filtros biológicos para aplicações nesses locais de alta concentração dos elementos tóxicos pode evitar problemas para a população e para o ambiente, já que a exposição a altas taxas, em longo prazo, pode provocar diversos problemas de saúde, como insuficiência renal e hepática. Aguapé (Eichhornia crassipes) Chapéu-de-couro (Echinodorus grandiflorus) Taboa (Typha domingensis) Vetiver (Vetiveria zizanioides) Alface d’água (Pistia stratiotes) Plantas aliadas Canarana (Panicum aquaticum) Salvínia (Salvinia auriculata) Braquiária do brejo (Brachiaria arrecta) 26 0,1$6)$=&,1&,$Ŧ'(=-$1)(9 PROJETO: Avaliação de macrófitas aquáticas ocorrentes em Minas Gerais com potencial para serem utilizadas como bioindicadoras e fitorremediadoras e com potencial para o desenvolvimento de um filtro biológico para metais tóxicos. COORDENADOR: Evaristo Mauro de Castro MODALIDADE: Programa Pesquisador Mineiro VALOR: R$ 48.000,00