CONCEPÇÕES DE JOVENS UNIVERSITÁRIOS SOBRE A VELHICE Fernanda Fonseca Vieira* Ana Cláudia Nunes de Souza Wanderbroocke** *Acadêmica do curso de graduação em Psicologia da Universidade Tuiuti do Paraná. **Docente do curso Psicologia da Universidade Tuiuti do Paraná e da Faculdade Dom Bosco. Resumo O objetivo deste trabalho é descrever as concepções de jovens universitários sobre a velhice. Pesquisa qualitativa na qual participaram 15 estudantes, os dados foram coletados por meio de entrevistas semiestruturadas e analisados de acordo com a análise categorial temática. Aponta para a concepção de velhice com diferentes faces e que os jovens consideram responsabilidade do indivíduo apenas os meios para alcançar uma velhice bem-sucedida. Palavras-chave: representações. Velhice; envelhecimento; concepções de jovens; Introdução O crescimento da expectativa de vida nos países desenvolvidos e em processo de desenvolvimento coloca as sociedades diante do desafio de lidar com o envelhecimento humano. Envelhecer com qualidade não depende somente dos velhos, mas das construções sociais acerca do fenômeno que são estabelecidas pelas trocas entre os indivíduos de todas as faixas etárias que compartilham um espaço social. A sociedade moderna encontra-se hoje diante de uma situação contraditória: de um lado, defronta-se com o massivo crescimento da população de idosos, devido ao aumento da expectativa de vida da humanidade; por outro lado, omite-se ou até se adota atitudes preconceituosas em relação ao velho e à velhice, retardando a implementação de medidas que visam diminuir o pesado fardo das pessoas que ingressam na terceira idade (PAPALÉO, CARVALHO E SALLES, 2005). A mídia tem grande influência sobre as construções sociais acerca da velhice, na medida em que invade os meios de comunicação com “fórmulas para não envelhecer” como cremes, cirurgias, aparelhos de exercícios, tinturas para cobrir os cabelos brancos, enaltecendo a beleza dos jovens. Por outro lado, também se veicula com maior freqüência, programas empenhados em mostrar à população diferentes maneiras de envelhecer com bem-estar. Porém o culto à juventude é ainda muito significativo o que dificulta balancear tantas informações e se adequar diante do processo de envelhecer e se tornar velho na sociedade. Recentemente, o tema da representação da velhice pelos jovens vem ganhando interesse entre os pesquisadores. A pesquisa de Martinez (2007) aponta que os jovens dão maior ênfase aos aspectos negativos da velhice, relacionados às perdas, não apenas no aspecto físico, mas também social e familiar. Caldas e Thomaz (2010) descrevem que o jovem ainda enxerga o idoso como alguém que carrega mais ônus do que bônus. Classificam a velhice como uma etapa difícil de viver, devido às limitações físicas e mentais, ao isolamento da sociedade, aos preconceitos e também maus tratos, atribuindo esta visão à identidade do idoso que é estipulada socialmente. Ambas as pesquisas mencionadas, ressaltam que embora possamos dizer que é possível perceber mudanças significativas na maneira de encarar o envelhecimento, é necessário estarmos atentos para qual identidade de idoso está surgindo. Outro aspecto importante para reflexão, trazido pelas pesquisas é o papel da educação e sua influência sobre a visão do jovem quanto ao mundo do idoso, podendo auxiliar na desmistificação de conceitos consolidados, atribuindo novos significados e novas idéias a respeito do envelhecimento. Torna-se importante, que o jovem compreenda de forma mais esclarecedora os aspectos que circundam a vida do idoso, para que o mesmo desmistifique alguns conceitos, podendo vivenciar a própria velhice de forma mais satisfatória, como também aprimorar sua relação com a velhice. Frente ao colocado, a presente pesquisa busca descrever as concepções dos jovens universitários sobre a velhice. Parte-se do pressuposto que a maneira como a velhice vai ser encarada e vivenciada, depende da subjetividade de cada um, porém, a subjetividade é construída no social e as construções sociais sobre os diversos fenômenos influenciam os sujeitos e são por eles influenciados. Assim, ao dar-se visibilidade sobre as concepções dos jovens sobre a velhice, pode-se contribuir para uma análise mais ampla sobre como a idéia do envelhecer e do que é ser idoso está sendo construída e quais as influências que estas observações podem ter futuramente sobre os mesmos. Método Foi adotada na presente pesquisa a metodologia qualitativa. No ano de 2011, foram entrevistados quinze jovens matriculados em universidades particulares da cidade de Curitiba, cursando: Psicologia, Administração, Educação Física, Medicina Veterinária, Jornalismo, Tecnologia em Estética e Imagem Pessoal, Direito, Pedagogia e Desenho Industrial. Os jovens tinham idade entre 18 e 26 anos, sendo dez do sexo feminino e cinco do sexo masculino. Os alunos foram entrevistados nos campi das universidades. O projeto de pesquisa foi avaliado e aprovado por um Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos. As entrevistas foram realizadas mediante assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido pelo participante, foram gravadas e posteriormente transcritas para a análise dos dados. Para a coleta de dados, foram utilizadas entrevistas semiestruturadas e a análise dos dados seguiu o modelo proposto por Bardin (2000) para a análise categorial temática. Resultados e Discussão Os dados foram organizados em temas e subtemas, conforme apresentados no quadro abaixo e discutidos em seguida. Temas Características atribuídas à velhice Posicionamento acerca da própria velhice Condições para se viver bem a velhice Meios de alcançar uma boa velhice Subtemas Sabedoria Liberdade e tempo livre Solidão Adoecimento e finitude Não pensa Pensa pouco Pensa Saúde Família Autonomia/ Independência Sabedoria Vitalidade/Disposição Programar-se durante a vida Fazer o que gosta Quadro 1: Temas e Subtemas Características atribuídas à velhice Os entrevistados demonstraram valorizar a sabedoria do idoso, vinculando-a a ideia de uma maturidade e experiência de vida maior a serem transmitidas aos mais novos. Compreendem que os idosos superam os problemas com mais facilidade por já terem passado por muitos problemas e por terem observado mais acontecimentos e suas repercussões do que os mais jovens. A sabedoria, desta forma, relaciona-se com a experiência, outro aspecto valorizado nas entrevistas. Como ilustrado na fala de uma das participantes: “É a experiência de vida, não ligar para as coisas pequenas da vida, que a gente jovem se preocupa [...] Eles ligam para o que é importante mesmo. E8” A experiência, no pensamento do adulto jovem, foi citada como algo que eles não têm e que o idoso é possuidor, tendo mais habilidade de resolver seus problemas do que os mais jovens. A opinião dos jovens participantes coincide com o lugar do “velho sábio” destinado aos idosos. Na opinião de Fernandes e Duarte (2009), a imagem do velho sábio remete à imagem do indivíduo experiente que, ao contemplar o passado, se sente gratificado e não tem amargura diante da idéia da morte. Sua sabedoria consiste em ser interessante, tanto devido as suas experiências quanto ao valor social de suas memórias. O tempo livre, que boa parte dos idosos goza em função da aposentadoria ou da diminuição das atividades, foi outro aspecto citado como característica da velhice. Os jovens fizeram referência ao maior tempo para se dedicar a atividades de lazer, o que proporciona liberdade para fazer coisas que antes não poderiam. “Eu acho que é ter mais tempo para fazer as coisas do dia-a-dia.[...]. E9” A forma como um indivíduo vive a aposentadoria é muito subjetiva e dependente de seu contexto. Os entrevistados apontaram a aposentadoria na velhice como algo positivo, que origina novos caminhos e possibilidades. Esta opinião se coaduna com a de Fernandes e Garcia (2010), ao ressaltar que o momento da aposentadoria não se restringe ao fechamento de um ciclo, pois pode também apontar para novas possibilidades de transformação. A liberdade, associada à aposentadoria, foi incluída nos discursos dos entrevistados de diferentes formas. Referindo-se a uma liberdade de vida quanto a não precisar trabalhar, não precisar cuidar dos filhos e só cuidar dos netos, viajar, fazer atividades de lazer, aproveitando o convívio com a família e com os amigos. “ [...] Uma liberdade maior para fazer as coisas e não ter que se preocupar com trabalho [...]. E13”. A liberdade, apesar de ter sido citada de diferentes formas, esteve presente nas falas dos participantes. Sendo assim, pode ser que os jovens vejam a velhice como um momento de liberdade, onde as responsabilidades típicas da fase de vida em que se encontram já não serão exigidas pela sociedade. Alguns entrevistados falaram da solidão como um aspecto negativo da velhice. Referiram-se a solidão devido ao afastamento dos familiares, ao comprometimento físico do idoso, que de alguma maneira o impede de realizar atividades do cotidiano ou ao fato de não participarem ativamente no mercado de trabalho, podendo levar a um sentimento de inutilidade. Uma das entrevistas ilustra esta idéia: “[...] Ficar mais sozinho, mais solitário. Sei lá, parece que não tem muita serventia. [...]E8”. A solidão foi apontada por alguns participantes como característica da velhice, ligada à ideia de não serventia, de inutilidade que pode ocorrer quando o idoso não encontra maneira de desfrutar ou aceitar a diminuição de responsabilidades familiares e a aposentadoria. Levando em consideração que na sociedade atual o emprego proporciona status para o indivíduo, ao envelhecer e não participar de forma ativa no mercado de trabalho, o idoso pode transmitir aos olhos da sociedade, a imagem de alguém sem utilidade, sendo isolado pela mesma. O adoecimento foi apresentado como mais um ponto negativo que a velhice pode trazer. Fizeram referência às doenças típicas da idade, ou seja, doenças que aparecem devido ao desgaste físico que o corpo sofreu durante todos os anos anteriores, como a osteoporose. Como também mencionaram o fato de os idosos estarem mais propensos a ter qualquer tipo de doença que os mais novos. “[...] As doenças que podem aparecer, que são típicas da idade ou que aparecem devido à idade. Outra coisa ruim é ter que depender dos outros fisicamente e economicamente para fazer as coisas. [...]E13”. Com o aumento da expectativa de vida, crescem também as possibilidades de doenças crônicas na velhice (NERI, 1993). Sendo assim, à velhice associa-se a concepção de fase onde predominam doenças e a finitude. “[...] Está à beira da morte quase. Já está mais doente, com uma saúde mais precária, não é mais aquela agilidade, aquela juventude, pois vai se degradando fisicamente com o tempo. [...] E12”. Posicionamento acerca da própria velhice Quando questionados sobre a própria velhice, os jovens ficaram surpresos com esta pergunta, alguns diziam que não pensavam, outros pensavam pouco, já outros disseram pensar sobre o assunto. Os jovens que não pensavam, apresentaram grande desconforto ao assumir este fato. Uns davam risadas, outros se mostravam assustados com a idéia: “Não! Eu tenho medo de pensar nisso. E5”. Outros respondiam com aparente tranquilidade “Não, nunca pensei. E3”, porém justificando sempre que ainda eram muito novos e que não havia a necessidade de pensar sobre a velhice, que apenas pensavam na vida adulta e na meia idade, sendo a velhice muito distante para ser refletida e/ou planejada. “Não (risos) eu não costumo pensar assim muito lá na minha velhice, eu costumo pensar daqui a 10 anos, daqui a 20 anos. Não muito no futuro [...] E1”, ou ainda, “Ah, às vezes eu penso, mas muito vagamente. Só o básico, sem planejar. E4” O fato de terem se tornado pais fez com que alguns participantes, mesmo jovens, passassem a pensar sobre a própria velhice. “Costumo pensar, depois do nascimento do meu filho, antes eu nem pensava. E8” Os jovens vivenciam um processo gradual de transição da adolescência para a vida adulta. De acordo com Outeiral (2008), a adolescência é entendida como um período marcado por mudanças não apenas orgânicas, constituindo-se em um período no qual o indivíduo busca estabelecer sua identidade adulta e, nesse intento, necessita desprender-se do seu mundo infantil e enfrentar o mundo adulto. Para o adolescente, o sentimento de onipotência está presente, e este se reflete também em relação ao tempo. Para ele sempre haverá tempo para pensar, refletir e fazer as coisas. Nada o atinge, e este sempre encontrará uma maneira de agir diante dos fatos. Já no mundo adulto, o indivíduo começa a perceber sua impotência diante de alguns fatos e a necessidade de se programar diante dos mesmos. O amadurecimento e o tornar-se adulto não estão atrelados exclusivamente à cronologia, portanto alguns participantes mostraram-se mais maduros que outros, dependendo assim da trajetória de vida de cada indivíduo. Condições para se viver bem a velhice Os participantes foram convidados a pensar sobre quais aspectos são importantes para se viver bem durante a etapa da velhice. A saúde é um dos fatores que se relaciona a aspectos de uma velhice bem-sucedida por parte dos entrevistados, esta se referia tanto a saúde no sentido de não possuir doenças graves e comprometedoras, como também a um bem-estar físico e psíquico. Uma das entrevistas apresenta esta idéia: “Eu espero que não tenha problemas de saúde grave, que eu esteja estabilizada e aposentada, podendo curtir a vida, viajar, ter meu marido vivo, e não ser um idoso deprimido. E6” A idéia e o desejo da família ao redor destes jovens quando idosos, estava implícito nas respostas dos mesmos. “Eu me imagino cuidando dos netinhos. Em casa mesmo, cuidando dos netos. Com a família em volta. E9”. A família foi representada por filhos, netos, companheiros ou amigos, contudo um destes ou todos sempre estariam por perto dos entrevistados durante sua velhice. A idéia de sempre ter alguém por perto durante a vida, seja ela a família, amigos ou companheiros, é vinculada a felicidade e sucesso na velhice. O desejo de se ter alguém por perto durante a velhice remete à idéia de evitar a solidão, apontada anteriormente pelos jovens entrevistados como sendo um aspecto desvalorizado da velhice. A importância da família no processo de envelhecimento é assunto vastamente discutido na literatura podendo-se fazer referência aos trabalhos de Freitas, Queiroz e Souza (2010), Horta, Ferreira e Zhao (2010) e Walter (2010) cujos dados vem ao encontro dos aqui apresentados. Segundo Lopes (2000) as modificações na estrutura de uma família geram crises e exigem nova organização interna, seja na maneira como o indivíduo se relaciona consigo mesmo, seja na sua interação com o outro. Os níveis de tolerância e compreensão com relação aos idosos variam em cada grupo familiar. As mudanças inevitáveis que o processo de envelhecimento introduz nas relações familiares podem significar sofrimento em lidar com o desconhecido, como também podem trazer coisas positivas para dentro do lar. A autonomia foi mencionada como um desejo em comum dos entrevistados. Seja essa autonomia relacionada a uma boa saúde física e mental, como também o auto-sustento, estando aposentado ou não, mas tendo condições para se manter e não precisar depender de terceiros. “[...] a gente não sabe o dia de amanhã [...] mas eu penso em ter uma vida normal quando eu for velho. Ter minha família já, ter um trabalho que eu possa me sustentar, ou se aposentar tranqüilo. E11” (sic) “Eu queria ser uma velhinha, ter a minha casa, minhas coisas, ser independente, não depender de filho e de ninguém, sobreviver com o que eu tenho [...] Não precisar das pessoas para tudo[...] E8”. Existem aspectos valorizados na sociedade que influenciam o jovem como a independência, autonomia, sucesso, sendo estes valores voltados para conquistas individuais. Para Paschoal (1996), se os indivíduos envelhecerem mantendo-se autônomos e independentes, com participação na sociedade, cumprindo papéis sociais significativos, com elevada autoestima e encontrando um sentido para suas vidas, a sobrevida aumentada poderá ser plena de significado. A autonomia financeira foi outro aspecto evidenciado, de forma que possam gerenciar a própria vida, possibilitando momentos satisfatórios de lazer, um bem estar físico e psíquico. Este bem estar depende de outros fatores, como a disposição para desempenhar as atividades diárias, a ausência de doenças que debilitem a ponto de depender de terceiros, a família ao redor e a aposentadoria. Duas colocações ilustram este pensamento: “Primeiro de tudo o bem estar, com a saúde em ordem e a família por perto. Se possível com uma aposentadoria e curtindo a vida sempre. E14”; “Eu acho que é uma velhice sem doenças, aquelas que não deixam a pessoa se virar sozinha, ter família por perto, ter dinheiro para poder fazer suas coisas. Também poder sair e farrear, mesmo velho tem que continuar sendo jovem com espírito jovem pelo menos. E15” A sabedoria foi anteriormente apresentada como uma das características da velhice e como também uma característica de uma velhice bem-sucedida. A sabedoria é relacionada à idéia de experiência de vida e apresentada de várias formas: para resolver problemas; para se preocupar com o que realmente importa; para superar desafios e continuar sendo feliz na vida; sabedoria que pode se transmitir aos mais novos. Segundo um dos entrevistados: “É passar o que você tem de conhecimento durante a sua vida, e não deixar de aproveitar a vida [...] apesar do comprometimento você pode continuar a fazer as coisas, porque você não pode deixar de ter um objetivo. E4” O desejo de não perder a vitalidade e disposição na velhice, foi mencionado pelos participantes. “Quero ser diferente da minha avó, uma idosa deprimida que reclama das coisas. E6”, resposta de uma das jovens ao ser indagada sobre como queria ser quando idosa. “Como meus pais, eles são super vitais, eles gostam de festa [...] E2”, vale ressaltar que neste caso, os pais em questão eram idosos. “Eu gostaria de ficar um velho sempre disposto, que una a família, faça encontros em família, sempre estar disposto para fazer algum exercício, se possível junto aos meus netos. [...] E14” A mídia pode exercer influência na escolha de um modelo de velhice que o jovem quer alcançar. Os participantes lembraram de pessoas que demonstram jovialidade, ou que não se deprimiram ao envelhecer. “Como a Hebe Camargo, acho ela o exemplo. [...] Ela é bem sucedida, ela não parece ser tão velha, não aparenta ter a idade que tem [...] E7”; “Eu gostaria de ficar igual [...] eu não vou usar o modelo que tenho [...] eu gostaria de ficar tipo a Dercy Gonçalves, que não perdeu o senso de humor [...] E9”. Desta forma, está implícito que a idéia de envelhecer e chegar à velhice é incômodo, para estes jovens e o desejo de não se perder a vitalidade e a disposição é destacado. A importância dessas figuras públicas terem sido lembradas está no fato de, como coloca Brandão (2009), assim como a cultura, no seu sentido mais amplo, a cultura da mídia também modela os indivíduos, pois participa de forma muito intensa da vida cotidiana, influenciando modos de pensar e agir, já que induz as pessoas a se identificarem com determinadas opiniões, jeitos de ser e de pensar, geralmente associados ao prazer, à emoção e ao consumo. As condições para se viver bem a velhice apresentadas pelos participantes vão ao encontro do conceito de envelhecimento bem-sucedido (NERI, 2004), identificado em idosos que mantêm autonomia, independência e envolvimento ativo com a vida pessoal, com a família, com os amigos, com o lazer, com a vida social. Revela-se em produtividade e em conservação de papéis sociais adultos. Traduz-se em autodescrições de satisfação e de ajustamento. Reflete-se em reconhecimento social às pessoas porque lhes permite oferecer contribuições à sociedade ou ao grupo familiar, proporcionando que sejam vistas como modelos de velhice boa e saudável. Porém, o número de pessoas capazes de atingir completamente este padrão é muito pequeno, porque, além da genética, o estilo de vida e as condições socioeconômicas e culturais podem impor restrições ao alcance de tal resultado. No entanto, sua existência é útil para balizar as aspirações individuais e sociais e para sinalizar que velhice pode ser um período de desenvolvimento. Meios de alcançar uma boa velhice O esforço de cada pessoa foi apontado como a principal maneira de alcançar uma boa velhice, ou seja, os participantes consideraram que cada pessoa é responsável por seu próprio sentimento de satisfação e felicidade na velhice. “Se o velho tiver força de vontade ele consegue. E4”. Para tanto, é necessário, segundo os entrevistados, se programar durante a vida, seja para conseguir uma aposentadoria, fazer exercícios para não ter problemas de saúde, ter uma boa alimentação e constituir uma família cultivando-a para tê-la por perto durante a velhice. “Se a pessoa procurar cultivar a família, procurar um serviço que visa uma boa aposentadoria, acredito que pode sim. Se cuidar, ter uma boa alimentação [...] estar sempre na ativa, não muito sedentário, caso contrário as doenças começam a aparecer. E13” Fazer o que gosta aparece como outra forma de ter uma velhice bemsucedida na visão dos entrevistados, “ A pessoa não pode se abater. Ficar em casa se lamentando das coisas. A pessoa tem sempre que procurar se divertir, fazer o que gosta. E15”. Como os outros fatores, este também depende do próprio indivíduo, são opções que o indivíduo pode ter. Procurando fazer o que gosta, não perdendo a vontade de viver, buscando o que traz felicidade e satisfação, são tentativas para que a velhice não seja vivenciada de forma insatisfatória. Interessante notar que os entrevistados atribuíram somente ao indivíduo e ao seu contexto mais próximo, a família, os meios para se alcançar uma boa velhice. Outros fatores como o contexto social, fatores históricos e políticas públicas voltadas para o envelhecimento não foram contemplados nas considerações dos participantes. Debert (2004) ao discutir o tema do envelhecimento na atualidade analisa como se tem construído socialmente a ideia de que envelhecer bem depende somente dos esforços individuais e consequentemente, se tende a culpar aqueles que não alcançam um envelhecimento bem-sucedido. Considerações Finais A presente pesquisa buscou compreender as concepções que jovens universitários têm sobre a velhice. Pode-se, a partir das colocações feitas pelos entrevistados, perceber que a velhice não tem uma única face. Por um lado consideram que é a etapa na qual as pessoas alcançam a sabedoria, possuem maior liberdade e podem desfrutar de um tempo livre. Porém, também consideraram as possibilidades de solidão, adoecimento e finitude como associadas e esta fase. Estes dados demonstram como as concepções sobre a velhice não estão mais totalmente voltadas para os aspectos negativos da mesma e os jovens começam a vislumbrar um envelhecimento com maior possibilidade de participação, envolvimento familiar e atividades prazerosas. Por se encontrarem em um momento precoce do desenvolvimento, ainda não conseguiam se colocar totalmente no lugar do idoso, sendo as considerações tecidas sobre a velhice ainda pautadas nos modelos familiares e sociais. Ao considerarem as condições e meios necessários para se envelhecer bem, evidenciaram uma posição que coloca o indivíduo como principal responsável pelo processo, deixando de considerar o entrelaçamento entre fatores individuais, sociais, históricos, econômicos, entre outros. Dessa maneira, os dados da presente pesquisa indicam a necessidade de se ampliar a discussão sobre o envelhecimento humano na sociedade. Abordar esta questão entre os diferentes grupos etários e contextos sociais pode contribuir para a construção conjunta de novas e mais satisfatórias maneiras de viver a velhice. Portanto, sugere-se que novas pesquisas sejam feitas com jovens em diferentes contextos sociais. Referências BARDIN, L. Análise de conteúdo. Lisboa (Po): Editora Edições 70, 2000. BRANDÃO, M.F.M. Os jovens do orkut e os discursos sobre a velhice. Dissertação (mestrado). Programa de Pós-Graduação em Educação da UlbraPiauí, 2009. CALDAS, C.P; THOMAZ, A.F. A Velhice no Olhar do Outro: Uma perspectiva do jovem sobre o que é ser velho. Kairós Gerontologia São Paulo, novembro 2010: p.7589. Disponível em: http://revistas.pucsp.br/index.php/kairos/article/viewFile/5367/3847 acesso em 12 março 2011. DEBERT, G.G. A Reinvenção da Velhice: Socialização e Processos de Reprivatização do Envelhecimento. São Paulo: Fapesp, 2004. FERNANDES, L.C; DUARTE, Y.A.O. 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