FUNDAÇÃO EDUCACIONAL DO MUNICÍPIO DE ASSIS

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FUNDAÇÃO EDUCACIONAL DO MUNICÍPIO DE ASSIS FEMA
INSTITUTO MUNICIPAL DE ENSINO SUPERIOR DE
ASSIS – IMESA
Campus José Santilli Sobrinho
Coordenadoria de Jornalismo
Guilherme Augusto Aniceto Pereira
Marlon Correia Ferreira
QUE PAÍS É ESSE?
A GERAÇÃO COCA-COLA DE UM TROVADOR SOLITÁRIO
Assis, novembro, 2009.
FUNDAÇÃO EDUCACIONAL DO MUNICÍPIO DE ASSIS FEMA
INSTITUTO MUNICIPAL DE ENSINO SUPERIOR DE
ASSIS – IMESA
Campus José Santilli Sobrinho
Coordenadoria de Jornalismo
QUE PAÍS É ESSE?
A GERAÇÃO COCA-COLA DE UM TROVADOR SOLITÁRIO
Trabalho
de
Conclusão
de
Curso
apresentado ao curso de Comunicação
Social com Habilitação em Jornalismo, do
Instituto Municipal de Ensino Superior de
Assis – IMESA.
Alunos:
Guilherme
Augusto
Aniceto
Pereira e Marlon Correia Ferreira
Orientadora: Profª. Ms. Eliane Aparecida
Galvão Ribeiro Ferreira
Assis, novembro, 2009.
COMISSÃO EXAMINADORA
Presidente e orientadora: Profª Ms. Eliane Aparecida Galvão Ribeiro Ferreira
2ª Examinadora: Profª Drª Alcioni Galdino Vieira
3ª Examinador: Prof° Ms. João Henrique dos Santos
Assis, dezembro, 2009.
Agradecimentos
Marlon
Agradeço, primeiramente, a Deus, ao meu pai, Rogério, e à minha mãe, Néia.
Também aos meus amigos que me incentivaram no decorrer do curso, aqueles que
sempre confiaram em mim e na minha capacidade de prosseguir e realizar meu sonho de
ser jornalista.
Não posso deixar de agradecer minha professora/orientadora, Eliane Galvão,
pela paciência em ajudar a mim e ao meu amigo, Guilherme, na conclusão deste
trabalho. E por último, mas não menos importante, agradeço aos professores da banca,
João Henrique e Alcione, por estarem presente nessa hora tão significativa para nós: a
banca de qualificação do trabalho.
Agradecimentos
Guilherme
Em primeiro lugar, agradeço a você que, por vontade própria ou por indicação
de algum professor, tirou este trabalho para ler. Espero que ele seja útil e atenda aos
seus objetivos. Contudo, não ouse deixar esse TCC esquecido antes de lê-lo por inteiro
e ouvir um ótimo CD de rock!
Agradeço à professora Eliane Galvão, por ter confiado em mim para ser minha
orientadora. E quero que ela saiba que tive o maior prazer em ser seu orientando.
Agradeço ao meu irmão, Eduardo Henrique, por ter me mostrado o rock, sem
ele não conheceria a Legião Urbana. Também ao Renato Russo, por ter existido e nos
deixado um grande legado cultural.
Agradeço a todos que me ajudaram no trabalho, sobretudo, ao Marlon, que se
concentrou no projeto, revelando-se o grande amigo que sempre foi.
Tem muitas outras pessoas as quais queria agradecer como, por exemplo, os
integrantes da banda Bon Jovi ou aos fundadores do Corinthians, porém vamos ao que
interessa!
Dedicatória
Dedicamos esse trabalho a todas as pessoas que amam a Legião Urbana. Que
amam o Rock. Que amam a música como forma de comunicação.
Resumo
O presente trabalho de Conclusão de Curso tem por objetivo mostrar como o estilo
denominado Rock N’ Roll, de origem americana, esteve presente na música brasileira.
Como as bandas conseguiram aproveitar essa vertente para se aproximar dos jovens e
divulgar seus ideais e posições diante da realidade brasileira. E para tal estudo, a banda
Legião Urbana foi escolhida para retratar o objetivo proposto. Como o garoto Juninho,
que iria se transformar em uma das mentes mais brilhantes da nossa música, conseguiu
através do rock, junto com seus amigos, Marcelo Bonfá e Dado Villa-Lobos, discursar
temas importantes para o desenvolvimento daquela juventude. Renato Russo, jornalista
por formação, usou a sua música para se comunicar com o Brasil.
Palavras-chave: Renato Russo, Legião Urbana, Rock, Juventude, Brasil
Abstract
The presenting Paper Conclusion has the aim to show how the stile denominated Rock
N' Roll, from American origin, has been present in Brazilian music. How those bands
were influenced by that American music stile to atract young people, and to spread their
ideas and positions on Brazilian reality. And for this study, the band Legião Urbana
was chosen to represent the objective proposed. How the boy Juninho, who wanted to
become one of the most brilliant minds of our music, together with his friends, Marcelo
Bonfá and Dado Villa-Lobos, dicussed about important issues for the development of
that youth through rock music. Renato Russo, graduated jornalist, used his music to
comunicate with Brazil.
Keywords: Renato Russo, Legião Urbana, Rock,Youth, Brazil
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ........................................................................................................... 10
CAPÍTULO 1: ONE, TWO, TREE, FOUR! ROCK N´ ROLL
1.1 – Década de 1950 …………………………...………………………………….
1.2 – Década de 1960 .……………………………………………………………...
1.3 – Década de 1970 ………………………………………………………………
1.4 – Década de 1980 ………………………………………………………………
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16
20
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CAPÍTULO 2: PRELÚDIO PARA O BROCK
2.1 – 1050 – Os irmãos Capelo ................................................................................. 27
2.2 – 1960 – AI5 ao som do Iê-Iê-Iê ......................................................................... 29
2.3 – 1970 – A Mutação para uma nova era ............................................................. 32
CAPÍTULO 3: URBANA LEGIO OMNIA VINCIT
3.1 – Juninho ............................................................................................................ 36
3.2 – Aborto Elétrico ................................................................................................ 38
3.3 – Legião Urbana a tudo vence ............................................................................ 42
CAPÍTULO 4: ANÁLISE ......................................................................................... 49
CONCLUSÃO ........................................................................................................... 54
BIBLIOGRAFIA ....................................................................................................... 56
ANEXO I .................................................................................................................... 58
10
Introdução
Quando você faz sucesso com uma banda de rock
and roll, você tem que conviver justamente com as
pessoas de quem você tentou fugir ao fundar uma banda
de rock and roll.
Renato Russo (em entrevista de setembro de 1987).
O rock é um estilo de música que vai além de um simples divertimento, trata-se
de um modo de viver para muitas pessoas em suas diferentes épocas. Com o casamento
entre o country e o blues nasceu o belo e rebelde filho chamado “rock and roll”.
Manifestação cultural dos anos 1950 surgiu como um grito musical capaz de ser veículo
do descontentamento com um toque de irreverência. Esse estilo expressa as
desesperanças, e se associa à delinqüência juvenil. Para Carmo, ele “já nasceu atrevido e
abusado: o nome é originado da união de duas gírias, rock (sacudir) e roll (rolar), com
alusão aos movimentos sexuais. Fenômeno novo, o rock escandalizava os velhos”.
(CARMO, 2003, p.30).
Trata-se de uma representação cultural que tem como características
marcantes: o ritmo, a ousadia e a agressividade. Por ser uma saída para os jovens
mostrarem suas idéias, o rock acabou configurando-se como uma alternativa para
protestos a tudo que estava mal em determinada época, e seus alvos preferidos sempre
foram a política, a polícia e a sociedade materialista. Assim, os jovens manifestavam
seu descontentamento nas letras de músicas e em certas atitudes nos shows. Mesmo
depois da descoberta do seu poder de venda e transformado em mais um produto da
Indústria Cultural, o rock nunca deixou de ser uma alternativa para a conscientização.
A idéia do trabalho surgiu de conversas de grupos sobre o Rock. Nestas
conversas pôde-se notar que a vertente brasileira é pouco contemplada. A maioria dos
fãs do estilo adora discutir sobre as bandas lendárias para fazer comparações e
estabelecer sua importância na história. Para tanto, querem mostrar que uma banda “x”
foi melhor que outra “y”, usando conceitos errôneos para desmoralizar um estilo e fazer
11
sobressair outro. O rock por si só é mais do que um estilo de música, é uma cultura, um
modo de viver de uma sociedade especifica. Cada época teve seus brilhos e suas trevas,
o que nos resta fazer é saber aproveitar tudo de bom de cada tempo e não ficar
discutindo qual foi o melhor.
Com uma forte influência do rock britânico dos Beatles, surge então a famosa
jovem guarda, “quando em 1965, os clubes de futebol proibiram a transmissão direta de
suas partidas nas tardes de domingo, o proprietário da TV Record ocupou o horário com
a „Jovem Guarda‟”(DAPIEVE, 1998, p.14). Assim, com Roberto Carlos, Erasmo,
Wanderléia Salim, Renato & seus Blue Caps, Martinha, entre outros estariam à frente
desse início dos anos 1960 no Brasil. Mas o rock ainda era conhecido como o iê-iê-iê
por conta de “she loves you” que os Beatles gravaram em 1963, e essa concepção
reforçava a idéia de que ainda não tínhamos o Brock.
Em 1967, os mutantes potencializaram uma mistura de rock com o que já era
praxe no Brasil, a MPB. Caminhava a mudança: “Mutantes e seus cometas no país dos
Baurets confirmariam o grupo como primeiro de rock brasileiro no sentido exato da
expressão”. (DAPIEVE, 1995, p.16).
Desse modo, este trabalho tem por objetivo focalizar uma dessas épocas tão
importantes para o rock, principalmente, no Brasil. Questiona-se, neste texto, se os anos
1980 destacaram-se como uma década de transição do rock internacional, se realmente
marcaram o período em que o estilo esteve em sua melhor forma no Brasil. Nessa
década, também surgiram muitas bandas que fizeram história no Brock (como era
conhecido o rock brasileiro). Não que as outras vertentes do rock não sejam
importantes, mas o punk rock é o que mais combina com a juventude brasileira. Numa
época em que precisávamos gritar para os quatro cantos do país nossos protestos contra
todas as injustiças de governo, nada melhor do que uma música agressiva e direta para
mostrar nas letras toda a revolta dos nossos jovens. Mesmo quando não se escutava toda
essa agressividade no som, as letras sempre eram direcionadas à sociedade brasileira.
Críticas inteligentes e bem construídas mostravam o que a sociedade tentava disfarçar.
Essas músicas conservam ainda sua atualidade e fazem o mesmo efeito, pois os tempos
mudaram, mas os problemas sociais não.
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Este trabalho para a consecução de seu objetivo elegeu como objeto de estudo
a banda: Legião Urbana. Direto de sua origem: Brasília. Esta cidade, por ser berço da
política brasileira, representou o melhor lugar para o surgimento da lendária e crítica
banda Legião Urbana. Iremos destacar a sua importância para o rock de Brasília e para
os jovens em geral.
Apesar de cada região do país possuir sua banda e sua importância para o rock,
escolhemos Brasília, pois músicas como as da Legião Urbana, por serem cultuadas até
hoje, merecem um destaque maior no Brock. Além disso, construímos a hipótese de que
a reflexão acerca dessa banda, principalmente do seu vocalista, nos permitirá mostrar a
importância das canções como forma de comunicação, formando as opiniões de muitos
jovens.
A década de 1980 ficou conhecida como “a década perdida” para a economia
brasileira, pois foi o pior momento financeiro do Brasil. O povo havia conquistado a
democracia nas “Diretas já”, mas a inflação não foi evitada pelo governo. Com o fim da
ditadura, Tancredo Neves foi eleito presidente indiretamente, mas seu estado de saúde
estava comprometido. Depois de sua morte, José Sarney ocupou o cargo e até fez uma
tentativa para segurar a inflação, porém o plano cruzado foi um fracasso. Nessa década,
ainda temos a constituição de 1988, que é a que rege atualmente. Houve, ainda, o
aumento dos indicadores associados à violência na sociedade, como a mortalidade por
causas externas, crimes violentos e homicídios, e aumento da desigualdade social. Esta
última é uma característica da estrutura social brasileira.
Embora Brasília tenha sido construída para servir de modelo de organização
urbana, proporcionando conforto para todos seus habitantes, acabou por definir-se como
uma grande cidade com problemas graves de distribuição de renda. Nesse sentido, a
organização de seu espaço urbano e de suas divisões pode ser lida como um modo
inédito de ocultar as contradições da sociedade brasileira: uma sociedade marcada pelas
diferenças e desigualdades sociais, diferenças étnicas e econômicas.
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O presente trabalho constitui-se por três capítulos. No primeiro apresenta-se o
cenário do surgimento do rock internacional. Dividindo em décadas e mostrando um
resumo do contexto histórico do rock and roll. O segundo expõe a influência do rock
internacional no Brasil. Surgindo nesse momento estilos que contestavam a política
como a Tropicália ou como uma oportunidade de ouro para as gravadoras enriquecerem
com a Jovem Guarda. Porém aqui ainda não temos uma identidade própria com o rock.
Finalmente, o terceiro que será focado na história da Legião Urbana e seu líder
Renato Russo. Passando por toda a trajetória da banda e a importância dela na formação
critica de uma nova geração que ia crescendo.
Todos os capítulos se completam e constituem um todo que culmina na
conclusão. Logo após a conclusão, as referências bibliográficas e a bibliografia,
dispostas ao final, evitam a recorrência contínua a notas de rodapé.
O rock brasileiro teve seus altos e baixos, e, com certeza, os anos 1980 foram
de pura libertação do estilo. Por meio de pesquisa bibliográfica e de campo, veremos
como as músicas da banda do visionário Renato Russo mudaram as cabeças dos jovens
brasileiros, e com isso, criou uma geração ativa politicamente: uma geração coca-cola.
14
One, Two, Tree, Four!
Rock N’ Roll!
Fontes:
1 – Disponível em:<http://www.ideachampions.com/heart/woodstock-nation.jpg>. Acesso em: 10 nov. 2009.
2 – Disponível em:
<http://1.bp.blogspot.com/_RtivEOrllU4/SMrvVnhO_jI/AAAAAAAAAI4/Ej6U4lsyrmo/s400/anarquia_0_materia.jp
g>. Acesso em: 10 nov. 2009
Capítulo 1
___________________________
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1.1 Década de 1950
Ao contrário do que pensam, o Rock n’ Roll não se originou com Elvis Presley.
Antes dele, já se ouviam salmos nas igrejas evangélicas de negros que os cantavam com
uma harmonia da música européia misturada com suas origens africanas, entoando o
lamento de uma vida sofrida com a escravidão, essa é uma das raízes mais fortes do
Rock mundial.
Logo nos anos 1930, com o objetivo de cativar os fiéis através do agite
corporal, inseriram instrumentos de sopro, guitarra e percussão aos cânticos das igrejas
evangélicas.
Com esse culto renovado, vieram outros novos estilos musicais, um deles foi o
Rock and reelin (balanço e cambaleio) tocado por moradores dos centros urbanos. No
campo, com a inovação dos lavradores brancos, surgiu o denominado country ou
hillibilly (caipira).
Mas o Blues e o Jazz foram as presenças mais importantes nessa mistura de
ritmos que é o rock. Mesmo com tudo expressando melancolia, sempre havia espaço
para o sarcasmo e a ironia. Não há roqueiro que não reconheça isso, pois a origem do
Rock n’ Roll adveio da música negra.
Assim em 1951, o primeiro álbum de rock foi gravado pelo saxofonista e
cantor Jackie Brexton, com o título de Rocket 88, levando em consideração as letras que
absolviam a idéia do sexo e automóvel fixamente na cabeça dos primeiros amantes
desse estilo de música.
O que esse som trazia de novo era simples, ao invés do som meloso de Bing
Crosby, cantor e ator mais popular dos estados Unidos nos anos 1930 e 1940. O Rock n’
Roll propunha um novo universo aberto para a vida, com mais emoção e irreverência,
transformando o folclore e o blues negro por meio da tecnologia das guitarras elétricas,
colocando o antigo lamento rural no cenário facínora dos centros urbanos.
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Enfim, mais do que um simples ritmo, o Rock n’ Roll foi a única resposta que
os jovens dos anos 1950 encontraram para aquele momento segundo Paulo Sérgio do
Carmo:
Surgido nos anos 50, o rock foi um grito musical capaz de ser
veículo do descontentamento com um toque de irreverência,
expressando as desesperanças, e se associando à deliquência juvenil.
Ele já nasceu atrevido e abusado: o nome é originado da união de duas
gírias, o rock (sacudir) e roll (rolar), com alusão aos movimentos
sexuais. Fenômeno novo, o rock escandalizava os velhos. (CARMO,
2003, p.30).
Do lado dos negros ficavam os poderosos Ray Charles e Chuck Barry, e junto
aos brancos, a nossa majestade Elvis Presley ao lado do clock rock de Bill Haley.
Enquanto Charles, o gênio das mil e uma notas, entoava uma voz áspera e um balanço
sensual em sua música, Chuck convidava a garotada a largar a escola, o trabalho, o
exército e celebrava o amor apenas como curtição.
Com esses professores, o menino branco americano, Elvis, aprendeu muito
bem. Usando uma guitarra elétrica, um violão country, um topete enorme, ele subiu ao
palco cantando uma canção maluca, rebolando e sacudindo com o assanhamento das
melhores strip-teasers de Las Vegas, tornando-se assim um “rei”. Por fim, a América
sonolenta dos anos 1950 com o seu “one, two, three o’ clock”, de Bill Haley, iniciou a
contagem progressiva para o futuro da música pop e de toda uma geração.
1.2 – Década de 1960
Detroit tornou-se um centro importante para os cantores negros, surgiu certo
tipo de música conhecida como Motortown [motor town], que foi nomeada pela
Motown Records. Caracterizado por uma pessoa que canta canções melódicas e
impressionistas, acompanhada de um grupo elegante com harmonias compactas e
articulada. Os expoentes populares deste estilo foram Temptations, Smokey Robinson e
o Miracles, Diana Ross e o Supremes, e Gladis Knight e o Pips.
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Houve um choque no show business, pelo fato de ainda ser novidade o Rock n’
Roll. As divisões étnicas se complicaram. Por exemplo, tudo parecia bem organizado
nos Estados Unidos, Rhythm’n blues ficava na classificação de música negra, Hillbily e
country and western, na de música branca, e os cantores de ternos discretos causavam
certo arrepio nos corações comportados nas paradas pop. Então, começaram a chegar os
discos mais vendidos, os de Jerry Lee Lewis, um dos grandes representantes do pop
rock, e os de Elvis Presley, o símbolo maior do Rock n’ Roll entre 1956 e 1963. A
dúvida recaía sobre a forma de classificação, pois como enquadrar o rapaz loiro como
Lewis no setor de rythm’n blues? Ou até mesmo Elvis, pois quando as pessoas apenas o
ouviam imaginavam que ele era um cantor negro. Deveriam classificá-lo ao lado de
Frank Sinatra na parada pop? Foi esse o início do famoso pop rock que deu origem aos
Beatles.
Só em 1962, com o surgimento dos Beatles, os quatro rapazes com cabelos
longos, de Liverpool, Inglaterra, que o rock voltou a reunir forças para manter-se
poderoso como nunca. No início, eles foram aclamados por suas energias e
personalidades individuais atraentes e não pela inovação de suas canções que tiveram
influência de Berry e Presley. E foi graças a eles que o grande impacto da década de
1960 na era do rock não foi nos Estados Unidos, mas, com certeza, na Inglaterra.
Nos anos 1940, 1950 e início de 1960 sequer existia a palavra teen-ager
(adolescente). Havia o esforço para a reconstrução do pós-guerra que, em um momento,
reforçava o apego britânico às normas e o orgulho natural de ter vencido o inimigo tão
voraz e hediondo, e em outro, apontava dura realidade austera proveniente da falta de
recursos e das privações em todos os sentidos de bens materiais.
O mundo de John Lennon, Paul MacCartney, Ringo Star e George Harrison
começou no The cavern club em Liverpol, depois tomaram o rumo do sucesso mundial.
Ao longo de apenas oito anos, os Beatles mudaram para sempre o cenário do Rock n’
Roll, criando uma linguagem musical única e influenciando o comportamento da
juventude de sua época, como ninguém havia feito antes. Esse fenômeno
comportamental da década de 1960 foi chamado de Beatlemania. Nenhuma banda até
hoje conseguiu repetir o sucesso dos Beatles, até nos tempos difíceis, depois da divisão
do grupo e com a morte de Lennon, eles ainda bateram recordes de vendagens.
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Voltando aos Estados Unidos, nos anos 1960, a música espelhava as tensões da
Guerra do Vietnã e desempenhava um importante papel na cultura americana. As letras
das canções de rock traziam rebeliões, protestos sociais, sexo e, principalmente, drogas.
Para Carmo, uma “série de manifestações culturais novas refletiam e provocavam novas
maneiras de pensar, modos diferentes de compreender e de se relacionar com o mundo e
com as pessoas” (CARMO, 2003, p.51).
Muitos grupos, entre eles o Jefferson Airplane e o Grateful Dead, tentavam
expressar na música, o sentimento aural das drogas psicodélicas, produzindo sons
longos, repetitivos e esquisitos com letras surreais (conhecidos como acid rock ou hard
rock).
Em 1964, com o lançamento do primeiro disco dos Rolling Stones que estão na
estrada até hoje e são conhecidos como os avôs do rock n’roll, instaurou-se um novo
cenário para o rock; enquanto de um lado os Beatles queriam segurar nossas mãos, os
malvados Stones convidavam-nos a virar a noite com eles.
Com o Rock n’ Roll se firmando nos anos 1960, as drogas também encontraram
seu espaço com o surgimento do LSD-25. Um dos ícones do rock na época que fazia
grande usufruto delas era Jim Morrison, líder dos The doors, grupo musical que teve
início em 1965 e foi de suma importância para o rock n’roll. Essa banda deu origem ao
pisicodelismo, aos longos solos, às letras incompreensíveis, mantendo um contato
permanente com as vibrações do público, ao lado de Pink Floyd (1965) e Jimi Hendrix
que, por sua vez, apresentavam um som virtuoso. Hendrix tornou-se um dos grandes
símbolos da época e até hoje se discute se um dia alguém poderá superar seus dotes com
a poderosa arma do rock, a guitarra.
Claro que, nessa época da invasão inglesa no Rock n’ Roll, o grupo inglês The
Who, um dos representantes árduo do Hard rock ao lado do Led Zeppelim, também
embarcou nessa viagem para o mundo. O grupo The who foi considerado um dos mais
importantes da época ao lado dos Stones e dos Beatles. A banda The Who cativou o
público por causa de suas agressivas apresentações, nas quais costumavam quebrar
instrumentos ao final de seus shows, um sucesso para aqueles que adoram o bom e
19
velho rock n’ roll. Porém, se a Inglaterra tinha seus bons representantes, os americanos
não podiam ficar de fora, pois o menino do interior que cantava folk, cristão convertido,
soldado dos direitos civis, alquimista do rock, Bob Dylan, lançou-se na estrada para um
novo estilo: o Folk rock.
Depois dessa movimentação, em 1950, a febre do Rock n’ Roll contaminou a
Inglaterra, os Estados Unidos e o mundo, o time ficou completo. Beatles, Rolling
Stones, Pink Floyd, Bob Dylan, The Doors, Jimi Hendrix e The Who. De 1967 para
frente, os festivais musicais entraram em sua melhor fase, milhares de jovens os
freqüentavam justamente para ouvir rock music.
Apareceram jovens com roupas coloridas, incentivando o uso das drogas para
aumentar as possibilidades de um pensamento livre. Eles pregavam a paz e o amor livre,
interessavam-se pela filosofia indiana, apareceram inicialmente na Califórnia, depois
atravessaram o oceano em direção a Londres, esses conhecidos como hippies.
O festival de grande importância para o movimento hippie foi realizado no famoso
Woodstock, Nova Iorque, em agosto de 1969. Como saiu no G1, “um gay salvou o
festival de Woodstock”. Seu nome é Elliot Tiber e não poderia deixar ele de fora nesse
ano tão querido para o maior festival de rock n‟ roll realizado no mundo. Faz quarenta
anos que o mundo conheceu Woodstock:
Grande parte das pessoas que viram o documentário [“Woodstock”,
de 1970] ou ouviram falar, ao longo dos anos, pensam que se tratava de
drogas e sexo. O que houve foram três dias de paz, música e amor. Não
houve brigas ou assassinatos – e eram tempos conturbados, com a Guerra do
Vietnã e [os EUA gastando dinheiro com] o homem na Lua. Mas não
tínhamos crack, cocaína ou heroína naquele festival. As pessoas estavam
usando maconha e ácido. Era um tempo de inocência. Eles se uniam e se
ajudavam porque a comida e a água estavam acabando. Havia muita
camaradagem e muita gente fazendo amor, claro. Era muita gente bonita
tirando a roupa e se banhando no lago, então eles faziam amor. (ELLIOT
TIBER, G1, 2009)
Mais tarde, um evento semelhante, que trazia os Rolling Stones, aconteceu em
Altamont, Califórnia, sendo marcado por vários incidentes violentos que foram
filmados, entre eles houve inclusive um assassinato. O rock nunca mais seria o mesmo.
20
1.3 – Década de 1970
Por volta de 1970, várias celebridades do I - Janis Joplin, Jim Morrison e Jimi
Hendrix - morreram por excesso de drogas. As características andrógenas e perigosas
passadas pelos Rolling Stones foram levadas ao extremo pelos artistas Alice Cooper e
David Bowie que, talvez, eram os mais famosos pela ambigüidade sexual e
comportamento fora do comum expressos em suas músicas.
Na mesma década, vimos Paul MacCartney chegar aos tribunais e pedir a
dissolução dos Beatles, o centro das atenções dos anos 1960. Chegava ao fim o grupo
musical que retratou o amor em mais de duzentas canções. O mundo acreditou que
jamais encontraria algo semelhante aos garotos de Londres, pelo menos não muito cedo.
John Lennon deixou de lado a condição de mito, foi atrás da devoção de uma
mulher, foi encontrar-se em Yoko, dedicou-se muito à família e ainda mais ao seu filho
Sean Lennon.
Paul MacCartney continuou na carreira musical como compositor e cantor.
Como tocava vários instrumentos, não foi muito difícil seguir essa carreira, sendo
acompanhado dos Wings e de sua mulher Linda Eastman. George Harrison continuou na
carreira musical, contudo ele mudou um pouco sua forma de compor, foi o primeiro a
pontuar com um hit, chamado My Sweet Lord em 1970. Ringo Star dedicou-se ao
cinema, conheceu a atriz Bárbara Bach, casou, superou, voltou por cima e seu ar
descontraído também veio à tona novamente.
Mas a década de 1970 foi responsável por outra mudança no rock music, porém
dessa vez não só o som mudou, como também as vestimentas e o rosto pintado que
davam uma nova alegria ao rock. Surgiu o Kiss, eles utilizavam máscaras em preto e
branco, suas roupas simulavam armaduras e tinham um desempenho totalmente
diferente nos palcos. Logo em seguida, Alice Cooper com aquelas olheiras negras
aterrorizava em cima dos palcos.
A evolução do rock não parou, apareceram outras inúmeras faces que o
marcaram enquanto estilo musical. Vale destacar um estilo que usufruiu de junções de
vários outros: o Heavy Metal. Seguindo o mesmo caminho, o Iron Maiden também
21
deixou sua marca nessa nova adequação do Rock n’ Roll. Outras bandas também se
adequaram ao estilo, por exemplo: o AC/DC que foi uma das mais importantes desse
novo ritmo.
Esse estilo prosseguiu pela Inglaterra e destacou-se em uma das bandas mais
polêmicas da década de 1970, também muito importante para a história do Rock n’ Roll,
o Queen, formado por Freddie Mercury, Brian May, Roger Taylor e John Deacon. Esse
grupo caiu nas graças do público por causa do carisma de Mercury.
Nessa década cheia de mudanças não podia faltar a mais radical delas, chegou
ao mundo o punk rock, uma resposta à estagnação do gênero e um protesto político.
Iniciou-se, na Grã Bretanha com o Sex Pistols e The Clash. Nos Estados Unidos surgiu
um concorrente para os Pistols, eram os chamados Ramones. Considerados os pais do
punk, juntaram-se em 1974 e, durante 22 anos, fizeram músicas simples, cruas, mas de
primeiríssima qualidade, à prova de tédio, justamente por isso, conquistaram milhares
de fãs no mundo todo. Sempre na base do “Faça você mesmo” (Do it yourself), uma
crítica à complexidade e ao estrelismo do rock progressivo. Qualquer jovem poderia
pegar uma guitarra contra o conformismo na época, conforme Paulo Sérgio do Carmo:
O ano da explosão punk foi em 1977, com sua fúria e
desencanto. Jovens ingleses lançaram seu grito de revolta e de
inconformismo, na critica à sociedade estagnada. Viviam num país em
recessão e vieram fazer o coro à raiva, ao tédio e a frustração da falta
de perspectiva. Tudo isso contribuiu para o aparecimento de uma nova
corrente musical dentro do rock e de um estranho modo de se vestir,
bastante “anormal”, mesmo depois dos excessos provocados pela
cultura hippie dos anos 60 e 70. Ressalta-se que, ao chocar por sua
vestimenta e sua música, passaram uma imagem de violência que nem
sempre correspondia à realidade. (CARMO, 2003, p.124)
Joey, Johnny, Dee Dee e Tommy (posteriormente substituído por Marky,
Richie e Marky novamente), com suas calças jeans rasgadas e suas características
jaquetas de couro, foram fonte de inspiração não para uma, mas para várias gerações
que vieram.
Os Pistols foram responsáveis por uma grande mudança no cenário do rock n’
roll, a banda criou faixas pioneiras no inusitado estilo punk rock “God Save the Queen e
Anarchy in the UK‖. Porém este capítulo não é somente para reforçar a ideia de que
22
Sex Pistols fizeram o punk como estilo e não movimento. Suas características estavam
mais destacadas no modo de se vestirem e no comportamento agressivo de seus
integrantes. De longe era algo que se tornasse uma causa social como no anarquismo.
Com o incentivo dos Pistols, dezenas de bandas começam a abraçar o estilo,
sobretudo em Londres. A epidemia alastrou-se com velocidade absurda. O motivo para
tanta rapidez era simples: estava na hora de renegar a mesmice dos paleolíticos
rockstars da época.
Mais uma vez, o Rock n’ Roll mudava de cara, o estilo musical criou
modernidades, mudou os jovens. Assim, houve uma manifestação juvenil semelhante às
décadas anteriores, sem envolver intencionalmente questões éticas, políticas e sociais.
Enquanto o Rock n’ Roll tradicional criava novas estrelas do rock e fazia com que a
música da década de 1970 parecesse mais com o dom da época dos nossos pais, o punk
trouxe um novo jeito de fazer música, um estilo simplificado pouco mais de três acordes
e instigando naturalmente adolescentes a criarem suas próprias bandas.
Porém, ao fim da década de 1970, os Ramones explodiram o punk pelo mundo,
e mesmo assim, ao fim dessa época 1978, iniciava-se um novo ídolo para o Rock n’
Roll, fazendo um som diferente com grandes interpretações no palco, trata-se da família
Van Halen que dava início a um novo estilo que ficou conhecido como característico da
década de 1980.
1.4 – Década de 1980
Esqueça quase tudo o que você leu sobre a ideologia do rock até agora,
principalmente o conceito de contracultura a uma sociedade capitalista expresso em
cada música ouvida nas rádios ou pela boca dos jovens. Estamos no ano de 1980, e aqui
começa uma nova era para o rock and roll. Der acordo com Coelho (1996, p.10) a
“cultura passa a ser vista como instrumento não mais de livre expressão, crítica e
conhecimento, mas como produto trocável por dinheiro e que deve ser consumido como
se consome qualquer coisa”.
23
O rock deixa de ser algo voltado ao protesto e começa a ser comercializado
pela indústria fonográfica quando se percebe seu grande poder de venda entre os jovens.
Começamos a ter evidentemente o artista de marketing, ou seja, um produto da
gravadora “que o envolve, a um custo relativamente baixo, com o objetivo de fazer
sucesso, vender milhares de cópias, mesmo que por um tempo reduzido e determinado.”
(TORRETI, ORLANDI, 2007, p.32)
Esse momento, para muitos estudiosos, é a “muda” do rock. Um estágio de
reflexão e mudança necessária para depois voltar com a mesma atitude agressiva e
ousada do seu começo. É a época das discotecas, quando jovens não querem mais fugir
de casa como um ato de rebeldia e, sim, ir para as festas dançar e ganhar garotas ao som
de Bee Gees. E nesse clima de festa e muita paquera, o rock acaba sendo modificado e
se tornando mais comercial aos ouvidos das pessoas. Conferindo mais dinheiro aos
bolsos dos empresários e donos de gravadoras.
Uma das mudanças mais evidentes que podemos citar é o Hair Metal. Filho do
Hard Rock “setentista”, porém com uma sensibilidade mais pop e um visual totalmente
glam, ainda com algumas pitadas do punk. Esse estilo surge como uma febre na
juventude. Levando as meninas ao delírio e os rapazes à vida: carros, bebidas e sexo. As
bandas responsáveis pela nova vertente são: Poison, Motley Crue, Skid Row, Twisted
Sister, Guns N’ Roses e Bon Jovi. Bandas mais antigas também aderiram ao estilo como
Kiss e Van Halen. Sendo Guns N’ Roses mais punk e Bon Jovi mais pop foram as
principais bandas dos anos 1980. Em termos de sucesso e influência na sociedade, tratase de um cenário para quem quiser compreender o que vem a ser o Hair Metal.
Outro som diferente que marcou foi o New Wave. Se você é daqueles que fica
entre punk e o pop, o New Wave foi feito especialmente para seu gosto musical.
Certamente, foi o estilo que nasceu por causa do sucesso das discotecas. Nada muito
agressivo e barulhento como o punk, porém nada com a mesmice do pop. B-52‟s, The
Police e Duran Duran são as principais bandas do movimento.
O filho mais velho do Hard Rock, também ganhou muita força nesses anos
fúteis para alguns e essenciais para outros. O Heavy Metal, que já era conhecido nos
anos 1970 como uma maneira pesada e elaborada de se fazer rock, assume uma vertente
24
contrária à simplicidade do punk, nos mostrando bandas como Iron Maiden, Judas
Priest, Motorhead, Accept e Def Leppard que ajudaram a divulgá-lo ao mundo. Entre
tantas outras.
1.5 – Década de 1990
Passado o momento festivo do rock, voltamos à rebeldia. Marca essencial do
estilo como a atitude, ousadia e a agressividade. Que ficaram meio ausentes durante os
anos 1980. Mas quem será os responsáveis por tal volta? E será que foi uma volta
definitiva e concisa? Veremos.
Muitos outros estilos faziam sucesso na época, até muito mais que o rock,
mesmo ele estando como influência em muitos deles. Como, por exemplo, a Black
Music de Michael Jackson. Com certeza um dos responsáveis com a desmoralização do
rock, levando o pop ao seu auge e estabelecendo uma nova maneira de fazer música,
principalmente visando grandes vendas. Isso já nos anos 1980.
O Grunge foi e sempre será o principal movimento da época para o rock,
comandado por bandas como Nivarna e Pearl Jam que resgataram a rebeldia e
agressividade do rock que havia começado com o punk. Seu diferencial, porém, era o
som menos polido e letras retratando depressão e angústia. No futuro, dariam vida ao
movimento Emocore, conhecido como filho “mimado” do rock.
Os anos 1990 apresentaram muitas bandas novas com seus respectivos
movimentos: Oásis, com o Britpop; Red Hot Chili Peppers, com o Funk Metal;
Evanescense, com o Metal Melódico; Radiohead, com o Indie Rock; New Metal, com o
Slipknot. Contudo, somente uns irlandeses se destacaram mundialmente, eles trouxeram
ao rock uma sonoridade única e com um nome simples como U2 conquistaram milhares
de fãs devotos.
Se antes, tínhamos milhares de jovens se reunindo por uma idéia em um
festival, hoje, temos milhares de jovens que acompanham suas bandas por clipes na
MTV, mp3, nos Ipods, Myspaces na Internet e com nada na cabeça.
25
Mas quando enquanto houver uma guitarra tocando nossas almas e uma bateria
fazendo estourar nossos corações, o rock ainda terá muito que mostrar.
26
Prelúdio para o Brock
Fontes:
1 – Disponível em: <http://psycotrip.files.wordpress.com/2008/04/mutantes_aeoz_101b.jpg>. Acesso em: 10 nov. 2009
2 – Disponível em: <http://www.forcasempre.com.br/historia/ima_aborto_eletrico_logo.jpg>. Acesso em: 10 nov. 2009
Capítulo 2
__________________________
27
2.1 – 1950 – Os Irmãos Campelo
O Brasil passava por mudanças nesse período. Getúlio Dornelles Vargas,
através das sonhadas eleições democráticas, voltou ao poder depois de ter instalado o
Estado Novo em 1937. Em 1950, criou a campanha “O petróleo é nosso” que um tempo
depois resultaria na criação da Petrobrás.
Em 1954, a intensa pressão política da oposição, inclusive no meio militar,
somada às denúncias de corrupção e ao envolvimento de pessoas ligadas ao presidente
na tentativa de assassinato do seu principal crítico, Carlos Lacerda, levou o presidente a
uma saída um tanto radical. Em 24 de agosto, Getúlio Vargas cometeu suicídio.
No rádio, as novelas predominavam. E a televisão estava começando a sua
expansão no mercado, contratando grande parte dos profissionais das rádios. Segundo
Renato Ortiz, a década de 1950:
(...) foi marcada por uma série de improvisações e de experimentação
na área da programação que ainda buscava sua estrutura definitiva.
(...). Numa sociedade de massa incipiente, a televisão opera, portanto,
com duas lógicas, uma cultural, outra de mercado, mas como esta
última não pode ainda consagrar a lógica comercial como
prevalecente, cabe ao universo da chamada alta cultura desempenhar
um papel importante na definição dos critérios de distinção social.
(2001, p.76).
Enquanto isso, na música, Nora Ney iniciou a estadia do rock em nosso país
fazendo sua versão para Rock around the clock (em inglês). Betinho e seu conjunto
apresentam o primeiro rock com guitarra elétrica, chamado “Enrolando o Rock”. Mas
de uma forma especial, foi com a exibição do filme Balanço das Horas, novamente com
a trilha sonora de Bill Haley, que o rock começou a se expandir no país provocando uma
enorme confusão nos cinemas que levou o governador de São Paulo, Jânio Quadros, a
emitir nota oficial com o seguinte conteúdo: “Determine à polícia deter, sumariamente,
colocando em carro de preso, os que promoverem cenas semelhantes. Se forem
menores, entregá-los ao honrado Juiz. Providencias drásticas”. (Gaspari, 2003)
28
Assim o ritmo no Brasil começou a ter novas cores e ondas. O compositor
Miguel Gustavo, com interpretação de Cauby Peixoto, gravou o primeiro som desse
novo ritmo, só que desta vez na nossa linguagem, levando o nome de Rock and Roll em
Copacabana.
Os irmãos Campelo, vindos de Taubaté (Campinas), interior de São Paulo,
Sérgio Murilo e Celly, gravaram músicas em inglês, chamadas Forgive-me/Handsome
boy, que abriram definitivamente o caminho do disco, dos programas de rádio, televisão
e shows.
Celly Campelo, com doze anos, tinha seu próprio programa na Rádio Cacique,
mais tarde, com quinze, gravou seu primeiro disco com o irmão no Lado A, e com Tony
e Celly no lado B.
Em outro momento estrearam na televisão no programa Campeões de Disco,
transmitido pela TV Tupi em 1958. Depois a Rede Record ofereceu uma grande chance
para os irmãos de transmitirem seu próprio programa intitulado Celly e Tony em hi-fi, o
qual apresentaram por dois anos. Porém o sucesso dos irmãos veio com a dispersão da
dupla.
Celly estourou, em 1959, com a versão nacional para stupid cupid (estúpido
cúpido). No mesmo ano, participou do longa-metragem de Mazzaropi: Jeca Tatu.
Durante a vida gravou outros sucessos: Lacinhos Cor-de-Rosa, Billy, Banho de Lua, que
lhe renderam inúmeros prêmios e troféus, inclusive no exterior, e lhe deram o título de
Rainha do Rock Brasileiro.
Tony Campelo gravou seis LPs pela Odeon, fazendo sucesso com as músicas
Boogie do bebê (versão de Fred Jorge), Pertinho do mar (Sílvio Pereira de Araújo) e
Canário (outra versão de Fred Jorge), gravada em dupla com Celly.
O promissor rei, Roberto Carlos, deixava de se apresentar em festinhas e clubes
para lançar seu primeiro compacto simples João e Maria/fora do tom.
29
Assim, a década de 1950 terminou e o Brasil foi cada vez mais abordando o
“estrangeiro mulatinho”:
Pouco a pouco, aliás, as rádios foram acordando para o
mulatinho americano. No final da década de 50, até mesmo a Nacional
de São Paulo reservava um espaço para o rock‟n‟roll e demais
excentricidades: o programa “Ritmos para a juventude”, apresentado
por Antonio Aguilar. Outro proto-DJ, Carlos Imperial, pilotava “Clube
do rock” na Tupi e “Os brotos comandam” (na Guanabara).
(DAPIEVE, 1995, p.13).
2.2 – 1960 – AI5 ao som do iê-iê-iê
A década se inicia com Jânio Quadros agora na presidência, o homem que
tomou providências drásticas - quando só era governador - levando os jovens que
deixavam de se comportar sob uma sociedade imposta, agora seguindo o ritmo novo
que chegara ao Brasil através do cinema e da música propriamente dita.
O rock abriu na década 1960 com uma mistura de rock tradicional, som
instrumental, surf music e outros ritmos como o twist e o hully gully. E mais uma vez,
sob influência de outros países, como afirma Arthur Dapieve (1994, p14) “No amplo
panorama da música brasileira, contudo o rock ainda era ouvido como um artigo
importado e supérfluo”.
Continuando a manifestar as influências sofridas pelo sucesso do rock, os
cantores da época eram visivelmente influenciados pelo estrangeiro, às vezes, até
mesmo realizando plágios. Ronnie Von, por exemplo, cantou Meu Bem, versão em
português para a música Girl, dos Beatles, que o próprio Ronnie criou. Seguindo a
linha, Renato e seus Blue Caps lançaram seu primeiro LP em 1962, e ficaram famosos
pelas versões que faziam das músicas de língua estrangeira (na maioria Britânicas),
como Menina Linda ou I Should Have Known Better, de Lennon e MacCartney. Esse
momento pode ser visto de uma forma mais analisada por Renato Ortiz:
30
O que chama a atenção, quando se focaliza o período da
incipiência da moderna sociedade brasileira, é a forte presença
estrangeira. Realidade que decorre (...) da fragilidade das instituições
existentes, tornando necessária a importação de quadros e de
conhecimentos gerados fora do país. (2001, p.191).
Wanderléa Salim, em 1962, lançou seu primeiro compacto. Depois em 1963,
lançou o LP Wanderléia pela CBS. Chegou a vez, então, dos The Fenders, ou melhor,
The Fevers lançar seu primeiro LP no ano de 1965 com a música Letkiss (versão de
Letkiss). Mais tarde, Wanderléia conheceu Roberto Carlos que, depois do fracasso com
Louco por Você, juntou-se ao Erasmo Carlos e lançou Splish-splash. O LP É Proibido
Fumar fez muito sucesso na época. Nascia a Jovem Guarda. (Fróes, 2000).
No mesmo ano, surgiu a expressão iê-iê-iê, por causa da versão da música She
loves you, dos Beatles, lançada em 1963, e também do filme A hard days Night,
batizado no Brasil de Os Reis do iê-iê-iê. Os clubes de futebol proibiram a transmissão
direta de suas partidas, a TV Record, com a ajuda do ex-dirigente Machado de Carvalho
da CBD, ocupou o horário com a futuramente famosa Jovem Guarda. (Dapieve, 1994).
Um ano depois, Wanderléa, Renato e seus Blue Caps, Roberto, Erasmo,
Martinha, Golden Boys e companhia, tomaram a frente da Jovem Guarda. Traziam
grupos adeptos do movimento, lançaram moda nas ruas, o movimento que foi iniciado
pelo público jovem logo atingiu todas as idades.
Vieram às modas dos cabelos compridos para os rapazes e calças colantes de
duas cores, bocas de sino, cintos e botinhas coloridas, a minissaia sempre acompanhada
de botas de cano alto. Nas letras das músicas: nada de sexo, drogas ou política. A Jovem
Guarda não foi um movimento político, mas sim, comercial. A conhecida “indústria de
gosto” que rege como uma religião até os dias de hoje:
Criou-se uma “indústria de gosto”, que passava pela “aposta”
em certos artistas, o que implica em estratégias de multiplicação de
suas apresentações em programas de auditório, execução de suas obras
em “especiais” de TV, entrevistas e participações em talk shows etc.,
tudo destinado a dar-lhes o máximo de visibilidade. (SILVA, 2001,
p.99).
31
Em 1968, o presidente Costa e Silva declarou válido o Ato Institucional
número 5 – AI-5, cancelando todos os dispositivos da constituição de 1967. E conforme
Carlos Marcelo “O AI-5 deforma a simetria entre os poderes. Entre os 12 artigos, o ato
concede ao presidente da República autoridade para subjugar o Poder Legislativo e
decretar o recesso do Congresso Nacional” (p.36, 2009). Agora a cassação de direitos
políticos poderia ser decretada com extrema rapidez e sem burocracia, o direito de
defesa ampla ao acusado foi eliminado, suspeitos poderiam ter sua prisão decretada
imediatamente, sem necessidade de ordem judicial, os direitos políticos do cidadão
comum foram cancelados e os direitos individuais foram eliminados pela instituição do
crime de desacato à autoridade. Os militares assumiram definitivamente que não
estavam dispostos a ser um poder moderador e, sim, uma ditadura.
Mas com tantas mudanças no foco político, a censura domina o nosso país e se,
antes, tínhamos a Jovem Guarda, na onda do iê-iê-iê, em 1967, ela sai de cena para
entrar a Tropicália, “se a jovem guarda era reflexo dos Beatles fase iê-iê-iê, a tropicália
era o reflexo dos Beatles fase Revolver (1966)” (Dapieve, 1994, p.14).
Seus participantes formaram um grande coletivo, cujos destaques foram os
cantores-compositores Caetano Veloso e Gilberto Gil, além das participações da cantora
Gal Costa e do cantor-compositor Tom Zé, do maestro Rogério Duprat e, claro com
tanta gente, não podia faltar o que a Tropicália nos revelou até então como
coadjuvantes, acompanhados da moça de cabelo ruivo: Rita Lee os Mutantes. A cantora
Nara Leão e os letristas José Carlos Capinan e Torquato Neto completaram o grupo, que
teve também o artista gráfico, compositor e poeta Rogério Duarte como uns de seus
principais mentores intelectuais. A música brasileira sofre uma radical mudança:
Assim a repressão pós AI-5 e a censura decorrente colocavam
novos desafios para os artistas mais comprometidos com as questões
políticas, além de exigir a reorganização da oferta e da demanda
musical como um todo. (...). Neste aspecto, os diferentes símbolos
para driblar a censura apareceram tanto nas novas formas de se utilizar
a linguagem cifrada e metafórica como também na relação de se
expressar a música através do corpo. (SILVA, 2001, p. 49).
32
Irreverente, a Tropicália transformou o gosto pela música e a política, e
também a moral e o comportamento, ainda, conceitos como os de: corpo, sexo e
vestuário. A contracultura hippie foi assimilada, com a adoção da moda dos cabelos
longos encaracolados e das roupas escandalosamente coloridas. Adicionando seu
movimento não só a música, mas também englobando toda uma cultura para si,
entretanto também foi conduzido pela tropicália o artista plástico Hélio Oiticica
performática de aspirações anarquistas, e no teatro com José Celso Martinez Corrêa
uma das mais importantes mentes ligadas ao espetáculo de palco. Provando que o
movimento tropicalista não se envolveu só com a música popular e sim em quase toda a
cultura disponível no Brasil nos tempos de AI-5.
Como já se destacou, o florescimento cultural no período
revelou-se diferenciadamente na literatura, no teatro, no cinema, nas
artes plásticas e na música popular. São daquele tempo diversos
movimentos, que produziam importantes obras de arte no seio do
Cinema Novo, do teatro de Arena, do Teatro Oficina, dos espetáculos
do Teatro Opinião, dos CPCs da UNE, da Bossa Nova, da música
popular brasileira, da coleção de livros de poemas Violão de rua, do
concretismo, das exposições de artes plásticas e do tropicalismo.
(RIDENTI, 2000, p.270).
O movimento, libertário por excelência, durou pouco mais de um ano e acabou
reprimido pelo governo militar. Seu fim começou com a prisão de Gil e Caetano, em
dezembro de 1968, o fim da Tropicália marcava o início do AI-5. A cultura do país,
porém, já estava marcada para sempre pela descoberta da modernidade e dos trópicos.
2.3 – 1970 – A mutação para uma nova era
A década de 1970 começou frustrada não na música, mas politicamente. Emilio
Médici assumiu a presidência da República tornando-se o terceiro militar no poder pósgolpe de 1964. Por sua vez, Emilio acrescentou e substituiu 58 artigos à Constituição de
1967.
Neste cenário, protagonistas como os Mutantes apareciam misturando Rock e
MPB de uma forma jamais vista e ouvida. O rock, enfim, ganhava um jeito brasileiro.
Rita Lee, Arnaldo, Sérgio e Liminha lançavam nesse início de década A divina comédia,
33
era um novo caminho para a música nacional. E se o rock estava com a bateria fraca, os
Mutantes haviam se encarregado de fazê-lo pegar no tranco.
Porém os anos 1970 foram marcados pelas bandas intérpretes Made in Brazil,
que afirmaram definitivamente a identidade do rock nacional, compondo e cantando em
português e, também, ampliando o domínio da técnica, dos equipamentos e dos
estúdios.
Destacaram-se ainda nos anos setenta, os grupos Som Imaginário, O Peso, Bixo
da Seda, Moto Perpétuo, Módulo Mil, Arnaldo (Baptista) & Patrulha do Espaço; Sá,
Rodrix & Guarabira; Secos & Molhados e Veludo, entre outros. O grande destaque
desta década foi o surgimento de Raul Seixas: menino de Salvador que nasceu no cessar
fogo da segunda guerra mundial, no ano de 1945, influenciando pelo rock n’ roll da
década de 1950. Raul dos Santos Seixas, depois de ser Raulzito com os Panteras, em
1968, e aparecer com a Sociedade da Grã-Ordem kavernista apresenta sessão das dez,
em 1971, em1973 entrou nas paradas com o seu primeiro LP solo: Krig-há, Bandolo!,
Com público dos maiores e mais fiéis, foi o primeiro artista brasileiro a ter um LP
organizado e lançado por um fã-clube à coletânea de gravações raras Let Me Sing my
Rock-and-roll (1985, mais tarde encampada pela Polygram com título de Caroço de
Manga).
No início de 1971, Os Mutantes foram contratados pela Rede Globo para serem
uma das atrações fixas do programa Som Livre Exportação. No começo gostaram da
idéia, mas logo perderam a motivação, pois o formato do programa e o contato com
sambistas e expoentes da bossa nova não os interessava muito. Nesse ano, eles lançaram
o álbum, Jardim Elétrico com uma abordagem muito mais roqueira que nos demais
discos, assim, começaram definitivamente o seu distanciamento com o Tropicalismo.
Em 30 de dezembro de 1971, Rita e Arnaldo se casaram após anos de um
conturbado relacionamento, marcado por idas e vindas. Na volta da lua-de-mel, o casal
rasgou a certidão de casamento no programa de TV da apresentadora Hebe Camargo.
Em março de 1972 chega às lojas o disco Mutantes e Seus Cometas no País
dos Baurets, lançado em um dos períodos mais críticos da história brasileira. O álbum
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foi censurado (a faixa Cabeludo Patriota teve de mudar de nome e foram sobrepostos
ruídos para esconder a frase “…o meu cabelo é verde e amarelo…”). O LP mostrou a
transição da banda em direção ao rock progressivo, com influências evidentes dos
grupos Emerson, Lake & Palmer e Yes. O maior sucesso dos Mutantes, conforme
Dapieve (1994), foi Balada do Louco.
No ano de 1974, o processo de eleição do novo presidente teve início. Porém
este foi marcado por eleições indiretas, para as quais o MDB lançou os nomes de
Ulysses Guimarães e Barbosa Lima Sobrinho como “concorrentes” do candidato do
ARENA. Mesmo sabendo que não chegaria ao poder, a chapa do MDB correu em
campanha denunciado as falhas do regime militar e a opressão do sistema.
Assim, chegou ao cargo de Presidente da República do Brasil, Ernesto Geisel,
tratava-se de um período que, economicamente, o país não estava bem. Havia a crise do
petróleo. Além disso, entre os que ocupavam as cadeiras do congresso encontravam-se
os que lutavam por uma flexibilização que pudesse dar maior longevidade ao governo
militar.
Em 1978, ao fim de seu mandato, Ernesto Geisel revogou o AI-5. Com isso, no
setor musical, novas bandas foram surgindo no fim dessa década, como, por exemplo, O
Barão Vermelho, comandado por Frejat e o genial e polêmico Cazuza.
Os anos 1980 estavam chegando. E o rock brasileiro iria encontrar a sua mais
perfeita forma. O seu auge, a sua verdadeira identidade. Conheceríamos o Brock.
Conheceríamos um trovador solitário.
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Urbana Legio Omnia Vincit
Fonte: Disponível em: <http://neobudega.files.wordpress.com/2009/07/legiao-urbana-02.jpg>. Acesso em: 10 nov. 2009.
Capítulo 3
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36
3.1 – Juninho
Desenho toda a calçada
Acaba o giz, tem tijolo de construção
Eu rabisco o sol que a chuva apagou
Quero que saibas que me lembro
Queria até que pudesses me ver
És parte ainda do que me faz forte
Pra ser honesto
Só um pouquinho infeliz
Giz – Legião Urbana
(In: <http://letras.terra.com.br/>, 2009).
Em 27 de março de 1960, nasce, no Rio de Janeiro, Renato Manfredini
Júnior. Nome herdado do pai e concedido pela mãe Maria do Carmo Manfredini. No
mês seguinte, em 21 de abril de 1960, Brasília, a mais nova capital do Brasil, idealizada
por Juscelino Kubitschek e desenhada por Oscar Niemeyer, ganha vida:
Em 21 de abril de 1960, uma quinta-feira, Juscelino
Kubitsheck apresentou oficialmente ao mundo sua menina dos olhos.
No discurso de inauguração, no Palácio do Planalto, o presidente
lembrou que a decisão de construir a capital veio “da certeza de que
era chegado o momento de estabelecer o equilíbrio do país, promover
o seu progresso harmônico, prevenir o perigo de uma excessiva
desigualdade no desenvolvimento das diversas regiões brasileiras,
forçando o ritmo de nossa interiorização. (MARCELO, p.23, 2009).
Renato Manfredini Júnior, mais conhecido como Juninho, aprendeu
inglês morando em Nova Iorque, quando seu pai, funcionário do Banco do Brasil, foi
transferido para o Forest Hills. Um dos momentos mais marcantes da sua vida junto
com sua irmã Carmen Tereza Manfredini. A temporada fora do país foi sua grande base
cultural que iria se desenvolver por toda sua carreira.
A família não demorou muito para voltar ao Rio. Devido à insistência de
D. Maria do Carmo, eles mudaram da Ilha do Governador para Brasília em 1973 (mais
precisamente na Asa Sul), pois ela achava que aquele era um ótimo lugar para criar uma
família:
37
A mãe não escondia o deslumbramento com a cidade, ainda
mais quando emoldurada pela explosão de cor do crepúsculo vermelho
do Planalto Central. Para muitos cariocas, por sinal, aquele era o único
espetáculo atraente da uma cidade marcada pela monótona
onipresença do branco e cinza. Diziam que, confrontada com a
centenária exuberância do Rio de Janeiro, Brasília parecia uma
menina de 13 anos: feições definidas ao nascer, corpo em fase de
crescimento, temperamento indefinido. Para quem vê de longe, com
distanciamento e sem afeto, apenas uma pré-adolescente
desengonçada, sem personalidade e sem graça. (MARCELO, p.17,
2009).
Desde criança, Juninho sempre mostrou ser um garoto diferenciado, tinha
o hábito da leitura e escrevia textos que sempre recebiam elogios dos professores. Aos
15 anos, adoece e, embora passe por uma cirurgia, as suas dores só aumentam. A
família decide procurar outro médico e descobre que Juninho está com epifisiólise:
A jornada de Renato Manfredini Júnior dentro do próprio
quarto começa dois séculos depois da empreendida por Xavier de
Maistre. Mais exatamente, no dia 6 de outubro de 1975, após a
constatação que sofria de epifisiólise. Também conhecida como
Enfermidade de Perthes e mais freqüente no sexo masculino, a doença
costuma se manifestar no início da puberdade. Com o desgaste da
cartilagem, o fêmur se solta. A claudicação é o sintoma mais
perceptível. O tratamento tem duração estimada entre 12 e 18 meses e
inclui a proibição para atividades físicas que possam causar impacto.
(MARCELO, p.80, 2009).
Sem poder se movimentar, Juninho é obrigado a permanecer em seu
quarto por seis meses. Durante esse período, pode-se dizer que sua veia artística se
aprimorou. Começou a ler com mais frequência, além de ouvir todas as novidades do
exterior. Principalmente, o punk rock do Sex Pistols e The Clash. Passava tardes
trocando cds com seus amigos e dedilhando as cordas do violão.
Como tempo era o que não faltava, criou uma banda fictícia chamada
nd
42 Street Band. Liderada por Jeff Beck e Mick Taylor, escrevia as letras das músicas,
os shows, as entrevistas (estas ensaiava em frente ao espelho), os álbuns, tudo que
poderia escrever sobre a carreira de uma banda. E para mais detalhes, era tudo escrito
em um inglês perfeito.
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Você é tão moderno
Se acha tão moderno
Mas é igual a seus pais
É só questão de idade
Passando dessa fase
Tanto fez e tanto faz
Dança – Legião Urbana
(In: <http://letras.terra.com.br/>, 2009).
Recuperado da doença e decidamente mergulhado no mundo do punk
rock, Renato, antes muito recluso em casa, começa a sair e a trilhar seu caminho para a
história da música nacional. Mesmo sendo um dos melhores alunos e até destaque como
ator em peças da escola, presta vestibular na UnB, mas não consegue passar (até uma
surpresa, mas achou bom não estudar com os boyzinhos). Então, como segunda opção,
cursou Jornalismo na Ceub - Centro de Ensino Unificado de Brasília - e começou a
ministrar aulas de Inglês.
Entre seus amigos, era o único que não recebia mesada, pois trabalhava
dando aulas de inglês. Destacava-se pelo seu estilo na faculdade. Calça de jeans
rasgada, cheia de alfinetes e correntes penduradas. O dia em que formaria a sua primeira
banda estava chegando, o aborto mais aclamado entre os jovens estava para nascer.
3.2 Aborto Elétrico
Moramos na cidade, também o presidente
E todos vão fingindo viver decentemente
Só que eu não pretendo ser tão decadente não
Tédio (com um T bem grande para você) – Aborto Elétrico
(In: <http://letras.terra.com.br/>, 2009).
Brasília antes do Aborto Elétrico era considerada como o local do tédio.
Tudo era difícil na cidade. O jovem tinha que criar sua própria diversão. O hábito mais
comum dos jovens brasilienses era descer e ficar conversando com os amigos sobre
tudo que vinha na cabeça. Renato estava obstinado a formar uma banda de rock, porém
faltava encontrar as pessoas certas. Muitos colegas curtiam o estilo, porém era difícil
encontrar alguém punk, alguém que entendia o que era ser punk.
39
A primeira formação da lendária banda da capital brasileira estava mais
próxima do que parecia e, numa festa, Renato se anima quando observa um garoto alto,
magro, loiro com um traje totalmente rebelde. André Pretorious era como se chamava o
futuro grande amigo. E sem pensar muito, a história começou com um simples diálogo:
— Hey man, do you like Sex Pistols?
— Sex Pistols?! Jóia!
— Pôxa, cara, eu toco baixo.
— Eu toco guitarra!
— Jóia! Vamos fazer uma banda?
(MARCELO, 2009, p. 120).
E por forças do destino (Renato acreditava nisso) ou por pura
coincidência, os dois conheciam Felipe Lemos que, logo depois, se torna o baterista. O
trio estava formado, assim começaram os ensaios.
Brasília começa, então, a sair do seu tédio. A garotada descobre uma
nova forma de se entreter. O rock chega para ficar e balançar as estruturas e
pensamentos da cidade. Embaixo do bloco A, na Colina em 1979, Renato, Fê e André
discutem sobre o nome da banda, Felipe Lemos teve a maluca idéia de Tijolo Elétrico. E
depois de ouvir a sugestão, todos olharam estranhados e, de repente, André salta do
banco e fala que o nome deveria ser Aborto Elétrico. E a aceitação foi imediata.
Justifica-se, então, a seguinte concepção de Renato Russo:
O Rock é um movimento musical que revolucionou a música
popular porque é o único gênero feito por jovens e para os jovens. Por
isso, se tornou sinônimo de rebeldia! - Renato Russo (O Filho da
Revolução, 2009, p. 94)
O grupo tocava nas calçadas, barzinhos, porões, onde estivesse, aos
poucos, ia juntando fãs e curiosos. A Colina era o principal ponto de encontro dos
jovens, pois por ser bem afastado do centro e um campus universitário, a polícia não
aparecia por lá e assim eles se sentiam mais seguros. Os jovens se reuniam para tomar
vinho barato, tocando violão, sem medo de serem repreendidos.
A polícia sempre esteve presente na vida de Renato, a instituição era
usada pelo governo como seu braço para a censura e repressão contra os revoltosos. O
40
cantor, como nunca foi santo, também provocava os policiais fazendo perguntas que
zombavam da precariedade de conhecimento dos uniformizados. E foi essa a razão por
ter escrito a pulsante Veraneio Vascaína:
Porque pobre quando nasce com instinto assassino
Sabe o que vai ser quando crescer desde menino:
Ladrão pra roubar ou marginal pra matar.
Papai eu quero ser policial quando eu crescer.
(In: <http://letras.terra.com.br/>, 2009).
O primeiro grande show foi no centro comercial Gilberto Salomão, em
1980. Pretorious chegou a cortar seu dedo de tanto tocar. Porém caiu uma pedra no
caminho do Aborto. André completou 18 anos e foi para África servir ao exército. Sem
guitarrista, Felipe indica seu irmão, Flávio, porém o garoto não sabia tocar instrumento
algum. Então, Renato o ensina a tocar baixo e assume a guitarra. Em 1980, o novo trio
muda os ensaios que, antes, eram na Colina, para a casa dos Lemos.
O local dos ensaios se chamava “O Cafofo”, nome dado pelo tamanho do
quarto que não tinha nada além das paredes. O barulho era tanto que para acompanhar
as músicas, o público recebia folhetos com as letras. Deve-se lembrar que os garotos
não sabiam tanto sobre a afinação dos aparelhos. Foi nessa época que Renato se
descobriu compositor.
Dono de uma genialidade incomum (mesmo nunca admitindo isso)
compunha músicas só de ouvir a base dos instrumentos ou até mesmo em plena
apresentação para o público. Improvisação era uma das suas especialidades. Outra
característica forte era a sua posição como líder de uma geração nova, acreditava que
com o rock poderia mudar os pensamentos dos jovens e sempre sonhava em formar a
melhor banda do mundo. Fazendo o rock se tornar popular na terra da discoteca:
Considero-me a voz da geração coca-cola, que são os filhos da
Revolução. Sou um filho perfeito da Revolução, por isso minha poesia
não reflete nada. – Renato Russo (O Filho da Revolução, 2009, p.
146).
41
Russo alerta para o fato de que em Brasília:
(...) é mais fácil controlar a juventude oferecendo a válvula de escape ideal e
não uma música que faça todos pensarem e questionarem as hipocrisias
construtivas de uma sociedade falsa, à beira da autodestruição atômica.
Música discoteca não fala desse jeito. (Apud MARCELO, 2009, p.251).
Como exemplo, cita sucessos radiofônicos de Roberto Carlos e Simone
para ironizar o descompasso dos ídolos populares com os anseios e ruídos de uma nova
geração:
A MPB parece estar mais preocupada com a cama e a
mesa e com a sensação das cordilheiras. E o pessoal que gosta de fazer letras
espertas não gosta de fazer rock no Brasil. O que fazer? Será que todos estão
satisfeitos? (Apud MARCELO, 2009, p.251).
Renato andava antenado com tudo à sua volta. A parede de seu quarto era
coberta por recortes de jornal dos mais variados temas como música, cinema, livros,
entre outras coisas que poderiam interessá-lo. E o Aborto Elétrico começa a ganhar mais
fãs e admiradores. Entre eles, os jovens: Dado Villa-Lobos e Dinho Ouro Preto, que
frequentavam os mesmos lugares em que a banda tocava. O ano do show mais sério, na
FUNARTE, foi 1981. Nesse espaço, decidiu-se a verdadeira harmonia das músicas
como Geração Coca-Cola, Que País é Esse, Fátima, Música Urbana, que antes
variavam muito por ainda estarem em fase de criação.
Nem tudo andava as mil maravilhas e o fim prematuro da banda estava
chegando. No dia da morte de John Lennon, o Aborto Elétrico tinha um show para fazer
e Renato só apareceu bem na hora dizendo que estava meditando pela alma de Lennon.
Felipe se enche de fúria e percebendo que Renato começava a errar nas letras, cansa e
manda a baqueta da bateria bem nas costas do vocalista. Renato olha para trás e vai
embora. Arrependido, Felipe vai até a casa dos Manfredini se desculpar, porém o que
ouve de Renato é que a banda acabou.
Felipe e Flávio decidem levar a banda sozinha e chamam o irmão de
Dinho Ouro Preto, Ico, para fazer parte da formação. Renato começa a tomar um novo
42
rumo na sua vida e na carreira musical. Decide se lançar como cantor solo com o nome
de Trovador Solitário. Abrindo shows da Plebe Rude, só com um violão, cantava
músicas como Eduardo e Mônica, deixando o público indignado. O pessoal queria rock
e aquele Bob Dylan brasiliense não os agradavam. Apesar das vaias, o Trovador
Solitário consegue levar bem suas apresentações e, aos poucos, vai conquistando as
pessoas. Mas o ciclo no Aborto Elétrico não havia fechado. No ano de 1981, a banda
iria se apresentar no Centro Olímpico e, na hora do show, Ico Ouro Preto some. Felipe
não sabia o que fazer e vendo Renato chama-o para tocar com eles. Depois de aceitar, o
trio faz a melhor apresentação da banda, notando que o público canta junto Que País é
Esse e vai à loucura. A porta se fecha com chave de ouro. O Trovador Solitário começa
a constituir sua legião de seguidores.
3.3 – Legião Urbana a tudo vence
Será só imaginação?
Será que nada vai acontecer?
Será que é tudo isso em vão?
Será que vamos conseguir vencer?
Será – Legião Urbana
(In: <http://letras.terra.com.br/>, 2009).
A banda toca músicas urbanas e uma das maiores legiões a segue.
Tratam-se de canções sobre tudo que acontece nas cidades. Segredos ou não de Brasília.
Uma banda que soube expressar todas as angústias e medos que os jovens brasileiros
viviam naquela época. Letras atemporais que de jovem para jovem (para aqueles
também que continuam jovens no coração) nos fazem refletir sobre o amor, o ódio, a
sociedade, o preconceito, a ilusão, a solidão e muitos outros temas que fazem parte de
um ser humano. Justamente, por isso, são atraentes.
Quatro garotos que antes só se conheciam através de outros garotos,
recebem uma proposta de Renato Russo para formar uma banda. As idéias eram
compreendidas pelo grupo que se propuseram a fazer da Legião Urbana a melhor banda
de rock do Brasil, o quarteto estava formado, conforme Marcelo (2009, p.290) por:
43

Dado Villa-Lobos, nascido na Bélgica a 29 de junho de 1965, mas naturalizado
como brasileiro.

Renato Rocha, nascido no Rio, 1961, a 27 de maio

Renato Russo, nascido no Rio a 27 de março de 1960, mas considerado
brasiliense.

Marcelo Bonfá, nascido em dia 30 de janeiro de 1965.
Em 1982, nasce a Legião Urbana de Brasília para o Brasil. No começo,
depois de tentar com outros integrantes, Renato havia chamado apenas Dado e Marcelo,
mas por um estranho motivo ainda que haja diferentes versões, Renato corta os próprios
pulsos e, inutilizado para tocar baixo, chama Renato Rocha. Um dos motivos é o fato de
que ele gostava de experimentar as coisas, outro seria uma briga que tivera com sua
mãe. Com essa atitude, ganha mais liberdade na banda e decide apenas se dedicar ao
vocal.
Dado Villa-Lobos não sabia tocar muito bem. Então, Renato ensinou-lhe
algumas músicas da banda na guitarra para ter o primeiro repertório para os shows. Mas
o sucesso estava para chegar e através de outra importante banda da época: Paralamas
do Sucesso. Eles haviam gravado a música “Química”, de Renato Russo, e o produtor
perguntou se aquela música era deles, como resposta Herbet soltou a histórica frase:
“Essa música é de um cara que eu sempre quis ser”.
E depois de um convite dos Paralamas, a Legião Urbana abriu o show
no Circo Voador, Rio de Janeiro, para entrar de vez para a história. Daquele show,
receberam um convite da EMI-Odeon para gravar uma demo. E como gostaram do que
ouviram decidiram arriscar com a banda. Não foi fácil, pois os integrantes não
concordavam com a opinião dos produtores e acabaram brigando, dois se afastaram, até
Mayrton Bahia, depois de uma discussão, decidiu desistir, porém voltou atrás porque
acreditava nos garotos, sobretudo, em Renato.
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O primeiro álbum era praticamente o repertório que criaram para os
shows. Sem todo aquele peso do punk (o que acabou desagradando grupo), era
intitulado apenas por Legião Urbana. Trazia grandes músicas que se tornariam clássicos
como: Geração Coca-Cola, Ainda é Cedo e a primeira música de trabalho Será que
estourou nas rádios. Em 1985, os brasileiros conheceram a poderosa voz de Renato
Russo e sua poesia. Nesse período, Renato assume sua homossexualidade para a mãe.
Entre choros, a mãe aceita a decisão que futuramente ficaria clara em suas músicas
contra o preconceito. Juninho era um rapaz que geralmente não escondia seus
problemas. Ou nas letras ou nas declarações sempre deixou claro que fazia e pensava.
Com o sucesso de vendas do álbum Legião Urbana, em 1986, Renato
quis inovar. Não iria fazer o mesmo trabalho duas vezes. E depois de muito esforço,
gravou o maior sucesso da banda: Dois. Um Cd que era para ser duplo, chamado
Mitologia e Intuição, mas acabou ficando simples por medo da gravadora. Emplacado
pelas antológicas Eduardo e Mônica, Tempo Perdido, Índios e a radiofônica Quase Sem
Querer, bateu recordes de venda, e é o álbum mais vendido da banda até hoje.
Somos os filhos da revolução
Somos burgueses sem religião
Somos o futuro da nação
Geração Coca-Cola – Legião Urbana
(In: <http://letras.terra.com.br/>, 2009).
Renato consegue concretizar o seu sonho: ser um astro do rock. Porém
não era uma das melhores pessoas para isso. Não soube lidar com sucesso, alcoólatra
assumido começou a beber cada vez mais. Sem falar no vício nas drogas como a
popular maconha dos tempos de colégio, até experimentar a cocaína. A cada show que
realizava, os fãs aumentavam e ficavam mais fanáticos. Era como uma religião. Uma
legião com seus legionários.
O marco mais trágico estava ainda por vir. O divisor de águas da banda
estava chegando. O clima das recentes apresentações não foi tão pacífico. Em São
Paulo, Marcelo Bonfá foi atingido por uma garrafa, mas Brasília era a promessa de um
show histórico, palco onde tudo começou. Durante a turnê do terceiro álbum, Que país é
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esse, esta cidade se encontrava em êxtase. O novo trabalho era na verdade uma gravação
dos antigos sucessos da época do Aborto Elétrico. Com muita pressão da gravadora e
sem tempo para novas músicas, Renato decidiu rever o passado. Apenas duas músicas
foram compostas: Angra dos Reis e Mais do Mesmo.
O evento foi planejado por cinco meses, mesmo assim a segurança era
falha e aconteceram tumultos já antes da apresentação. Renato Russo queria que fosse o
show da sua vida, o melhor show da Legião Urbana: ―Esse vai ser o show da minha
vida, por isso quero que embrulhe pra presente, que nem Bon Jovi” (MARCELO, p.
350, 2009). Uma superprodução para uma noite de horror.
Todos tinham uma impressão ruim daquela noite, o estádio lotado,
muitas pessoas empurrando umas as outras, muita gritaria, era um caldeirão pronto para
explodir bem perto do palco, por exigência do próprio vocalista que queria o público
perto da banda. Mesmo com tudo indicando o pior, Legião Urbana entra no palco para
o show da sua vida abrindo com a música “Que país é esse”:
Terceiro mundo, se for
Piada no exterior
Mas o Brasil vai ficar rico
Vamos faturar um milhão
Quando vendermos todas as almas
Dos nossos índios num leilão
(In: <http://letras.terra.com.br/>, 2009).
Renato mostrava estar bem solto e feliz. Em alguns momentos percebia
certo tumulto entre as pessoas e parava para dar-lhes broncas. E não foi a única vez. Um
fã se agarrou em seu pescoço com força suficiente para matá-lo. Os seguranças
intervieram e quando foram levar o cara embora, Renato mandou soltá-lo, porém as
confusões não pararam e o vocalista já estava de saco cheio com aquelas atitudes
infantis dos brasilenses. E mais uma vez distribuiu duras broncas nas pessoas para poder
continuar o planejado. Depois da música Será, a banda se retira em menos de uma hora
de show. Quando perguntaram se eles iriam voltar, responde que punk era isso mesmo.
Na verdade, estava perturbado e furioso com tudo de errado que
aconteceu. E o público surpreso pela retirada, esperou por muitos minutos pelo regresso
46
da banda, mas quando percebeu que o show havia acabado se revoltou e as pessoas
passaram a agir como animais atrás da caça. E a caça era a banda, conforme Marcelo:
Garrafas e sapatos voam e despencam no palco. Os mais irados
arrancam as cercas metálicas que protegem o tablado reservado aos músicos,
e avançam nos equipamentos. Com golpes de cassetete, a polícia os
dispersa. Outros botam fogo nas lonas usadas para proteger o gramado. A
fumaça sobe. Os seguranças tiram as camisas de identificação e se
dispersam. (...). Do lado de fora, o distúrbio recomeça, com apedrejamento
de ônibus. Pedaços de vidro, cortes profundos, sangue no asfalto. A
emergência dos hospitais próximos fica repleta: quatrocentos atendimentos
médicos, quase duzentas pessoas feridas, a maioria com suspeita de fratura
ou sangramentos provocados por objetos cortantes. Na delegacia da Asa
Norte, o movimento também não pára de aumentar ao longo da madrugada:
já são 58 presos, sem contar a apreensão de 150 tubos de loló e um revólver
calibre 22. (MARCELO, p. 362, 2009).
Foram meses de perseguição contra a banda. Discos foram queimados em
Brasília, a fobia de Renato com o público aumentou, aqueles garotos agora estavam
sentindo o que era ser uma verdadeira banda de rock.
A partir desse momento, a Legião Urbana mudou. Tanto na formação,
quanto na postura. Renato Rocha, durante a gravação do álbum As Quatro Estações,
desentende-se com Marcelo Bonfá e acaba saindo. Renato Russo e Dado Villa-Lobos
revesam-se no baixo na hora de gravar as novas músicas: “Pais e Filhos”, “Há Tempos”,
“Monte Castelo”, “Meninos e Meninas” e mais outros sucessos. Dos sucessos desse
período o mais celebrado entre os fãs é “As Quatro Estações”. Essa música revela uma
mudança no som da banda. Quando tudo era mais agressivo, com refrões fortes, sempre
tendo a bateria como principal motor das músicas, mostrando ao Brasil letras críticas
sobre vários assuntos. A poesia de Renato começa a ganhar mais destaque do que
nunca, suas canções tornam-se inesquecíveis. Não que outros trabalhos não tenham isso,
mas, em 1989, é evidente o novo rumo. Esse ano foi o que marcou Renato.
A humanidade é desumana
Mas ainda temos chance,
O sol nasce pra todos,
Só não sabe quem não quer
Quando o Sol Bater na Janela do Teu Quarto – Legião Urbana
(In: <http://letras.terra.com.br/>, 2000).
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O quinto álbum não poderia ter um nome tão simples como “V”. Em
plena crise econômica, causada pelo plano Collor, Renato ganha uma surpresa
desagradável. Como Cazuza, ele também havia contraído o vírus da AIDS, porém,
diferente do amigo, nunca assumiu a doença publicamente.
Mas nem tudo eram pedras no caminho do músico, nesse mesmo tempo,
descobre que tem um filho (chamado com nome de santo: Giuliano) com uma fã
carioca. E nesse contexto, surgem clássicos como: “Metal Contra as Nuvens” (a música
mais longa da banda), “Vento no Litoral”, “Teatro dos Vampiros”, entre outros.
Em 1993, a banda lança seu sexto álbum intitulado O Descobrimento do
Brasil. Em seu repertório, temos a fantástica e antológica “Perfeição” e “Giz” que é a
música preferida de Renato Russo. O cantor se mostra otimista com a vida, com sua
recuperação da dependência química. Todo esforço realizado por seu filho. Renato
agora era pai, tinha responsabilidades maiores para não se entregar às drogas.
O fim estava chegando. Renato cansou. Não aguentava mais a vida que
levava. Não queria mais continuar com a Legião, nem fazer shows, gravar Cds. A forte
depressão começava a se manifestar sobre ele. Mesmo experimentando outros ares,
gravando discos solos como o Cd italiano, decidiu voltar ao estúdio e trabalhar no novo
e último álbum da banda: A Tempestade.
Quando tudo está perdido
Sempre existe um caminho
Quando tudo está perdido
Sempre existe uma luz...
Mas não me diga isso
Via Láctea – Legião Urbana
(In: <http://letras.terra.com.br/>, 2009).
Nos últimos três meses de sua vida, isolou-se em seu apartamento do
Rio, gravou praticamente no primeiro take quase todas as músicas do novo álbum, ou
seja, não voltou mais ao estúdio para gravar algumas partes que poderiam ter ficado
ruins. E realmente não houve isso. A Tempestade é o trabalho mais poético, profundo,
sincero e pessoal da Legião Urbana. Digamos que é um adeus de Renato Russo. Um
garoto chamado Juninho, que tinha ideias para mudar o mundo e com muita energia
moldou o pensamento e a maneira de viver de muitos jovens brasileiros. E se foi como
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um homem que queria mostrar o verdadeiro significado do amor, da amizade e da
solidão. Em uma entrevista, quando lhe foi perguntado sobre o que mais amava e do que
se arrependia, respondeu: “De nada... Só dos meus amigos, da minha família e de onde
há amor e perdão. Eu acho que nós estamos nos destruindo. É uma pena: a gente
realmente achava que iria mudar o mundo”. (MARCELO, 2009, 390).
Em 11 de Outubro de 1996, morre “O Trovador Solitário”, pesando
apenas 45 quilos. Os jornais revelam para sua mãe que o filho havia falecido por
complicações da AIDS. Seu pai, Renato Manfredini, morou na casa do filho nos últimos
dias de vida. Renato queria ter certeza que o pai o amava e o aceitava por ser o que era.
A sua morte teve um impacto enorme nos fãs e em todas as pessoas que o
admiravam de alguma maneira. O que não falta atualmente são homenagens em formas
de Cds, livros, documentários, filmes (futuramente lançados), tributos. O Brasil ainda
sente falta de um ídolo como ele. Melhor dizendo, o Brasil sente falta de Renato Russo.
Mas a Legião Urbana, mesmo encerrada onze dias depois de sua morte, sempre viverá
no coração de qualquer um que se considere da “geração coca-cola”.
49
4. Análise
Sob a forma de trabalho prático, procuramos realizar uma análise de uma
das composições de Renato Russo. Para tanto, escolhemos a música Perfeição do álbum
O Descobrimento do Brasil, de 1993. Trata-se de um texto que retrata toda
agressividade do início da carreira do compositor, mas também apresenta a transição
poética que já estava consolidando sua produção cultural. Como o próprio nome já
revela, esta música é perfeita em todos os sentidos. Uma verdadeira obra-prima, de
tantas que o cantor escreveu. Uma canção atemporal que não perdeu seu significado e,
infelizmente, mostra um cruel retrato da sociedade brasileira tanto na elite, quanto no
proletariado. Advém da constatação dessa crueldade pelo leitor a releitura da palavra
“Perfeição”, pois, paradoxalmente e ironicamente, conota que, no Brasil, a realidade é
absolutamente “imperfeita”, pois desigual:
Perfeição
Vamos celebrar a estupidez humana
A estupidez de todas as nações
O meu país e sua corja de assassinos
Covardes, estupradores e ladrões.
Vamos celebrar a estupidez do povo
Nossa polícia e televisão
Vamos celebrar nosso governo
E nosso estado que não é nação.
Celebrar a juventude sem escolas
As crianças mortas
Celebrar nossa desunião.
Vamos celebrar Eros e Thanatos
Persephone e Hades
Vamos celebrar nossa tristeza
Vamos celebrar nossa vaidade.
Vamos comemorar como idiotas
A cada fevereiro e feriado
Todos os mortos nas estradas
Os mortos por falta de hospitais.
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Vamos celebrar nossa justiça
A ganância e a difamação
Vamos celebrar os preconceitos
O voto dos analfabetos
Comemorar a água podre
E todos os impostos
Queimadas, mentiras e sequestros.
Nosso castelo de cartas marcadas
O trabalho escravo
Nosso pequeno universo.
Toda a hipocrisia e toda a afetação
Todo roubo e toda indiferença
Vamos celebrar epidemias
É a festa da torcida campeã.
Como já diz o ditado popular “ninguém é perfeito”, a letra expõe uma
crítica aos defeitos do nosso país, propriamente das pessoas que o fazem. E não é à toa
que Renato destaca a palavra estupidez. Essa é a principal causa encontrada pelo “eu
lírico” que se manifesta na letra para todos os males descritos: o motivo por ter aberto a
caixa de Pandora.
Se realmente somos animais racionais, como não conseguimos raciocinar
sobre uma maneira de vivermos em paz. Então, movidos pela estupidez, passamos por
cima de tudo e todos, valorizando o individualismo. Como podemos notar nas
passagens “E nosso estado que não é nação‖ e ―Celebrar nossa desunião‖.
Nessa parte, podemos perceber referências aos poderes usados pelo
estado para controlar as pessoas como a polícia sendo a força bruta e a televisão com
seu papel de manipulação. E a crítica mais forte dirige-se para o governo com versos
que denunciam o abandono e o descaso com a saúde e a educação: “Celebrar a
juventude sem escolas‖ e ―Os mortos por falta de hospitais‖. Direitos de qualquer
cidadão. Sem deixar esquecer a acomodação do povo diante de tantas tragédias que
acabam se tornando banais por já fazerem parte de suas rotinas. Claramente mostrados
nos seguintes versos:
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Toda a hipocrisia e toda a afetação,
Todo roubo e toda indiferença
Vamos celebrar epidemias
É a festa da torcida campeã.
Além de mostrar vários problemas sociais no decorrer da letra, Renato
cita nomes dos Deuses Eros (Amor), Thanatos (Morte), Persephone (Destruição) e
Hades (Submundo), colocando o sentimento Amor como uma forma de trazer a dor. E
como uma celebração, Renato convoca a todos a repensarem seus erros:
Vamos celebrar a fome
Não ter a quem ouvir
Não se ter a quem amar
Vamos alimentar o que é maldade
Vamos machucar o coração.
Vamos celebrar nossa bandeira
Nosso passado de absurdos gloriosos
Tudo que é gratuito e feio
Tudo o que é normal
Vamos cantar juntos o Hino Nacional
A lágrima é verdadeira
Vamos celebrar nossa saudade
Comemorar a nossa solidão.
Vamos festejar a inveja, a intolerância, a incompreensão
Vamos festejar a violência
E esquecer a nossa gente que trabalhou honestamente a vida
inteira
E agora não tem mais direito a nada.
Vamos celebrar a aberração de toda a nossa falta de bom
senso
Nosso descaso por educação
Vamos celebrar o horror de tudo isto
Com festa, velório e caixão
Tá tudo morto e enterrado agora
Já que também podemos celebrar
A estupidez de quem cantou essa canção.
A opção do compositor pela referência à mitologia grega, além de atuar
sobre o imaginário coletivo do seu público leitor, revela a sua formação cultural e sua
capacidade de aliar cultura erudita a uma produção popular: rock.
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Assim pode-se observar que a produção de Renato Russo diminui o hiato
entre as formas ditas cultas e as populares. Russo opta por uma linguagem simples,
própria do Modernismo, pois filiada ao coloquial, para tratar de temas tão complexos>
Desse modo, permite que o leitor, mesmo aquele desconhecedor de mitologia,
compreenda o tom de denúncia social presente na letra.
Assim, a música apresenta-se como um produto aberto que não exclui
seu público receptor, mas pela intertextualidade, convoca-o a níveis mais profundos de
interpretação, pois solicita sua interação, ou seja, uma relação dialógica e comunicativa
que só pode ser efetuada, por meio de sua memória tanto sobre a realidade social,
quanto sobre sua herança cultural.
No final da canção, o poeta reforça o sentimento do individualismo. Da
solidão entre os seres humanos: “Não ter a quem ouvir‖ e ―Não se ter a quem amar‖.
Justamente, com essa solidão e muitas outras variações de sentimentos de angústia,
Renato sofreu durante sua vida. Assim, conheceu a solidão provocada pela recusa do
convívio com os jovens de Brasília, a solidão pelo segredo da homossexualidade que,
quando revelado causou profundos traumas em sua família, a solidão da morte lenta
provocada pela AIDS e, finalmente, a solidão de se omitir da revelação da doença, de se
ocultar da mídia e de todos, sobretudo, de si mesmo.
O governo, o povo e até o patriotismo são postos à prova em: “Vamos
celebrar nossa bandeira, nosso passado de absurdos gloriosos‖. Nota-se a denúncia de
uma história brasileira feita de golpes e de mortes de verdadeiros heróis.
A ironia claramente perpassa toda música, cada verso é como se fosse
uma alfinetada nos olhos da população para enxergar sua própria realidade. Nos dois
últimos, temos a seguinte declaração: “Já que também podemos celebrar a estupidez de
quem cantou essa canção.‖ Agora que não há mais censura como na ditadura, ele pode
se incluir na sua própria crítica, pois também é um brasileiro. E celebrar com todos a
nossa pior face.
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Venha!
Meu coração está com pressa
Quando a esperança está dispersa
Só a verdade me liberta
Chega de maldade e ilusão
Venha!
O amor tem sempre a porta aberta
E vem chegando à primavera
Nosso futuro recomeça
Venha!
Que o que vem é Perfeição
No plano da retórica pode-se observar a exploração de rimas externas nos
seguintes versos:
O amor tem sempre a porta aberta
E vem chegando à primavera
Nosso futuro recomeça
A canção ainda é composta por versos livres. Não há preocupação com a
métrica, nem com a rima exata. Renato utiliza na escrita uma linguagem coloquial, pois
a música se aproxima da uma prosa, transformando-se numa convocação a todos que
estão ouvindo. Além de ser uma leitura crítica da realidade brasileira.
Renato Russo encerra a composição com um suspiro de esperança para o
nosso Brasil. E como a primavera que é a primeira estação do ano, quando nascem as
flores, o amor deve nascer dos nossos corações e fazer com que acreditemos que sempre
há um recomeço. E o que conseguirmos será a melhor conquista, será perfeita.
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Conclusão
Neste trabalho propomo-nos mostrar que o rock brasileiro, na década de
1980, serviu como uma forma de comunicação e de instrumento de conscientização para
nossos jovens acerca da realidade social. Além de ser utilizado como meio de protesto
contra a política, sociedade, preconceitos, a própria juventude, ou seja, o Brock serviu
como uma estrutura para uma nova geração que procurava nas músicas uma saída de
suas vidas vazias.
O nosso objeto de estudo, a banda Legião Urbana, mostrou que como
uma banda de rock pode em um determinado momento influenciar e mobilizar pessoas
contra tudo que se prega. Tanto nas letras e nas atitudes de seu vocalista Renato Russo,
a Legião Urbana chegou ao ponto de se tornar uma religião. Sem exageros, a banda
certamente se tornou uma reflexão do que foi os anos 1980, em Brasília, e pelas grandes
cidades do país. Tornando-se um ponto de referência para todos que procuram entender
as angústias de uma juventude sem rumo daquela época.
Renato Manfredini Junior soube expressar de uma maneira impecável
várias fases de sua vida: desde seu apego ao punk rock no começo da carreira, até seu
aprofundamento na música clássica e em temas mais complexos nas canções. Esse
amadurecimento em sua vida justifica-se por seus problemas pessoais, como a AIDS, o
alcoolismo, o preconceito pela sua decisão sexual e a sua solidão por nunca ter
conseguido encontrar um grande amor. Essas constatações puderam ver verificadas
tanto pelos dados históricos sobre a vida do compositor, quanto pelas letras de suas
canções. Associando a sua experiência de vida com os acontecimentos sócio-históricos
do período de sua produção, pode-se concluir que a juventude abraçou suas idéias, pois
elas transmitem praticamente os mesmos problemas que vivenciam, logo há uma
profunda identificação do público receptor com a produção de Renato Russo. A
atemporalidade das questões humanas que suas letras apresentam pode ser verificado
até hoje, pois outras gerações as apreciam, uma vez que a sociedade pós-industrial
55
continua sendo narcisista e egocêntrica. Assim, prevalece o individualismo em
detrimento do convívio social e dos interesses coletivos.
Com a análise da música “Perfeição”, da Legião Urbana, pudemos
confirmar a hipótese de que o rock, quando dedicado ao social, pode atuar como um
significativo instrumento de denúncia social e de conscientização das pessoas.
Concluímos com esse estudo que o rock brasileiro não é apenas um estilo
musical. Como produto cultural, ele tanto pode tanto levar à conscientização e, assim,
assumir estatuto emancipatório, como pode adequar-se aos anseios comerciais de
mercado, visando à obtenção de lucros somente.
Todavia, vale destacar que, quando o produto cultural possui cunho
artístico, ele consegue aliar ganho financeiro a posicionamento crítico. Assim, é a
produção da Legião Urbana que soube mais do que qualquer outra banda juntar o
comercial à preocupação artística nas músicas, tornando-se uma verdadeira poesia para
todos.
56
Bibliografia
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SENAC, 2003.
DAPIEVE, Arthur. BROCK: O rock Brasileiro dos anos 80. São Paulo: Editora 34,
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FRÓES, Marcelo. Jovem Guarda: Em Ritmo de Aventura. Editora 34, ano 2000.
GASPARI, Élio. A ditadura derrotada. Editora Companhia das Letras, Ano 2003.
MARCELO, Carlos, 1970 – Renato Russo: o filho da revolução / Carlos Marcelo. –
Rio de Janeiro: Agir, 2009.
ORTIZ, Renato. A moderna tradição brasileira: cultura brasileira e indústria cultural.
5. ed. 4. reimpr. São Paulo: Brasiliense, 2001. 222p.
RIDENTI, Marcelo. Em Busca do Povo Brasileiro: artistas da revolução, do CPC à era
da TV. Rio de Janeiro: Record, 2000.
RODRIGUES, Marly. A década de 80 – Brasil: quando a multidão voltou às praças.
São Paulo: Ática, 1992.
RODRIGUES, Nelson Antônio Dutra. Os estilos literários e letras de músicas
popular brasileira/Nelson Antônio Dutra Rodrigues. – São Paulo: Arte e Ciência,
2003.
TORRETI, Natália Garcia; ORLANDI, Flávio Cesar dos Santos. Xeque mate musical:
produto de venda ou veículo cultural? 123p. Fundação Educacional do Município de
Assis – Fema: Assis, 2007
DVD
Aborto Elétrico – Capital Inicial. MTV Especial. Direção do documentário: Lígia
Ramos. Sony & BMG, 2006.
Televisão
Por toda a minha vida – Especial Renato Russo. Direção do documentário: Ricardo
Waddington. Rede Globo, 2007.
57
Referências eletrônicas
REUTERS. Sex Pistols anunciam turnê de retorno 30 anos após primeiro álbum.
Disponível em: <http://musica.uol.com.br/ultnot/reuters/2007/11/08/ult279u6763.jhtm>.
Acesso em: 19 out. 2009.
Diego Assis. 40 anos depois Woodstock sai do armário. Disponível em:
<http://g1.globo.com/Noticias/Musica/0,,MUL1266658-7085,00ANOS+DEPOIS+WOODSTOCK+SAI+DO+ARMARIO+UM+GAY+SALVOU+O+F
ESTIVAL.html>. Acesso em: 19 out. 2009.
58
ANEXOS
Anexo I
Discografia
1985
Legião Urbana
01. Será
02. A dança
03. Petróleo do futuro
04. Ainda é cedo
05. Perdidos no espaço
06. Geração Coca-cola
07. O reggae
08. Baader-Meinhof blues
09. Soldados
10. Teorema
11. Por enquanto
59
1986
Dois
01. Daniel na cova dos leões
02. Quase sem querer
03. Acrilic on canvas
04. Eduardo e Monica
05. Central do Brasil
06. Tempo perdido
07. Metrópole
08. Plantas embaixo do aquário
09. Música urbana
10. Andrea Doria
11. Fábrica
12. Índios
60
1987
Que País é Esse?
01. Que país é este?
02. Conexão amazônica
03. Tédio (Com um T bem grande pra você)
04. Depois do começo
05. Química
06. Eu sei
07. Faroeste caboclo
08. Angra dos Reis
09. Mais do mesmo
61
1989
As quatro estações
01. Há tempos
02. Pais e filhos
03. Feedback song for a dying friend
04. Quando o sol bater na janela do teu quarto
05. Eu era um lobisomem juvenil
06. 1965 (Duas tribos)
07. Monte Castelo
08. Maurício
09. Meninos e meninas
10. Sete cidades
11. Se fiquei esperando meu amor passar
62
1991
V
01. Love song
02. Metal contra as nuvens
03. A ordem dos templários
04. A montanha mágica
05. O teatro dos vampiros
06. Sereníssima
07. Vento no litoral
08. O mundo anda tão complicado
09. L‟age d‟or
10. Come share my life
63
1992
Música para Acampamento
CD 1:
01. Fábrica
02. Daniel na cova dos leões
03. A canção do Senhor da Guerra
04. O teatro dos vampiros
05. Ainda é cedo
06. A montanha mágica
• You‟ve lost that lovin‟feelin‟ (B.Mann-C.Weil-P.Spector)
• Jealons Guy (Lennon)
• Ticket to Ride (Lennon-McCartney)
07. Eu sei
08. Índios
CD 2:
01. A dança
02. Mais do mesmo
03. Soldados
• Blues da Piedade (Roberto Frejat-Cazuza)
• Faz parte do meu show (Renato Ladeira-Cazuza)
• Nascente (Flávio Venturini-Murilo Antunes)
04. Música urbana 2
05. On the way home
06. Maurício
07. Há tempos
08. Pais e Filhos
09. Faroeste caboclo
10. Exit music: Rhapsody in blue
64
1993
O descobrimento do Brasil
01. Vinte e nove
02. A fonte
03. Do espírito
04. Perfeição
05. O passeio da Boa Vista
06. O descobrimento do Brasil
07. Os barcos
08. Vamos fazer um filme
09. Os anjos
10. Um dia perfeito
11. Giz
12. Love in the afternoon
13. La nuova groventú
14. Só por hoje
65
1996
Tempestade
01. Natália
02. L‟Avventura
03. Música de trabalho
04. Longe do meu lado
05. A via Láctea
06. Música ambiente
07. Aloha
08. Soul Passifal
09. Dezesseis
10. Mil pedaços
11. 1º de julho
12. Esperando por mim
13. Quando você voltar
14. O livro dos dias
66
1997
Uma outra estação
01. Riding song
02. Uma outra estação
03. As flores do mal
04. La maison dieu
05. Schubert Ländler
06. Clarisse
07. A tempestade
08. High noon (Do not forsake me)
09. Comédia romântica
10. Dado viciado
11. Marcianos invadem a terra
12. Antes das seis
13. Mariane
14. Sagrado coração
15. Travessia do eixão
67
1998
Mais do mesmo
01. Será
02. Ainda é cedo
03. Geração Coca-cola
04. Eduardo e Mônica
05. Tempo perdido
06. Índios
07. Que país é este
08. Faroeste caboclo
09. Há tempos
10. Pais e filhos
11. Meninos e meninas
12. Vento no litoral
13. Perfeição
14. Giz
15. Dezesseis
16. Antes das seis
68
1999
Acústico MTV
01. Baader meinhof blues
02. Índios
03. Mais do mesmo
14. Pais e filhos
05. Hoje a noite não tem luar [Hoy me voy para México]
06. Sereníssima
07. O teatro dos vampiros
08. On the way home
09. Head on
10. The last time I saw Richard
11. Metal contra as nuvens
12. Há tempos
13. Eu sei
14. Faroeste Caboclo
69
2001
Como é que se diz eu te amo (ao vivo)
CD 1:
01. Será
02. Eu sei
03. La nuova ventú
04. Ainda é cedo
05. Daniel na cova dos leões
06. Vinte e nove
07. Um dia perfeito
08. Os anjos
09. 1965 (Duas tribos)
10. Monte Castelo
11. Quando o sol bater na janela do teu quarto
12. Geração Coca-Cola
13. O teatro dos vampiros
14. Meninos e meninas
CD 2:
01. Faroeste caboclo
02. Pais e filhos
03. Tempo perdido
04. Giz
05. O descobrimento do Brasil
06. Eduardo e Mônica
07. Vento no litoral
08. Há tempos
09. Índios
10. Perfeição
11. Andrea Doria
12. Vamos fazer um filme
13. Que país é este
70
2004
As Quatro Estações (ao vivo)
CD 1:
01. Fábrica
02. Daniel Na Cova Dos Leões
03. O Reggae
04. Há Tempos
05. Meninos E Meninas
06. Pais E Filhos (Stand By Me)
07. Maurício (She Loves You)
08. Feedback Song For A Dying Friend
09. 1965 (Duas Tribos)
10. Monte Castelo
11. Se Fiquei Esperando Meu Amor Passar
CD 2:
01. Ainda É Cedo/I Can´t Get No/Rock Around The Clock
02. Geração Coca-Cola
03. Eu Sei
04. Angra Dos Reis
05. Tempo Perdido
06. Soldados
07. Quase Sem Querer
08. Será
09. Índios
10. Faroeste Caboclo
Fonte: http://alexsala.kit.blog.br/2009/06/16/legiao-urbana-discografia/
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