4º Capítulo: Propriedades Mecânicas de Polímeros 4.1 Comportamento mecânico: algumas definições Na mecânica clássica, as propriedades mecânicas dos sólidos elásticos podem ser descritas pela lei de Hooke, que afirma que ao aplicar-se uma tensão σ ao material, se verifica uma deformação ε que lhe é proporcional, sendo a tensão independente da velocidade de deformação. Quando esta tensão σ é retirada, o corpo recupera completa e instantaneamente a sua forma inicial. σ = Eε em que E é o módulo de Young As propriedades dos líquidos, por seu lado, são descritas pela lei de Newton. Um fluido Newtoniano não consegue suportar deformações e a resposta instantânea a uma tensão é o escoamento viscoso. A tensão é independente da deformação, mas proporcional à velocidade de deformação: σ =η dε dt em que η é o coeficiente de viscosidade 4.1 Comportamento mecânico: algumas definições (cont.) Os materiais poliméricos apresentam um comportamento intermédio entre o de um sólido elástico, Hookeano, e de um líquido viscoso, Newtoniano. Apresentam frequentemente contribuição de ambos os tipos de resposta, e a predominância de carácter viscoso ou elástico da resposta a uma solicitação mecânica depende essencialmente da escala de tempo da experiência: A aplicação de uma tensão durante um intervalo de tempo longo provoca normalmente um escoamento viscoso, e portanto deformação permanente no polímero. A aplicação de uma deformação muito rápida não dá tempo às moléculas de polímero, longas e entrelaçadas, de se ajustarem à deformação aplicada, induzindo uma resposta elástica. Verifica-se que tanto o módulo de elasticidade, E, como a viscosidade, η, variam com a forma como a experiência foi realizada. Este tipo de comportamento é classificado como comportamento viscoelástico 4.1 Comportamento mecânico: algumas definições (cont.) Considere-se um paralelepípedo de comprimento x0 e secção transversal A0 = y0z0, sujeito a um par de forças de tracção equilibradas, F, que aumenta o seu comprimento para x0+dx e obedece à lei de Hooke Medindo a força por unidade de área e definindo a deformação como a extensão por unidade de comprimento (i.e. εx= dx ), será: xO dx F =E x0 A Ou seja, σ = Eε O comportamento de plásticos sujeitos a cargas durante intervalos curtos pode ser estudado ensaiando-os à tracção uniaxial em condições normalizadas; estes ensaios são realizados com velocidade de deslocamento (ou deformação) constante 4.1 Comportamento mecânico: algumas definições (cont.) A figura seguinte mostra o esboço de uma curva tensão-deformação para um material polimérico. À medida que a tensão aumenta, o declive deixa de ser constante. O declive da parte inicial da curva designa-se por módulo de elasticidade, ou módulo de Young Verifica-se que a relação tensão-deformação pode não ser linear logo desde o início da deformação; define-se, por isso, o módulo como o declive da secante que liga a origem da curva tensão-deformação a um ponto arbitrário (tipicamente 0,2% ou 1% de deformação) – módulo secante A E = OA = tg χ OB σ χ 0 ε B 4.2 Comportamento mecânico dos polímeros 4.2 Comportamento mecânico dos polímeros Módulo de elasticidade: Polímero dúctil (borracha) ≈ 7 MPa Polímero rígido ≈ 4 Gpa Metais: 40-400 Gpa Tensão de rotura: Polímeros ≤ 100 MPa Ligas metálicas: 200-400 MPa 4.3 Variação do comportamento mecânico com a temperatura Curvas tensão-deformação para o PMMA (polimetilmetacrilato) entre 4 e 60 ºC. Variações que se observam com a temperatura: Diminuição do módulo de elasticidade Diminuição da tensão de rotura e cedência Aumento do alongamento à rotura (deformação à rotura) 4.3 Variação do comportamento mecânico com a temperatura (cont.) O módulo e a resistência à tracção variam na razão inversa da temperatura a que se realiza o ensaio; a temperatura influencia profundamente o comportamento do material e, por isso, também a forma das curvas tensão-deformação — esta influência é visível nas curvas determinadas para o acetato de celulose (a) e o PMMA (b) a várias temperaturas: 4.4 Variação do comportamento mecânico com a velocidade de deformação A diminuição da velocidade da deformação, ε , tem o mesmo efeito que o aumento de temperatura: o material comporta-se de forma mais dúctil, mais deformável 4.4 Variação do comportamento mecânico com a velocidade de deformação (cont.) O módulo depende da velocidade do ensaio, aumentando com ela de forma não proporcional; a velocidade muito elevada (acima de 1 m/s), as moléculas não têm tempo de se deformar e o material torna-se rígido e frágil — caso do poli(metacrilato de metilo) – PMMA: 4.5 Comportamento tensão-deformação para polímeros termoplásticos amorfos 4.5 Comportamento tensão-deformação para polímeros termoplásticos semi-cristalinos 4.6 Tipos de rotura de polímeros em tracção uniaxial Quando os plásticos são ensaiados à tracção podem manifestar um comportamento frágil ou dúctil, traduzido na rotura A rotura frágil verifica-se quando o material rompe a valores muito baixos de ε, não apresentando deformação permanente; é o caso de todos os polímeros abaixo de Tg, nomeadamente as curvas do acetato de celulose e do PMMA a 248 e 277 K Verifica-se a rotura dúctil quando o material pode apresentar uma deformação plástica permanente antes de partir; podem identificar-se 4 tipos de rotura dúctil – estiramento, estricção seguida de rotura, grande deformação sem estricção e deformação com variação uniforme de secção 4.6 Tipos de rotura de polímeros em tracção uniaxial (cont.) Quando há estiramento o plástico cede num ponto determinado (ponto de cedência), no qual se forma uma estricção associada ao aparecimento de microvazios e consequente embranqueamento; no “pescoço” assim formado as moléculas deslizam umas em relação às outras e alinham-se na direcção de tensão, provocando cristalização induzida e tornando o material resistente na direcção da orientação O estiramento pode continuar até valores muito grandes da deformação ocorrendo a rotura ao atingir-se a tensão limite; o material apresenta fibrilação na zona de rotura – caso do polipropileno e do polietileno de alta densidade Cedência Cedência σ Rotura ε Rotura σ ε 4.6 Tipos de rotura de polímeros em tracção uniaxial (cont.) Quando a temperatura aumenta, certos polímeros, frágeis à temperatura ambiente, podem apresentar um comportamento dúctil do tipo estiramento; a transição frágil-dúctil do acetato de celulose ocorre entre os 248 e os 273 K, a do PMMA perto dos 320 K Verifica-se estricção seguida de rotura quando ocorre a rotura logo a seguir ao aparecimento do pescoço, como, por exemplo, no PVC rígido; observa-se grande deformação sem estricção quando, a seguir ao ponto de cedência, se formam microvazios no interior do polímero sem que ocorra uma variação sensível da secção — é o caso do poliestireno resistente ao impacto que, à temperatura ambiente, se deforma deste modo até 40% de alongamento Os polímeros pouco recticulados, como as borrachas, podem suportar grandes deformações sem estricção, reversíveis quase até à rotura, sofrendo, contudo, uma redução uniforme de secção; este tipo de comportamento não vai ser agora estudado