Hermínio Duarte-Ramos Director de Electricidade Engenharia Electrotécnica e de Computadores Entramos no século XXI com a infância dos imagiologia (médica ou industrial) apelam pela Naturalmente, a realidade diagnosticada tem computadores. Naturalmente, desencantamos reflexos na revista Electricidade. MaiS que nunca, electrotécnica moderna. Os impressionantes potencialidades extraordinárias na utilização veículos de transporte (terrestre ou aéreo e mesmo agora temos que mostrar a sua vocação de amigável destas ferramentas da moderna tec- cósmico) clamam pela modemidade electrotécnica. memória activa das actividades electrotecnicas nologia. Cada dia que passa sentimos mais um Os inúmeros sistemas automáticos (em máquinas em Portugal. A história constrói-se de registos. raio de luz no imenso universo das capacidades e instalações) requerem a participação básica dos E não são as construções patrimoniais. computacionais. São os engenheiros a rejubilar, electrotécnicos. recheadas de ingred ientes dispersos (onde se quando ampliam os horizontes das descobertas. Em todo este imenso universo de aplicações diluem as contribuições electrotécnicas) que Mas também os fazedores de epistemologias pres- está subjacente o novo perfil de engenheiro deixam evidenciar os tons exactos da nossa sentem um mundo novo nas estruturas materiais electrotécnico e de computadores. Por alguma cultura sectorial. Porque a degradação material e logiciais dessas máquinas. Os mais afoitos en- razão, as licenciaturas universitárias deixaram de reduz a escombros toda a realidade erguida tre os filósofos, incapazes de perceber o que se se designar, como era tradição, por engenharia enquanto as palavras continuam sempre a passa nas entranhas tecnológicas, emanam Electrotécnica (taut caurt) e passaram a chamar- construir ideias. Perante esta constatação, adqUire redobrado lucubrações espantosas para os humanos comuns: -se Engenharia Electrotécnica e de Computadores. o nosso cérebro será como um computador? Estra- A experiência mostra claramente como os novos interesse , a manutenção da publicação desta nhamente, a discussão cérebro-computador, numa alunos preferem os cursos onde se evidencia o revista. E claro, inserida no tempo actual. Tanto versão contemporânea do tradicional problema estudo e a utilização de computadores. Bem dentro nos conteúdos como nas formas gráficas alma-corpo (que já vem dos gregos antigos), inverte do espírito do tempo. Repare-se: para além da (paginação, papel, cor, quantidade de páginas e electrónica, mas sem a excluir nas arquitecturas. periodicidade) e ainda nos apoios publicita rios. a realidade das coisas. De facto, é o computador Dentro desta perspectiva, os engenheiros O esforço dos últimos anos tem sido penoso que imita o cérebro, ainda numa perspectiva muito desfocada. A questão põe-se ao contrário: o electrotécnicos afirmam-se nas equipas de Mas estamos em crer que valeu a pena resstr. projectos e nas realizações globais. Já passou a Anima-nos a esperança de que os responsáveis computador poderá vir a ser como o cérebro humano? É assim que a engenharia (electrónica e época em que um projecto era adjudicado por I empresariais do sector electrotécnico, prefereninformática) irá dar os passos mutacionais na partes: de um lado a construção civil, do outro as cialmente na dimensão global de uma evolução da biónica. Um processo que chama os implantações mecânicas, ainda noutro as electrotécnica moderna, estão a entender a nossa engenheiros electrotécnicos das futuras gerações. instalações eléctricas, mais longe as infraestruturas mensagem. E, para demonstrar o anseio de comunicação, etc. O dono de uma obra esperançoso que nos anima, subtttulamos a revista É claro que a engenharia electrotécnica tradicional não persegue estes objectivos. Quer complexa prefere entregar a responsabilidade do Electricidade com a expressiva etiqueta de "revista dizer, às funções clássicas do engenheiro acres- todo a um único interlocutor, o qual se encarrega portuguesa de engenharia electrotécnica e de • centam-se agora outras vertentes. Ainda há poucas de constituir múltiplas equipas (por subcontratação) computadores" . A seguir anuncia-se Ur1l novo suporte gerencial, semanas ouvi um ex-ministro da nossa Indústria, que efectuam os trabalhos necessários. O mesmo com formação básica em engenharia electrotécnica acontece na investigação e desenvolvimento, com residente no LABELEC do Grupo EDP. E proclama-se a necessidade de cativar novos públicos, que (mas afastado para a área económica), dizer o conceito de promotor-líder. Não admira, portanto, que os cursos uni- são afinal os jovens licenciados portugueses e os espontaneamente, numa palestra, que os grandes impulsos tecnológicos da actual civilização se versitários se ajustem às exigências do mercado e novos empresários no multiforme mercado de centraram na mecânica durante o século XIX, procurem formulações flexíveis e interdisciplinares, PMEs. Admitindo que se decde consolidar esta depois na electricidade e electrónica (incluindo os que interligue.m as suas linhas fundamentais de I infraestrutura editorial, sempre leve e flexível. mas computadores) do século XX, prevendo-se o prin- ' investigação. E nesta tendência que o electrotécnico robusta. E que garanta o prestígio, nacional e cipal impacto da biologia no século XXI. A aparece associado ao biólogo, preservando o internacional, que a Electricidade qualitatívamente protagonismo da electrotecnia no centro dos deve reportar. conclusão veio logo de seguida: os engenheiros Quando a competição com a fácil acessibilidade electrotécnicos perderam o seu lugar de impulsos civilizacionais à entrada do século XXI. Pode-se argumentar que a actividade exercida à Internet se torna moda e inevitável, a impressão intervenção privilegiada na evolução societal. Não é bem assim. Hoje a Universidade não pouco ou nada tem a ver com a electrificação dos em papel tem de responder com as suas melhores ministra a mesma formação de há trinta anos. Os territórios, ao contrário do que se verficou na armas. uma revista agradavel de manusear na desenvolvimentos científicos em muitas áreas segunda metade do século XX. Mas isso não retira forma e profunda no conteúdo com rigor e utilida(teoria de sinais e teoria de sistemas, por exemplo) importância societal às novas gerações de de. Para isso, torna-se indispensável dispor de levaram a interdisciplinaridades eficazes na vida engenheiros electrotécnicos. Até lhes concede meios adequados Que começam pelos comprofissional, como a biomedicina, a biónica, a melhores oportunidades de intervenção nos putadores. Quando já só nos restam esterograficas sem recargas. ri robótica. Os prodigiosos equipamentos de sectores económicos. 'I I electncidade, nO 392, Jan-Fav. 2002 3