Novas drogas tentam 'turbinar' defesas do corpo contra o câncer MARIANA VERSOLATO ENVIADA ESPECIAL A CHICAGO (EUA) A estratégia de ativar o sistema imune contra o câncer está no centro das atenções do encontro anual da Asco (Sociedade Americana de Oncologia Clínica), em Chicago. Uma série de estudos sobre drogas que agem dessa forma foi apresentada nesta segunda-feira (3) na conferência, com resultados chamados de "impressionantes" por palestrantes e mediadores, apesar de estarem ainda em fase inicial. O entusiasmo com esse método ganhou força em 2011, quando o imunoterápico ipilimumabe mostrou, pela primeira vez, aumento de sobrevida em doentes com melanoma avançado (tipo mais agressivo de câncer de pele). Agora, a imunoterapia apresenta bons resultados em outros tipos de tumor. Dados sobre duas drogas experimentais que agem com base no mesmo mecanismo foram mostrados ontem. Ambas aumentaram a sobrevida e reduziram tumores em pacientes com diferentes tipos de câncer avançado que já haviam feito outros tratamentos, sem sucesso. "As respostas para pulmão e rim são elevadas, como nunca tinham sido vistas nesses pacientes", afirma Fernando Maluf, chefe de oncologia do Centro Oncológico Antônio Ermírio de Moraes da Beneficência Portuguesa. Segundo o médico, impressiona a durabilidade da resposta --em um dos estudos, com uma droga chamada nivolumabe, dois terços dos pacientes nos quais o tratamento surtiu efeito continuaram a reagir contra o tumor depois do fim da terapia. "A persistência da reação mostra que o remédio restabelece o equilíbrio entre o sistema imune e o câncer", disse Suzanne Topalian, professora da Universidade Johns Hopkins (EUA) e autora do estudo com esse medicamento. CAMUFLAGEM O alvo da terapia é uma camuflagem do tumor contra as defesas do organismo resultado da interação entre duas proteínas: PD-1 e PD-L1. A primeira é expressa pelas células do sistema imune, como parte do mecanismo de defesa. O problema é que o tumor, para se proteger, expressa a proteína PD-L1, que bloqueia a reação do corpo contra as células cancerosas. A ideia é combater esse efeito para que o tumor volte ao radar do sistema imune. O nivolumabe, anticorpo que ataca a PD-1, foi testado em 304 pessoas. As taxas de reação foram altas para pacientes com doença avançada: entre os com melanoma, 31% responderam à droga. Para câncer renal e de pulmão, as taxas foram de 29% e 16%. A média de sobrevida foi, respectivamente, de 24, 12 e 17 meses. Outra droga é um anti-PD-L1, que reduziu o tumor em doentes com melanoma e câncer de pulmão, rim, colorretal e do aparelho digestivo. A taxa de resposta foi de 21% dos 140 pacientes, e 26 deles continuaram a reagir à terapia após a última dose. O próximo passo, diz Maluf, é ampliar os estudos. "Essa é a bola da vez, e os laboratórios estão correndo para lançar as drogas." Seis pesquisas de fase 3 (última antes da aprovação de um remédio) estão em curso. Editoria de Arte/Folhapress Remédios estimulam sistema imune contra o câncer A jornalista MARIANA VERSOLATO viajou a convite da Novartis