Estudo revela mecanismo que faz câncer se espalhar

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Hospital AC Camargo
18/07/2012
Folha Online - SP
Tópico: HOSPITAL AC CAMARGO
Editoria: Ciência e Saúde
Pg: 05:15:00
Estudo revela mecanismo que faz câncer se espalhar
Reinaldo José Lopes
Uma equipe internacional de pesquisadores, incluindo brasileiros do Hospital A.C. Camargo
(SP), pode ter dado um passo importante para bloquear o insidioso processo por meio do qual
o câncer se espalha pelo organismo.
Eles mostraram que uma espécie de bolha microscópica, que lembra uma "minicélula", é capaz
de carregar as sementes de um novo tumor para partes distantes do corpo, preparando essas
áreas para receber a doença.
Se for possível bloquear a ação dessas "bolhas", os médicos teriam em mãos uma defesa
importante contra a metástase, como é conhecido o espalhamento do câncer pelo organismo
do doente.
A quantidade e o conteúdo das "minicélulas" também poderiam trazer pistas importantes sobre
a gravidade de determinado câncer e sobre a resistência do tumor a medicamentos, explica a
bioquímica Vilma Martins, pesquisadora do A.C. Camargo. "Pode ser uma ferramenta muito
poderosa para os oncologistas", afirma ela.
Martins assina um estudo sobre o tema que acaba de ser publicado na revista científica "Nature
Medicine". A equipe de cientistas, coordenada por David Lyden, da Faculdade Médica Weill
Cornell, em Nova York, identificou sinais intrigantes do papel das "bolhas" -conhecidas
tecnicamente como exossomos- num câncer que costuma afetar a pele, o melanoma.
UM CORPO QUE SAI
Os termos gregos que formam a palavra "exossomo" podem ser traduzidos exatamente da
maneira acima: "um corpo que sai" da célula, como uma espécie de mensageiro, de acordo
com o que pesquisas recentes mostram. "É uma área de pesquisa bastante nova", diz Martins.
Os exossomos se formam no interior das células e apresentam uma membrana composta por
uma camada dupla de gordura -exatamente como a membrana das células "verdadeiras" (veja
quadro).
Em seu interior, podem carregar vários tipos de molécula, inclusive material genético.
Atravessam com facilidade a membrana das células e levam essa carga para outras células.
"Parece um método eficiente de sinalização celular", explica Martins.
O problema é que, como mostrou o trabalho da bioquímica e seus colegas, essa sinalização
pode ser facilmente usada para o mal. Em pessoas com melanoma, por exemplo, os
exossomos produzidos carregam uma quantidade maior de proteínas ligadas ao câncer
quando o tumor da pessoa é mais grave.
Quando injetadas em camundongos junto com células tumorais, as "minicélulas" facilitaram a
formação de tumores, carregando substâncias que ajudam a recrutar células formadoras de
vasos sanguíneos.
É que os cientistas apelidam de "criação de nicho" para o tumor: um local cheio de nutrientes
trazidos pelos vasos para que o vilão possa crescer. E os vasos também ficam mais
permeáveis -o que facilitaria a penetração das células tumorais. O desafio, agora, é aprender a
bloquear o processo.
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