FACULDADE DE ESTUDOS SOCIAIS DO ESPÍRITO SANTO – PIO XII CURSO DE GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS CONTÁBEIS DERILDA FURLAN JUSTI ROCHA HARMONIZAÇÃO INTERNACIONAL DAS PRÁTICAS CONTÁBEIS – UMA NECESSIDADE DO MUNDO GLOBALIZADO Cariacica Outubro/2006 DERILDA FURLAN JUSTI ROCHA HARMONIZAÇÃO INTERNACIONAL DAS PRÁTICAS CONTÁBEIS – UMA NECESSIDADE DO MUNDO GLOBALIZADO Trabalho Acadêmico apresentado ao Curso de Graduação em Ciências Contábeis da Faculdade de Estudos Sociais do Espírito Santo, como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel em Ciências Contábeis. Orientador: Prof. Gilson Daniel Batista Cariacica Outubro/2006 ii DERILDA FURLAN JUSTI ROCHA HARMONIZAÇÃO INTERNACIONAL DAS PRÁTICAS CONTÁBEIS – UMA NECESSIDADE DO MUNDO GLOBALIZADO Trabalho acadêmico apresentado à Faculdade de Estudos Sociais do Espírito Santo, como requisito obrigatório da disciplina de Metodologia da Pesquisa Científica. Aprovado em 19 de outubro de 2006. COMISSÃO EXAMINADORA ________________________________________ Prof. Gilson Daniel Batista Faculdade de Estudos Sociais do Espírito Santo Orientador ________________________________________ Prof. Milton Ribeiro Pereira Faculdade de Estudos Sociais do Espírito Santo Examinador iii Dedico essa conquista a todos que me apoiaram e me incentivaram nesses quatro anos de muita luta e dedicação. A minha mãe e irmãos pelo carinho e amizade. Ao meu marido, por toda compreensão e paciência, e por ter me acompanhado durante toda minha jornada acadêmica. E a todos que torceram pela minha vitória. iv “A confiança em si mesmo é o primeiro segredo do sucesso”. (Ralph Emerson – poeta e filósofo americano) “Recolha as pedras no seu caminho, faça uma escada e suba. Mas não derrube seus inimigos para que eles possam assistir de pé o seu sucesso”. (autor desconhecido) v AGRADECIMENTOS Agradeço em primeiro lugar a Deus, que me deu saúde e a oportunidade de continuar com os meus estudos. Aos meus pais, por toda dedicação e pelos ensinamentos recebidos. A minha mãe em especial por ter ficado do meu lado sempre, me ajudando no que eu precisasse. Ao meu pai, que não está mais entre nós, mas tenho certeza que esta feliz por mim. Ao meu amor, pelo incentivo de voltar a estudar depois de tanto tempo, pela compreensão nos momentos difíceis e por estar sempre ao meu lado. Amo muito a todos... vi SUMÁRIO LISTA DE TABELAS .............................................................................................. LISTA DE GRÁFICOS …………………………………………………………………. LISTA DE QUADROS ………..………………………………………………………… LISTA DE SIGLAS ……………………………………………………………………… LISTA DE DEFINIÇÃO DE TERMOS ………………………………………………... RESUMO ………………………………………………………………………………… viii ix x xi xiii 14 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 15 1 – REVISÃO DA LITERATURA ........................................................................... 1.1 – FINALIDADES DA CONTABILIDADE ........................................................... 1.2 – A CONTABILIDADE NO MUNDO GLOBALIZADO ...................................... 1.3 – A HARMONIZAÇÃO CONTÁBIL: UMA VISÃO GERAL ............................... 1.3.1 – Por que Harmonizar ................................................................................... 1.3.2 – Harmonização x Padronização .................................................................. 1.4 – FATOS IMPORTANTES DA HISTÓRIA DA HARMONIZAÇÃO CONTÁBIL ............................................................................................................. ................... 1.5 – VANTAGENS E DESVANTAGENS DA HARMONIZAÇÃO CONTÁBIL ....... 1.6 – PRINCIPAIS ÓRGÃOS INTERNCAIONAS .................................................. 1.6.1 – ISAR / UNCTAD / ONU – Grupo de Trabalho Intergovernamental de Notáveis em Normas Internacionais de Contabilidade e Apresentação de Informes.................................................................................................................. 1.6.2 – OECD – Organização para Desenvolvimento e Cooperação Econômica ................................................................................................................................ 1.6.3 – IASB – Conselho Internacional de Normas Contábeis ............................ 1.6.4 – EEC – Comunidade Econômica Européia / UE - União Européia ........... 1.6.5 – IFAC – Federação Internacional de Contadores ...................................... 1.6.6 – IOSCO – Organização Internacional das Comissões de Valores Mobiliários .............................................................................................................. 1.6.7 – Mercosul – Mercado Comum do Sul ........................................................ 1.6.8 – BIS – Comitê de Supervisão Bancária do Banco de Compensações Internacionais ......................................................................................................... 1.6.9 – CAPA – Confederação de Contadores da Ásia e do Pacífico ................. 1.6.10 – AIC – Associação Interamericana de Contabilidade ................................ 1.6.11 – FEE – Federação dos Especialistas Contábeis da Europa ..................... 1.6.12 – FASB – Conselho de Normas Contábeis ................................................. 1.6.13 – SEC – Comissão de Valores Mobiliários …….…………………………….. 19 19 21 22 23 24 25 28 30 30 32 33 34 35 36 37 38 38 39 39 39 40 vii 2 – MODELOS INTERNACIONAIS DE CONTABILIDADE .................................. 2.1 – US GAAP (United States Generally Accepted Accounting Principles) …….. 2.2 – IFRS (International Financial Reporting Standards) …………………………. 2.2.1 – Adoção das Normas Internacionais ………………………………………….. 2.3 – PRINCÍPIOS CONTÁBEIS ............................................................................ 2.3.1 – Princípios Contábeis no Brasil ................................................................... 2.3.1.1 – Segundo o CFC ...................................................................................... 2.3.1.2 – Segundo o IBRACON ............................................................................. 2.3.2 – Princípios Contábeis Segundo o IASB ...................................................... 2.3.3 – Princípios Contábeis Segundo o US GAAP ............................................... 2.4 – COMPARATIVO DAS PRINCIPAIS PRÁTICAS CONTÁBEIS ..................... 41 41 42 43 44 45 45 45 46 46 47 3 – METODOLOGIA .............................................................................................. 3.1 – TIPO DE PESQUISA .................................................................................... 3.2 – COLETA DE DADOS .................................................................................... 3.3 – UNIVERSO DA AMOSTRA ........................................................................... 3.4 – ANÁLISE DOS DADOS ................................................................................ 3.5 – CONTEXTO DAS EMPRESAS ANALISADAS ............................................. 3.5.1 – Companhia Nipo-Brasileira de Pelotização – NIBRASCO ......................... 3.5.2 – Companhia Coreano Brasileira de Pelotização – KOBRASCO ................. 3.5.3 – Companhia Ítalo-Brasileira de Pelotização – ITABRASCO ....................... 3.5.4 – Companhia Hispano-Brasileira de Pelotização – HISPANOBRAS ............ 51 51 51 52 52 53 53 54 54 55 4 – ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS DADOS ............................................... 56 4.1 – ANÁLISE DOS DADOS ENTRE BR GAAP E US GAAP .............................. 57 4.2 – ANÁLISE DOS DADOS ENTRE BR GAAP E IFRS ...................................... 65 5 – CONCLUSÃO .................................................................................................. 67 6 – SUGESTÕES PARA NOVAS PESQUISAS..................................................... 69 7 – REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................... 70 viii LISTA DE TABELAS Tabela 1: Análise do PL da Nibrasco 2005 (BR GAAP x US GAAP) .................... 57 Tabela 2: Análise do PL da Kobrasco 2005 (BR GAAP x US GAAP) ................... 57 Tabela 3: Análise do PL da Itabrasco 2005 (BR GAAP x US GAAP) .................... 58 Tabela 4: Análise do PL da Hispanobras 2005 (BR GAAP x US GAAP) .............. 58 Tabela 5: Resumo dos valores apurados do PL das empresas (BR GAAP x US GAAP) .................................................................................................................... 60 Tabela 6: Análise do PL da Hispanobras 2005 (BR GAAP x IFRS) ...................... 65 Tabela 7: Resumo dos valores apurados do PL da Hispanobras (BR GAAP x IFRS) ...................................................................................................................... 65 ix LISTA DE GRÁFICOS Gráfico 1: PL Nibrasco 2005 (BR GAAP x US GAAP) ........................................... 61 Gráfico 2: PL Kobrasco 2005 (BR GAAP x US GAAP) .......................................... 61 Gráfico 3: PL Itabrasco 2005 (BR GAAP x US GAAP) .......................................... 62 Gráfico 4: PL Hispanobras 2005 (BR GAAP x US GAAP) ..................................... 63 Gráfico 5: Variação do CTA ................................................................................... 64 Gráfico 6: PL Hispanobras 2005 (BR GAAP x IFRS) ............................................. 66 x LISTA DE QUADROS Quadro 1: Divisão dos Modelos de Sistemas Contábeis ....................................... 23 Quadro 2: Comparativo das Práticas Contábeis ……............................................ 47 xi LISTA DE SIGLAS AIC – (Asociación Interamericana de Contabilidad) - Associação Interamericana de Contabilidade AICPA – Accounting Interpretations and Implementation Guide AISG – (Accountants International Study Group) - Grupo de Estudos Internacional de Contadores BIS – (Banking Supervision Committee) - Comitê de Supervisão Bancária do Banco de Compensações Internacionais BP – Balanço Patrimonial BR GAAP – (Generally Accepted Accounting Principles) - Princípios Contábeis Geralmente Aceitos no Brasil CAPA – (The Confederation of Asian and Pacific Accountants) - Confederação de Contadores da Ásia e do Pacífico CFC – Conselho Federal de Contabilidade CVM – Comissão de Valores Mobiliários CVRD – Companhia Vale do Rio Doce ECOSOC – Conselho Econômico e Social das Nações Unidas EEC – (European Economic Community) – Comunidade Econômica Européia EITF – (Emerging Issues Task Force) - Força Tarefa sobre Assuntos Emergentes EUA – Estado Unidos da América FASB – (Financial Accounting Standards Board) - Conselho de Normas de Contabilidade Financeira FEE – (Federation des Experts Comptables Européens) - Federação dos Especialistas Contábeis da Europa GAAP’s – (Generally Accepted Accounting Principles) – Princípios Contábeis Geramente Aceitos IAS – (International Accounting Standards) – Normas Internacionais de Contabilidade IASB – (International Accounting Standards Board) - Conselho Internacional de Normas Contábeis xii IASC – (International Accounting Standards Committee) - Comitê de Normas Internacionais de Contabilidade IBRACOM - Instituto Brasileiro de Contadores IFAC – (International Federation of Accountants) - Federação Internacional de Contadores IFRS – (International Financial Reporting Standards) - Normas Internacional de Contabilidade ISAR – Intergovernmental Working Group of Experts on International Standards of Accounting and Reporting IOSCO – (The International Organization of Securities Commission) - Organização Internacional das Comissões de Valores Mobiliários Mercosul – Mercado Comum do Sul NBCT – Norma Brasileira de Contabilidade NE – Notas Explicativas OCDE – (Organization for Economic Cooperation and Development) - Organização para Desenvolvimento e Cooperação Econômica ONU – Organização das Nações Unidas PL – Patrimônio Líquido SAB’s – (Staff Accounting Bulletins) – Boletins de Assessoria Contábil SAS – (Statement Audinting Standard) – Demonstração das Normas de Auditoria SEC – (Securities and Exchange Commission) – Comissão de Valores Mobiliários EU – União Européia UNCTAD – United Nations Conference on Trade and Development US GAAP – (Generally Accepted Accounting Principles) - Princípios Contábeis Geralmente Aceitos nos Estados Unidos xiii LISTA DE DEFINIÇÃO DE TERMOS Business Combinations – união de empresas separadas em uma única entidade econômica (fusão, incorporação ou aquisição de controle) Core standards – regra central Corporations – sociedades Critérios Consentâneos – critérios apropriados Estadunidenses – habitante ou natural dos Estados Unidos da América Feeling – percepção, intuição Financial reporting – relatório financeiro Força motriz – força que dá movimento Hispanobras – Companhia Hispano-Brasileira de Pelotização International Education Standards – Normas Internacionais de Educação International Standards of Auditing – Normas Internacionais de Auditoria Interpretação Viesada – interpretar de maneira distorcida uma informação Itabrasco – Companhia Ítalo-Brasileira de Pelotização Joint ventures – Contrato em conta de participação Kobrasco – Companhia Coreano Brasileira de Pelotização Nibrasco – Companhia Nipo-Brasiliera de Pelotização Reporting - relatórios Status – posição social, prestígio 14 RESUMO O mundo dos negócios, na atualidade, está sendo regido pela globalização da economia, e a contabilidade se tornou uma ferramenta essencial para o mundo dos negócios, com isso, a harmonização das normas contábeis a nível internacional é um processo que visa atender ainda mais o usuário da contabilidade, principalmente no processo decisório. O presente estudo visa demonstrar como a não harmonização das normas contábeis pode interferir nos resultados apurados nas demonstrações, e conseqüentemente na interpretação desses resultados por seus usuários, podendo acarretar dificuldades na tomada de decisão. O estudo focado no Patrimônio Líquido de quatro empresas, coligadas do grupo CVRD (Companhia Vale do Rio Doce), que tem suas demonstrações elaboradas segundo os critérios das Normas Brasileiras (BR GAAP), Americanas (US GAAP) e Internacionais (IFRS). Essas empresas foram escolhidas por possuírem características semelhantes, tanto operacionais como administrativas. Analisando os dados levantados pela pesquisa, observa-se que existem fatores que causam distorções, na comparação dos diferentes métodos analisados, isso nos leva a constatação que o processo de harmonização deve ser estudado em um nível macroeconômico, pois afetará a maioria das empresas em diversos países. Barreiras relacionadas, principalmente, com a situação sócio-econômica e política de cada país, deve ser um grande desafio para se chegar a uma efetiva harmonização das normas contábeis a nível mundial. 15 INTRODUÇÃO A contabilidade é uma ciência tão antiga como o próprio homem. Alguns historiadores e teóricos acreditam que a contabilidade existe há pelo menos 4.000 (quatro mil) anos a.C. No início definiam como sua única função a de avaliar a riqueza patrimonial do homem. A evolução da história nos mostra que a ciência da contabilidade ultrapassa, e muito, essa barreira. Passado o período das grandes descobertas e, após o grande impulso econômico a nível mundial, a contabilidade se consolida como a ciência que conhecemos atualmente. Por volta do ano de 1494, o frei Luca Pacioli escreveu a primeira literatura sobre o método das partidas dobradas, método este utilizado até hoje, fortalecendo ainda mais o sistema contábil, principalmente na Itália. Surgia a partir daí a chamada Escola Contábil Italiana. Neste momento da história, todas as atenções se voltavam para a Europa, que era considerada o centro do mundo. Foi quando uma grande ascensão econômica e o surgimento das gigantescas “Corporations”, a partir de 1920, que o mundo passou a voltar suas atenções para os Estados Unidos da América (EUA), dando início, neste momento, a Escola Contábil Norte-Americana. Com isso, pode–se dizer que começava a queda da Escola Contábil Italiana. Nos últimos anos, o que se vê é uma economia cada vez mais globalizada, com empresas multinacionais prosperando a cada dia, e outras empresas menores que começam a ousar vôos mais altos, em busca de mercados externos. Com tanta evolução dos mercados internacionais, a contabilidade também evolui de forma a acompanhar a globalização. Conforme Iudícibus (2002, p. 44) “(...) o grau de avanço da Contabilidade está diretamente associado ao grau de progresso econômico, social e institucional de cada sociedade”. O próximo passo para essa evolução da contabilidade é o desafio da Harmonização das Normas Contábeis a nível mundial. Características como, confiabilidade, relevância, neutralidade e comparabilidade devem fazer parte das informações fornecidas pela contabilidade aos seus usuários, como sendo uma de suas funções primordiais. 16 A globalização dos mercados, no que diz respeito ao desenvolvimento do mercado de capitais internacional, ao crescimento dos investimentos diretos estrangeiros e à formação de blocos econômicos, traz consigo a necessidade de se ter um conjunto de normas contábeis internacionais que viabilizem a comparação de informações entre companhias de um mesmo grupo ou de grupos distintos (BUENO; LOPES, 2005e, p. 22). Alguns estudos mostram que a harmonização dos princípios contábeis está próxima, mas com muitos desafios ainda a enfrentar, principalmente diferenças econômicas e culturais entre os países. Alguns órgãos mundiais foram criados com a finalidade de estudar sobre o processo de harmonização da contabilidade, que se faz cada vez mais necessário, em atendimentos aos usuários como investidores e gestores de uma maneira geral. Este trabalho focou seu estudo nas razões pelas quais se busca a harmonização contábil, listou os principais órgãos, a nível mundial, envolvidos neste processo e por fim realizou uma pesquisa que demonstra como os diferentes métodos adotados para elaboração das demonstrações contábeis podem interferir nos resultados finais. Os métodos estudados foram os princípios contábeis geralmente aceitos, os chamados GAAP’s – Generally Accepted Accounting Principles, no Brasil (BR GAAP), nos Estados Unidos (US GAAP) e as normas internacionais de contabilidade, adotados pelos países da União Européia (UE), os IFRS – International Financial Reporting Standards. O objetivo geral deste estudo é demonstrar de uma maneira geral as dificuldades encontradas no processo de harmonização internacional da contabilidade, como este processo está se fazendo necessário para o mundo economicamente globalizado e analisar as principais divergências encontradas nos Balanços Patrimoniais pesquisados, seguindo os critérios do BR GAAP, US GAAP e IFRS. Este estudo segue uma tendência atual de globalização da economia. Para uma melhor compreensão do objetivo geral, os objetivos específicos envolvidos neste trabalho, são: abordar as vantagens e desvantagens da harmonização contábil internacional; identificar os principais princípios contábeis geralmente aceitos, adotados no Brasil (BR GAAP), Estados Unidos (US GAAP) e União Européia (IFRS), segundo seus principais órgãos reguladores; 17 identificar os principais órgãos reguladores das normas contábeis a nível mundial; apresentar as principais características dos US GAAP e IFRS; demonstrar como as diferenças desses princípios podem modificar os valores de um balanço patrimonial convertido de acordo com cada sistema internacional. Este trabalho se justifica por se tratar de uma nova tendência no mundo dos negócios, que é o processo de harmonização internacional das normas contábeis. É um assunto que está sendo debatido por grandes professores e pesquisadores e que vem mostrando sua importância no mundo economicamente globalizado. A globalização é um fenômeno que afeta não só a economia, mas também todas as áreas da sociedade. Conforme Oliveira, Ponte e Ribeiro (2003, p. 3) “Junto com a globalização, surgiu a necessidade de harmonização de normas e práticas, em diversos sentidos, tendo como base a adoção de algumas regras em âmbito mundial”. Essas regras trariam alguns benefícios importantes para diversas empresas, um deles seria a redução do custo na elaboração de relatórios contábeis. Segundo o presidente do conselho consultivo do IASB - International Accounting Standards Board (Conselho Internacional de Normas Contábeis), o brasileiro Nelson Carvalho, em uma entrevista ao jornal Gazeta Mercantil, afirma que com a harmonização as grandes corporações internacionais deixarão de gastar centenas de milhares de dólares na publicação de seus relatórios contábeis para atender as exigências da lei de cada país onde estão situadas. A contabilidade é considerada atualmente, segundo Niyama (2005, p. 38) “a principal linguagem dos negócios”, e uma importante ferramenta no processo decisório. A harmonização de suas práticas, em um contexto geral, proporciona aos sócios, investidores, gestores e administradores de forma geral, uma melhor comparabilidade das informações, obtendo assim informações mais concisas e confiáveis para a tomada de decisões. Além disso, este trabalho baseia-se no estudo das divergências encontradas no Balanço Patrimonial, mais especificamente no Patrimônio Líquido das empresas analisadas. As empresas foram escolhidas por possuírem características operacionais e administrativas semelhantes e por elaborarem suas demonstrações 18 pelos métodos do BR GAAP, US GAAP e IFRS, que é o foco de pesquisa deste trabalho. Este trabalho se justifica pela grande relevância de seu tema na atualidade, demonstrando o quanto é importante uma contabilidade que seja de fácil entendimento ao seu usuário final, e pelo aperfeiçoamento acadêmico e profissional. Descobrir os problemas que o tema envolve, identificar as dificuldades que ele sugere, formular perguntas ou levantar hipóteses significa abrir a porta, através da qual o pesquisador pode penetrar no terreno do conhecimento científico (CERVO; BERVIAN, 2002, p. 84). Esta pesquisa tem o propósito de responder a seguinte pergunta: Quais as dificuldades encontradas no processo de harmonização a nível internacional das práticas contábeis para as empresas em geral? Este tema já foi base para muitos estudos e debates de grandes pesquisadores e estudiosos sobre o assunto. Este trabalho se propõe a entrar um pouco mais neste assunto, que é de extrema importância para a classe contábil, e que será o próximo grande passo da escala evolutiva da contabilidade. 19 1 - REVISÃO DA LITERATURA 1.1 - FINALIDADES DA CONTABILIDADE O primeiro objetivo da contabilidade foi o de conhecer e controlar o patrimônio de cada homem e suas variações, passando em seguida para o controle do patrimônio das entidades. Depois do advento do comércio e da revolução industrial, a contabilidade assumiu um novo papel dentro das organizações, que é o de prestar informações sobre a situação financeira da empresa, possibilitando assim um melhor controle patrimonial. A contabilidade é mantida para as entidades, logo, sua função é atender às necessidades destas. E a primeira necessidade de uma entidade é se manter viva, em pleno funcionamento. Assim a contabilidade deve existir para administrar o patrimônio da entidade com o objetivo de mantê-la viva e prosperando (SOUZA, 2004, p. 4). A busca pela informação perfeita para cada tipo de usuário faz da contabilidade uma ciência social que continua evoluindo, através de novos regulamentos e normas, de diversos órgãos de diversos países. Mas, apesar de toda a evolução, a contabilidade mantém sua finalidade básica. Segundo Iudícibus (2000, p. 20) “sua finalidade é prover os usuários dos demonstrativos financeiros com informações que os ajudarão tomar decisões”. De acordo com o CFC (Conselho Federal de Contabilidade), em sua NBCT 1 (Norma Brasileira de Contabilidade Técnica), referente as características da informação contábil, determina que: 1.1.2 – As informações geradas pela Contabilidade devem propiciar, aos seus usuários, base segura às suas decisões, pela compreensão do estado em que se encontra a entidade, seu desempenho, sua evolução, riscos e oportunidades que oferece. A contabilidade pode ser considerada também como sendo: (...) “arquivo básico de informação contábil”, que possa ser utilizado, de forma flexível, por vários usuários, cada um com ênfases diferentes neste ou naquele tipo de informação, neste ou naquele princípio de avaliação (...) (IUDÍCIBUS, 2000, p.19, grifo do autor). Assim, a contabilidade é uma ciência social que deve estar voltada para todo tipo de usuário. Basicamente, os usuários da contabilidade tanto podem ser internos, 20 como externos, sendo necessário gerar informações diversificadas para ambos. (...) as informações geradas pela Entidade devem ser amplas e fidedignas e, pelo menos, suficientes para a avaliação da sua situação patrimonial e das mutações sofridas pelo seu patrimônio, permitindo a realização de inferências sobre o seu futuro (IUDÍCIBUS; MARTINS; GELBEKE, 2003, p.75). O FASB (Financial Accounting Standards Board) considera que os principais usuários da contabilidade são os acionistas, outros investidores e credores, ou seja, usuários externos. Segundo Hendriksen e Breda (1999, p.94), o FASB declara que: Os objetivos decorrem primordialmente das necessidades informacionais de usuários externos que carecem de autoridade para ordenar a produção da informação financeira que desejam de uma empresa e, portanto, são forçados a utilizar a informação que a administração divulga. Conforme Iudícibus e Marion (2002, p. 34) “O que toda história tem mostrado é que a Contabilidade torna-se importante à medida que há desenvolvimento econômico”. Ela se tornou o grande instrumento que auxilia a administração da empresa a tomar decisões. A experiência e o feeling do administrador não são mais fatores decisivos no quadro atual; exige-se um elenco de informações reais, que norteiam tais decisões. E essas informações estão contidas nos relatórios elaborados pela Contabilidade (IUDÍCIBUS; MARION, 2002, p.42). É certo afirmar que a contabilidade é uma das áreas que se encontram em constante mudança, motivada pelo crescimento econômico e pela globalização. A contabilidade está passando por um processo de transformação, onde deixa de ser apenas uma forma de controle burocrático da empresa para se tornar um importante parceiro da entidade, principalmente no processo decisório (STAVIS; VEIGA, 2004). Uma vez que a tomada de decisão nas empresas está sempre fundamentada nos relatórios contábeis e estes demonstram, ou pelo menos procuram demonstrar, a real situação patrimonial das mesmas em determinado momento, a fim de orientar planejamentos e estratégias de ação empresarial, é impraticável um processo decisório afastado da contabilidade, ou, uma contabilidade afastada do processo decisório dentro das empresas (SOUZA, 2004, p.02). A necessidade cada vez maior de informações precisas e corretas, faz da contabilidade uma realidade em quase todas às empresas de praticamente todos os países do mundo. Com isso a contabilidade sofre diversas influencias. 21 1.2 - A CONTABILIDADE NO MUNDO GLOBALIZADO Nos últimos anos, a globalização da economia está evoluindo a passos largos, o que pode ser percebida por todos os níveis da sociedade. Essa transformação tem sido tão grande e intensa, que alterou praticamente todos os aspectos da sociedade mundial, redefinindo completamente o conceito de propriedade e riqueza, erguendo novos países e derrubando antigas potências (BUENO; LOPES, 2005e, p. 23). Como reflexo dessa globalização econômica, mais e mais empresas locais estão tendo acesso ao mercado internacional, sendo no âmbito financeiro, como tomada de empréstimos ou lançamentos de títulos em bolsa de valores do mundo, ou no âmbito comercial, como se estabelecer em outros países através de aquisições de empresas locais ou na abertura de subsidiárias ou coligadas (FEITOSA, 2002). Como resultado dessa realidade surge para a Contabilidade a necessidade de superar as barreiras da linguagem, moeda e, principalmente, das diferenças existentes entre as práticas contábeis adotadas em cada país, de modo a possibilitar a compreensão e interpretação das demonstrações contábeis por investidores e pela matriz estrangeira (FEITOSA, 2002, p. 1). O cenário econômico atual vem mostrando um aumento da competitividade entre as empresas, estimulando assim que muitas delas decidam estrategicamente por algum tipo de associação, coligação, fusão, incorporação ou qualquer outro tipo de transformação. Com isso, a contabilidade se mostra mais uma vez fundamental no processo de tomada de decisão, e sua harmonização uma realidade a ser colocada em prática. Diante das novas condições do mercado, surgem novos desafios para os estudiosos e profissionais da contabilidade. A abertura da economia, decorrente do processo de globalização, acirrou a concorrência e aumentou as operações de business combinations (HAJJ; LISBOA, 2001, p. 34). Atualmente, os principais agentes econômicos buscam informações na contabilidade, mas existem barreiras a serem quebradas. A moeda e o idioma são exemplos dessas barreiras. Uma outra barreira importante a ser derrubada é a falta de uma linguagem internacional dos negócios, ou seja, a falta de um conjunto de normas, regras e procedimentos internacionais que permitam comparações entre empresas de países 22 diferentes. Segundo Niyama (2005, p. 15) “A linguagem não é uniforme porque cada país tem critérios próprios e diferentes para reconhecer e mensurar cada transação”. O crescimento global da economia, juntamente com o aumento das grandes corporações, exige da contabilidade informações que possam ser vistas e entendidas internacionalmente. Para tanto, vários órgãos internacionais estão empenhados na busca por um conjunto de normas contábeis de alto nível, que possam atender a todos os usuários. A contabilidade se mostra eficaz no processo decisório a partir do momento que passa a gerar informações corretas e precisas aos seus usuários, não se preocupando com sua nacionalidade. É importante que o contador esteja preparado para assumir um papel fundamental dentro da entidade, principalmente sobre os aspectos da harmonização das práticas contábeis. Não há como a contabilidade continuar sendo útil para as entidades, oferecendo informações para tomada de decisões, sem se engajar efetivamente com a internacionalização do capital (...) e harmonização de normas contábeis para melhor se adequar à realidade da informação globalizada (RAMOS; et al, 2003, p.14). A comparabilidade é uma característica qualitativa da contabilidade, através do qual seus usuários tem condições de comparar as demonstrações contábeis de diversas entidades, a fim de avaliar sua situação patrimonial e financeira. Para que a contabilidade possa atingir um grau esperado de comparabilidade, ela precisa ter uniformidade em seus princípios. (...) esta qualidade em particular precisa do uso uniforme de princípios e práticas contábeis, independentemente dos desejos do produtor da informação para que não se confunda a interpretação de seu usuário e este não venha a tomar decisões viesadas por conta disto (BUENO; LOPES, 2005a, p. 4). 1.3 - A HARMONIZAÇÃO CONTÁBIL: UMA VISÃO GERAL Tentando minimizar a questão das diferenças internacionais, várias entidades profissionais e instituições de ensino são favoráveis a uma harmonização que facilite a comunicação e reduza as diferenças internacionais. Com a internacionalização cada vez maior dos capitais, com a expansão cada vez mais efetiva das multinacionais, com a formação dos mercados internacionais cada vez mais definidos, surgiu a necessidade imperiosa de harmonizar contabilmente (SÁ; SÁ, 1994, p.236). A harmonização busca homogeneizar, em termos internacionais, os 23 princípios da contabilidade, fazendo com que a linguagem dos negócios se torne uniforme, facilitando em muito o processo de tomada de decisão dentro das empresas. Segundo Niyama (2005, p. 15) “A busca de critérios consentâneos é o processo de harmonização contábil internacional, visando proporcionar uma compreensão dessa linguagem e sua comparabilidade”. Grandes autores e pesquisadores, destacam dois grandes grupos de sistemas contábeis no mundo: o modelo Anglo-Saxão e o modelo Continental. Segundo Niyama, basicamente, as características principais desses dois modelos são: Modelo ANGLO-SAXÃO a) profissão contábil forte e atuante; Modelo CONTINENTAL a) profissão contábil fraca e pouco atuante; b) tem como fonte de captação de recursos um mercado de capitais sólido; b) sua fonte de captação de recurso vem principalmente dos bancos e instituições financeiras, inclusive governamentais. c) pouca interferência do governo na definição de c) o governo interfere de forma significativa no práticas contábeis; e estabelecimento de padrões contábeis; d) suas demonstrações financeiras buscam d) suas demonstrações financeiras atendem atender, em especial, os investidores. primeiramente aos credores e ao governo; Quadro 1: Divisão dos Modelos de Sistemas Contábeis Essa divisão dos sistemas contábeis que existe de forma mundial, aliada ao conjunto de leis, regras, filosofias, procedimentos e objetivos que cada país possui, tornam a comparabilidade das informações contábeis ainda mais difícil de ser alcançada com sucesso, principalmente no processo decisório. Neste sentido, a contabilidade caminha para uma harmonização de suas normas e procedimentos, a fim de proporcionar aos usuários de modo geral um melhor entendimento das demonstrações financeiras. 1.3.1 - Por que Harmonizar? Diversos fatores favoreceram o crescimento do comércio internacional nos últimos anos, como por exemplo, o grande desenvolvimento tecnológico nas áreas de comunicação e o grande avanço dos meios de transportes. Este crescimento também é conhecido por todos como globalização da economia. Para muitas empresas, a globalização da economia contribuiu e muito para o seu crescimento econômico e financeiro, porém, alguns novos problemas surgiram, 24 como a falta de práticas contábeis harmonizadas internacionalmente, o que dificulta a comunicação contábil entre empresa, investidores, sócios, banqueiros, etc. A contabilidade, como ciência, deve estar sempre atenta para acompanhar essa globalização, para que, cada vez mais, forneça informações que possam ser vistas e entendidas internacionalmente. Para tanto, vários órgãos internacionais estão empenhados na busca por um conjunto de normas contábeis de alto nível, que possam atender a todos os usuários. A economia global em pleno crescimento e as pressões do mercado estão conduzindo à exigência de um conjunto de normas transparentes e de relatórios contábeis comparáveis (...) de alta qualidade, de acordo com as normas internacionais (BUENO; LOPES, 2005e, p. 40). Existe um consenso por parte de empresas, entidades profissionais, instituições de ensino e grandes pesquisadores, que é preciso ter uma harmonização dos padrões contábeis, para facilitar a comunicação entre todos os envolvidos no processo contábil, a fim de se reduzir às diferenças internacionais no financial reporting, proporcionando uma melhor interpretação das informações contábeis apresentadas. 1.3.2 - Harmonização x Padronização Em um primeiro momento deve se ter o cuidado quando definimos o que é harmonização, para que não seja confundida com padronização. Para Weffort (2005, p.21), “a harmonização pode ser entendida como um processo por meio do qual diferenças nas práticas contábeis entre os países são reduzidas”. Conforme Niyama (2005, p. 38), a harmonização pode ser considerada “um processo que busca preservar as particularidades inerentes a cada país, mas que permita reconciliar os sistemas contábeis com outros países”. Já para Bueno e Lopes (2005a, p.14) “a harmonização contábil é aquele processo que procurar diminuir a variedade de práticas contábeis existentes no registro de eventos por parte, principalmente, de empresas”. Três conceitos distintos, mas com uma única idéia, que a harmonização não 25 pretende acabar com as características de cada país, mas sim tornar melhor e mais fácil a compreensão e análise dos relatórios contábeis. A harmonização dos padrões contábeis visa alcançar uma das finalidades primordiais da contabilidade, que é suprir os usuários com informações confiáveis e que proporcione a correta tomada de decisões. Deve sempre existir o cuidado de diferenciar harmonização de padronização. Algumas vezes esses dois termos se confundem. De acordo com Weffort (2005, p.62) a padronização se difere da harmonização, essencialmente, por sua finalidade. Enquanto a padronização busca uniformizar, a harmonização tenta aproximar. Conforme Niyama (2005, p.38) “(...) padronização é um processo de uniformização de critérios, não admitindo flexibilidade”. Segundo Tay e Parker apud Weffort (2005, p. 62), “(...) a padronização consiste em um movimento na direção da uniformidade, enquanto a harmonização é um movimento para se distanciar da total diversidade” (grifo do autor). A padronização é um termo forte que será muito difícil de ser colocado em prática, em se tratando de normas contábeis, pois para que houvesse uma padronização, seria necessário tornar obrigatório o uso de padrões contábeis iguais para todos os países, o que nos tempos atuais se torna praticamente impossível de acontecer. É importante manter um certo distanciamento entre os termos harmonização e padronização. A confusão entre os dois conceitos pode prejudicar as conquistas já alcançadas no empenho de aproximação entre os modelos contábeis dos países, criando expectativas irreais nos envolvidos no processo de harmonização, que tem sido apontada, por pesquisadores, como sendo mais facilmente alcançada do que a padronização. 1.4 – FATOS IMPORTANTES DA HISTÓRIA DA HARMONIZAÇÃO CONTÁBIL Ao longo do tempo, vários foram os esforços organizados na busca pela harmonização contábil. Desde 1904, com a realização do primeiro Congresso Internacional de Contabilidade em Saint Louis nos EUA, a atenção dos 26 pesquisadores está cada vez mais voltada para as diferenças entre os diversos sistemas contábeis. Em 1966, com a união de três países, Canadá, EUA e Reino Unido, surgiu o Grupo de Estudos Internacional de Contadores – AISG (Accountants International Study Group), que tinha por objetivo principal, instituir estudos comparativos sobre a contabilidade formal e práticas dos países participantes. Mas foi em 1972, no 10º Congresso Internacional de Contabilidade, realizado em Sidnei na Austrália, que as primeiras propostas sobre a harmonização foram apresentadas e aceitas pelos participantes. A partir daí, a evolução dos estudos sobre a harmonização contábil foi clara, com o surgimento de importantes órgãos e publicações. Conforme Weffort, os aspectos mais relevantes aconteceram entre os anos de 1973 a 2002, podendo ser dividido em cinco fases distintas. A primeira fase compreende entre os anos de 1973 a 1974, e destaca-se por ser o período de estruturação do IASC (International Accounting Standards Committee): 1973 – criação do IASC e formalização da intenção de buscar um conjunto de padrões para as normas contábeis. Neste mesmo ano, foi formado nos EUA o FASB (Financial Accounting Standards Board); A segunda fase corresponde o período entre os anos de 1975 e 1984, período este de expansão, ainda tímida, do IASC e criação do IFCA (International Federation of Accountants), foi também o início da busca por apoio de organismos internacionais: 1975 – entra em vigor o primeiro pronunciamento do IASC; a partir de 1981 – o IASC começa uma série de visitas aos órgãos nacionais responsáveis pela elaboração dos padrões contábeis; é formado o grupo consultivo do IASC. Todos os países integrantes da IFCA se tornaram membros também do IASC, inclusive o Brasil, através do IBRACON (Instituto dos Auditores Independentes do Brasil). A terceira fase compreende o período entre 1985 a 1994, e se caracteriza por ser o período de expansão mais agressiva do IASC. Foi neste período que ocorreu a publicação do IAS (International Accounting Standards), coincidindo com o crescente número de discussões sobre a harmonização contábil, tanto no meio profissional quanto no meio acadêmico. No Brasil, é constituído os Princípios 27 Fundamentais da Contabilidade: 1987 – publicação do primeiro volume do IASC com os IAS; 1988 – no Brasil, o IBRACON publica a primeira tradução para o português do IAS, mas não sendo considerada oficial; 1993 – conclusão do projeto de comparabilidade e melhorias, com aprovação de 10 (dez) IAS revisados. Neste mesmo ano, no Brasil, o CFC (Conselho Federal de Contabilidade), através de sua Resolução nº 750/93, constitui os Princípios Fundamentais de Contabilidade, entrando em vigor em todo o território nacional a partir de 01 de janeiro de 1994. A quarta fase corresponde ao período de 1995 a 1998, e destaca-se pelo esforço do IASC na revisão das Normas Internacionais de Contabilidade (IAS), e na elaboração de novas normas, com o objetivo de obter apoio da IOSCO (International Organization of Securities Commission): 1995 – na busca de incentivar a globalização dos mercados, a IOSCO, solicita junto ao IASC, reformulação ou preparo de 12 (doze) padrões fundamentais, os chamados “core standards”. Neste mesmo ano, a Comissão Européia aprova o acordo entre o IASC e a IOSCO, com isso os padrões fundamentais ganharam legitimidade, fazendo com que as multinacionais da União Européia passassem a utilizar as normas do IAS; Na quinta fase, entre os anos de 1999 a 2002, ocorreu uma reestruturação do IASC / IASB (International Accounting Standards Board): 1999 – os 12 (doze) padrões fundamentais são revisados pela IOSCO; 2000 – começa a reestruturação do IASC, com uma nova constituição e com o fim do acordo entre IASC/IFAC, tornando os membros de um automaticamente membros do outro; 2001 – inicio dos trabalhos do IASB, que neste momento assume padrões estipulados pelo IASC, tendo uma transformação radical em seu funcionamento, tais como: seus membros passariam a ser 14 (quatorze), sendo 12 (doze) com dedicação exclusiva ao IASB, não podendo em hipótese nenhuma possuir vínculos com quaisquer outras empresas ou instituições de ensino e nem aceitar outros benefícios que não do IASB; 2001 – a Comissão Européia determina o uso dos padrões para todas as companhias listadas a partir de 2005; 28 2002 – no Brasil é publicada a primeira tradução oficial para o português dos IAS. É certo afirmar que um longo caminho já foi percorrido em direção a harmonização das normas contábeis, mas é certo afirmar também que as dificuldades ainda são muitas, pois existem muitos conflitos de interesses entre os participantes. De um lado estão os pesquisadores e contadores que efetivamente poderão aplicar os padrões contábeis, e do outro a vontade política, que nem sempre procura maximizar o bem-estar econômico ou social dos participantes. Segundo Arpan e Radebaugt apud Weffort (2005, p. 68) “Nacionalismo, egoísmo e orgulho também podem impedir o progresso da harmonização internacional”. 1.5 – VANTAGENS E DESVANTAGENS DA HARMONIZAÇÃO CONTÁBIL Em busca de sua finalidade primordial, que é de fornecer aos seus usuários suporte suficiente para o processo de tomada de decisões, a contabilidade, muitas vezes, sofre com a falta de comparabilidade de suas informações. A harmonização contábil das normas internacionais vem sendo vista como um processo que procura diminuir a variedade de práticas contábeis existentes, buscando a comparabilidade das informações entre empresas de diversos países, mas existe divergência de opiniões entre pesquisadores, sobre quais são as vantagens e desvantagens de se ter um padrão contábil internacional, adotado por boa parte das empresas mundiais. Para Bueno e Lopes (2005a, p. 15-16) as vantagens podem ser assim definidas: possibilidade que investidores e analistas entendam as demonstrações contábeis de empresas estrangeiras, as quais estariam interessados em investir, eliminando barreiras que dificultam os fluxos monetários de circularem com maior fluidez pelo mundo, sendo eles de investimentos ou financiamentos; o não aumento de custos de elaboração de demonstrações financeiras adaptadas às práticas contábeis do país, no qual a empresa deseja buscar financiamentos; simplificação das tarefas relacionadas à consolidação de demonstrações 29 contábeis de filiais espalhadas por diversos países, tornando assim, seus gestores muito mais homogêneos; simplificação e melhora dos trabalhos de auditoria; facilita os trabalhos dos fiscos nacionais, com relação as empresas estrangeiras, através da uniformização da mensuração dos lucros tributáveis (reconhecimento de receitas e despesas); comparabilidade da situação competitiva de uma empresa no âmbito internacional, uma vez que seria mais simples a identificação da posição estratégica que ocupa em seu setor econômico; existência de um sistema contábil homogêneo a nível internacional que serviria como base para o desenvolvimento de sistemas contábeis nacionais próprios àqueles países que ainda não têm um sistema contábil desenvolvido. Apesar de muitos pontos favoráveis, as críticas também existem, e vem contestando, principalmente, a possibilidade de implementação na prática e seu custo-benefício para os usuários e preparadores das demonstrações contábeis. Para Weffort (2005, p. 67-68) as desvantagens são as seguintes: a adoção das normas internacionais localmente pode não resultar em harmonização efetiva das práticas contábeis dos países, especialmente porque são desconsideradas as diferenças nacionais como sistemas jurídicos, estágio de desenvolvimento econômico e aspectos culturais, entre outros; sempre há um custo para os países, decorrentes de adoção das normas internacionais; pode servir como um meio de imposição da vontade dos países economicamente desenvolvidos sobre aqueles em desenvolvimento. Para Cabedo e Benau apud Bueno e Lopes (2005a, p. 17-19), podem ser consideradas desvantagens também: trata-se de um processo que não é nem prático, nem fielmente avaliável, considerando que tanto investidores quanto emissores de títulos são capazes de tomar decisões sem necessidade de disporem de normas contábeis comuns a nível internacional; trata-se de um processo político, cuja função primordial reside em 30 harmonizar os interesses das partes afetadas; a resistência à perda da soberania nacional em matéria contábil; excesso de flexibilidade ou exceções em temas controversos, especialmente entre os países líderes. Um ponto importante deve ser levado em conta, quanto à busca da harmonização contábil em termos mundiais, o de currículos básicos de cursos de ciências contábeis. O IFAC (International Federation of Accountants) juntamente com outros órgãos regionais, já discutem esse assunto de maneira mais aprofundada, pois é necessário uma mudança neste sentido para que contadores e auditores possam ter credenciamento para aturem em outros países, facilitando assim um intercâmbio técnico-profissional. Existe um outro problema de natureza mais complexa, que pode impedir o avanço do processo de harmonização em alguns países, principalmente em países emergentes. Nesses países a contabilidade é fortemente atrelada ao fisco, ou seja, as normas fiscais ditam critérios de avaliação, apropriação e classificação contábil. Uma possibilidade viável seria, conforme Niyama (2005, p. 39), uma mudança de sistema legal, tirando a autoridade do fisco de emitir normas contábeis, o que não é muito esperado que aconteça. A questão do nacionalismo exacerbado é levantada por alguns autores como sendo mais um problema a ser enfrentado para se alcançar à harmonização contábil. Um exemplo disto é o fato de que se um país adotar os padrões contábeis de outro, pode parecer que ele perdeu sua soberania ou autoridade, tornando um fator político. 1.6 – PRINCIPAIS ÓRGÃOS INTERNACIONAIS Diversos órgãos internacionais estão envolvidos de forma direta ou indiretamente, em iniciativas e esforços em busca de uma harmonização contábil internacional. A seguir serão descritos os principais órgãos envolvidos neste processo. 1.6.1 – ISAR / UNCTAD / ONU – Grupo de Trabalho Intergovernamental de Notáveis em Normas Internacionais de Contabilidade e Apresentação de Informes 31 No início da década de 70, a ONU (Organização das Nações Unidas), analisando o impacto que empresas multinacionais causavam na economia em nível mundial, despertou para a importância da contabilidade e seus relatórios financeiros, com isso, em 1976, foi criado a UNCTAD (United Nations Conference on Trade and Development), que volta suas atenções para o desenvolvimento do comércio internacional, tendo em seu departamento de finanças um programa chamado de Reformas Contábeis. Em 1982 a ECOSOC (Conselho Econômico e Social das Nações Unidas) criou o ISAR (Intergovernmental Working Group of Experts on International Standards of Accounting and Reporting), subordinado ao UNCTAD, que tem como premissa, segundo Bueno e Lopes (2005a, p.22): (...)“uma vez alcançada a harmonização, as demonstrações contábeis conterão informações financeiras confiáveis, comparáveis e transparentes que serão necessárias para o eficiente funcionamento dos mercados de capitais, bancos e investimentos estrangeiros” (grifo do autor). Os trabalhos do grupo não deslancharam como se esperava, pois muitos países questionavam se caberia a ONU definir tais padrões para a contabilidade internacional, sendo mais correto que, organismos ou entidades de natureza privada, ligados à profissão contábil, desenvolvessem tal tarefa. Outro problema enfrentado foi a não participação dos Estados Unidos nas reuniões do ISAR a partir de 1986. Os americanos acreditavam que discussões sobre contabilidade e demonstrações financeiras caberiam ao IASC (atual IASB), enquanto harmonização de padrões contábeis, ficaria a cargo de grupos como OECD. O ISAR é composto por 34 (trinta e quatro) Estados-membros mais convidados, que se reúnem anualmente em Genebra na Suíça. As cadeiras são divididas regionalmente, sendo uma delas ocupada pelo Brasil até o ano de 2006. Os temas que mais tem merecido sua atenção são, além da harmonização, as demonstrações contábeis sob efeitos de altas taxas de inflação, a contabilização de fundos de pensão, a contabilização de participações societárias, as privatizações, as doações, subvenções e outras ajudas oficiais, os arrendamentos mercantis, os novos instrumentos financeiros (derivativos) e a contabilidade ambiental. 32 1.6.2 – OECD – Organização para Desenvolvimento e Cooperação Econômica A OECD (Organization for Economic Cooperation and Development) foi criada em 1960, com a adesão de 20 (vinte) países-membros, sendo conhecido também como o Clube dos Ricos. Atualmente são 30 (trinta) países-membros, entretanto qualquer país é bemvindo, desde que comprometido com práticas democráticas e economia de mercado. Suas publicações abrangem questões como macroeconomia, comércio, educação e ciência. Segundo Belkaoui apud Niyama (2005, p. 47), em 1976 foi publicado um trabalho denominado “Guia para Empresas Multinacionais” (grifo do autor), sugerindo que as empresas multinacionais deveriam publicar, no mínimo, as seguintes informações: publicar, no mínimo anualmente, demonstrações contábeis e outras informações pertinentes, relacionadas com as atividades da empresa, bem como sua estrutura, principais afiliadas (subsidiárias), percentual de participação direta e indireta; áreas geográficas, onde as operações são realizadas e as principais atividades praticadas, e os resultados das operações de vendas por área geográfica e a receita operacional bruta da empresa como um todo, bem como novos investimentos de capital relevantes, também por área geográfica; demonstração de origens e aplicação de recursos da empresa, gastos com pesquisa e desenvolvimento da empresa como um todo e número médio de empregados por área geográfica; políticas adotadas pela empresa como preço de transferência intragrupos e as políticas contábeis, principalmente relacionadas com a consolidação das demonstrações contábeis. Atualmente a OECD é mais conhecida por sua atuação na área de tributação e outros acordos bilaterais. 33 1.6.3 – IASB - Conselho Internacional de Normas Contábeis O IASB (International Accounting Standards Board) surgiu no ano de 1973 em Londres, tendo como seu antecessor o IASC (Comitê de Normas Internacionais de Contabilidade). O IASC, por sua vez, surgiu da união de profissionais de nove países, e tinha como objetivo principal fazer frente ao início das demandas por harmonização dos sistemas contábeis. O IASB é um órgão independente do setor privado que se destina ao estudo de padrões contábeis. É constituído por representantes de mais de 140 (cento e quarenta) entidades profissionais de todo o mundo, tendo o IBRACON (Instituto Brasileiro de Contadores) e o CFC (Conselho Federal de Contabilidade) como representantes brasileiros no IASB. Conforme, Niyama (2005, p. 40-41), o IASB tem os seguintes objetivos, de acordo com sua constituição: desenvolver, no interesse público, um único conjunto de normas contábeis globais de alta qualidade, inteligíveis, exeqüíveis, que exijam informações de alta qualidade, transparentes e comparáveis nas demonstrações contábeis e em outros relatórios financeiros, para ajudar os participantes de mercado de capital e outros usuários em todo o mundo a tomar decisões econômicas; promover o uso e a aplicação rigorosa dessas normas; promover a convergência entre as normas contábeis locais e as Normas Internacionais de Contabilidade de alta qualidade. Um ponto importante de ser lembrado é que os pronunciamentos técnicos do IASB, não assumem um caráter de compulsoriedade, no entanto são considerados como uma referência técnica facultativa, facilitando a interpretação mais harmonizada das informações contábeis. Viabilizar a comparabilidade das informações contábeis produzidas por empresas situadas em países distintos e geradas por entidades de diferentes economias e tradições, permitindo, assim, a compreensão e interpretação desses dados, é um dos principais benefícios que o IASB espera alcançar. Questões sobre a soberania nacional, politização da contabilidade e sobrecarga de normas, foram algumas críticas levantadas sobre os pronunciamentos 34 do IASB. Partindo desse raciocínio, a UE (União Européia), aprovou decisão no sentido de que todas as empresas sediadas nos países-membros deverão, a partir de 2005, apresentar suas demonstrações contábeis consolidadas com bases nas normas internacionais do IASB. 1.6.4 – EEC – Comunidade Econômica Européia / UE - União Européia A EEC (European Economic Community), atual União Européia, tem sua origem na década de 50, após a destruição parcial da Europa, provocada pelas duas grandes guerras mundiais. Neste momento, a Europa via a necessidade de unir suas forças, tanto na área econômica como na área política, se tornando um bloco único, para fazer frente ao grande poderio econômico cada vez maior dos Estados Unidos. Um dos trabalhos da Comissão Européia é a busca de uma contabilidade de qualidade, com comparabilidade e transparência crescente, na tentativa de assegurar a compatibilidade entre suas próprias diretivas contábeis e os IFRS. Em 2004, diante dos escândalos em grandes empresas norte-americanas, que também resvalou em empresas da Europa, a Comissão sugeriu algumas alterações em suas diretivas, com o intuito de fortalecer a confiabilidade das demonstrações contábeis das empresas européias. De acordo com Bueno e Lopes (2005a, p. 30-31), as modificações sugeridas foram: os conselheiros são responsáveis por informações contábeis, financeiras e outras, que são tornadas públicas; todas as transações com partes relacionadas, de empresas abertas ou não, devem ter esclarecimentos quanto às transações com familiares, gestores, etc.; instrumentos financeiros, que por sua vez envolvam empresas de fins específicos, que são muitas vezes localizadas em paraísos fiscais, e assim não registradas nas demonstrações contábeis, a partir dessas mudanças, se torna obrigatório a divulgação dos impactos causados em suas demonstrações contábeis anuais e consolidadas; divulgar uma demonstração de governança coorporativa. 35 Em votação unânime, a comissão aprovou, em seu regulamento 1725/2003, a adoção das normas internacionais de contabilidade expedidas pelo IASB, com isso, cerca de sete mil companhias abertas européias, incluindo instituições financeiras e companhias seguradoras, deverão elaborar, a partir de 2005, suas demonstrações contábeis segundo as novas orientações. 1.6.5 – IFAC – Federação Internacional de Contadores O IFAC (International Federation of Accountants) é uma organização, de natureza não governamental, não política e sem fins lucrativos, que representa mundialmente a profissão contábil. Foi criado em 1977, e sua sede fica em Nova York, Estados Unidos. Conta com a participação de 157 (cento e cinqüenta e sete) membros, representando 118 (cento e dezoito) países e quase 2,5 milhões de contadores. O Brasil está representado pelo IBRACON e pelo CFC. Segundo Niyama (2005, p. 43), a missão do IFAC é de estreitar o relacionamento da profissão contábil em nível mundial. Com isso, vários outros aspectos seriam possíveis, como o aumento do desenvolvimento da economia internacional, elevar a qualidade técnica dos padrões profissionais, buscando convergência desses padrões e representar, de maneira firme, a profissão contábil em assuntos de interesse público. O IFAC publica padrões profissionais e guias de recomendações por intermédio de seus comitês, sendo eles: Comitê de Padrões de Auditoria – sua finalidade é normatizar padrões de auditoria e de outros serviços correlatos ao trabalho de auditoria. Sua publicação mais importante foi o International Standards of Auditing, que vem servindo de modelo para diversos países, no estabelecimento de procedimentos de auditoria; Comitê de Educação – sua finalidade é aperfeiçoar a educação na área contábil, utilizando de programas ou estabelecendo padrões de recomendação. Para isso, atua como um agente catalizador em países desenvolvidos ou em desenvolvimento. Sua publicação mais importante foi o International Education Standards, que busca estabelecer elementos essenciais para o ensino da contabilidade; 36 Comitê de Ética – tem por finalidade estabelecer um código de ética para contadores a nível mundial, que servirá de base para que órgãos de profissionais de classe, possam editar seus próprios códigos de ética; Comitê de Contadores Profissionais para o Gerenciamento dos Negócios – sua finalidade é orientar profissionais em matéria de gerenciamento de atividades, como por exemplo: Balanced Scorecard, orçamento, governança corporativa, dentre outros; Comitê do Setor Público – tem sua responsabilidade voltada para edição dos padrões contábeis internacionais do setor público, incluindo aspectos de auditoria para os governos locais, regionais e nacionais. Pode ser considerado um dos únicos órgãos voltados especificamente para a área pública; Comitê de Auditores Transnacionais – é um comitê executivo, que dedica-se a identificar problemas nas práticas de auditoria, como controle de qualidade, práticas de auditoria, independência, treinamento, e desenvolvimento. Atua de forma interativa entre as empresas de auditoria multinacionais e reguladores internacionais, com relação à qualidade dos trabalhos de auditoria e transparência dos atos. 1.6.6 – IOSCO – Organização Internacional das Comissões de Valores Mobiliários A IOSCO (The International Organization of Securities Commission), nasceu em 1983, e hoje conta com a participação de mais de 115 (cento e quinze) órgãos reguladores, semelhantes a nossa CVM (Comissão de Valores Mobiliários). Não é exatamente um órgão que volta suas atenções para questões contábeis, mas sim para o mercado de capitais. Seus principais objetivos são: cooperação em favor de altos padrões de regulamentação para o mercado de capitais, tornando os mercados mais justos, eficientes e sadios; assistência mútua para integração dos mercados de capitais e sua padronização, através de troca de informações ou outras experiências; 37 combater a “lavagem de dinheiro”, através de um constante monitoramento das transações internacionais; promover a integridade do mercado, mediante uma rigorosa aplicação de padrões regulatórios. Em resumo aos objetivos acima mencionados, a IOSCO utiliza-se de instrumentos como a contabilidade e a evidenciação de informações, para monitorar o mercado de capitais, fazendo com isso, que ele atue de forma cada vez mais justa, eficiente e íntegro. Em 1995, durante sua reunião anual em Tókio no Japão, a IOSCO endossou a obrigatoriedade de adoção das normas internacionais de contabilidade editadas pelo IASB pelas empresas que circulam no mercado de capitais. Esta medida ajudou muitas empresas que pretendiam entrar no mercado norte-americano, onde as Bolsas de Valores já exigiam as demonstrações contábeis elaboradas segundo as normas do US GAAP. 1.6.7 – Mercosul – Mercado Comum do Sul Com natural atraso em relação à União Européia, o Mercosul, criado em 1991 com o Tratado de Assunção, ainda está engatinhando no que se refere a harmonização contábil. A maior parte das iniciativas de discutir o assunto, são de autoria das próprias entidades profissionais locais, como por exemplo: no Brasil – CFC e IBRACON; na Argentina – Federación Argentina de Consejos Profesionales de Ciências Econômicas e Consejo Profesional de la Ciudad Autônoma de Buenos Aires; no Paraguai – Colegio de Contadores de Paraguay; no Uruguai – Colegio de Contadores y Economistas do Uruguay. 38 1.6.8 – BIS – Comitê de Supervisão Bancária do Banco de Compensações Internacionais O BIS (Banking Supervision Committee), não é um órgão voltado para regulamentar normas contábeis, mas sim de estabelecer padrões mínimos de capital e patrimônio líquido para os bancos que operam no mercado internacional. Ele funciona como um “Banco Central” para os Banco Centrais de todos os países. Conforme Niyama (2005, p. 51), os principais objetivos do BIS são: minimizar os riscos de insucesso bancário que possam afetar o cenário internacional; manter níveis razoáveis de solvência e liquidez do sistema financeiro internacional; uniformizar as normas aplicáveis às instituições financeiras em seus respectivos países. As normas do BIS não são obrigatórias, entretanto, se um banco de um determinado país quiser abrir uma agência ou subsidiária em outro, deverá este banco estar em harmonia com as normas do BIS, considerando o atual cenário de mercado globalizado. 1.6.9 – CAPA – Confederação de Contadores da Ásia e do Pacífico A CAPA (The Confederation of Asian and Pacific Accountants) foi criada em 1976, e tem como missão principal o desenvolvimento, aperfeiçoamento e coordenação da profissão contábil na região da Ásia e do Pacífico, capacitando a profissão no oferecimento de serviços de alta qualidade e de interesse público. Atualmente a CAPA congrega 31 (trinta e uma) entidades contábeis de 21 (vinte e um) países. Os principais objetivos da CAPA são: aperfeiçoar padrões na busca de harmonização com pronunciamentos do IFAC e IASB; proporcionar assistência para formação e desenvolvimento de organizações nacionais e regionais, que sejam de interesse da profissão contábil; 39 atuar no estimulo de uma profissão coesa e forte, sob coordenação com o IFAC. 1.6.10 – AIC – Associação Interamericana de Contabilidade O AIC (Asociación Interamericana de Contabilidad) foi criado em 1949, com o objetivo de integrar os contadores do continente americano e assumir a representação da profissão. É uma organização regional das Américas do Norte, Central e do Sul. Tem a missão de alcançar uma profissão forte e coerente, no âmbito dos contadores das Américas, cumprindo suas responsabilidades perante a sociedade e mantendo um real intercâmbio. 1.6.11 – FEE – Federação dos Especialistas Contábeis da Europa O FEE (Federation des Experts Comptables Européens) é uma organização de contadores europeus, cujo objetivo é analisar e discutir divergências internacionais no âmbito contábil, de auditoria e de tributação. Suas propostas, quando aprovadas, são levadas a apreciação da União Européia. 1.6.12 – FASB – Conselho de Normas Contábeis O FASB (Financial Accounting Standards Board) foi criado em 1973 com status de autoridade contábil. É uma entidade privada, que acaba influenciando as práticas contábeis de praticamente o mundo todo, dada a importância do mercado financeiro dos Estados Unidos. Suas normas são monitoradas e corroboradas pela comissão de valores mobiliários estadunidenses – SEC (Securities and Exchange Commission) através dos SAB’s (staff accounting bulletins), que acabaram por dar origem aos princípios contábeis geralmente aceitos, os GAAP’s (generally accepted accounting principles). 40 As companhias de capital aberto devem seguir as normas expedidas pelo FASB, ao contrário, terão seu registro de companhia aberta e negociação de seus títulos recusados pela SEC. 1.6.13 – SEC – Comissão de Valores Mobiliários A SEC (Securities Exchange Commission) é um órgão governamental com a função de supervisionar o mercado de capitais e também os princípios contábeis geralmente aceitos nos EUA. Este órgão é equivalente a Comissão de Valores Mobiliários brasileira. De acordo com Bueno e Lopes (2005d, p. 11), suas principais atribuições são: regulamentar as transações nas bolsas de valores; revisar documentos de registro ou oferta de ações; punir empresas abertas que não seguem o US GAAP ou não evidenciam informações relevantes. 41 2 – MODELOS INTERNACIONAIS DE CONTABILIDADE 2.1 – US GAAP (United States Generally Accepted Accounting Principles) Conhecida mundialmente como os princípios contábeis geralmente aceitos nos EUA, a expressão US GAAP tem um significado mais amplo que isso. Abrange também convenções, regras e procedimentos necessários para definir práticas aceitas, partindo para o detalhamento, não se limitando a ser meramente um guia de aplicação dessas práticas. Os US GAAP são elaborados pelo FASB que é o Conselho de Normas Contábeis, sendo este uma entidade privada que desde 1973 tem status de autoridade contábil nos EUA. O FASB é auxiliado por órgãos americanos no intuito de melhorar ainda mais as normas e procedimentos adotados. São eles: SEC (Securities and Exchange Commission) - órgão governamental com a função de supervisionar as normas e pronunciamentos emitidos pelo FASB; EITF (Emerging Issues Task Force) Força Tarefa sobre Assuntos Emergentes - assiste ao FASB na melhoria dos informes contábeis, sem a necessidade de intervenção do próprio; AICPA (American Institute of Certified Public Accountants) Instituto dos Contadores Norte-Americanos – promove a fiscalização das firmas de auditoria estadunidenses. Conforme Niyama (2005, p. 92) o SAS n.º 69 (Statement Audinting Standard), do AICPA, divide, em ordem decrescente de importância, os seguintes US GAAP: Na categoria A, os princípios contábeis autorizados mais importantes são promulgados pelos órgãos designados pela AICPA Council. A categoria B determina que, quando um tratamento contábil de uma transação ou evento não for especificado na categoria A, os contadores devem considerar os pronunciamentos de órgãos compostos por contadores especialistas, que sigam um devido processo do estabelecimento de princípios contábeis ou descrição de práticas existentes, que são geralmente aceitas. 42 Na categoria C, estão incluídos os órgãos compostos de contadores especialistas, quando na interpretação e estabelecimento de princípios contábeis ou descrição das práticas contábeis existentes. Na categoria D, encontram-se as práticas e procedimentos, que são amplamente reconhecidos como geralmente aceitos. Em resumo, a categoria A, especificada pelo SAS 69, constitui-se em princípios obrigatórios, enquanto os pronunciamentos enquadrados nas categorias B, C e D representam, preferencialmente, pontos de vista que servem como orientação. Os US GAAP, estão consubstanciados em mais de 150 (cento e cinqüenta) pronunciamentos FASB Statements, 31 (trinta e um) APB Opinions, 51 (cinqüenta e um) ARB (Boletins de Estudos Contábeis) e 46 (quarenta e seis) Interpretações FASB. Sabe-se que as normas internacionais de contabilidade – IFRS, editadas pelo IASB já são adotadas por diversas empresas em diversos países da Europa e Ásia, o que falta agora é ampliar essa aceitação também para as empresas norteamericanas. Atualmente a SEC aceita a publicação de demonstrações contábeis segundo os princípios e práticas do IASB, desde que reconciliadas com as normas segundo o US GAAP, o que gera confusão entre investidores e custos adicionais. 2.2 - IFRS (International Financial Reporting Standards) As IFRS são Normas Internacionais de Contabilidade elaboradas pelo IASB, com a responsabilidade de harmonizar as normas contábeis a nível mundial. Em 18 de julho de 2002, foi aprovado na União Européia a regulamentação CE n. º 1.606/2002 que determina que a partir de 2005, de uma forma geral, todas as empresas listadas nas diversas bolsas de valores do mundo, ou seja, cerca de 7.000 empresas em 92 países, devem apresentar suas demonstrações financeiras consolidadas de acordo com as IFRS. De acordo com Bueno e Lopes (2005c, p. 5): A adoção de regras de reporting contábil comuns, uniformes e de elevada qualidade nos mercados de capitais da União Européia, irá ter como conseqüência direta à melhoria da eficiência e da eficácia dos mercados, uma melhor comparabilidade das demonstrações financeiras e, 43 necessariamente, a redução dos custos de emissão de capital das empresas. O impacto desta regulamentação é sentido a nível mundial, pois as IFRS auxiliam as empresas a terem acesso ao mercado de capitais internacional, assim essas empresas passaram a fazer parte da economia globalizada dos dias atuais, podendo ainda, serem identificadas com mais credibilidade e confiança perante os investidores. Antes de serem adotadas de forma geral as normas das IFRS, as empresas passaram por um período de transição de suas demonstrações, seguindo o primeiro pronunciamento, o IFRS 1. Este pronunciamento determina que as empresas listadas, com fechamento contábil em 31 de dezembro de 2005, deveriam incluir um comparativo com data em 31 de dezembro de 2004, tendo como ponto de partida um balanço de abertura em IFRS em 01 de janeiro de 2004. Junto a este comparativo, as empresas deverão apresentar também, uma reconciliação dos efeitos adotados pelas IFRS nos resultados líquidos e de capitais próprios, para que os acionistas tenham total conhecimento da situação patrimonial da empresa à luz das IFRS, no momento que deverão aprovar em assembléia geral, as contas de 2004. 2.2.1 - A adoção das Normas Internacionais O IASB é o órgão responsável pela emissão das Normas Internacionais de Contabilidade e seus pronunciamentos, as IFRS. Observando a necessidade de adoção das Normas Internacionais pelas empresas, o IASB publica em 2004 a “plataforma estável”, que são instruções para o fechamento das demonstrações em 31 de dezembro de 2005, destacando novos pronunciamentos e revisão de vários outros. Ao todo foram 22 (vinte e duas) normas novas ou revisadas e mais 14 (quatorze) que foram mantidas com o texto original. O passo final para aprovação das IFRS na Europa foi à aprovação das 36 (trinta e seis) normas pela Comissão Européia, o que ocorreu em 2004. Houve apenas um ponto de divergência referente ao IAS 39, que foi solicitado, pela comissão, a exclusão de dois itens da sua redação original. Este pronunciamento trata de Instrumentos Financeiros - Reconhecimento e Mensuração. 44 Partindo deste ponto, com a aprovação pela comissão do IAS 39 modificado, as empresas listadas na União Européia ficam obrigadas a aplicar a versão modificada da norma em suas demonstrações contábeis. Para empresas brasileiras é recomendado que avaliem a possibilidade de, em um futuro próximo, oferecer ao mercado informações financeiras em IFRS. Segundo Bueno e Lopes (2005c, p. 26) o ritmo de adoção dessas normas pelas empresas européias e asiáticas, e o comprometimento dos Estados Unidos quanto à harmonização das normas, faz com que empresas que não se adequarem às novas normas, comprometam sua competitividade nos mercado de capitais internacionais. É importante que os administradores se conscientizem que de é necessário planejar e implementar os projetos de elaboração de informações segundo as normas internacionais, sendo vital para o sucesso da empresa a nível mundial. Um grande passo será dado ao processo de harmonização internacional das práticas contábeis, quando os princípios norte-americanos sofrerem as alterações necessárias no sentido de eliminar as diferenças existentes em relação as IFRS. 2.3 – PRINCÍPIOS CONTÁBEIS Como bem descreve Iudícibus e Marion (2002, p.87), os princípios contábeis podem ser assim definidos como “(...) conceitos básicos que constituem o núcleo essencial que deve guiar a profissão na consecução dos objetivos da Contabilidade, que consistem em apresentar informação estruturada para os usuários”. De acordo com a Resolução nº 750/93 do Conselho Federal de Contabilidade – CFC, em seu artigo 2º: Art.2º Os Princípios Fundamentais de Contabilidade representam a essência das doutrinas e teorias relativas à Ciências da Contabilidade, consoante o entendimento predominante nos universos científico e profissional de nosso País. Consernem, pois, á Contabilidade no seu entendimento mais amplo de ciência social, cujo objeto é o patrimônio das entidades. Pode-se concluir que os princípios são como guias para o melhor entendimento da matéria contábil, utilizados para chegar aos objetivos da contabilidade que é gerar informações confiáveis aos seus usuários. 45 2.3.1 - Princípios Contábeis no Brasil No Brasil não existe um único órgão responsável pela normatização contábil. Podemos destacar como principais regentes das práticas contábeis no país: Lei das Sociedades Anônimas nº 6.404/1976; Comissão de Valores Mobiliários – CVM; Conselho Federal de Contabilidade – CFC; Instituto dos Auditores Independentes do Brasil – IBRACON. 2.3.1.1 - Segundo o CFC O CFC reconhece como princípios contábeis àqueles constantes do artigo 3º da Resolução 750/1993. Art. 3º São princípios Fundamentais de Contabilidade: I. o da ENTIDADE; II. o da CONTINUIDADE; III. o da OPORTUNIDADE; IV. o do REGISTRO PELO VALOR ORIGINAL; V. o da ATUALIZAÇÃO MONETÁRIA; VI. o da COMPETÊMCIA; e VII. o da PRUDÊNCIA. Alguns autores consideram os princípios da Entidade e da Continuidade como Postulados Ambientais da Contabilidade, por considerarem esses dois princípios a base de todos os outros. 2.3.1.2 - Segundo o IBRACON Para o IBRACON, as empresas devem atender às normas do próprio Instituto, bem como aquelas do CFC e demais outros órgãos desde que consistentes com as normas dos dois primeiros. Segundo Bueno e Lopes (2005b, p. 28), os princípios adotados pelo IBRACON são fortemente baseados nos princípios emanados pelo IASB. São eles: 46 I. a Continuidade Operacional; II. o Regime de Competência; III. a Uniformidade da Apresentação; IV. a Relevância e Agregação; V. a (não) Compensação; VI. a Comparabilidade. 2.3.2 - Princípios Contábeis Segundo o IASB Conforme Bueno e Lopes (2005b, p. 30) o IASB destaca seus princípios contábeis em sua primeira norma, o IAS 1 de 1994, sendo revisada em 1997 e 2003. São eles: I. a Continuidade Operacional (on a going concem basis); II. o Regime de Competência (accrual basis of accounting); III. a Consistência da Apresentação (presentation and classification); IV. a Relevância e Agregação (material class); V. a (não) Compensação (not offset); VI. as Informações Comparativas (comparative information). Em sua estrutura conceitual para a elaboração e apresentação das demonstrações contábeis, de 1989, são realçados como pressupostos básicos, o regime de competência e a continuidade. 2.3.3 - Princípios Contábeis Segundo o US GAAP Como ocorre no Brasil, nos EUA o poder normatizador também não se concentra em uma única entidade, mas num amplo grupo de órgãos governamentais e profissionais. O FASB – Conselho de Normas Contábeis, o mais influente de todos; O AICPA – Instituto dos Contadores Norte-Americanos; A SEC, equivalente à nossa CVM; A IRS, equivalente à nossa Secretaria da Receita Federal. 47 Segundo Niyama (2005, p. 94), podemos listar os seguintes princípios segundo o US GAAP: I. Objetividade; II. Entidade; III. Custo como base de valor; IV. Continuidade; V. Reconhecimento da receita (realização); VI. Independência de exercícios; VII. Confrontação com a despesa; VIII. Materialidade IX. Evidenciação; X. Consistência; XI. Conservadorismo. 2.4 – COMPARATIVO DAS PRINCIPAIS PRÁTICAS CONTÁBEIS Mesmo com os esforços do FASB e do IASB em prol da harmonização contábil, ainda são muitas as diferenças encontradas entre os IFRS e os US GAAP, maiores ainda quando comparadas com os BR GAAP. A seguir será demonstrado um quadro com algumas dessa divergências entre ao IFRS, US GAAP e BR GAAP. Práticas Contábeis Internacionais (IFRS) Práticas Contábeis Americanas Práticas Contábeis Brasileiras (US GAAP) (BR GAAP) 1) Base de Valor Contábil. Utiliza o custo histórico, mas os ativos intangíveis, o ativo permanente e as propriedades para investimento podem ser reavaliados a valor justo. Reavaliações não são permitidas, Utiliza o custo histórico, mas exceto no caso de instrumentos itens do ativo imobilizado podem financeiros derivativos, e alguns ser reavaliados. outros instrumentos financeiros que devem ou podem ser avaliados ao valor justo. 48 2) Componentes das Demonstrações. Balanço patrimonial, demonstrações do resultado, dos fluxos de caixas e das mutações do patrimônio líquido de, no mínimo, dois anos. Semelhantes às IFRS, porém, para as empresas registradas na SEC, são exigidos três anos de todas as demonstrações, exceto o balanço patrimonial. Semelhantes às IFRS, com exceção da apresentação da demonstração das origens e aplicações dos recursos no lugar da demonstração dos fluxos de caixa. Também devem ser apresentadas as políticas contábeis adotadas pela empresa e as notas explicativas contendo detalhes para melhor entendimento das demonstrações financeiras. 3) Demonstração de outros ganhos e perdas reconhecidos. Requerem uma demonstração em separado dos outros ganhos e perdas reconhecidos em nota explicativa ou de forma destacada na demonstração das mutações do patrimônio líquido. Exigem a divulgação do valor total e do valor acumulado de outros ganhos e perdas reconhecidos, na forma de demonstração financeira em separado ou de forma combinada com a demonstração do resultado ou com a demonstração das mutações do patrimônio líquido. Não prevêem especificamente a existência desta demonstração. Na prática, tais ganhos e perdas são tratados de maneira similar aos itens extraordinários. 4) Demonstração dos fluxos de caixa – formato e método. Exigem classificação em contas padrão, mas são flexíveis quanto ao conteúdo das contas. Permitem a utilização dos métodos direto ou indireto. Requerem classificação em contas de categorias similares em relação às IFRS, mas dão orientação mais específica quanto à classificação em cada categoria. Também permitem a utilização dos métodos direto ou indireto. Não requerem a apresentação. Quando voluntariamente apresentadas, as regras são semelhantes às IFRS. 5) Correção de erros. Exigem a correção informações comparativas. das Semelhantes às IFRS. São tratadas como ajuste do saldo inicial dos lucros ou prejuízos acumulados do ano corrente. Não há correção ou reapresentação de informações comparativas. Com base em influência Semelhantes às IFRS. significativa: Presume-se que haja influência significativa quando há 20% ou mais de participação no capital ou nos negócios da empresa. Com base em 10% ou mais de participação direta ou indireta no capital votante da empresa, sem controla-la. Para aplicação do método de equivalência patrimonial, os critérios são similares aos das IFRS. 6) Definição de coligada. 49 7) Apresentação de “ joint-ventures”. Permitem a utilização dos métodos de consolidação proporcional ou equivalência patrimonial. O método de equivalência Requerem a patrimonial é requerido, exceto proporcional. em circunstâncias específicas. Consolidação proporcional não é aceita. consolidação 8) Pagamento Contingente. Quando possível, é estimado na Não é reconhecido até que a Não tratam do assunto. aquisição e posteriormente contingência seja resolvida ou o corrigido com ajuste ao valor do valor seja determinável. ágio. 9) Ágio e ativos intangíveis – tratamento subseqüente à aquisição. Ágio e ativos intangíveis com Semelhantes às IFRS. vida indefinida não são amortizados, mas têm seu valor de recuperação calculado anualmente e comparado ao valor contábil. Sempre que o valor de recuperação for inferior ao valor contábil, uma perda deve ser reconhecida no resultado do exercício. Ágio é amortizado em prazo não superior a 10 anos, exceto quando decorrente de aquisição do direito de exploração, concessão ou permissão delegada pelo poder público. Nesses casos, deve ser amortizado com base no prazo de vigência da respectiva concessão ou permissão pública. 10) Reconhecimento de Receitas. Baseado em vários critérios, que exigem o reconhecimento da receita quando os riscos e recompensas decorrentes da propriedade tiverem sido transferidos a terceiros (comprador) e a receita puder ser medida de maneira confiável. Baseado em quatro critérios- Semelhantes às IFRS, porém chave. Em princípio, semelhantes menor nível de orientação pode às IFRS. Apresentam orientação resultar em diferenças práticas. detalhada e extensiva para transações específicas. 11) Ativos intangíveis adquiridos de terceiros. Requerem a capitalização se os Semelhantes às IFRS, porém critérios de reconhecimento são reavaliações não são permitidas. atendidos. Ativos intangíveis devem ser amortizados considerando sua vida útil. Reavaliações são permitidas em raríssimas circunstâncias. Geralmente são classificadas no grupo de ativo imobilizado ou diferido e amortizados de acordo com a sua vida útil. Não são permitidas reavaliações de intangíveis. 50 12) Ativo permanente. Permitem o uso do custo Não são permitidas reavaliações. histórico ou reavaliações a valor justo como base de valor contábil. Os ganhos ou perdas apurados na venda ou baixa dos ativos são registrados como despesas operacionais. Em linhas gerais, semelhantes às IFRS, com algumas divergências, por exemplo: • Os ganhos ou perdas apurados na venda ou baixa dos ativos são registrados como despesas nãooperacionais. 13) Estoques. São reconhecidos pelo menor valor entre o custo e o valor líquido realizável. Tanto o método FIFO ou da média ponderada podem ser utilizados para determinar o custo. O método LIFO é proibido. Reversão de perdas para redução ao valor recuperável originalmente registradas é requerida sempre que houver mudanças nas circunstâncias que a determinaram. Semelhantes às IFRS ; Semelhantes às IFRS. entretanto, o uso do LIFO é permitido. Reversão de perdas para redução ao valor recuperável não é aceita. 14) Provisões – geral. Exigem o registro de provisões quando houver uma obrigação presente, decorrente de evento passado para a qual um desembolso de recursos seja provável e possa ser estimado de maneira confiável. Semelhantes às IFRS, com Semelhantes às IFRS. regras para situações específicas (custos de demissão de empregados, passivos ambientais, passivos contingentes, etc.). Quadro 2: Comparativo das Praticas Contábeis Fonte: PricewaterhouseCoopers 51 3 - METODOLOGIA Para desenvolver um bom trabalho, é essencial uma boa pesquisa, seguindo uma metodologia que proporcione o desenvolvimento de todo o trabalho. Segundo as palavras de Cervo e Bervian (2002, p. 64) “O interesse e a curiosidade do homem pelo saber levam-no a investigar a realidade sob os mais diversificados aspectos e dimensões”. 3.1 – TIPO DE PESQUISA A base deste trabalho foi feita através de uma pesquisa bibliográfica. Esta pesquisa foi realizada através de livros, revistas técnicas e redes eletrônicas, buscando informações sobre harmonização das práticas contábeis, diversas normas internacionais de regulamentação, bem como seus respectivos órgãos, além de outras informações necessárias, para o desenvolvimento teórico desse trabalho de pesquisa. A pesquisa bibliográfica, segundo Barros e Lehfeld (1986, p. 28) “(...) é a pesquisa exploratória que os alunos realizam para obter conhecimentos, procurando encontrar informações publicadas em livros e documentos (...)”. Já para Cervo e Bervian (2002, p. 66) “A pesquisa bibliográfica é meio de formação por excelência e constitui o procedimento básico para os estudos monográficos, pelos quais se busca o domínio do estado da arte sobre determinado tema” (grifo do autor). Fez parte deste trabalho também uma pesquisa descritiva documental, com o propósito de colher informações reais, que servirão como base de comparação de dados. Conforme Cervo e Bervian (2002, p. 66) “A pesquisa descritiva observa, registra, analisa e correlaciona fatos ou fenômenos (variáveis) sem manipulá-los”. 3.2 – COLETA DE DADOS A coleta de dados é considerada por Cervo e Bervian (2002, p. 44) “uma fase intermediária da pesquisa descritiva”. 52 Ainda segundo Cervo e Bervian (2002, p. 44) “A coleta de dados ocorre após a escolha e delimitação do assunto, a revisão bibliográfica, a definição dos objetivos, a formulação do problema e das hipóteses e a identificação das variáveis”. Para a pesquisa bibliográfica deste trabalho foram coletados dados em livros, revistas técnicas e redes eletrônicas de informação. Já para a pesquisa descritiva documental, foram utilizados os dados referentes aos Balanços Patrimoniais e Notas Explicativas do ano de 2005 das empresas: Nibrasco, Kobrasco, Itabrasco e Hispanobras. Esses dados foram coletados através do site da Companhia Vale do Rio Doce (CVRD). 3.3 – UNIVERSO DA AMOSTRA A amostra é definida, segundo Selltiz apud Cervo e Bervian (2002, p. 73) como sendo “a coleta de dados de uma parte da população, selecionada segundo critérios que garantam sua representatividade”. No universo da amostra foram pesquisadas as 4 (quatro) empresas coligadas do grupo CVRD (Companhia Vale do Rio Doce). Sendo elas descritas abaixo: NIBRASCO – Companhia Nipo-Brasileira de Pelotização; KOBRASCO – Companhia Coreano Brasileira de Pelotização; ITABRASCO – Companhia Ítalo-Brasileira de Pelotização; HISPANOBRAS – Companhia Hispano-Brasileira de Pelotização. Essas empresas têm em comum a participação de capital estrangeiro e fazem suas demonstrações contábeis seguindo os padrões brasileiros internacionais. 3.4 – ANÁLISE DOS DADOS A análise, a partir da classificação ordenada dos dados, do confronto dos resultados das tabelas (...) procura verificar a comprovação ou não das hipóteses de estudo (CERVO; BERVIAN, 2002, p. 74). e 53 Para análise dos dados coletados, foram elaborados tabelas para uma melhor comparação dos valores das demonstrações analisadas. 3.5 – CONTEXTO DAS EMPRESAS ANALISADAS A Companhia Vale do Rio Doce (CVRD), é uma das maiores mineradoras e exportadoras de minério de ferro e pelotas de minério de ferro do mundo.A produção das pelotas de minério de ferro foi implementada para um melhor aproveitamento econômico dos finos de minério de ferro, ou seja, um minério de ferro de segunda categoria, gerados na exploração das minas do Sistema Sul. O Sistema Sul é composto por quatro complexos mineradores: Itabira, Mariana, Minas Centrais e Minas do Oeste, que englobam mais de 15 (quinze) minas, localizadas no Quadrilátero Ferrífero, em Minas Gerais. A CVRD iniciou, no final da década de 60, a instalação de um complexo de usinas de pelotização em Vitória (ES), atualmente constituído por sete usinas. Duas usinas pertencem exclusivamente à CVRD e as demais foram implementadas em regime de coligadas ou joint ventures com grupos siderúrgicos do Japão (NIBRASCO), Coréia do Sul (KOBRASCO), Itália (ITABRASCO) e Espanha (HISPANOBRAS). 3.5.1 – Companhia Nipo-Brasileira de Pelotização – NIBRASCO A Companhia é uma sociedade anônima de direito privado, constituída em 1974, sendo controlada por uma associação da CVRD com um grupo de cinco siderúrgicas japonesas e a Sojitz Corporation. Suas principais atividades compreendem a produção e comercialização de pelotas de minério de ferro com os acionistas e a produção por encomenda. Tem sua sede industrial no Complexo de Tubarão, em Vitória – ES. A Nibrasco é uma empresa coligada da CVRD, tendo seu capital social formado por 51% de capital nacional e 49% de capital estrangeiro. Atualmente, de acordo com o Ranking das 150 maiores Empresas do Estado do ES, referente ao exercício de 2005, a Nibrasco está na 12ª posição com relação à 54 Receita Operacional Bruta e em 15º colocação com relação ao Lucro Líquido. Dentre as empresas de pelotização e siderurgia, ela ocupa a 4ª colocação, no que diz respeito a Receita Operacional Bruta. 3.5.2 - Companhia Coreano Brasileira de Pelotização – KOBRASCO A Companhia, com sede e planta industrial no Complexo de Tubarão, em Vitória – ES, foi constituída mediante associação da CVRD e da Pohang Iron and Steel Co., Ltd. – POSCO. Seu objetivo social é a fabricação de pelotas de minério de ferro, cuja produção foi iniciada em outubro de 1998. A Kobrasco é uma empresa coligada da CVRD, tendo seu capital social formado por 50% de capital nacional e 50% de capital estrangeiro. Atualmente, de acordo com o Ranking das 150 maiores Empresas do Estado do ES, referente ao exercício de 2005, a Kobrasco está na 6ª posição com relação à Receita Operacional Bruta das empresas de pelotização e siderurgia. 3.5.3 - Companhia Ítalo-Brasileira de Pelotização – ITABRASCO A Companhia é uma sociedade anônima de direito privado, constituída em 1973 mediante a associação da CVRD e da Ilva International S/A. Suas atividades compreendem a produção e comercialização de pelotas de minério de ferro, cujas vendas são destinadas aos acionistas. Tem sua sede industrial no Complexo de Tubarão, em Vitória – ES. A Itabrasco é uma empresa coligada da CVRD, tendo seu capital social formado por 50,90% de capital nacional e 49,10% de capital estrangeiro. Atualmente, de acordo com o Ranking das 150 maiores Empresas do Estado do ES, referente ao exercício de 2005, a Itabrasco está na 8ª posição com relação à Receita Operacional Bruta das empresas de pelotização e siderurgia. 55 3.5.4 - Companhia Hispano-Brasileira de Pelotização – HISBANOBRAS A Companhia é uma sociedade anônima de direito privado, constituída em 1974 mediante a associação da CVRD e da Aceralia Corporación Siderúrgica S/A (Grupo Arcelor). Suas atividades compreendem a produção e comercialização de pelotas de minério de ferro, cujas vendas são destinadas aos acionistas. Tem sua sede industrial no Complexo de Tubarão, em Vitória – ES. A Hispanobras é uma empresa coligada da CVRD, tendo seu capital social formado por 51% de capital nacional e 49% de capital estrangeiro. Atualmente, de acordo com o Ranking das 150 maiores Empresas do Estado do ES, referente ao exercício de 2005, a Hispanobras está na 7ª posição com relação à Receita Operacional Bruta das empresas de pelotização e siderurgia. 56 4 – ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS DADOS A pesquisa foi realizada com base nas Demonstrações Contábeis das empresas NIBRASCO, KOBRASCO, ITABRASCO e HISPANOBRAS, referente ao ano de 2005. Estas demonstrações estão apresentadas pelos diferentes métodos de elaboração (BR GAAP, US GAAP e IFRS), que é o foco principal desta pesquisa. Todas as empresas analisadas nesta pesquisa apresentam suas demonstrações contábeis em moeda local, o Real (R$) e também em Dólar dos EUA (US$), como moeda funcional, e em Euro da União Européia, por considerar que o Dólar e o Euro são moedas que melhor refletem o cenário econômico mundial na atualidade e também para apresentação aos sócios estrangeiros. Além disso, grande parte de suas vendas destina-se ao mercado internacional, onde, toda transação, inclusive o preço determinado de venda dos produtos, é cotado em Dólar americano. Pela análise feita nas demonstrações contábeis a taxa utilizada para conversão dos valores de Reais para Dólar americano e Euro, foi feita a partir do resultado da taxa cambial média, divulgada pelo Banco Central do Brasil no final de cada exercício. A taxa média referente ao exercício 2005 foi de: para dólar americano = 2,3407; e para euro = 2,7691. O período analisado foi o ano de 2005, sendo o enfoque principal deste trabalho o Patrimônio Líquido (PL) de cada empresa. Para o nosso estudo, foi excluído o montante referente a diferenças de conversão de moeda (R$ para US$) sobre o Capital Social, por não ser o foco principal deste trabalho, que são apenas as contas que interferem no saldo do PL a nível de reclassificação. As empresas Nibrasco, Kobrasco e Itabrasco apresentam suas demonstrações convertidas pelos princípios e normas Brasileiras (BR GAAP) e Americanas (US GAAP), já a Hispanobras, apresenta suas demonstrações, além dos métodos citados acima, também conforme as normas Internacionais do IFRS. Em um primeiro momento, serão demonstradas as empresas que apresentam suas demonstrações em US GAAP, e depois a empresa que também apresenta suas demonstrações em IFRS. 57 4.1 – ANÁLISE DOS DADOS ENTRE BR GAAP E US GAAP Nas análises feitas, foram verificadas quais as contas que trazem diferenciação, enquanto a reclassificação, entre o BP em BR GAAP e US GAAP, chegando ao resultado encontrado demonstrado nas tabelas abaixo. Os valores dispostos abaixo estão demonstrados em milhares de Reais. Companhia Nipo-Brasileira de Pelotização - NIBRASCO Composição da diferença constatada entre PL em BR GAAP e US GAAP 2005: Saldo inicial do Patrimônio Líquido em R$ - BR GAAP .......................... 177.171 Contas que trazem diferenças de reclassificação: Dividendos propostos .................................................................................. Provisão para manutenção de usina ........................................................... CTA (Cumulative Translation Adjustment) ...............................……............ Ajuste Acumulado de Tradução 91.593 9.991 (85.836) Saldo do Patrimônio Líquido em R$ - US GAAP .................................... 192.919 TABELA 1 – Análise do PL da Nibrasco 2005 (BR GAAP x US GAAP) Companhia Coreano Brasileira de Pelotização - KOBRASCO Composição da diferença constatada entre PL em BR GAAP e US GAAP 2005: Saldo inicial do Patrimônio Líquido em R$ - BR GAAP .......................... 91.708 Contas que trazem diferenças de reclassificação: Dividendos propostos ................................................................................... Provisão para manutenção de usina ............................................................ Reserva de Capital (ágio na subscrição de ações)....................................... CTA (Cumulative Translation Adjustment) ....................……........................ Ajuste Acumulado de Tradução Permanente diferido .................................................................................... 96.774 6.644 (7.098) (61.397) Saldo do Patrimônio Líquido em R$ - US GAAP .................................... 123.706 TABELA 2 – Análise do PL da Kobrasco 2005 (BR GAAP x US GAAP) (2.925) 58 Companhia Ítalo-Brasileira de Pelotização - ITABRASCO Composição da diferença constatada entre PL em BR GAAP e US GAAP 2005: Saldo inicial do Patrimônio Líquido em R$ - BR GAAP ......................... 101.702 Contas que trazem diferenças de reclassificação: Dividendos propostos .................................................................................. Provisão para manutenção de usina ........................................................... Reserva de Lucros - para Investimentos...................................................... CTA (Cumulative Translation Adjustment) ................................................. Ajuste Acumulado de Tradução Permanente diferido ................................................................................... 50.000 1.068 (34.144) (52.663) Saldo do Patrimônio Líquido em R$ - US GAAP .................................... 64.945 (1.018) TABELA 3 – Análise do PL da Itabrasco 2005 (BR GAAP x US GAAP) Companhia Hispano-Brasileira de Pelotização - HISPANOBRAS Composição da diferença constatada entre PL em BR GAAP e US GAAP 2005: Saldo inicial do Patrimônio Líquido em R$ - BR GAAP ......................... 111.868 Contas que trazem diferenças de reclassificação: Dividendos propostos .................................................................................. Provisão para manutenção de usina ........................................................... Reserva de Capital ...................................................................................... CTA (Cumulative Translation Adjustment) .................................................. Ajuste Acumulado de Tradução Permanente diferido ................................................................................... 58.854 554 (1.578) (83.872) ** Saldo do Patrimônio Líquido em R$ - US GAAP ................................ 84.505 (1.321) TABELA 4 – Análise do PL da Hispanobras 2005 (BR GAAP x US GAAP) Como pode ser observado nas tabelas anteriores as contas que apresentam diferenciação nas análises entre os PL’s em BR GAAP e US GAAP se repetem na maioria das empresas analisadas, por isso, será demonstrado abaixo as características gerais dessas contas. Dividendos propostos - representa os dividendos que serão distribuídos aos sócios no próximo exercício (2006), referente a lucros auferidos no exercício atual, que no caso estudado é o ano de 2005, conforme análise feita nas notas explicativas das empresas. A diferenciação ocorre em virtude de que, no BP em BR GAAP, este valor já está provisionado no 59 Passivo Circulante (PC), enquanto que no BP em US GAAP, o valor dos dividendos continua a fazer parte do PL, na conta de Lucros a distribuir. Provisão para manutenção de usina - esta conta significa a provisão de uma perda que a empresa poderá ter no exercício seguinte, referente a uma parada na produção de suas usinas para eventual manutenção. Essa diferença ocorre em virtude de que, esta provisão é permitida pelas normas brasileiras, enquanto que pelas normas americanas do US GAAP ela não é válida. Reserva de capital – por definição, a reserva de capital é a soma de valores recebidos pela companhia que não transitam pelo resultado como receitas, por se referirem a valores destinados a reforço de capital. Este tipo de procedimento é totalmente válido pelas normas brasileiras, o que não acontece com as normas americanas. Reserva de lucros para investimento – também por definição, a reserva de lucros representa os lucros obtidos pela companhia, retidos para uma finalidade específica, que no caso em questão, para investimentos futuros dentro da própria companhia. A retenção desta reserva deve ser devidamente justificada e aprovada pela assembléia geral da companhia. Permanente diferido – no caso estudado, o saldo desta conta refere-se a pesquisa e desenvolvimento. Neste caso, pelas normas brasileiras, o procedimento está correto, mas, pelas normas americanas, este tipo de gasto, deve ser contabilizado diretamente no resultado do exercício. CTA (Cumulative Translation Adjustment) Ajuste Acumulado de Tradução - esta conta, representa todas as perdas que a nossa moeda local (Real) vem sofrendo ao longo do tempo com relação ao dólar americano. Essas perdas são conseqüência de vários fatores, podemos citar como os principais: inflação elevada, instabilidade político-econômico, interferência do governo nas taxas cambiais e desvalorização da moeda local perante o dólar americano. Um grande problema que ocorreu no Brasil foram os diversos planos econômicos de troca de moeda, que também interferiram para que ocorressem tais perdas. 60 Conforme Martins (2003), em estudo realizado no final de 2002 e inicio de 2003, mostrou que após o Real, o cenário brasileiro perante ao dólar americano vem se recuperando gradativamente, com isso o Brasil volta a ser um mercado atraente para os investidores internacionais. Atualmente as taxas cambiais são livremente negociadas, com uma mínima interferência do governo, nossa moeda está valorizada perante as moedas estrangeiras e nossa inflação está em patamares aceitáveis, com isso, o CTA, que acumulava valores negativos ao longo dos anos, já começa a aumentar, podendo inclusive expressar valores positivos. A tabela a seguir é um resumo das tabelas anteriores, onde estão dispostos os totais apurados em moeda corrente do país (Real), bem como seus respectivos percentuais para uma melhor análise. Foi considerado o valor em BR GAAP como 100%. Patrimônio Líquido - Ano 2005 R$ (milhares) % NIBRASCO BR GAAP US GAAP 177.171 192.919 100,0 108,9 KOBRASCO BR GAAP US GAAP 91.708 123.706 100,0 134,9 ITABRASCO BR GAAP US GAAP 101.702 64.945 100,0 63,9 HISPANOBRAS BR GAAP US GAAP 111.868 84.505 100,0 75,5 TABELA 5 – Resumo dos valores apurados do PL das empresas (BR GAAP x US GAAP) 61 Analisando os dados da Nibrasco, observa-se que seu PL pelas normas brasileiras teve um aumento de 8,9%, comparado com as normas americanas, como pode ser observado no gráfico abaixo. PL NIBRASCO 108,9 110,0 % 105,0 100,0 100,0 95,0 Brasileiras Americanas Normas GRÁFICO 1 – PL Nibrasco (BR GAAP x US GAAP) Conforme análise das contas que proporcionam diferenças entre as normas americanas e brasileiras, a conta de “Dividendos propostos”, trás uma alteração no PL de 51,7%, este vaor representa todo o dividendo a ser distribuído aos sócios no próximo exercício, conforme demonstrado em suas Notas Explicativas (NE). A conta de “Provisão para manutenção da usina”, tem uma alteração de 5,6% e o CTA representa uma alteração de (48,4%), totalizando a diferença apurada que foi de 8,9%. A Kobrasco, comparando as normas brasileiras com as normas americanas, teve seu PL aumentado em 34,9%. O gráfico abaixo mostra com clareza essa diferença. PL KOBRASCO 150,0 134,9 % 125,0 100,0 100,0 75,0 50,0 Brasileiras Americanas Normas GRÁFICO 2 – PL Kobrasco (BR GAAP x US GAAP) 62 Segundo análises feitas, constatou-se que a conta de “Dividendos propostos”, trouxe uma alteração no PL de 105,5%, ou seja, a parte do lucro a ser distribuído superou o valor total do PL, tornando uma diferença bem expressiva em nossa análise. O valor desta conta representa todo o dividendo a ser distribuído aos sócios no próximo exercício, conforme demonstrado em suas NE. A conta de “Provisão para manutenção da usina”, tem uma alteração de 7,2%, já a conta de “Reserva de capital” representou uma alteração de (7,7%). A conta do “Permanente diferido”, altera o PL em (3,2%) e o CTA representa uma alteração de (66,9%), totalizando a diferença apurada que foi de 34,9%. A conta do CTA também representou uma diferença bem expressiva em nossa análise. Em análise feita no BP da Itabrasco, observou uma diminuição do seu PL em 36,1%. Este percentual representa a diferença encontrada na comparação das normas brasileiras com as normas americanas, conforme demonstrado no gráfico abaixo. PL ITABRASCO 120,0 100,0 % 90,0 63,9 60,0 30,0 Brasileiras Americanas Normas GRÁFICO 3 – PL Itabrasco (BR GAAP x US GAAP) Perante as análises feitas, constatou-se que a alteração representada no PL pela conta de “Dividendos propostos”, foi de 49,2%. Este valor foi menor que o valor encontrado nas outras empresas analisadas até o momento, a Nibrasco e a Kobrasco. Isto se deve pelo fato que na Itabrasco houve em uma antecipação do pagamento de parte dos dividendos dentro do próprio exercício de 2005, conforme verificado em suas NE, ficando para o próximo exercício o pagamento do restante dos dividendos apurados. 63 A conta de “Provisão para manutenção da usina”, tem uma alteração muito pequena, apenas 1,1%, já a conta de “Reserva de lucros para investimento” representou uma alteração de (33,6%). A conta do “Permanente diferido”, também altera pouco o PL, somente (1,0%) e o CTA representa pouco mais da metade da diferença apurada, cerca de (51,8%), totalizando a diferença encontrada de (36,1%). Pode-se observar nesta análise que, em virtude do pagamento antecipado de parte dos dividendos propostos e da alta reserva de lucros para investimento, a diferença encontrada na Itabrasco foi negativa. Analisando o BP da Hispanobras, observou que ocorreu uma diminuição no seu PL de 24,5%, comparando as normas brasileiras com as normas americanas, conforme representado no gráfico abaixo. PL HISPANOBRAS 120,0 100,0 100,0 75,5 % 80,0 60,0 40,0 20,0 Brasileiras Americanas Normas GRÁFICO 4 – PL Hispanobras (BR GAAP x US GAAP) Nas análises feitas no PL da Hispanobras, observou-se que a conta de “Dividendos propostos”, representou uma alteração de 52,6%, pouco mais da metade da diferença total encontrada. A Hispanobras, assim como a Itabrasco, também antecipou o pagamento de parte de seus dividendos dentro do próprio exercício de 2005, conforme verificado em suas NE. A conta de “Provisão para manutenção da usina”, tem uma representação muito pequena na diferença total, apenas 0,5%, assim como a conta de “Reserva de capital”, que representou uma alteração de apenas (1,4%) e também a conta do “Permanente diferido”, que representou uma pequena alteração na diferença do PL, somente (1,2%). A conta do CTA foi a que mais representou diferença no montante apurado, cerca de (75,0%), totalizando a diferença encontrada de (24,5%). 64 Nesta empresa em específico, a conta do CTA representou uma fatia muito grande da diferença apurada, com isso conclui-se que a Hispanobras teve ao longo dos anos, perdas significativas, com relação a desvalorização do Real perante ao Dólar americano, proporcionando um valor tão expressivo nesta conta. Podemos verificar, nas análises feitas nos PL’s das quatro empresas, que a conta do CTA interfere de forma significativa em todas elas. Nesta pequena amostra de dados, observamos uma oscilação do CTA entre 48,4% até 75,0%, conforme podemos visualizar no gráfico abaixo. Variação do CTA 80,0 75,0 66,9 70,0 60,0 % 50,0 48,4 51,8 Nibrasco Kobrasco 40,0 Itabrasco 30,0 Hispanobras 20,0 10,0 0,0 Em presas Analisadas GRÁFICO 5 – Variação do CTA 65 4.2 – ANÁLISE DOS DADOS ENTRE BR GAAP E IFRS Dentro da amostra proposta para estudo desta pesquisa, apenas a empresa Hispanobras tem seu Balanço Patrimonial convertido também para as normas internacionais do IFRS. Abaixo está demonstrada uma tabela para melhor visualização das diferenças encontradas entre os dois critérios analisados. Os valores estão demonstrados em milhares de Reais. Companhia Hispano-Brasileira de Pelotização - HISPANOBRAS Composição da diferença constatada entre PL em BR GAAP e IFRS 2005: Saldo inicial do Patrimônio Líquido em R$ - BR GAAP ...................... 111.868 Contas que trazem diferenças de reclassificação: Dividendos propostos ............................................................................... Provisão para manutenção de usina ........................................................ Reserva de capital ................................................................................... Reserva de lucros - (para investimentos e legal)...................................... Permanente diferido ................................................................................. CTA (Cumulative Translation Adjustment) ............................................... Ajuste Acumulado de Tradução 58.854 554 (1.578) (55.145) (1.321) (50.290) Saldo do Patrimônio Líquido em R$ - IFRS ..................................... TABELA 6 – Análise do PL da Hispanobras 2005 (BR GAAP x IFRS) 62.942 Como pode ser observado, as contas que alteram o PL também pelas normas internacionais do IFRS, se equivalem as contas que alteram o PL pelas normas do US GAAP. A tabela a seguir mostra um resumo da tabela anterior, onde estão dispostos os totais apurados em moeda corrente do país (Real), bem como seus respectivos percentuais para uma melhor análise. Patrimônio Líquido - Ano 2005 HISPANOBRAS Brasil IFRS R$ (milhares) 111.868 62.942 % 100,0 56,3 TABELA 7 – Resumo dos valores apurados do PL da Hispanobras (BR GAAP x IFRS) 66 Em análise feita no BP da Hipanobras, foi observado que ocorreu uma diminuição no seu PL de 43,7%, comparando as normas brasileiras com as normas internacionais, conforme representado no gráfico abaixo. PL HISPANOBRAS - IFRS 120,0 100,0 100,0 % 80,0 56,3 60,0 40,0 20,0 Brasileiras Internacionais Normas GRÁFICO 6 - PL Hispanobras (BR GAAP x IFRS) Nas análises feitas no PL da Hispanobras, assim como nas análises feitas nos dados em US GAAP, os IFRS registram diferenças semelhantes. As contas de “Dividendos propostos”, “Provisão para manutenção da usina”, “Reserva de capital” e “Permanente diferido”, não alteram seus percentuais que são, respectivamente: 52,6%, 0,5%, (1,4%) e (1,2%). A conta de “Reserva de lucros para investimento e legal”, representou quase metade da diferença apurada, (49,3%) do total, enquanto a conta do CTA representou um pouco menos, cerca de (45,0%) da diferença total, que foi no montante de (43,7%). O CTA, neste caso, representou bem menos do que o valor encontrado nos dados em US GAAP, o que significa, que o Real perante ao Euro teve uma menor desvalorização, talvez por ser o Euro uma moeda nova no cenário mundial, pois quando ela surgiu, o Brasil já possuía uma economia estável e uma inflação controlada, conseqüentemente, uma moeda bem mais estável, a nível mundial. Após todas essas análises, e considerando que a amostra analisada é consideravelmente pequena, podemos concluir que as normas brasileiras ainda são mais conservadoras que as normas americanas e internacionais, e que também, devemos partir em breve para uma harmonização das normas contábeis, para melhor facilitar aos usuários da informação contábil uma melhor análise das informações, sem ter a necessidade de se fazer tantas conversões ou modificações para que as demonstrações contábeis sejam entendidas. 67 5 – CONCLUSÃO O objetivo geral desta pesquisa foi o de demonstrar a importância da harmonização das práticas contábeis no mundo globalizado economicamente que vivenciamos na atualidade, e como estão caminhando os diversos estudos sobre o assunto. A harmonização contábil está se fazendo necessária, principalmente, para atendimento aos diversos usuários, que precisam ter informações precisas e confiáveis para uma melhor análise das demonstrações contábeis, conseqüentemente, para o processo de tomada de decisões. Esta pesquisa baseou-se em um estudo bibliográfico sobre o assunto e uma análise descritiva sobre as diferenças encontradas em Balanços Patrimoniais, mas especificamente no Patrimônio Líquido, de quatro empresas referentes ao ano de 2005. Estas empresas foram escolhidas por possuírem características semelhantes, tanto na parte operacional como na parte administrativa. São elas: NIBRASCO, KOBRASCO, ITABRASCO e HISPANOBRAS. A pesquisa descritiva teve como base de estudo os Balanços Patrimoniais apresentados pelos métodos contábeis do BR GAAP, US GAAP e IFRS, métodos estes que fizeram parte da pesquisa bibliográfica deste trabalho. Foram feitas comparações dos valores que causam algum tipo de diferenciação entre esses três métodos. As diferenças encontradas foram claramente explicadas no capítulo 5 desta pesquisa, sendo demonstrada ainda através de gráficos para melhor visualização. Chegou-se a conclusão que as diferenças encontradas não eram consideravelmente grandes, mas que mesmo assim, podem trazer algum tipo de divergência no momento da tomada de decisão. O que pôde ser constatado também, é que a contabilidade elaborada pelo método do BR GAAP, mostrou ser um pouco mais conservadora que a dos outros métodos analisados (US GAAP e IFRS). Um ponto importante levantado durante a análise dos dados, é que o efeito que a conta que representa as divergências monetárias de moeda entre os métodos analisados ainda é muito grande. Esta conta é chamada de CTA e demonstra em seu saldo todas as diferenças de conversão de moeda entre o BR GAAP do Brasil e os US GAAP e IFRS dos Estados Unidos e União Européia. 68 O resultado desta pesquisa limita-se a uma amostra consideravelmente pequena, mas mesmo assim, é possível visualizar que as diferenças entre os métodos do BR GAAP, US GAAP e IFRS, trazem interferência nos resultados finais. O processo de harmonização contábil deve se levado adiante. Sua importância se mostra bem significativa, principalmente em uma economia globalizada como está atualmente, e crescendo cada dia mais. Grandes desafios ainda serão encontrados durante o caminho da harmonização das práticas contábeis, principalmente no aspecto econômico, social e político de cada país, o que torna certas práticas quase impossíveis de serem aplicadas em todos os países, mas será um passo grande quando, os países desenvolvidos e os em desenvolvimento, como o Brasil, puderem apresentar de uma mesma forma suas demonstrações contábeis. 69 6 – SUGESTÕES PARA NOVAS PESQUISAS Esta pesquisa teve como objetivo principal analisar o patrimônio líquido de quatro empresas identificando os principais pontos de divergência entre os métodos pesquisados (BR GAAP, US GAAP e IFRS), por isso, alguns assuntos ligados ao tema não foram amplamente aprofundados nesta pesquisa. Como é um assunto novo e ainda pouco explorado, sugerimos como possíveis assuntos para novas pesquisas: Qual o grau de mudanças que o Projeto de Lei n º 3.741/2000, ainda em trâmite no Congresso Nacional, pode trazer para as Normas Contábeis Brasileiras; Analisar o SFAS n º 52, que é o Pronunciamento de Normas de Contabilidade Financeira emitido pelo FASB americano referente ao US GAAP; Um estudo de como a Governança Corporativa pode influenciar a Harmonização Contábil. 70 7 – REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 150 Maiores Empresas Espírito Santo, Vitória, ano IX, n. 9, p. 100-200, nov. 2005. ALVES, Aluísio. Harmonização contábil sai até 2010. Gazeta Mercantil, São Paulo, p. B-3, 7 mar. 2006. ARTHUR ANDERSEN & CO. Dicionário de Termos Contábeis e Comerciais. São Paulo: Gilbérica, 1975. BARROS, Aidil Jesus Paes de; LEHFELD, Neide Aparecida de Souza. Fundamentos de Metodologia: Um guia para a iniciação científica, São Paulo: McGraw-Hill, 1986. BUENO, Artur Franco; LOPES, Edmir. 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