1 ATUALIZA ASSOCIAÇÃO CULTURAL ENFERMAGEM ONCOLÓGICA LORENA ANDRADE DA SILVA FATORES DE RISCO E O RASTREAMENTO DO CÂNCER DE PRÓSTATA SALVADOR-BA 2014 2 LORENA ANDRADE DA SILVA FATORES DE RISCO E O RASTREAMENTO DO CÂNCER DE PRÓSTATA Artigo apresentado a Atualiza Associação Cultural, como requisito parcial para a obtenção do título de Especialista em Enfermagem Oncológica sob orientação do professor Fernando Reis do Espírito Santo. SALVADOR-BA 2014 3 FATORES DE RISCO E O RASTREAMENTO DO CÂNCER DE PRÓSTATA Lorena Andrade da Silva 1 Fernando Reis do Espirito Santo 2 RESUMO O câncer de próstata é apontando como um grave problema de saúde pública, tendo sua incidência aumentada desde a década de 60. Atualmente é o segundo câncer mais comum entre os homens apresentando uma estimativa de 68.800 casos novos no Brasil para o ano de 2014. Tal neoplasia tem crescimento lento e os sintomas surgem na grande maioria quando o tumor encontra-se em sua forma avançada. A etiologia desse agravo ainda é desconhecida, entretanto, diversos estudos apontam fatores importantes que podem influenciar no seu desenvolvimento. Dessa forma este trabalho tem como objetivo evidenciar, a partir da literatura, fatores de riscos para o câncer de próstata e como é realizado seu rastreamento. Trata-se de uma pesquisa qualitativa, exploratória do tipo bibliográfica. Tal estudo nos mostra que os principais fatores de riscos associados à neoplasia são idade, etnia, hereditariedade, hábitos alimentares, fatores ambientais e exposição a agentes nocivos, sendo os três primeiros os que mais apresentam consenso dentre os autores pesquisados. No que diz respeito ao rastreamento, o Instituto Nacional do Câncer não indica a sua realização, pois afirma que essa prática pouco contribui para o declínio na taxa de mortalidade por esse agravo. Dessa forma as recomendações sobre o rastreamento é cercada por controvérsias na comunidade científica, existindo diferentes recomendações das sociedades médicas e agências governamentais. Atualmente, a associação do toque retal e da dosagem sérica do Antígeno Prostático Específico (PSA) é a forma de rastreio e diagnóstico mais eficaz para a neoplasia de próstata. Palavras-Chave: Câncer de próstata. Fatores de risco. Rastreamento. Caracterização. 1. Bacharel em Enfermagem pela Universidade Federal do Vale do São Francisco – UNIVASF. Email: [email protected]. Artigo apresentado a Atualiza Cursos, como requisito parcial para obtenção do título de Especialista em Enfermagem Oncológica. Salvador, 2014. 2. Orientador. Doutor em Educação PUC/SP. Professor da UFBA. 4 1 INTRODUÇÃO Apresentação do objeto de estudo O envelhecimento populacional e a diminuição da mortalidade por doenças infectoparasitárias resultaram em um acentuado aumento da proporção de óbitos de idosos em relação aos óbitos totais, apresentando como principais causas as doenças crônicodegenerativas. Dentre estas, as mais prevalentes são as doenças cardiovasculares, as do aparelho respiratório e as neoplasias (NASCIMENTO; FLORINDO; CHUBACI, 2010). O câncer de próstata constitui hoje um grave problema de saúde pública tendo sua incidência aumentada desde a década de 60 (MOSCHETA; SANTOS, 2012). As estimativas para os anos de 2012 e 2013 apontam a ocorrência de aproximadamente 518.510 casos novos de câncer no Brasil. Destes 49,7% acometerão a população masculina, sendo que os cinco tumores com maiores incidência serão o câncer de pele não melanoma (63 mil casos novos), próstata (60 mil), pulmão (17 mil), cólon e reto (14 mil) e estômago (13 mil). Com relação ao câncer de próstata, os números representam um risco estimado de 62 casos novos a cada 100 mil homens (BRASIL, 2011). Segundo Abreu et al (2013), atualmente o câncer de próstata representa cerca de 10% do total de casos de câncer no mundo e a taxa de incidência é cerca de seis vezes maior nos países desenvolvidos, quando comparada aos países em desenvolvimento. Tal fato pode ser explicado pelas práticas mais efetivas de rastreamento por meio do teste Antígeno Prostático Específico (PSA) (BRASIL, 2011). O câncer de próstata tem crescimento lento, sendo raro antes dos 50 anos de idade. A grande maioria dos casos (cerca de 85%) é diagnosticada apenas após os 65 anos (AMORIM et al., 2011). Raramente essa neoplasia produz sintomas até que se encontre em sua forma avançada. Todavia, nos casos sintomáticos, as principais queixas são dificuldade ou aumento das micções, jato fraco, disúria e sensação de bexiga permanentemente cheia. Porém, vale ressaltar ainda, que os sintomas supracitados também podem estar presentes em alterações benignas da próstata como a Hiperplasia Prostática Benigna (HPB) e a prostatite (TONON & SCHOFFEN, 2009; ABREU et al., 2013). 5 A etiologia dessa neoplasia ainda é desconhecida, entretanto, presume-se que alguns fatores possam influenciar no seu desenvolvimento. Dentre a literatura estudada os fatores de risco que apresentaram maior relevância com o câncer de próstata foram à idade e o histórico familiar (TONON & SCHOFFEN, 2009). Segundo Dornas (2008) apenas 0,1% dos casos são diagnosticados antes dos 50 anos de idade. Com relação à hereditariedade, se um parente de primeiro grau tem a doença, o risco é duas vezes maior de o indivíduo desenvolver a neoplasia. Se dois ou mais indivíduos da mesma família são afetados, o risco aumenta em 5 a 11 vezes (AMORIM, et al., 2011). Dornas (2008) afirma ainda que a raça/etnia é outro fator de risco importante, sendo que estudos demonstram que a mortalidade relacionada ao câncer de próstata é 2,4 vezes maior na população afro-americana quando comparado à raça branca. Algumas pesquisas trazem ainda outros possíveis fatores de risco como consumo de álcool, tabagismo, fumaça de automóveis, fertilizantes, produtos químicos e vasectomia, porém tais estudos apresentam resultados contraditórios (TONON & SCHOFFEN, 2009; AMORIM, et al., 2011). No que diz respeito ao rastreamento da neoplasia, a literatura é controversa (GOMES et al. 2008a; MEDEIROS; MENEZES; NAPOLEÃO, 2011; BRASIL 2011). Por sua vez, a Sociedade Brasileira de Urologia, recomenda que os homens acima de 50 anos e os que têm 40 anos com histórico familiar de câncer de próstata, realizem acompanhamento anual com o urologista, mesmo sem queixas urinárias (GOMES et al. 2008a). Segundo Srougi (2005), “considerando a relação custo/benefício, definiu-se que a melhor forma de diagnosticar o câncer da próstata é representada pela combinação de toque digital e dosagem do PSA. O toque exclusivo falha de 30% a 40% dos casos, as medidas de PSA falham em 20%, mas a execução conjunta dos dois exames deixa de identificar o câncer em menos 5% dos pacientes”. Levando em conta o rastreamento, e em consequência a detecção precoce da neoplasia, Tonon & Schoffen (2009) afirmam que a patologia é curável em 80% dos casos. Justificativa O câncer de próstata tornou-se uma prioridade na saúde pública, sendo necessário um olhar epidemiológico atento e qualificado no conhecimento deste agravo. Dessa forma é possível 6 aproveitar e potencializar ações já existentes para ajudar a minimizar seus efeitos na população. Tal neoplasia representa o segundo tipo de câncer mais comum na população masculina, e também o mais difícil de ser discutido. Isso se dar principalmente por fatores socioculturais, incluindo os estereótipos de gênero, crenças e valores que definem o que é “ser masculino”. Devido ao cenário atual, o presente estuda traz contribuições no sentindo de sensibilizar a população, evidenciando os principais fatores que predispõem o câncer bem como a importância do rastreamento nos grupos de riscos, para a diminuição dos casos com estadiamento avançado. Problema Quais os fatores de risco e como é realizado o rastreamento do câncer de próstata? Objetivo Evidenciar, a partir da literatura, fatores de riscos para o câncer de próstata e como é realizado seu rastreamento. Os descritores utilizados para o levantamento de artigos foram: câncer de próstata, tumores da próstata, próstata, PSA, fatores de risco e rastreamento. 2 RERERENCIAL TEÓRICO Retrato epidemiológico Segundo o Instituto Nacional do Câncer (INCA), em 2030, haverá 21,4 milhões de casos novos de câncer e 13,2 milhões de mortes por câncer no mundo. Tal fato será uma consequência do crescimento e do envelhecimento da população, além da melhoria da assistência com relação às demais enfermidades em países em desenvolvimento (BRASIL, 2014). Estimam-se ainda 68.800 casos novos de câncer de próstata para o Brasil, no ano de 2014, correspondendo um risco estimado de 70,42 casos novos a cada 100 mil homens. Desconsiderando os tumores de pele não melanoma, o câncer de próstata é o mais incidente 7 entre os homens em todas as regiões do país, com 91,24/100 mil no Sul, 88,06/100 mil no Sudeste, 62,55/100 mil no Centro-Oeste, 47,46/100 mil no Nordeste e 30,16/100 mil no Norte (BRASIL, 2014). Medeiros, Menezes & Napoleão (2011) e Gomes, et al. (2008) apontam ainda que um em cada seis homens, com idade de 45 anos, apresenta a doença sem ter conhecimento, possivelmente por se desenvolver de forma assintomática, induzindo-os à crença de que, se não apresentam sintomas, é porque não estão doentes. Devido a tal característica a incidência da neoplasia é sempre subestimada, já que muitas vezes a doença é diagnosticada apenas em procedimentos de necropsia. Estudos de necropsia revelaram que 30% dos homens acima de 50 anos que morreram por outras causas apresentam focos de adenocarcinoma na próstata. Esse número aumenta para 70% em homens acima de 80 anos de idade (GONÇALVES; PADOVANI; POPIM, 2008). Diante dos graves problemas de saúde ocasionados pelas neoplasias diversos programas e políticas públicas vêm sendo desenvolvidos no Brasil desde a década de 80 com intuito de diminuir a morbimortalidade relacionadas às mesmas (RIBEIRO et al., 2013). No ano de 2005 o controle do câncer foi afirmado como prioridade através da Política Nacional de Atenção Oncológica, e no ano seguinte o Pacto pela Saúde, surgiu como estratégia para tentar minimizar as taxas de mortalidade. Inicialmente o pacto priorizou um maior controle dos cânceres de mama e do colo de útero, ampliando o acesso de exames de prevenção e ao diagnóstico precoce. Porém, em um curto espaço de tempo, novas inclusões foram realizadas ao pacto, dentre elas a saúde do homem. Através das diretrizes formuladas foi possível a criação da Política de Atenção Integral à Saúde do Homem, que prever a diminuição das doenças mais prevalentes no sexo masculino, entre elas o câncer de próstata (RIBEIRO et al., 2013). Próstata A próstata corresponde a um órgão endócrino exclusivo do sistema reprodutor masculino, sendo responsável pela secreção de um fluido quimicamente e fisiologicamente adequado para o bom funcionamento dos espermatozoides (ABREU et al., 2013). 8 A glândula localizada na base da bexiga pesa em torno de 20g e pode ser atingida por dois processos distintos. O primeiro é o crescimento benigno, chamado de hiperplasia, que acomete quase 90% dos homens após os 40 anos levando a dificuldades urinárias. O segundo é o câncer da próstata, que pode estar associado ou não ao crescimento benigno, sendo que a grande maioria dos indivíduos acometidos apresentam 50 anos ou mais (TONON & SCHOFFEN, 2009; ABREU et al., 2013). Ainda segundo Tonon & Schoffen (2009) a velocidade de crescimento da próstata com a neoplasia é lenta, sendo necessário entre 4 a 10 anos para que uma célula produza um tumor de 01 cm. Tal crescimento leva a glândula a pesar 60g ou menos de 100g, sendo necessário nesses casos, quase sempre, tratamento cirúrgico. 1.1 FATORES DE RISCO Os fatores de risco para o câncer de próstata são, na sua maioria, desconhecido e inevitáveis. Os que mais apresentam consenso são a idade, a etnia e a hereditariedade. Além deles há ainda dieta, fatores ambientais e exposição a agentes nocivos, sendo que há poucos estudos que demonstrem a associação dos mesmos com a neoplasia (GOMES et al. 2008a). Com relação à idade aproximadamente 62% dos casos de câncer da próstata diagnosticados no mundo acometem homens com 65 anos ou mais (BRASIL, 2014; SROUGI, 2005; DORNAS et al., 2008). Nesse contexto, estudos afirmam que a incidência da neoplasia em homens com mais de 50 anos corresponde a 30%, aumentando progressivamente até aproximadamente 80% aos 80 anos (SILVEIRA et al., 2012; GONÇALVES; PADOVANI; POPIM, 2008). Levando em consideração a etnia, o câncer de próstata é aproximadamente duas vezes mais comum em homens negros do que em homens brancos. Dessa forma pesquisas demonstraram que americanos, jamaicanos e caribenhos com ascendência africana apresentam as mais altas taxas de incidência desse câncer do mundo (BRASIL, 2014). Outros estudos epidemiológicos mostraram ainda que a neoplasia é de dez a quarenta vezes mais comum em afro-americanos do que em japoneses que residem no Japão. Contudo a frequência se iguala quando japoneses passam a residir nos Estados Unidos, demonstrando dessa forma que fatores ambientais e 9 dietéticos podem influenciar na incidência do câncer de próstata (TONON & SCHOFFEN, 2009; GONÇALVES; PADOVANI; POPIM, 2008; SROUGI, 2005). Com relação à hereditariedade Srougi (2005) afirma que “os riscos aumentam 2,2 vezes quando um parente de 1º grau (pai ou irmão) é acometido pelo problema, de 4,9 vezes quando dois parentes de 1º grau são portadores do tumor e de 10,9 vezes quando três parentes de 1º grau têm a doença”. Homens com histórico familiar recomenda-se a realização de exames preventivos a partir dos 40 anos (GOMES, et al., 2008). Atualmente estudos apontam também a relação da neoplasia com a dieta. Dietas ricas em gorduras saturadas (especialmente gordura animal), carne vermelha, embutidos, cálcio, leite e pobre em fibras, têm sido associadas ao aumento no risco de desenvolver câncer de próstata (BRASIL, 2014; GOMES et al. 2008a; SROUGI, 2005). Tonon & Schoffen (2009) explicam que a ingestão de grandes quantidades de gordura elevaria as taxas de androgênio e estrogênio, induzindo dessa forma ao desenvolvimento do tumor. Dentre as literaturas pesquisadas, Srougi (2005) apresenta um estudo realizado na cidade de Nova Iorque, onde um grupo realizou um experimento com camundongos portadores de câncer da próstata. Após um período de tempo, o volume do tumor foi três vezes maior nos animais que receberam dieta com 40% de gordura do que naqueles cujo teor de gordura era de 2,3%. Em contrapartida alguns alimentos funcionam como agentes minimizadores na determinação do risco do câncer de próstata. Dentre os que possivelmente atuam nessa linha destacam-se dietas ricas em frutas, verduras, legumes, vegetais ricos em carotenoides e grãos e cereais integrais. Há ainda as vitaminas A, C, D, E, selênio, licopeno, ômega 3, fito-estrógenos, isoflavonóides, flavonóides e lignanas que atuam como fatores de proteção (BRASIL, 2014; MEDEIROS; MENEZES; NAPOLEÃO, 2011). A ingestão abundante de tomate (altas concentrações de licopeno e caroteno) e seus derivados possivelmente diminuem em 35% os riscos de câncer da próstata, segundo estudo realizado na Universidade de Harvard (SROUGI, 2005). Além disso, a ingestão de ácidos graxos não saturados de cadeia longa, encontrado, sobretudo no salmão, previne o aparecimento de tumores de próstata (GOMES et al. 2008a). 10 No seu manual de incidência do câncer no Brasil, o INCA aponta que homens com diabetes mellitus tipo 2 apresentam um maior risco de desenvolver a neoplasia (BRASIL, 2014). Em contrapartida um estudo verificou que homens com tal síndrome metabólica apresentam maior prevalência de realização dos exames preventivos para o câncer de próstata em relação àqueles que não referiram à doença. O mesmo estudo afirma ainda que o diabetes mellitus é um fator de risco para a hiperplasia benigna da próstata. E que embora existam evidências da associação do diabetes mellitus com vários tipos de câncer (pâncreas, vias biliares, entre outros) estas não existem em relação ao câncer de próstata (AMORIM et al., 2011). No que diz respeito aos fatores ambientais, uma região com pouca exposição solar também é considerado um fator de risco para desenvolvimento do câncer de próstata. Cientistas defendem que a vitamina D sintetizada quando o organismo é exposto ao sol, inibe a multiplicação de células neoplásicas da próstata. Além disso, a incidência da neoplasia em países mais frios costuma ser mais frequentes. Vale ressaltar ainda que os números apresentados pelo INCA demonstram que a maior incidência do câncer de próstata no Brasil é no Sul do país, região nacionalmente mais fria e que corresponde a uma taxa de 91,24/100 mil homens como já citado anteriormente (GOMES et al. 2008a). Gomes et al. (2008a) afirma ainda que exposição de algumas substâncias e minerais pode ser um agente potencializador para o câncer de próstata, como por exemplo, o cádmio encontrado em quantidades mínimas na fumaça do cigarro e nas pilhas alcalinas. O estudo trás a explicação que possivelmente o mineral opõe-se ao zinco, elemento este extremamente necessário a muitas atividades do nosso corpo e pesquisas já comprovaram que pacientes com neoplasia de próstata apresentam níveis de zinco menores do que os de outros homens. 2.2 RASTREAMENTO No seu mais recente manual o INCA afirma que o rastreamento do câncer de próstata não é indicado, pois ainda “há considerável incerteza sobre a existência de benefícios associados a essa prática e, por outro lado, evidências científicas de boa qualidade demonstram que essa intervenção produz danos importantes para a saúde dos homens” (BRASIL, 2014). Frente a isso o Ministério da Saúde recomenda que os profissionais de saúde orientem a população quanto aos benefícios, os riscos e as limitações dos exames para que a partir destas 11 informações o indivíduo possa tomar a decisão de realizar ou não o exame, seja por rastreamento oportunístico ou por livre demanda (AMORIM et al., 2011). Estudos internacionais também apresentam opiniões contraditórias sobre o uso do rastreamento, sendo que alguns apontam que essa prática pouco contribui para o declínio na taxa de mortalidade por esse agravo (AMORIM et al., 2011). Em contrapartida Silveira et al. (2012) afirma que a utilização do teste do Antígeno Prostático Específico (PSA), no final da década de 1980 e começo da de 1990, foi considerado o principal responsável pela redução da mortalidade por câncer de próstata em diversos países desenvolvidos (Reino Unido, Áustria, Estados Unidos, Canadá, França, Alemanha, entre outros) uma vez que possibilitou um diagnóstico precoce desta neoplasia. O mesmo estudo aponta ainda que no Brasil, o rastreamento na década de 90 é o responsável pelo maior registro de casos novos de câncer de próstata, além da melhora na qualidade dos sistemas de informação e do aumento da expectativa de vida. Gomes et al. (2008a) afirma que as recomendações sobre o rastreamento é cercada por controvérsias na comunidade científica internacional, existindo diferentes recomendações das sociedades médicas e agências governamentais, apresentando os seguintes parâmetros etários para a realização dos exames: (a) homens com mais de 50 anos ou com 40 anos quando têm história familiar de câncer prostático; (b) homens com 45 anos ou com 40 anos, no caso de haver histórico familiar desse tipo de câncer; (c) homens com 40 anos ou com 35 para os que têm história familiar da doença; (d) todos os homens com 50 anos ou mais; (e) todos os homens a partir dos 45 anos; (e) todos os homens a partir dos 40 anos; (f) homens brancos a partir dos 45 anos e homens negros a partir dos 40 anos. Apesar de não existir um consenso entre as sociedades científicas, atualmente o rastreamento do câncer de próstata mais aceito é a associação do toque retal e da dosagem sérica do PSA. Sendo que, os níveis de PSA são proporcionais ao volume tumoral (NASCIMENTO; FLORINDO; CHUBACI, 2010; DORNAS et al., 2008). 2.2.1 Antígeno Prostático Específico (PSA) O PSA é uma glicoproteína sintetizada pelas células epiteliais na próstata, e quando encontrase elevada na corrente sanguínea é considerado um importante marcador biológico para 12 algumas doenças da próstata, como a hiperplasia benigna da próstata e o câncer. A grande maioria dos cânceres de próstata é diagnosticada quando ainda não são palpáveis, dessa forma, o PSA tem um papel preditor importante de doença prostática. Vale ressaltar que alguns casos de câncer de próstata (cerca de 27%) cursam com PSA normal, ou seja, < 4,0ng/mL. Portanto, a avaliação do PSA deve levar em consideração a clinica do paciente, o histórico familiar, o uso de medicações que podem influenciar na dosagem e procedimentos urológicos prévios (AMORIM et al., 2011; DORNAS et al., 2008, MATHEUS & FERREIRA, 2004). Dornas et al. (2008) trás no seu estudo também que para a avaliação do PSA deve ser realizado um ajuste na idade do paciente. “Pacientes mais jovens merecem um valor de corte inferior para que o PSA seja mais específico. De modo geral, em pacientes menores de 60 anos, PSA acima de 2,6ng/mL tem a especificidade de 94% no diagnóstico do câncer de próstata. A velocidade de aumento do PSA é outro fator importante no diagnóstico do câncer de próstata. Aumentos superiores a 0,75ng/mL ao ano devem ser investigados com biópsia prostática”. Raramente esse tipo de câncer produz sintomas antes que se encontre em sua forma avançada, sendo que os casos mais graves quando não tratados levam em torno de dois a oitos anos para se ramificar pelo organismo, tornando a doença de difícil controle. Dessa forma o rastreamento e o diagnóstico precoce tornam a patologia curável em 80% dos casos (SILVEIRA et al., 2012; ALMEIDA et al., 2007; SROUGI, 2005). Além do PSA, estudos recentes revelam a possibilidade de dosar outra glicoproteína chamada de hK2 para o rastreamento da neoplasia. Inicialmente pensava-se que a mesma era produzida apenas na próstata, mas estudos demonstraram que pode ser encontrada na mama, endométrio e glândulas salivares. Porém a glicoproteína atraiu a atenção, pois é mais especifica e se expressa em níveis mais elevados na presença de tecido canceroso, diferentemente do PSA que pode apresentar níveis elevados na HBP (ALAPONT ALACREU et al., 2008) 2.2.2 Toque retal Gomes et al. (2008b) afirma que “o toque retal não pode ser visto apenas como um exame físico que pode diagnosticar precocemente o câncer de próstata. Esse exame não toca apenas 13 na próstata. Ele toca em aspectos simbólicos do ser masculino que, se não trabalhados, podem não só inviabilizar essa medida de prevenção secundária como também a atenção à saúde do homem em geral”. Tal exame é utilizado para avaliar tamanho, forma e consistência da próstata buscando a presença de nódulos e intumescimento. Porém é um exame que apresenta algumas limitações uma vez que não possibilita a palpação de toda glândula, deixando 40% a 50% dos tumores fora do seu alcance. Além disso, depende da experiência e treinamento do examinador (AMORIM et al., 2011; BRASIL, 2002). Apesar da resistência para o procedimento, foi realizado um estudo na cidade de São Paulo onde uma parcela expressiva da população masculina (55,6%) já havia realizado o exame. Diferentemente do estudo nos Estados Unidos que mostrou que grande parte dos entrevistados relatou a não realização devido ao medo, vergonha, esquecimento e ao receio pelo resultado (AMORIM et al., 2011). Amorim et al. (2011) aponta que o nível socioeconômico, avaliado pela renda familiar per capita e pela escolaridade, influenciam na adoção dos exames, sendo que homens com baixo nível socioeconômico tiveram menor prevalência na realização do toque retal. Estudos comprovam também que homens casados procuram mais o acompanhamento médico do que os homens sem cônjuges. Esse achado tem sido atribuído ao incentivo que os mesmos receberiam de suas companheiras para o cuidado com a saúde. 3 METODOLOGIA Quanto à natureza, trata-se de uma pesquisa qualitativa, pois interpreta o fenômeno que se observa, tendo como principais objetivos a observação, descrição e compreensão do objetivo a ser estudado (BECKER, 1999). No que diz respeito ao objetivo, o estudo é do tipo exploratório, sendo que há a caracterização do problema, bem como sua definição e classificação (BECKER, 1999). Com base em Gil (2010) o trabalho é uma pesquisa bibliográfica, sendo que o mesmo a define como uma modalidade elaborada com base em materiais já publicados, em forma de livros, jornais, teses, dissertações e anais de eventos científicos. 14 Entre os meses de outubro de 2013 a fevereiro de 2014 foi realizado um levantamento de publicações ocorridas entre os anos de 2008 e 2014. A pesquisa foi via internet nas seguintes bases de dados: SciELO (Scientific Eletronic Library Online), Lilacs (Literatura da América Latina e Caribe), Pubmed (National Library of Medicine), Biblioteca Cochrane no sítio da Biblioteca Virtual em Saúde (BIREME). Também foram consultados os sítios do INCA (Instituto Nacional do Câncer), SBU (Sociedade Brasileira de Urologia) e documentos e manuais do Ministério da Saúde. 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS No ano de 2001, o Brasil institui o Programa Nacional de Controle do Câncer de Próstata, com intuito de melhorar assistência à saúde do homem e minimizar o impacto dessa neoplasia na população masculina. Além disso, o Brasil é o primeiro país da América Latina e o segundo do continente americano a implementar uma política nacional de atenção integral à saúde do Homem (o primeiro foi o Canadá), visando promover um novo padrão de desenvolvimento focado no crescimento, bem-estar e melhoria das condições de vida do cidadão brasileiro. Diante dos fatos, mais especificamente na área da enfermagem, as recentes legislações e programas juntamente com a Sistematização da Assistência de Enfermagem (SAE) estabelecem melhores subsídios e oportunidade para abordar essa população específica sobre a promoção da saúde e a detecção precoce de agravos. Além disso, orientá-los sobre os fatores de risco e medidas de prevenção relativas ao câncer de próstata, além de identificar a presença ou não desses fatores e buscar sinais e sintomas que possam indicar alterações relacionadas. Dessa forma à melhora da saúde do homem pode ser promovida, em todos os momentos da assistência, visando diminuir a procura ao atendimento médico apenas em casos de emergências, diferentemente do público feminino. Diante do exposto novos estudos são necessários para o acompanhamento de resultados que demonstrem informações mais precisas quanto aos fatores de risco e de proteção para essa neoplasia, além de medidas educacionais para a população visando proporcionar uma maior adesão aos programas e subsídios para a elaboração e atualização de protocolos e condutas a serem seguidos. 15 ABSTRATC Prostate cancer is stated as a serious public health problem, having its incidence increased since the 60s. Currently it is the second most common cancer among men presenting an estimated 68,800 new cases in Brazil for the year 2014. Such neoplasia has a slow growth and the symptoms appear, in the majority, when the tumor is in its advanced form. The etiology of this neoplasia still unknown, however, several studies indicate important factors that could influence its development. That way this work has as objective to evidence, from the literature, prostate cancer risk factors e how is performed it’s screening. This is a qualitative research, exploratory bibliographic type. The results on this study show us that the principal risk factors associated to the neoplasia are age, ethnicity, heredity, eating habits, environmental factors and exposure to harmful agents, being the first three are the ones who often presents consensus among the researched authors. With respect to screening, the National Cancer Institute does not indicate its realization, since it states that this practice contributes little to the decline in the mortality rate from this condition. That way the recommendations on screening are surrounded by controversy in the scientific community, existing different recommendations of medical societies and government agencies. Currently, the association of digital rectal and of the serum dosage of Prostate Specific Antigen (PSA) is the most efficient way screening and diagnosis for prostate cancer. Keywords: Prostate cancer. Risk factors. Screening. Characterization. 16 REFERÊNCIAS ABREU, A. S.; et al. Estratégias para a prevenção do câncer de próstata. Revista de pesquisa: cuidado é fundamental online. abr./jun. 5(2): 3795-07. 2013. ALAPONT ALACREU, J. M. et al. PSA y hK2 en el diagnóstico de cáncer de próstata. Actas Urológicas Españolas. 32(6):575-588. 2008. ALMEIDA, J. R. C. et al. Marcadores tumorais: revisão de literatura. Revista Brasileira de Cancerologia; 53(3): 305-316. 2007. AMORIM, V. M. S. L; et al. Fatores associados à realização dos exames de rastreamento para o câncer de próstata: um estudo de base populacional. Caderno de Saúde Pública, Rio de Janeiro, 27(2): 347-356, fev. 2011. BECKER, H. Métodos de pesquisa em ciências sociais. 5ª ed. São Paulo. 1999. 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