experiencia do real: racionalidade e construção do - PUC-Rio

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Departamento de Educação
EXPERIENCIA DO REAL: RACIONALIDADE E CONSTRUÇÃO DO
CONHECIMENTO EM HEGEL
Alunas: Maria Fernanda Muanis Erlich e Carolina Oba de Mello Mazzini
Orientadora: Ralph Ings Bannell
O trabalho tem como objetivo contemplar a questão da construção de conhecimento em
Hegel. Mostramos como a formulação elaborada por Hegel supera ideias enraizadas sobre
como se constrói conhecimento. Voltamos ao autor através de filósofos da atualidade como
Terry Pinkard e Slavoj Zizek.
A ideia central do pensamento de Hegel é a de que o conhecimento e os padrões da sua
validade estão necessariamente atrelados à História e às práticas sociais. Em seu livro, A
Fenomenologia do Espírito, Hegel se confronta com a possibilidade de comprovar sua tese
através do questionamento das concepções filosóficas, científicas e culturais que vinculavam
em sua época e também do pensamento filosófico que vêm de gerações anteriores a ele.
As questões que se colocaram na filosofia ocidental, ao longo da modernidade, foram de
como construir conhecimento confiável. A separação do corpo e da mente foi levada a sua
máxima a fim de formular um sistema que procurava responder esta pergunta. A filosofia
desta época tenta oferecer uma explicação, mas não consegue fazê-la adequadamente, uma
vez que falha na compreensão da relação entre o sujeito e o objeto.
O filósofo que enfrenta esta questão é Kant. Entretanto a tensão cartesiana entre o
corporal e o racional persistem. Ele acredita que há leis universais metafísicas e racionais que
fundamentam o conhecimento empírico e a moral. Ele procura resolver o problema de como
conhecemos o mundo através de como se fundamenta a aquisição do conhecimento e não
através da coisa em si.
Hegel propôs um meio de compreender a construção de conhecimento, de como seria a
relação entre sujeito e objeto, mediada pelas práticas sociais. O autor enfrenta a questão da
apropriação do conhecimento da coisa, em seu universal e particular, e conclui que não é
possível haver uma verdade da coisa que independa do sentido culturalmente construído.
Representação e Presença
A tese de Hegel é que não podemos ter conhecimento direto das coisas; é necessário que
este seja mediado. Zizek formula que antes de Kant a tarefa do filósofo era a de alcançar as
coisas além das suas falsas aparências. Havia a ideia de que as coisas apareciam de
determinado modo para as pessoas e que era possível ir além dessas ilusões e compreender a
realidade das coisas; isso implica a necessidade de representar mentalmente um objeto no
mundo. Essa representação pode ser fiel ou não ao objeto.
Já Kant não compreende a relação sujeito-objeto como ilusão, mas como fenômeno. A
questão que se coloca não é mais a da representação da coisa, mas de como se fundamenta
essa aquisição de conhecimento. Conforme menciona Zizek, nas questões de presença e
representação, Kant traça coordenadas importantes que serão aproveitadas por Hegel, e é o
que possibilita Hegel desenvolver seu trabalho na perspectiva de como se apreender a coisa
em si e se desvincular do pensamento pré-kantiano da representação da coisa.
Em Hegel isso implica em uma inserção em um espaço social no qual as práticas de
reflexão. Compreende-se que há uma mudança no pensamento filosófico: passa-se de um
mundo que se compreende representando uma postura que concebe o mundo como presente
nas práticas socias. O ‘insight fundamental’ de Hegel, segundo Zizek, é uma falha
epistemológica reflete uma falha ontológica: “que o que nos parece uma incapacidade de
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conhecer a coisa indica uma rachadura na coisa em si, de modo que nosso próprio fracasso em
atingir a verdade plena é indicador da verdade” (ZIZEK, 2013, p.26)
A fim de compreender o ponto de vista objetivo, Hegel percorre as principais linhas de
construção do pensamento ocidental e as práticas sociais que os fundamenta. Ao longo de sua
descrição do pensamento ocidental, mostra que as premissas até então construídas pela
filosofia para indagar o que é verdadeiro se baseiam em uma separação entre o ponto de vista
universal, portanto imparcial e o ponto de vista particular, portanto subjetivo. O percurso do
pensamento de Hegel em busca de razões de autoridade para pensar e agir, mostra dialética
desses dois pontos de vista ao longo da História na direção da sua reconciliação.
Em relação a educação, essa discussão mostra que não há nenhum conhecimento neutro
sem influencia do tempo e da cultura, portanto a filosofia possibilita compreender e
questionar que o currículos escolares e seu conteúdo estão necessariamente intrincados com o
saber de nosso tempo, suas concepções e ideais de mundo, do que é uma razão de autoridade
para pensar e agir. Apenas o olhar profundo proposto pela filosofia é capaz de rever conceitos
nas suas bases para que seja possível alterar mentalidades. Enfim, Hegel propõe uma
interação necessária entre a construção do conhecimento e a cultura com o potencial de
reformular tendências educativas que ainda estão presas a conceitos ultrapassados.
Bibliografia
DESCARTES, R. Meditações Metafisicas. São Paulo: Martins Fontes, 2005
HEGEL, George Wilhelm Friedrich, 1770-1831. Fenomenologia do Espírito. Tradução: Paulo
Meneses. 8 ed. Petrópolis, RJ. Vozes
KANT, I. Crítica da Razão Pura. Petropólis. Vozes: 2015
ZIZEK, Slavoj. Menos que Nada: Hegel e a sombra do materialismo dialético. tradução Rogério
Bettoni. SP. Ed. Boitempo, 2013.
PINKARD, Terry. Hegel`s Fenomenology: the sociality of reason. 1999.
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