A medialidade nos verbos do grego antigo e em português: análise comparada Caio Vieira Reis de CAMARGO 1 RESUMO: Apresentação de uma análise comparada de como a voz média, categoria marcada morfologicamente no grego antigo pode ser avaliada, do ponto de vista semântico, em construções do português. Nossa apresentação se inicia com um panorama geral dos estudos linguísticos sobre a medialidade para, em seguida, tratar de seu emprego no grego antigo para, então, analisar algumas abordagens que tratem da voz média no português. Realizadas essas apresentações, faremos uma breve exposição de alguns exemplos contextualizados de construções médias do grego antigo, a fim de verificar como essas ocorrências são traduzidas para o português e, assim, analisar se nessa transposição a medialidade pode ser identificada na língua portuguesa. PALAVRAS-CHAVE: voz média; análise comparada; grego antigo; português. ABSTRACT: This paper aims to present a comparative analysis of how the middle voice, morphologically marked on ancient greek verbs, can be evaluated, semantically, on portuguese examples. We first present a general panorama about linguistic studies on the middle voice, then we expose how the middle voice appears in ancient greek to, finally, analyze approaches that talk about the middle voice in portuguese. Once we finish this first part, we start an analysis on ancient greek middle voice examples to verify how they are translated to portuguese and, thus, se if the content of the middle verb can be identified in portuguese examples. KEY WORDS: middle voice; comparative analysis; ancient greek; portuguese Introdução Nos últimos anos, trabalhos voltados para as línguas clássicas ganharam força, já que com as novas correntes de pensamento linguístico, novas propostas e abordagens surgiram, as quais, embora tenham uma língua literária, isto é, não usada para a comunicação, como objeto de estudo, permitem a maximização de suas reflexões, podendo ser aplicadas como parâmetros para qualquer outro estudo linguístico, como, por exemplo, para o de uma língua moderna. 1 Professor substituto de língua e literatura gregas e doutorando no programa de Linguística e Língua Portuguesa na Universidade Estadual Paulista – UNESP – Faculdade de Ciências e Letras de Araraquara; Rodovia Araraquara – Jaú, Km 1. CEP: 14800-901 Araraquara – SP. [email protected] Nesse sentido, este trabalho visa a apresentar a voz média, a partir de um percurso diacrônico acerca dos estudos linguísticos a esse respeito, e comparar essa categoria, morfologicamente marcada no grego antigo, com construções do português, que não prevê, em sua gramática, a existência desse traço na construção verbal. Nossa apresentação se inicia com um panorama geral dos estudos linguísticos sobre a medialidade para, em seguida, tratar de seu emprego no grego antigo para, em sequência, analisarmos algumas abordagens que tratem da voz média no português. Feitas essas apresentações, faremos, então, uma breve análise de alguns exemplos contextualizados de construções médias do grego antigo, a fim de verificar como essas ocorrências são traduzidas para o português e, assim, analisar se nessa transposição a medialidade pode ser identificada na língua portuguesa. 1. A voz média – breve panorama histórico A voz média grega foi o tema principal de nossa dissertação de mestrado2 e nos permitiu uma aprofundada e extensa reflexão ao seu respeito. Uma vez propedêutico nosso foco sobre a medial, cabe neste artigo, portanto, ressaltarmos alguns dos principais pontos com relação aos trabalhos e estudos linguísticos acerca desse tema. Os estudos acerca da voz média variam em relação à abordagem utilizada pelos autores que os propõem. Existem trabalhos voltados para o sistema médio em línguas modernas, outros que abarcam estudos comparados entre sistemas médios e reflexivos e, de maneira geral, a quantidade de trabalhos em que há o emprego de novas teorias da linguística para estudo de línguas clássicas, por exemplo, ainda é pequena. Diante de uma categoria verbal de difícil classificação, com construções de sentido passivo, reflexivo e verbos ora transitivos, ora intransitivos, a voz média chamou a atenção dos mais diversos estudiosos, que buscaram, por meio de variados escopos, definir essa diversidade, na tentativa de estabelecer seu sentido prototípico, capaz de contemplar as principais características dessa categoria verbal. Um dos primeiros estudos que remete à abordagem sobre a voz média é o de Kühner e Gerth (1898), que afirmam: A forma medial designa um ato/atividade de fala/expressão, a qual parte do sujeito e retorna para ele próprio. Essa atividade de fala, que parte do sujeito e a ele retorna, pode estar ou simplesmente limitada ao sujeito, como 2 Para maiores detalhes, cf. CAMARGO, V, R, C. Tipologia e uso da voz média em Apolodoro: abordagem semântica baseada em corpus. Disponível em: http://www.fclar.unesp.br/#585,679 em: eu me aconselho, , eu me lavo, ou a um objeto de sua esfera, (...), como em , eu bato na minha cabeça, , eu subjugo o território 3 (...). (p.100) Essa definição chama bastante atenção principalmente pelo fato de diferenciar-se tanto das definições de outros autores, surgidas posteriormente. No entanto, até certo ponto há uma proximidade para com as teorias contemporâneas acerca da voz média, tal qual a de Startingpoint/Inicitator (ausgeht, na citação), como também a de Endpoint (zurückgeht) na cadeia de ação, conceitos esses que serão abordados ainda neste artigo. Vale ressaltar que a definição de Kühner e Gerth (1898) trata da voz média em seu sentido restrito, ou seja, excluem a categoria médio-passiva. Muitos estudos, principalmente os de sintaxe gerativa, utilizaram o termo construção média para designar um par alternativo em que o membro derivado designa uma situação genérica com um sujeito paciente e um agente implícito. Nos estudos linguísticos mais contemporâneos acerca das vozes verbais, algumas formulações mais familiares acerca do sentido da voz média são: a) “A voz média denota que o sujeito está, de alguma maneira especial, envolvido ou interessado na ação do verbo." (GILDERSLEEVE 1900, p.64); b) "Verbos (...) que têm posição na esfera do Sujeito, nos quais o Sujeito todo parece participante/implicado4" (BRUGMANNB 1903, p.104) c) "Na voz ativa, os verbos denotam um processo que se realiza a partir de um sujeito e sem ele; na média, que é a diátesis a definir por oposição, o verbo indica um processo em que o sujeito é o foco; o sujeito está no interior do processo." (BENVENISTE 1966, p.172); d) "Em indo-europeu e em grego, as desinências médias indicam que o sujeito está interessado de uma maneira pessoal no processo." (MEILLET 1937, p.244). e) "As implicações da média (quando em oposição com a ativa) são que a ação ou estado afeta o sujeito do verbo ou seus interesses." (LYONS 1969, p.373). 3 Die Medialform bezeichnet eine Thätigkeitsäusserung, welche von dem Subjekte ausgeh und auf dasselbe wieder zurückgeht. Diese von dem Subjekte ausgehende und auf dasselbe wieder zurückgehende Thätigkeitsäusserung kann entweder bloss auf das Subjekt beschränkt sein, als: , ich berate mich, , ich wasche mich, oder auf ein Objekt seiner Sphäre, (...), als e ich schulg mir das Haupt, , ich unterwarf mir das Land 4 Com relação a essas definições, notamos que Gildersleeve (1900) e Meillet (1937) se voltam para a questão do interesse do sujeito oracional, enquanto Brugmann (1903) e Benveniste (1966) referem-se à noção de que o sujeito todo participa e que está interno ao processo. A definição de Lyons (1969) é a que mais se aproxima das teorias contemporâneas que tratam da voz média, já que abarca os dois sentidos, o passivo (afeta o sujeito) e o sentido indireto reflexivo (seus interesses). A definição de Meillet (1937), por outro lado, é a mais comumente utilizada, principalmente, em gramáticas e métodos de ensino do grego antigo, atribuindo o emprego da voz média a noção de interesse por parte do sujeito, sendo que esse traço, embora existente em alguns casos, não é único e nem sempre tão evidente. Esse é, inclusive, o raciocínio seguido por Humbert (1964), ao afirmar que na voz média exprime que "a ação realizada possui aos olhos do sujeito uma significação pessoal, o que significa que a ação se refere, quer ao sujeito ele mesmo, quer àquilo que constitui sua própria esfera". Lyons (1969) usa o verbo afetar num sentido amplo o bastante para ser aplicado a todos os sentidos da média. De maneira geral, com base no modelo cognitivo de Langacker (1900), a voz média pode ser definida como um código marcado de partida da oração transitiva prototípica. Ao contrário desta, o sujeito, de algum modo ou de outro, sofre o efeito do evento. Esse efeito pode ser de natureza física, mental e pode ser direto ou indireto (nesse caso envolve um objeto externo). A representação para essa situação é demonstrada na figura 1. A B Figura 1 - A voz média no modelo cognitivo de Langacker As setas representam o processo expresso pelo verbo e, nesse caso, mostram o traço afetação do sujeito, principal característica dos verbos construídos na voz média. Em outras palavras, a ação que partiu da entidade A, de alguma forma, teve efeito nela mesma, isto é, de alguma forma A foi afetado pelo processo. Sendo esse um modelo prototípico, com exceção da construção médio-passiva, todos os outros empregos podem ser esquematizados dessa forma. Um dos mais completos trabalhos acerca da voz média é, sem dúvida, o de Kemmer (1993), que reúne um importante estudo acerca da voz média em diferentes línguas no mundo, mais especificamente, uma análise tipológica comparada de sistemas médios de trinta línguas. No capítulo dois de sua obra, a autora nos apresenta um inventário contemplando diferentes tipos de voz média frequentemente marcados morfologicamente pelas línguas, nomeando e enumerando treze categorias dentre as quais, por ordem de apresentação e das línguas de ocorrência, temos: a) Arrumação ou cuidado corporal: encontrado em línguas como o jola; no latim, lavor, no húngaro etc. b) Movimento de não translação: nórdico antigo; húngaro, alemão. c) Mudança na postura corporal: jola, alemão e húngaro. d) Média indireta: grego antigo, turco e latim. e) Eventos naturalmente recíprocos: nórdico antigo, húngaro e latim. f) Movimento translacional: grego antigo, bahasa indonésio, pangua. g) Média emotiva: gugu yimiddhir, alemão, mojave. h) Atos de fala emotivos: latim, alemão e grego clássico. i) Outros atos de fala: mojave, latim e húngaro. j) Média cognitiva: latim, nórdico antigo e mohave. k) Eventos espontâneos: changana, turco e nórdico antigo. l) Média logofórica: islandês m) Médias facilitadoras, impessoais e passivas: canuri, alemão e francês. Não é nosso objetivo esmiuçar cada uma das definições encimadas, cabe, contudo, salientar que muitas dessas categorias são encontradas naquelas estabelecidas por Allan (2003), com algumas diferenças quanto à terminologia empregada. De qualquer forma, em relação a esses critérios elencados por Kemmer (1993), com exceção da média logofórica e da facilitadora, todas as demais podem ser exemplificadas no grego antigo. Em 1, por exemplo, o sentido é o mesmo que o da Média Reflexiva Direta, empregada por Allan (2003) e, consequentemente, também neste trabalho; os usos 2, 3 e 6 se equivalem ao uso pseudo-reflexivo de Rijksbaron (1994), que reúne, quase que exclusivamente, verbos de movimento. A média indireta (4) é a mesma que a média reflexiva indireta no grego. 5, 8, 9 e 10 são os verbos depoentes do grego, tais como: (5) falar; (10) , lutar; (8) , lamentar; (9) , calcular. O emprego 7 e 11 correspondem ao uso pseudo-passivo de Rijksbaron (1994) (7) , temer; (11) derreter. Em meio a essas classificações, Kemmer (1993) afirma que, embora até certo pontos diversos esses empregos, a propriedade semântica que os une é a relativa distinguibilidade de participantes, afirmando o seguinte: Relativa elaboração de eventos pode ser pensada como o grau em que diferentes aspectos esquemáticos de uma situação são separados e vistos como distintos pelo falante. Este efetivamente pode escolher enfatizar ou não a resolução com que um evento particular é visto, a fim de dar ênfase a sua estrutura interna em uma extensão maior ou menor5. (p.211) Essa propriedade, segundo a autora, acaba por englobar a noção de afetação do sujeito e, dessa forma, a voz média pode ser disposta numa escala gradativa de dois extremos, entre eventos de dois participantes e de eventos com um participante. Evento de dois Reflexiva Média participantes Evento de um participante + <-------------------------------------------------------------------------------------------------> Grau de distinguibilidade dos participantes Fig.2 Primeiramente, para Kemmer (1993), as noções fundamentais na interpretação do valor semântico da medial são o Initiator e Endpoint6. Para a autora, a oração transitiva é o modelo conceptual básico para entender essas noções, as quais são papéis semânticos gerais e englobam outros vários, e mais específicos. Initiator abarca os papéis que envolvem uma conceituação de “ponto de partida” de um evento, tal como agente, experienciador e fonte mental. Endpoint, por outro lado, engloba os papéis de "ponto de chegada" como paciente, recipiente e beneficiado. Uma vez que eles englobam papéis semânticos mais concretos, são chamados de macro-papéis pela autora. A partir dessa definição de marco-papéis, Kemmer (1993), então, define que a voz média por ser classificada como uma categoria de voz que apresenta tanto Initiator 5 Tradução nossa. 6 Initiator equivale, em português, à noção de iniciador ou ponto de partida, enquanto Endpoint é ponto final ou de chegada. Diante dessas opções de tradução, optamos, neste trabalho, por manter os termos em inglês, remetendo-nos aos originais empregados por Kemmer (1993). quanto o Endpoint, em concordância com a teoria de Langacker (1979). Em relação ao esquema apresentado na figura 2, nos extremos da escala estão os eventos de um e dois participantes. Este último, para Kemmer (1993) possui participantes bem distinguíveis, sendo os elementos Initiator e Endpoint entidades totalmente separadas. Num evento reflexivo, a distinguibilidade é menor; o marcador reflexivo ( , se pensarmos no grego antigo) aponta para uma correferencialidade dos participantes no evento em que ambos são normalmente entidades distintas. Na reflexiva, a separação de dois participantes é, portanto, até certo ponto, mantida. No tipo média os dois papéis, Iniciador e Endpoint, são reunidos num único participante. Assim, a distinguibilidade de participantes é mínima, embora maior em comparação a eventos de apenas um participante. No caso da média, um certo grau de complexidade interna existe por virtude do aspecto iniciador e afetado que é invocado. Torna-se adequado, contudo, salientar que especificamente no grego antigo, essa conclusão de Kemmer parece não ser totalmente adequada. Se pensarmos que o principal traço semântico dos verbos médios em grego contempla o elemento afetação do sujeito, podemos atribuir essa noção à de Endpoint. Ocorre que existe uma diferença no sistema médio grego em comparação ao de outras línguas, justamente o fato de na língua helênica o sujeito oracional não ser equivalente, sempre, ao Initiator, visto que a voz média grega contempla também o sentido canônico da passiva. Se pensarmos nas línguas europeias modernas elencadas por Kemmer, cujo sistema medial se originou de marcadores reflexivos, essa diferença se torna bastante pertinente. Nessas línguas, segundo a autora, a categoria prototípica está ligada a ações de arrumação ou possivelmente às do tipo de movimentação corporal, como mudança na postura corporal e movimento translacional e não translacional, ao contrário do grego antigo, conforme salienta Allan (2003), em que os verbos de arrumação são relegados a um emprego de importância inferior, devido à baixa frequência, enquanto que os processos mentais são o pilar central de emprego da voz média7. Novamente, tal como fizemos com o esquema de representação da media com o modelo cognitivo de Langacker (1994), os conceitos Initiator e Endpoint podem ser atribuídos como características da voz média, porém não em sua totalidade. No entanto, essas noções são de extrema importância, uma vez que relegam uma quantidade bem menor de exceções à definição, ao contrário de muitas das 7 Com relação à conclusão de Allan (2003), discutimos esse resultados com base em nossa análise in CAMARGO, V, R, C. Tipologia e uso da voz média em Apolodoro: abordagem semântica baseada em corpus. Disponível em: http://www.fclar.unesp.br/#585,679 abordagens da média, que como regra geral, proporcionavam uma enorme quantidade de exceções. Kemmer (1993) ainda nos apresenta importantes reflexões nos capítulos 3 e 4 de sua obra, apontando para os diferentes empregos médios e reflexivos existentes na língua do mundo, os quais, em sua maioria, podem ser exemplificados no grego antigo. A autora descreve, por exemplo, a expansão do pronome reflexivo se, ora usado como apassivador, como um processo de gramaticalização, cujo sentido passa de um uso reflexivo direto enfático, como visto em latim, a um sentido médio abstrato nas línguas românicas. Esse processo semântico generalizador está associado a outros acontecimentos de gramaticalização: cliticalização (línguas românicas), erosão (perda de substância fonológica); afixação (em surselva) e a distribuição do se da terceira pessoa para todas as outras (também no surselva). E assim conclui seu livro no capítulo 6, com um mapa semântico que reúne os tipos de empregos da voz média, baseado nas propriedades semânticas compartilhadas que foram reveladas pelos dados tipológicos e diacrônicos analisados na obra. Tendo esse mapa base numa larga coleção de dados tipológicos, afirma-se que possui validade universal. Em outras palavras, as relações semânticas estabelecidas no mapa são relevantes a todas as línguas. Na seção a seguir, mostraremos como a teoria de voz média pode ser aplicada no grego antigo, elencando critérios de classificação para seu emprego na língua. 2. A voz média no grego antigo As gramáticas do grego antigo deixam clara a existência de três vozes verbais presentes na língua, todas marcadas morfologicamente, sendo elas: ativa, passiva e média. De modo comparado às línguas modernas, principalmente em relação às línguas neolatinas, as duas primeiras operam por meio de mecanismos semelhantes, enquanto a média, por sua vez, torna-se um traço restrito às línguas clássicas8. É comum um estudante de grego antigo, ainda nos momentos iniciais de seu processo de aprendizagem da língua, associar a voz média à voz reflexiva, presente nas línguas modernas, muitas vezes em decorrência das explicações que encontra em materiais de apoio a esse assunto. Entretanto, à medida em que esse aluno se depara com os textos helênicos, nota que, por mais que exista, ocasionalmente, alguma semelhança entre elas, há empregos da medial que não condizem com a forma de operação de sua língua 8 Quando restringimos a voz média às línguas clássicas, pensamos, sempre, do ponto de vista morfológico. Semanticamente, contudo, tal qual analisaremos aqui, há trabalhos que tratam da medialidade em línguas modernas. nativa. Muitas dúvidas, de fato, surgem acerca do emprego da voz média, não só pela sua relativa distância para com uma equivalência com uma língua moderna, mas também pela versatilidade de seu emprego, que, muitas vezes, dificulta criar uma intersecção que possa ligar as várias formas de se empregá-la. No grego antigo, conforme salientamos, a primeira distinção feita entre as vozes ativa e média refere-se ao ponto de vista morfológico, já que ambas apresentam desinências específicas para diferentes tempos e modos. Vejamos um exemplo do verbo 9 (stélo – enviar) no presente do indicativo, nas vozes ativa e média: Presente do indicativo ativo Presente do indicativo médio Note que as desinências assinaladas em negrito deixam claro a variação de voz: ει, desinência de 3 p.sg do singular do presente do indicativo opõe-se à εται, desinência da 3 p.sg do presente médio do indicativo. Os dicionários de grego, por sua vez, quando diante da possibilidade de um verbo com formas ativa e média, apresentam as diferenças de significado entre ambas, algumas vezes com exemplos contextualizados, sem, contudo, aprofundar na questão, o que nem sempre satisfaz a dúvida do estudioso. Se estamos diante de um verbo, cujas formas ativa e média possuem sentidos distintos, resta a pergunta: por que essas formas coexistam e em que consiste essa diferença? Embora haja sinônimos, a coexistência de três vozes verbais, especialmente ativa e média, sugere-nos que os autores, e possivelmente os falantes, tornavam essa escolha motivada, de modo a ser possível encontrar uma sistematização para a alternância dessas ocorrências. Tendo em vista os estudos linguísticos encimados, de maneira geral, com base nas teorias mais recentes, a voz média é caracterizada por apresentar o traço afetação do sujeito, isto é, numa oração, o sujeito, de alguma forma, é afetado pela ação ou processo 9 Entre parênteses está a transliteração. expressado pelo verbo. Fazendo uso dessa definição, Allan (2003) apresenta um dos mais completos trabalhos de pesquisa de voz média acerca do grego antigo, com base em conceitos semântico-cognitivos e uma abordagem baseada em corpus, em que defende a ideia de que essa categoria gramatical pode ser analisada como uma categoria de rede complexa10. O autor considera os tipos de uso da medial organizados por Rijksbaron (1994) envolvidos numa relação semântica de forma polissêmica, de modo que em modelos categóricos complexos, essas relações são chamadas de extensões, sendo que, embora haja traços semânticos compartilhados por todas, há traços salientes em que se diferenciam. Assim, Allan (2003) define onze classificações para o emprego da voz média voltadas, especificamente, para seu uso no grego antigo, sendo elas: a) Média-passiva; b) Processo espontâneo; c) Processo mental; d) Movimentação corporal e) Ação coletiva; f) Recíproca; g) Reflexiva direta; h) Perceptiva; i) Atividade mental; j) Ato de fala; k) Reflexiva indireta. Todas essas categorias acima devem ser avaliadas a partir do papel semântica do sujeito da oração analisada. Em nosso trabalho, verificamos exemplos extraídos da obra Biblioteca, de Apolodoro, com base nos seguintes papéis semânticos: a) Agente b) Paciente c) Experienciador d) Beneficiário e) Recipiente. 10 complex network category. Uma vez que a voz média no grego é morfologicamente marcada, torna-se possível, a partir dessa lista com terminações de palavras, encontrar suas ocorrências no texto selecionado, porém essa tarefa passa por alguns obstáculos. Após o reconhecimento dessas desinências, surge o problema da ambiguidade entre formas de tempos, modos e vozes diferentes. A primeira grande equivalência se dá em relação às terminações, visto que média e passiva, no grego, compartilham as mesmas desinências nos tempos presente, imperfeito, perfeito e mais que perfeito, sendo distintas apenas no futuro e no aoristo. Por conseguinte, no caso de uma desinência em um desses quatro primeiros tempos verbais, o primeiro passo é verificar se a forma foi construída na voz passiva ou na média. Além disso, frequentemente ativa e média compartilham também mesmas formas. Pensemos, por exemplo, em , do verbo , suceder: essa construção pode corresponder à terceira pessoa do aoristo optativo ativo; ao infinitivo aoristo, ativo e à segunda pessoa do singular, do aoristo imperativo médio. Diante desse problema, torna-se, então, necessário, analisar o contexto em que a frase está inserida, a fim de sanar as possibilidades de variantes de seu significado. No caso de uma desinência exclusivamente média, a análise do contexto é feita, a fim de confirmarmos a classificação dessa forma verbal, de acordo com os grupos estabelecidos por Allan (2003). Tomemos agora, como exemplo, o verbo , vestir-se, que não apresenta ambiguidade de formas e, portanto, sendo uma construção média, de acordo com o funcionamento do software, clicando sobre o vocábulo desejado, abre-se a frase em que ela ocorre e, dessa forma, analisamos seu sentido na oração, conforme abaixo. Contexto: a) 11 (Apol. Biblio. 2.4.10) - Após derrotar o leão, vestiu-se com a pele [...] Compreendido o contexto, a tarefa seguinte é analisar e classificar esse emprego da medial em uma das categorias propostas por Allan (2003) e, nesse caso, o exemplo encontra-se no grupo da Média Reflexiva Direta, já que é uma ação que o sujeito 11 Transliterado: Kai kheirosámenos tón leónta tén mén dorán emphiésato. executa em si próprio e, normalmente, é feita pelas próprias mãos. Prosseguindo na análise da Word List, encontramos a forma ver; contemplar, no seguinte contexto: b) 12 (Apol. Biblio. 2.5.4) - Após retornar a Fóloe, ao ver Fólo morto, Héracles enterrou-o [...] Trata-se de uma Média Perceptiva, já que um sujeito não só percebe um objeto por meio dos órgãos sensoriais como também possui papel semântico de experienciador. Conforme ressaltamos anteriormente, embora nesse caso tenhamos uma construção exclusivamente média, a verificação do contexto é importante, por possibilitar também a notificação da possibilidade de um particípio substantivado, o que acarretaria num outro tipo de interpretação. Tendo sido exposta a forma como identificamos e classificamos exemplos da voz média no grego antigo, passaremos à próxima seção, em que verificaremos alguns dos trabalhos linguísticos que se dedicam à análise da medialidade em língua portuguesa. 3. A voz média em português – estudos linguísticos A questão da conceituação de voz, bem como sua tipologia, fica dividida entre, de um lado as abordagens normativas, que pouco aprofundam nessa questão e, de outro, os estudos linguísticos, que trazem à tona inúmeras questões com relação à variante de vozes em construções do português e como a ausência de uma categoria média, formalmente marcada, a princípio, não reflete a inexistência dessa categoria na lingua. Quando pensamos no português, entendemos que a frase Maria visitou João se constrói na voz ativa, enquanto que João foi visitado por Maria é caracterizada como uma construção passiva. Todavia, é muito comum encontrarmos certa dificuldade com relação à classificação de algumas orações, tal como em o vaso quebrou, em que numa construção ativa, o sujeito possui, claramente, o papel semântico de paciente. Embora a 12 Transliterado: Epanelthón eis Folóen Heraclés kai Fólon teleutésanta theasámenos thápsas autón. voz média não seja incluída, formalmente, nas categorias de vozes verbais em português, existem alguns trabalhos acerca da medialidade em nossa língua. Consoante Lima (2008), a voz média possui relações bem estreitas com a passiva e a reflexiva, com as quais passa a confundir-se. Essa dificuldade de distinguilas aparece na própria descrição confusa apresentada pelas gramáticas tradicionais, uma vez que os autores oscilam nas classificações de algumas formas como exemplos de voz média, passiva ou reflexiva. A medialidade em português foi abordada por gramáticos pré e pós – NGB, bem como por linguistas estruturalistas, gerativistas e funcionalistas; porém é grande a variação do critério de conceituação utilizado. No que diz respeito à voz média, muitos dos gramáticos tendem a considerá-la como um subtipo da reflexiva, visto que apontam-lhe a presença do se como traço mais geral. A voz neutra é outra forma de se tentar englobar a descrição atual de voz média e são, conforme ressalta Bueno (1963), “fenômenos que se passam no próprio sujeito”, ou seja, verbos que não demonstram processos de ação, tampouco de recepção. Encontramos breves reflexões sobre a medialidade em Júlio Ribeiro (1908), para quem “o uso do se exprimindo a collaboração e espontaneidade do agente, serve para designar phenomenos naturaes: a água evapora-se, - o que difere de – a água é evaporada [...]”. João Ribeiro (1899), por sua vez, afirma que a média estaria associada à omissão do agente numa sentença e, dessa forma, “fica, pois, demonstrado que as fórmas romanicas construídas com se, bem como as formas latinas passivas, servem para exprimir a acção sem trazer a lume o agente”. Poucos foram os gramáticos pós – NGB que abordaram a medialidade, uma vez que na Nomenclatura Gramatical Brasileira estão previstas três vozes: ativa, passiva e reflexiva. Para Lima (1992), há três tipos de mediais: reflexiva, passiva e dinâmica; a média, então, corresponde à medial – dinâmica, exprimindo uma mudança no sujeito, sem que seja, contudo, volitiva por parte dele; ou mesmo atividades internas ocorridas com um sujeito que não oferece contribuição para que elas aconteçam, como, por exemplo, ele feriu-se nos espinhos, o gelo derreteu – se etc. Nesse caso, temos o traço de afetação do sujeito, visto que à média, segundo o autor, caberia, dentre outras funções, mostrar que determinada ação afetou o sujeito, mas não partindo dele: “Carlos feriu-se nos cacos de vidro”, isto é, “Carlos ficou ferido”. Em verbos que denotam sentimento, quando conjugados com um pronome (irritei-me, iludi-me, decepcionei-me) fica indicado para Bueno (1964) que “o mesmo efeito que o sujeito, como agente, produz em outros indivíduos, se produziu inversamente nele por uma causa qualquer exterior”. Nesse caso, portanto, a medial denota atos espontâneos, sem agente ou causa aparente, como em a vida extinguiu-se. Lima (2008) define como principais traços da voz média, apontados pelos gramáticos: a) construção pronominal; b) a noção de espontaneidade da ação; c) não menção do agente; d) afetação do sujeito e e) função semântica do sujeito: paciente. Vilela (1992) relaciona a voz média à ergatividade, cujas características principais envolveriam a impossibilidade de passivização, a indicação de uma mudança de estado ou de lugar e um sujeito paciente, o qual não possui domínio sobre processo expresso pelo verbo, como em o frango queimou-se. Júlio Ribeiro (1899) atribui à voz passiva latina dois objetos principais e afirma que a voz passiva em latim clássico tem por principais objetos: a) “trazer a lume o nome que teria servido de paciente, si a oração fosse construída em voz ativa, nome esse que figura como sujeito”. b) “indicar uma acção sem designação precisa do agente que a leva a effeito”. Para João Ribeiro (1908), a construção da voz média passiva seria com verbos da terceira pessoa, sem que existissem sujeitos com capacidade de ação. Já o pronome se não fica limitado à “médio – passiva”, e seu emprego pode ser resumido unicamente por exprimir a espontaneidade da ação. Maximino Maciel (1914) acredita que voz é a modalidade sob a qual a ação verbal objetiva se exprime, isto é, um verbo transitivo, definido como vozes somente duas: ativa e passiva. Para Bueno (1963), voz é definida como “os diversos modos em que se relacionam o sujeito e o predicado quanto à atribuição da atividade do verbo”, definição que se aproxima da dos autores modernos, sendo os três modos: ativa, passiva e reflexiva. Esse autor considera ainda uma quarta possibilidade de relação entre sujeito e predicado, que é a inexistência quer de ação quer de recepção. Nesse caso, haveria apenas uma qualidade ou estado e a frase não teria nenhuma das três vozes, seria do tipo neutro, como em “Pedro é rico”. Além dos verbos ser, estar, são incluídos nesse caso os verbos intransitivos. Said Ali (1963) contribuiu bastante para esse campo de estudo. Para o autor, a voz média possui cinco significações distintas: a) ação rigorosamente reflexa, que o sujeito pratica sobre si mesmo; b) estado ou condição; c) ato material ou movimento que o sujeito executa em sua própria pessoa, sem haver a ideia de direção reflexa; d) ato em que o sujeito aparece vivamente afetado; e) ação recíproca. Esse autor atribui à média a maior parte de seus comentários. Considera-a como forma intermediária entre a ativa e a passiva, com um pronome reflexivo sempre presente, porém com funções abrangentes. Para o filólogo, a voz média é capaz de expressar refletividade, reciprocidade e outras noções, tal como indica que uma ação não parte de um sujeito, mas que este foi afetado: “a ação se executa por si mesma no objeto de que se fala”. Nesses casos, a medial denota atos espontâneos, sem agente ou causa aparente. Assim, o se, para ele, configura-se como um elemento formativo da voz média analítica e pode exercer várias funções, consoante a média sintética nas línguas clássicas. Dentre as funções, podemos citar o agente desconhecido que, de fato, pode não ser do conhecimento do falante, ou este não deseja mencioná-lo. Ao estender a noção ao português, Camara Jr. (1972) não se distancia muito da definição de Lyons; o que chama de medial corresponde morfossintaticamente a uma construção em que à forma do verbo na voz ativa se acrescenta um pronome adverbal átono, referente à pessoa do sujeito, e a função semântica que veicula é a de uma integração no estado de coisas que dele parte. Mencionando Brugmann, o autor estabelece três empregos para a medial: reflexiva; recíproca e dinâmica. Nas duas primeiras, a construção não pronominal com objeto autônomo, isto é, não correferencial ao sujeito, mantém inalterada a significação verbal, sempre numa forma ativa. Já na dinâmica, a pessoa do sujeito, sob a forma de clítico, reaparece no predicado como o centro de um estado de coisas que dele parte, mas que não sai de seu âmbito, eliminando, assim, o objeto sobre o qual ele recairia num típico evento transitivo. Em trabalhos linguísticos mais recentes, Camacho (2003) sustenta a hipótese de que “os verbos pronominais são predicados básicos, tipicamente médios e de que o sujeito dessa construção desencadeia o evento do qual é o principal locus de seus efeitos”, retomando o que havia postulado Kemmer (1994). Ainda segundo o primeiro autor: O léxico do português de classes de verbos exclusivamente médios, ou media tantum, como queixar-se, apaixonar-se, e de classe de verbos médios que se opõem-se a classe de verbos transitivos como se observa, respectivamente, em levantar-se vs levantar e virar-se vs virar. Diferentemente dos reflexivos, não há comutação plausível entre o clítico e outro sintagma nominal com preservação de compatibilidade semântica. A hipótese de Bacelar do Nascimento e Martins (s/d) em relação ao português contemporâneo digra em torno de cinco subclasses para o predicado médio, sendo elas: a) na subclasse 1, verbos que só admitem a construção média, como queixar-se; b) na subclasse 2, verbos que admitem além da construção em -se, a construção resultativa com o auxiliar estar, como ressentir-se, estar ressentido, sem mudança de valência; c) na subclasse 3, os verbos podem ser considerados diferentes itens lexicais, como comportar e comportar-se; d) na sublcasse 4, os verbos apresentam mesmo valor semântico, apesar da duplicidade, como rir e rir-se; e) subclasse 5, os verbos apresentam homonímia sintática: de um lado uma construção ativo-causativa, que permite oposição à voz passiva, por outro, uma construção média, pronominal, que tem por par correlativo, a construção resultativa com estar, como apagar. Por meio dessas reflexões, percebemos que o conceito de voz média, no português, parece oscilar em meio a tantas formas de abordá-la. Muitos dos autores sequer a consideram em suas classificações de vozes verbais, além daqueles que a mencionam apenas superficialmente. Das poucas abordagens mais detalhadas acerca da medial no português sobre as quais tratamos aqui, algumas das definições e classificações se aproximam das definições utilizadas por estudiosos da voz média no grego antigo, outras, contudo, trazem novas terminologias e definições que necessitam de maior aprofundamento. Na seção a seguir, faremos um levantamento de como algumas construções médias do grego antigo são traduzidas para o português. 4. A tradução grego-português da voz média Como última etapa proposta para este artigo, veremos, agora, se na tradução para o português, a noção de medialidade marcada morfologicamente e semanticamente nos verbos do grego antigo permanecem em língua portuguesa. Abaixo, colocamos à esquerda os exemplos em grego (com transliteração logo abaixo) e, à direita, as traduções em português. O homem que não tenha sido criticado não será instruído. As maçãs das Espérides apodrecem. Dejanira, após tomar consciência disso, enforcou-se. Mas antes que Anfitirão chegasse a Tebas [...] Tendo Ergino marchado contra Tebas [...] Ela lhe contou que na noite anterior ele dormira com ela. Após derrotar o leão, vestiu-se com a pele dele. E não muito depois de sentirem o cheiro, os centauros se aproximaram. Héracles, tendo se perturbado, após se apressar, retirou a flecha. Ártemis, em companhia de Apolo, encontrou-o [Héracles], tomou-a (a corça) e o acusou de tentar matar o animal sagrado dela. Como estava sitiado, em socorro chamou para si Héracles, em troca de um pedaço de terra. Primeiramente, o que chama atenção com relação à voz média do grego é sua possibilidade de construção em orações intransitivas, por exemplo, – eu fujo/estou fugindo, quando, em português, só pensamos na questão das vozes em orações transitivas diretas. Desse modo, a frase 1 contempla, em português, o sentido passivo canônico, embora haja omissão de um agente da passiva na oração. Os verbos em 3 e 5 são regidos com preposição e, por conseguinte, fogem à regra geral da transitividade direta no que diz respeito à análise das vozes verbais. Mesmo assim, para falantes do português, não é uma tarefa fácil enxergar um traço de afetação em marchar, enquanto que em tomar consciência essa tarefa parece mais fácil. Já sentir (frase 8) e acusar (frase 10) estão em orações tipicamente ativas no português, ao contrário do grego, que opta pela forma média para elas. Nas frases 7 e 9, a noção de medialidade pode ser identificada pela presença do pronome se em ambos os verbos (perturbar e vestir) que, por regra geral, não são pronominais. Já em l, essa construção seja um bom exemplo para mostrar as nuances do significado da média no grego, já que o verbo chamar, em grego, na ativa, opõe-se à forma média, , , chamar para si. Finalmente, a frase b representa, em grego, a categoria de processo espontâneo, caracterizada pelo sujeito paciente e por ser um processo que não possui um agente que age diretamente. Esse sentido é o mesmo encontrado em alguams construções do português, como a partir de amanhã aumenta o preço; o macarrão cozinhou; o copo quebrou. Embora na oração tenhamos um verbo construído na ativa, o papel semântico do sujeito é, claramente, paciente. Conclusão Neste artigo, mostramos as diferentes definições elaboradas por estudiosos que trataram da voz média em alguma língua. Vimos que essa categoria verbal, morfologicamente marcada no grego antigo, promove divergências com relação a sua definição e classificação tipológica, diante de seu variado leque de emprego. Ademais, vimos, também, como pesquisadores trataram da medialidade em português, de modo a analisar como, semanticamente, essa categoria permanece em algumas construções de nossa língua. Assim, fizemos um breve comparativo, em que dispomos onze frases do grego antigo com verbos de distintos distintos, unidos, contudo, pelo fato de serem construídos na voz média, de modo a analisar como o sentido médio deles é trabalhado, quando nos deparamos com a necessidade de tradução. REFERÊNCIAS ALLAN, Rutger J. The Middle Voice in Ancient Greek. A Study of Polysemy. Leiden and Boston: Brill, 2003. APOLLODORUS. Apollodorus, The Library, with an English Translation by Sir James George Frazer, F.B.A., F.R.S. in 2 Volumes. Cambridge, MA, Harvard University Press; London, William Heinemann Ltd. 1921. 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