Revista Contexturas, n° 24, p. 50 - 71, 2015. ISSN: 0104-7485 PRECISÃO GRAMATICAL E PROFICIÊNCIA ORAL EM LÍNGUA INGLESA: UM ESTUDO DE CASO Douglas Altamiro CONSOLO1 Isabella DALLACQUA2 Aline Mara FERNANDES3 UNESP, São José do Rio Preto, SP RESUMO Neste trabalho apresentamos resultados de uma investigação que objetiva descrever a precisão gramatical, em língua inglesa, nas falas de alunos-formandos em Letras produzidas em apresentações orais de seminários em sala de aula, com o intuito de categorizar os desvios gramaticais, visando a colaborar para uma descrição da proficiência oral em inglês desses alunos. Palavras-chave: Avaliação; Precisão gramatical; Proficiência oral. ABSTRACT In this paper we present results from an investigation that aimed at describing grammatical accuracy in spoken English, in utterances of students graduating from a Letters course, produced in oral presentations in class, with the goal of categorizing the grammatical deviations, and of helping towards a description of the students’ oral proficiency. Keywords: Assessment; Grammatical accuracy; Oral proficiency. 1 E-mail de contato: [email protected] E-mail de contato: [email protected] 3 E-mail de contato: [email protected] 2 50 Revista Contexturas, n° 24, p. 50 - 71, 2015. ISSN: 0104-7485 Introdução Quando pensamos nos fatores que influenciam o ensino de uma língua estrangeira (LE), um dos aspectos importantes para se considerar consiste no nível de proficiência na língua-alvo do professor, para o exercício da docência. E sabemos que a realidade de uma formação acadêmica de professores de LE, no que se refere a cursos e certificações para o ensino, nem sempre garante que esses professores recém-formados terão um nível de proficiência linguística desejado para a profissão (CONSOLO, 2011; FERNANDES, 2011). Uma discussão atual e relevante na área de formação de professores de línguas estrangeiras abrange a questão da proficiência linguística necessária para que tais professores possam, e se apropriado para os contextos nos quais lecionam, ministrar suas aulas na língua estrangeira (LE) que ensinam, em vez de conduzirem suas aulas em língua materna. E, para constatarmos os níveis de proficiência dos professores, em formação e formados, contamos com os conhecimentos e procedimentos da área da avaliação de proficiência em línguas. No âmbito da Linguística Aplicada, vários estudos, hoje, se preocupam com a questão da avaliação. O projeto “Avaliação da proficiência linguístico-comunicativa-pedagógica do professor de línguas: operacionalização de construto no Exame de Proficiência para Professores de Língua Estrangeira”, por exemplo (CONSOLO, 2011), constitui uma proposta com intuito de definir critérios mais específicos para a avaliação da proficiência dos profissionais recém-formados em cursos de Licenciatura em Letras. O referido projeto almeja, principalmente, a implementação do EPPLE (Exame de Proficiência para Professores de Línguas Estrangeiras) no Brasil, um exame que considera não somente a competência linguística do professor em termos de sua proficiência para usos diversos e gerais da LE, mas também sua habilidade para lidar com a metalinguagem em sala de aula.4 A pesquisa relatada neste artigo, conduzida em caráter de iniciação científica (IC), objetivou colaborar com o projeto maior de elaboração do EPPLE, considerando a teoria em avaliação e uma coleta de dados de natureza oral e, por meio da discussão envolvendo esses aspectos, chegar a resultados que poderão ser usados para uma posterior comparação com resultados de 4 Sobre a proposta do EPPLE, vide Consolo e Teixeira da Silva, 2014, e Consolo et alii, 2009. 51 Revista Contexturas, n° 24, p. 50 - 71, 2015. ISSN: 0104-7485 futuras versões e aplicações do EPPLE, já que todos os alunos em questão neste estudo são possíveis candidatos ao referido exame. Os dados foram coletados em uma universidade pública, no interior do estado de São Paulo, com alunos-formandos (cursando o último ano) de um curso de Licenciatura em Letras Inglês-Português. Almejamos, com o relato de pesquisa e a discussão apresentados neste artigo, contribuir também para a divulgação, a professores de língua inglesa e outros profissionais, de algumas bases teóricas sobre precisão gramatical na oralidade e dos resultados de nosso estudo, motivando outros estudos semelhantes que possam ampliar nossos conhecimentos sobre avaliação de proficiência em línguas estrangeiras. Objetivos da investigação Objetivos Gerais O objetivo do trabalho de IC aqui apresentado foi realizar uma análise de dados sobre a proficiência oral de futuros professores de inglês como língua estrangeira, por meio (a) da transcrição de apresentações orais, em inglês, feitas por alunos do último ano do curso de Licenciatura em Letras, que constituem dados do projeto “Avaliação da proficiência linguísticocomunicativa-pedagógica do professor de línguas: operacionalização de construto no Exame de Proficiência para Professores de Língua Estrangeira (EPPLE)”,5 iniciado em 2011 (CONSOLO, 2011), para dar continuidade às metas propostas para elaboração e implementação do exame, e para o estabelecimento de sua validade; e (b) da investigação de características linguísticas presentes nas transcrições das falas dos alunos. Buscou-se, à luz dos subsídios teóricos que embasam a investigação das características e da qualidade da fala, em inglês, de alunos-professores em formação, analisarem-se aspectos linguísticos dessas falas e, especificamente neste projeto, a qualidade da precisão gramatical na produção oral, em língua inglesa, dos licenciandos. Foi feita uma análise dos tipos de desvios gramaticais nas falas dos alunos e da frequência da ocorrência desses desvios, tendo como referência uma unidade de análise denominada AS-unit (Unidade 52 Revista Contexturas, n° 24, p. 50 - 71, 2015. ISSN: 0104-7485 de Análise de Fala), critério este sugerido por Foster et al. (2000) e utilizado anteriormente por Busnardi (2012). Salienta-se que, no caso deste projeto, não são tratados propriamente os dados do EPPLE, e sim dados de produção oral de alunos candidatos ao EPPLE, em uma situação autêntica e real de uso da língua inglesa, a saber, as apresentações de seminários temáticos em sala de aula. As atividades desenvolvidas nesta investigação, além de contribuir para a elaboração e implementação do referido exame de proficiência proposto para (futuros) professores de línguas estrangeiras no contexto brasileiro, salientando possíveis características gramaticais do desempenho linguístico desses (futuros) professores em contexto de ensino/aprendizagem da língua estrangeira, fornecem subsídios para futuros trabalhos de pesquisa na área de ensino/aprendizagem de línguas, especialmente nos estudos sobre avaliação. Objetivos Específicos 1) Transcrever 13 (treze) gravações de apresentações orais de seminários, realizadas por alunos do último ano do curso de Licenciatura em Letras com habilitação em inglês e português, de uma universidade pública do estado de São Paulo. As apresentações orais, em inglês, foram gravadas em áudio e em vídeo. 2) Uma vez produzidas as transcrições, objetivou-se categorizá-las com base no conceito de AS-unit (Unidade de Análise de Fala), e elencar uma tipologia de desvios gramaticais presentes nos dados, utilizandose também procedimentos de quantificação (frequência de desvios), para avaliação da precisão gramatical na produção oral dos participantes do projeto. Conceitos Teóricos Proficiência Oral 53 Revista Contexturas, n° 24, p. 50 - 71, 2015. ISSN: 0104-7485 A caracterização da proficiência oral (PO) do professor de inglês como língua estrangeira faz-se necessária devido a um nível mínimo exigido para que o formando em um curso de Licenciatura em Letras com habilitação em língua inglesa possa atuar como profissional nessa área, utilizando a linguagem oral especificamente para esse fim. Neste trabalho, focou-se na competência e na proficiência dos alunosformandos em Letras, observando as manifestações linguístico-comunicativas da língua. De acordo com Llurda (2000), a habilidade de comunicação pela linguagem (communicative language ability), divide-se em proficiência linguística e proficiência comunicativa. Nesse caso, o profissional tem que se preocupar tanto com aspectos do código linguístico, como a gramática, e com a habilidade de se comunicar efetivamente na língua, ou seja, “passar a mensagem”. Para Edmonson (1981, apud LLURDA, 2000: 88) competência linguística significa codificação, decodificação e sequenciamento de atos comunicativos, o que também inclui o conhecimento dos códigos linguísticos da língua. Como já mencionado, um aspecto importante a ser levado em consideração na avaliação da proficiência linguística é a gramática, uma vez que ela é um dos fatores essenciais na produção e estruturação da fala. No entanto, ao observamos a precisão gramatical do aluno, faz-se necessário levar em consideração o fato de que a fala é marcada pela imprevisibilidade, sendo, neste e em outros aspectos, diferente da escrita. No presente trabalho, em que são avaliados seminários em contextos reais da fala em sala de aula, os aspectos característicos da fala devem ser levados em conta, e, por isso, situações com autocorreções instantâneas feitas pelo próprio falante, por exemplo, foram desconsideradas, analisando-se somente os desvios gramaticais que não foram corrigidos ou modificados. Unidade de Análise: a AS-unit Para a segmentação e análise da linguagem oral, Foster et al. (2000) sugerem uma unidade de análise sintática denominada AS-unit (Unidade de Análise da Fala), definida como: “o enunciado de um único falante que consiste em uma oração independente, ou numa unidade não oracional, junto com qualquer oração(ões) subordinada(s) associada(s) a elas. (…)” (FOSTER 54 Revista Contexturas, n° 24, p. 50 - 71, 2015. ISSN: 0104-7485 et al., 2000, p. 365).6 Ao sugerirem o modo de se fazer a segmentação dos dados, Foster et al. (2000) conseguem abarcar as peculiaridades da língua falada relevantes para a análise de dados orais. Nesta pesquisa, a AS-unit foi adotada, portanto, como a unidade de análise dos dados.7. A título de ilustração, vejamos as considerações de Borges-Almeida (2009, p. 82) sobre essa unidade de análise, com base nos exemplos de Foster et al (2000, p. 369, 364). (a) A: | oh that’s a big problem B: oh no! A: :: because my shop’s policy is only :: to give the credits for the return goods | (b) A: I think um (3.0) yeah it’s hard maybe he like her but no like a girlfriend, just a B: just like a sister A: yeah Em (a), A continua falando apesar da interrupção de B, portanto temos a continuação da mesma AS-unit. Em (b), temos um fenômeno de andaime. B completa o turno de A e, por isso, recebe uma AS-unit. Se A tivesse repetido “just like a sister” e continuado, teríamos uma mesma ASunit, a partir da última fala sua. Como ele apenas diz “yeah”, temos de desconsiderar “just a”, colocando como um falso início e considerar “yeah” como uma unidade completa. Metodologia da Investigação A primeira etapa do trabalho consistiu na elaboração de transcrições de seminários apresentados por dezenove alunos-formandos do curso de Licenciatura em Letras, no ano de 2012, em uma universidade do interior de São Paulo. Dentre treze seminários, sete deles foram apresentados individualmente e os seis restantes em duplas. Todos os seminários foram 6 No original: a single speaker’s utterance consisting of an independent clause or sub-clausal unit, together with any subordinate clause(s) associated with either. 7 A AS-unit é explorada mais detalhadamente na seção seguinte (seção 4) deste artigo. 55 Revista Contexturas, n° 24, p. 50 - 71, 2015. ISSN: 0104-7485 gravados em formato de áudio e de vídeo. É importante ressaltar que nem todo o material pode ser aproveitado por problemas em relação à qualidade do áudio. Devido a fatores externos, como barulhos e conversas fora da sala de aula, ou alunos que falaram muito baixo durante o seminário, tornou-se difícil o entendimento claro de todas as suas falas. Cinco transcrições tiveram que ser descartadas, pois não havia material suficiente para a análise da proficiência oral dos alunos em questão. Em um específico seminário, as alunas apenas leram toda a apresentação dos slides, o que não demonstra uma situação de uso real da língua em termos de manifestações de proficiência em produção oral e, por isso, também foi descartado. As transcrições dos seminários foram feitas de acordo com um sistema de códigos para que se pudesse identificar características da fala dos interlocutores, tais como: A = fala do aluno/examinado P = fala da professora-participante (school) = o que provavelmente foi dito (INCOMP) = fala incompreensível + = pausa breve (menos de 1 segundo) [2] = duração de pausa em segundos {ASC} = entonação ascendente {DESC} = entonação descendente ? = entonação típica de pergunta ((risada)) = ocorrências paralinguísticas [ ] = falas simultâneas = = turno interrompido : = alongamento de som /.../ = quebra de turno para fins de categorização ENglish = sílaba enfatizada - - = trechos desconsiderados para análise Os onze alunos que participaram deste estudo foram identificados por letras, de A a K. Assim que as transcrições eram finalizadas, eram revisadas pelo professor-orientador do estágio de IC e também por outra pesquisadora participante do projeto do EPPLE. A próxima etapa do trabalho consistiu na segmentação dos dados das transcrições em AS-units, como já mencionado anteriormente, unidade de 56 Revista Contexturas, n° 24, p. 50 - 71, 2015. ISSN: 0104-7485 análise escolhida para este trabalho, a qual é uma unidade de base sintática, que considera características relevantes da produção oral, tais como marcadores conversacionais, pausas, autocorreções e falsos inícios. Primeiramente, colocamos entre chaves {...} os trechos disfluentes, que podem ser pausas preenchidas, marcadores conversacionais, falsos inícios, palavras não lexicalizadas, reestruturação, ou trechos produzidos em português, dentre outros. Após a demarcação desses trechos disfluentes, as AS-units são demarcadas por barras verticais |...|, nas quais orações coordenadas entre si são delimitadas separadamente e orações principais e suas subordinadas são delimitadas juntas. É importante ressaltar que autocorreções foram desconsideradas neste trabalho, assim como os trechos disfluentes, e os trechos demarcados por hifens - -, pois não continham material suficiente para análise. Depois de termos as transcrições segmentadas em AS-units, foi realizada manualmente a contagem de unidades produzidas por cada aluno e o levantamento de desvios, para, posteriormente, calcular o índice de desvios cometidos pelos alunos em cada unidade. Segue a fórmula para calcularmos o índice de desvio por unidade: Índice desvio-unidade = frequência de desvios ÷ frequência de AS-units Portanto, para a apresentação dos resultados obtidos na análise, cada aluno terá sua apresentação brevemente comentada individualmente e exemplificada com um dos desvios encontrados, seguido de um gráfico com seus desvios divididos em categorias, e o resultado de seu índice de desvio por unidade. É importante ressaltar que várias dificuldades em relação às transcrições foram encontradas. Problemas com áudio ou até mesmo com o sotaque do aluno, fazia com que a aluna-estagiária tivesse que ouvir muitas vezes cada seminário, e em alguns casos, isso não era suficiente. No entanto, o trabalho realizado muito contribuiu para a formação da aluna-estagiária, pois exigiu um bom entendimento oral da língua inglesa para a realização das transcrições, um conhecimento sintático para a divisão das AS-units e um conhecimento linguístico da língua-alvo para o levantamento de dados. Análise dos Dados 57 Revista Contexturas, n° 24, p. 50 - 71, 2015. ISSN: 0104-7485 Conforme mencionado anteriormente, os dados desta pesquisa foram obtidos a partir das transcrições de treze seminários apresentados no ano de 2012 por alunos-formandos de um Curso de Licenciatura em Letras de uma universidade do estado de São Paulo. Como cinco desses seminários foram descartados, serão apresentados os resultados da análise de apenas oito seminários, com o total de onze alunos-participantes. Para cada aluno, foi feita uma análise qualitativa e uma quantitativa de sua apresentação. Para a análise qualitativa, levantamos os desvios e os dividimos em categorias. Todos os desvios foram levantados tomando-se como base a língua inglesa padrão, desconsiderando os casos em que os alunos se corrigiam imediatamente. Para a análise quantitativa, contamos o número de desvios cometidos por cada aluno e o dividimos pelo número de AS-units, contado manualmente pela estagiária. Assim, foi possível encontrar o índice de desvios por unidade de cada aluno. Como não foram encontrados apenas desvios gramaticais, utilizou-se o mesmo sistema de categorização utilizado por Busnardi (2012), no qual se incluiu a categoria de léxico (lex), uma vez que o uso indevido de uma palavra pode provocar desvios sintáticos, levando a um possível desvio gramatical. Também incluímos a categoria sintaxe (sin), na qual se enquadraram os desvios difíceis de serem classificados em apenas uma categoria, pois envolviam mais de um constituinte no enunciado. Precisão gramatical nos seminários Na Tabela 1, abaixo, segue o número de AS-units, o número de desvios e o índice de desvios-unidade cometidos por cada aluno nos seminários apresentados. É importante ressaltar que, quanto menor o índice desvio-unidade do aluno, maior a sua proficiência oral. Aluno A B C D E F G Número de AS-units 45 36 32 27 69 44 20 Frequência absoluta de desvios 6 7 3 9 16 2 3 Índice de desvios 13% 16% 9% 33% 23% 4% 15% 58 Revista Contexturas, n° 24, p. 50 - 71, 2015. ISSN: 0104-7485 32 9 28% H 36 9 25% I 97 12 12% J K 65 7 10% Tabela 1: Índices quantitativos da precisão gramatical dos alunos nos seminários A partir dos resultados, pode-se notar que a maioria dos alunos apresentou um número alto no índice de desvio-unidade. No entanto, é importante levar em consideração que alguns seminários foram apresentados individualmente e, outros, em duplas. Por isso a grande diferença de quantidade de AS-units produzidas por cada aluno. No caso da aluna J, que produziu noventa e sete AS-units, maior número produzido na turma, seu índice de desvios não foi tão alto em relação aos demais (12%). Já no caso da aluna D, que produziu apenas vinte e sete AS-units, segundo menor número da turma, seu índice foi o maior em relação aos demais (33%). É relevante também salientar que todos os alunos em questão são possíveis candidatos ao EPPLE. Se testados, a partir dos resultados quantitativos nesta investigação, será possível verificar a relação dos índices quantitativos com suas faixas classificatórias no exame, em estudos futuros. Apresentamos, a seguir, um quadro das categorias dos desvios gramaticais encontrados nos seminários e as siglas utilizadas, na análise dos desvios, para cada categoria. Sigla Adv Art Lex Flex Prep Pron Sint Verb Significado Advérbio artigo ou determinante léxico (escolha lexical inadequada) flexão de nome Preposição Pronome sintaxe (estruturação sintática inadequada) verbo (tempo e/ou aspecto inadequado(s)) Quadro1: Categorias dos desvios gramaticais nos seminários Trataremos, na sequência deste artigo, da apresentação dos desvios cometidos por cada aluno. 59 Revista Contexturas, n° 24, p. 50 - 71, 2015. ISSN: 0104-7485 A aluna A produziu 45 AS-units e cometeu seis desvios, resultando em um índice de 13%. Como mostra o gráfico, seus desvios se dividiram em três categorias, entre elas verb (três desvios), sint (2) e prep (1). Excerto 1 001 A |community college + {ahm} + can be considered a: preparation before to go to the college or university| Como vemos no excerto 1, a aluna apresenta um desvio na forma verbal ao usar a partícula to em to go, ao invés de usar a forma com –ing (going) requerida pela preposição before, que a antecede. A aluna B produziu 36 AS-units, cometeu sete desvios e ficou com um índice de 19%. Como mostra o gráfico a seguir, os sete desvios deste aluno se estenderam por cinco categorias, são elas: verb (2), sint (1), prep (1), flex (2) e lex (1). Excerto 2 005 B |the class time is generally is from eight to three p.m. | Como vemos no excerto 2, a aluna B utilizou o verbo is novamente em sua sentença, apresentando um erro sintático. Consideramos esse caso 60 Revista Contexturas, n° 24, p. 50 - 71, 2015. ISSN: 0104-7485 como erro devido ao fato de não haver pausas significativas entre a forma verbal is e o advérbio generally, nem entre o advérbio e a segunda ocorrência de is. Se houvessem pausas localizadas entre essas palavras, poderiam indicar que a aluna, na verdade, refez o enunciado enquanto o produzia, ou seja, alterou o que iria dizer, de “the class time is from eight to three p.m.” para “the class time generally is from eight to three p.m.” e neste caso, a repetição da forma is não seria um desvio gramatical, mas um aspecto presente na gramática da modalidade oral. No contexto de sua ocorrência, esse desvio também não prejudicou o entendimento dos demais interlocutores, mas, em algum outro contexto, isso poderia ter interferido na comunicação. Levando em consideração seu índice de 16%, um pouco acima da média da turma, podemos dizer que a aluna comete erros básicos referentes à gramática da língua inglesa, porém, a compreensão da sua fala pelos interlocutores não é tão prejudicada. O aluno C produziu 32 AS-units e cometeu apenas 3 desvios, resultando em um índice de desvios de 9%. Como podemos observar no gráfico abaixo, os desvios desse aluno se dividiram entre três categorias, tendo cada uma um desvio, sendo elas prep, lex e art. Excerto 3 |today we can climb the + three hundred + fifty four steps + to look + through + {ahm} + crowd + and watch the back of + new york + and new jersey| 61 Revista Contexturas, n° 24, p. 50 - 71, 2015. ISSN: 0104-7485 Como se pode observar no excerto 3, o aluno C não utilizou o artigo the em through the crowd, e, na segunda parte, usou o verbo watch ao invés de see, por exemplo. Nos dois casos os desvios podem causar confusão no entendimento da sua fala. O aluno D produziu 27 AS-units e cometeu 9 desvios, resultando em um índice de 33%. Como podemos observar em seu gráfico, seus desvios se dividiram entre cinco categorias, sendo elas verb (2), sint (1), prep (4), lex (1) e art (1). No excerto 4, observamos que o aluno não utiliza o pronome it, e como envolve vários termos na oração, podendo comprometê-la, esse desvio foi classificado como de sintaxe. No outro desvio, o aluno utiliza a proposição on em vez da preposição in. Levando-se em consideração seu alto índice de desvios, o mais alto da sala, conclui-se que esse aluno comete um grande número de desvios, que podem ou não prejudicar a comunicação. Excerto 4 |and since then + has been essential to economy + on orlando + and all unites states| 62 Revista Contexturas, n° 24, p. 50 - 71, 2015. ISSN: 0104-7485 O aluno E produziu 69 AS-units e cometeu 16 desvios, resultando em um índice de 23%. Como podemos observar em seu gráfico, seus desvios se dividiram entre cinco categorias, sendo elas verb (12), sint (1), lex (1), prep (1) e art (1). Excerto 5 |and + one day + they have a idea| No excerto 5, vemos que o aluno cometeu dois desvios. Um em relação ao verbo, que deveria estar no passado na forma had, e um em relação ao artigo, que deveria ser an ao invés de a. Nesse contexto, nenhum dos desvios prejudicou a comunicação, no entanto, o uso incorreto das formas verbais poderia atrapalhara compreensão da fala em outros contextos. Levando-se em conta seu índice de 23%, que é maior que o da média da classe, conclui-se que o aluno cometeu vários desvios, mas isso também pode estar ligado ao fato que ele também produziu bem mais unidades do que a média da produção da classe. 63 Revista Contexturas, n° 24, p. 50 - 71, 2015. ISSN: 0104-7485 O aluno F produziu 44 AS-units e cometeu apenas 2 desvios, resultando em um índice de 4%, o menor da classe. Como podemos observar no gráfico abaixo, seus desvios foram apenas relacionados à categoria dos verbos. Excerto 6 | [2] the popularity + of the holiday + has become proFItable for comercials| 64 Revista Contexturas, n° 24, p. 50 - 71, 2015. ISSN: 0104-7485 No excerto 6 vemos que o aluno F não utilizou corretamente a forma no passado do verbo become, que deveria ser became, no passado simples, devido ao contexto do enunciado, em vez de o presente perfeito. Esse tipo de desvio pode prejudicar a compreensão da fala em certos contextos como já dito anteriormente, mas esse aluno apenas cometeu dois desvios, o que nos diz que sua precisão gramatical é bem alta em relação aos demais alunos. O aluno G produziu apenas 20 AS-units e cometeu 3 desvios, resultando em um índice de 15%. Em seu gráfico observamos que este aluno teve seus desvios distribuídos em apenas duas categorias, sendo elas verb (2) e prep (1). Excerto 7 |+ would you to read please?| No excerto 7 vemos que o aluno fez o uso incorreto da preposição to, que não era necessária nessa sentença. Pelo índice deste aluno, diríamos que sua precisão é boa em relação aos demais alunos por estar abaixo da média da turma, porém, esse baixo índice pode se dar pelo fato da pequena produção de AS-units (20), sendo a menor produção entre os alunos investigados. 65 Revista Contexturas, n° 24, p. 50 - 71, 2015. ISSN: 0104-7485 O aluno H produziu 32 AS-units e cometeu 9 desvios, resultando um índice de 28%. Pelo seu gráfico, vemos que os desvios deste aluno foram divididos em quatro categorias, sendo elas verb (3), sint (2), lex (1) e art (3). Excerto 8 |is very important + this movie + because + {é} + talk about a his + a history of + american civil war + in eighteen five two| No excerto 8, no primeiro desvio, vemos que o aluno utilizou, em vez de o artigo the, o artigo a, e no segundo desvio, verificamos que o aluno diz eighteen five two ao invés de eighteen fifty-two, o que foi considerado como erro de uso do léxico. Os desvios relacionados ao léxico podem causar problemas na compreensão da fala desse aluno. De acordo com seu índice, que está acima da média, esse aluno cometeu bastante desvios e sua precisão gramatical não é tão alta em relação aos demais alunos. O aluno I produziu 36 AS-units e cometeu 9 desvios, resultando em um índice de 25%. Em seu gráfico vemos que seus desvios foram distribuídos em quatro categorias, sendo elas verb (4), sint (1), lex (1) e art (3). Excerto 9 66 Revista Contexturas, n° 24, p. 50 - 71, 2015. ISSN: 0104-7485 |{ahn} steve vai is a complete music| No excerto 9, verifica-se mais um caso de uso incorreto do léxico. O aluno usa music ao invés de musician. Esse aluno apresenta desvios muito básicos em relação à língua-inglesa padrão, apesar de seu índice de desvios não ser o mais baixo. O aluno J produziu 97 AS-units (maior número da sala) e cometeu 12 desvios, resultando em um índice de 12%. Em seu gráfico observamos que seus desvios se dividiram em cinco categorias, sendo elas verb (5), pron (1), prep (1), lex (1), art (4). Excerto 10 | + frank mardi gras + it came + to america + in sixteen + ninety nine + with a french + exploration| 67 Revista Contexturas, n° 24, p. 50 - 71, 2015. ISSN: 0104-7485 No excerto 10 vemos que a aluna utilizou inseriu o pronome it no enunciado de forma incorreta, pois a forma pronominal correta seria he. Pelo seus índices de produção oral e de desvios, pode-se concluir que a fala dessa aluna tem uma boa precisão gramatical, pois produziu 97 AS-units, um número bem elevado se comparado aos demais alunos, e cometeu 12 desvios. O aluno K produziu 65 AS-units e cometeu 7 desvios, resultando em um índice de 10%. Em seu gráfico observamos que seus desvios foram distribuídos em quatro categorias, sendo elas verb (1), sint (1), prep (1) e art (4). Excerto 11 |this is characteristics + for this movement| No excerto 11 podemos observar três desvios. Ao voltarmos ao áudio, percebemos que o aluno estava mostrando algo no slide, por isso, deveria ter dito these are the characteristics. Portanto, temos dois desvios relacionados a artigos e um a verbo. Pela sua alta produção de AS-units (65) e seu baixo índice de desvios, podemos concluir que, mesmo com alguns desvios básicos, sua precisão gramatical é alta. 68 Revista Contexturas, n° 24, p. 50 - 71, 2015. ISSN: 0104-7485 Na totalidade da contagem absoluta das ocorrências dos desvios gramaticais, a maioria ocorreu na categoria “verbos”, contabilizando 35 desvios, seguida das contagens de 11 desvios tanto para “itens lexicais” como para “preposições”. Verifica-se ainda que, para o aluno E, para quem contabilizou-se a maior produção de AS-units (69 AS-units), o número maior de desvios cometidos por esse aluno foi justamente na categoria “verbos”, um desvio na categoria “itens lexicais” e um desvio na categoria “preposições”, equiparando-se, nesses dois últimos itens, à maioria dos demais alunos investigados. Tais dados nos levam a depreender desses resultados que (a) o uso de formas e de tempos verbais representa um desafio maior para aprendizes de inglês como língua estrangeira e (b) parece ser necessário trabalhar-se mais, praticar mais a LE de modo a permitir que os aprendizes consolidem melhor o uso dos verbos na linguagem oral, o mesmo valendo para itens lexicais e uso de preposições. E ainda que (c) essas três categorias possam ter saliência nos critérios de avaliação de proficiência oral, no que tange a questão da precisão gramatical em língua inglesa. Passamos, agora, às considerações finais sobre nossa investigação. Considerações Finais Este trabalho teve o intuito de contribuir com o projeto maior em vigência do exame EPPLE, o qual visa avaliar a proficiência oral e comunicativa dos alunos-formandos em Letras, de recém-formados 69 Revista Contexturas, n° 24, p. 50 - 71, 2015. ISSN: 0104-7485 professores de língua estrangeira, bem como de professores no exercício da profissão, através de dados qualitativos e quantitativos da proficiência oral. A primeira parte do nosso trabalho consistiu na transcrição de treze seminários em contexto real de sala de aula, apresentados por dezenove alunos-formandos no curso de Letras, em uma universidade do interior de São Paulo. O material analisado neste trabalho totalizou oito apresentações de seminários e onze alunos avaliados individualmente. A segunda parte do trabalho consistiu na divisão das AS-units, unidade de análise sintática sugerida por Foster (2000). Em seguida, o levantamento dos desvios de cada aluno foi feito e categorizado em oito diferentes categorias (verbo, sintático, léxico, preposição, flexão de nome, artigo, advérbio e pronome). Depois de termos o número de AS-units, contado manualmente, mais o número de desvios, pudemos calcular o índice de desvios por unidade de cada aluno. Com os resultados obtidos, observou-se que a maioria dos alunos ficou com o um índice muito alto em relação à média da própria turma. É importante levar em consideração que alguns alunos produziram um número muito maior de AS-units do que outros, e que esses alunos que produziram mais, apresentavam maior proficiência oral (observável) na língua-alvo, mesmo que alguns não tenham obtido um índice tão bom. Considerando que produziram mais unidades, estavam mais suscetíveis a cometer desvios. É importante ressaltar que, apesar de os dados não serem do exame EPPLE, eles podem servir de comparação em um momento futuro quando esses mesmos alunos prestarem o exame, já que todos eles são possíveis candidatos. Será possível comparar o desempenho no EPPLE com os índices obtidos e observar a evolução desses alunos, na proficiência em língua inglesa, após o tempo decorrido entre as apresentações orais e sua produção no teste oral do EPPLE. O trabalho de pesquisa em questão contribui para melhor entendermos possíveis correlações entre precisão gramatical e proficiência oral e, acima de tudo, para o projeto maior EPPLE, que visa a qualidade na formação dos professores de línguas estrangeiras. Recebido em: 23/03/15 Aceito em: 27/04/15 Referências ALMEIDA, V. B. Precisão e Complexidade Gramatical na Avaliação de Proficiência Oral em Inglês do Formando em Letras: implicações para a 70 Revista Contexturas, n° 24, p. 50 - 71, 2015. ISSN: 0104-7485 validação de um teste. Tese de Doutorado em Estudos Linguísticos. São José do Rio Preto: UNESP, 2009. BAFFI-BONVINO, M. A. Avaliação do Componente Lexical em Inglês como Língua Estrangeira: foco na Produção Oral. Dissertação de Mestrado em Estudos Linguísticos. São José do Rio Preto: UNESP, 2007. BUSNARDI, B. Precisão e Complexidade Gramatical na Avaliação da Proficiência Oral do (Futuro) Professor de Inglês como Língua Estrangeira. Dissertação de Mestrado em Estudos Linguísticos. São José do Rio Preto: UNESP, 2012. CONSOLO, D. A. Avaliação da proficiência linguístico-comunicativapedagógica do professor de línguas: operacionalização de construto no Exame de Proficiência para Professores de Língua Estrangeira (EPPLE). Projeto trienal de pesquisa. São José do Rio Preto: UNESP, 2011. CONSOLO, D. A. A construção de um instrumento de avaliação da proficiência oral do professor de língua estrangeira. Trabalhos em Lingüística Aplicada, vol. 43, no 2, 2004, p. 265-286. CONSOLO, D. A.; TEIXEIRA DA SILVA, V. L. Em defesa de uma formação linguística de qualidade para professores de línguas estrangeiras: o exame EPPLE. Horizontes de Linguística Aplicada, ano 13, no 1, 2014, p. 6387. Disponível em http://periodicos.unb.br/index.php/horizontesla CONSOLO, D. A., ALVARENGA, M. B., CONCÁRIO, M., LANZONI, Hélcio de Pádua, MARTINS, Teresa Helena Buscato, TEIXEIRA DA SILVA, Vera Lúcia. An examination of foreign language proficiency for teachers (EPPLE): The initial proposal and implications for the Brazilian context In: Anais do II Congresso Internacional da ABRAPUI, 2009, São José do Rio Preto-SP (CD-ROM). FERNANDES, A. M. A Metalinguagem e a Precisão Gramatical na Proficiência Oral de Duas Professoras de Inglês como Língua Estrangeira. Dissertação de Mestrado em Estudos Linguísticos. São José do Rio Preto: UNESP, 2011. FOSTER, P.; TONKYN, A.; WIGGLESWORTH, G. Measuring spoken language: a unit for all reasons. Applied Linguistics, vol. 21, no 3, 2000, p. 354-375. LLURDA, E. On competence, proficiency and communicative language ability. International Journal of Applied Linguistics, vol. 10, no 1, 2000, p. 8596. 71