Unidade 3 - Ginecologia Dor Pélvica Aguda na Mulher CAPÍTULO 7 DOR PéLVICA AGUDA nA MULHER 1. NOçÕES BÁSICAS » Dor pélvica aguda é uma sensação dolorosa ou descrita em tais termos » » » » » » » » que se apresenta como dor na região pélvica e/ou hipogástrica; Doenças do trato geniturinário, gastrointestinal e músculo-esquelético podem levar a dor nessa região; Toda paciente com dor pélvica aguda deve ser inquerida sobre a data da última menstruação; Ao se pensar em abdômen agudo em uma paciente do gênero feminino, é obrigatório descartar causas ginecológicas, principalmente gravidez ectópica; Uma completa história clínica e um exame físico minucioso são úteis na elaboração dos diagnósticos diferenciais; História de trauma e violência sexual sempre deve ser explorada durante a anamnese; Início abrupto de dor é mais compatível com perfuração de vísceras ocas ou isquemia; Dor grave em cólica é mais comumente associada a contração muscular ou obstrução de víscera oca (i.e. intestino ou útero); Dor abdominal difusa sugere reação a luidos irritantes dentro da cavidade peritoneal. 2. DIAGNóSTICO DIfERENCIAL DE DOR péLvICA AGUDA » Irritação Peritoneal: • Gravidez ectópica rota; • Ruptura de cisto ovariano; 155 Protocolos Clínicos e Diretrizes Terapêuticas Maternidade Escola Assis Chateaubriand • Ruptura de abscesso tubo ovariano; • Perfuração uterina; » Torção: • Cisto ou tumor ovariano; • Mioma pediculado torcido/necrosado; • Hemorragia ou infarto intratumoral; » Infecção: • Endometrite; • Doença inlamatória pélvica; • Cervicite ou vaginite por Trichomonas; • Abscesso tuboovariano; » Relacionada à Gravidez – 1º trimestre: • Corpo lúteo hemorrágico; • Aborto; • Gravidez ectópica; » Relacionada à Gravidez – 2 e 3º trimestres • Problemas placentários (DPP); • Parto prematuro; » Outras Causas Ginecológicas: • Hímen imperfurado; • Septo vaginal transverso; • Útero didelfo com obstrução vaginal; • Corno uterino rudimentar não-comunicante com a cavidade endometrial; • Dismenorréia primária; • Endometriose; • Mittelschmerz (dor do meio do ciclo). » Outras Causas não-ginecológicas: • Objetos estranhos; 156 Unidade 3 - Ginecologia • • • • • • • • • • • • • • • Dor Pélvica Aguda na Mulher Aderências pélvicas; Tumores pélvicos; Doença de Crohn; Úlcera péptica perfurada; Pancreatite aguda; Infarto/ruptura esplênica; Apendicite; Linfadenite mesentérica; Diverticulite; Síndrome do intestino irritável; Cistite; Pielonefrite; Trigonite; Cálculos renais; Desordens músculo-esqueléticas. 3. pRINCIpAIS CAUSAS GINECOLóGICAS DE DOR péLvICA AGUDA 3.1. GRAvIDEz ECTópICA 3.1.1. Noções básicas » » » » Corresponde a 1% das gravidezes; É mais comum em mulheres > 30 anos; É mais comum em mulheres que já conceberam anteriormente; Gravidez ectópica é deinida como implantação fetal fora da cavidade uterina; » 90% das gravidezes ectópicas desenvolvem-se na tuba uterina. 3.1.2. SINAIS E SINTOMAS » Implantação fetal na tuba uterina induz a dilatação tubária e posterior ruptura; » História típica: amenorréia há 6 a 8 semanas e sangramento irregular; » Níveis lutuantes de hCG e baixos de progesterona; 157 Protocolos Clínicos e Diretrizes Terapêuticas Maternidade Escola Assis Chateaubriand » Massa no fundo de saco uterino pode levar a tenesmo; » Dor referida no ombro direito está relacionada a irritação por sangue » » » » » » » » do músculo diafragma; Tontura ou síncope estão relacionadas à perda sanguínea; Hipotensão ortostática – sinal precoce de hemoperitônio; Dor em um dos dois quadrantes inferiores do abdômen, geralmente o mais próximo à gravidez ectópica; Diminuição dos ruídos hidroaéreos; Dor leve à mobilização do colo uterino; Massa consistindo de hemosalpinge ou hematoma isolado por adesões pode estar presente; Febre baixa e leucocitose são incomuns, mas podem estar presentes quando de gravidez ectópica rota; Anemia progressiva. 3.1.3 DIAGNóSTICO » Mulher em idade fértil; » Teste sérico ou urinário para Beta HCG> 20 unidades internacionais/mL; » Ultrassonograia transvaginal pode conirma o local da gravidez, ou simplesmente excluir a presença de saco gestacional intra útero; » Gravidez tópica (intra-uterina) e ectópica são raramente encontradas juntas (1:30.000). 3.1.4 CONDUTA » Suporte clínico; » Tratamento conservador pode ser optado caso a gravidez ectópica esteja em declínio (hCG decrescente), a paciente esteja estável e não haja sinais de ruptura ou hemorragias intraperitoneais através da ultrassonograia; » Gravidez ectópica inicial pode ser tratada com metotrexato IM 50mg dose única ou em injeção intratubária; » Tratamento cirúrgico é por vezes necessário através de exérese da tuba afetada (salpingectomia). 158 Unidade 3 - Ginecologia Dor Pélvica Aguda na Mulher 3.2 CISTO OvARIANO ROTO 3.2.1 NOçÕES » Cistos funcionais (e.g. folicular, corpo lúteo) são os cistos ovarianos mais comuns e rompem-se com mais frequência que tumores benignos ou malignos; » Cisto ovariano só causa dor se estiver: torcido, em expansão rápida, infectado ou roto/hemorrágico; » A dor associada à ruptura do folículo ovariano na ovulação é chamada de Mittleschmertz(dor do meio do ciclo) e é geralmente auto-limitada; » Teratomas císticos, cistoadenomas, endometriomas também podem romper dentro da cavidade peritoneal. 3.2.2 SINAIS E SINTOMAS » Sintomas de corpo lúteo roto são similares ao da gravidez ectópica; » O início da dor é abrupta e progride até dor abdominal generalizada; » Caso haja hemoperitônio, a paciente pode apresentar indícios de hipovolemia (queda do hematócrito e hemoglobina, agitação, palidez, tontura, síncope, choque hipovolêmico); » Endometrioma roto costuma cursar com perda mínima de sangue; » O abdômen pode estar moderadamente distendido com os ruídos hidroaéreos diminuídos. 3.2.3 DIAGNóSTICO » Beta HCG negativo para gravidez; » Redução de hematócrito e hemoglobina; » Ultrassonograia ou culdocentese sugestivos de cisto ovariano. 3.2.4 CONDUTA » Suporte; » Observação clínica para os pacientes estabilizados; » Exploração cirúrgica pode ser recomendada se a ruptura ou gotejamento do cisto ovariano levar a hemoperitônio ou peritonite química; 159 Protocolos Clínicos e Diretrizes Terapêuticas Maternidade Escola Assis Chateaubriand 3.3 TORçãO DE ANExOS 3.3.1 NOçÕES BÁSICAS » Torção do pedículo vascular de um ovário, tuba uterina, cisto paratubário implica em isquemia e dor abdominal de início abrupto; » Uma tuba ou ovário sadio raramente sofrem torção, ovários policísticos podem sofrer torção; » Carcinoma de ovário e massas inlamatórias raramente sofrem torção pois possuem muitas aderências intracavitárias; » Teratoma cístico benigno é o tumor que mais comumente sofre torção. 3.3.2 SINAIS E SINTOMAS » A dor pélvica é grave e constante, caso a torção seja parcial e intermitente, a dor também será intermitente; » O início da dor geralmente coincide com algum exercício físico, » » » » » levantamento de peso ou intercurso sexual; Relexos autonômicos estão geralmente presentes (e.g. náusea, êmese, apreensão); Ao exame físico o abdômen se mostra bastante dolorido e um “dolorimento” nos quadrantes inferiores pode ser notado; Geralmente há a presença de uma grande massa unilateral pélvica ao exame; A torção oclue a drenagem venosa e linfática, logo há um ingurgitamento do anexo; Aumentos discretos na temperatura e leucocitose podem acompanhar infartos isquêmicos de anexos. 3.3.3 DIAGNóSTICO » » Beta HCG excluindo gravidez; » Anexo aumentado de volume a ultrassonograia; » Ausência de luxo ao Doppler. 160 Unidade 3 - Ginecologia Dor Pélvica Aguda na Mulher 3.3.4 CONDUTA » Suporte; » Tratamento cirúrgico (laparotomia ou laparoscopia, a depender do tamanho da massa) o mais precoce possível; » Caso não haja área de infarto, distorção manual cirúrgica do anexo; » Caso haja indícios de necrose no anexo, exérese cirúrgica deve ser realizada. 3.4 ABSCESSO TUBO OvARIANO 3.4.1 NOçÕES BÁSICAS » Geralmente são seqüelas bilaterais de salpingite aguda (maiores detalhes no capítulo de Doença Inlamatória Pélvica - DIP); » Dor pélvica de início abrupto que aumenta com a movimentação; » Abscesso tubo ovariano roto é uma emergência médica devido ao choque séptico causado por endotoxinas liberadas por gram-negativos. 3.4.2 SINAIS E SINTOMAS » » » » » Febre > 1 semana; Descarga vaginal purulenta; Náuseas e vômitos; Massa bilateral, dolorosa, palpável, irme e ixa; Os abscessos podem ser palpáveis ou evidenciados no fundo de saco uterino. 3.4.3 DIAGNóSTICO » Visualização do abscesso na ultrassonograia. 3.4.4 CONDUTA » Antibiótico intravenoso (clindamicina e gentamicina como 1ª escolha para abscesso pélvico); » Monitorização contínua para detecção de rupturas ou gotejamentos; » Se pela ultrassonograia não icar claro qual a origem dessa massa anexial, laparoscopia ou laparotomia podem estar indicadas; 161 Protocolos Clínicos e Diretrizes Terapêuticas Maternidade Escola Assis Chateaubriand » Abscessos tubo ovarianos rotos podem indicar laparotomia exploradora. (cinco a oito cm de maior diametro); 3.5 LEIOMIOMA UTERINO 3.5.1 NOçÕES BÁSICAS » Leiomiomas uterinos são tumores de células musculares lisas; » Desconforto pode estar presente quando o mioma cresce e atinge a » » » » » » » bexiga, reto, ligamentos uterinos; Dor pélvica aguda raramente é atribuída primariamente ao mioma; Dor pélvica aguda pode estar relacionada ao mioma, se este sofrer um processo de degeneração ou torção; Degeneração do mioma pode estar associada isquemia no centro do tumor em decorrência ou de estados hipovolêmicos ou crescimento tumoral acelerado associado à gravidez; Em mulheres não-grávidas, mioma uterino degenerado frequentemente é confundido com salpingo-ooforite subaguda; Leiomiomas subserosos pediculados pode sofrer necrose isquêmica por torção (similar à dor de torção anexial); Leiomiomas submucosos pediculados tendem a ser expulsos por contrações uterinas, causando dor similar à do parto; Dor em cólica é usualmente associada a hemorragia. 3.5.2 SINAIS E SINTOMAS. » Exame físico revela massa(s) crescendo na região de projeção abdominal do útero; » Mioma degenerativo pode causar inlamação e dor pélvica aguda; » Elevação da temperatura e leucocitose podem ocorrer. 3.5.3 DIAGNóSTICO Ultrassonograia é útil em distinguir a origem da massa abdominal. 162 Unidade 3 - Ginecologia Dor Pélvica Aguda na Mulher 3.5.4 CONDUTA » Leiomioma degenerativo é tratado com observação clínica e analgesia; » Leiomioma pediculado, torcido, subseroso pode ser excisado laparoscopicamente, apesar de não ser uma indicação mandatória. » Leiomioma submucoso com dor e hemorragia deve ser excisado transcervicalmente, de preferência com histeroscopia para guiar o procedimento. 3.6 SALpINGO-OOfORITE (Consultar capítulo DIP). 3.7 DISMENORRéIA pRIMÁRIA (Consultar capítulo especíico). 3.8 ENDOMETRIOSE (Consultar capítulo especíico). 163