incidência e ocorrência de ataques ofídicos no brasil em - Unifal-MG

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INCIDÊNCIA E OCORRÊNCIA DE ATAQUES OFÍDICOS NO BRASIL
EM 2012
João Paulo Lima Moreira
[email protected]; Geografia; Unifal- MG
Rúbia Gomes Morato
[email protected]; Geografia; Unifal- MG
RESUMO
Há na fauna brasileira quatro gêneros de serpentes peçonhentas, Brothops, Crotalus,
Micrurus e Lachesis que causam acidentes de interesse médico. Neste trabalho foram
descritas algumas características físicas dos gêneros dos animais estudados e a
forma como ocorrem os ataques. Depois foi analisado os dados gerados no SINAN
(2013) com informações do número de ataques por gêneros do ano de 2012 no Brasil.
A ocorrência por estado foi descrita em números e porcentagens e a incidência em
mapas, realizados no S.I.G. TerraView 4.2.2.do INPE. Além de informações sobre
quais meses mais ocorrem os acidentes e qual o sexo mais atingido e por que.
Palavras-Chave: Serpentes, Geoprocessamento, Incidência de Ataques.
ABSTRACT
There are in Brazilian fauna four genus of venomous snakes, Brothops, Crotalus,
Micrurus and Lachesis spiders that cause accidents of medical interest. This paper was
described some physical characteristics of the genus of studied animals and how
attacks occur. After was analyzed SINAN (2013) data of attacks by venomous snakes
studied here, in 2012 year in Brazil. The occurrence was described by state in numbers
and percentages, and the incidence in maps, made in TerraView 4.2.2. GIS from INPE.
Also informations about which mounths most accidents occurred, and which sex was
more was more affected and why.
Key-words: Snakes, Geoprocessing, Incidence of Attacks
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INTRODUÇÃO
Cada vez mais o homem invade o espaço dos animais, e em relação aos animais
ditos “perigosos” estão sendo encontrados cada vez mais próximos a residências, o
que gera acidentes. O crescimento de notificação pode ser explicado pelo aumento do
desmatamento e pelo desenvolvimento das áreas de plantio (cana-de-açúcar,
fruticultura e algodão), as alterações ambientais, devido a urbanização, podem induzir
o surgimento de serpentes nas cidades (LIMA et. al., 2009).
Discretas e escondidas, serpentes causam cada vez mais acidentes, mas isso
não se restringe apenas ao meio rural ou às matas, cada vez mais se vê,
principalmente em noticiários e jornais , acidentes nas cidades não só do interior.
A maioria dos acidentes ofídicos ocorre em nações subdesenvolvidas, sendo
considerados um problema de saúde pública, acometendo áreas rurais remotas, com
dados epidemiológicos escassos e subestimados (LIMA et. al., 2009).
Pough et. al. (2001), Barbosa et. al. (2007) e Baptista et. al. (2008) apud Moura
et. al. (2010) dizem que a falta de conhecimento que uma sociedade apresenta sobre
algumas espécies pode impulsionar seu extermínio indiscriminado. O que se observa
nos mesmos noticiários e jornais a morte destes animais de forma desnecessária.
As serpentes, assim como os demais répteis, são pecilotérmicos, animais que
possuem característica de adaptarem sua temperatura corporal de acordo com a
temperatura do ambiente, se diferenciando dos mamíferos e aves que são
homeotérmicos, cuja temperatura corporal interna permanece constante, independente
das variações da temperatura do meio externo.
As pessoas confundem peçonha e veneno, há uma diferença entre as duas. A
peçonha é produzida por animais através de glândulas específicas existentes, que tem
como características alterarem o metabolismo do animal que sofreu o ataque, através
de uma parte natural como espinhos e dentes, desta forma a toxina é injetada através
da pele intacta da vítima. O veneno pode ser produzido tanto por animais, quanto por
plantas e minerais, a toxina entra no corpo por meio dos tratos digestivo e respiratório
ou também por absorção de um tecido intacto, como a pele. Ambos são uma toxina e
servem como mecanismo de defesa (SZPILMAN, 2012).
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Analisando os dados do SINAN (2013) entre os acidentes por serpentes, 2009
teve 26628 acidentes. No ano de 2010, 25786 acidentes. O ano que mais ocorreram
acidentes foi o de 2011 com 27546. Em 2012 os acidentes diminuíram para 25620.
No Brasil há nove famílias de serpentes, algumas destas famílias ocorrem em
regiões restritas, além de possuírem poucas espécies. Duas espécies se agrupam
como sendo as serpentes mais causadoras de danos aos seres humanos, sendo elas
das famílias Elapidae, gênero Micrurus (Coral) e Viperidae, que segundo Marques et.
al. (2001) são serpentes solenóglifas (tipo de dentição) altamente especializadas na
injeção da peçonha gêneros Bothrops, (Jararaca), Crotalus, (Cascavel), invasora na
Mata Atlântica, Lachesis, (Surucucu). Há aproximadamente 321 espécies de serpentes
conhecidas no país, entre peçonhentas e não peçonhentas.
São animais de corpo alongado revestido de escamas que tem a função de
proteger o corpo que é constantemente exposto, possuem quase todos os órgãos
internos alongados e sem membros, medindo de 50 cm até 6 metros de comprimento,
com casos de até 10 metros.
Possuem respiração pulmonar e coração com três cavidades, dois átrios e um
ventrículo. A mandíbula é dividida em duas metades ligadas por um ligamento frouxo,
que pode mover-se independentemente, facilitando a deglutição de grandes presas.
Todos os ossos, exceto os da cabeça são vértebras, chegando a ter 400 vértebras e
costelas flutuantes. A fosseta loreal é uma abertura em espécies de Viperídeos,
localizada entre o olho e a narina, é um órgão que ajuda o animal a encontrar fontes
de calor e presas de sangue quente.
Bothrops é o gênero que compõe as diversas espécies de Jararaca, e por
pertencerem à família dos Viperídeos, possuem a fosseta loreal. Das mais de quinze
espécies que existem, pode-se diferenciá-las de acordo com o focinho, levantado ou
não, e a cor de seu ventre, xadrezado ou claro ou salpicado de escuro. Têm como cor
geral ou verde ou acinzentada, até quase completamente negro. Atingem
aproximadamente 1,7 metros de comprimento quando adultas, além de ocupam desde
áreas secas até alagadiças, possuindo assim uma grande capacidade de adaptação a
diversos tipos de ambientes.
Crotalus é o gênero de serpentes em que estão inclusas as espécies de
Cascavel, há mais de cinco espécies. Algumas espécies possuem manchas no corpo,
em que a parte interna das manchas dorsais é mais clara apenas que nas bordas das
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manchas. Umas têm marcas triangulares brancas nas supraoculares, outras não.
Vivem em áreas abertas, campos. Atingem aproximadamente 1,6 metros de
comprimento quando adultas. Marques et. al. (2001) diz que é uma espécie invasora
na região de Mata Atlântica.
O gênero que abrange as espécies de surucucu é o Lachesis. Resumem-se em
animais de grandes manchas no topo da cabeça, faixa postocular não distintamente
marginada de claro e cor geral avermelhada, ou apenas espécies com características
contrárias as ditas acima (Romano-Hoge, 2000). É a maior serpente peçonhenta do
Brasil, podendo alcançar até 4 metros de comprimento, e podendo ultrapassar tal
medida. Vive principalmente na região Amazônica, e esporadicamente em outras
regiões do país.
A cobra coral pertence ao gênero Micrurus, além das não nacionais como as
Najas. A diferenciação de uma espécie para outra está nos anéis vermelho, preto e
branco em seu corpo. Vivem em troncos de árvores, e preferem zonas úmidas. A
Coral Verdadeira possui cabeça ovalada, e a Falsa Coral não possui manchas pretas
e sim amareladas.
Os acidentes ofídicos, aqueles causados por serpentes podem ser divididos em
quatro. Acidente Botrópico é aquele causado por espécies de Jararaca do gênero
Bothrops. Acidente Crotálico é aquele causado pelas espécies de Cascavel
pertencentes ao gênero Crotalus. Existem poucos casos documentados de acidentes
Laquéticos, causados por espécies de Surucucu, do gênero Lachesis. O acidente com
Coral, gênero Micrurus não possui um nome específico. Todos os envenenamentos
por serpentes são tratados através do antiveneno produzido em laboratório.
Pode-se-a notar que os dados aqui trabalhados não mostrarão números 100%
reais, já que o SINAN (Sistema nacional de Agravos e Notificações) não trabalha com
notificações de casos não vinculados ao SUS, mesmo com um número elevado, eles
não representam 100% dos ataques sofridos por animais peçonhentos no Brasil. O
SINAN trabalha também com acidentes com aranhas, escorpião, lagarta e abelhas.
Lawson (2004) diz que o estudo da distribuição geográfica de doenças tem
vários usos, ele divide em três áreas de aplicação. O primeiro é o Mapeamento de
Doenças, fornece a estimativa do risco relativo de uma doença ocorrer e certa área de
estudo. O segundo é o Agrupamento de Doenças, importante na vigilância da à saúde
pública, além de ser capaz de avaliar se alguma doença está aglomerada em alguma
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área e se há aglomerados de tal doença. O terceiro é a Análise ecológica, que possui
um foco na distribuição da doença em relação à co-variáveis.
Para Skaba et. al.(2004) o S.I.G. permite o mapeamento das doenças e
contribuem na estruturação e análise de riscos socioambientais. As questões de saúde
ambiental estão ganhando importância científica e do interesse público, por exemplo
como os efeitos da saúde pode mudar a nível local onde há preocupação com o
aumento de câncer próximo a uma fábrica de produtos tóxicos (MAEHESWARAN &
CRAGLIA, 2004). Dessa forma o mapeamento de doenças ajuda a saber se há riscos
e assim previnir futuros doentes em uma determinada região.
Assim, relacionando o meio ambiente com saúde pode-se por exemplo saber
se uma doença ocorre por algum agente transmissor que vive perto de alguma cidade,
como florestas, se uma mina está contaminando pulmões de uma população de uma
cidade com casos de problemas respiratórios, entre outros.
OBJETIVOS
Este trabalho tem como objetivo analisar espacialmente os casos de acidentes
relacionados com os quatro gêneros de serpentes de interesse médico nas unidades
da federação brasileira no ano de 2012 de acordo com as informações retiradas do
SINAN.
Objetivo Específico:
Identificar
possíveis
associações
como
da
quantidade
de
acidentes
relacionados com serpentes em relação ao sexo da vítima a época do ano.
METODOLOGIA
Para a realização deste trabalho foi utilizado de pesquisas bibliográficas
através de artigos e livros sobre serpentes, geoprocessamento e saúde. Coleta e
análise de dados secundários das tabelas retiradas do site do SINAN do Ministério da
Saúde; e a realização de mapas temáticos com o S.I.G. (Sistema de Informação
Geográfica) TerraView 4.2.2. produzido pelo INPE (Instituto Nacional de Pesquisas
Espaciais).
Primeiro foi analisado os dados fornecidos pelo SINAN para identificar quais
eram os casos com serpentes e descartar os demais, como escorpião e lagartas.
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Separou-se cada gênero de animal assim realizando-se cálculos do total de acidentes
por estado tanto de gêneros peçonhentos e não peçonhentos, para que fossem
fornecidos números absolutos e as porcentagens de cada gênero no total de cada
animal e a porcentagem de acidentes.
Foi comparado o total de casos entre quatro anos, sendo 2009, 2010, 2011 e
2012, apenas para ter uma ideia se o número de acidentes aumenta, diminui ou se o
total não é muito alterado. Além de serem utilizadas tabelas também retiradas do
SINAN em relação ao à idade e sexo das vítimas.
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Para a realização dos mapas temáticos foram executados cálculos de
incidência, dividindo o número de casos de cada gênero pelo número de habitantes de
cada estado e multiplicando por 100.000, para que não ocorressem resultados muito
baixos. Assim obteve-se dados relativos para a criação dos mapas coropléticos no
TerraView 4.2.2. Foram realizados cinco mapas os valores são agrupados em cinco
classes, e o intervalo entre elas foi gerado pelo próprio S.I.G. de acordo com os dados
apresentados.
RESULTADOS
Marques et. al. (2001) relatou que 99% dos envenenamentos são causados por
serpentes da família Viperidae. Neste estudo esta família representa 94,08% dos
casos ofídicos, sendo que o gênero Bothrops com 81,70% dos casos, seguido da
Crotalus com 8,93%, o gênero Lachesis registrou 3,45% dos casos, seguido por
ataques de serpentes não peçonhentas com 4,97% e a família Elapidae, gênero
Micrurus resultou em 0,95% dos casos.
A região que mais registrou casos foi a Norte, com 8324 casos, seguida do
sudeste, e o Estado que contém o maior número de registros país é o Pará, com 4691
ocorrências. A região que obteve menos acidentes com serpentes foi o Sul, com 2236
casos, e o Estado que contém o menor número de registros é Sergipe, com 80 casos.
Franco et. al. (2001) utiliza dados de 1994 a 1996 e mostra que 88,89% dos
ataques por serpentes ocorrem na área rural e 11,11% em área urbana, e a maioria
dos envenenamentos ocorrem em homens por volta dos 20 anos e durante o trabalho,
na zona rural. Em um artigo mais recente cita Otero et.al. (1992), Gutiérrez (2009a) e
Oliveira
et.
al.(2009)
apud
Gutiérrez
(2011)
afirmam
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que
os
principais
envenenamentos
por
serpentes
ocorrem
entre
os
trabalhadores
agrícolas,
principalmente homens, mas que os ataques acometem crianças e mulheres na zona
rural também.
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Figura 01: Incidência de acidentes por quatro gêneros de serpentes no Brasil em 2012 para
cada 100000 habitantes. Fonte: SINAN (2013); Organização Moreira (2014).
Em relação aos sexos das vítimas, o masculino é o que mais faz vítimas com
77,4%, enquanto que o sexo feminino representa 22,6% dos casos; e a serpente que
mais causa acidentes é o Bothrops. Por conta de mais homens trabalharem no campo,
eles sejam mais atingidos que as mulheres. E a faixa etária que predomina está entre
20 e 39 anos e 40 e 59 anos, que também estão inseridos estes trabalhadores.
Confirmando o que Romano-Hoge (2002) afirma, os meses mais quentes e
chuvosos são os que concentram a maior quantidade de ofidismos. Cobras são
encontradas mais facilmente em períodos mais quentes devido à pecilotermia
(MARQUES et. al., 2001). Isso ocorre devido às baixas temperaturas do inverno,
serpentes hibernam, para não ficarem expostas às temperaturas baixas. Assim no
verão elas saem para se alimentar, e refrescar a temperatura corporal e assim acabam
ocorrendo os acidentes.
CONCLUSÃO
Pode-se concluir que não necessariamente os estados que mais ocorrem
acidentes são os que também ocorrem mais incidência. Pará é o estado que mais têm
acidentes de nãoé o único que aparece em destaque no mapa. Minas Gerais, por
exemplo, em relação às serpentes, possui uma grande população e também tiveram
muitos acidentes, porém outros estados com menos população também aparecem em
destaque pelo menor número de população e uma quantidade de acidentes
significativos.
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Os ataques ocorrem em período de férias, coincidindo com o verão, onde os
animais ficam mais expostos, e por descuidado das pessoas que não são
familiarizadas com o local, ao fazerem trilhas, colocar a mão em buracos, subir em
árvores, atividades ao ar livre, acabam sofrendo acidentes.
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