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ISSN do Livro de Resumos: 2448-0010
ENSINO-APRENDIZAGEM DE LEITURA DE PARTITURAS MUSICAIS: UMA
PESQUISA-AÇÃO EDUCACIONAL
Bruno Felix da Costa ALMEIDA; Cristina Rolim WOLFFENBÜTTEL
Universidade Estadual do Rio Grande do Sul – Unidade de Montenegro
Rua Capitão Porfírio, 2141 – Centro - CEP: 95780-000
[email protected]; [email protected]
ALMEIDA, B.; WOLFFENBÜTTEL, C.. ENSINO-APRENDIZAGEM DE LEITURA DE PARTITURAS MUSICAIS: UMA PESQUISA-AÇÃO
EDUCACIONAL. VI Salão Integrado Ensino, Pesquisa e Extensão, II Jornada de Pós-Graduação, I Seminário Estadual sobre Territorialidade, Brasil,
ago. 2016. Disponível em: <http://conferencia.uergs.edu.br/index.php/SIEPEX/visiepex/paper/view/977>. Data de acesso: 21 Dez. 2016..
RESUMO
Esta pesquisa, em andamento, investiga o ensino-aprendizagem da leitura de partituras musicais junto
a jovens estudantes de uma escola pública municipal de Montenegro-RS, com as idades entre 10 a 13
anos. Ocorre por meio da parceira do Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência, da
Universidade Estadual do Rio Grande do Sul. Estrutura-se em três etapas, tendo como metodologia a
abordagem qualitativa, o método da pesquisa-ação e observações e entrevistas como técnicas para a
coleta dos dados. A análise dos dados utiliza-se da análise de conteúdo. A partir dos dados coletados
e já analisados foi possível constatar que o interesse dos estudantes pelas atividades musicais é um
fator de sucesso no processo de ensino-aprendizagem da leitura de partituras musicais. Além disso, a
apropriação, por parte do professor de música, de metodologias que possam auxiliar os educandos na
compreensão do conteúdo também se apresenta como fundamentais neste processo de aprendizado.
Palavras-chave: Educação; Educação Musical; Pesquisa-ação.
INTRODUÇÃO
A escrita e leitura são, atualmente, importantes formas de comunicação na sociedade
ocidental. Estudos relacionando suas importâncias, bem como suas construções através dos séculos
foram realizados por pesquisadores que atentaram à esta evolução humana relacionando-a aos
aspectos sociais e histórico-evolucionistas. De acordo com Souza (2006) “historicamente, a
importância da escrita e da leitura tem sido atribuída ao ato de escrever como o principal fator no
desenvolvimento intelectual, linguístico e social das culturas ocidentais” (p. 207).
No entanto, ao que concerne à relação de aproximação entre homem e música, Grout e Palisca
(1988) traçam, por exemplo, o início do desenvolvimento da história da música ocidental, salientando
a importância dos registros musicais para a construção da evolução humana ao longo dos séculos.
Nesta perspectiva, são apontadas como fontes de comprovação esculturas e obras de arte que retratam
manifestações músico-culturais aos deuses gregos, além de manuscritos e tratados musicais,
ponderando que “desde os tempos mais remotos a música foi um elemento indissociável das
cerimônias religiosas” (GROUT; PALISCA, 1988, p. 17).
Ao chegar aos tempos medievais, que teve a música como um importante fator para a conexão
entre o homem e Deus, durante os ofícios litúrgicos, teve “algumas características da música da
Grécia e das sociedades mistas orientais-helenísticas do Mediterrâneo oriental” (GROUT; PALISCA,
1988, p. 34) absorvidas nas igrejas cristãs. Swanwick (2003, p. 40) em relação ao contexto músicosocial pondera que “a música não somente possui um papel na reprodução cultural e afirmação social,
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mas também potencial para promover o desenvolvimento individual, a renovação cultural, a evolução
social, a mudança”. Diante dessa contextualização é possível considerar que não somente os registros,
como as esculturas ou os manuscritos, são importantes para se compreender questões sócio-músicoevolucionistas, no que tange às considerações de Grout e Palisca (1988), mas também a vivência
interpessoal com culturas diferentes, que pode nos permitir uma apropriação e compreensão musical
que vai além da notação, aproximando-nos da compreensão de manifestações músico-culturais
heterogêneas, como aponta Swanwick (2003, p. 60). Para o autor, “a notação de qualquer tipo tem
valor limitado ou nenhum para performers”, ou seja, o convívio entre as culturas é que permitirá a
troca mais significativa ao fazer musical. Souza (2006) complementa que “não devemos esquecer que
muitas tradições musicais neste planeta são aprendidas e transmitidas oralmente e isso é válido
especialmente para um país como o nosso” (p. 208), porém, faz a ressalva sobre o valor da escrita
musical:
Como em outras linguagens, a importância da notação musical é permitir o
registro para que a execução de uma peça musical possa ser corrigida,
aperfeiçoada e que a mesma possa ser executada por outras pessoas. [...]
Como em outras áreas, a escrita permite armazenar e fixar o texto musical
fazendo dele um objeto de repetição e reflexão. (SOUZA, 2006, p. 211-212).
A partir dos dados apontados anteriormente, no que diz respeito à importância histórica, social
e cultural do processo de evolução e apropriação de conhecimentos musicais, a presente investigação,
em andamento, é desenvolvida junto a uma escola pública municipal de ensino fundamental,
localizada na cidade de Montenegro – Rio Grande do Sul, parceira da Universidade Estadual do Rio
Grande do Sul (UERGS), através do Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência
(PIBID), objetivando averiguar o processo de ensino-aprendizagem da leitura de partituras musicais
junto a jovens estudantes com idade entre 10 e 13 anos. Partiu dos seguintes questionamentos: Como
ocorre o processo de aprendizagem de leitura de partituras musicais por parte de jovens estudantes?
Quais as possíveis metodologias que o professor de música poderá utilizar durante o processo de
construção da leitura de partituras musicais? Fundamenta-se em teorias da educação, proposta por
Bruner e Ausubel, sobre as possibilidades de o estudante ver e rever o conteúdo de forma a
complementá-lo a cada reexposição, e a assimilação do novo conteúdo aos conhecimentos prévios do
aluno, respectivamente, (MOREIRA, 1985). Do mesmo modo, utiliza-se de conceitos da educação
musical, propostos por Swanwick (2003, 2014), quanto ao processo de enculturação e aprendizagem
musical dentro e fora do espaço formal de aprendizagem. Do mesmo modo, busca fundamentos na
psicopedagogia musical, proposta por Gainza (1982), considerando que “a aprendizagem se
concretiza com a aquisição – consciente ou não – de uma série de capacidades ou destrezas no campo
sensorial, motor, afetivo e mental” (p. 34); além da neurociência, que explica o processo de
assimilação e aprendizagem de todo tipo de conteúdo aprendido através de estudos neurocientíficos
(CONSENZA; GUERRA, 2011).
METODOLOGIA
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Para o desenvolvimento da pesquisa optou-se pela abordagem qualitativa, por permitir “a
compreensão dos comportamentos a partir da perspectiva dos sujeitos da investigação” (BOGDAN;
BIKLEN, 1994, p. 16), tendo a pesquisa-ação educacional como método, por se tratar de “uma
estratégia para o desenvolvimento de professores e pesquisadores de modo que eles possam utilizar
suas pesquisas para aprimorar seu ensino e, em decorrência, o aprendizado de seus alunos” (TRIPP,
2005, p. 445). Observações e entrevistas foram selecionadas como técnicas para a coleta dos dados,
e a análise de conteúdo, proposta por Mores (1999), para consubstanciar a interpretação dos dados
coletados.
Assim, a investigação está estrutura em três etapas. A primeira caracterizada pela realização
de uma Oficina de Teclado; a segunda etapa consistiu no desenvolvimento de uma Oficina de Criação
Musical; e, a terceira etapa, que se encontra em andamento, constitui-se no retorno à Oficina de
Teclado. Estas etapas são as principais fontes de observação e coleta dos dados desta pesquisa.
RESULTADOS E DISCUSSÕES
A partir das entradas na escola pública municipal de Montenegro-RS, parceira do PIBIDMúsica/UERGS, foram ofertadas vagas aos estudantes, através de uma Oficina de Teclado, na qual,
espontaneamente, os mesmos se inscreveram para participar. Para a realização da oficina, que teve o
instrumento musical teclado como uma das principais fontes para a coleta dos dados sobre o processo
de ensino-aprendizagem musical, foi elaborado um material didático com informações teóricoprático-musicais, além de um planejamento visando à aproximação dos alunos com o instrumento
musical, bem como ao conteúdo de leitura e escrita de elementos musicais básicos, fundamentais para
a compreensão das partituras musicais propostas no material didático (ALMEIDA;
WOLFFENBÜTTEL, 2015).
Durante o desenvolvimento da Oficina de Teclado foram levados em consideração os
conhecimentos prévios dos estudantes em relação ao conteúdo musical, sem objeções ao processo de
aprendizagem de leitura de partituras musicais. Ao observá-los e entrevistá-los ao longo da realização
das atividades propostas, foi possível perceber o entusiasmo e o interesse em aprender um instrumento
musical e, principalmente, em conseguir identificar os elementos de uma partitura.
Em continuidade à oficina, após o término do planejamento inicial e, tomando por base a
análise dos dados coletados nesta etapa, foi proposta aos mesmos estudantes a participação na Oficina
de Criação Musical. Esta oficina objetivou a elaboração da notação musical a partir de vivências e
experiências musicais utilizando sons do cotidiano (SCHAEFER, 2009, 2011), instrumentos
confeccionados com materiais reciclados e o teclado.
Os princípios para a proposta da notação musical criada pelos estudantes tiveram
fundamentação no trabalho proposto por Moura (2012), a qual objetiva que os estudantes possam
lembrar posteriormente as músicas criadas, porém tendo a notação musical alternativa como método
de registro das atividades.
Ao final da Oficina de Criação Musical, os estudantes, que foram observados e entrevistados,
demonstraram interesse em retornar à Oficina de Teclado, e utilizar a notação musical convencional,
almejando aprender a tocar algumas músicas de suas bandas favoritas.
A Oficina de Teclado, em sua segunda versão, está atualmente em andamento e, após sua
finalização, constituirá o material para a análise final do processo de ensino-aprendizagem da leitura
de partituras musicais junto aos jovens estudantes.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com base no referencial teórico-analítico utilizado, bem como através das informações
coletadas junto às observações e entrevistas, é possível ponderar, preliminarmente, que a metodologia
adotada pelo professor de música e, principalmente, o interesse dos alunos em relação ao processo de
apropriação dos conhecimentos musicais, são de fundamental importância para tornar o ensinoaprendizagem musical significativo. Ainda que o processo de criação e elaboração musical foi
proporcionado aos estudantes envolvidos, em sua totalidade, os mesmos preferiram utilizar a notação
convencional, pelo fato de lhes permitir executar músicas de suas bandas preferidas, além de outras
de seu gosto musical. Desta forma, a notação musical convencional parece ser importante para a
cultura jovem estudada, por permitir ir além da música através de uma reflexão sobre o processo do
fazer musical.
AGRADECIMENTOS: Este estudo conta com o financiamento da CAPES, através do Edital do
PIBID Nº061/2013.
REFERÊNCIAS
ALMEIDA, Bruno Félix da Costa; WOLFFENBÜTTEL, Cristina Rolim. Leitura de partituras musicais: uma
pesquisa-ação sobre os processos de ensino e aprendizagem. Revista da Fundarte, Montenegro, ano 15, n. 30,
p. 48-72, jul./dez. 2015. Disponível em: <http://seer.fundarte.rs.gov.br/index.php/RevistadaFundarte/index>.
CONSENZA, Ramon Moreira; GUERRA, Leonor Bezerra. Neurociência e educação: como o cérebro
aprende. Porto Alegre: Artmed, 2011.
GAINZA, Violeta Hemsy de. Estudos de psicopedagogia musical. 3ª ed. São Paulo: Summus, 1988.
GROUT, Donald J.; PALISCA, Claude P. História da música ocidental. Lisboa: Gadiva, 1988.
MORAES, Roque. Análise de conteúdo. Revista Educação, v. 22, n. 37, p. 7-32, Porto Alegre: 1999.
MOREIRA, Marco Antônio. Ensino e aprendizagem: enfoques teóricos. São Paulo: Ed. Moraes, 2ª edição,
1985.
MOURA, Ieda Camargo de. Musicalizando crianças: teoria e prática da educação musical. Curitiba:
InterSaberes, 2012.
SCHAFER, R. Murray. A afinação do mundo: uma exploração pioneira pela história passada e pelo atual
estado do mais negligenciado aspecto do nosso ambiente: a paisagem sonora. 2. Ed. São Paulo: Editora Unesp,
2011.
____. Educação Sonora: 100 exercícios de escuta e criação de sons. São Paulo: Editora Melhoramentos, 2009.
SOUZA, Jusamara Vieira. Sobre as múltiplas formas de ler e escrever música. In: NEVES, Iara Conceição
Bitencourt (Org.). Ler e escrever: compromisso de todas as áreas. 7. Ed. Porto Alegre: Editora da UFRGS,
2006.
SWANWICK, Keith. Ensinando música musicalmente. São Paulo: Moderna, 2003.
____. Música, mente e educação. 1ª ed. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2014.
TRIPP, David. Pesquisa-ação: uma introdução metodológica. Educação e Pesquisa, São Paulo, v. 31, n. 3, p.
443-466, set./dez. 2005.
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