CONCEPÇÃO DA POPULAÇÃO MASCULINA SOBRE O CÂNCER DE PRÓSTATA EM UMA ESTRATÉGIA DE SAÚDE DA FAMÍLIA EM GUANAMBI – BA Diana Rodrigues Castro1, Meires Lande Fraga Rodrigues Maia1, Mirelly Dayara da Silva Malheiro1, Tiago Filipe Aguiar Fausto1, Vanessa Rodrigues Silva1, Victor Oliveira Gama1, Karla Patrícia Moreira Silva2 1 2 Graduando (a) do curso de Enfermagem, Faculdade Guanambi – FG/CESG. Enfermeiro (a). Mestre em Terapia Intensiva – SOBRATI. Docente Faculdade Guanambi – FG/CESG. RESUMO: Objetivou-se com a realização do presente estudo identificar e analisar a concepção dos homens com faixa etária igual ou superior a 50 anos de idade, cadastrados na Estratégia de Saúde da Família (ESF) Santa Luzia acerca do câncer de próstata. O presente trabalho foi realizado na área adstrita da ESF na cidade de Guanambi - BA. A coleta de dados ocorreu no período de 03 de abril a 03 de maio de 2013, por meio de entrevista semiestruturada. A amostra foi composta por 157 indivíduos do sexo masculino, independente de cor, raça, estado civil e situação socioeconômica. Foi possível observar que á maior parte dos homens se encontravam na faixa etária de 50 a 59 anos, no geral possuíam baixo nível de escolaridade, mas todos afirmaram ter ouvido falar sobre o câncer de próstata. Conclui-se, portanto, que à maioria dos entrevistados, apresentaram conhecimento adequado a respeito da neoplasia prostática, evento capaz de provocar mudanças positivas no comportamento em saúde, e refletir na qualidade de vida e no autocuidado da população, bem como no planejamento e implantação das ações voltadas a Saúde do homem. Palavras - chave: Educação em saúde. Neoplasia prostática. Prevenção. Saúde do homem. DESIGN OF THE MALE POPULATION ON PROSTATE CANCER IN A FAMILY HEALTH STRATEGY IN GUANAMBI – BA ABSTRACT: Aimed to the realization of this study is to identify and analyze the design of men aged greater than or equal to 50 years, enrolled in the Family Health Strategy (FHS) Santa Luzia about prostate cancer. This study was conducted in an area linked FHS city Guanambi - BA. Data collection occurred from April 3 to May 3, 2013, through semistructured interviews. The sample comprised 157 males, regardless of color, race, marital status, and socioeconomic status. It was observed that most of the men were in the age group 50-59 years generally had a low level of education, but all said they had heard about prostate cancer. We conclude, therefore, that the majority of respondents had adequate knowledge about prostate neoplasia, an event capable of causing positive changes in health behavior, and impact upon quality of life and self-care population, as well as in the planning and implementation actions of Health man. Key Words: Health education. Men's health. Prevention. Prostatic neoplasia. 2 INTRODUÇÃO A próstata é um órgão glandular, ímpar, firme, que pesa cerca de 20 gramas e possuí diâmetro máximo de 40 mm. Está localizada no interior da pelve, abaixo da bexiga, e à frente do reto; apresenta-se envolvendo a porção inicial da uretra e tem papel fundamental na produção fisiológica de secreções que compõem o sêmen e mantêm a viabilidade dos espermatozóides, compondo assim, o sistema reprodutor masculino (INCA, 2012; LAROSA & GREGÓRIO NETO, 2008). Com o avançar da idade masculina, fatores genéticos e mudanças anatomofisiológicas da próstata levam a possibilidades elevadas de desenvolvimento de patologias específicas. A primeira alteração na próstata é a benigna, denominada de hiperplasia benigna. A segunda é o Câncer de próstata (CaP), que pode surgir ou não com esta alteração, e manifesta em homens, à partir dos 50 anos. O câncer, por sua vez, é definido como uma enfermidade multicausal crônica, com perda do controle da divisão celular, associado à capacidade das células em invadir tecidos e órgãos vizinhos, ocasionado por uma combinação de fatores genéticos e ambientas (COTRAN et al., 2000; GARÓFOLO et al., 2004; SROUGI, 1998). Os índices estatísticos do Câncer de Próstata são de grande magnitude em todo o País. Segundo o Instituto Nacional de Câncer - INCA (2011), no biênio 2012/2013, estima-se a ocorrência de 518.510 casos novos de câncer no país. A neoplasia prostática representa o segundo tipo mais comum na população masculina, sendo superado apenas pelo câncer de pele não melanoma; com incidência estimatida, para o ano de 2012 de 60.180 casos, correspondendo a um risco de 62 casos novos a cada 100.00 homens. O aumento exacerbado dos casos de CaP nos últimos anos, tem causado transtornos a sociedade médica e masculina em geral, constituindo como grave problema de saúde pública, gerando também impactos socioeconômicos. Esse crescimento do número de casos pode estar relacionado ao aumento da expectativa de vida, desenvolvimento de métodos diagnósticos mais eficientes e maior acesso aos mesmos, assim como sistemas de informação de qualidade (GONÇALVES et al., 2008; MIRANDA et al., 2004; PAIVA et al., 2010). A neoplasia prostática apresenta-se como a segunda causa de morte em homens adultos no Brasil; no ano de 2010 foram 12.778 casos (INCA, 2010). Nesse sentido, a morbi mortalidade por câncer relaciona-se ao déficit de educação sanitária e conhecimento da população; preconceito contra os exames preventivos específicos; alimentação; estilo de vida, bem como o fato do homem não ter hábito de buscar o serviço de saúde. Por isso, requer 3 prioridade e atenção especial na reformulação e implantação das políticas públicas existentes voltadas á saúde do homem, e a execução prática por meio dos profissionais da saúde (GONÇALVES et al., 2008; SOUZA et al., 2011). Assim, o presente estudo teve como objetivo identificar e analisar a concepção dos homens com faixa etária igual ou superior a 50 anos de idade, cadastrados na Estratégia de Saúde da Família (ESF) Santa Luzia acerca do câncer de próstata. MATERIAIS E MÉTODOS O estudo foi realizado na cidade de Guanambi - BA na Estratégia de Saúde da Família (ESF) Santa Luzia, no período compreendido entre os dias 03 de abril a 03 de maio de 2013. A pesquisa constituiu em um estudo de campo, de caráter exploratório e abordagem qualitativa, realizada por meio de uma entrevista semiestruturada contendo questões objetivas e subjetivas. A população do sexo masculino cadastrada na ESF é de 1839 indivíduos; para compor a pesquisa, foi elaborada uma subpopulação composta por 289 homens com idade igual ou superior a 50 anos; A amostra foi de 157 homens; após análise dos critérios de inclusão e exclusão para a pesquisa. A coleta de dados ocorreu no domicílio dos indivíduos, após agendamento, por disponibilidade de data e horário dos mesmos. Foi utilizado como critério de inclusão e exclusão deste estudo, ser o entrevistado, homem devidamente cadastrado no PSF Santa Luzia, com idade ≥ 50 anos, independente da raça, cor, situação socioeconômica e/ou estado civil; apresentar condições psicológicas devidas (ausência de demência ou patologias da senilidade), estar obrigatoriamente residindo na área de abrangência de atendimento da unidade, não querer ou não poder participar da pesquisa. A entrevista buscou identificar e analisar a concepção da população masculina cadastrada na ESF Santa Luzia em Guanambi, sobre o câncer de próstata. A apresentação dos dados foi feita a partir dos descritores (idade; grau de escolaridade; conhecimento sobre a próstata; concepção sobre o câncer de próstata; meios de informação para obtenção de conhecimento sobre o câncer de próstata; fatores desencadeantes para surgimento da neoplasia; exames para detecção precoce; sinais e sintomas; indicadores de cura do câncer de próstata; importância de realizar os exames preventivos; e os métodos de prevenção). 4 Por se tratar de uma pesquisa envolvendo seres humanos, foi aplicado um termo de consentimento livre e esclarecido (TCLE), elaborado segundo os aspectos relativos à Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde. Para o processamento dos dados, foram utilizados os programas Excel 2007 e Word 2007 da Microsoft®, versão for Windows 7, no qual foram feitas as análises estatísticas, descritivas e inferenciais. RESULTADOS E DISCUSSÃO A média de idade dos 157 sujeitos entrevistados foi de 64,6 anos. Ao analisar o perfil populacional, constatou-se que: 40,13% dos homens encontravam-se na faixa etária entre 5059 anos; 24,2% entre 60-69 anos; 21,02% entre 70-79 anos; 12,1% entre 80-89 anos e 2,54% entre 90-99 anos (Tabela1). A escolha da faixa etária em estudo considerou os dados científicos que apontam o aumento da incidência e mortalidade do câncer de próstata em homens com idade igual ou superior aos 50 anos, considerando o rastreamento fundamental á partir desta (BRASIL, 2002; PAIVA et al., 2010; SOUZA et al., 2011; SOCIEDADE BRASILEIRA DE UROLOGIA, 2000; SROUGI, 1998). Ao passo que, em indivíduos com idades inferiores, a incidência desse tipo de neoplasia é relativamente baixa (BRASIL, 2002). Na literatura, há autores que discordam da faixa etária referenciada (≥50 anos), apontando ser idade ideal para início do rastreamento: 45 anos, em caso de história familiar; 40 anos, no caso de história familiar; todos os homens a partir dos 45 anos, independente da história familiar; e todos os homens a partir dos 40 anos, independente de história familiar (SOCIEDADE BRASILEIRA DE UROLOGIA, 2000; MEDEIROS et al., 2011; BRASIL,2011). A variável "nível de escolaridade” evidenciou que 22% dos homens nas diversas faixas etárias não são alfabetizados; A maioria dos homens informou ter estudado até o 1° grau incompleto (45%), seguido por 1° grau completo (13%); 2° grau completo (10%); 2° grau incompleto (6%); ensino superior completo (3%) e ensino superior incompleto (1%) (Tabela1). O resultado corrobora com o estudo realizado em gaúchos tradicionalistas, onde maior parcela dos entrevistados também informou ensino fundamental incompleto (66,9%), e 16,8% informaram não ter frequentado a escola (SOUZA et al., 2011) ( Tabela 1). Ao analisar os homens que informaram possuir ensino superior completo (3 %), constatou-se um percentual inferior à média nacional que corresponde há 6,4% em indivíduos 5 com idade igual ou superior a 25 anos (IBGE, 2010). Demonstrando assim, baixo nível de escolaridade entre os entrevistados (Tabela 1). Tabela1 – Faixa etária e nível de escolaridade dos homens cadastrados no PSF Santa Luzia do município de Guanambi – Bahia Faixa Etária Indicadores Não Alfabetizado 1º Grau Incompleto 1º Grau Completo 2º Grau Incompleto 2º Grau Completo Superior Incompleto Superior Completo TOTAL Escolaridade 50-59 60-69 70-79 80-89 N % n % n % n % 7 11 3 8 16 48 6 32 25 40 22 58 11 33 12 63 12 19 5 13 2 6 1 5 8 13 2 5 7 11 4 11 4 12 2 3 2 3 2 5 63 100 38 100 33 100 19 100 90-99 TOTAL n % n % 3 75 35 22 1 25 71 45 20 13 10 6 15 10 2 1 4 3 4 100 157 100 Figura 1 – Percentual de conhecimento dos homens sobre a próstata (%) 98 62 sim não 38 33 18 2 50 - 59 1 60-69 70-79 80-89 3 90-99 2 % Assim, há autores que correlacionam baixo nível de escolaridade ao déficit de conhecimento acerca do câncer de próstata, principalmente quanto à prevenção e os fatores de risco (PAIVA et al., 2010; SOUZA et al., 2011). Os dados obtidos no estudo apresentaramse divergentes à afirmação supracitada, de forma que o grau de escolaridade não influenciou 6 na concepção sobre o referido tema, já que 100% entrevistados referem conhecer a neoplasia prostática, e 98% destes sabem o que é a próstata. Somente 2% dos homens relataram desconhecer a glândula, apesar de afirmarem ter conhecimento sobre o CaP, demonstrando falta de conhecimento e interesse dos mesmos em conhecer a si próprio, apesar de haver políticas do Ministério da Saúde voltados a essa população (GOMES, 2003; SOUZA et al., 2011) (Figura 1). Em 1983 foi criado o Programa de Atenção Integral a Saúde do Homem. Em continuidade a esse programa, foi sancionada a lei 10. 289, de 20 de setembro de 2001, que instituiu o Programa Nacional de Controle do Câncer de Próstata, a fim de garantir maior efetividade no combate à doença. A lei estabelece diversas ações, entre elas: campanhas informativas sobre o CaP e seus métodos preventivos; parceria entre as esferas Estadual e Municipal, disponibilizando à população masculina acima dos 40 anos exames preventivos a neoplasia prostática; parceria com centros de ensino superior, sociedades civis organizada e sindicatos, organizando debates sobre a doença e as formas de combate e prevenção (MEDEIROS et al. 2011). A Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem foi instituída por meio do Sistema Único de Saúde (SUS), e lançada oficialmente em agosto de 2009. A política garante assistência aos homens de 20 a 59 anos, bem como, diagnóstico precoce e prevenção de doenças, entre estas o câncer; objetiva facilitar e ampliar o acesso da população masculina aos serviços de saúde, sobretudo os oferecidos na Rede SUS, através das Equipes de Saúde da Família, nas Unidades Básicas de Saúde. (BRASIL, 2008; BRASIL, 2009). Tabela 2 – Percentual de conhecimento sobre os fatores desencadeantes do CaP (%) Faixa Etária 50 – 59 Indicadores n % n % n % n % N % n % Não Sabe 7 11 3 8 6 18 - - 3 75 19 12 Sabe 56 89 35 92 27 82 19 100 1 25 138 88 TOTAL 63 - 38 - 33 - 19 - 4 - 157 100 60-69 70-79 80-89 90-99 TOTAL Dos participantes, 19 (12%) relataram não saber informar os fatores de risco pertinentes ao câncer, de modo que 138 (88%) informaram. Ao analisar o conhecimento por idades, constatou-se que a faixa etária que melhor conhecia os fatores de risco tinha entre 80 a 89 anos -19 homens, ou seja, 100 % destes; já os homens entre 90 – 99 anos, 3 nada souberam informar, totalizando 75% dos indivíduos (Tabela 2). 7 Segundo Medeiros et al. (2011), descreve como potenciais fatores de risco relacionados ao desenvolvimento do CaP: a idade avançada, raça com maior incidência em negros e hereditariedade. Os resultados obtidos corroboram com esta informação, de modo que, idade avançada e história familiar foram descritos respectivamente por 62% e 60% dos entrevistados, enquanto somente 9 % destes apontaram a raça, evidenciando que este fator é pouco conhecido por grande parte da população (Figura 2). A neoplasia prostática é conhecida como câncer da terceira idade, já que cerca de ¾ dos casos do mundo ocorrem a partir dos 65 anos. A incidência do CaP em homens com idade superior a 50 anos é maior que 30%, aumentando progressivamente até aproximadamente 80% aos 80 anos. A História familiar por sua vez constitui um marcador de importância, de modo que indivíduos que apresentam pai ou irmão com câncer da próstata antes dos 60 anos de idade apresentam elevado risco de desenvolver a doença, cerca de 3 a 10 vezes mais que população em geral (GONÇALVES et al. 2008; MEDEIROS et al. 2011; VIERA et al., 2008). Figura 2 – Percentual de fatores desencadeantes relatados pelos homens (%) Segundo Amorim et al. (2011), a dieta é um importante fator de risco, já que as neoplasias prostáticas podem estar envolvidas positivamente com a ingestão de dieta hiperlipídica , ocorrendo 50% a mais de chance quando comparados aos riscos em indivíduos 8 que ingerem dieta hipolipídica. Este quesito pode ser correlacionando a outros hábitos de vida prejudiciais à saúde, e também são considerados fatores que colaboram diretamente para o surgimento de neoplasias. Dentre eles o sedentarismo, mencionado por 22% e o excesso de peso, por 16% (Figura 2). Outros fatores correlacionados ao câncer da próstata foram relatados pelos entrevistados, entre estes: fatores hormonais (11%) por meio do “fator de crescimento análogo à insulina” capaz de estimular a proliferação de células do câncer de próstata e os andrógenos, que desempenham um importante papel durante a diferenciação e o desenvolvimento da próstata normal, mas são também responsáveis pela iniciação e pela manutenção da hiperplasia benigna e do câncer prostático; consumo excessivo de álcool (54%) e tabagismo (63%) que foi considerado pelos entrevistados como principal fator desencadeante do CaP. Apesar dos homens não indicarem outros fatores de risco, a vasectomia, tem sido objeto de estudos (BRASIL, 2002; GARÓFOLO et al. 2004; SALLES & TAJARA, 1999) ( Figura 2). Considerando os meios de informações utilizados como fonte de orientação e instrução da população sobre a neoplasia prostática, observou-se que a Televisão constituiu como principal forma de transmissão de conhecimento por 70% dos entrevistados, seguido pelos serviços de saúde com 59% e amigos e familiares com 56% (Figura 3). Figura 3 – Percentual de Meios de informação utilizados na obtenção de conhecimento (%) A informação supracitada, condiz com outros autores que também estudaram a obtenção de conhecimento sobre o CaP por meio dos veículos de informação, entre estes Souza et al.(2011), que confirma uma maior participação da mídia televisiva (50%), seguida 9 dos médicos (29%). Paiva et al. (2010), relatou em seu estudo que os entrevistados identificaram a imprensa (TV/rádio/jornal) como principal veículo desta informação (33,8%), seguido dos amigos (33,1%). Sabe – se que os meios de comunicação são instrumentos que auxiliam no recebimento e disseminação de informação, ao passo que além da televisão, os entrevistados abordaram outros como: rádio (32%), jornal (14%), revistas (11%). No presente estudo, a internet somente foi citada por 13% dos homens. Segundo IBGE (2010), apesar da população mais idosa acessar cada vez mais a internet, constatado pelo aumento de 222,3% no perfil de brasileiros com mais de 50 anos; proporcionalmente é a camada da população que menos tem acesso a rede mundial de computadores (Figura 3). Figura 4 – Percentual de conhecimento sobre os sintomas do CaP (%) 70 60 50 40 30 20 10 0 Não sabe Informar Não Apresenta Disúria Sensação Bexiga Cheia Hematúria Outros 50-59 41 0 39 44 50 33 60-69 10 12,5 32 26 29 11 70-79 37 62,5 14 14 15,8 11 80-89 7 25 13 15 2,6 44 90-99 5 0 2 1 2,6 0 Total 26 5 66 51 24 6 A neoplasia prostática costuma ocorrer devido à obstrução da uretra pelo tumor. Entretanto, a doença progride de forma lenta, sendo muitas vezes evidenciada em fases bem avançadas do câncer (SMELTZER & BARE, 2005). No estudo os sinais e sintomas mais citados foram: Disúria (66%), Sensação de bexiga cheia (51%) e Hematúria (24%). Dor e ardor ao urinar, incontinência, retenção urinária, também foram relatados, sumarizando 6% (Figura 4). 10 Os dados encontrados no estudo são semelhantes, aos apresentados na pesquisa encomendada pela Sociedade Brasileira de Urologia (2000), onde mais de 50% dos entrevistados consideraram-se conhecedores dos sinais e sintomas da doença, citando, principalmente, os sintomas urinários como indicativos de problema prostáticos. Porém, também houve relatos de que a doença é assintomática, com maior percentual em homens de 70-79 anos (62,5%), bem como uma significante porcentagem dos homens em estudo (26%) relatou desconhecer os mesmos (Figura 4). Além disso, alguns sintomas referentes à doença são desconhecidos ou não associados à patologia por parte da população em geral, sendo estes: na fase inicial da doença, diminuição do jato urinário, nictúria e gotejamento, e astenia, perda de peso, anorexia e dor óssea, que aparecem tardiamente (BRASIL, 2002; SOUZA et al. 2011; SMELTZER & BARE, 2005). Figura 5 – Percentual de conhecimento sobre os exames preventivos do CaP (%) 100 90 % DE EXAMES 80 70 60 50 40 30 20 10 0 N sabe inf. PSA Toque Outros 50 - 59 73 38 39 63 60-69 0 29 26 25 70-79 0 21 20 0 80-89 18 12 12 13 90-99 9 1 2 0 total 7 71 87 5 Ao analisar a concepção referente aos exames de detecção do câncer de próstata, evidencia-se que 93% deles referiram conhecer os exames relacionados ao rastreamento do mesmo. Desses, 87% conheciam o toque retal; 71% o antígeno prostático específico (PSA), e 5% citaram a ultrassonografia transretal (Figura 5). 11 Atualmente estes métodos constituem os pilares na detecção do CaP, apesar de não serem sensíveis e específicos o suficiente para ser utilizado isoladamente na definição da conduta a ser tomada em relação ao paciente . O PSA é uma glicoproteína prostática, e o seu nível elevado na corrente sanguínea é considerado um importante marcador biológico para algumas doenças na glândula, entre elas, o câncer. É considerada uma ferramenta diagnóstica simples, muito usada no rastreio do câncer (ARRUDA et al. 2003; BRASIL 2002; SOUZA et al. 2011). Por sua vez o toque retal, é relativamente uma medida preventiva de baixo custo, rápido, sendo o teste mais utilizado, apesar de apresentar certas limitações, de modo que, somente as porções posterior e lateral da próstata podem ser palpadas; além disso, existe a resistência dos homens em realizar este exame, pois é interpretado como uma afronta a masculinidade, pois a técnica utilizada é considerada constrangedora por alguns indivíduos . Já a ultrassonografia transretal é um método que consegue detectar maior quantidade de tumores, em estágios mais precoces do que os outros métodos (AMORIM et al., 2011; SANTOS et al., 2006; GOMES et al., 2008). Figura 6 – Percentual de importância dos métodos preventivos para o CaP (%) % de Importância 120 100 80 60 40 20 0 Não Sabe Informar Sabe Informar Não tem importância Importância Muito Importante 50-59 3 97 0 33 67 60-69 3 97 3 32 65 70-79 0 100 6 30 64 80-89 0 100 0 42 58 90-99 0 100 0 100 0 Total 2 98 2 35 63 Com relação à importância de se realizar os exames preventivos ao CaP, 98 % dos indivíduos informaram o quão importante consideravam os exames, sendo que destes 63% consideraram “muito importante”; 35% “importante” ; 2% “não considerou importante”, e 12 apenas 2% “não soube informar”. Paiva et al. (2010), em seu estudo, constatou que 54,3% consideraram "muito importante" ; 40% "importante", 3,1% afirmaram ser "indiferente" e 2,6% consideraram ser "nada importante" ou “pouco importante”, corroborando assim com os dados obtidos na pesquisa, ao passo que a maioria dos entrevistados tem a noção da importância de realizar os exames preventivamente (Figura 6). Figura 7 – Percentual de métodos preventivos ao CaP (%) 60 50 50 41 40 40 38 38 31 30 20 10 4 0 A prevenção é uma forma de diagnosticar precocemente a doença e auxiliar no tratamento, pois esta pode ser assintomática nos estágios iniciais. Entre os entrevistados 4% não possuíam informação sobre a prevenção, e entre os que informaram (96 %), referiram com as principais medidas preventivas: consultar regularmente o médico (50%), não beber (41%) e alimentação saudável (40 %). Estudos têm evidenciado que a alimentação saudável constitui importante fator de proteção contra os cânceres, através da ingestão de dieta hipolipídica, assim como de frutas, verduras, fibras. Outros hábitos saudáveis, como não fumar (38%), praticar atividade física e manter o peso adequado, contribuem para a melhoria da saúde em geral e pode ajudar na proteção contra o desenvolvimento de vários cânceres, entre eles o da próstata. (GARÓFOLO et al. 2004; GOMES, 2003; MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2007) (Figura 7). 13 Consultar o médico regularmente foi considerado pelos homens a principal forma de prevenir o câncer (50%). Porém sabe-se que a população masculina não tem o hábito de buscar o serviço de saúde, principalmente visando medidas preventivas se comparado às mulheres, devido à questão da masculinidade e preconceitos, já que tem o ambiente de saúde como local feminino, para pessoas frágeis. Além disso, outros fatores são associados à negligência dos homens, em buscar o serviço, são estes: o horário de funcionamento das unidades, o tempo de espera, não resolubilidade dos problemas no mesmo dia e a falta de rotinas e unidades específicas a este grupo populacional (GOMES 2003; VIEIRA et al. 2008; SOUZA et al. 2011) (Figura 7). Os dados obtidos demonstraram que 98% dos entrevistados, consideraram que a detecção precoce das neoplasias possibilita maiores chances de cura da mesma, e somente 2% referem considerar o câncer uma patologia incurável, independente da detecção precoce e tratamento, sendo que este fator este associado ao fato destes relataram conhecer pessoas que realizaram os exames de rastreamento e tratamento adequado e faleceram devido à doença (VIERA et al. 2008). CONCLUSÕES Em face dos resultados desse estudo, constatou-se que à maioria dos entrevistados, obtiveram concepção adequada e opiniões coerentes sobre a neoplasia prostática, bem como, conhecimentos pertinentes sobre fatores de risco, possíveis sinais e sintomas característicos e condutas para detecção precoce, apesar da baixa escolaridade evidenciada em todas as faixas etárias. Com isso, espera-se que o conhecimento adequado reflita em mudanças positivas de comportamento, como a maior adesão aos serviços de saúde, desenvolvimento de medidas voltadas para o autocuidado e busca por qualidade de vida e bem-estar; de modo que estas ações favoreçam o norteamento das estratégias de promoção da saúde, destinadas aos homens da comunidade. Nesse contexto, torna-se fundamental que os profissionais da saúde atuantes nesta Estratégia de Saúde da Família, estejam atentos às particularidades da população adstrita, e baseiem suas ações na educação em saúde, visando à prevenção e detecção de agravos, com integralidade, equidade e humanização na assistência; assegurados nas políticas nacionais que tangem a saúde do homem, implantando-as nas rotinas de atendimento. Cabe ressaltar, a necessidade da realização de novas pesquisas que englobem homens cadastrados em outras Unidades Básicas de Saúde, com diferentes perfis sócio- demográficos, analisando outras 14 variáveis além de grau de instrução e idade , como por exemplo :raça , estado civil e renda, bem como de verificar a adesão e acesso dos homens aos exames preventivos e as políticas e programas de atenção à Saúde do homem. 15 REFERÊNCIAS AMORIM, V.M.S.L.; BARROS, M. B. A; CÉSAR, C.L. G; GOLDBAUM, M. CARANDINA, L. ALVES, C.G.P. Fatores associados à realização dos exames de rastreamento para o câncer de próstata: um estudo de base populacional. Cadernos de saúde Pública, Rio de Janeiro, v.27, n.2, fev. 2011. Disponível em: < http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0102-311X2011000200016&script=sci_arttext >. Acesso em: 14 de abril de 2013, às 21:00h. ARRUDA, H. O. ; VIEIRA FILHO. J. P. B.; ORTIZ, V.; SROUGI, M. PSA e medidas antropométricas em índios da Amazônia: avaliação da comunidade Parkatejê, Revista de Saúde Pública, São Paulo, v.33337, n.5, out.2003. Disponível em : < http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0034-89102003000500012&script=sci_arttext>. Acesso em: 02 de junho de 2013, às 15:00h. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Assistência à Saúde. Instituto Nacional de Câncer. Programa nacional de controle do câncer da próstata: documento de consenso. Rio de Janeiro: INCA, 2002. Disponível: < http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publi cacoes/cancer_da_prostata.pdf >. Acesso em 25 de Março de 2013, ás 10:35. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Ações Programáticas Estratégicas. Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem: Princípios e Diretrizes. Brasília: Ministério da Saúde; 2008. Disponível em: < http://portal.saude.gov.br/portal/arquivos/pdf/politica_nacional_atencao_integral.pdf >. Acesso em: 19 de Março de 2013. BRASIL. Ministério da Saúde. Notícias. MS lança Política Nacional de Saúde do Homem. 2009. Disponível em: < http://www1.inca.gov.br/inca/Arquivos/ publicacoes/diretriz_rastreamento_prostata.pdf > Acesso em: 15 de Março de 2013. BRASIL. Instituto Nacional de Câncer. ABC do câncer: abordagens básicas para o controle do câncer – Rio de Janeiro: INCA, 2011. Disponível em: < http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/inca/abc_do_cancer_2ed.pdf > Acesso em: 01 de Abril de 2013. COTRAN, R.S.; KUMAR, V.; COLLINS, T. ROBBINS: Patologia estrutural e funcional. 6° edição. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2000. 234p. GARÓFOLO, A.; AVESANI, C.M.; CAMARGO, K.G.; BARROS, M.E.; SILVA, S.R.J.; TADDEI, J.A.A.C.; SIGULEM, D.M. Dieta e câncer: um enfoque epidemiológico. Revista de Nutrição, Campinas, v.17, n.4, out./dez. 2004. Disponível em: < http://biblioteca.universia.net/html_bura/ficha/params/title/dieta-c%C3%A2ncer-um-enfoqueepidemiologico/id/899235. html> . Acesso em: 20 de maio de 2012, às 10h. GOMES, R. Sexualidade masculina e saúde do homem: proposta para uma discussão. Ciência e Saúde Coletiva, São Paulo, vol. 8, n. 3. 2003. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1413-81232003000300017&script=sci_arttext >. Acesso em 29 de maio de 2013, às 12:00h. 16 GOMES, R.; NASCIMENTO,E.F; REBELLO,L .E. F.S; ARAÚJO, F. C. As arranhaduras da masculinidade: uma discussão sobre o toque retal como medida de prevenção do câncer prostático. Ciência e Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v.13, n.6, nov./dez.2008. Disponível em < http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-81232008000600033 >. Acesso em: 03 de março de 2013, às 14:00h. GONÇALVES, I. R.; PADOVANI, C.; POPIM, R.C. Caracterização epidemiológica e demográfica de homens com câncer de próstata. Revista Ciência e Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v.4, jul./ago.2008. Disponível em: < http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-81232008000400031 >. Acesso em: 10 de março de 2013, às 16:00h. INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTÁTISTICA (IBGE). Censo demográfico 2010: resultado da amostra. Pessoas com mais de 25 anos ou mais de idade por nível de instrução, segundo as Grandes Regiões e as Unidades da Federação, 2010. Disponível em: < ftp://ftp.ibge.gov.br/Censos/CensoDemografi co2010/CaracteristicasGeraisReligiaoDeficiencia/caracteristicasreligiaodeficiencia.pdf > Acesso em 01 de maio de 2013, às 14:00h. INSTITUTO NACIONAL DE CÂNCER (INCA). Taxas de mortalidade por câncer de próstata, brutas e ajustadas por idade, pelas populações mundial e brasileira, por 100.000 homens, entre 2008 e 2010.2010. Disponível em<http://mortalidade.inca.gov.br/mortalidade/prepararModelo04.action>. Acesso em 19 de maio de 2013, às 18:00h. INSTITUTO NACIONAL DE CÂNCER (INCA). José Alencar Gomes da Silva. Coordenação Geral de Ações Estratégicas. Coordenação de Prevenção e Vigilância. Estimativa 2012: incidência de câncer no Brasil. – Rio de Janeiro: Inca, 2011. 118 p. Disponível em: < http://www.inca.gov.br/estimativa/2012/estimativa20122111.pdf >. Acesso em: 25 de Março de 2013. INSTITUTO NACIONAL DE CÂNCER (INCA). Câncer de Próstata. 2012. Disponível em: < http://www2.inca.gov.br/wps/wcm/connect/tiposdecancer/site/home/prostata/definicao >. Acesso em: 15 de Outubro de 2012, às 18:35h. LAROSA, P.R.R.; GREGÓRIO NETO, J. ATLAS: anatomia humana básica. 1° edição. São Paulo: Martinari, 2008. MEDEIROS, A. P.; MENEZES, M.F. B; NAPOLEÃO, A. A. Fatores de risco e medidas de prevenção do câncer de próstata: subsídios para a enfermagem. Revista Brasileira de Enfermagem, Brasília, vol.64, n.2, mar./abr.2011. Disponível em:< http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0034-71672011000200027&script=sci_arttext >. Acesso em: 22 de abril de 2013, às 14:00h. MINISTÉRIO DA SAÚDE. Dicas de Saúde: câncer de próstata. Brasília, 2007. 2 p. Disponível em < bvsms.saude.gov.br/bvs/dicas/137cancer_prostata.html >Acesso em 26 de maio de 2013, às 8 :00h. MIRANDA, P.S. C; CÔRTES, M.C.J. W; MARTINS, M.E.; SANTAROSA, R.C. Práticas de diagnóstico precoce de câncer de próstata entre professores da faculdade de medicina - 17 UFMG, Revista da Associação Médica Brasileira, São Paulo, vol.50, n.3, jul./set. 2004. Disponível em: < http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S010442302004000300033>. Acesso em 01 de maio de 2013, ás 14:00h. PAIVA, E.P.; MOTTA, M.C. S.; GRIEP, R.H. Conhecimentos, atitudes e práticas acerca da detecção do câncer de próstata. Acta Paulista de Enfermagem, São Paulo, vol.23, n.1, 2010. Disponível em: < http://www.scielo.br/pdf/ape/v23n1/14.pdf >. Acesso em: 5 de abril de 2013, às 17:00h. SALLES, A.B. C.; TAJARA, E.H. Fatores hormonais e genéticos na próstata normal e neoplásica. Arquivos Brasileiros de Endocrinologia e Metabologia, São Paulo, vol. 43, n.3, jun.1999. Disponível em:< http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S000427301999000300003 >. Acesso em 23 de abril de 2013, às 10:00 h. SANTOS, V.C. T.; MILITO M.A.; MARCHIORI, E. O papel da ultra-sonografia da próstata na detecção precoce do câncer prostático. Radiologia Brasileira, São Paulo, n.3, vol.39, maio/jun., 2006. Disponível em < http://www.scientificcircle.com/pt/50152/papel-atual-ultrasonografia-transretal-prostata-deteccao/ >. Acesso em: 12 de abril de 2013, às 15:00h. SMELTZER, S. C.; BARE, B. G., BRUNNER E SUDDARTH: Tratado de Enfermagem Médico – Cirúrgica. – Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2005. SOCIEDADE BRASILEIRA DE UROLOGIA. Apenas 32% dos homens já fizeram exame de toque. Rio de Janeiro; 2000. Disponível em: http://www.sbu.org.br/2010/03/17112009apenas-32-dos-homens-ja-fizeram-exame-de-toque/. Acesso em 15 de março de 2013, às 21:00h. SOUZA, L.M.; SILVA, M.P.; PINHEIRO, I.S. Um toque na masculinidade: a prevenção do câncer de próstata em gaúchos tradicionalistas. Revista Gaúcha de Enfermagem, Porto Alegre, vol.32, n.1, mar.2011. Disponível em < http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S198314472011000100020&script=sci_arttext>. Acesso em: 04 de abril de 2013, às 11:00h. SROUGI, M. Câncer de próstata: uma opinião médica, Urologia online, São Paulo, volume 2, n. 5, out./dez. 1998. Disponível em: < http://www.uronline.unifesp.br/uronline/ index5.htm >. Acesso em: 15 de Outubro de 2012. VIEIRA, L.J.E. S.; SANTOS, F.L.P. L.; CAETANO, J.A.; SÁ NETA, C.A. Prevenção do câncer de próstata na ótica do usuário portador de hipertensão e diabetes. Ciência e Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, n.1.vol.13, jan/fev.2008.Disponível em < http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1413-81232008000100019&script=sci_arttext> Acesso em 21 de março de 2013, às 18:00h.