NEIDE GALVÃO DO NASCIMENTO CARACTERIZAÇÃO DA REAÇÃO EDEMATOGÊNICA INDUZIDA PELO VENENO DA SERPENTE Bothrops moojeni E DOS MEDIADORES ENVOLVIDOS NESSE EFEITO. Dissertação apresentada ao Programa de Pós-graduação em Ciências da Coordenadoria de Controle de Doenças da Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo, para Obtenção do Título de Mestre em Ciências. Área de concentração: Pesquisas Laboratoriais em Saúde Pública. Orientador: Profª. Dra Catarina de Fátima P. Teixeira São Paulo 2008 COORDENADORIA DE CONTROLES DE DOENÇAS – CCD PESQUISAS LABORATORIAIS EM SAÚDE PÚBLICA _______________________________________________________________ Candidato(a): Neide Galvão do Nascimento. Título da Dissertação: Caracterização da reação edematogênica induzida pelo veneno da serpente Bothrops moojeni e dos mediadores envolvidos nesse efeito. Orientador(a): Catarina de Fátima Pereira Teixeira. A Comissão Julgadora dos trabalhos de defesa da Dissertação de Mestrado, em sessão pública realizada a ........../........../.........., considerou ( ) Aprovada ( ) Reprovada Examinador(a): Assinatura:......................................................................................... Nome:................................................................................................. Instituição:.......................................................................................... Examinador(a): Assinatura:.......................................................................................... Nome:................................................................................................. Instituição:.......................................................................................... Examinador(a): Assinatura:......................................................................................... Nome:................................................................................................ Instituição:......................................................................................... Trabalho realizado no Laboratório de Farmacologia do Instituto Butantan, com auxílio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP). A Deus, Que no seu infinito amor e sabedoria nos permite viver para apreciar sua obra-prima: a vida... Ao meu esposo Juarez e aos meus filhos George e Juarez A. Que estiveram ao meu lado, me incentivando e torcendo sempre pelo meu sucesso. Por toda paciência e carinho, em todos os momentos! Vocês fazem toda diferença para que eu alcançasse mais este objetivo. Amo muito vocês! Aos meus queridos pais Maria e Adão (in memorian), Que foram os pilares da construção de minha existência... Aos meus sogros Aparecida e Jerônimo (in memorian), Que olha e zela por mim... onde quer que estejam... Dedico este trabalho. AGRADECIMENTOS ESPECIAIS Minha orientadora À Profª Dra. Catarina F. P. Teixeira, Por ter acreditado em mim, oferecendo condições e oportunidades para que eu aprendesse cada vez mais. Pelo incentivo, compreensão e apoio em todos os momentos. Hoje eu posso dizer que tenho mais do que uma orientadora. Obrigada por ser mais que mestre em minha vida!!! À Renata, pela ajuda na execução deste trabalho, que me recebeu de forma carinhosa e sempre presente em todos os momentos, obrigada pelas conversas e ensinamentos. Ao Marlos, pela amizade e ajuda sempre disponível em todos os momentos. À Cristina, pela ajuda valiosa e carinho durante este trabalho. À Vanessa, obrigado pelas conversas, convivência e ajuda. Ao meu grande amigo Elbio, obrigado pelas inúmeras críticas construtivas e calorosas discussões durante o meu mestrado. À Polly, por contribuir pelo carinho e apoio durante este trabalho. À Silvia, amiga que sempre tem uma palavra de conforto quando precisamos. Ao Sérgio, grande pequeno homem, amigo de todas as horas. Ao Márcio, obrigado pela amizade e carinho. Ao Jean, pelo carinho, amizade e todos os momentos de alegria. Ao Fábio, pela amizade e convívio. Aos funcionários do Laboratório de Farmacologia, que me ajudaram durante este trabalho. Aos funcionários do Laboratório de Farmacologia do Instituto Butantan, pelo carinho, apoio técnico, convívio e colaboração para realização deste trabalho: Joana, Sônia, Binha, Cléo (‘florzinha”), Wilson, Zelma, Valério, Vilma, Valquíria, Antônio, Elisa e Wanda (in memorian). À Elenice e Elisângela, que sempre estiveram ao meu lado durante a realização deste trabalho. À Profª Dra Valquiria Coronado Abrão Dorce, pela orientação no início desta jornada, sem sua generosidade isto não seria possível. À Emiliana e o pessoal da pós-graduação, pelo carinho, atenção e pelo trabalho de vocês durante este período. À Dra. Maria de Fátima Costa Pires – Coordenadora da CpG-CCD pela ajuda dispensada em todos os momentos desta fase. Aos professores das disciplinas cursadas ao longo do mestrado, por deixar um pouco deles em minha vida profissional e, em especial, à Profª Ausônia, que fez germinar o saber do mestre em mim. Muito obrigado. Aos professores que constituíram a banca do meu exame de qualificação: Francisco O. S. França, Stella R. Zamuner e Luiz R. C. Gonçalves, guardo deste dia o que considero a essência do pensamento científico: a crítica. Deste dia trago uma grande lição de aprendizado: também faz parte da avaliação mostrar caminhos. Ao Biotério Central do Instituto Butantan, pelo fornecimento dos animais, em especial à Fátima e Juliana pela atenção dispensada sempre que necessário. Em especial, agradeço a todos os animais que fizeram parte deste trabalho, sem os quais este estudo não poderia ter se realizado. O meu muito obrigado! “Os animais são como deuses, ensinam-nos em silêncio, o que não aprendemos em diálogo” (José A. Ribeiro) Enfim, a todos que de alguma forma participaram na realização deste trabalho. 2 Todos os dias Deus nos dá um momento em que é possível mudar tudo que nos deixa infelizes. O instante mágico é o momento em que um 'sim' ou um 'não' pode mudar toda a nossa existência. Paulo Coelho Agradeço à Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), pela concessão da Bolsa de Mestrado (processo 06/52793-0). SUMÁRIO Lista de abreviaturas........................................................................................................ i Lista de figuras................................................................................................................. ii Lista de tabelas................................................................................................................ iii Resumo ............................................................................................................... 01 Abstract ............................................................................................................... 02 1 INTRODUÇÃO................................................................................................. 03 Subitens Reação inflamatória aguda – Considerações gerais ............................. 06 Mediadores inflamatórios – eicosanóides................................................ 08 Histamina................................................................................................ 11 Fator de necrose tumoral – α.................................................................. 12 Óxido Nítrico........................................................................................... 13 2 OBJETIVOS............................................................................................ 15 3 MATERIAL E MÉTODOS 3.1 Animais .............................................................................................. 16 3.2 Veneno .............................................................................................. 16 3.3 Avaliação do edema de pata ............................................................. 16 3.4 Tratamentos farmacológicos ............................................................. 17 3.5 Neutralização da atividade edematogênica....................................... 18 3.6 Fármacos e reagentes....................................................................... 19 3.7 Análise estatística.............................................................................. 20 4 RESULTADOS 4.1 Efeito edematogênico do veneno de B. moojeni em camundongos.... 21 4.2 Efeito de diferentes tratamentos farmacológicos no edema causado pelo veneno de B. moojeni (VBm)....................................... 23 4.3 Efeito da soroneutralização in vitro no edema induzido pelo VBm.................................................................................................... 35 4.4 Efeito da aplicação sistêmica do antiveneno no edema induzido pelo VBm.................................................................................................... 36 5 DISCUSSÃO ................................................................................................... 42 6 CONCLUSÕES ............................................................................................... 51 7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................... 52 LISTA DAS PRINCIPAIS ABREVIATURAS AA Ácido araquidônico CPZ Clorpromazina COX Ciclooxigenase cNOS óxido nítrico sintase constitutiva E.P.M. erro padrão da média FLA2 Fosfolipase A2 PG Prostaglandina TX Tromboxana LT Leucotrieno PAF IL fator ativador de plaqueta Interleucina iNOS óxido nítrico sintase induzível IFN-у interferon-gama LPS Lipopolissacarídeo NO óxido nítrico NOS óxido nítrico sintase SAB soro antibotrópico SNC Sistema nervoso central TNF-α μg fator de necrose tumoral-alpha Micrograma VBm Veneno de Bothrops moojeni 5-LO 5-lipoxigenase 5-HETE ácido hidroxieicosatetraenóico i LISTA DE FIGURAS Fig. Título Pág. 1 Esquema das vias biossintéticas dos eicosanóides..................................... 10 2 3 Efeito de diferentes concentrações do veneno da serpente Bothrops moojeni......................................................................................................... 22 Efeito do cetotifeno no edema induzido pelo VBm....................................... 23 4 Efeito do composto 48/80 no edema induzido pelo VBm............................. 24 5 Efeito da prometazina no edema induzido pelo VBm................................... 25 6 Efeito da cimetidina no edema induzido pelo VBm....................................... 26 7 Efeito da tiopiramida no edema induzido pelo VBm..................................... 27 8 Efeito da dexametasona no edema podal induzido pelo VBm..................... 28 9 Efeito da indometacina no edema induzido pelo VBm................................. 29 10 Efeito do eterocoxib no edema induzido pelo VBm...................................... 30 11 Efeito zileuton no edema induzido pelo VBm............................................... 31 12 Efeito da clorpromazina no edema induzido pelo VBm................................ 32 13 Efeito do L-NAME e do D-NAME no edema induzido pelo VBm................. 14 Efeito da aminoguanidina no edema induzido pelo VBm............................. 34 15 Efeito da soroneutralização in vitro do edema induzido pelo VBm.............................................................................................................. Efeito da aplicação sistêmica do antiveneno no edema induzido pelo VBm (1 μg)............................................................................................................ Efeito da aplicação sistêmica do antiveneno no edema induzido pelo VBm (6 μg)............................................................................................................ Efeito da aplicação sistêmica do antiveneno 15 min após a indução do edema pelo VBm.......................................................................................... Efeito da aplicação sistêmica do antiveneno 60 min após a indução do edema pelo VBm.......................................................................................... 16 17 18 19 33 35 36 37 38 39 ii LISTA DE TABELAS Tabela 1 2 Título Pág. Quadro resumo do efeito de diferentes tratamentos farmacológicos no edema induzido pelo VBm...................................................................... 40 Quadro resumo do efeito da soroneutralização do edema induzido pelo VBm................................................................................................ 41 iii Resumo RESUMO Neste estudo, a reação edematogênica, induzida pelo veneno de B. moojeni (VBm), foi caracterizada em camundongos, quanto: a) ao decurso temporal e relação concentração-efeito; b) a participação de mastócitos e de mediadores inflamatórios e c) ao efeito do soro antibotrópico poliespecífico (SAB). Os dados obtidos demonstram que a injeção intraplantar do VBm (0,1 - 6 µg/pata) induziu edema, de modo concentração e tempo dependente, máximo aos 30min. Na concentração de 6 µg do VBm/pata, observou-se hemorragia pronunciada no local de sua injeção e um segundo pico de edema na 3a hora. O edema induzido pelo VBm (1 μg/pata) foi reduzido quando os animais foram pré-tratados com cetotifeno, um inibidor da desgranulação de mastócitos ou composto 48/80, depletor de mastócitos, ou com prometazina ou cimetidina ou tiopiramida, antagonistas dos receptores H1, H2 e H3/H4, respectivamente. A dexametasona, um inibidor de fosfolipase A2, a indometacina, inibidor não seletivo das COXs, eterocoxibe, inibidor da COX-2, zileuton, inibidor da 5-lipoxigenase e a clorpromazina, inibidor da síntese do TNF-α, também reduziram o edema causado pelo VBm. Por outro lado, o tratamento dos animais com L-NAME ou aminoguanidina, mas não com D-NAME, aumentou o volume podal induzido pelo VBm, em relação aos controles. Ainda, a incubação do VBm com o soro antibotrópico poliespecifíco (SAB) neutralizou o efeito edematogênico do veneno. O pré-tratamento dos animais com este soro neutralizou o edema a partir da 1ª hora da injeção do VBm (1 ou 6 μg/pata) e reduziu esse efeito na fase anterior. Por outro lado, a administração do soro após a injeção do VBm, neutralizou parcialmente o edema. Em conclusão, o VBm induz reação edematogênica de rápida evolução, mediada pela histamina, via receptores H1, H2 e H4, prostaglandinas, via COX-1 e -2, leucotrienos e TNF-α. Esta reação é regulada negativamente pelo NO. Os mastócitos são elementos importantes para o efeito do VBm e devem constituir uma fonte importante dos mediadores envolvidos. Ainda, o soro antibotrópico reconhece componentes edematogênicos do veneno, sendo mais eficaz quando administrado previamente ao veneno. Palavras-chaves: Venenos de serpentes, Bothrops, edema/terapia, mediadores da inflamação. 1 Abstract ABSTRACT In the present study we examined the ability of B. moojeni venom (BmV) to induce oedema in the mouse hind paw. Moreover, the involvement of mast cells and some mediators in this response, and the efficacy of bothropic antivenom in neutralizing the oedema were investigated. Results showed that B. moojeni venom (0.1 - 6 μg/paw) induced a time and dose-dependent paw oedema Maximal oedematogenic response occurred at 30min after venom injection, decreasing thereafter up to 24h. At the highest dose of BmV (6 μg/paw), oedema was accompanied by haemorrhage and showed a second peak at 3h. Pretreating animals with selected drugs such as ketotifen or compound 48/80 (mast cell degranulation inhibitor and mast cell depleting agent, respectively), promethazine or cimetidine or thiopiramide maleate (H1, H2 and H3/H4 receptor antagonists, respectively), dexamethasone (indirect inhibitor of PLA2), indomethacin (inhibitor of cyclooxygenases), eterocoxib (inhibitor of cyclooxygenase-2), zileuton (inhibitor of 5lipoxygenase) or chlorpromazine (inhibitor of TNF-α), significantly reduced BmVinduced oedema. However, L-NAME (non selective inhibitor of NOS) and aminoguanidine (inhibitor of iNOS) significantly increased paw oedema induced by BmV. Previous incubation of BmV with antivenom abrogated venom-induced paw oedema. Administration of antivenom 30min before BmV injection into the mouse hind paw inhibited venom-induced oedema from 1h onwards. However, administration of antivenom 15 or 60min after BmV paw injection attenuated BmV-induced paw oedema. In conclusion, the present results show that BmV causes oedema in the mouse hind paw which is mediated by histamine via H1, H2 and H4 receptors, PGs, via both COX-1 and -2, LTs and TNF-α, but is negatively regulated by NO. Mast cells are involved in BmV-induced oedema and may be an important source of inflammatory mediators. Moreover, although the bothropic antivenom recognizes the venom components responsible for oedema, its administration after venom injection into paws has little influence on development of BmV-venom-induced oedema. Key-words: Snake venom, Bothrops, oedema/therapy, inflammatory mediators. 2 Introdução 1 INTRODUÇÃO Os acidentes causados por serpentes peçonhentas constituem um importante problema de Saúde Pública em regiões tropicais do mundo. As serpentes responsáveis pelo maior número de acidentes ofídicos, na América Latina, pertencem à família Viperidae e ao gênero Bothrops. Estas serpentes estão distribuídas nas Américas, desde o México até a Argentina (Hoge e Romano-Hoge, 1978). No Brasil, as serpentes do gênero Bothrops são encontradas em todo o território e compreendem 22 espécies (Campell e Lamar, 2004). Algumas espécies apresentam maior importância, por sua extensa distribuição geográfica, como a B. atrox na Amazônia, a B. erythromelas no Nordeste, a B. jararaca na região Sul e Sudeste e a B. moojeni na região Centro-Oeste e Sudeste. A serpente Bothrops moojeni é a maior serpente das áreas de mata ciliar, das regiões central e sudeste do Brasil (Nogueira et al., 2003). Em função do comportamento agressivo e porte avantajado, esta serpente é capaz de se adaptar a ambientes modificados, sendo a principal espécie dos cerrados (Ministério da Saúde, 2005; Melgarejo, 2003). Além disso, as serpentes dessa espécie são responsáveis por cerca de 90% dos acidentes ofídicos que ocorrem na região de São José do Rio de Preto, no estado de São Paulo. Os relatos clínicos desses acidentes mostram que os efeitos locais, causados por essas serpentes, são graves e com maior número de complicações do que aqueles causados pela serpente B. jararaca (Kouyoumdjian e Polizelli, 1988, 1990). Embora os venenos botrópicos apresentem variações quanto à composição e atividades biológicas, ao serem injetados em humanos ou animais, induzem um quadro fisiopatológico caracterizado por reações locais imediatas, com edema proeminente, mionecrose, hemorragia e dor (Rosenfeld, 1971; Gutierrez e Lomonte, 1989, 1995; Kamigute e Sano, 1995; Teixeira et al., 1994; Chacur et al., 2001) e reações sistêmicas, com alterações da coagulação sangüínea, acarretando, freqüentemente, incoagulabilidade sangüínea (Mandelbaum et al., 1982). Em casos mais graves, ocorrem complicações sistêmicas, com alterações do sistema cardiovascular, choque hipovolêmico e insuficiência renal aguda (Amaral et al., 1985). 3 Introdução O tratamento utilizado para os acidentes botrópicos é a soroterapia, com antiveneno poliespecífico (para revisão vide Chippaux e Goyffon, 1998). Quando a administração do antiveneno é iniciada imediatamente após a picada, os efeitos sistêmicos do veneno são, normalmente, revertidos. Por isso, os coeficientes de letalidade, decorrentes desses acidentes, têm revelado tendência decrescente ao longo do tempo (Ribeiro et al., 1995; Ministério da Saúde, 2005). No entanto, a neutralização dos efeitos locais é dificilmente obtida (Gutiérrez et al., 1981) e, dependendo do grau de envenenamento, essa dificuldade de neutralização resulta em perda do tecido afetado. Por este motivo, as ações locais, induzidas pelos venenos botrópicos, constituem, atualmente, um alvo de investigação intensa. Os venenos botrópicos são constituídos por misturas complexas de proteínas, com estruturas e atividades biológicas diversas. Parte dessas proteínas são enzimas, como as fosfolipases A2, as metaloproteinases e serinoproteases, enquanto outras não possuem atividade enzimática, como as disintegrinas e lectinas do tipo C (Braud et al., 2000). Acredita-se que o efeito mionecrótico dos venenos botrópicos seja causado por uma ação direta e indireta de fosfolipases A2 miotóxicas (Gutierrez et al., 1984; Queiroz e Petta, 1984; Gutierrez et al., 1986; Homsi-Brandeburgo et al., 1988) e que a hemorragia resulte da ação de metaloproteinases dependentes de zinco (Ohsaka et al., 1975; Ohsaka, 1979; Ownby e Geren, 1987; Ownby et al., 1990). Por outro lado, a ação edematogênica dos venenos botrópicos, até o momento, não foi atribuída a nenhuma proteína isolada, por se tratar, possivelmente, da somatória de efeitos de várias toxinas, presentes nesses venenos. Os dados da literatura sugerem que o edema induzido pelo veneno de serpentes do gênero Bothrops decorre da combinação de diversos fatores, quais sejam: a) ação direta do veneno ou toxinas sobre a parede dos vasos da microcirculação, causando extravasamento plasmático, como, por exemplo, os fatores hemorrágicos; b) ação de componentes do veneno que atuam no endotélio vascular, aumentando sua permeabilidade e c) ação indireta de toxinas que induzem a liberação de diversos mediadores inflamatórios, envolvidos no aumento da permeabilidade vascular e edema (Gutierrez e Lomonte, 1989; Dias da Silva et al., 1995). Nesse sentido, Trebien e Calixto (1989) demonstraram que o edema induzido pelo veneno de B. jararaca, em ratos, é multimediado e resulta da ação de 4 Introdução mediadores α e β-adrenérgicos, de eicosanóides e do PAF, além de serotonina e histamina. A participação de eicosanóides e PAF também foi observada no desenvolvimento da resposta hiperalgésica induzida pelo veneno de B. jararaca (Teixeira et al., 1994). Ainda, Chacur et al., (2001) demonstraram que a hiperalgesia induzida pelo veneno de B. asper é mediada, ao menos em parte, por bradicinina, fosfolipase A2 e produtos da lipoxigenase. Além disso, os dados da literatura mostram um aumento de citocinas, como as interleucinas (IL) -1, -6 e -10, o fator de necrose tumoral (TNF) e o interferon gama (IFN- γ), no soro de animais injetados com venenos de serpentes de várias espécies do gênero Bothrops (Lomonte et al., 1993; Barros et al., 1998; Petricevich et al., 2000). Chaves et al. (1995) observaram a participação de eicosanóides e de mediadores α-adrenérgicos, no edema induzido pelo veneno de B. asper em camundongos. Ainda, foi demonstrado que a reação local inflamatória, desencadeada por venenos botrópicos, é distinta dos demais processos inflamatórios, por não ser modulada, em sua fase aguda, por glicocorticóides (Cury et al., 1997). Estes hormônios, dentre outras atividades, inibem a ativação de fosfolipases que são constituintes abundantes dos venenos botrópicos. Esse conjunto de informações indica a complexidade da reação inflamatória, desencadeada por venenos de serpentes do gênero Bothrops. Por outro lado, é conhecido que a distribuição de algumas toxinas não é uniforme nos venenos das várias espécies do gênero Bothrops. Variações na composição química e das atividades biológicas dos venenos podem ocorrer entre famílias, gêneros, espécies e subespécies desse gênero (Moura da Silva et al., 1991; Chippaux et al., 1991). Esse fato pode determinar diferenças na evolução clínica dos indivíduos picados, especialmente no que se refere às ações locais e determinar, assim, condutas terapêuticas distintas. Os relatos clínicos, do efeito edematogênico local, causado pelo veneno de B. moojeni, apresentam sérias complicações (Nogueira et al., 2003; Kouyoumdjian e Polizelli, 1988, 1990). Apesar da importância médica do acidente causado pela serpente Bothrops moojeni, nas regiões Centro-Oeste e Sudeste do Brasil (Nogueira et al., 2003; Rojas et al., 2007), de alta densidade populacional, os estudos relacionados à reação local inflamatória, causada pelo veneno dessa serpente, em particular o edema, são escassos e incompletos. Da mesma forma, os mecanismos envolvidos nesses efeitos não foram estudados até o presente. 5 Introdução Assim sendo, este estudo visa avaliar efeitos e mecanismos pró-inflamatórios, causados pelo veneno da serpente Bothrops moojeni. Pretende-se, com este estudo, contribuir para o conhecimento das ações locais dos venenos de serpentes brasileiras, do gênero Bothrops, favorececendo propostas terapêuticas mais eficientes e complementares à soroterapia. Reação inflamatória aguda e mediadores inflamatórios - Considerações gerais A reação inflamatória é uma resposta do tecido vascularizado a estímulos lesivos, com a finalidade de eliminar o agente agressor e restaurar o tecido à sua forma e função normais. Essa resposta, apesar de complexa, manifesta-se de maneira estereotipada e compreende fenômenos vasculares, teciduais e linfáticos (Garcia Leme, 1989). A natureza sensivelmente padronizada da reação - rubor, tumor, calor e dor - é a expressão de fenômenos estruturais e funcionais que ocorrem na microcirculação e no tecido intersticial adjacente, com a participação da inervação sensitiva local. Os fenômenos vasculares da reação inflamatória se iniciam com breve vasoconstrição, seguida de vasodilatação e aumento do fluxo local, aumento de permeabilidade vascular, com conseqüente extravasamento do fluido e material protéico, levando à formação de edema (Garcia Leme et al., 1973). A exsudação plasmática pode ocorrer por diversos mecanismos. Um deles é a formação de fendas no endotélio, mediada pela ativação de receptores de vários mediadores inflamatórios tais como a histamina, serotonina, leucotrienos e substância P. As fendas formadas são intercelulares e próximas às junções. O aumento da permeabilidade vascular (PV), neste caso, ocorre rapidamente, é reversível e de curta duração (15-30 minutos). Outro mecanismo que pode levar à formação de fendas no endotélio é a reorganização do citoesqueleto. Este processo é, geralmente, induzido por citocinas como a interleucina 1 (IL-1), o fator de necrose tumoral (TNF) e o interferon-gama (IFN-γ). Em contraste ao efeito causado pela histamina, este processo aparece tardiamente e é de longa duração. A exsudação plasmática pode, ainda, ocorrer por transcitose de moléculas através do citoplasma das células endoteliais. Tal processo ocorre próximo a canais, localizados ao redor 6 Introdução das junções intercelulares (Lum e Malik, 1996). O aumento de PV pode ocorrer também por injúria direta sobre as células endoteliais; aparece imediatamente após a lesão e é sustentado por várias horas. Por fim, pode haver aumento de PV por injúria endotelial induzida por leucócitos ativados, que aderem ao endotélio e liberam espécies reativas de oxigênio e enzimas proteolíticas (Lum e Malik, 1996). O componente celular da reação é representado, principalmente, pela migração de leucócitos polimorfonucleares (neutrófilos e eosinófilos) e mononucleares (monócitos, linfócitos e mastócitos) para o tecido adjacente. Este evento ocorre, principalmente, na porção venular da microcirculação, particularmente em vênulas pós-capilares (Majno et al., 1961; Majno e Palade, 1961). A eliminação do agente lesivo, presente no foco inflamatório ocorre por meio de fagocitose, realizada pelos neutrófilos e macrófagos, bem como da produção de agentes microbicidas, gerados por estas células (para revisão vide Greenberg, 1995; Aderem e Underhill, 1999). Concomitantemente ao processo de fagocitose, ocorre um aumento do metabolismo oxidativo dos leucócitos, conhecido como “burst” respiratório, resultando na produção de agentes microbicidas, como o ânion superóxido (O2-) e peróxido de hidrogênio (H2O2) (Babior et al., 1973; Babior, 1984; Ischiropoulos et al., 1996) ou, ainda, de óxido nítrico e derivados reativos de nitrogênio (Hibbs et al., 1989). Os diferentes eventos, que caracterizam a reação inflamatória, são regulados pela liberação e ação coordenada de diversas substâncias endógenas - mediadores inflamatórios - que alteram a função da microcirculação e coordenam o desenvolvimento de cada evento. Os mediadores da inflamação são de origem celular, como a histamina, serotonina, eicosanóides (prostaglandinas e leucotrienos), óxido nítrico, fator ativador de plaquetas (PAF), citocinas e outras proteínas leucocitárias ou de origem plasmática, como as cininas e componentes do sistema do complemento (Rocha-Silva e Garcia-Leme, 1972; Ferreira e Vane, 1973). A partir da fase aguda, exsudativa, podem ocorrer fenômenos de regeneração e reparo. A resolução do processo inflamatório agudo se dá através da eliminação dos leucócitos recrutados, determinada pela apoptose. A seguir, as células apoptóticas e os debris celulares são removidos pelos macrófagos, pelo processo de fagocitose e/ou são drenados pelos vasos linfáticos, através da linfa. No caso de 7 Introdução persistência do estímulo lesivo, podem ocorrer modificações, marcantes, das características da resposta, com cronificação da reação, que adquire caráter proliferativo. Mediadores inflamatórios: Eicosanóides Os eicosanóides são produtos do metabolismo do ácido araquidônico (AA), um ácido graxo constituinte de membranas celulares. Eicosanóide é um termo genérico, que designa, coletivamente, as prostaglandinas (PG), as tromboxanas (TX) e os leucotrienos (LT), produtos gerados a partir de ácidos graxos essenciais que possuem 20 átomos de carbono e três, quatro ou cinco duplas ligações, como o ácido - 5, 8, 11, 14 - eicosatetraenóico (ácido araquidônico) (para revisão vide Smith et al., 2000). Ao contrário da histamina, os eicosanóides não são encontrados pré-formados nos tecidos, sendo produzidos a partir de fosfolipídios de membrana. Os eicosanóides estão envolvidos no controle de muitos processos fisiológicos e estão entre os mediadores mais importantes da reação inflamatória (Hang et al., 2003). O aumento do influxo de cálcio para as células, determinado por estímulos químicos, físicos ou biológicos, acarreta a ativação de enzimas dependentes de cálcio, como as fosfolipases A2 (FLA2). Estas enzimas catalisam a hidrólise de fosfolipídios de membranas celulares, liberando quantidades equimolares de ácidos graxos livres, como o ácido araquidônico e lisofosfolipídios, como o liso-PAF. O AA livre é metabolizado pelos sistemas enzimáticos das ciclooxigenases e lipoxigenases, originando os prostanóides e leucotrienos, repectivamente. As vias de metabolização do AA estão representadas na Figura 1. As ciclooxigenases apresentam duas isoformas, denominadas ciclooxigenase1 (COX-1) e ciclooxigenase-2 (COX-2). A COX-1 é a isoforma expressa constitutivamente, na maioria das células e tecidos, que incluem o endotélio, monócitos, plaquetas, túbulos renais e vesículas seminais, sendo responsável pela formação dos prostanóides em condições fisiológicas, sendo relevantes para a homeostasia e integridade da mucosa gastrointestinal (Smith, 1989; O’Neill e FordHutchinson, 1990). A COX-2 pode ser expressa constitutivamente ou ser induzida em vários tipos de células e tecidos, pela ação de mediadores inflamatórios, como o 8 Introdução TNF-α e a IL-1 e por lipopolissacarνdeos de bactιrias (LPS). Esta isoforma estα relacionada ΰ resposta inflamatσria e ΰ regulaηγo da diferenciaηγo e crescimento celular (Smith, 1992; Appleton et al., 1996; Cirino, 1998; Scott et at., 1999). Tanto a COX-1 quanto a COX-2 estão localizadas na membrana de retículo endoplasmático, porém, a COX-2 é encontrada também na membrana nuclear (Otto e Smith, 1994). A atividade da enzima ciclooxigenase, também referida como prostaglandina G/H sintase (PGH), pode originar uma variedade de produtos. Assim, a PGH2, através de enzimas denominadas isomerase, é convertida em PGE2, PGF2 e PGD2. Ainda, a PGH2 pode ser convertida em PGI2 (prostaciclina) e TXA2 através da prostaciclina- e tromboxana- sintases, respectivamente (Gerritsen, 1996). As PGE2 e PGI2 promovem a vasodilatação. A PGE2 potencializa o aumento da permeabilidade vascular e o fenômeno da dor, em ação conjunta com a histamina e a bradicinina; medeia também a glicogenólise, broncoconstrição e inibe agregação de plaquetas (Hayashi, 1988). A TXA2, em condições fisiológicas, possui ação vasoconstritora e promove agregação plaquetária; durante processos inflamatórios é quimiotática para leucócitos, está envolvida no aumento de permeabilidade vascular e induz aumento da expressão de moléculas de adesão da super família das imunoglobulinas (Ishizuka et al., 1996). Outra via de metabolização do AA é determinada pelas 5, 12 ou 15 – lipoxigenases, família de enzimas citoplasmáticas, que catalisam a oxigenação de ácidos graxos poliêmicos e hidroperóxido (Samuelsson et al., 1987; Gerristsen, 1996). A 5-lipoxigenase (5-LO) é a primeira enzima na biossíntese dos leucotrienos e o seu principal produto é o 5-HETE (ácido hidroxieicosatetraenóico) que, posteriormente, é transformado em leucotrieno B4, C4, D4 e E4. O LTB4 é um potente ativador das respostas funcionais inflamatórias, com ação quimiotática e estimulatória potente para leucócitos polimorfonucleares e monócitos e induz a expressão de moléculas de adesão por leucócitos (Lam et al., 1990; Samuelsson et al., 1987; Ford-Hutchinson, 1990). 9 Introdução 12/15-LOX FIGURA 1: Modelo esquemático dos mediadores produzidos a partir do ácido araquidônico (Bogatheva et al., 2005). LOX=lipoxigenase, COX=ciclooxigenase, EET=ácido epoxieicosatrienóico, HPETE=ácido hidroperoxieicosatetranóico, HETE=ácido hidroxieicosatetraenóico, LT=leucotrieno, PG=prostaglandina, TX=tromboxana, Lx=lipoxina, Hx=hepoxilina, TrX=trioxilina. 10 Introdução Histamina As aminas vasoativas, representadas pela histamina e serotonina, são, de modo geral, os primeiros mediadores a serem liberados no processo inflamatório. A histamina é uma amina básica, formada a partir da descarboxilação do aminoácido L-histidina pela ação da histidina-descarboxilase. A histamina é amplamente distribuída nos tecidos, encontrada em concentrações elevadas no pulmão, trato gastrintestinal e plaquetas, bem como em grânulos de mastócitos e basófilos, sendo liberada por desgranulação dessas células, em resposta a estímulos inflamatórios e alérgicos. Esse mediador produz efeitos biológicos ao interagir com receptores acoplados à proteína G, denominados H1, H2, H3 e H4 (Cotran, 2000; Hofstra et al., 2003). As atividades da histamina incluem a vasodilatação, estimulação da secreção de suco gástrico, quimiotaxia de leucócitos e broncoconstrição (Hang et al., 2003; Hofstra et al., 2003). Além disso, a histamina é um dos principais mediadores do aumento da permeabilidade vascular e contribui para formação de edema, em processos inflamatórios (Joris et al., 1987; Qureshi e Jakschik, 1988; 1999; Jutel et al., 2006). Este mediador atua diretamente sobre as células endoteliais, do segmento venular da microcirculação e por estimulação de receptores do tipo H1, principalmente, induz a contração dessas células, com consequente formação de fendas, através das quais há passagem de material plasmático (Regoli et al., 1981). Ainda, a ativação destes receptores, pela histamina, leva a um aumento da síntese de PGE2 e PGI2 por células endoteliais (Cole e Lewis, 1989) e à expressão das moléculas de adesão P-selectinas, favorecendo a migração de leucócitos (Asako et al., 1994). Por outro lado, a ativação dos receptores H2 está relacionada, preferencialmente, ao aumento de secreção gástrica, por células parietais (Knight et al., 1992; Tamaoki et al., 1997; Huang et al., 2008). No entanto, a estimulação destes receptores também ocasiona relaxamento da musculatura lisa e aumento da resistência das vias aéreas inferiores (Knight et al., 1992; Tamaoki et al., 1997). Em contraste, os receptores H3 funcionam como receptores pré-sinápticos do sistema nervoso central e estão envolvidos na regulação autócrina da histamina e de outros neurotransmissores desse sistema (Lovenberg et al., 1999). Já a ativação dos receptores do tipo H4, pela histamina, resulta na quimiotaxia de mastócitos e na liberação do cálcio intracelular. Até o presente este subtipo de receptor foi descrito em células da série 11 Introdução leucocitária, como eosinófilos, células T, células dendriticas, basófilos e mastócitos (Liu et al., 2001; Gantner et al., 2002; O`Reilly et al., 2002; Hofstra et al., 2003). Fator de necrose tumoral-alfa (TNF-α) O TNF-α é considerado um importante mediador pró-inflamatório. Esta citocina é uma glicoproteína ligada à membrana celular, sintetizada na forma de um precursor de 233 aminoácidos, com peso molecular de 26 kDa (Pennica et al., 1984; Vassali, 1992; Bradley, 2008). Para exercer seus efeitos biológicos, o TNF-α, necessita ser desligado da membrana celular, pela ação da enzima TACE (TNF-α Converting Enzime) e uma vez liberado para o espaço extracelular, interage com dois tipos de receptores de superfície celular: o TNFR1 e o TNFR2, desencadeando eventos intracelulares (Pennica et al., 1984). A literatura mostra que a interação do TNF-α com o receptor TNFR1 ativa uma sinalização intracelular que resulta em eventos pró-inflamatórios e apoptose, associados à injúria tecidual. Por outro lado, os eventos desencadeados pela interação do TNF-α com o receptor TNFR2 são pouco conhecidos e têm sido associados ao reparo de tecidos e à angiogênese (Kondo e Sauder, 1997; Bradley, 2008). O TNF-α participa de vários eventos inflamatórios, como o aumento da permeabilidade vascular, a ativação de neutrófilos e conseqüente desgranulação, produção de intermediários reativos de oxigênio, o aumento da citotoxicidade para certos patógenos além do aumento da atividade fagocítica e da quimiotaxia por neutrófilos e monócitos. Além disso, o TNF-α induz a produção de citocinas como a IL-1 e IL-6, por células endoteliais e por macrófagos, e de INF-γ por linfócitos T (Akira et al., 1990; Vassali, 1992; Goldblum et al., 1993; Eigler et al., 1997; Alessio et al., 1998). Diversos tipos celulares são capazes de produzir e secretar o TNF-α, após estimulação. Assim, monócitos e macrófagos produzem grandes quantidades de TNF-α (Hofsli et al., 1989). Outra célula importante, que estoca e secreta o TNF-α é o mastócito (Akira et al., 1990; Gordon et al., 1990). 12 Introdução Óxido Nítrico O óxido nítrico (NO) é um mediador de várias funções fisiológicas, como a vasodilatação (Palmer et al., 1987) e a neurotransmissão (Downen et al., 1999), além de apresentar atividade tumoricida (Hibbs et al., 1989) e/ou microbicida (Mauel et al., 1991). O NO é um gás sintetizado a partir do aminoácido L-citrolina, por reação catalisada pela enzima óxido nítrico sintase (NOS). Até o presente, foram descritas três isoformas de NOS. Duas isoformas são constitutivas: a isoforma neuronal (nNOS), localizada predominantemente em neurônio e a isoforma endotelial (eNOS), expressa predominantemente em células endoteliais. Essas duas isoformas são dependentes de cálcio. A terceira isoforma é induzivel, NOS induzível (iNOS), detectada na maioria das células nucleadas, após indução por citocinas inflamatórias, sendo independente de cálcio (Jorens et al., 1995; 1987). No que se refere às ações do NO, as evidencias indicam que o NO produzido pela atividade da eNOS, difunde-se rapidamente para a célula muscular, causando relaxamento muscular; no lúmem vascular, o NO inibe a agregação plaquetária e a adesão de leucócitos à parede dos vasos (Moncada et al., 1991). Ainda, o NO produzido pela e-NOS induz aumento da expressão da enzima superóxido dismutase (SOD), na camada muscular do vaso, diminuindo a concentração de íons superóxido, que são radicais reativos e lesivos. Adicionalmente, foi demonstrado que o NO inibe a expressão de moléculas de adesão, como as VCAM-1, E-selectina e P-selectina, pela inibição da liberação de citocinas pró-inflamatórias e/ou diretamente, por interferência no fator de transcrição NF-κB (de Caterina et al., 1995; Hickey et al., 1997; Peng et al., 1995). De outra parte, as evidências indicam que o NO, resultante da ativação da iNOS, contribuir para o desenvolvimento do processo inflamatório e pode exercer ação citotóxica, promovendo a destruição de microorganismos, parasitas e células tumorais. Este fato ocorre porque, em processos infecciosos, as células ativadas, como os macrófagos, neutrófilos e células endoteliais, secretam, simultaneamente, o NO e intermediários reativos do oxigênio. Estas moléculas, ao reagirem entre si, formam o ânion peroxinitrito - ONOO−, mais tóxico que os seus precursores (Ischiropoulos et al., 1996; Rohn et al., 1999; Wolin, 2000). Finalmente, as diversas ações dos mediadores acima mencionados, que determinam o desenvolvimento de parâmetros distintos e/ou similares da resposta 13 Introdução inflamatória, apontam a necessidade de estudos que investiguem a participação desses mediadores na reação edematogênica induzida pelo veneno de Bothrops moojeni. 14 Objetivos 2 OBJETIVOS Este estudo tem por objetivo avaliar e caracterizar a reação edematogênica induzida pela injeção intraplantar do veneno de Bothrops moojeni, em camundongos, quanto: 1) ao perfil temporal, 2) à relação concentração-efeito, 3) á participação de mastócitos neste evento, 4) aos mediadores inflamatórios envolvidos e 5) à neutralização pelo soro antibotrópico polivalente. 15 Material e Métodos 3 MATERIAL E MÉTODOS 3.1 Animais Foram utilizados camundongos Swiss machos, de peso compreendido entre 18 e 20 gramas, mantidos em condições padronizadas de biotério e de acordo com os princípios éticos de experimentação animal, adotados pelo COBEA, com aprovação da Comissão de Ética no Uso de Animais Experimentais do Instituto Butantan, protocolo n° 235/05. 3.2 Veneno Foi utilizada uma partida de pool de veneno, extraído de vários exemplares adultos da serpente Bothrops moojeni (Bm), fornecida pelo Instituto Butantan (Laboratório de Herpetologia). O veneno, liofilizado, foi mantido a - 20°C até o momento de sua utilização. 3.3 Avaliação do edema de pata Para este estudo, o veneno, dissolvido em solução salina apirogênica, foi filtrado em filtros esterilizantes, de poro de 0,22 μm de diâmetro e injetado no coxim plantar de uma das patas posteriores de camundongos, nas concentrações de 0,1; 0,3; 1; 3 ou 6 μg/pata, em volume constante de 50 μL. A pata contralateral (controle) recebeu igual volume de solução salina apirogênica. Os volumes das patas posteriores foram determinados em um pletismômetro, conectado a um transdutor de pressão, acoplado a um registrador digital (Ugo Basile), de acordo com o método descrito por Van Arman et al. (1965). Para tanto, cada pata foi imersa até a articulação tíbio-társica, em uma solução de lauril sulfato de sódio (500 mg/L), em NaCl 18,6%, em vários intervalos de tempo (15 e 30 minutos, 1, 3, 6 e 24 horas) após a injeção do veneno ou de salina. O edema foi expresso em porcentagem do aumento do volume das patas, em relação ao volume inicial. O aumento percentual do volume podal foi determinado a partir da razão entre os volumes da pata experimental (injetada com veneno) e da pata controle (injetada 16 Material e Métodos com solução salina apirogênica), corrigidos a partir dos volumes das patas intactas, como demonstrado abaixo: % de aumento do volume podal = Ve - Vs x 100 Vs Ve = volume da pata injetada com veneno; Vs = volume da pata injetada com salina. 3.4 Tratamentos farmacológicos A participação de diversos mediadores inflamatórios, na reação edematogênica induzida pelo veneno de Bothrops moojeni (VBm), foi avaliada a partir de diferentes tratamentos farmacológicos, com fármacos inibidores da síntese ou antagonistas de diversos mediadores, prévios à injeção intraplantar do VBm. As doses e tempos de latência, empregados nos tratamentos farmacológicos aqui propostos, baseiam-se em dados da literatura, que demonstraram a eficiência de cada fármaco. Os animais dos grupos controles, receberam volumes equivalentes dos veículos utilizados para os diferentes fármacos. Abaixo estão apresentados os protocolos utilizados para os diferentes tratamentos farmacológicos: • Cetotifeno (5 mg/kg), dissolvido em solução fisiológica apirogênica, administrado por via intraperitoneal (i.p.), 30 minutos antes da injeção do veneno – inibidor da desgranulação de mastócito e anti-histamínico; • Composto 48/80 (0,6; 1,0; 1,2 e 2,4 mg/kg), dissolvido em solução fisiológica apirogênica, administrado em 2 doses diárias, durante 4 dias consecutivos, em concentrações crescentes, via i.p., sendo a última injeção administrada 24 horas antes da injeção do veneno - ativador da desgranulação de mastócitos; • Prometazina (5 mg/kg), dissolvida em solução fisiológica apirogênica, administrada por via intravenosa (i.v.), 30 minutos antes da injeção do veneno antagonista de receptor H1 da histamina; • Cimetidina (15 mg/kg), diluída em solução fisiológica apirogênica, administrada por via i.p., 2 horas antes da injeção do veneno - antagonista de receptor H2 da histamina; 17 Material e Métodos • Tiopiramida (20 mg/kg), diluído em solução fisiológica apirogênica, administrada por via i.p., 30 minutos antes da injeção do veneno – antagonista de receptores H3/H4 da histamina. • Dexametasona (1 mg/kg), dissolvida em solução fisiológica apirogênica, administrada por via i.p., 2 horas antes da injeção do veneno - inibidor da fosfolipase A2 e estabilizador de membrana de mastócitos; • Indometacina (1 mg/kg), dissolvida em Tris/HCl/solução fisiológica, administrada por via i.v., 30 minutos antes da injeção do veneno - inibidor não seletivo de ciclooxigenases; • Eterocoxibe (6 mg/kg), suspenso em carboximetil-celulose, administrado por via oral (p.o.), duas horas antes do veneno – inibidor da ciclooxigenase-2; • Zileuton (100 mg/kg), dissolvido em solução fisiológica apirogênica, administrado por via oral, 1 hora antes do veneno – inibidor da 5-lipoxigenase. • L-NAME (15 mg/kg), dissolvido em solução fisiológica apirogênica, administrado por via i.v., 24 horas e 30 minutos, respectivamente, antes da injeção do veneno inibidor inespecífico de NO sintase; • D-NAME (15 mg/kg), dissolvida em solução fisiológica apirogênica, administrada por via i.v., 24 horas e 30 minutos, respectivamente, antes da injeção do veneno – composto racêmico sem atividade sobre a NO; • Aminoguanidina (50 e 100 mg/kg), dissolvida em solução fisiológica apirogênica, administrada por via intraperitoneal (i.p.), 24 horas e 30 minutos, respectivamente, antes do veneno – inibidor específico da NO sintase induzível; • Clorpromazina (1,25 mg/kg), dissolvida em solução fisiológica apirogênica, administrada por via intraperitoneal, 30 minutos antes do veneno – inibidor não específico da síntese de TNF-α (Bertini et al., 1991). 3.5 Neutralização da atividade edematogênica Para o estudo da neutralização da atividade edematogênica do veneno de Bothrops moojeni, foram desenvolvidos 2 protocolos experimentais: in vitro e in vivo, tendo por base a especificação do fabricante, em que 1 mL de soro antibotrópico poliespecifíco neutraliza 5 mg de veneno botrópico (FUNED). 18 Material e Métodos a) Para a neutralização in vitro, 1 µg de VBm foi incubado com 0,2 µL de soro antibotrópico, por 30 minutos, a 37oC. Após este período, a mistura foi injetada via intraplantar (i.pl.); b) Para a neutralização in vivo, o antiveneno (60 ou 100 µL/animal) foi administrado por via i.v., 30 minutos antes do VBm (1 ou 6 µg/pata) ou 15 ou 60 minutos após a injeção i.pl. deste veneno. 3.6 Fármacos e reagentes Tris (Sigma Chemical Company, USA); HCl (Nuclear, Br); NaCl (Mallinckrodt Ar); Lauril sulfato de sódio (Br); Cloreto de sódio 0,9 % - salina (Beker, Br); Carboximetil-celulose (Sigma Chemical Company, USA); Indometacina (Sigma Chemical Company, USA); Dexametasona (Sigma Chemical Company, USA); Cimetidina (Sigma Chemical Company, USA); Prometazina (Sigma Chemical Company, USA); Composto 48/80 (Sigma Chemical Company, USA); Cetotifeno (Sigma Chemical Company, USA). Zileuton - Zyflo® (Critical Therapeutics Inc., USA); Eterocoxibe (Merck Sharp & Dohme Farmacêutica Ltda, Br). Tris (Sigma Chemical Company, USA); Tiopiramida (Sigma Chemical Company, USA); L-NAME (Sigma Chemical Company, USA); D-NAME (Sigma Chemical Company, USA). Aminoguanidina (Sigma Chemical Company, USA); Clorpromazina - HCl (Sigma Chemical Company, USA) Soro Antibotrópico, lote no 051012-31 (FUNED, Br). 19 Material e Métodos 3.7 Análise Estatística Os dados foram analisados estatisticamente a partir do programa computacional Instat®. Os dados foram representados como média ± erro padrão da média (E.P.M.) e analisados por análise de variância (ANOVA), seguida do teste de Tukey, nas comparações múltiplas. Em todos os cálculos, foi fixado o nível crítico igual ou menor que 0,05 (p≤0,05). 20 Resultados 4 RESULTADOS 4.1 Efeito edematogênico do veneno de B. moojeni (VBm) em camundongos. O edema foi avaliado aos 15, 30, 60, 180, 360 minutos e 24 horas (1440 minutos) após a injeção intraplantar de VBm, em diferentes concentrações (0,1; 0,3; 1; 3 e 6 μg/pata) ou salina apirogênica (controle). A Figura 2 mostra que o VBm, em todas as concentrações, causou um aumento significativo do volume das patas (edema), a partir dos 15 minutos, com resposta máxima aos 30 minutos, exceto para a concentração de 0,1 μg/pata, que causou alteração insipiente. Na concentração de 6 μg/pata, o veneno causou um segundo pico de aumento do volume podal aos 180 minutos que foi estatisticamente diferente daquele causado pela concentração de 3 μg/pata. No caso das concentrações de 0,3 a 1 μg/pata, o efeito edematogênico desapareceu na 24ª hora, porém, nas concentrações de 3 e 6 μg/pata, o veneno ainda causou um efeito edematogênico significativamente maior que o da concentração de 0,3 μg/pata, na 24ª hora. É importante observar que a maior concentração do veneno (6 μg/pata) causou hemorragia pronunciada no local de sua injeção (dado não demonstrado). Ainda, foi observado uma relação concentração-efeito entre as concentrações avaliadas, com incremento do volume podal de 80,9; 114,7; 310,5 e 462,9%, para as doses de 0,3; 1; 3 e 6 µg, respectivamente, em relação à menor concentração, na 3a hora. 21 Resultados 160 VBm 6 μg/pata VBm 3 μg/pata # Aumento do vol. podal (%) VBm 1 μg/pata VBm 0,3 μg/pata 120 VBm 0,1 μg/pata Salina 50 μL/pata 80 40 * * 0 ** 15 30 60 180 360 1440 Tempo (minutos) Figura 2: Efeito edematogênico de diferentes concentrações do veneno da serpente Bothrops moojeni. Diferentes grupos de animais receberam injeção de VBm (0,1; 0,3; 1; 3 e 6 µg /animal), na pata direita e salina apirogênica na pata contralateral (controle), em volume de 50 µL/pata. O edema foi avaliado por pletismografia, como descrito em Material e Métodos e os valores representados como aumento percentual do volume das patas. Cada valor representa a média ± E.P.M. de 5 animais. *p≤0,05 em relação à curva/VBm 0,1 μg/pata. #p≤0,05 em relação ao VBm 3 μg/animal (ANOVA). 22 Resultados 4.2 Efeito de diferentes tratamentos farmacológicos no edema causado pelo veneno de B. moojeni. Para os estudos da modulação farmacológica, foi escolhida a concentração submaximal de 1 μg/pata de VBm. Nesta concentração, o veneno de B. moojeni não é hemorrágico e, não sendo maximal, um eventual incremento do volume das patas pode ser verificado. As figuras, a seguir, representam os resultados obtidos com diferentes grupos de animais, que foram pré-tratados com diferentes fármacos, inibidores de síntese ou antagonistas de alguns mediadores inflamatórios ou com os respectivos veículos, em volumes equivalentes (controles). A Figura 3 mostra que quando animais foram pré-tratados com cetotifeno, inibidor da desgranulação de mastócitos, houve redução do efeito edematogênico do VBm, nos períodos de 15 a 360 minutos. Essa redução foi de 25,3; 49,2; 42,4; 31,5 e 27,2%, respectivamente, aos 15, 30, 60, 180 e 360 minutos em relação ao controle. 100 Aumento do vol. Podal (%) Veículo + VBm Cetotifeno + VBm 80 Salina 50 µL/pata 60 40 * * * 20 * * 0 15 30 60 180 360 1440 Tempo (minutos) Figura 3: Efeito do cetotifeno no edema induzido pelo veneno da serpente B. moojeni. Diferentes grupos de animais foram pré-tratados com cetotifeno (5 mg/kg, i.p.) ou seu veículo, em volume e via correspondentes (controle), 30min antes da injeção intraplantar de VBm (1 µg/pata) na pata direita e salina apirogênica na pata contralateral i.pl. (controle), em volume de 50 µL/pata. O edema foi avaliado por pletismografia, como descrito em Material e Métodos e expresso como aumento percentual do volume das patas. Cada valor representa a média ± E.P.M. de 8 animais *p≤0,05 em relação ao grupo controle (ANOVA). 23 Resultados A Figura 4 mostra que animais pré-tratados com doses consecutivas do composto 48/80, para depleção de mastócitos, apresentaram uma redução significativa do efeito edematogênico do VBm, entre 30 e 360 minutos. Esta redução foi de 34,7; 55,5; 74,7 e 25,3%, aos 30, 60, 180 e 360 minutos, respectivamente, em relação aos animais controles. Aos 15 minutos, o fármaco não afetou a reação edematogênica causada pelo veneno. Veículo + VBm 100 Composto 48/80 + VBm Aumento do vol. Podal (%) Salina 50 µL/pata 80 60 * 40 * 20 * * 0 15 30 60 180 360 1440 Tempo (minutos) Figura 4: Efeito do composto 48/80 no edema induzido pelo veneno da serpente B. moojeni. Diferentes grupos de animais foram pré-tratados com composto 48/80 (0,6; 1,0; 1,2 e 2,4 mg/kg, i.p., consecutivamente), em duas doses diárias, por 4 dias consecutivos ou salina apirogênica, em volume e via correspondentes (controle), 24h antes da injeção intraplantar de VBm (1 µg/pata) na pata direita e salina apirogênica na pata contralateral i.pl. (controle), em volume de 50 µL/pata. O edema foi avaliado por pletismografia, como descrito em Material e Métodos e os valores representados como aumento percentual do volume das patas. Cada valor representa a média ± E.P.M. de 7-8 animais *p≤0,05 em relação ao grupo controle (ANOVA). 24 Resultados Como demonstra a Figura 5, o tratamento dos animais com prometazina, antagonista do receptor H1 da histamina, reduziu significativamente o efeito edematogênico do VBm, entre 15 e 180 minutos. Essa redução foi de 47,7; 53; 48,9 e 41,7%, aos 15, 30, 60 e 180 minutos, respectivamente, em relação ao controle. No período de 360 minutos, o fármaco não afetou a reação edematogênica causada pelo VBm. 100 Veículo + VBm Prometazina + VBm Salina 50 µL/pata Aumento do vol. Podal (%) 80 60 40 * * * * 20 0 15 30 60 180 360 1440 Tempo (minutos) Figura 5: Efeito da prometazina no edema induzido pelo veneno da serpente B. moojeni. Diferentes grupos de animais foram pré-tratados com prometazina (5 mg/kg, i.v.) ou seu veículo em volume e via correspondentes (controle), 30min antes da injeção intraplantar de VBm (1 µg/pata), na pata direita e salina apirogênica na pata contralateral i.pl. (controle), em volume de 50 µL/pata. O edema foi avaliado por pletismografia, como descrito em Material e Métodos e expresso como aumento percentual do volume das patas. Cada valor representa a média ± E. P. M. de 6-7 animais *p≤0,05 em relação ao grupo controle (ANOVA). 25 Resultados A Figura 6 mostra que o pré-tratamento dos animais com cimetidina, antagonista do receptor H2 da histamina, reduziu o edema, de forma significativa, entre 15 e 180 minutos. Essa redução foi de 26,6; 28,6; 56,4 e 30,7%, aos 15, 30, 60 e 180 minutos, respectivamente, em relação ao controle. Aos 360 minutos, o fármaco não afetou a reação edematogênica induzida pelo VBm. Aumento do vol. podal (%) 100 Veículo + VBm Cimetidina + VBm Salina 50 µL/pata 80 * 60 40 * * * 20 0 15 30 60 180 360 1440 Tempo (minutos) Figura 6: Efeito da cimetidina no edema induzido pelo veneno da serpente B. moojeni. Diferentes grupos de animais foram pré-tratados com cimetidina (15 mg/kg, i.p) ou seu veículo em volume e via correspondente (controle), 2h antes da injeção intraplantar de VBm (1 µg/pata), na pata direita e salina apirogênica na pata contralateral i,pl. (controle), em volume de 50 µL/pata. O edema foi avaliado por pletismografia, como descrito em Material e Métodos e expresso como aumento percentual do volume das patas. Cada valor representado a média ± E. P. M. de 6 de animais *p≤0,05 em relação ao grupo controle (ANOVA). 26 Resultados A Figura 7 mostra que o pré-tratamento dos animais com tiopiramida, antagonista dos receptores H3/H4 da histamina, reduziu o edema, de forma significativa, aos 30 e 60 minutos. Essa redução foi de 54,5 e 42,3%, aos 30 e 60 minutos, respectivamente, em relação ao controle. Nos demais períodos de tempo, o fármaco não afetou a reação edematogênica induzida pelo VBm. Veículo + VBm 100 Tiopiramida + VBm Salina 50 µL/ pata Aumento do vol. podal (%) 80 60 40 * * 20 0 15 30 60 180 360 1440 Tempo (minutos) Figura 7: Efeito da tiopiramida no edema induzido pelo veneno da serpente B. moojeni. Diferentes grupos de animais foram pré-tratados com tiopiramida (20 mg/kg, i.p) ou seu veículo em volume e via correspondente (controle), 30min antes da injeção intraplantar de VBm (1 µg/pata), na pata direita e salina apirogênica na pata contralateral i.pl. (controle), em volume de 50 µL/pata. O edema foi avaliado por pletismografia, como descrito em Material e Métodos e expresso como aumento percentual do volume das patas. Cada valor representa a média ± E. P. M. de 4 de animais *p≤0,05 em relação ao grupo controle (ANOVA). 27 Resultados A Figura 8 mostra que o tratamento prévio dos animais com a dexametasona, um inibidor de fosfolipase A2 (PLA2) e estabilizador de membrana de mastócitos, reduziu, significantemente, o edema causado pelo VBm, entre 30 e 360 minutos. Esta redução foi de 28,4; 32,7; 37,3 e 35,1%, aos 30, 60, 180 e 360 minutos, respectivamente, se comparado ao controle. Aos 15 minutos, porém, não houve alteração significante do efeito do veneno. 100 Veículo + VBm Aumento do vol. Podal (%) Dexametasona + VBm Salina 50 µL/pata 80 60 * * 40 * 20 * 0 15 30 60 180 360 1440 Tempo ( minutos) Figura 8: Efeito da dexametasona no edema induzido pelo veneno de B. moojeni. Diferentes grupos de animais foram tratados com dexametasona (1 mg/kg, i.p.) ou seu veículo i.p., em volume correspondente (controle), 2h antes da injeção intraplantar de VBm (1 μg/animal), na pata direita e salina apirogênica na pata contralateral i.pl. (controle), em volume de 50 µL/pata. O edema foi avaliado por pletismografia, como descrito em Material e Métodos e expresso como aumento percentual do volume das patas. Cada valor representa a média ± E.P.M de 6-7 animais *p≤0,05 em relação ao grupo controle (ANOVA). 28 Resultados A Figura 9 demonstra que o pré-tratamento dos animais com a indometacina, um inibidor não seletivo das COX-1 e COX-2, causou redução marcante do edema podal induzido pelo VBm, entre os 15 e 60 minutos de reação, com percentual médio de redução de 46%. Este efeito foi estatisticamente significativo em relação ao controle. Nos demais períodos de tempo, o fármaco não afetou a reação edematogênica causada pelo VBm. 100 Veículo + VBm Aumento do vol. Podal (%) Indometacina + VBm Salina 50 µL/pata 80 60 * * 40 * 20 0 15 30 60 180 360 1440 Tempo (minutos) Figura 9: Efeito da indometacina no edema induzido pelo veneno de B. moojeni. Diferentes grupos de animais foram pré-tratados com indometacina (1 mg/kg, i.v.) ou seu veículo i.v., em volume correspondente (controle), 30min antes da injeção intraplantar de VBm (1 μg/animal), na pata direita e salina apirogênica na pata contralateral i.pl. (controle), em volume de 50 µL/pata. O edema foi avaliado por pletismografia, como descrito em Material e Métodos e expresso como aumento percentual do volume das patas. Cada valor representa a média ± E.P.M. de 6-7 animais *p≤0,05 em relação ao grupo controle (ANOVA). 29 Resultados A Figura 10 mostra que o tratamento prévio dos animais com o inibidor seletivo da ciclooxigenase-2, eterocoxibe, reduziu o edema promovido pelo veneno de B. moojeni, de forma significativa, aos 60 e 180 minutos de sua injeção, em percentuais de 32,6 e 37,8%, respectivamente, se comparados ao controle. Nos demais períodos de tempo, o fármaco não afetou a reação edematogênica causada pelo veneno. Veículo + VBm 100 Eterocoxibe + VBm Aumento do vol. Podal (%) Salina 50 µL/pata 80 60 * 40 * 20 0 15 30 60 180 360 1440 Tempo (minutos) Figura 10: Efeito do eterocoxibe no edema induzido pelo veneno de B. moojeni. Diferentes grupos de animais foram pré-tratados com eterocoxibe (6 mg/kg, p.o.) ou seu veículo p.o. em volume correspondente (controle), 2h antes da injeção intraplantar de VBm (1 μg/animal), na pata direita e salina apirogênica na pata contralateral i.pl. (controle), em volume de 50 µL/pata. O edema foi avaliado por pletismografia, como descrito em Material e Métodos e expresso como aumento percentual do volume das patas. Cada valor representa a média ± E.P.M. de 8 animais *p≤0,05 em relação ao grupo controle (ANOVA). 30 Resultados A Figura 11 mostra que o pré-tratamento dos animais com zileuton, um inibidor da 5-lipoxigenase, reduziu, significativamente, o edema causado pelo VBm, aos 30 e 60 minutos após a sua injeção. A redução do edema foi de 18,2 e 34,9%, aos 30 e 60 minutos, respectivamente, em relação ao controle. Nos demais períodos de tempo, o fármaco não afetou a reação edematogênica causada pelo veneno. 100 Veículo + VBm Zileuton + VBm Salina 50 µL/pata Aumento do vol. Podal (%) 80 * * 60 40 20 0 15 30 60 180 360 1440 Tempo (minutos) Figura 11: Efeito do zileuton no edema induzido pelo veneno de B. moojeni. Diferentes grupos de animais foram pré-tratados com zileuton (100 mg/kg, p.o.) ou seu veículo p.o., em volume correspondente (controle), 1h antes da injeção intraplantar de VBm (1 μg/animal), na pata direita e salina apirogênica na pata contralateral i.pl. (controle), em volume de 50 µL/pata. O edema foi avaliado por pletismografia, como descrito em Material e Métodos e expresso como aumento percentual do volume das patas. Cada valor representa a média ± E.P.M. 6-8 animais *p≤0,05 em relação ao grupo controle (ANOVA). 31 Resultados A Figura 12 mostra que animais pré-tratados com clorpromazina, um inibidor da síntese de TNF-α, apresentaram diminuição significativa do edema induzido pelo VBm, desde os 15 até os 360 minutos de sua injeção intraplantar, A redução foi de 32; 58,9; 76,6; 83,2 e 81,4%, aos 15, 30, 60, 180 e 360 minutos respectivamente, se comparado ao controle. Ve ículo + VBm 100 Clorpromazina + VBm Aumento do vol. Podal (%) Salina i.pl. 80 60 40 * * 20 * * * 0 15 30 60 180 360 1440 Tempo (minutos) Figura 12: Efeito da clorpromazina no edema induzido pelo veneno de B. moojeni. Diferentes grupos de animais foram pré-tratados com clorpromazina (1,25 mg/kg, i.p.) ou seu veículo, na via correspondente (grupo controle), 30min antes da injeção intraplantar de VBm (1 μg/animal), na pata direita e salina apirogênica na pata contralateral i.pl. (controle), em volume de 50 µL/pata. O edema foi avaliado por pletismografia, como descrito em Material e Métodos e expresso como aumento percentual do volume das patas. Cada valor representa a média ± E.P.M. de 6 animais *p≤0,05 em relação ao controle (ANOVA). 32 Resultados A Figura 13 mostra que os animais controles, pré-tratados com salina apirogênica e com VBm (1 μg/pata), apresentaram reação edematogênica marcante, que foi máxima aos 30 minutos, com declínio após 60 minutos, retornando aos níveis basais na 24ª hora. Os animais pré-tratados com o LNAME, um inibidor não específico da NO sintase, apresentaram aumento significativo (média de 149,5%) do edema induzido pelo VBm, dos 180 minutos até a 24ª hora, se comparado ao grupo controle. O maior aumento ocorreu aos 360 minutos. Por outro lado, os animais que receberam pré-tratamento com DNAME, composto racêmico do L-NAME, não apresentaram diferenças em relação ao controle. Veículo í + VBm Aumento do vol. podal (%) 100 D-NAME + VBm L-NAME + VBm Salina i.pl. 80 60 * * 40 20 * 0 15 30 60 180 360 1440 Tempo (minutos) Figura 13: Efeito do L-NAME e do D-NAME no edema induzido pelo veneno de B. moojeni. Diferentes grupos de animais foram pré-tratados com L-NAME (15 mg/kg, i.v.) ou do D-NAME (15 mg/kg, i.v.) ou seus veículos, na via correspondente (controle), 24h e 30min antes da injeção intraplantar de VBm (1 μg/pata), na pata direita e salina apirogênica na pata contralateral i.pl. (controle), em volume de 50 µL/pata. O edema foi avaliado por pletismografia, como descrito em Material e Métodos e expresso como aumento percentual do volume das patas. Cada valor representa a média ± E.P.M. de 6 animais *p≤0,05 em relação ao controle (ANOVA). 33 Resultados A Figura 14 mostra que animais pré-tratados com a aminoguanidina, inibidor da NO sintase induzida, apresentaram aumento significativo (média de 96,6%) do edema induzido pelo VBm, desde os 180 minutos até a 24a hora, se comparado ao grupo controle. Aumento do vol. Podal (%) 120 Veículo + VBm 100 Aminoguanidina + VBm Salina i.pl. 80 * 60 * 40 20 * 0 15 30 60 180 360 1440 Tempo (minutos) Figura 14: Efeito da aminoguanidina no edema induzido pelo veneno de B. moojeni. Diferentes grupos de animais foram pré-tratados com aminoguanidina (50 e 100 mg/kg, i.p.), ou com seu veículo, na via correspondente (grupo controle), 30min antes da injeção intraplantar de VBm (1 μg/animal), na pata direita e salina apirogênica na pata contralateral i.pl. (controle), em volume de 50 µL/pata. O edema foi avaliado por pletismografia, como descrito em Material e Métodos e expresso como aumento percentual do volume das patas. Cada valor representa a média ± E.P.M. de 6 animais *p≤0,05 em relação ao controle (ANOVA). 34 Resultados 4.3 Efeito da soroneutralização in vitro no edema podal induzido pelo VBm. A Figura 15 mostra que os animais controles, que receberam injeção intraplantar de VBm, previamente incubado com salina apirogênica, apresentaram resposta edematogênica típica, com efeito máximo aos 30 minutos e declínio nas 24 horas. Quando o veneno (1 µg) foi incubado com 0,2 µL de soro, por 30 minutos, a 37oC e injetado no coxim plantar da pata posterior dos animais, ocorreu reação edematogênica significativamente inferior àquela causada pelo veneno incubado apenas com salina. 100 Salina + VBm Aumento do vol. das patas (%) Soro + VBm 80 60 40 20 * * * * * 0 15 30 60 180 360 1440 Tempo (minutos) Figura 15: Efeito da soroneutralização in vitro no edema induzido pelo veneno de B. moojeni. Diferentes grupos de animais receberam injeção intraplantar de veneno (1 µg), pré-incubado com salina ou com soro antibotrópico poliespecífico (0,2 µL), na pata direita ou seu veículo, na pata contralateral (controle), em volume de 50 µL/pata. O edema foi avaliado por pletismografia, como descrito em Material e Métodos e expresso como aumento percentual do volume das patas. Cada valor representa a média ± E.P.M. de 6 animais *p≤0,05 em relação ao controle (ANOVA). 35 Resultados 4.4 Efeito da aplicação sistêmica do antiveneno edema podal induzido pelo VBm. A Figura 16 mostra que o tratamento dos animais com o soro antibotrópico (60 ou 100 µL), 30 minutos antes da injeção intraplantar do VBm (1 µg/pata), causou diminuição significativa do edema induzido pelo veneno, desde os 15 até os 360 minutos, se comparado ao controle. Salina + VBm 100 Aumento do vol. Podal (%) Soro (60 µL) + VBm Soro (100 µL) + VBm 80 Salina i.pl. 60 40 20 0 * * * * * * 15 30 60 ** 180 ** 360 1440 Tempo (minutos) Figura 16: Efeito da aplicação sistêmica do antiveneno no edema induzido pelo veneno de B. moojeni. Diferentes grupos de animais foram pré-tratados com soro antibotrópico (60 ou 100 µL/animal, i.v.), ou com salina, na via correspondente (controle), 30min antes da injeção intraplantar de VBm (1 μg/pata), na pata direita e salina apirogênica na pata contralateral (controle), em volume de 50 µL/pata. O edema foi avaliado por pletismografia, como descrito em Material e Métodos e expresso como aumento percentual do volume das patas. Cada valor representa a média ± E.P.M. de 6 animais *p≤0,05 em relação ao controle (ANOVA). 36 Resultados A Figura 17 mostra que o tratamento dos animais com o soro antibotrópico (60 µL), 30 minutos antes da injeção intraplantar do VBm (6 µg/pata), induziu diminuição significativa do edema induzido pelo veneno, desde os 15 até os 360 minutos, se comparado ao controle. Salina + VBm Soro + VBm Salina i.pl. Aumento do vol. podal (%) 120 100 80 60 40 * * * 20 * * 0 15 30 60 180 360 Tempo (minutos) Figura 17: Efeito da aplicação sistêmica do antiveneno no edema induzido pelo veneno de B. moojeni. Diferentes grupos de animais foram pré-tratados com soro antibotrópico (60 µL/animal, i.v.), ou salina, na via correspondente (controle), 30min antes da injeção intraplantar de VBm (6 μg/pata), na pata direita e salina apirogênica na pata contralateral (controle), em volume de 50 µL/pata. O edema foi avaliado por pletismografia, como descrito em Material e Métodos e expresso como aumento percentual do volume das patas. Cada valor representa a média ± E.P.M. de 6 animais *p≤0,05 em relação ao controle (ANOVA). 37 Resultados A Figura 18 mostra que quando animais foram tratados com o soro antibotrópico (60 µL/animal), 15 minutos após a injeção do veneno (6 µg/pata), apresentaram redução significativa do efeito edematogênico do veneno, entre 30 e 360 minutos, se comparado ao controle. Salina + VBm Soro + VBm Salina i.pl. Aumento do vol. podal (%) 120 100 80 60 * * * 40 * 20 0 30 60 180 360 Tempo (minutos) Figura 18: Efeito da aplicação sistêmica do antiveneno no edema induzido pelo veneno de B. moojeni. Diferentes grupos de animais foram tratados com soro antibotrópico (60 µL/animal, i.v.), ou salina, na via correspondente (controle), 15min após a injeção intraplantar de VBm (6 μg/pata), na pata direita e salina apirogênica na pata contralateral (controle), em volume de 50 µL/pata. O edema foi avaliado por pletismografia, como descrito em Material e Métodos e expresso como aumento percentual do volume das patas. Cada valor representa a média ± E.P.M. de 6 animais *p≤0,05 em relação ao controle (ANOVA). 38 Resultados A Figura 19 mostra que quando animais foram tratados com o soro antibotrópico (60 µL/animal), 60 minutos após a injeção intraplantar do VBm (6 µg/pata), ocorreu uma diminuição do edema podal aos 360 minutos após a injeção do veneno, se comparado ao controle. Aos 180 minutos, esse tratamento não modificou a ação local do veneno. O efeito edematogênico do veneno foi reduzido significantemente, a partir dos 360 minutos, se comparado ao controle. Salina + VBm Aumento do vol. podal (%) 120 Soro + VBm Salina i.pl. 100 80 * 60 40 20 0 15 30 180 360 Tempo (minutos) Figura 19: Efeito da aplicação sistêmica do antiveneno no edema induzido pelo veneno de B. moojeni. Diferentes grupos de animais foram pós-tratados com soro antibotrópico (60 µL/animal, i.v.), ou salina, na via correspondente (controle), 60min após a injeção intraplantar de VBm (6 μg/pata), na pata direita e salina apirogênica na pata contralateral (controle), em volume de 50 µL/pata. O edema foi avaliado por pletismografia, como descrito em Material e Métodos e expresso como aumento percentual do volume das patas. Cada valor representa a média ± E.P.M. de 6 animais *p≤0,05 em relação ao controle (ANOVA). 39 Resultados Tabela 1: Quadro resumo do efeito de diferentes tratamentos farmacológicos no edema induzido pelo VBm. Tratamentos Farmacológicos Tempo (min) 15 30 60 180 360 Cetotifeno (5 mg/kg) ↓ ↓ Composto 48/80 (0,6; 1,0; 1,2 e 2,4 mg/kg) Ø Prometazina (5 mg/kg) 1440 ↓ ↓ ↓ Ø ↓ ↓ ↓ ↓ Ø ↓ ↓ ↓ ↓ Ø Ø Cimetidina (15 mg/kg) ↓ ↓ ↓ ↓ Ø Ø Tiopiramida (20 mg/kg) Ø ↓ ↓ Ø Ø Ø Dexametasona (1 mg/kg) Ø ↓ ↓ ↓ ↓ Ø Indometacina (1 mg/kg) ↓ ↓ ↓ Ø Ø Ø Eterocoxibe (6 mg/kg) Ø Ø ↓ ↓ Ø Ø Zileuton (100 mg/kg) Ø ↓ ↓ Ø Ø Ø ↓ ↓ Ø Clorpromazina (1,25 mg/kg) ↓ ↓ ↓ L-NAME (15 mg/kg Ø Ø Ø ↑ ↑ ↑ D-NAME (15 mg/kg) Ø Ø Ø Ø Ø Ø Aminoguanidina (50 e 100 mg/kg) Ø Ø Ø ↑ ↑ ↑ Ø = ausência de efeito; ↓ = diminuição do efeito; = aumento do efeito 40 Resultados Tabela 2: Quadro resumo do efeito da soroneutralização no edema induzido pelo VBm. Tempo (min) Soroneutralização 15 30 60 180 360 1440 ↓↓ ↓↓ ↓↓ ↓↓ ↓↓ Ø ↓ ↓ ↓↓ ↓↓ ↓↓ Ø Animais tratados com soro 30min antes do veneno (6 μg/pata) ↓ ↓ ↓↓ ↓↓ ↓↓ n.t. Animais tratados com soro 15min após o veneno (6 μg VBm/pata) Ø ↓ ↓ ↓ ↓ n.t. Animais tratados com soro 1h após o veneno (6 μg VBm/pata) Ø Ø Ø Ø ↓ n.t. VBm pré-incubado com soro Animais tratados com soro 30min antes do veneno (1 μg/pata) Ø = ausência de efeito; ↓= dimunuição do efeito; ↓ ↓ = inibição do efeito; n.t. = não testado. 41 Discussão 5 DISCUSSÃO No presente estudo, avaliamos o desenvolvimento da reação edematogênica causada pela injeção intraplantar do veneno de B. moojeni, em camundongos e a mediação deste efeito. Os resultados obtidos, inicialmente, mostraram que o VBm desencadeia uma reação edematogênica marcante. A intensidade dessa reação foi proporcional às concentrações injetadas do veneno. Ainda, após a injeção intraplantar de concentrações maiores deste veneno, principalmente o de 6 μg/pata, o edema foi acompanhado de hemorragia local, visualizada macroscopicamente. A cinética do edema induzido pelo veneno bruto de B. moojeni, em concentrações menores que 6 µg/pata, mostrou um período de instalação muito rápido, com efeito máximo aos 30 minutos após a sua injeção, que persistiu em níveis elevados até a 3ª hora; o decaimento do edema foi iniciado na 6a hora e retornou aos níveis basais, 24h após a injeção. Este perfil temporal apresenta características análogas às encontradas com outras espécies de venenos botrópicos, descritos na literatura, como o de B. jararaca (Olivo et al., 2007) e o de B. asper, da América Central (Chaves et al., 1995). A duração do fenômeno apresentou um comportamento equivalente ao desses venenos, com redução parcial na 6a hora (Perales et al., 1992; Olivo et al., 2007). A partir, deste estudo, selecionou-se uma concentração edematogênica submaximal, de 1 μg/pata, isenta de fenômenos hemorrágicos macroscópicos, para a análise farmacológica do mecanismo de ação do veneno, em termos de mediadores envolvidos no desenvolvimento do edema. Para a investigação dos mediadores da ação edematogênica do veneno de B. moojeni, diferentes grupos de animais foram pré-tratados com fármacos inibidores da desgranulação de mastócitos ou da síntese de alguns mediadores inflamatórios ou, ainda, com antagonistas de seus receptores. Os resultados obtidos mostraram que o cetotifeno, um estabilizador de membrana de mastócitos, reduziu, de modo marcante, o edema induzido pelo VBm, sugerindo a participação dessas células no efeito do VBm. Estes dados foram confirmados pela depleção dos grânulos de mastócitos, pelo composto 48/80, que acarretou uma redução comparável à causada pelo cetotifeno. O fato deste composto ter inibido o efeito do VBm aos 30 minutos e não aos 15 minutos, como o cetotifeno, pode ser resultante da reposição de parte dos grânulos dos 42 Discussão mastócitos, no período decorrido entre a injeção do composto 48/80 e a do VBm, que foi de 24h. Em apoio a estes resultados, a participação de mastócitos, na resposta inflamatória desencadeada por toxinas ou venenos, foi relatada por vários autores, embora não haja consenso sobre o mecanismo pelo qual esses agentes ativam tais células (Damerau et al., 1975; Chiu et al., 1989; Cirino et al., 1989; Wang e Teng, 1990a, 1990b; Tan et al., 1991; Moreno et al., 1993; Landucci et al., 1998). Os mastócitos estão amplamente distribuídos no tecido conectivo, principalmente na superfície epitelial da pele, no sistema respiratório, nos tratos gastrointestinal e genitourinário, adjacentes aos vasos sangüíneos e linfáticos, e próximos a nervos periféricos (Flier, 1993). Por sua distribuição particular, estão expostos a parasitas e a outros agentes exógenos, o que indica o seu papel importante, tanto em reações alérgicas imediatas, quanto em reações inflamatórias agudas e crônicas (Stevens e Austen, 1989; Galli, 1997; Metcalfe et al., 1997). Os mastócitos estão entre as células mais relevantes do processo inflamatório, pela sua propriedade de liberar uma grande variedade de mediadores inflamatórios intragranulares e neoformados, incluindo aminas vasoativas (histamina e serotonina), mediadores lipídicos e citocinas, sendo a histamina o representante mais importante. A histamina, dentre várias propriedades, induz aumento da permeabilidade vascular e contribui para a formação de edema (Jutel et al., 2006). Neste sentido, a hipótese da participação dos mastócitos, no efeito edematogênico do VBm, implica a participação da histamina e de outros mediadores intragranulares neste efeito. De fato, observamos uma redução significativa do edema de pata, em animais pré-tratados com a prometazina, indicando a participação deste mediador neste efeito do veneno. Uma vez que prometazina é um antagonista do receptor do tipo H1 da histamina, este resultado indica que receptores H1 são relevantes para o desenvolvimento do edema induzido pelo VBm. Nesse contexto, vale mencionar dados da literatura, mostrando que os receptores H1 estão presentes em densidade elevada nas células endoteliais de vênulas pós-capilares e que a sua ativação resulta na contração do citoesqueleto de células endoteliais, levando à formação de fendas, que favorecem o extravasamento plasmático e promovem a formação do edema (Hang et al., 2003). Em adição, os resultados do presente estudo mostraram que a cimetidina, antagonista de receptores do tipo H2 da histamina, reduziu, de forma significativa, o edema causado pelo VBm, indicando que a ativação dos receptores do tipo H2 também contribui para o efeito 43 Discussão deste veneno. Esta é a primeira demonstração da participação dos receptores H2, da histamina, na reação inflamatória induzida por venenos de serpentes. Embora a ativação dos receptores H2 esteja classicamente relacionada ao controle da secreção gástrica, por células parietais (Knight et al., 1992; Tamaoki et al., 1997), a literatura mostra que estes receptores também estão envolvidos no aumento da permeabilidade vascular na microcirculação pulmonar e cerebral, induzida por agentes inflamatórios (Goromuru et al., 2002; Bouachour et al., 1991; Serker et al., 2007), o que apóia os dados de nosso estudo. Além disso, a observação de que a tiopiramida, antagonista dos receptores H3/H4 da histamina reduziu o edema podal induzido pelo VBm, no período inicial de seu efeito, sugere que os receptores do tipo H3/H4 estejam envolvidos nesse efeito do veneno. Dados da literatura demonstram que os receptores H3 são expressos em neurônios pré-sinápticos do sistema nervoso central (SNC), mas não são encontrados em células hematopiéticas. No SNC, o receptor H3 inibe a liberação de histamina a partir de neurônios histaminérgicos e de outros neurotransmissores, como a acetilcolina, noradrenalina, dopamina e serotonina, de neurônios não histaminérgicos (Godlewski et al., 1997). Além disso, foi demonstrado que a ativação do receptor H3 inibiu a reação inflamatória no SNC (Teuscher et al., 2007). Por outro lado, a literatura mostra que o receptor H4 é expresso em várias células inflamatórias, como os mastócitos, eosinófilos, basófilos, células dendríticas e linfócitos T, induz a produção das citocinas IL-1, IL-6 e TNF-α e está envolvido na inflamação pulmonar e asma (Thurmond et al., 2008; Dunford et al., 2006). Desse modo, as informações acima permitem sugerir que o receptor H4, mais não o receptor H3, esteja envolvido no efeito edematogênico do veneno de B. moojeni. A participação de histamina, na ação local edematogênica de venenos botrópicos, parece não ser uma regra, pois Chaves et al. (1995) e Cirino et al. (1989) não observaram alteração significativa da reação edematogênica, causada pelo veneno de B. asper ou pela FLA2 de Naja m. mocambique, respectivamente, após o tratamento dos animais com antagonistas dos receptores H1 e H2, desse mediador. De outra parte, considerando que o efeito das aminas vasoativas, como a histamina, é caracterizado por rápida instalação e curta duração e que o veneno de B. moojeni exibe um perfil edematogênico de longa duração, é plausível supor que outros mediadores inflamatórios também participem deste processo. 44 Discussão Os eicosanóides representam um outro grupo importante de mediadores inflamatórios, dentre os quais destacam-se as prostaglandinas e os leucotrienos, derivados do metabolismo do ácido araquidônico, pelas vias das ciclooxigenases e lipoxigenases, respectivamente. Como mencionado na introdução o AA, é liberado a partir de ácidos graxos de membranas celulares, por ação das enzimas FLA2, relevantes para a iniciação da cascata dos eicosanóides (Serhan, 1994). Os resultados aqui obtidos demonstraram que, de maneira análoga ao descrito para os venenos de B. jararaca (Olivo et al., 2007) e B. lanceolatus (Araújo et al., 2000), o efeito do veneno da B. moojeni foi significativamente reduzido pelo tratamento prévio dos animais com a dexametasona, sugerindo a ativação de FLA2s por este veneno e a participação de eicosanóides na formação do edema. Desse modo, foram avaliados, a seguir, os efeitos de inibidores da formação de prostanóides e de leucotrienos, no edema induzido pelo VBm. Os resultados obtidos mostraram que o edema, provocado pelo veneno de B. moojeni, foi inibido pela indometacina, um inibidor não seletivo das ciclooxigenases, entre 15 e 60 minutos após a injeção do veneno. Estes dados sugerem o envolvimento de metabólitos do ácido araquidônico, via COX -1 e -2, como as prostaglandinas e/ou a tromboxana, na formação do edema induzido pelo VBm. Alem disso, verificamos que o eterocoxibe, um inibidor específico da COX-2, reduziu a formação do edema, a partir da 1ª hora, sugerindo que o veneno de B. moojeni, de alguma forma, induziu a expressão da COX-2. Assim, o perfil temporal, da inibição do edema causado pelos inibidores de COXs, sugere que o VBm acarreta uma estimulação inicial da COX-1, seguida da indução da expressão da COX2, em períodos subseqüentes da resposta. Estes dados corroboram aqueles observados com os venenos de B. jararaca (Trebien e Calixto, 1989; Perales et al., 1992; Olivo et al., 2007), de B. lanceolatus (Araujo et al., 2000) e de B. insularis (Barbosa et al., 2003). Nesse contexto, é interessante observar que concentrações elevadas de PGE2 foram detectadas no exsudato inflamatório induzido pelo veneno de B. jararaca, em camundongos (Moreira et al., 2007). Considerando que a PGE2 é um mediador importante para o desenvolvimento do edema e da hiperalgesia, com a capacidade de potenciar o efeito de substâncias que aumentam a permeabilidade vascular, como a histamina e a bradicinina (Matsumoto et al., 2007; Kolaczkowska et al., 2006; Qureshi e Jakschik, 1988; Galli et al., 1999), sugerimos o envolvimento deste mediador no efeito edematogênico do veneno de B. moojeni. No entanto, são 45 Discussão necessários estudos adicionais, que investiguem esta hipótese e permitam discriminar as prostaglandinas envolvidas no efeito do veneno de B. moojeni, em particular a PGE2. Outros mediadores lipídicos, relevantes para a inflamação, são os leucotrienos. Ao analisarmos o efeito da inibição da via 5-lipoxigenase, no edema induzido pelo veneno de B. moojeni, verificamos uma redução discreta do edema podal, entre 30min e 1h. Estes dados sugerem que os leucotrienos contribuem para a fase aguda da reação edematogênica causada pelo VBm. O envolvimento dos leucotrienos peptídicos, no aumento da permeabilidade vascular foi anteriormente descrita (Samuelsson, 1983; Hui et al., 2004; Hui e Funk, 2002). Por outro lado, foi descrito que o LTB4, um dos mediadores mais potentes da quimiotaxia e ativação de neutrófilos (Crooks e Stockley, 1998; Dahlén, 2000; Toda et al., 2002; Haeggstrom et al., 2007), também aumenta o extravasamento plasmático (Palmblad et al., 1990). Além disso, a participação dos produtos da lipoxigenase também foi verificada no edema induzido pelo veneno de B. jararaca, em ratos (Trebien e calixto, 1989) e de B. lanceolatus, em camundongos (Faria et al., 2001). O TNF-α representa um outro mediador importante em processos inflamatórios, (Stein e Gordon, 1991). Diversos tipos celulares, quando estimulados, são capazes de produzir e secretar este mediador. Nesse sentido, mastócitos e macrófagos produzem grandes quantidades de TNF-α (Hofsli et al., 1989). A literatura mostra que esta citocina pode induzir a diferenciação de macrófagos, desgranulação de neutrófilos e liberação de leucotrienos, além da expressão de moléculas de adesão da família das selectinas e integrinas, estimulando o processo de migração de leucócitos (Hubbard e Rothlein, 2000; Ebnet e Vestweber, 1999). Os resultados, aqui obtidos, demonstraram que o pré-tratamento dos animais com a clorpromazina, um inibidor da produção de TNF-α (Jansen et al., 1998; Gadina et al., 1991), reduziu o edema podal induzido pelo VBm, desde os 15 até os 360 minutos da sua injeção intraplantar. Estes dados indicam a contribuição do TNF-α na reação edematogênica local induzida por este veneno. A clorpromazina (CPZ) apresenta um grande espectro de atividades farmacológicas, porém, o seu mecanismo de ação, como inibidor de TNF, ainda não está bem esclarecido. Alguns relatos apontam que este fármaco inibe a expressão de RNAm de TNF em timócitos (Schleuning et al., 1991). Adicionalmente, Ghezzi et al. 46 Discussão (1996) identificaram que a atividade antioxidante da CPZ é essencial para a inibição da produção de TNF induzida por lipopolissacarídeo (LPS). As células responsáveis pela liberação de TNF-α, no presente modelo experimental, não foram estabelecidas. No entanto, considerando a participação desse mediador desde os 15 minutos da injeção do VBm, os mastócitos são candidatos potenciais, uma vez que estas células mantém estoques desse mediador em seus grânulos (Flier, 1993). Dessa forma, os dados obtidos com o tratamento com a clorpromazina e aqueles que mostraram a eficiência do tratamento com cetotifeno, contra a ação edematogênica do VBm, reforçam a hipótese da ação deste veneno em mastócitos, para o desenvolvimento da reação edematogênica. Por outro lado, contrariamente ao observado no presente estudo, foi demonstrado que a clorpromazina inibiu a ação hemolítica e anticoagulante, mas não as atividades miotóxica e edematogênica de uma FLA2 isolada do veneno da serpente Vipera russelli (Babu e Gowda, 1994). É conhecido que os mediadores inflamatórios atuam em sistema de cascata e modulam a síntese e a atividade uns dos outros, para o desenvolvimento pleno da resposta inflamatória. Desse modo, considerando que as citocinas ativam a produção de óxido nítrico (NO), no foco inflamatório, foi de interesse avaliar a participação deste mediador, no edema podal induzido pelo VBm. O óxido nítrico participa de diversos mecanismos fisiológicos e patológicos, atuando na comunicação intra e intercelular, integridade celular, homeostasia da pressão sangüínea e neurotransmissão (Lions, 1995). Além disso, o NO é um potente agente vasodilatador, podendo potenciar a ação de mediadores da permeabilidade vascular e contribuir para a formação do edema. Os resultados deste estudo mostraram que os animais tratados com L-NAME, um inibidor não específico da NOS, aumentou, de modo marcante, o edema induzido pelo VBm, entre 3 e 24 horas após a sua injeção. Como esperado, o tratamento dos animais com o D-NAME, um composto racêmico, sem atividade sobre a NOS, não modificou o perfil edematogênico do veneno, indicando que o efeito do L-NAME está relacionado especificamente à inibição da NOS. Adicionalmente, esses dados foram confirmados pelo tratamento dos animais com aminoguanidina, um inibidor da NO sintase induzida. Este tratamento, de modo similar àquele com L-NAME, aumentou o efeito edematogênico do VBm, entre a 3ª e a 24ª hora após a injeção. Estes dados, em conjunto, sugerem que o NO modula 47 Discussão negativamente a reação edematogênica desencadeada pelo VBm. Em apoio estes dados foi relatado que o NO desempenha papel regulatório sobre os mastócitos (Koranteng et al., 2000; Coleman, 2002), modulando negativamente a síntese e a secreção de novo de alguns mediadores inflamatórios (McCauley et al., 2005). Resultados opostos foram observados quanto ao efeito edematogênico dos venenos das serpentes Lachesis muta rhombeata (Moura et al., 1998), Bothrops insularis (Barbosa et al., 2003) e Bothrops asper (Chaves et al., 2006), que foram reduzidos pelo tratamento dos animais com L-NAME. Nesse sentido, ainda, Zamuner et al. (2001) mostraram que o veneno de Bothrops asper induz a produção de NO por macrófagos peritoneais, via iNOS, com conseqüente formação de peroxinitrito. Estes autores sugeriram, inclusive, a sua participação no desenvolvimento da lesão local induzida pelo veneno total de B. asper. Os motivos para essas discrepâncias não são conhecidos. No entanto, é possível que a maior importância dos obstáculos para o efeito edematogênico do veneno de B. moojeni; em relação às outras espécies de Bothrops, seja um fator relevante. Estudos adicionais são necessários para esclarecer essas diferenças. Como mencionado na introdução, os efeitos locais, provocados pelos venenos de serpentes do gênero Bothrops, não são neutralizadas, de modo eficiente, pelo antivenenos disponíveis. Mesmo quando o antiveneno é administrado imediatamente após o veneno, os efeitos sistêmicos são revertidos enquanto o edema e a necrose são pouco neutralizados, podendo levar à perda do membro afetado (Rosenfeld, 1971; Gutiérrez et al., 1981, 1986; Lomonte, 1985). Os estudos relacionados à soroneutralização da atividade edematogênica do veneno de Bm, mostraram que este efeito é plenamente revertido quando o antiveneno é previamente incubado com o veneno. Estes dados indicam que o soro antibotrópico utilizado é capaz de reconhecer as toxinas presentes no veneno de B. moojeni, com atividade edematogênica. Por outro lado, quando o antiveneno foi administrado previamente à injeção intraplantar do VBm, houve redução do edema nos primeiros 30 minutos e neutralização eficiente deste efeito a partir dos 60 minutos da ação deste veneno. Efeito semelhante foi verificado em relação ao edema causado pela maior concentração do veneno, que também induz hemorragia. Estes dados, sugerem que alguns dos componentes do veneno, responsáveis pela fase inicial do processo edematogênico não sejam neutralizados pelo antiveneno, quando este é administrado 48 Discussão separadamente do veneno. Tais componentes podem atuar, por exemplo, sobre mastócitos e acarretar a liberação imediata de mediadores que aumentem a permeabilidade vascular, como a histamina. Contudo, a presença de agentes edematogênicos não antigênicos, no próprio veneno, não pode ser descartada. De outra parte, os dados obtidos sugerem que os componentes do veneno, responsáveis pelo desenvolvimento do edema, a partir da primeira hora de sua ação, que foram reconhecidos pelo antiveneno sejam estruturalmente diferentes daqueles responsáveis pela fase de evolução rápida do edema. Em adição, os resultados obtidos mostraram que quando o antiveneno foi administrado 15 minutos após a injeção intraplantar do VBm, ocorreu uma redução importante do edema podal, a partir dos 60 minutos, porém, não houve reversão completa deste efeito, como o observado com o tratamento prévio. Este resultado aponta a potência e a rapidez do veneno para desencadear o fenômeno edematogênico. Nesse sentido, o tratamento com o antiveneno 1h após a injeção do VBm apóia este ponto de vista, uma vez que o edema foi reduzido, mas não neutralizado, apenas na 6ª hora após o inicio da reação inflamatória. Estes dados, se relacionados aos obtidos com os tratamentos farmacológicos, reforçam a hipótese da participação de diferentes mediadores, nos diferentes períodos da reação edematogênica causada pelo veneno em estudo. Em conjunto, os dados obtidos, indicam que o veneno de B. moojeni é capaz de induzir uma resposta edematogênica, de modo tempo e concentração-dependente. Este evento é mediado por diversos mediadores inflamatórios, dentre os quais a histamina, via ativação de receptores H1, H2 e H4, o TNF-α, os eicosanóides derivados da COX-1 e da 5-lipoxigenase, nos períodos iniciais, e da COX-2, subseqüentemente. Além disso, os mastócitos são elementos importantes para o efeito do VBm e devem constituir uma das principais fontes dos mediadores inflamatórios envolvidos no edema causado pelo veneno. Por outro lado, o NO modula negativamente o edema induzido pelo VBm. Além disso, pode-se inferir que o soro antibotrópico poliespecífico, embora neutralize os componentes edematogênicos do veneno, neutraliza apenas parcialmente a reação local edematogênica quando administrado sistemicamente, após o início do efeito do veneno. Os mecanismos pelos quais o VBm induz a produção e liberação dos diferentes mediadores inflamatórios, evidenciados neste estudo, não foram esclarecidos. No entanto, o conhecimento dos fatores relacionados ao desencadeamento, evolução e 49 Discussão regulação da reação edematogênica, induzida pelo veneno de Bm, constitui um aspecto relevante, que poderá trazer implicações clínicas importantes. Este conhecimento, associado ao efeito neutralizante, parcial, do soro antibotrópico, quando aplicado até 60 minutos após a injeção do veneno, pode favorecer a utilização de esquemas terapêuticos mais eficientes para o tratamento das ações locais, graves, causadas pelo veneno de B. moojeni. 50 Conclusões 6 CONCLUSÕES Os dados obtidos permitem concluir que: • A injeção intraplantar de VBm, em camundongos, induz uma reação edematogênica, de modo concentração e tempo-dependente; • Os mastócitos são células relevantes para o efeito edematogênico do veneno da serpente B. moojeni; • A histamina, via receptores H1, H2 e H4, está envolvida no efeito edematogênico do veneno de B. moojeni, sendo que os receptores H1 são mais importantes para este efeito; • Os mediadores lipídicos, derivados do metabolismo do ácido araquidônico, pelas vias COX-1, COX-2 e 5-lipoxigenase, participam do edema causado pelo VBm; • O fator de necrose tumoral-α (TNF-α) contribui para o desenvolvimento dessa reação; • O óxido nítrico (NO) modula, de forma negativa, o edema causado pelo VBm; • O soro antibotrópico poliespecífico neutraliza parcialmente a reação edematogênica induzida pelo veneno de B. moojeni. 51 Referências bibliográficas 7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Aderem A, Underhill DM. 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