CISTO DENTÍGERO, UM RELATO DE CASO

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CISTO DENTÍGERO, UM RELATO DE CASO
DENTIGEROUS CYST, A REPORT CASE
Autores:
Dr. Reinaldo Jose de Oliveira – Coordenador do curso de Especialização em Radiologia
Odontogica e Imaginologia na FMU – Faculdades Metropolitanas Unidas - Titular em
Radiologia Odontogica e Imaginologia na UNIMES-Santos
Dr.Andre Yuri Simoes – Especialista em Radiologia Odontologica e Imaginologia Radiologista do Grupo Papaiz Associados Diagnostico por Imagem
Dr. Paulo Sergio Kozara – Especialista em Endodontia, Cirurgião Dentista em Unidade
de Terapia Intensiva – Mestrando em Ciências da Saúde pela UNIFESP.
Resumo
O Cisto Dentígero (CD), é o cisto odontogênico não inflamatório mais
comum, sendo a mandíbula, osso mais afetado. Radiograficamente, o CD
costuma-se apresentar como uma imagem radiolucida, de limites definidos,
delimitados por halo radiopaco, aderido à junção amelo-cementaria do
elemento dental envolvido. Paciente, gênero masculino, leucoderma, 16 anos,
ao exame radiográfico apresentava extensa área radiolucida de limites
definidos e corticalizados em corpo de mandíbula, direita, com o dente 47
deslocado de sua trajetória de erupção. Por sua dimensão, a lesão sugeria,
radiograficamente, aspecto tumoral. Porém, o resultado histopatológico foi de
CD, apesar de não possuir o padrão imaginológico clássico de um CD ou de
suas variantes.
Abstract
The dentigerous cyst is the most commom non-inflamatory odontogenic
cyst, and the mandible is more affected than the upper jaw. Radiographically,
the dentigerous cyst usually appears as a radiolucency well delimited and
corticated associated with the crown of a impacted tooth. Male subject,
leucoderm, 16 year old, at the radiographic exam, showed extensive
radiolucency of well and corticated limits on mandible’s body, at right side, and
the element was 47 dislocated from its irruption course. Its large size suggests,
radiographically, tumoral aspect. Howhever the histopathological outcome was
dentigerous cyst, although radiographically, the aspects do not suggested a
classical or a variant case of dentigerous cyst.
Introdução
Por definição, cisto é uma cavidade patológica envolta por epitélio,
contendo material liquido, sólido ou semissólido. Por serem lesões crônicas,
possuem crescimento lento, assintomático, sendo detectados na maioria das
vezes em exames radiográficos de rotina (Freitas e Freitas, 2004).
O cisto dentígero (CD) é aquele que se forma ao redor da coroa de um
dente não irrompido, ou semi-irrompido. Inicia-se pelo acumulo de líquido nas
camadas do epitélio reduzido do órgão do esmalte ou entre o epitélio e a coroa
do dente. Pacientes do gênero masculino, leucodermas, na terceira década de
vida são os mais acometidos, sendo os dentes mais envolvidos os terceiros
molares inferiores seguidos dos caninos superiores (Papaiz, Capella e Oliveira,
2011).
Radiograficamente, os CDs tem aspecto radiolúcido de limites bem
definidos envoltos por cortical; halo radiopaco, sempre associado às coroas de
dentes retidos e se fixam na junção amelo-cementária (Gebrim, Chammas,
Gomes, 2010).
De acordo com Shear e Speight (2011), o CD mostra-se área radiolúcida
sempre unilocular e possui margem esclerótica bem delimitada, a menos que
esteja infectado.
Para Freitas et al (2006), os cistos dentígeros podem apresentar três
variações radiográficas de acordo com o envolvimento com a coroa : tipo
central, lateral e circunferencial. O diagnóstico diferencial dessa lesão é
Ameloblastoma (AMELO) e Tumor Odontogenico Ceratocístico (TOC), quando
de lesões mais extensas. Os cistos dentígeros não costumam reabsorver
raízes, sendo esta característica mais comum aos AMELOs, aonde os dentes
envolvidos apresentam reabsorção radicular em ponta de faca (ou de flauta).
Segundo Neville et al (2009), cistos dentígeros de grandes dimensões
são incomuns e a maioria das lesões consideradas como grandes cistos
dentígeros ao exame radiográfico, podem sugerir uma lesão tumoral como o
Tumor Odontogenico Ceratocistico (TOC) ou Ameloblastoma (AMELO). Porém,
os achados radiográficos não são diagnósticos de um cisto dentígero, porque
tanto os TOCs e AMELOs uniloculares, além de outros tumores odontogenicos
e não odontogenicos podem apresentar características radiográficas que são
essencialmente idênticas àquelas do cisto dentígero.
Seu tratamento consiste na remoção do dente associado e a enucleação
cuidadosa do componente é o tratamento definitivo na maioria dos casos de
CD,
embora
os
de
grandes
dimensões
podem
ser
tratados
com
marsupialização (Sette-Dias et al, 2008).
Relato de Caso
Paciente do gênero masculino, leucoderma, 16 anos compareceu à
clinica de radiologia odontológica. A incidência panorâmica mostra imagem
radiolúcida unilocular de limites bem definidos em corpo de mandíbula do lado
direito. A lesão se apresenta desde a região periapical do dente 45
estendendo-se ao dente 48 (semi-irrompido, com rizogênese completa e coroa
voltada para mesial). Nota-se que o dente 47 encontra-se deslocado de sua
trajetória de erupção. O trajeto do canal da mandíbula e o forame mentual
também se encontram deslocados. Nas raízes dos dentes 45 e 46, observa-se
reabsorção radicular externa, em aspecto de ponta de faca como mostra a
figura 1.
As hipóteses de diagnóstico neste caso podem ser; um tumor unilocular,
um ameloblastoma ou um tumor odontogênico ceratinizante, dado o tamanho
da área de lise óssea, deslocamento do elemento 47 bem como a reabsorção
radicular em ponta de faca dos dentes 45 e 46. Entretanto o diagnóstico
histopatológico foi de CD.
Nota-se neste CD, que seus aspecto radiográfico foge do padrão
clássico do saco pericoronario aumentado, com fixação do halo radiopaco ao
coloco anatomico. Nem mesmo de uma variante do CD, como padrão central,
lateral ou circunferencial.
A figura 2 mostra o aspecto pós operatório da lesão.
Discussão
Este relato de caso mostra que os aspectos radiográficos, muitas vezes
considerados pelos radiologistas como patognomônicos de uma certa afecção,
podem estar equivocados, ao exame histopatológico.
Radiograficamente, o padrão clássico do CD é imagem radiolucida,
unilocular, de limites definidos, com cortical aderida à junção cemento esmalte
(Freitas e Freitas, 2004; Sette-Dias et al, 2008; Neville et al, 2009; Shear e
Speight, 2011; Papaiz, Capella e Oliveira, 2011).
Para Freitas et al. (2006), o cisto dentígero possui três variações
(central, lateral e circunferencial) e o diagnóstico diferencial do cisto dentígero
pode ser de AMELO, TOC, tumor odontogenico adenomatóide, Cisto de Gorlin
ou Tumor de Pindborg.
Lesões uniloculares mais extensas, com reabsorção radicular externa de
dentes circunvizinhos sugerem afecção de caráter mais agressivo como
AMELO, TOC ou Fibroma Ameloblastico (Sette-Dias et al, 2008). Sendo a
reabsorção em ponta de faca (ou flauta) comum aos AMELOs (Freitas et. al,
2006).
Contudo, o aspecto radiográfico de uma lesão não conclui o correto
diagnóstico por si só, sendo necessária a observação da peça anatômica e do
exame histológico (Neville, et al 2009).
O caso clínico apresentado, pela incidência panorâmica, não possui o
clássico padrão imaginologico de CD ou de suas variantes, apesar do dente 47
apresentar-se não irrompido. Além disso, a dimensão da área de lise óssea e
idade do paciente sugerem lesão de aspecto tumoral. Um terceiro plano
dimensional poderia mostrar possível envolvimento da lesão com a coroa do
elemento dental. Contudo, mesmo com a observação de outros planos
dimensionais, exames de imagem não concluem o diagnóstico por si só.
Sendo, portanto, imprescindível o exame histopatológico, a fim de determinar
um plano de tratamento e prognóstico.
Conclusão
Os CDs são encontrados geralmente em exames radiográficos de rotina,
pois possuem curso clínico insidioso e a expansão de corticais muitas vezes
não é notada pelo paciente. Mesmo que o clássico padrão radiográfico do CD
esteja sedimentado na concepção de clínicos e radiologistas, variações no seu
padrão de imagem podem remeter a hipóteses de diagnóstico que projetam um
prognóstico mais preocupante. Este relato de caso mostra que padrões
iconográficos
não
guardam,
necessariamente,
característicos das lesões tumorais.
sinais
patognomônicos
As imagens foram gentilmente cedidas pela Papaiz e Associados.
Referências Bibliográficas
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