Os cistos odontogênicos oferecem perigo?

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resenha / Review
Os cistos odontogênicos oferecem perigo?
Intraosseous carcinoma arising from an odontogenic cyst:a case report, Cihan Bereket, Burak
Bekçiog˘lu, Mehmet Koyuncu, Ismail Sener, Bedri Kandemir, Akif Türer. Oral Surgery Oral Medicine
Oral Pathology and Oral Radiology: 445-e449p, vol. 116 e 2013. ISSN-1079-2104.
Giovanna Müller Pizza
Graduanda do Curso de Odontologia (FOL/UNIMEP)
Os cistos odontogênicos tem um compor­
tamento de benignidade, ou seja geralmente
afastam raízes dentárias, produzem expansão
de cortical e podem ter origens variadas dos
tecidos formadores dos dentes. Comumente
não oferecem riscos ao paciente, a não ser
que atinjam grandes dimensões, entretanto
não deve ser relegada a possibilidade de
malignização de um cisto odontogêncio.
O que se percebe é que as técnicas
imagi­nológicas atuais são bastante positivas
quanto à delimitação da lesão cística, porém
o resultado histopatológico definitivo, pode
muitas vezes ser inconclusivo. Isso não ocorre
somente com neoplasias oriundas de lesões
císticas, mas também podem ser observadas
em carcinomas espinocelulares gengivais,
osteosarcomas, ameloblastoma maligno,
granuloma central de células gigantes. A
biopsia incisional óssea ou mesmo através
da punção aspirativa com agulha fina (PAAF)
podem não demonstrar células com displasia e
sim processo inflamatório. O cirurgião dentista
pode ter dificuldade diagnóstica, em primeira
instância frente a esse fato.
Não é comum um cisto odontogênico
malignizar-se, mas a importância do clínico ter o
conhecimento dessa possibilidade é indiscutível.
Normalmente essas mudanças ocorrem no
epitélio cístico e estes são associados com
tumores odontogênicos, incluindo cistos
residuais, cistos dentígeros, cistos odontogênicos
calcificantes e cisto periodontal lateral, mas
suas características radiográficas e clínicas
não são específicas, dificultando o diagnóstico.
Mesmo sabendo o potencial agressivo biológico
dos queratocistos, a sua malignização é pouco
descrita na literatura.
O que se percebe em relatos clínicos e
segundo a Organização Mundial da Saúde, é
que a transformação maligna mais comum é do
ameloblastoma maligno ou o carcinoma intra
ósseo decorrente de lesões císticas, ambos
classificados como carcinomas odontogênicos.
A causa mais comum seria uma malignização
do epitélio cístico principalmente a partir de um
ameloblastoma pré-existente ou mesmo um
cisto odontogênico adenomatóide.
Um caso clínico que merece crédito e
ponderações quanto à atuação do cirurgiãodentista! O paciente, um jovem de 26 anos de
idade, sem histórico de consumo de tabaco,
álcool e doença sistêmica, com um aumento
de volume gradual no período de três anos na
maxila, e que ocasionalmente tinha liberação
de exsudato inflamatório acompanhado de
dor, que o incomodava, parece algo simples
e de diagnóstico fácil. Os exames clínicos
revelaram uma expansão vestibular e palatina
na região anterior da maxila, predominante no
lado direito. Na realização da PAAF observouse um liquido de coloração amarronzada e na
radiografia panorâmica uma lesão cística se
localizava entre o segundo pré-molar direto e
primeiro pré-molar esquerdo, com envolvimento
das raízes adjacentes. Um grande cisto,
confirmado através de imagens em cortes
axiais de tomografia computadorizada.
O tratamento escolhido e realizado foi o
preconizado para lesões císticas: enucleação
FOL • Faculdade de Odontologia de Lins/Unimep • 24(1) 69-70 • jan.-jun. 2014
ISSN Impresso: 0104-7582 • ISSN Eletrônico: 2238-1236
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Giovanna Müller Pizza
total da lesão com anestesia local depois do
tratamento endodôntico de pré a pré-molares
superiores.
Em uma lesão extensa como a descrita a
marsupialização seria uma boa escolha? Em
princípio sim, mas esta poderia deixar restos de
células que poderiam, futuramente, malignizarse, promover infiltração na asa esquerda do
nariz e espessamento da cortical cística, ou
seja, uma biopsia que poderia elucidar muito
e um tratamento que poderia ser ineficaz.
A opção foi a enucleação. Para surpresa,
o exame patológico mostrou carcinoma
de células escamosas ao longo do epitélio
odontogênico cístico queratinizado. Após duas
semanas da primeira cirurgia, foi realizada a
segunda: maxilectomia parcial entre o segundo
molar esquerdo e terceiro molar direito com
anestesia geral, seguido de um stent maxilar
cirúrgico para alimentação e conversação. O
prognóstico e o tratamento foram modificados
frente aos achados histopatológicos.
Considerações devem ser feitas quanto aos
ossos ortognáticos: são os únicos a conterem
restos epiteliais potencialmente capazes de
produzirem neoplasias tanto de natureza
conjuntiva quanto epitelial, pela presença de
células ectomesenquimais, importantes na
formação da face e dentes.
O potencial de cistos inflamatórios sofrerem
processo de malignização atinge um percentual
de 50%, enquanto o risco é reduzido sem o
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processo inflamatório. Isso pode ser um fator
de dificuldade diagnóstica onde uma biopsia
incisional ou uma PAAF pode simplesmente
colher material com o potencial inflamatório,
retardando a conclusão diagnóstica e
mascarando o processo de malignidade. O
aspecto radiográfico de uma lesão unilocular,
assintomática, também pode gerar um
diagnóstico errôneo. A queratinização, contudo
observada no histopatológico de lesões
malignas é um dado importante, que muitas
vezes requer um grande fragmento removido,
de tecido mole e osso comprometidos, para
avaliar o grau de infiltração e características
tumorais.
Fica claro o papel do cirurgião-dentista em
detectar lesões como esta e despertar para
diagnósticos inconclusivos e a potencialização
de uma neoplasia maligna. Assim, é prudente
reavaliar a incidência de malignização em
cistos de aparência inocente que, porém
requerem tratamentos drásticos, muitas vezes
mutiladores e com risco de metástases em
linfonodos e envolvimento de outras regiões.
Maxilectomia foi necessária. Outras vezes,
mandibulectomia, esvaziamento cervical,
radioterapia. Próteses, enxertos. Detalhes
que fazem a diferença diagnóstica devem
ser motivação para o cirurgião-dentista, quer
seja um clínico geral, que faz remoção de
lesões císticas, quer o estomatologista, quer o
cirugião bucomaxilofacial.
FOL • Faculdade de Odontologia de Lins/Unimep • 24(1) 69-70 • jan.-jun. 2014
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