transmissão das hepatites b e c

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TRANSMISSÃO DAS HEPATITES B E C
TRANSMISSION OF HEPATITIS B AND C
Lúcia Silva Maia
Discente do Curso de Enfermagem do Centro Universitário de Anápolis - UniEVANGÉLICA.
[email protected]
Luciana Silva Maia
Discente do Curso de Enfermagem do Centro Universitário de Anápolis - UniEVANGÉLICA.
[email protected]
Karla Prado de Souza Cruvinel
Enfermeira. Mestre em Medicina Tropical (Área de concentração: Microbiologia). Professora adjunta
do Curso de Enfermagem do Centro Universitário de Anápolis - UniEVANGÉLICA.
[email protected]
RESUMO
As hepatites B e C são hepatopatias graves que acometem grande número de pessoas, sendo
consideradas um grave problema de saúde pública. Este estudo teve como objetivo analisar com
base na literatura publicada no período de 2002 a 2010 as principais vias de transmissão das
hepatites B e C, bem como os grupos mais vulneráveis a essas infecções. Qualifica-se como estudo
exploratório de natureza bibliográfica, com revisão crítica da literatura. A seleção dos artigos foi
realizada através da busca na Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde
(LILACS), na biblioteca digital de teses e dissertações da Universidade de São Paulo (USP) e da
Universidade Federal de Goiás (UFG), de onde se compôs uma amostra de 20 publicações. Os
resultados apontaram o uso de drogas injetáveis com compartilhamento de agulhas como fator de
risco predominante. Os profissionais da saúde também estão expostos a esses vírus devido ao risco
ocupacional. Outro fator de risco identificado foi o déficit de conhecimentos sobre as formas de
transmissão entre acadêmicos e profissionais da área de saúde. Transfusão sanguínea, relações
sexuais desprotegidas, internações múltiplas, transmissão horizontal e a transmissão vertical foram
outras vias de transmissão para as hepatites B e/ou C identificadas na literatura analisada. Através da
análise dos textos, evidencia-se a necessidade de ações de saúde pública voltadas para todos os
grupos populacionais e a capacitação para os profissionais da área de saúde, especialmente por
apresentarem déficit de conhecimento sobre o assunto, e serem peça fundamental para a promoção
de saúde e prevenção doenças.
PALAVRAS-CHAVE: Hepatite B. Hepatite C. Transmissão.
ABSTRACT
Hepatitis B and C are serious Hepatic Diseases that affect large numbers of people, being considered
a serious public health problem. This study aimed to analyze based on the literature published from
2002 to 2010 period the main routes of transmission of hepatitis B and C as well as the groups most
vulnerable to these infections. Qualifies as an exploratory study of nature literature, in critical review of
the literature. A selection of articles was done by searching the Latin American and CaribbeanCenter
on Health Sciences (LILACS), the digital library of theses and dissertations at the University of São
Paulo (USP) and University Federal of Goiás (UFG) of which comprised a sample of 20 publications.
The results indicated that injection drug use with needle sharing as the predominant risk factor. Health
professionals are also exposed to these viruses due to occupational exposure. Another risk factor
identified was the shortage of knowledge about modes of transmission between academics and health
professionals. Blood transfusions, unprotected sex, multiple hospitalizations, horizontal transmission
and vertical transmission were other routes of transmission for hepatitis B and / or C identified in the
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literature review. Through analysis of texts, highlights the need for public health interventions aimed at
all population groups and training for professionals in the health field, especially because they have
little knowledge about the subject, and be a key to promoting health and disease prevention.
KEY WORDS: Hepatitis B. Hepatitis C. Transmission.
INTRODUÇÃO
As hepatites virais são um importante problema de saúde pública que exige um
olhar diferenciado por serem doenças infecto-contagiosas e existe um grande
número de pessoas infectadas com esses vírus. A estimativa do número de pessoas
infectadas para o vírus da hepatite B (VHB) é superior a um terço da população
mundial e que há cerca de um milhão de mortes por ano por essa doença, tanto na
forma aguda como crônica. Quanto ao vírus da hepatite C (VHC), estima-se que
existam cerca de 170 milhões de pessoas infectadas em todo o mundo.
(PELEGRINI; BARBANERA; GONÇALVES, 2007).
O VHB pode ser transmitido pela via sexual, através de relações sexuais
desprotegidas ou por via parenteral (compartilhamento de agulhas e seringas,
tatuagem, piercings, procedimentos odontológicos ou cirúrgicos). O vírus da VHB
pode ser transmitido pela via vertical (de mãe para filho). Embora o VHB esteja
presente no leite materno a transmissão por essa via ainda não foi documentada,
por isso, sendo assim, a amamentação não está contraindicada, em mães
portadoras do VHB (BRASIL, 2008). Em indivíduos adultos, a cronificação da
doença ocorre em aproximadamente 5% a 10% dos infectados. Cerca de 70% a
90% das infecções pelo VHB em menores de cinco anos cronificam (FOCACCIA;
VERONESI, 2005).
Outra importante hepatite viral de transmissão parenteral é a hepatite C, onde a
população de maior risco de aquisição são os usuários de drogas injetáveis,
inaláveis ou pipadas. Os equipamentos usados em consultórios odontológicos,
podólogos, manicures que não obedecem às normas de biossegurança, podem ser
fômites importantes de transmissão por via percutânea dessa hepatite. A
transmissão sexual do VHC tem sido considerada pouco relevante e ocorre
principalmente em pessoas com múltiplos parceiros e com relação sexual
desprotegida (BRASIL, 2008). A cronificação da hepatite C ocorre em 70% a 85%
dos casos, tendo potencial evolutivo para cirrose e hepatocarcinoma, sendo
considerada a maior responsável por cirrose e transplante hepático no mundo
ocidental (FOCACCIA; VERONESI, 2005).
Recentemente, as hepatites B e C têm sido associadas à via horizontal de
transmissão, que consiste na transferência do vírus de um indivíduo infectado para
um indivíduo sadio, direta ou indiretamente (CAVALHEIRO et al., 2009). O ambiente
intradomiciliar apresenta várias situações que favorecem o risco de transmissão
dessas hepatites, devido a possibilidades de compartilhamento de objetos cortantes
de uso pessoal como lâminas, barbeadores, depiladores, alicates, escovas dentais,
sendo essas consideradas vias de contágio (FOCACCIA; VERONESI, 2005).
Segundo uma pesquisa realizada por Cavalheiro (2004) com 24 casais com
diagnóstico clínico e laboratorial para hepatite C crônica, 22 apresentaram o mesmo
subtipo viral e altas porcentagens de homologia na proteína não estrutural (região
NS5b). Essa alta similaridade encontrada entre as cadeias genômicas do VHC pode
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dar suporte à hipótese de transmissão sexual do VHC entre casais, porém o
compartilhamento de objetos de uso pessoal dificultou a análise desses dados.
Diante dessas situações de risco, evidencia-se a potencial transmissão por contato
intradomiciliar prolongado onde há portadores dessa hepatite.
Em relação à transmissão do VHB, dados publicados por Brasil et al. (2003),
mostraram alta prevalência do VHB entre familiares. Ao analisar os comportamentos
de 258 familiares, observou-se uma prevalência de 23,6% entre irmãos,
caracterizando a transmissão horizontal desse vírus. Também foi encontrada uma
prevalência de 11,6% entre cônjuges, pois relações sexuais desprotegidas são
formas de transmissão do VHB. Assim, caracteriza o contato interpessoal como um
mecanismo de transmissão do VHB, e dá suporte à disseminação horizontal do
mesmo.
Tanto a hepatite B quanto a hepatite C possuem tratamento medicamentoso.
Um estudo avaliou a eficácia de medicamentos utilizados no tratamento da hepatite
viral crônica B: interferon (convencional e peguilado) e lamivudina (LAM). Este
estudo demonstrou, pela revisão sistemática da literatura, que o tratamento com
interferons convencionais permite a inativação do vírus B por longos períodos de
tempo podendo resultar em soroconversão negativa para o Antígeno de Superfície
do VHB (HBsAg). Por outro lado, o tratamento de pacientes com hepatite B crônica
com interferon peguilado (PEG2a) apresentou eficácia superior ao interferon
convencional e LAM, porém com efeitos colaterais semelhantes (ALMEIDA et al.,
2009). No tratamento da hepatite C, de acordo com os critérios do Ministério da
Saúde (BRASIL, 2008), utiliza-se interferon peguilado para o genótipo 1 e interferon
convencional para os genótipos 2 e 3, associado a ribavirina, entretanto pesquisas
mostram reações adversas imprevisíveis (FARAH; JACOB; CUMAN, 2008).
A prevenção da hepatite B pode ser feita através de imunização com
administração da vacina específica que está disponível nas salas de vacinas do
Sistema Único de Saúde (SUS) para menores de um ano, crianças e adolescente
entre um e 19 anos de idade. Encontra-se também no Centro de Referência de
Imunobiológicos Especiais (CRIE) para populações de maior vulnerabilidade,
podendo ser administrada em qualquer faixa etária. A prevenção também pode ser
realizada por meio de ações educativas, informando as formas de transmissão, para
que as pessoas percebam as situações e comportamentos que geram riscos de
transmissão e, assim, tenham condições de assumir atitudes preventivas (BRASIL,
2008).
Mincis, Mincis e Calichman (2007) destacam que os principais genótipos do
VHC são: 1a, 1b e 1c; 2a, 2b e 2c; 3a e 3b 4, 5 e 6a. Strauss (2001) ressalta em seu
estudo que dentro desses genótipos e subtipos pode haver variações que acontece
devido a imperfeições na replicação viral e na ocorrência de pequenas e constantes
mutações. Por causa dessa grande variedade genômica do VHC ainda não há
vacina contra hepatite C, nem uma profilaxia eficaz pós-exposição. Assim, as
medidas de prevenção para reduzir o número de infectados pelo vírus consistem em
ações educativas sobre as formas de transmissão e a identificação dos indivíduos
portadores do VHC a fim de melhor orientá-los para interromper esse ciclo de
contágio. Sendo a frequência de infectados pelas hepatites B e C extremamente
alta, levando inúmeros indivíduos à morte ou à convivência com a doença crônica, o
objetivo de buscar as causas que tem disseminado os vírus dessas hepatites e os
Revista Enfermagem Integrada – Ipatinga: Unileste-MG - V.4 - N.1 - Jul./Ago. 2011.
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grupos mais vulneráveis é de grande importância para que se tenham condições de
formular estratégias para mudar essa realidade.
Nota-se que as hepatites B e C apresentam grande potencial de
transmissibilidade e capacidade de atingir variados grupos populacionais, pois
apresenta risco de transmissão por diversas vias. Assim, ao realizar um estudo com
base na literatura referente às vias de transmissão das hepatites B e C, bem como
os grupos mais vulneráveis a essas infecções, contribuirá para analisar a raiz do
problema e, assim, elaborar estratégias para minimizar situações de risco para a
transmissão das mesmas. Nesse contexto, o objetivo do presente estudo foi analisar
as literaturas referentes às vias de transmissão das hepatites B e C, bem como os
grupos mais vulneráveis a essas infecções, conforme publicações no período de
2002 a 2010. Acredita-se que desta forma, a sociedade terá um atendimento cada
vez mais qualificado, que só é possível através de uma boa capacitação de
profissionais, que se desenvolvem embasados em estudos científicos.
METODOLOGIA
O presente estudo qualifica-se como um estudo exploratório de natureza
bibliográfica, com revisão crítica da literatura, cuja configuração se caracteriza como
um processo de levantamento e análise do que já foi publicado sobre a transmissão
das hepatites B e C. A seleção dos artigos foi realizada através da busca na
Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), a
biblioteca digital de teses e dissertações da Universidade de São Paulo (USP), e da
Universidade Federal de Goiás (UFG).
A coleta de dados foi realizada entre os meses de maio a outubro de 2010,
com os descritores, Hepatite B e Hepatite C. O idioma escolhido foi português e o
período selecionado foi de 2002 a 2010, por possuir maior amplitude de bibliografias
atualizadas.
A partir da busca eletrônica na base de dados da LILACS, com o descritor
Hepatite foram encontrados 1293 artigos. Após refinamento na opção idioma
português foram encontrados 462, sendo 166 com textos completos. Através da
leitura dos títulos e resumos, foram selecionados 26 artigos dos quais após a leitura
completa do texto, foram utilizados 17 para compor a coleta de dados. Também
foram selecionadas três teses através da busca eletrônica digital de teses e
dissertações. Desta forma, a amostra foi composta por 20 publicações referentes ao
tema “transmissão das hepatites B e C.”
A análise dos trabalhos foi realizada gradativamente, de forma a se estabelecer
uma total apreensão dos conteúdos necessários para a construção do texto final. Foi
utilizada a análise de conteúdo, cujo percurso acompanhou as seguintes fases:
leitura exploratória, leitura seletiva, leitura analítica e leitura interpretativa, para obter
uma crítica, mesmo que breve, da literatura, citando os autores pesquisados, com
respectiva avaliação e discussão de suas obras, tendo em vistas o tema trabalhado.
(GIL, 2002).
RESULTADOS
Após a análise dos artigos, teses e dissertações foram extraídas as seguintes
categorias: autor, ano, tipo de pesquisa, revista de publicação e local da pesquisa.
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No ano de 2007 foram encontradas seis pesquisas, sendo este o ano com maior
número de publicações e São Paulo, SP, o local da pesquisa mais encontrado, com
quatro publicações. O QUADRO 1 explicita essas informações.
QUADRO 1 Caracterização dos artigos, teses e dissertação publicados no período de 2002 a 2010.
Anápolis, GO, 2010.
Local da
nº
Autor
Ano
Tipo de pesquisa
Revista publicada
pesquisa
Estudo descritivo de caráter Revista Latino-americana
Ribeirão Preto,
1 Caniniet al.
2002
retrospectivo
de Enfermagem
SP
Portal eletrônico de teses e
2 Cavalheiro.
2004 Estudo transversal
São Paulo, SP
dissertações USP
Revista Brasileira de
3 Souza et al. 2004 Estudo transversal
Goiânia, GO
Psiquiatria
Revista Brasileira de
Tavares et
4
2004 Estudo transversal
Hematologia e
Goiânia, GO
al.
Hemoterapia
Oliveira et
Estudo seccional,
Epidemiologia e Serviços
Rio de Janeiro,
5
2005
al.
multicêntrico
de Saúde
RJ
Estudo observacional,
Portal eletrônico de teses e Campo
6 Rodrigues.
2006 analítico, de corte
dissertações UFG
Grande, MS
transversal
Estudo transversal com
7 Brito et al.
2007
Revista de Saúde Pública
São Paulo, SP
intervenção educativa
São José do
8 Ciorliaet al.
2007 Estudo de caso-controle
Revista de Saúde Pública
Rio Preto, SP
Revista da Faculdade de
Estudo transversal
9 Farias et al. 2007
Odontologia de Porto
Recife, PE
observacional
Alegre
FigueiróCampo
10
2007 Estudo de Revisão
Femina
Filho
Grande, MS
Revista da Sociedade
Estudo transversal com
11 Mello et al.
2007
Brasileira de Medicina
Recife, PE
intervenção educativa
Tropical
Estudo epidemiológico do
12 Strazzaet al. 2007
Caderno de Saúde Pública São Paulo, SP
tipo transversal
Estudo transversal com
Portal eletrônico de teses e Ribeirão Preto,
13 Coêlho.
2008
intervenção educativa
dissertações USP
SP
Estudo exploratório
Florianópolis,
14 Girondiet al. 2008
Cogitare Enfermagem
qualitativo
SC
Estudo descritivo,
Pinheiro;
Escola Anna Nery Revista
Rio de Janeiro,
15
2008 exploratório, com
Zeitoune.
de Enfermagem
RJ
abordagem quantitativa
Carneiro;
Estudo epidemiológico,
Revista de Odontologia da
16
2009
Salvador, BA
Gangussu.
exploratório
UNESP
Cavalcanti
Odontologia Clínica17
2009 Estudo quantitativo
Caruaru, PE
et al.
Científica
Livramento
Estudo transversal com
Revista de Patologia
18
2009
Blumenau, SC
et al.
intervenção educativa
Tropical
Estudo transversal com
19 Lopes et al.
2009
Revista de Saúde Pública
Goiânia, GO
intervenção educativa
Estudo descritivo
Revista de Enfermagem
20 Rossi et al.
2010 exploratório com abordagem
São Paulo, SP
UERJ
quantitativa
FONTE: dados da pesquisa
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Através da análise das obras selecionadas, foi possível identificar os fatores de
risco e os grupos populacionais mais vulneráveis para a transmissão das hepatites B
e/ou C (QUADRO 2).
QUADRO 2 Identificação dos grupos populacionais e os principais fatores de risco para a transmissão
das hepatites B e/ou C de acordo com a literatura (2002-2010). Anápolis, GO, 2010.
Principais fatores de risco
Autor
Grupos populacionais
- Compartilhamento de agulhas
Lopes et al. (2009)**
Usuários de drogas
- Drogas injetáveis
Rodrigues (2006)*
- Relações sexuais desprotegidas
Oliveira et al. (2005)**
- Compartilhamento de agulhas
- Compartilhamento de objetos de higiene pessoal
- Drogas injetáveis
Coêlho (2008)
Detentos
- Idade superior a 30 anos
Strazzaet al. (2007)**
- Relações sexuais desprotegidas
- Tatuagem
- Compartilhamento de agulhas
- Drogas injetáveis
Moradores de rua
Brito et al. (2007)
- Promiscuidade
- Tatuagem
Canini et al. (2002) Ciorlia
- Déficit de conhecimento
Profissional da área da
et al.(2007)**
- Risco ocupacional
saúde
Farias et al. (2007)
Pinheiro; Zeitoune (2008)*
- Déficit de conhecimento
Carneiro; Gangussu
Estudantes da área da - Não adesão à vacinação contra Hepatite B
(2009)*
saúde
- Não uso de EPI
Cavalcanti et al. (2009)*
- Risco ocupacional
Rossi et al. (2009)
Adolescentes
- Déficit de conhecimento
Livramento et al. (2009)
Portadores de doença
mental
- Admissão hospitalar múltipla
Pacientes de
hemodiálise
- Tempo de hemodiálise
- Transfusão sanguínea
- Promiscuidade
Hemofílicos
- Ser portador de hepatite C
- Transfusão sanguínea
- Acupuntura
- Compartilhamento de objetos de higiene pessoal
- Drogas injetáveis
Casais
- Hipótese de transmissão através de relações
sexuais desprotegidas
- Tatuagem
- Transfusão sanguínea
- Co-infecção com HIV
Materno-fetal
- Parto Vaginal
- Via intrauterina
FONTE: dados da pesquisa
Souza et al. (2004)*
Mello et al. (2007)**
Tavares et al. (2004)*
Cavalheiro (2004)**
Girondiet al. (2008)*
Figueiró-Filho et al.
(2007)**
* Estudo conduzido apenas para o VHB
** Estudo conduzido apenas para o VHC
O uso de drogas injetáveis com compartilhamento de agulhas foi o fator de
risco predominante, encontrados nos grupos de detentos, moradores de rua e os
usuários de drogas ilícitas.
Revista Enfermagem Integrada – Ipatinga: Unileste-MG - V.4 - N.1 - Jul./Ago. 2011.
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Profissionais da saúde estão relacionados em várias pesquisas como
população exposta ao risco de contrair os vírus da hepatite B e/ou C, devido ao risco
ocupacional advindo das próprias atividades da profissão. Outro fator associado foi o
déficit de conhecimento sobre as formas de transmissão das mesmas, evidenciado
nos acadêmicos da área de saúde e profissionais que já atuam nesta área.
Transfusão sanguínea, relações sexuais desprotegidas, internações múltiplas,
transmissão vertical e a transmissão horizontal através de compartilhamento de
utensílios de higiene pessoal foram outras vias de transmissão para as hepatites B
e/ou C identificadas na literatura analisada.
DISCUSSÃO
Transmissão por Via Parenteral
Atualmente sabe-se que o VHB está presente em grande quantidade no
sangue, e que é aproximadamente 100 vezes mais infectante do que o vírus da
imunodeficiência humana (HIV) e 10 vezes mais do que o VHC (FERREIRA;
SILVEIRA, 2004). Para Focaccia e Veronesi (2005), a principal via de transmissão
do VHC é o sangue contaminado.
As formas de transmissão por via parenteral das hepatites B e C podem ser
através de transfusão sanguínea, procedimentos médicos, odontológicos, de
acupunturista ou de tatuagem. Qualquer material cortante ou perfurante pode ser
veículo transmissor do VHB e do VHC de uma pessoa para outra, como alicate de
unha, lâmina de barbear, escova de dentes compartilhada entre familiares. As
populações com maior risco de contaminação por essa via são os usuários de
drogas ilícitas que compartilham agulhas, espelhos e canudos contaminados,
pacientes submetidos à hemodiálise, pacientes que receberam transfusão
sanguínea, principalmente antes de 1993 e profissionais da área da saúde que
trabalham com objetos perfurocortantes e tem contato com material biológico.
(FOCACCIA; VERONESI, 2005; STRAUSS, 2001).
São encontrados trabalhos na literatura publicada que mostram a via parenteral
como o fator de risco mais comum para a transmissão tanto da hepatite B quanto da
hepatite C. Oliveira et al. (2005) ressaltam em sua pesquisa realizada com usuários
de drogas uma prevalência de anti-VHC de 16,8%, e que os jovens menores de 20
anos referem compartilhar agulhas mais frequentemente. Rodrigues (2006) em sua
pesquisa encontrou uma prevalência de infecção do VHB de 10,1%, com 14,7% em
uso de drogas injetáveis e 9,4% usuários de drogas não injetáveis, ficando próxima
da prevalência encontrada para hepatite C em população semelhante (OLIVEIRA et
al., 2005). Lopes et al. (2009) encontraram uma prevalência de 85,4% RNA-VHC
positivas, muito superior aos estudos supracitados, sendo o genótipo 1
predominante.
Da análise dos achados em um grupo de detentas da penitenciária do Estado
de São Paulo foi encontrado como comportamento de risco para aquisição do VHC o
uso de drogas injetáveis com compartilhamento de agulhas. A prevalência da
hepatite C nessa população foi 16,2% (STRAZZA et al., 2007). Detentos de uma
penitenciária de Ribeirão Preto, SP, apresentam este mesmo comportamento de
risco e também o uso de tatuagem (COÊLHO, 2008).
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Diante destes resultados o uso de drogas injetáveis com compartilhamento de
agulhas é um risco notável e significativo para a transmissão das hepatites B e C.
Dos estudos que abordaram usuários de drogas, todos apresentaram prevalência
dessas infecções. Sendo citada em comum por estes autores a necessidade de
programas e medidas de prevenção para minimizar a incidência dessas infecções.
Numa população pesquisada de moradores de rua da cidade de São Paulo,
composta por 330 sujeitos, o uso de drogas injetáveis foi relatado por 10 homens, ou
seja, 3% da população, 18% tinham tatuagem e 89% compartilhavam objetos de
higiene pessoal, como escova de dentes e barbeadores. A prevalência de infecção
pelo vírus da hepatite B foi 3,3% e pelo vírus da hepatite C foi de 30,6% (BRITO et
al., 2007).
Nota-se que moradores de rua, detentos e usuários de drogas apresentam
vários fatores de risco para a transmissão das hepatites B e/ou C em comum.
Apesar desses fatores de risco serem múltiplos e complexos, devido a dificuldade
em determinar com certeza a via de transmissão exata nesses grupos pesquisados,
estima-se comportamentos sugestivos, para disseminação desses vírus, como uso
de drogas ilícitas com compartilhamento de agulhas, compartilhamento de objetos
de uso pessoal e tatuagem.
Ainda relacionado à transmissão parenteral, outros fatores de risco são
mencionados na literatura. Internações múltiplas, por exemplo, foi um fator de risco
evidente em portadores de doença mental, estando associado à maior prevalência
de infecção pelo VHB. Porém, os sujeitos que relataram o uso de drogas não
apresentaram maior prevalência de positividade para o VHB, como foi detectada
essa associação, nas pesquisas supracitadas, realizadas com usuários de drogas
(SOUZA et al., 2004).
No grupo de profissionais da área da saúde há riscos advindos do trabalho por
manusearem objetos perfurocortantes e ter contato com materiais biológicos que
podem carrear patógenos transmissores de doenças. Em 1998, no Hospital das
Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo
(HCFMRP-USP) da totalidade de acidentes ocupacionais registrados no Serviço
Especializado em Engenharia de Segurança e Medicina do Trabalho (SESMT),
31,40% tratou-se de acidentes envolvendo materiais perfurocortantes. Dentre estes
acidentes, 71,20% ocorreram com os profissionais enfermeiros (CANINI et al.,
2002).
O principal risco encontrado em profissionais da saúde foi o biológico, que
aumentou com o surgimento da Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (SIDA) e o
aumento da prevalência das hepatites B e C na população. Uma pesquisa realizada
com cirurgiões-dentistas residentes na cidade de Recife, PE, mostrou uma boa
adesão ao uso de Equipamento de Proteção Individual (EPI), destacando o uso de
luvas por 99,1% dos profissionais e 79,3% dos indivíduos com número de doses
completas da vacina contra hepatite B, porém, o relato de acidente com material
perfurocortante foi de alta prevalência, com 71,5% dos cirurgiões-dentitas (FARIAS
et al., 2007). Já, os profissionais enfermeiros apresentaram uma irregularidade no
uso de EPI, e uma falta de conhecimentos do número de doses da vacina contra
hepatite B e das formas de transmissão da mesma e consequente não adesão à
vacinação (CARVALHO et al., 2009; PINHEIRO; ZEITOUNE, 2008).
Revista Enfermagem Integrada – Ipatinga: Unileste-MG - V.4 - N.1 - Jul./Ago. 2011.
724
A cada cinco anos o risco de aquisição do VHC aumenta 50% entre
profissionais da área da saúde. Em uma comparação realizada entre profissionais
da saúde, profissionais administrativos e candidatos a doadores de sangue a
prevalência da hepatite C foi maior nos profissionais da saúde com 1,7%, 0,5% para
profissionais administrativos e 0,2% para candidatos a doadores de sangue. A
transfusão sanguínea antes de 1993 é outro fator de risco, uma vez que após esta
data houve a aprovação de alterações na Portaria nº 721/GM, de 09/08/89, através
da Portaria Nº 1.376, de 19 de novembro de 1993 que aprova Normas Técnicas para
coleta, processamento e transfusão de sangue, componentes e derivados,
interrompendo dessa forma a propagação de patologias, divulgado pela Agência
Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) (CIORLIA; ZANETTA, 2007).
Em um grupo de hemofílicos foi encontrado um risco de 12,9 vezes maior de
exposição ao VHB em indivíduos que apresentavam 150 episódios transfusionais do
que entre os que apresentaram menos de 50 episódios. Neste grupo foi encontrada
uma prevalência de 43,7% de infecção pelo VHB (TAVARES et al., 2004).
Analisando pacientes submetidos à hemodiálise, a prevalência aumenta de
acordo com o tempo de hemodiálise, a positividade de anti-VHC é de 14% em
pacientes com cinco anos ou mais de tratamento e 5,1% com menos de cinco anos.
A prevalência também foi maior quando o grupo recebeu transfusão sanguínea
antes de 1993, com 7% de positividade para o anti-VHC, e 19,1% quando a
transfusão foi realizada anteriormente a este ano (MELLO et al., 2007).
Transmissão por Via Sexual
O sexo desprotegido é um comportamento importante para a transmissão da
hepatite B, considerada uma Doença Sexualmente Transmissível (DST)
(PELEGRINI; BARBANERA; GONÇALVES, 2007). O VHB é altamente infectante,
pois o sangue e outros líquidos orgânicos de uma pessoa portadora já são
infectantes duas a três semanas antes do aparecimento dos sintomas,
permanecendo infectantes na fase aguda e crônica da doença (FERREIRA;
SILVEIRA, 2004).
O estudo da transmissão sexual do VHB é evidenciado principalmente através
do contato sexual desprotegido, sendo essa realidade constatada em diferentes
grupos populacionais (BRITO et al., 2007; COÊLHO, 2008; RODRIGUES, 2006).
Uma pesquisa realizada com moradores de rua para avaliar o comportamento desse
grupo em relação às práticas sexuais, mostrou que apenas uma pequena parte da
população (21,3%) faz uso de preservativos nas relações sexuais. A promiscuidade
sexual também foi uma característica encontrada nesta população, evidenciada pelo
relato de 17% deles manterem relações sexuais por dinheiro. Ainda, 10 participantes
referiram relações sexuais para conseguir drogas (10/330) e 13 para conseguir
comida (13/330) (BRITO et al., 2007).
Quanto às práticas sexuais da população estudada por Rodrigues (2006), o
uso de preservativo foi relatado de forma irregular nas relações sexuais,
apresentando 8,0 vezes mais chance de positividade para o VHB quando
comparados aos que usavam regularmente. Já a transmissão da hepatite C por
relações sexuais ainda é questão de discussão. Pesquisas vêm sendo realizadas
para dar suporte a essa hipótese, sendo que um estudo conduzido em São Paulo
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com 24 casais portadores de hepatite C, 22 casais apresentaram o mesmo subtipo
viral e homologia (região NS5b) do VHC, entre 93,0 e 99,4%. Porém, não se pode
concluir que a via de transmissão foi a sexual, pois esses casais apresentaram
outros comportamentos sugestivos de transmissão desse vírus, como
compartilhamento de utensílios de higiene pessoal, transfusão sanguínea, uso de
drogas endovenosas e inalatórias. Ainda, 16,7% realizavam acupuntura e 20,8%
tinham tatuagem (CAVALHEIRO, 2004).
A via sexual é fortemente notada para a transmissão da hepatite B, todavia,
para a transmissão da hepatite C, o risco estimado é de aproximadamente 0,002%
(FIGUEIRO-FILHO et al., 2007). Fica evidente a discrepância entre a transmissão
das hepatites B e C relacionada com a via de transmissão sexual conforme
evidenciado na literatura.
Déficit de Conhecimento e atitudes preventivas
O modelo assistencial de saúde no Brasil atualmente está voltado para a
prevenção. Para isso o Ministério da Saúde disponibiliza para a comunidade
alternativas para atender esse foco. Oferece vacinas gratuitamente, lança
programas na atenção primária para trabalhar a prevenção de agravos de saúde.
Uma pesquisa mostrou que a adesão à vacinação contra hepatite B em graduandos
de odontologia não foi satisfatória, pois a prevalência dos que não possuem as três
doses da mesma foi de 48,25% (CARNEIRO; GANGUSSU, 2009). Outro estudo
similar demonstrou uma mesma falta de adesão à vacina contra hepatite B,
ressaltando ainda, que apesar desse déficit, os graduandos relatam estar
conscientes quanto aos fatores de riscos e a importância da vacinação
(CAVALCANTI et al., 2009).
O conhecimento é refletido nas atitudes humanas, pois as atitudes são os
conhecimentos colocados em prática. Rossi et al. (2010) analisaram o conhecimento
de estudantes universitários da área da saúde acerca das hepatites B e C, e
identificaram uma falta de conhecimento deles sobre o assunto. No entanto,
observa-se a necessidade de intensificar o ensino referente a este tema durante a
graduação, pois estes serão os futuros profissionais da saúde.
Um grupo de adolescentes submetidos a uma pesquisa sobre o conhecimento
das formas de transmissão e prevenção das hepatites B e C mostrou que a maioria
possuía conhecimento sobre a vacina contra hepatite B, entretanto, grande parte
deles não apresentaram conhecimentos adequados sobre as formas de transmissão
das mesmas. A partir dessa análise, nota-se a importância e necessidade de
políticas de educação voltada para os adolescentes (LIVRAMENTO et al., 2009).
Transmissão por Via Vertical
Entende-se por transmissão vertical a situação em que a criança é
contaminada durante a gestação, parto ou amamentação. A transmissão do VHB da
mãe portadora para seu filho pode ocorrer no período gestacional por via
transplacentária e também no momento do parto. Durante o parto a criança está
mais exposta ao sangue e secreção cérvico-vaginal materna, nos quais há presença
do VHB, sendo esta a forma mais eficiente de transmissão, podendo acometer 65 a
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93% dos recém-nascidos. A administração da Imunoglobulina Humana Hiperimune
contra o VHB e da vacina contra hepatite B nas primeiras doze 12 horas de vida do
recém-nascido reduz o risco de transmissão para o bebê em até 95% (GIRONDI et
al., 2008).
A transmissão vertical do VHC é estimada em 5% e aumenta quando
associada à infecção pelo HIV, devido à elevação da carga viral do VHC em
mulheres imunodeprimidas. Quando existe essa co-infecção pelo HIV, o tipo de
parto influencia no risco de transmissibilidade apontando, assim, a cesariana como
fator de proteção para ambas as infecções. Contudo, a transmissão vertical pode
ocorrer também por via intrauterina. Apesar da presença do VHC no leite materno,
não foi documentado transmissão por essa via, desta forma o aleitamento materno
não está contraindicado para mães portadoras de hepatite C (FIGUEIRO-FILHO, et
al., 2007).
O Ministério da Saúde (2008) não contraindica a amamentação em mães
portadoras do VHB e/ou VHC, pois mesmo que exista a presença destes vírus no
leite materno a transmissão por essa via não foi comprovada.
CONCLUSÃO
Observou-se que as hepatites B e C representam um importante problema de
saúde pública e atingem grande número de pessoas. A literatura publicada mostrou
variados grupos populacionais vulneráveis à aquisição das mesmas, e que as
práticas individuais e coletivas são agravantes para o risco de transmissão dessas
infecções, como uso de drogas ilícitas com compartilhamento de agulhas, tatuagem,
acupuntura, transfusão sanguínea, principalmente antes de 1993, promiscuidade,
sexo desprotegido, acidentes com materiais perfurocortantes, contato com material
biológico associado ao não uso de EPI, déficit de conhecimento e não adesão a
vacina contra hepatite B, compartilhamento de objetos pessoais, internações
múltiplas e a transmissão vertical por via transplacentária ou durante o parto.
Os resultados desta pesquisa evidenciam a necessidade de ações de saúde
pública voltadas para todos os grupos populacionais, de forma que atinja de maneira
efetiva os grupos de adolescentes, detentos, usuários de drogas ilícitas, moradores
de ruae os portadores de doença metal. Esses foram os grupos encontrados com
maior propensão à aquisição das hepatites B e /ou C, quer seja pelo comportamento
de risco, ou pelo déficit de informações e atenção sobre esse problema. Evidenciouse, também, a necessidade de capacitação para os profissionais da área da saúde,
incluindo os de enfermagem que permanecem mais tempo em seus campos de
trabalho e apresentaram fragilidade em seus conhecimentos sobre o assunto, sendo
peça fundamental para a promoção de saúde e prevenção tanto das hepatites B e C,
como de outras doenças infecto contagiosas.
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