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28 | LOCAL | PÚBLICO, SÁB 6 OUT 2012
Na freguesia da Lapa, em Lisboa,
há um jardim que sobe pelas paredes
Se lhe vem à mente uma hera suja que
trepa pela fachada de uma casa quando
pensa em jardins verticais, esqueça. Nas
paredes exteriores de uma casa da Lapa
há uma obra de arquitectura paisagista
Arquitectura
Liliana Pascoal Borges
Os bairros incaracterísticos, anónimos, sem nada que os distinga,
podem ter os dias contados. Pelo
menos é esse o objectivo de Luís
Rebelo de Andrade, Tiago Rebelo
de Andrade e Manuel Cachão Tojal,
os arquitectos que projectaram um
jardim vertical na recuperação de
um edifício devoluto na Travessa do
Patrocínio, na Lapa, em Lisboa. O
espaço verde que sobe pelas paredes
ocupa 100 metros quadrados, preenchidos por cerca de 4500 plantas,
de 25 espécies diferentes.
Para além de funcionar como
uma pintura e uma escultura viva
que atrai muita gente para a contemplar, o jardim garante o equilíbrio
térmico do edifício, reduzindo os
gastos de energia e tornando-o mais
sustentável. Luís Rebelo de Andrade, responsável pela coordenação
do projecto, vê nele uma solução
estética e de rentabilização de espaço, mas também uma intervenção
ecológica. “Hoje em dia as cidades
vivem com problemas de poluição
muito complicados. Isto é um upgrade”, afirma.
“Quando apresentámos o projecto, chamaram-nos malucos”, conta
Tiago Rebelo de Andrade. “Mas nós
tínhamos de marcar a nossa passagem por este mundo. Não podíamos
fazer um revivalismo qualquer, mas
alguma coisa inovadora, que se destaque do que há no mercado”, justifica Luís Rebelo de Andrade.
João Salgueiro, director da ADN
Garden Design, uma marca dedicada
à construção destes jardins, explica
que “a estrutura foi desenhada com
base nas indicações dos arquitectos,
em coordenação com eles, e demorou dois meses a ser criada”.
Luís Rebelo de Andrade detalha
como foi construída a estrutura. “A
casa, em termos de construção, é
totalmente tradicional, com betão,
e depois, por fora, levou uma estrutura pendurada na fachada e solta
dela. Criou-se uma fachada ventilada, o que evita problemas de hu-
midade. Nessa construção, agarrada a um painel de PVC, são postas
duas mantas. Entre elas é colocado
um sistema de rega e na manta de
fora são abertos uns rasgos onde
são postas as plantas. Depois o sistema trata de as alimentar com os
nutrientes indicados.” Esta técnica
de cultivo de plantas sem terra é
conhecida por hidroponia, sendo
todos os ingredientes necessários à
vida da planta fornecidos automaticamente através de uma solução
aquosa nutriente. O material da
manta utilizada na construção do
jardim vertical baseia-se em fibras
sintéticas e de algodão “provenientes do mercado nacional”, sublinha
João Salgueiro, acrescentando que
ele permite “um desenvolvimento
radicular sustentado”.
Os arquitectos pediram especificamente plantas portuguesas, criadas
em viveiros nacionais. “Sabemos que
os viveiros importam muito e quando o fazem criam muitos problemas
porque as plantas adaptam-se mal.”
Apesar de o projecto ainda estar em
fase de conclusão, o jardim já parece
pronto há cerca de um ano, o que
confirma a durabilidade da instalação, reforçada pela opção por “plantas espontâneas que aparecem nas
nossas dunas, plantas autóctones,
plantas resistentes, adaptadas à exposição deste edifício.”
Esqueça as velas aromáticas
Por acreditarem que “a arquitectura
é feita para os cinco sentidos”, os
arquitectos arrumaram as plantas
aromáticas consoante as funções da
casa. “Nos quartos temos alfazema,
na piscina temos caril e na sala temos o alecrim. Cada compartimento
tem o seu cheiro próprio, fruto das
plantas a que estão associados.” O
projecto previa a utilização dos parapeitos das janelas da cozinha como canteiros de ervas de culinária e
pequenas plantas de cultivo, como
morangos. A ideia acabou por não
avançar porque exigiria dois tipos
de sistemas de rega. “Há que ir arrumando as coisas com algum bom
senso, deixando umas ideias e conjugando outras.”
O exterior da casa da Travessa do Patrocínio, à Lapa, já é visitado por turistas e já serviu de cenário a um filme p
A inspiração para esta técnica
vem do botânico francês Patrick
Blanc, cuja paixão por plantas surgiu quando a mãe o levou a uma feira de flores. Tinha apenas oito anos.
O tempo passou, mas as viagens e
passeios continuaram a inspirá-lo
e a determinar o seu percurso. Já
enquanto botânico, Patrick Blanc
viajou até à Malásia, onde conheceu mais de duas mil espécies de
plantas que crescem sem as raízes
na terra. Incomodado com a falta
de espaço horizontal e sabendo que
havia a possibilidade de criar plantas usando apenas água e nutrientes
próprios, Patrick plantou a ideia de
um jardim vertical.
A sua primeira intervenção data
de 1986, na Cidade das Ciências e da
Indústria (Parque de La Villette, em
Paris). Quase duas décadas depois o
conceito chegou a Portugal, com o
jardim interior vertical do centro comercial Dolce Vita Tejo, desenhado
pelo próprio Patrick Blanc.
Se a ideia de ter um jardim à janela pode causar algum receio de
eventuais presenças indesejáveis, os
arquitectos garantem não haver aqui
seres que são comuns nos jardins
tradicionais em que há terra. “Aqui
os únicos animais que podem aparecer, e ainda bem, são as abelhas,
para cumprirem o seu papel”.
Questionado sobre a ambição do
projecto, numa altura em que a crise
é uma palavra recorrente, Tiago Rebelo de Andrade realça que a arquitectura pode ser uma aposta a longo
prazo. “Se olharmos para outros países, percebemos que a riqueza que
O jardim que sobe
pelas paredes
ocupa 100 metros
quadrados,
preenchidos por
cerca de 4500
plantas, de 25
espécies
têm a nível da arquitectura, da cultura e da arte traz dividendos não só
a curto, mas também a longo prazo.
As pessoas vêm ver a casa. Daí que
ela tenha sido escolhida para fazer
o anúncio do novo Smart. Isso traz
turismo e riqueza à cidade.”
No interior do edifício da Lapa,
que é agora uma moradia de três
pisos com uma piscina no terraço
(à venda por 1,5 milhões de euros),
Luís Rebelo de Andrade aponta o
prédio da Embaixada da Suíça, mesmo em frente. “Quando olha para
um edifício destes, o que vê? Uma
construção normal, um edifício que
ao longo dos anos vai envelhecendo,
vai-se desbotando. A mudança dos
edifícios, o envelhecimento, é gradual ao longo dos anos. Aqui, queríamos que fosse um edifício que
mudasse com as estações, diferente. No Verão, tem uma determinada
imagem, vem o Inverno e tem outra.
E na Primavera terá mais floração”,
explica. “É como uma árvore , uma
casa viva que muda consoante as
estações e não muda ao longo dos
PÚBLICO, SÁB 6 OUT 2012 | LOCAL | 29
Martim Moniz tem
20 apartamentos da
EPUL para arrendar
NUNO FERREIRA SANTOS
Reabilitação
Liliana Pascoal Borges
Na Mouraria e no
Intendente há duas
dezenas e meia de
apartamentos para venda
e arrendamento. Ontem as
portas estiveram abertas
publicitário
anos”. Para o arquitecto, esta solução “é uma provocação à construção normal.”
Face à natureza do projecto, confessa ter tido algum receio quanto
a possíveis entraves da câmara. “A
graça disto tudo é que nunca tive
nenhum projecto em Lisboa em que
fosse tão rápida a sua aprovação.”
Luís Rebelo de Andrade refere, a
propósito, um outro projecto que
tem entre mãos. “É uma casa totalmente escondida. Dali vemos tudo
e ninguém nos vê. Não há maior
luxo que este. Estamos integrados
na paisagem de tal forma que não a
marcamos. A arquitectura, por más
opções, vem destruí-la. Em sítios como Portugal devemos ter o cuidado de não a contestar.” O seu filho,
Tiago Rebelo de Andrade, confessa
desejar que a solução seja copiada e
acredita que a chave passa por olhar
muito para o exterior. “O que é que
se está a fazer lá fora? O que é que
existe lá fora que não existe cá? Ou
o que é que nós podemos fazer cá,
que seja ainda melhor?”
A Câmara de Lisboa anunciou para
ontem uma jornada de portas abertas (Open day), destinada a promover “um parque imobiliário que vai
do Largo do Intendente ao Martim
Moniz” e que se encontra “disponível para venda ou arrendamento”.
Afinal, tudo não passou de uma operação de marketing em que foram
mais uma vez apresentados os cerca
de vinte apartamentos que a EPUL
ainda tem para venda no Martim
Moniz e mais cinco outros pertencentes a privados que os pretendem
vender ou arrendar.
No final da tarde, no Intendente,
foi inaugurado o Kit Garden, uma escultura da autoria de Joana Vasconcelos composta por uma estruturas
metálica com plantas no meio. Mariza encerrou o dia com um concerto
na praça do Martim Moniz.
Entre esta praça e a Rua do Arco
da Graça (a que vai dar ao Hospital de São José) os apartamentos da
EPUL, em obra desde 2001, ainda
estão por terminar, mas abriram as
portas para mostrar os apartamentos ainda por vender. Nos blocos
ainda por habitar será também instalado um centro de saúde.
Rui Santos estava de passagem pela zona com e não sabia da iniciativa,
mas entrou para conhecer o andar
modelo da EPUL e mostrou-se inte-
ressado nos apartamentos. “Está a
haver um investimento para que as
pessoas possam andar mais à vontade e de forma segura” afirmou.
Adelino Rebelo trabalhador num
café situado nas traseiras dos edifícios EPUL já acompanha a obra há
11 anos e espera que eles ajudem a
rentabilizar a zona, apesar de todos
os atrasos que já geraram a desistência de muitos promitentes compradores.
Já no Intendente, uma mulher
que tenta passar pelas dezenas de
pessoas que ali estavam para assistir à inauguração da escultura de
Joana Vasconcelos exclamava: “isto nunca foi tão concorrido como
agora.” Três homens sentados num
banco discutiam as mudanças que
têm ocorrido na zona da Mouraria
e do Intendente e avisavam que o
que está a ser feito “dá um aspecto
diferente, mas não resolve os problemas”, queixando-se da falta de
policiamento de proximidade.
Apesar disso, o presidente da câmara de Lisboa, António Costa, vê
a iniciativa como um sucesso. “Sei
que muitas destas casas que estão
abertas têm tido muitas dezenas de
visitantes”, afirmava, embora se referisse apenas às casas da EPUL.
António Costa explicou que a iniciativa da empresa municipal de
habitação “não pode substituir” os
proprietários, acrescentando que “os
prédios não estão vazios por acaso”
em Lisboa. “Estão vazios porque perderam utilidade económica”, sublinhou, acrescentando: “é necessário
que os proprietários e os potenciais
utilizadores consigam gerar essa utilidade.” Com a inicativa de ontem a
câmara quis “estimular a fixação de
novos negócios, escritórios e famílias
na zona da Mouraria”.
Breves
Greves
na CP vão
continuar até
ao fim do mês
Amadora
Transportes
Assembleia
aprovou redução
de freguesias
A Assembleia Municipal da
Amadora aprovou quintafeira, a proposta do executivo
da câmara (PS) de reduzir
de 11 para seis o número de
freguesias do município. A
proposta foi aprovada com
33 votos a favor (PS, PSD
e CDS) e com sete contra
(Bloco de Esquerda e CDU).
Serão criadas as freguesias
da Mina de Água, Encosta do
Sol, Águas Livres e FalagueiraVenda Nova, mantendo-se as
da Venteira e de Alfragide.
Idanha-a-Nova
Touros abandonados
há vários anos
ferem caçador
Um caçador foi ontem colhido
por touros deixados à solta na
zona de caça associativa de
Segura, Idanha-a-Nova, disse
o presidente da Federação de
Caça e Pesca da Beira Interior.
O caso foi registado na mesma
zona onde a meio de Setembro
foi encontrado morto um
pastor com sinais de ter sido
atacado pelos animais, que
há vários anos vagueiam sem
controlo na zona. O caçador
ferido foi retirtado do local por
um helicóptero do INEM.
Perturbações na circulação
de comboios vão voltar
amanhã e deverão
prolongar-se até ao dia
31 de Outubro
O presidente do Sindicato Nacional
dos Maquinistas (SMAQ), António
Medeiros, afirmou à Lusa que a greve
de ontem na CP teve uma adesão de
100 por cento e defendeu que estão
a ser assegurados os serviços mínimos. António Medeiros referiu que o
SMAQ está a cumprir “escrupulosamente” os serviços mínimos e continua à procura de um “entendimento
com a tutela”.
No entanto, a porta-voz da CP, Ana
Portela, afirmou que a empresa convocou serviços mínimos para a linha
do Vouga e para as zonas de Lisboa e
Porto, mas que estes só foram assegurados na linha do Vouga. Em Lisboa e no Porto não circulou ontem
agora qualquer comboio. A CP e os
sindicatos interpretaram de forma
diferente um aditamento da decisão do Tribunal Arbitral, que prevê
a convocação de serviços mínimos
quando não existem alternativas de
transporte, sublinhou Ana Portela,
Além dos maquinistas, também estiveram ontem em greve outros trabalhadores da CP, que desde o início
do ano estão a fazer greve ao trabalho suplementar e em dias feriados.
A CP informou na quinta-feira que
prevê, por motivo de greve, “perturbações e supressões” nos comboios
das zonas de Lisboa, Porto, Coimbra
e nos regionais e interregionais entre
o dia 7 e 31 deste mês
HELENA COLACO SALAZAR
Dr. ARMANDO MANUEL
DE ALMEIDA
MARQUES GUEDES
MISSA DE 7º DIA
Seus Filhos Armando, Ana, Luis, Maria e Pedro, seus Netos e Netas, seu
Genro e Noras, participam que a Missa de 7ºDia, tem lugar na Igreja da Boa
Nova, no Estoril ás 19:30 horas no dia 6.
P.N. A.M.
LOJA ALVALADE
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Legenda Em delit am, conullum zzril illa aut alis nit adigna corting
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