Aula 3 – Parte 2 Medida da Cinética Enzimática Durante a AP1 vocês foram apresentados a algumas formas alternativas para o estudo da cinética enzimática, mas também viram como este tema é estudado em um laboratório através de um método colorimétrico, realizado com uma técnica espectroscópica. É por meio desta técnica (espectroscopia de UV-Visível) que daremos início a esta aula. CINÉTICA ENZIMÁTICA A cinética enzimática estuda a velocidade das reações catalisadas por enzimas. O estudo do comportamento cinético de uma enzima nos permite compreender as particularidades de seu mecanismo catalítico, a sua função no metabolismo, como ocorre o controle de sua atividade na célula e como esta pode ter sua atividade inibida ou potencializada por outras moléculas. Um dos conceitos mais importantes que vocês precisam saber no estudo da cinética enzimática é o de velocidade de reação. Para isso, nesta aula está descrito o procedimento realizado durante a AP1 onde medimos a velocidade de uma reação para que iniciem as discussões sobre o assunto. Neste estudo utilizamos a Tripsina que é uma serino-protease, pois ela apresenta um resíduo de serina no seu sítio ativo que é responsável pela catálise. Ela somente pode catalisar a hidrólise de ligações peptídicas de substratos onde as cadeias laterais dos resíduos de aminoácidos sejam carregadas positivamente sendo, assim, extremamente específica. Esse experimento foi realizado em um espectrofotômetro, um equipamento que permite medir a absorbância (Abs) de uma amostra. ESPECTROFOTOMETRIA NO UVVISÍVEL Espectrofotometria é um método analítico baseado em medidas de absorção de radiação eletromagnética nas faixas correspondentes à luz visível, de 380 a 700 nm1, e à luz ultra-violeta, de 200 a 380 nm. Ou seja, podemos dizer que a espectroscopia estuda a interação entre a matéria e a radiação eletromagnética. As serino proteases também hidrolisam ligações do tipo éster ou amida e existem vários substratos sintéticos disponíveis no mercado para o estudo dessas enzimas. Absorbância (ou absorvância) é uma propriedade que determinados compostos, apresentam, ou seja, a de absorver radiação em um determinado comprimento de onda. Neste caso, utilizamos como substrato o NBenzoil-DL-arginina-p-nitroanilida (BApNA), pois quando este é hidrolisado (Figura 1), é formado como produto a p-nitroanilina, que é amarela em pH 8. A reação de hidrólise do BapNA está esquematizada a seguir: 1 nm = nanômetro (1 nm = 10-9 m) Cada composto absorve uma determinada quantidade de luz em um comprimento de onda. O espectrofotômetro2 emite um feixe de luz em determinado comprimento de onda, que é direcionado à cubeta que contém a amostra, como mostra o esquema a seguir: Foto: http://www.globescientific.com/analyzerconsumables-cuvettes-c-21_583.html Dessa forma, são determinados os valores de absorbância (Abs). A parcela de luz emitida que não for absorvida é chamada de transmitância. A medida da Abs de uma amostra obedece lei de Lambert-Beer, a qual relaciona quantidade de luz absorvida com concentração de amostra de acordo com equação 1: Abs = ε .b.C à a a a Coeficiente de extinção molar é o valor de absorbância de uma amostra se sua concentração fosse 1 Molar. (eq. 1) onde ε é coeficiente de extinção molar, b é o caminho ótico e C é a concentração molar da amostra. Entendeu? Não? Então, vamos lá... Vamos começar pelo caminho ótico, que corresponde à largura da cubeta usada para a medida de Abs. O mais comum é usarmos uma cubeta com 1 cm de caminho ótico, como vocês viram na AP1. Isso quer dizer que a luz percorre a amostra atravessando uma solução que está contida num espaço de 1 cm. Existem cubetas com caminhos óticos maiores ou menores mas o suporte de cubetas do espectrofotômetro precisa ser adaptado para as mesmas. 2 Procure entender porque isso é importante: por exemplo, temos uma amostra na qual a Abs é 0,2 se esta for colocada em uma cubeta de 1 cm. Se a mesma amostra for colocada em uma cubeta de 3 cm de caminho ótico, a Abs será 0,6 (ou seja, teremos 3 x mais amostra para absorver a luz que atravessa a cubeta); ao contrário se a cubeta for menor, o valor de Abs será menor. Vejam o Material Complementar onde um vídeo é apresentado com a descrição de um espectrofotômetro. O que é isso? No caso da anilina, o 1 .cm-1 em 410 nm. ε é igual a 8.800 M- Vamos traduzir... uma amostra de anilina 1 M teria uma absorbância 8.800 em um caminho ótico de 1 cm. Como nos espectrofotômetros conseguimos uma leitura de Abs até 1, devemos usar amostras muito diluídas. Quando o espectrofotômetro opera no modo de obtenção de espectro, na verdade, está medindo a Abs de uma amostra em vários comprimentos de onda Resultados Segundo Luiz F. C. de Oliveira, Um espectro é uma espécie de impressão digital de um composto químico, uma vez que cada composto difere de outro em função da composição química, ou seja, de diferentes átomos que o formam, e também da geometria molecular. Dessa forma, a análise do espectro permite dizer qual é a molécula em questão! Leia mais sobre Espectroscopia Molecular no artigo do Luiz F.C. de Oliveira publicado na Química Nova na Escola ANO que está nos Objetos de Aprendizagem como Material Complementar. A amostra utilizada continha: ....... mM de Tris HCl, pH 8; ....... mM de BApNA; ....... uM de Tripsina. E agora, vamos calcular as concentrações finais de cada componente do meio de reação e preencher os espaços acima? Dica: Para calcular a concentração de cada componente lembre-se que o volume final é aquele obtido após a adição da enzima. Veja na figura a seguir o resultado desta cinética observado no espectrofotômetro: Quando o espectrofotômetro opera no modo cinético, a Abs é medida em função do tempo de reação, ou seja, a quantidade de luz absorvida por um composto em determinado comprimento de onda. De acordo com a equação 1, a Abs é diretamente proporcional à concentração da amostra. PROTOCOLO EXPERIMENTAL Podemos salvar os dados obtidos para criar um novo gráfico a fim de calcular a velocidade de reação, como mostrado abaixo: 0.16 1. Prepare uma solução de BApNA em tampão Tris HCl pH 8, contendo: 0.14 0.12 2. Agite bem a cubeta, certifique-se que as faces por onde será feita a leitura estão bem limpas e leve-a ao espectrofotômetro para zerar o aparelho (veja o vídeo sugerido!). 3. Retire a cubeta do espectrofotômetro, adicione 8 µL de tripsina (100 µM), agite bem e leve ao aparelho, iniciando imediatamente a leitura da absorbância em função do tempo. Atenção: O comprimento de onda utilizado para a leitura das amostras foi de 410 nm, na faixa do visível. 0.10 Abs 80 µL de Tris HCl 0,5 M, pH 8; 7 µL de BapNA 10 mM; 705 µL de água Tipo I. 0.08 0.06 0.04 0.02 0.00 0 20 40 60 80 100 Tempo (s) Este gráfico foi gerado com dados obtidos com a amostra descrita neste protocolo. A linha vermelha foi obtida pela regressão linear dos dados de acordo com uma equação de reta do tipo y = A + Bx. É proibida a reprodução de parte ou do todo desta publicação sem a permissão formal de seus autores. Laboratório de Biocalorimetria Instituto de Bioquímica Médica/UFRJ Apoio: FAPERJ